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Luís

Eduardo
Magalhães
uma cidade
feita de pessoas
Luís
Eduardo
Magalhães
uma cidade
feita de pessoas

São Paulo 2022


Luís Eduardo Magalhães é uma cidade jovem, emancipada no ano de 2000,
que nasceu e cresceu por meio de encontros de pessoas que sonhavam.
Tocantinenses, gaúchos, baianos, mineiros… Pessoas com sotaques diferentes,
mas que tinham em comum o desejo de construir um futuro melhor para suas
famílias e que encontraram, neste solo, uma oportunidade.

Essa história começou em 1974, quando Enedino Alves da Paixão (Negão) e sua
esposa Maria Firmino de Jesus chegaram na região com seus oito filhos e abriram
uma pensão no entroncamento das BRs 242 e 020. Em 1982, foi a vez da chegada de
Arnaldo Horácio Ferreira, que comprou uma área equivalente a 182 mil hectares
e abriu o posto de combustíveis Mimoso, que deu nome ao povoado Mimoso do
Oeste até antes de sua emancipação como município de Luís Eduardo Magalhães.

Desde o início, foram histórias de muitas chegadas, promessas e mudanças.


Ícones, como dona Geru e o próprio senhor Arnaldo, aparecem nas falas dos
moradores, que trazem em comum em seus enredos de vida a forma como estar
em comunidade os transformou.

São mais de 92 mil luiseduardenses com raízes heterogêneas e que se propuseram


a construir uma cidade nova e próspera no oeste da Bahia.

Esta publicação é o resultado de um projeto de formação do Museu da Pessoa


em parceria com a Galvani e tem a finalidade de dar visibilidade à história da
cidade e das pessoas que moram nela e a criar uma memória coletiva da cidade.

O Museu da Pessoa é um museu virtual de histórias de vida, que, através da


história oral, possibilita que toda e qualquer pessoa tenha sua história de vida
registrada, preservada e disseminada. Seu acervo reúne cerca de 20 mil histórias
e visa contribuir para tornar cada uma delas um patrimônio da humanidade.

Durante a formação do projeto, os participantes atuaram por meio da


Tecnologia Social da Memória, uma metodologia desenvolvida pelo Museu da
Pessoa para o registro, a organização e a preservação de histórias de vida. Todo
o material registrado foi devidamente organizado, tratado e incorporado ao
acervo do Museu.

Esta obra foi viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Pronac
20.4741), por meio da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo,
com patrocínio da Galvani e realização do Museu da Pessoa.

Boa leitura!

Museu da Pessoa
Galvani, 30 anos de história
no oeste da Bahia

Em 1992, quando a Galvani chegou a Luís Eduardo Magalhães, na


Bahia, quem poderia imaginar tudo o que estava para acontecer?

A construção da fábrica avançou com velocidade e deu início à produção


de fertilizantes customizados para a região. O então povoado Mimoso
do Oeste tornou-se cidade e uma potência do agronegócio baiano. Ao
longo dos anos, foram construídos vínculos com essa comunidade que
contribuem para o fortalecimento das raízes da empresa, que tem nos
seus colaboradores a sua maior força.

No ano em que a Galvani comemora três décadas de atuação no oeste


da Bahia, nada mais justo do que presentear essa cidade, que é a casa da
Galvani, com recordações de pessoas que tornaram esse lugar um lar.

O presente escolhido é esta publicação, que traz uma incrível coleção


de memórias, com a qual é possível conhecer Luís Eduardo Magalhães
pelo olhar de seus moradores. O projeto é uma realização do Museu
da Pessoa, com patrocínio da Galvani por meio de Lei de Incentivo à
Cultura e faz parte das comemorações de 30 anos da empresa na região.

Embarque nessas memórias e conheça um pouquinho de LEM.


Sumário

8 Primeiros passos 40 Lágrimas


18 Na memória 48 Batidas do coração
26 Pés no chão 56 Voz do peito
34 Mãos dadas 64 Braços e abraços
Primeiros
passos
Os caminhos percorridos
por quem chegou aqui
tenho uma cidade
para ele vender

Na página anterior, Dona Maria


Firmina, esposa de Enedino Alves da Em 1982, eu trabalhava no banco em Barreiras e o senhor Arnaldo
Paixão (Negão), um dos fundadores da abriu o posto em Mimoso. Foi a primeira construção, né. A ideia dele,
cidade de Luís Eduardo Magalhães.
em 1980, era fazer uma cidade, mas ele viu que era impossível fazer
Ao lado, Ivan de Souza Carvalho a cidade no meio do nada. Aí ele abriu um posto de gasolina e uma
em momento de gratidão com sua conta no banco que eu era tesoureiro. Pense em uma pessoa agradável
esposa, seu sogro e sua sogra. Abaixo,
Ivan em seu ambiente de trabalho. para você estar junto. Eu deixava o que estava fazendo e ia atender ele.
A gente era amigo, ele me convidava para tudo. Eu era um consultor
financeiro dele (risos). Só que, em 1986, eu, por razões pessoais, pedi
demissão do banco, né. E ele chegou lá e não me achou. Então, pediu
para o genro dele me ligar. Ele disse “olha, diga para o Ivan que eu tenho
uma cidade para ele vender para mim”. E eu vim conhecer a cidade:
tinha um posto de gasolina e um alojamento nos fundos (risos). Ele
disse “eu tenho muitos clientes. Eu quero que você faça uma viagem
pelo Sul, visite esses clientes e fale do Mimoso, né! Traz gente para
morar aqui e tal”. Eu saí nessa empreitada, passei alguns meses fora
e mandava relatórios constantemente. Só que chegando ali perto de
Cascavel, eu não resisti e fui fazer um tour no Paraguai e na Argentina,
mas não estava no nosso combinado. Como aquele período não tinha
sido produtivo, eu passei um relatório recheado de meias verdades.
Aquilo me tirou o sono por uma noite toda. Liguei pra ele assim que
amanheceu. “Eu preciso te passar o relatório verdadeiro, porque aquele
que eu te passei ontem não é”. Ele não disse nada do outro lado, só
ficou afirmando. Terminei de falar e ele disse “tchau, bom dia!”. Falei,
“pronto, estou demitido!”. Quando cheguei aqui, para minha surpresa,
ele havia mandado fazer procuração de todas as empresas, inclusive
dele e da dona Maria, que é a esposa, para mim, porque eles moravam
em Brasília e ele queria alguém que os representasse aqui. Eu achei
que ia embora, fiquei para sempre (risos). Até hoje, pelo menos.

Ivan de Souza Carvalho

10 — 11
Ao lado, imagem
aérea de Vespasiano
primeiro mapa Neves da cidade
de Luís Eduardo
Magalhães, em 1987.
E, abaixo, em 2016.

Eu me casei e fui morar em Florianópolis. Mas ela fazia medicina,


engravidou e começou a ter problemas com o cheiro de formol,
desmaiava. Então, viemos embora para Barreiras de novo e o cunhado
dela, o Roni, que trabalhava com o senhor Arnaldo, aqui no posto
Mimoso, me apresentou a ele e a dona Lilia e me convidou para ir
trabalhar com ele. Isso em 1986, eu tinha 21 anos. No dia seguinte, eu
já comecei a trabalhar no almoxarifado. Aí, eles foram descobrindo a
minha formação, que eu fazia projetos e desenhos em nanquim, e me
colocaram para desenvolver esse trabalho. Tanto que o primeiro mapa
da vila, do loteamento, fomos nós que fizemos, na mão dura mesmo.
Olha, eu vim para Luís Eduardo para trabalhar e ter a minha família.
Um dia, seu Arnaldo falou “Vespa, pega uma quadra dessa daí para você”.
Eu falei “o que que eu quero com esse mato aqui, seu Arnaldo? Isso aqui
não é para mim, não!”. Lembro como hoje dessas palavras, não saem da
minha cabeça: “isso aqui ainda vai se tornar o celeiro do mundo”. E ele
tinha razão, hoje se tornou uma cidade conhecida mundialmente. Se eu
tivesse aquela visão que ele teve, poderia ter acreditado mais na cidade.

Vespasiano Neves

12 — 13
precisamos progredir Morador de Luís
Eduardo Magalhães.

Ficamos doze anos morando em Marechal Rondon, no Paraná,


tocando o comércio, até que descobri essas terras aqui na Bahia. Dois
colegas, que já tinham comprado terra, disseram “vamos embora
para Bahia, lá é uma maravilha, terra plana. Lá tem futuro e nós
precisamos progredir”. Eu vendi os vinte alqueires que eu tinha e
comprei 62 colônias, que davam mais ou menos 1.500 hectares. Foi
uma maravilha, mas muito sofrimento. Eu saí de um lugar que tinha
telefone, luz, água, terras férteis, mas muita concorrência. Levei
minha família para o meio do mato, no meio do cerrado. A gente lutou
por mais ou menos trinta anos para poder desenvolver, preparar as
terras e derrubar os matos. Como eu não tinha muito capital, tive que
fazer bem aos poucos. No primeiro ano, desmatei sessenta hectares.
No segundo, 140. E assim foi indo, até que hoje estou com 1.500. a gente tinha de tudo
Arno Eberlein Schlosser

A gente veio em um caminhão com cinco pessoas na cabina. À noite,


dormia em cima desse caminhão, no meio de poeira e das coisas que a
gente vinha trazendo lá do Paraná. Levamos dois dias e meio para chegar
e era época de seca, a gente não conhecia. Tinha passado fogo em todo o
cerrado, era horrível. Mas jovem tem muito ânimo, muita empolgação,
pensamento positivo que ia chover… E assim foi. No dia que nós
chegamos, éramos em onze famílias e formamos a comunidade da Bela
Vista. A gente morava embaixo da barraca de lona e tinha que ir buscar
água a vinte quilômetros, em uma lagoa na cabeceira do Rio das Pedras,
com tambor de lata. Chegava lá e às vezes o motor não funcionava, tinha
que carregar tudo de regador naquele morrinho para cima. Os animais
vinham comer as coisas que nem lobo, chegavam pertinho de casa e
Arno Eberlein
tudo. A gente saiu de uma cultura que a gente tinha de tudo, meu marido
Schlosser e era funcionário do banco... Muita coragem. Meu pai sempre teve o sonho
sua esposa. de ter condições melhores, então ele trouxe toda a família para cá. Na
época, a gente não sabia o que produzia aqui, a gente achava que vinha
criar gado, porque não conhecia o cerrado. No começo, plantamos arroz
e depois começamos a fazer experiências com a soja, na perspectiva
de dias melhores para a geração futura, porque, para nós, já tinha lá.

Irene Pellenz

14 — 15
Celma Pinto dos Santos
Póvoa, em dezembro
de 2007, no auditório
do Hotel Solar, em sua
nova etapa profissional. é só aquilo ali mesmo

Um dos diretores da empresa perguntou assim: “mas você conhece


Mimoso do Oeste?”. Aí, eu falei “olha, eu passei na BR e me lembro
de ver uns galpões”. “Então você já conhece, porque é só aquilo ali
mesmo”. Isso em 1996 e aí a gente veio. Quando a gente tava chegando,
ali em frente ao posto Mimoso, dava uns redemoinhos, uma terra
vermelha, porque não tinha asfalto. Era só a BR asfaltada. Eu tinha
um golzinho, mas depois eu dirigi uma Kombi. Teve um dia que
entrou um redemoinho dentro dela, encheu de areia. Se a Kombi
parasse com o pneu um pouquinho levantado, tinha que descer
lista de espera e empurrar, porque ela não saía do lugar. Numa cidade grande,
muitas vezes a gente é apenas mais um no meio da multidão. Mas,
aqui em Luís Eduardo, a gente teve oportunidade de conquistar
algumas coisas e de se engajar na sociedade, ser útil ao próximo.
São Luís Eduardo começou grande, foi rápido, mas os primeiros
moradores tinham que aguardar uma kitnet. Meu esposo veio em 1995, Ronei de Jesus Pereira
conversou com a dona da kitnet e ela disse “não tem vaga, não. Não sei
quando vai ter, porque tem uma lista de espera”. Eu vim só em 1996,
quando desocupou. Porque as pessoas vinham pra cá, mas a gente não
tinha noção que não tinha onde morar. O seu Arnaldo, que era o patrão
dele, deu um caminhão para buscar a nossa mudança lá em Ponte Alta
do Bom Jesus, no Tocantins. Eu vim com a minha irmã e dois filhos, e,
quando chegamos no lugar para morar, nós entramos e olhamos um
único espaço, quatro paredes. Era ali! Vim com tudo que tem numa
casa, não coube nada. Somente um quarto tinha que ser cozinha, quarto,
sala e berço de criança. Aí eu fui selecionando o que colocar debaixo
daquele teto. Foi uma disciplina administrativa para a gente poder
dormir, fazer comida e se divertir com nossos filhos. Mas foi muito
bom, porque a gente foi vendo o crescimento. As famílias construindo,
comprando seu lote, desocupando. Eu também tive o prazer de poder
construir minha casa para criar os meus filhos com espaço. Aqui,
engravidei de Bethânia e foi uma nova fase, rejuvenescemos o casamento
Miniaturas
e ficamos felizes por estar realizando o sonho que a gente queria: do ambiente
botar os filhos para estudar. Luís Eduardo proporcionou esse sonho. profissional
de Ronei de
Jesus Pereira.
Celma Pinto dos Santos Póvoa

16 — 17
Na
memória
As vidas antes de LEM
eu entendi o recado

Meu irmão mais velho, o Geraldo, me viu brincando, correndo,


pulando, fazendo casa em cima da árvore e me chamou. Eu tinha
mais ou menos oito anos e ele disse “Celma, fique aqui na minha
frente. Mostre as suas mãos!”. Eu mostrei. “Você acha que as suas
mãos são melhores do que as das duas irmãs mais velhas?”. Eu não
entendi muito, mas eu olhei no olhar dele. Ele disse: “De amanhã
em diante, você vai ajudar as suas irmãs na tarefa de casa”. Foi um
marco na minha vida, porque eu mudei. Eu aceitei aquilo que ele
falou. Hoje, eu sou aquela irmã que eles procuram para tudo que vai
fazer na família, sabe? Eles me amam! Eu entendi o recado do meu
irmão: “você pode brincar, mas você também tem que ajudar”.

Celma Pinto dos Santos Póvoa

uma moita no canavial

A gente não precisava de muito motivo para levar uma surra, não.
Minha família era bem rigorosa. A gente tinha um armário e ali estava
um bule de café. Eu era bem baixinho, acho que devia ter uns quatro
para cinco anos, e fui cismar de pegar esse bule. Quando eu peguei,
ele derramou todo em mim. Ali, eu já saí correndo, porque sabia que a
surra ia vir. A gente tinha uma pequena plantação de cana, eu entrei no
meio de uma moita no canavial e fiquei. Os cachorros latindo em volta,
passavam do lado da moita e não me achavam. Já estava escurecendo,
eu lembro de ouvir minha mãe falando “Ronie, se você estiver por
aí, pode sair que você não vai apanhar, não”. Aí, eu não lembro mais
nada. Acho que a surra foi tão grande que apagou a memória.

Ronei de Jesus Pereira

Três gerações da família de Ronei de


Jesus Pereira, que está com sua avó e sua
mãe em uma visita de férias, em 1996.
20 — 21
era de pé no chão

Eu nasci em Santa Catarina, mas não tenho muita lembrança de lá,


porque depois eu fui para o Paraná. E lá foi muito bom. A gente ia a pé
para a escola, eram três quilômetros. Muitas vezes, era de pé no chão,
não tinha calçado para usar. E lá o inverno é muito frio e a gente ia assim
mesmo. Quando alguém dava uma carona, como era bom! Mesmo que
fosse em uma charrete com cavalo, a gente adorava. Eu gostava muito de
andar de bicicleta e eu não tinha uma, só os meus irmãos tinham. Um
dia, indo para a escola, meu irmão disse “você pode ir com a bicicleta
que eu vou a pé. Na volta, eu te trago na garupeira”. Eu fui animada, quis
correr demais e caí, me machuquei, e tive que parar em um riozinho no
meio do caminho para me lavar, porque eu tava toda ensanguentada.
Mas era aquela criança saudável, que corria, brincava, fazia de tudo.

Irene Pellenz

todo mundo gritando

Eu fui para o Rio de Janeiro com a minha turma da faculdade,


no Maracanãzinho, assistir ao jogo de vôlei de Brasil e União
Soviética, que não era nem Rússia ainda. Foi a primeira vez
na história que o Brasil conseguiu ganhar deles. Foi lindo! Foi
lindo! O famoso saque “jornada nas estrelas” do Bernardo,
eu assisti ao vivo! A emoção foi muito grande, os jogadores
da União Soviética falaram que nunca tinham sentido aquela
pressão. Lotado, todo mundo gritando. Eles contaram que já
usavam a tecnologia do som para os treinamentos, mas que
nunca chegou à quantidade 10 decibéis que aconteceu nesse
dia. Aí, eles perderam totalmente o equilíbrio emocional e o
Brasil ganhou. Não só por causa disso, mas também por isso.
Vou guardar essa experiência pelo resto da minha vida!

Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes


Primeiro culto religioso da Bela
Vista, em 8 de março de 1982. 22 — 23
pra morrer em casa

Se eu pudesse voltar no tempo, essa seria uma das épocas


que eu iria, porque foi uma fase muito boa quando eu fui pra
Cachoeira de São Félix, na Bahia, estudar num colégio interno.
Eu era bolsista lá e, nas férias, fui para Ilhéus trabalhar e sofri
um acidente num domingo de folga. Fomos para a praia, eu
mergulhei e errei o pulo. Quebrei a primeira vértebra do pescoço.
Fui desenganado em Ilhéus e me encaminharam para Salvador,
pra morrer em casa, em Barreiras. Fiz massagens, sentia dores
insuportáveis. Minha mãe me levou para Brasília. Não se fazia
cirurgias e eu fiquei numa tração durante 91 dias, deitado numa
maca, numa posição só, com 2,5 quilos puxando o pescoço para
fora, para puxar a vértebra e calcificar. Atrofiou tudo, fiquei
muito tempo numa posição só, deitado. Depois, graças a Deus,
sobrevivi. Na época, fui o primeiro caso do Brasil e o quinto
do mundo a escapar sem sequela desse tipo de gravidade.

Vespasiano Neves

24 — 25
Pés
no chão
A cidade vista por
quem mora nela
matava muita gente

Não era cidade quando eu cheguei. Nessa rua que nós moramos, no
Santa Cruz, o povo chamava de Iraque, porque matava muita gente aí
dentro do mato. Matava muita gente nesse Iraque. Era triste, mas depois
foi melhorando mais, mas até hoje ainda mata gente. Quando passou a
ser cidade e botaram o nome de Luís Eduardo, eu me senti muito bem aí.

Gerulina Antônia dos Reis

sua identidade sendo arrancada

Barreiras não estava nem aí para aqui, né. No início da década de 1990,
nossa cidade começou a encorpar, mas tudo que a gente conseguia era
em Salvador, através da associação de moradores. Então, começamos a
nos preocupar com a emancipação, começamos a montar o processo,
a cadastrar eleitores, já que a maioria votava nas cidades de origem,
mesmo morando aqui. No final da década, nós já tínhamos quase
tudo que era necessário, inclusive um projeto de implementação
na Assembleia Legislativa pedindo a emancipação da cidade de
Mimoso do Oeste. Mas uma coisa principal que faltava era o apoio
da Assembleia Legislativa. Nessa hora, um senador propôs fazer isso,
mas teria um custo. Teríamos que colocar o nome do filho dele que
havia falecido. O nome Luís Eduardo Magalhães foi uma manobra
necessária para ele fazer frente para conseguir apoio do Legislativo.
Mas ele nunca veio aqui, né. Nem sequer conhecia isso aqui. É uma
página que eu gostaria até de esquecer da história, porque marcou
negativamente muita gente, principalmente os pioneiros, pessoas que
Quintal da frente da deram o sangue, que começaram isso do nada, e viram sua identidade
casa de dona Geru. sendo arrancada. Isso marcou muito a vida do fundador. Eu penso
que contribuiu até para sua enfermidade e de outros, que tiveram
essa coisa empurrada goela abaixo. Acho que adoeceu muita gente.

Ivan de Souza Carvalho

28 — 29
a primeira escola
Ana Amélia Brugger Junqueira
Lopes e sua primeira professora na
comemoração do dia das mães, em que
Ana entregou uma rosa para sua mãe
A gente assumiu a escola municipal porque o município de Barreiras, e outra para a professora, em 1969.
o qual a gente pertencia, não mandou professor nenhum. Eu, Sergio,
Marcio, Angelica e Bernadete abraçamos a escola e trabalhamos
voluntariamente. A gente trabalhava de manhã e à tarde, de segunda
à sexta-feira. E não nos arrependemos, porque achamos que era uma
coisa importante a ser feita. É muito bom poder doar alguma coisa para
as pessoas. Depois, adquirimos o CMO e montamos a primeira escola
de Luís Eduardo Magalhães, que existe até hoje. A gente acreditava
que, por meio da educação, poderíamos fazer um lugar diferente.

Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes

de cima da torre

Trabalhei com o Manoel Porfírio, o primeiro fotógrafo de Barreiras.


Eu revelava filmes e comecei a ter gosto pela fotografia. Quando
me casei e vim embora para cá, fotografava nas horas vagas do
trabalho. Naquela época, Mimoso tinha muitas empresas e, depois
do meu expediente, eu pegava a bicicleta e ia fotografar. Aí, foi
aumentando o volume de negócio e eu montei minha empresa,
a primeira loja e laboratório da cidade. As primeiras imagens
que eu fiz da vila foi de cima da torre de televisão. Depois, Jacó
tinha um aviãozinho agrícola e nele eu fiz imagens aéreas. Minha
dedicação hoje é essa, sou especializado em fotografias aéreas.

Vespasiano Neves

30 — 31
Zaqueu da Silva

eu escrevo Luís Eduardo Iriqueiro brincando


com seu filho Pietro.

Aquelas pedras foram aumentando, aumentando… Eu nunca tinha


visto. Foi uma chuva de pedras aqui na cidade, no dia 20 de outubro
de 2020. Elas caíam pesadas e acabavam com os telhados. Minha
casa ficou toda destelhada, tudo molhado, caindo. Quebrou tudo.
Ficamos na casa da minha mãe uns quatro dias. Quando voltei, a
tempestade tinha passado. Aí, eu pensei: “o que eu vou fazer?”. Fui ao
banco. “Olha, minha casa tá desse jeito, vim ver o que eu posso fazer.”
Me emprestaram dinheiro. Eu contratei pedreiro, retelhei minha
casa, que felicidade! Naquela semana, eu não tinha onde dormir, mas
lá estava eu deitada, dormindo. Tão bom! Aí, pensei “meu Deus, e a
família que não tem isso? O que Celma pode fazer?”. Falei “uai, Celma
sabe escrever! Por que Celma não faz poesia?”. As telhas estavam em
falta na cidade e eu fiquei na lista de espera. Então, comecei a escrever
poesia e trocar por telha com quem tinha para doar para quem não
tinha. Luís Eduardo me inspirou a poesia e eu escrevo Luís Eduardo.
Eu vejo a cidade, vejo o progresso e aí ponho no papel. A cidade é um
celeiro de trabalho e diversidade. As famílias vieram de vários lugares quero morrer aqui
do país e trouxeram a saudade e a história da terra natal. E eu gosto de
escrever sobre mudança, sobre expectativas. Tudo isso vira poesia.

Celma Pinto dos Santos Póvoa Eu comecei a buscar saber mais sobre de onde eu tinha vindo. Por
que Luís Eduardo? Como foi que surgiu? A maioria sabe uma versão
só, que não é a verdadeira. Porque existem três verdades: a minha, a
que todo mundo conta e a que é verdade mesmo. A forma como Luís
Eduardo foi fundada é morte. O solo dela é morte. E é aí que eu me
sinto mais filho dela ainda. Saber como algumas pessoas cometeram
atrocidades contra outras famílias que chegaram primeiro aqui… Eu
detesto injustiça. Eu queria ter tido a oportunidade de ter conhecido
o Enedino pessoalmente, de saber histórias que talvez só ele soubesse.
Às vezes, me pergunto “Deus, quantos corpos nós temos aqui embaixo?
Por quantos corpos eu passo por cima todos os dias?”. Ninguém sabe
de nada e os que sabem têm medo de acontecer alguma coisa ruim com
eles. Até um ou dois anos atrás, eram os gaúchos. Nada contra, mas não
foram eles que fundaram esse lugar. Eles não são donos nem nunca
Livros e pandeiro serão. Hoje, estamos, de alguma forma, à mercê de algumas pessoas que
de Celma Pinto dos estão no poder e não temos como fugir de certos tipos de sistema. Mas
Santos Póvoa.
quanto mais pudermos viver contra isso, será melhor. Eu nasci aqui,
moro aqui e quero morrer aqui. Esse é o lugar onde me sinto bem.
32 — 33
Zaqueu da Silva Iriqueiro
Mãos
dadas
A união que cresce
junto com a cidade
mandaram me chamar

Era mato, só mato. Não tinha ninguém, não tinha carro, não tinha
nada. Aí, uma comadre minha estava grávida e o marido dela dizia
“oh, meu Deus, o que eu vou fazer? Maria vai ganhar neném e eu não
sei como eu vou fazer para levar para Barreiras”. Porque tudo que a
gente queria era em Barreiras. Eu fui até ela e falei “olha, Maria, eu sou
parteira, eu não queria nem dizer, mas eu sou”. Quando ela sentiu dor
para nascer o neném, mandaram me chamar e eu fui e fiz o parto dela.
Aí, as outras tudo, quando era para ganhar neném, me chamava. Eu fiz
muito parto! Eu tinha tudo escrito o tanto de criança que eu peguei,
mas eu botei o papel no bolso da saia e molhou, aí eu não sei mais a
quantidade de menino que eu peguei aqui em Luís Eduardo. Eu pegava
um menino de noite e, quando eu chegava em casa, que me banhava
para deitar, o povo batia na porta para ir fazer parto de outra mulher.

Gerulina Antônia dos Reis

vocês já sabem

Eu tenho alunos que falam “professora, como eu consegui ser profissional


sem saber ler e hoje eu quero ler?”. Essa semana, fizemos um teste de
leitura e eles conseguiram ler! Tinha uma aluna que ria o tempo todo,
porque ela conseguiu ler borboleta. Ela falou “professora, como eu faço
para parar de sorrir? Eu pensava que não ia aprender nunca. Tem tanto
tempo que eu luto para aprender e eu pensava que não ia”. Eu falei “aceita,
aceita que você já está sabendo ler. Às vezes, vocês já sabem, mas não
aceitam”. E ela sorria o tempo todo. Ser professora é gratificante. (choro)

Celma Pinto dos Santos Póvoa

Celma Pinto dos Santos Póvoa


com sua mãe Adolfa Luiz Pinto. 36 — 37
piso grosso José Nascimento
Pereira Ramos
atendendo em
sua farmácia.
Eu amo essa escola! Onero Costa da Rosa, meu Deus do céu, foi a
melhor escola que eu poderia ter estudado. Parece que era uma história
igual para todos, pelo menos um pouco. 99,99% dos meus amigos não
tinham pai. E se tinham pais vivos e juntos, eram pais não tão presentes.
Infâncias e adolescências marcadas pela falta de paternidade e por
uma mãe que lutava para ser pai e mãe e sustentar a família ao mesmo
tempo. Lembro como hoje que eu dançava naquela quadra, ela tinha
um piso grosso e eu saía com os braços e os ombros todos ralados. Mas
eu amava dançar naquele piso grosso. Meus amigos faziam uma roda,
nós dançávamos na hora do intervalo. Era muita alegria! Íamos para
a sala todos sujos, suados e fedorentos, mas amávamos fazer aquilo.

Zaqueu da Silva Iriqueiro

isso traz alegria


se não fosse você
Na Bela Vista, nós tínhamos o clube de sociedade de damas e o clube
de mães, que eu dirigi por muito tempo. As mães se encontravam Um pastor foi na farmácia e eu fiz três perguntas: “você está
uma vez por mês e eu levava tipos de chá que eram bons e alimentos emagrecendo?”, “já emagreci doze quilos”; “você está com a boca
saudáveis, para não consumirmos tanto refrigerante, doces e essas ressecada?”, “sim, estou toda hora bebendo água”; “está fazendo xixi
coisas. Tem um xarope que eu faço para tosse, de gengibre e mel, que com muita frequência?”, “sim”. Então eu disse “você está com diabetes
ainda hoje as pessoas me procuram. Outro dia, eu estava no Paraguai e muito alta, viu?”. A gente conferiu e estava 590, quando deveria ser
viajando e uma amiga me ligou: “você tem xarope de gengibre?”. Falei 90. Falei pra ele ir ao médico na hora, porque ele já estava sentindo
“eu tenho pronto, quando chegar em casa, eu te mando”. São coisas as vistas meio embaçadas. Chegou lá e o médico disse: “se você não
simples do dia a dia. As pessoas também nos procuram para pedir tivesse chegado aqui agora, você não ia sobreviver, não”. Ele voltou
conselhos quando estão passando por dificuldades no matrimônio, depois na farmácia e veio me agradecer. “Oh, Zezé, primeiramente
com os filhos ou com os funcionários. Poder conversar com as pessoas, Deus, segundo você, porque, se não fosse você, eu tinha morrido.”
ter a palavra certa na hora certa… Isso traz alegria pra gente, né? Então, quando não é pra mim, Deus toca e manda eu avisar.

Irene Pellenz José Nascimento Pereira Ramos

38 — 39
Lágrimas
Que regaram e
marcaram histórias
um sorriso bem
leve de canto

Eu tinha nove anos quando meu irmão Lucas se matou dentro do meu
quarto. Foi num domingo, eu estava indo para a igreja com a minha mãe
Mãos de dona Geru. e, no caminho, ouvimos um barulho, um estalo. A gente não imaginava
que seria um tiro, porque pareceu bomba e na época acontecia muito
isso. De repente, meu irmão Alex veio correndo e gritando “mãe! Mãe!
Mãe! Lucas se matou!”. Voltamos correndo desesperados. No quarto da
frente, que era o quarto que eu dormia com meus irmãos, tinha uma
janela. Eu cheguei nessa janela e ele estava caído. Ele morreu assim,
como se tivesse dando um sorriso bem leve de canto, sabe? Eu parei ali
por uns minutos, dei a volta, entrei no quarto e me ajoelhei perto dele.
A arma estava no chão ainda, o sangue estava escorrendo. Eu peguei na
arma e minha mãe falou para deixar. Eu fiquei ali por alguns minutos
olhando aquela cena. Na minha cabeça, estava só eu e ele, não sei se
meus irmãos estavam lá. Eu vi sangue muito exposto pela primeira
vez e esse dia foi meu primeiro trauma, minha primeira perda.

Zaqueu da Silva Iriqueiro

mãos de gente
desconhecida

Meu pai separou da minha mãe quando ela estava grávida


de mim. Quando eu tinha quatro meses, ela morreu e eu fui
criada pelas mãos de gente desconhecida. Eles não me botaram
na escola, eu não tive condições de aprender. Não foi bom
pra mim, eu apanhava muito nas mãos deles, sabe? O meu
sentimento é não saber ler nem escrever. Com sessenta anos, eu
aprendi a fazer o meu nome, mas não aprendi mais nada.

Gerulina Antônia dos Reis

42 — 43
o senhor não teve culpa

Na véspera da morte da minha mãe, era domingo e eu disse “minha mãe


já passa de cem anos, tenho que aproveitar cada minuto perto dela” e
fui até lá ficar com ela. Quando estava indo embora, num momento,
enquanto cruzava com uma carreta no escuro, alguém simplesmente
entrou na frente do meu carro e eu ouvi o impacto. Eu freei, a carreta
passou… Foi tão rápido. Então, eu voltei, tava muito escuro, joguei o farol
e não conseguia ver nada. Eu tinha certeza que era uma pessoa, o vulto
era de uma pessoa. Liguei imediatamente para o Samu. “Eu bati em uma
pessoa, mas já procurei aqui tudo e não acho, não ouço nem gemido.”
Eles vieram e localizaram a pessoa, que estava sem documentos. “Ele
faleceu.” Sabe o que é o mundo desmoronar? Eu pensei “Deus, como
assim? Eu matei um homem”. Foi um momento difícil para mim.
De manhã, prestei depoimento na delegacia e, mais tarde, quem me
entrevistou disse que a pessoa já tinha sido identificada, que tinha ido
um familiar lá e que eles estavam procurando por ele desde domingo
cedo, porque ele saiu de casa dizendo que ia dar fim na vida. Aí, um
filho desse senhor me ligou e disse: “eu sei que o senhor não teve culpa.
E eu agradeço o senhor por ter parado e dado socorro. Hoje, eu posso
acionar o seguro. Se o senhor tivesse ido embora, nem isso a gente tinha
como acionar”. Eu já não dormia tinha duas noites e, mesmo com as
colocações do próprio filho dele, me sentia culpado. Eu e minha esposa
sentamos para conversar e ela disse “o que Jesus pagou para levar a
culpa de qualquer pessoa foi suficiente?”, “claro que foi!”; “e você está
disposto a receber esse sacrifício?”. Naquele dia, dormi sem culpa.

Ivan de Souza Carvalho

44 — 45
um palmo de água

Com três semanas que estávamos aqui em uma terra sem água,
morreu a primeira criança em Bela Vista. Tinha um ano e poucos
meses e morreu afogado em um palmo de água. Depois de alguns
meses, meu sobrinho de dezenove anos veio do sul e morreu afogado
na lagoa ali. Em uma terra que não existia água, uma terra árida, já
de cara nós perdemos duas pessoas muito próximas. Em seguida,
teve um conflito de terra e botaram fogo em nossa propriedade,
queimou tudo que meu pai tinha, desde máquina a casa de morar.
Meu pai era uma pessoa muito corajosa e com muita fé em Deus. Ele
disse “isso aí está virado tudo em cinza, mas, trabalhando, tudo se
consegue”. Junto dele, eu e meu marido trabalhamos por oito anos só
em troca de comida para ele poder se levantar de novo. Depois desse
tempo, ele já tinha de tudo de novo. Nós tivemos muitas provações.

Irene Pellenz

Irene Pellenz, seus pais e seus


irmãos na última reunião
da família toda em 1987.

46 — 47
Batidas
do coração
Caminhos entrelaçados
por seus encontros
é sempre no amor

Com dezessete anos eu casei com ele. E foi bom! A gente morava num
povoado e fomos casar em outro povoado, tudo montado em animal e
gritando “viva o noivo! Viva o noivo!”. Foi uma alegria! Mas eu chorei
muito nesse dia, chorei muito. Não sei se era de alegria ou se era de
tristeza, mas eu digo que era de alegria, porque eu ia sair do sofrimento.
E sabe quantos anos temos de casados? 69! E sinto muito feliz que
nunca separei do meu marido, nunca brigamos para dizer assim “vamos
separar”. É sempre no amor! E muita gente admira: “a senhora teve
dezessete filhos? E é só do seu Arnaldo?” (risos). “É meu marido, é só
dele, graças a Deus.” Eu tenho um sonho de nós morrer tudo num dia,
nem que um morra de manhã e o outro morra de tarde. Outro dia, um
filho meu chegou da roça, foi lá em casa e voltou. Já era de noite e eu
lembrei que era para ter pegado umas coisas e dado para meu filho.
“Arnaldo, bora levar.” Pegamos tudo e quando a gente sai da porta, que
tem um meio-fio, ele levantou o pé, bateu, caiu pra cima de mim e eu
caí no asfalto. Machuquei minha mão e ele cortou o pé. “Olha aí você
só pedindo para nós morrer tudo num dia e quase que nós morre tudo
numa hora”, ele disse. (risos)

Gerulina Antônia dos Reis

ouvindo e falando

A gente levanta de manhã e, na primeira hora da manhã, senta junto,


toma chimarrão e vai conversando. Tem uma técnica: quem está com
a cuia não fala, só escuta. E você aprende a ouvir e a falar na hora
certa. Você fica ouvindo e falando, ouvindo e falando. Ali, a gente faz
a programação do dia. O Aristeu é gaúcho e eu sou catarinense, e essa
é uma tradição que, mesmo estando na Bahia, a gente não perdeu.

Troca de alianças
de dona Geru e
Irene Pellenz
senhor Arnaldo na
renovação de votos
que aconteceu
em 2003, na
Igreja São José. 50 — 51
em um desses bailes

Meu pai era gaiteiro quando solteiro e, com catorze anos, eu


também virei músico formando um conjunto com dois irmãos.
De terça a sexta, nós trabalhávamos na roça e aos sábados e
domingos tocávamos em festas de baile do interior. Isso por dez
anos. Aí, achei minha esposa em um desses bailes. Ela gostou
do gaiteiro e casamos depois de dois, três anos de namoro.
Quando completamos cinquenta anos, fizemos uma festa para
comemorar eu e ela, aqui em Luís Eduardo, no salão de festa
lá em cima, o Quatro Estações. Fiz a primeira festa da nossa
vida, conseguimos fazer com setecentos convidados. Até o
conjunto aqui de Luís Eduardo tocou. A festa foi um sucesso.

Arno Eberlein Schlosser

Acima, a decoração da casa


de Arno Eberlein Schlosser.
Abaixo, uma foto de família
dele tirada em 2015, na casa
de sua filha Iana. Segundo
ele: “a família perfeita”.

52 — 53
Ronei de Jesus Pereira e sua
esposa indo ao cinema em
Belo Horizonte, MG, em 1991.

quase caí
de costas

Eu estava tocando guitarra na igreja para uma prima minha cantar


e, olhando para a plateia, percebi uma pessoa diferente e nossos
olhares se cruzaram. Pensei “que mulher bonita!”, mas veio na minha
cabeça que devia ser casada. Foi a primeira vez que eu a vi e, quando
terminou o culto, ela sumiu. Eu era o último a sair da igreja, por ser
o sonoplasta, e fui no trajeto com o violão nas costas e a imagem dela
na cabeça. Quando cheguei em casa que abri a porta, me deparei com
ela. Quase caí de costas! Isso porque minha mãe tinha o costume de,
quando chegava alguma pessoa de fora, ela convidava para ir para
casa almoçar. E dividiu a família dela: os pais foram para casa de uma
amiga e ela para a minha. A gente começou a conversar, virou amizade,
namoro e, graças a Deus, estamos até hoje com 37 anos de casados.

Vespasiano Neves

brinca que me usou

Meu irmão namorava uma amiga dela, eles iam a uma festinha e ela
queria fazer ciúmes para o ex-namorado. Então, eu fui para fazer
companhia para ela. Só que daí, nessa de fazer ciúmes, a gente já
tá junto há uns 34 anos. Ela brinca que me usou. Não acredito em
almas gêmeas, não, mas a gente tem uma sintonia muito boa, é
uma parceira de vida. Outro dia, a gente tava brincando que, nesses
trinta anos, a não ser quando ela teve que viajar para Minas para
ganhar as gêmeas, a gente se separou um do outro muito pouco.
Todo dia de manhã é café junto, é fazer uma oração junto.

Ronei de Jesus Pereira

54 — 55
Voz
do peito
Quando a fé
fala mais alto
só tenho a agradecer
Celma Pinto dos
Santos Póvoa com
sua família em sua Eu cheguei sozinho, deixei a família lá em Ponte Alta, e Mimoso
formatura em 2006 do Oeste não chegava a 5 mil pessoas. Eu dormia dentro da sala da
farmácia com um pano forrado. Com o tempo, foi melhorando,
mas eu nunca medi distância para atender as pessoas. Eu ficava de
sete da manhã até nove da noite, almoçava dentro da farmácia e
atendendo. Fechava a farmácia e chegavam as pessoas chamando
“Zezé, pelo amor de Deus, tem um caminhoneiro passando mal e só
tem você”. Eu vinha meia-noite, uma, duas, três, quatro, cinco horas…
Porque só tinha o Zezé. O pessoal fala que eu sou o primeiro médico
de Mimoso. Eu só agradeço primeiramente a Deus pelo dom que
ele me permitiu, pelo trabalho, pela força e pela saúde. Tem muitos
clientes que falam “Zezé, por que você não fez medicina?”. Eu falo
“porque Deus me quis assim, né?”. Talvez eu esteja ajudando mais
do que muitos profissionais. Não estou querendo ser mais do que
ninguém, mas a população me procura e eu só tenho a agradecer.

José Nascimento Pereira Ramos

com quem anda

Quando eu tinha mais ou menos sete anos, minha mãe me levava para
a igreja evangélica e lá eu entendi o que eu vivia, aprendi que eu tinha
uma vida. Aprendi a amar a Deus e princípios, como cuidar do olhinho
com que vê, cuidar da boquinha com que fala, cuidar da mãozinha com
que pega, cuidar do pezinho com que anda e com quem anda. Serviram
de equilíbrio para a vida, para ser a filha que eu sou, a mãe que me
tornei, a esposa e a profissional que sou hoje. Eu trouxe da infância.

Celma Pinto dos Santos Póvoa

58 — 59
Casamento de
Ivan de Souza
tem que ter casa Carvalho e sua
esposa, que
estão ao lado do
Senhor Arnaldo
e da Dona Lilia.
Eu pedi para Deus abençoar essa cidade. A gente vê a história dos judeus:
onde chegavam, eles levantavam um altar e ali Deus abençoava a terra e
a coisa fluía. Então, eu orei e, desde aquela oração, comecei a ver igrejas
de todos os segmentos brotarem na cidade, mais do que soja e qualquer
outro grão. E meu pai dizia “quem quer casar tem que ter casa”. Aí, eu
pensei “vou comprar um lote, construir minha casa e aí Deus vai mandar
uma noiva”. E eu comprei um lote, mas surgiu uma comunidade que
queria muito começar aqui, aí eu dei meu lote. Comprei um segundo,
tive que passar de novo. No terceiro, no quarto… Quando eu achei
a noiva, não tinha lote. Aí, eu comprei um fiado, com a condição de
começar a pagar depois que eu casasse e já tivesse construído. Casei,
construí minha casa e, quando fui pagar, a pessoa que havia me cedido
o lote disse “não, esse é o meu presente de casamento”. “Graças a Deus!”

Ivan de Souza Carvalho

todo mundo admirou


Quintal da casa
de dona Geru.

A gente morava numa roça e eles foram limpar feijão em outra roça.
Cá, eu senti as dores da primeira menina e sem saber que era dor de
ganhar neném. Eu vim e me deitei, as dores vieram mesmo, aquelas
dores de bucho. Aí, eu tive a menina sozinha e Deus. Quando ela tava
acabando de nascer, chegou uma tia dele e disse “como foi que você
teve essa menina, minha filha. Sozinha?”. Eu disse “Deus me ajudou e
eu tive”. Ela cortou o umbigo dela, me ajeitou. Quando saiu a conversa
lá para as outras casas da roça, todo mundo admirou e foi lá olhar,
me visitar, ver a menina. Mas a primeira eu tive sozinha e Deus.

Gerulina Antônia dos Reis

60 — 61
poder de cura

Um menino estava com pneumonia, o médico viu que ele não ia


sobreviver e mandou ele para Bela Vista e que eu fizesse as injeções
nele duas vezes por dia. Ele estava tão fraquinho, deitado na cama.
Todo dia eu ia de manhã lá e a mãe não queria nem ficar perto para
ver as injeções. Aí, um dia decidi fazer também uma oração sobre ele.
Lembrei que meu primo, que é padre, disse que roupa de batizado
tem poder de cura. Peguei meu vestidinho de batizado, que eu
tenho guardado até hoje, escondi dentro da minha roupa, porque
não sabia se a mãe acreditava ou não, botei no peito dele e fiz uma
oração. No outro dia, estava chovendo muito, e eu cheguei para fazer
a injeção nele de novo, mas quem abriu a porta para mim foi ele. Ele
estava de pé! Não fui eu, foi Deus. Se você tem fé, se você acredita,
você consegue. Mas tem que se dedicar, tem que fazer a sua parte.

Irene Pellenz

Família de Irene
Pellenz nas
bodas de ouro
de seus sogros,
no Paraguai.

62 — 63
Braços e
abraços
Presenças, ausências
e afetos familiares
viajavam conosco

A gente ia num fusquinha: os cinco irmãos, meu pai e minha mãe. Meu
Boneca de Ana Amélia
pai ia nos mostrando a diferença de vegetação, a diferença do relevo,
Brugger Junqueira Lopes.
toda parte da hidrografia. Automaticamente, ele ia nos ensinando
alguma coisa e a gente ia aprendendo e conhecendo lugares. Meus
pais nunca foram de nos dar muita coisa. Eles davam o estudo e,
uma vez por ano, viajavam conosco. Nos ensinaram que educação se
aprende na escola e que era fundamental, mas que cultura se adquire
viajando. Isso nos trouxe uma experiência muito grande. Tenho
episódios profissionais em que o fato de ter conhecido lugares, mesmo
quando criança, me ajudaram muito, porque na hora de debater
pontos, eu não conhecia só de livro, mas, sim, de ter presenciado.

Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes

não deu tempo

Eu vivi com a minha mãe por cinquenta anos, ela sempre morou
comigo. Ela era muito apegada a mim, tanto que, quando ela estava
no hospital, eu saí por um momento de perto e ela disse “Irene, você
não pode sair de perto de mim, você é o ar que eu respiro”. Quando
eu perdi minha mãe, não sabia como encarar a vida. Mas em seguida,
minha filha se casou e engravidou de gêmeos e deu aquele tchan.
Não deu nem tempo de ficar chorando. Com seis meses e meio, eles
nasceram. Laurinha, que viveu oito dias, Deus levou, e Geovane está
hoje aí com oito anos, nosso encanto. Daí, tem o Eduardo, o André
e o Arthur também. Todos eles são apaixonados pelo avô e pela avó,
querem ir morar com a gente, querem viajar… Esses dias, até vieram
com um projeto que eles querem criar um clone, para quando eles
viajarem ou nós viajarmos ter sempre um clone de avô e de avó
para não sair de perto deles. São nossa motivação para viver!

Irene Pellenz

66 — 67
por cinco dias

Eu brinco que ainda falta um filho, porque na época de namoro, eu


comentava “vou te dar cinco filhos!”. Ela tinha uma certa dificuldade
de engravidar e, quando engravidou, teve que fazer bastante
repouso. Nessa época, a gente tava olhando para adotar uma criança,
mas suspendemos a ideia por causa da gravidez. Cinco anos depois,
estávamos olhando para adotar e, mesmo com ela tomando remédio,
engravidou. “São gêmeos!” E agora? Vamos suspender a ideia da
adoção. As gêmeas nasceram e, por acaso, a Sheila Bernardes, que já
me conhecia por eu ser envolvido na área social, pediu que a gente
pudesse ficar com uma criança por cinco dias até que encontrasse
uma família para recebê-la. Edilaine concordou. Nesses cinco dias,
Marquinhos já chamava a gente de pai e mãe. “Daqui ele não sai mais,
não!” E deu tudo certo! Eu digo que não tem filho adotivo, porque
tem que ser da gente, só vem de outra forma. Ele tem as minhas
manias, o jeito da mãe. Foi uma felicidade grande ter recebido ele.

Ronei de Jesus Pereira

Casamento da filha mais velha de


Ronei de Jesus Pereira em Brasília,
DF, na Igreja Sarah Kubitschek,
no dia 7 de dezembro de 2018.

68 — 69
sempre lembranças ruins

Até os meus doze anos, eu frequentava a mesma igreja que minha mãe.
Depois disso, eu passei a frequentar outra, que tinha um grupo de
adolescentes e um grupo de dança. Lá, eu conheci a Marcela porque
ela era a líder do grupo. Ela sempre cuidou de mim, de uma forma
que eu nem consigo explicar, como se fosse um filho, de uma forma
extrema. Depois, ela se casou com o Marcelo, que também conversava
comigo e me aconselhava. Nesse período, eu quase não morava na
casa da minha mãe, porque eu dormia na casa de qualquer um, em
qualquer lugar. Nunca tive problema em dormir na rua, mas voltar
para casa era sempre um problema, eram sempre lembranças ruins.
A rua e a dança me faziam escapar dessas lembranças. Um belo dia,
o Marcelo me disse “você precisa voltar para a casa da sua mãe, você
precisa cuidar dela, fazer companhia para ela”. Eu não falei nada, só
voltei. Ela sempre foi muito calada, eu também e nós conversávamos
na medida do possível. Até hoje, chamo Marcela de mãe e Marcelo
de pai. Eles são muito próximos, mais que os meus pais biológicos.

Zaqueu da Silva Iriqueiro


José Nascimento Pereira
Ramos em sua farmácia.

deixaram só saudades

A minha mãe falava que eu era um natalino original. Às vezes, marcam


a data para fazer uma cesariana no dia 25 de dezembro, mas o Zezé não.
Ela falava que quando o galo cantou o Zezé apareceu (risos). Nunca
esqueço disso. Ela dizia que sempre fui assim meio gordinho e muito
querido pelos meus pais, pelos amigos, pelos meus irmãos. Tímido, não
me enturmava muito, mas foi tudo muito bom, sempre ao lado dos
meus pais. Eu saí de casa com vinte anos, estava sempre com eles. Meu
pai, natural de Brejo Verde, do município de Correntinha, e minha mãe,
nascida na Prainha, deixaram só saudades, né. Pessoas maravilhosas que
souberam educar os doze filhos.

José Nascimento Pereira Ramos

70 — 71
Celma Pinto dos Santos Póvoa
Viúva, mãe de três filhos, professora e
poetisa, Celma é uma mulher engajada
em questões sociais, que escreve sobre
Luís Eduardo Magalhães e ama sua
família. Nasceu em 19 de junho de
1969 em Ponte Alta de Bom Jesus, no
Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes Tocantins, é filha de Adolfa Luiz Pinto e
Professora por influência do pai, Paulo Cícero Tavares de Oliveira e se mudou
Augusto Junqueira, aos nove anos Ana já para Luís Eduardo Magalhães em 1996.
dava aulas particulares para os primos.
É mineira de Além Paraíba, nascida
em 24 de abril de 1964, e participou
da reestruturação e da legalização da
primeira escola de Mimoso do Oeste, o
Colégio Mimoso do Oeste (CMO).
Gerulina Antônia dos Reis
Dona Geru, como é conhecida na
cidade, é uma celebridade na região.
Parteira, ela tem 17 filhos, 51 bisnetos
e quatro tataranetos. Nasceu em 5 de
maio de 1935, em Monte Alto, na Bahia,
onde teve uma infância muito difícil.
É casada com seu Arnaldo há 69 anos
e lamenta não ter tido a oportunidade
de aprender a ler e a escrever.
Arno Eberlein Schlosser
Gaúcho nascido em 21 de junho de
1942 e de descendência alemã, seu pai
veio para o Brasil com quatro anos de
idade após o avô ter participado por
seis anos na Primeira Guerra Mundial.
Músico e gaiteiro desde os catorze anos, Irene Pellenz
casou-se e, pouco tempo depois, trocou
Caçula de dez irmãos, nasceu em Santa
o sul pelas terras do oeste da Bahia.
Catarina em 11 de junho de 1960 e, em
1982, chegou a Bela Vista com mais
onze famílias, onde esteve à frente da
organização da nova comunidade, da
igreja católica, do clube dos moradores
e da escola. Trabalhou na agricultura,
foi voluntária na área da saúde e, hoje, é
mãe de três filhos e avó de cinco netos.
Ivan de Souza Carvalho
Primeiro vendedor de lotes de Luís
Eduardo Magalhães, Ivan recebeu
um convite em 1986 para “vender
uma cidade” quando morava em
Barreiras. Nasceu em São Desidério,
na Bahia, em 12 de novembro de
1962, sendo o décimo terceiro filho Vespasiano Neves
de uma família de lavradores. Um Foi o primeiro fotógrafo de Mimoso
homem de fé, realizou seu sonho de do Oeste, o primeiro a realizar fotos
estudar teologia e se tornar pastor. do alto da cidade, em 1987, quando
subiu na torre de televisão. Nasceu
em Barreiras, na Bahia, em 27 de
maio de 1964 e é filho dos primeiros
professores leigos da comunidade. Foi
também responsável pelo primeiro
José Nascimento Pereira Ramos projeto da vila do loteamento,
feito à mão dura no nanquim.
Natural de Correntinha, na Bahia,
nasceu em 25 de dezembro de 1961.
Começou a trabalhar na farmácia em
que seu irmão trabalhava em Goiânia
em janeiro de 1975 e, hoje, soma mais
de 48 anos de farmácia. É conhecido
por todos os luiseduardenses
como um médico do povo e
reconhecido por seu atendimento
de qualidade e dedicação. Zaqueu da Silva Iriqueiro
Pai de Pietro e marido de Brenda, Zaqueu
nasceu em Luís Eduardo Magalhães em
1996, é dançarino, coreógrafo, personal
trainer e um estudioso do movimento
hip hop. No Santa Cruz, com sua família
Ronei de Jesus Pereira e seus seis irmãos, viveu perdas, violência
e escassez desde muito cedo. Mas
Nascido em Entre Rios, uma cidade
também encontrou a amizade, o amor e
pequena no interior de Minas Gerais, em
a dança como caminho de superação.
2 de setembro de 1970, Ronei cresceu na
capital do estado e, em 1996, se mudou
para Mimoso do Oeste a trabalho. Técnico
em contabilidade, teve sua carteira
assinada pela primeira vez aos dezessete
anos e, hoje, é diretor da Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).
Agradecimentos
especiais

“Um projeto incrível que me possibilitou um aprendizado enorme! “Ouvir história é algo que nos fascina desde crianças. São personagens
E preciso mencionar duas pessoas: Celma, por me convidar a participar, que encantam e, muitas vezes, são reais apenas no pensamento. Para
e Lourdes, por compartilhar tanto conhecimento! Ver as histórias mim, participar deste projeto foi trazer essa lembrança gostosa da
de vida de tantas pessoas que fazem parte da nossa comunidade é infância, mas com um tom de algo novo, pois os personagens são
indescritível! E, finalmente, a Galvani pela iniciativa de desenvolver esse reais e têm histórias vivas, cheias de sentimentos e memórias.”
projeto em Luís Eduardo Magalhães. Fica o sentimento de gratidão.”
Michele Pereira Almeida
Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes
“Participar deste projeto como entrevistador foi uma experiência
“Participar foi uma experiência de extrema importância para minha única em que pude exercitar o parar para ouvir o outro sem
vida. Uma conexão natural de sentimentos e emoções, que estimulou interrompê-lo, apenas criando ambiente para extrair a sua história
o imaginário e articulou corpo e pensamento com lembranças de de vida. Gratidão à Galvani, pela oportunidade, à Lourdes, por
infância e acontecimentos marcantes, como a chegada em LEM, cidade nos orientar, e a todos que participaram desta linda iniciativa.”
em que criei meus filhos e que, hoje, todos têm formação superior
concluída. O Museu da Pessoa em Luís Eduardo Magalhães construiu Ronei de Jesus Pereira
história que reforça vínculos entre moradores pioneiros e as novas
gerações e fortalece a identidade da cidade que mais cresce no Brasil.” “Participar desta iniciativa foi uma oportunidade única, fantástica e
inesquecível. Ter a oportunidade de entrevistar minha ‘mãe’, aquela
Celma Pinto dos Santos Póvoa que fez meu parto, saber mais de sua história, de suas dificuldades e
superações me fez sentir um mix de emoções. Poder acompanhar as
“Cada história de vida é única e, por isso, um tesouro, um outras entrevistas e conseguir entender o que as pessoas passaram para
patrimônio! Participar deste projeto com o Museu da hoje estar colhendo frutos, foi inspirador! Agradeço a cada participante,
Pessoa foi, para mim, muito importante. Obrigada, Galvani, à equipe do Museu da Pessoa e à Galvani, por acreditar que vale a pena
Lourdes e todos os amigos pela rica oportunidade.” contar histórias... histórias de gente, de vida, de um lugar, de todos.”

Elina Maria Longatti Ferreira Sabrina de Lima Carvalho

“Estou muito feliz por fazer parte deste lindo projeto. Participar “A experiência foi ímpar, desde a formação às entrevistas e à conclusão
dos encontros com nossa orientadora Lourdes, conhecer pessoas e dos trabalhos em equipe. Ela me remeteu a uma prática não comum
reencontrar outras que estiveram nesta caminhada foi simplesmente para muita gente: escutar. Raramente, estamos dispostos a escutar e o
maravilhoso, uma experiência que levarei para sempre. Para mim, curso me permitiu aguçar essa qualidade adormecida em muitos de
entrevistar a Irene Pellenz, que é uma pessoa que tenho muita nós. Pude também entender a diferença de uma entrevista jornalística
admiração, foi indescritível. Parabenizo a todos que participaram e uma em que o objetivo é registrar a história — e não investigá-la”.
e agradeço especialmente ao Ronei Pereira, por ter me convidado
a fazer parte de tudo isso, e à Galvani, pela oportunidade.” Venâncio Zagi

Jaíra Vanessa Mariani Passos e Souza


Projeto “Memórias de Luis Créditos do livro Instituto Museu da Pessoa
Eduardo Magalhães”
Edição Diretora Presidente
Realização Mayara Neves Karen Worcman
Museu da Pessoa
Projeto Gráfico e Revisão Direção Executiva
Produção Executiva Editora Olhares Marcos Terra
Renato Herzog
Fotos
Supervisão Lorena Dantas / 242 Filmes: Equipe Galvani
Sonia London capa, 3, 4, 10b, 14, 15, 17, 18, 23, 25,
Marcia Trezza 26, 28, 32, 33, 34, 36, 39, 42, 61b, 62, CEO
64, 66, 71, 72, 73a, 73b, 74, 75b, 78 Marcos Stelzer
Formação e Entrevistas
Lourdes Alves de Souza Gabriela Fagundes: 8 Diretor Administrativo
Financeiro
Produção Vespasiano Neves: 10a, 13 Danilo Casalino
Ane Alves
Wini Sabino Arquivos pessoais dos depoentes: Equipe de Responsabilidade
16, 20, 22, 31, 40, 46, 50, 53, 54, Social Corporativa
Relacionamento 58, 61a, 69 Giovana Kill Porteiro
Eduardo Valente Rodrigo Kuyumjian
Impressões do vídeo das Érica Palhares
Gravação e Edição de Vídeos entrevistas: 73c, 75a Lucas Almeida
242 Filmes Jennifer França
Cláudia Castilho
Comunicação
Anna Bernardes

Participantes da Formação
Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes
Celma Pinto dos Santos Póvoa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Elina Maria Longatti Ferreira Ficha elaborada segundo a AACR2r
Jaíra Vanessa Mariani Passos e Souza
Michele Pereira Almeida B452
Ronei de Jesus Pereira Luis Eduardo Magalhães, uma cidade feita de pessoas / edição e
Sabrina de Lima Carvalho texto Mayara Neves ; pesquisa, entrevista e assistência editorial
Venâncio Ndunduma Zagi Lucas Figueirêdo Torigoe. — São Paulo : Museu da Pessoa, 2022.
80 p. : il. fot. ; 25 cm.
Entrevistados
Ana Amélia Brugger Junqueira Lopes ISBN 978-85-60505-57-9
Arno Eberlein Schlosser
Celma Pinto dos Santos Póvoa 1. Memórias. 2. História cultural. 3. História contemporânea.
Gerulina Antônia dos Reis 4. Cultura brasileira. 5. Bahia. I. Neves, Mayara. II. Torigoe, Lucas
Irene Pellenz Figueirêdo. III. Título.
Ivan de Souza Carvalho CDU 39
José Nascimento Pereira Ramos CDD 306
Ronei de Jesus Pereira
Vespasiano Neves Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Renata
Zaqueu da Silva Iriqueiro Fernandes Veloso Baralle — CRB-8/10366

© 2022 Museu da Pessoa e autores.


Este livro foi composto em Pona e Anguita Sans,
impresso pela gráfica Margraf sobre papel offset 120g em dezembro de 2022

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