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MARX E A CRÍTICA AO PROGRAMA DE GOTHA1

Gilmara Joane Macêdo de Medeiros

A Crítica ao Programa de Gotha é o texto escrito por Marx em 1875, onde dirige
severas críticas ao programa de princípios que foi feito a partir da unificação dos dois
movimentos operários existentes na alemanha nesse período, o Partido do Operário
Social-democrata, os eisenachianos, e a Associação Geral dos Operários Alemães, de
orientação lassaliana. A unificação destes movimentos formou o Partido Socialista
Operário da Alemanha.Marx, bastante descontente com a unificação, afirma na carta
que endereça a W. Bracke que sentiu-se na obrigação de escrever a crítica ao programa
por diversos motivos, primeiro porque ele e Engels estavam bastante envolvidos com o
futuro da organização proletária na Alemanha e segundo porque queria afastar de sua
pessoa e da de Engels qualquer responsabilidade sobre o programa, pois
internacionalmente, ambos eram conhecidos como mentores, ainda que se encontrassem
em Londres, das diretrizesadotadas pelos movimentos operários alemães, acusação
creditada principalmente a Bakunin.
A crítica ao programa de Gotha é, de forma geral, uma crítica ao socialismo
lassaliano (de cunho social-democrático). Marx a todo instante aponta as influências do
projeto socialista de lassale no mesmo, consideradas ruins, genéricas e até mesmo
ingênuas, e critica a atitude do movimento eisenachiano em aceitar a unificação
orientada por um conjunto de princípios lassalianos. A influência do projeto de Lassale
é sentida por Marx em todos os pontos do programa e reveste-se, para o mesmo, nos
conceito de trabalho, de distribuição, de salário, na concepção de classe, no projeto de
emancipação, na idéia restrita de luta de classes nacional, na busca do sufrágio
universal, na dependência do Estado para auxiliar a revolução, do Estado livre e
democrático. Todos estes conceitos são rebatidos por Marx ao longo de sua crítica, onde
apresenta a sua concepção de socialismo e da sociedade comunista. Apesar da vastidão
de conceitos apresentados, vamos nos ater nesta análise à visão do direito apresentada
no programa de Gotha e a oposição feita pelo autor.
Marx ao se referir ao direito nesta obra o faz pontualmente quando debate a
afirmação de que todos têm igual direito a receber os frutos do trabalho e de que esta

1Análise suscinta da obra. MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Textos – Volume I. São Paulo: Edições Sociais, 1977.
Esta foi apresentada à disciplina Teorias dos Direitos Humanos, ministrada pelo professor Enoque Feitosa, na data
de 13/10/2011.
distribuição deve ser realizada de forma equitativa. Para o autor estas afirmações são
problemáticas porque: a) os conceitos são genéricos (frutos do trabalho? Distribuição
equitativa? Direito igual?), ao que contrapõe que não é através de conceitos jurídicos
que as relações econômicas sãoreguladas, pelo contrário, é a infra-estrutura que
influencia a superestrutura, neste caso, o Direito e os conceitos jurídicos; b) o enfoque
dado à distribuição: para Marx, este é feito por um socialismo vulgar. Argumenta que a
sociedade comunista terá abolido a propriedade dos meios de produção e não a dos
meios de consumo, desta forma, acredita que ao se falar em distribuição dos frutos do
trabalho o enfoque dado pelo programa está na segunda propriedade. Assim, conclui
que por distribuição equitativa entende-se a troca de uma quantidade de trabalho por
outra quantidade de trabalho. Desta forma, o direito igual aos frutos do trabalho,
continua sendo desigual, posto que alguns podem trabalhar mais que outros; c) o direito
igual é para Marx uma concepção burguesa limitada, posto que o direito só conhece a
fórmula da abstração e, portando, não consegue conhecer os indivíduos que são
desiguais nas mais variadas formas. O direito, portanto, para que pudesse conhecer a
variedade de situações só poderia ser desigual. Marx acredita que numa socidade
comunista, liberta dos vícios da sociedade capitalista, o direito igual seria substituído
pela bandeira “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo sua
necessidade” (p.233).Desta forma, o autor lança severas críticas a noção de igualdade,
que só poder ser realizada, a partir da forma, da abstração.

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