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O tempo da memória:
estas palavras eu guardei para ti
Goiânia
2020
Copyright © by Adalgisa Nolêto Perna
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DEDICATÓRIAS
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Sumário
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PREFÁCIO
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I
Verão no Aquário
Lygia Fagundes Telles
Sonhos Concretizados
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aves silvestres.Antônio era viúvo, pois sua esposa tinha
morrido de eclampsia no primeiro parto morrendo ela e
a criança. Ele era jovem e estimulado pelos novos amigos,
procurou conhecer Euzébia e logo se apaixonou, o mesmo
aconteceu com ela. o casamento foi marcado e depois de
6 meses, era a hora de sua realização.
Todos os amigos que não eram poucos queriam ajudar.
Cada amigo ou amiga se oferecia para fazer alguma coisa,
queriam que o casamento fosse lembrado pela noiva como
um conto de fadas.
Antônio já estava morando em Bela Vista uma vila do
outro lado do Rio Tocantins. Depois do casamento, o casal
foi morar em Bela Vista e começava para a jovem senhora
uma vida que ela não conhecia. Apesar do marido ser um
bom homem tudo era diferente da que ela estava acostu-
mada.
Quando Euzébia cheia de sonhos chegou à sua casa, o
noivo não escondia seu contentamento e resolveu mostrá-
lo para sua esposa, ofereceu um fogão a lenha e uma lenha
verdinha tudo isso para mostrar simpatia e consideração.
A fumaça cobria toda a casa, os olhos lacrimejavam e ela
chorava sem parar e pensava; se soubesse que os homens
eram tão indelicados eu não teria me casado...
Depois de rir muito, abraçando a esposa pediu descul-
pas, dizendo que estava fazendo uma brincadeira.A esposa
aceitou as desculpas e continuaram felizes.
Era tempo dos gerais brutos, quem quisesse poderia
escolher um pedaço de terra e foi assim que aquele casal
depois de alguns anos deixou a vila para ir morar por al-
gum tempo em um lugar batizado de Pequizeiro.O marido
prometeu à esposa que quando os filhos precisassem estu-
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dar mudariam para uma cidade que atendesse os anseios
daquele casal: o estudo dos filhos.
No Pequizeiro o casal era incansável, Antônio trabalha-
va para o sustento da família, cuidava da criação de ani-
mais, procurava formar a fazenda que aos poucos ia cre-
scendo. Euzébia trabalhava em casa, cuidava das crianças,
ajudava o marido na loja, costurava para as pessoas de casa
e para ajudar o marido nas despesas da fazenda.
Foram dias de muito trabalho e de muito cansaço, falta-
va tudo, não se encontrava nada para comprar e a desculpa
dos moradores era de que a “Terra” não prestava e tudo
que se plantava ou não nascia ou nascia e morria logo.
Antônio não acreditou muito e fez uma grande roça,
qual não foi a Surpresa de todos quando tudo que foi plan-
tado foi colhido com sucesso. Daquela época em diante, os
moradores deixaram a preguiça de lado, plantaram, col-
heram e espantaram a fome daquele lugar.
Tonho, como era chamado por Euzébia, trouxe para
aquela comunidade um exemplo de esforço e trabalho. O
casal prosperou, o patrimônio cresceu e era hora de cum-
prir o acordo. Muitas pessoas diziam: “formiga quando
quer se perder cria asa. ” Mudaram para Porto Nacional.
A viagem para aquela cidade foi muito difícil pois
naquele tempo chovia muito, era mês de março e qualquer
córrego transbordava e virava um rio. Várias pessoas
acompanhavam a família composta do pai, mãe e sete fil-
hos, todos pequenos.
Os homens procuravam as cabeceiras dos córregos e
mesmo assim era preciso acampar e fazer pontes. As cri-
anças eram atravessadas por aqueles que nadavam bem.
Foi uma viagem de 12 dias e até um dos cavalos que levava
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a bagagem morreu ao atravessar um córrego cheio. Valeu a
pena porque em Porto Nacional as crianças tiveram grande
progresso nos estudos.
Naquele tempo sugiram grandes garimpos, principal-
mente de Cristal. A família resolveu aumentar o patrimô-
nio e passar algum tempo no maior e mais concorrido de-
les: ‘Piaus” o patrimônio foi aumentado mas as doenças
começavam a chegar para Euzébia: pneumonia, angina e
outras.
Era hora de retornar à Miracema, chegando lá foi traça-
do um plano para continuação dos estudos dos filhos. Vol-
tariam a Porto Nacional não com a sua família, mas duran-
te as aulas ficariam em casa de famílias conhecidas e nas
férias passariam em Miracema. Concluído o curso ginasial
alguns filhos foram para Brasília, outros para Goiânia e
Belém, Os pais ficaram aqui trabalhando dia e noite para
que o plano desse certo e os filhos cursassem uma facul-
dade.
Em 1979, Antônio teve problema de visão e foi à
Brasília fazer uma cirurgia, como fumou muito e tinha en-
fisema pulmonar não resistiu ficar vários dias deitado e
faleceu. Euzébia ficou muito triste e depois de oito meses
também faleceu deixando a família cheia de saudades.
Findaram-se assim as vidas de 2 pessoas, dois baluar-
tes que enfrentaram todas as dificuldades e tudo fizeram
pensando na família.
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Maranhense trabalhador
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Antes do casamento construiu uma casa e ao lado dela
uma menor para a brigar as pessoas que viam do maran-
hão, principalmente de Carolina, para que eles pudessem
construir com calma suas casas, a casinha do senhor Antô-
nio abrigou entre eles a família do Sr. Américo Vasconcelos,
Sr. Pedro Teixeira e outras.
A família crescia e Antônio com sua inteligência desco-
briu que para ele seria a solução da família e dialogou com
sua esposa:
- Eusébinha se nós fôssemos para o “sertão bruto”
(tudo era mata e quem quisesse poderia ficar com o pedaço
da terra). Escolheríamos um lugar trabalharíamos muito,
poderíamos até ficar ricos.
- Tonho eu tenho muito medo de ficarmos na roça e
depois nossos filhos não estudarem assim que atingirem a
idade escolar.
- Sendo assim irei para onde for necessário.
Os filhos forma chegando, 1º o Raimundo, a primeira
criança que nasceu em Miracema, Adalgisa, Luzia, Ruzuli-
na, Antônio Nolêto Filho, Isabel e João.
Em 1993 quando a Luzia nasceu o Antônio falou: Minha
velha, quando você terminar o resguardo (naquele tempo
era de 40 dias) iremos cumprir o nosso acordo e mudare-
mos para o “Sertão Bruto”. Quando passaram alguns meses
minha mãe já estava novamente grávida. Euzebinha deu a
luz, se recuperou, tinha chegado a vez da mudança.
Quando chegaram naquela nova morada que recebeu
o nome de Pequizeiro e estava a 10 léguas de Bela vista,
quanta tristeza! Venderam tudo o que tínhamos para com-
er, pois diziam para o papai que para onde nós irmos não
faltava nada. Meu pai coitado para quem a responsabili-
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dade de estarmos lá era muito grande fez o que podia, mas
muitas vezes a minha mãe chorando comia sem arroz, sem
farinha porque não se encontrava nada para comprar e os
habitantes dali eram movidos pelo desânimo diziam: que
nada nada que se plantava era colhido porque ou não na-
scia ou não prestava para colher.
Todos os dias depois de tomar o minguado café, meu
pai colocava os jacas no lombo do burro, montava na garu-
pa e percorria léguas e léguas na esperança de encontrar
alimentos para comprar, o que não acontecia. No outro dia
ia para outro lado sem sucesso.
Antônio resolveu parar com as andanças e auxiliado
por vários homens escolheu um terreno, derrubou o mato,
queimou, e encoivarou e depois de vários dias plantou.
Qual não foi a surpresa de todos quando o arroz nasceu
com toda força, quando o feijão era de fazer inveja para
aqueles que nunca tinham tentado plantar. Daquela época
em diante ninguém mais podia falar mal das terras daquela
região porque elas eram de 1ª qualidade para a agricultura.
Depois de construir a casa da futura fazenda era hora
de ir comprando o gado para iniciar a criação na fazenda.
Foram construída a residência e 3 salas para a loja de teci-
dos, secos e molhados. Era necessário construir também a
casa de rancho como era chamada uma casa para receber
pessoas do sertão, principalmente fregueses que vinham
fazer compras e que chegavam de todos os lados para com-
prar na loja do seu Antônio.
Euzebinha se desdobrava: cuidava da casa, cozinhava,
vendia na loja, cuidava dos filhos e ainda costurava para
as pessoas de casa, para os trabalhadores da fazenda em
troca de serviços. O comércio era intenso, nos fins de sema-
na minha mãe ficava cansada, pois eram muitas as pessoas
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que se arranchavam em nossa casa para fazer compras.
Minha mãe tinha sempre pessoas que ajudavam, mas
quando faltavam sofria muito e se cansava mais ainda. O
trabalho foi duro, muitas dificuldades que foram supera-
das com a coragem e o espírito de fé e a esperança do jo-
vem casal de dias melhores. A família prosperava, tudo já
era mais fácil, havia fartura, não faltava nada na casa, as cri-
anças eram saudáveis e eram alfabetizadas pela mãe que
valorizava muito o estudo.
A medida que os filhos cresciam a mãe se inquietava e
temia pelo futuro dos filhos, para ela tudo estava acabado
se os filhos não estudassem e começou a vivar a memória
do marido, acordando-o altas horas da noite lembrando-o
do trato, pois os filhos estavam crescendo e era hora do
cumprimento do trato que fizeram de procurar a cidade
para os filhos estudarem.
Foram meses de conversas e planos e organização.
Finalmente, no dia 6 de março de 1940 a família Teixeira
Nolêto deu adeus ao Pequizeiro e dirigiu-se a Porto Nacio-
nal cidade que primava pela cultura, educação e formação
dos jovens de várias cidades. Meu pai matriculou-nos no
Colégio Sagrado Coração de Jesus, escola muito boa que
tinha internato e externato e que era das irmãs Dominica-
nas oriundas da França e que exigia muito dos alunos, fun-
cionários em período integral.
Ao chegarem a Porto Nacional, meus pais escolheram
para morar Trizidela (vila ou povoado do lado esquerdo do
Tocantins, do outro lado do rio era a cidade de Porto Na-
cional, era uma ótima região para o comércio, tanto para
vender como para comprar.
Tudo o que queríamos comprar aparecia na porta, além
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de tudo isso, comprava e vendia ouro, abundante naque-
la região. Foi um tempo de prosperidade, empanado pela
malária que acometeu toda a família, tirando a alegria de
adultos e crianças.
Já se passaram muitos anos e eu nunca me esqueci
daquela época em que nenhum cobertor era capaz de di-
minuir aquele frio, os ossos doíam, a febre era muito alta
e os remédios difíceis de tomar. O quinino estava pre-
sente em todos. Tomamos maleitosam, maleisim, saches
de quirino e por fim atebrina . Meus pais verificaram que
era impossível permanecer naquele lugar e perderam os
seus filhos para a malária (naquele tempo era chamada de
impaludismo).
Papai, Sr. Antônio, ao chegarmos na Trizidela, comprou
uma canoa e contratou uma pessoa de confiança para to-
dos os dias nos levar para escola e depois nos trazia, era
muito cansativo e as crianças ficavam poucas horas em
casa. Depois de conversarem meus pais resolveram morar
em Porto Nacional, alugaram uma casa e tudo ficou mais
fácil. Quando surgiu o garimpo dos Piaus (garimpo de cris-
tal) diziam que lá era muito bom para o comércio e meus
pais resolveram aventurar passaram algum tempo em Pi-
aus. Muitas pessoas ficaram ricas e outras gastaram o que
tinham e o que não tinham e ficaram mais pobres.
Para o comércio era muito bom aquele garimpo. Os
garimpeiros compravam o dia todo e muitas vezes era
eles que davam o preço nas mercadorias, batiam nas por-
tas dos comerciantes a qualquer hora do dia ou da noite.
O dinheiro era tanto que notas caiam atrás dos móveis e
ninguém sentia falta, apesar da prosperidade minha mãe
não se deu com o clima e adoeceu: problema de vesícula,
pneumonia e teve que se tratar em Anápolis.
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Quando a mamãe chegou de Anápolis o casal verifi-
cou que não podia ficar mais em Piaus porque a mamãe
tinha naquele tempo saúde frágil e o clima de Piaus não era
propício para ela e resolve voltar à Miracema e aqui fez pla-
nos para continuar os estudo dos filhos em Porto Nacional,
era difícil porque o papai dizia: minhas filhas não ficam em
pensão. Eu fiquei na casa de uma colega e amiga e os out-
ros irmãos foram também, mas ficaram em casa de amigos
pagando a estada.
Naquele tempo tinha o exame de admissão para pod-
er ingressar no Curso Ginasial com provas escritas e orais,
os alunos eram interrogados por pessoas desconhecidas e
só o nervosismo causado pela presença dos desconhecidos
fazia com que se apagassem da memória o que sabíamos.
Mesmo com todas as dificuldades passando o susto dos de-
sconhecidos não nos tirou o prazer de sermos aprovados.
O papai dizia: tratem de passar nos exames porque se
não passarem os homens irão para roça, as mulheres para
cozinha e adeus estudos. Todos nós fomos aprovados pelo
conhecimento aliado ao medo do cumprimento da promes-
sa do Sr. Antônio Noleto.
Assim era o meu pai, quando fazíamos o curso primário
em Piaus, terminávamos a 4ª série eu e minha irmã Luzia.
Naquele tempo eram feitas festas no termino da 4ª série
primária, preparamos a festa, ajudados pela nossa família,
organizamos a recepção para os parentes e amigos, com-
pramos roupas novas, vestidos brancos com bolinhas pre-
tas, calçados novos e depois de recebermos o certificado
haveria um grande baile em nossa homenagem. A Luzia e
eu estávamos na maior felicidade porque pela 1ª vez iria-
mos ver como era um baile.
Seu Antônio Nolêto (meu pai) no anoitecer mais ou
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menos às 20 horas, testemunhou a nossa alegria, alegrou-
se conosco e disse: É hora de nos recolhermos, tivemos
um dia cheio, e cansativo e temos que descansar, não o en-
tendemos e perguntamos: papai, o senhor está brincando?
Temos que participar da nossa festa e ele com aquele sor-
riso irônico falou: minhas filhas não discutamos, é hora de
nos recolhermos e pronto, eu sei que vocês vão fazer falta
na festa e que muitas pessoas virão ver o que aconteceu,
baterão nas portas e chamarão por vocês, finjam que estão
dormindo que eu farei o mesmo, amanhã teremos notícias
se a festa foi boa.
Um nó apoderou-se da minha garganta as lágrimas
teimavam em cair, queimando os meus olhos e eu queria
desaparecer para sempre e não ter que encontrar com
meus colegas. Depois de chamarem, bateram nas portas
tiveram a impressão de que a casa estava deserta. O meu
pai saiu-se com essa, as meninas estavam muito cansadas
e adormeceram o sono era tão profundo que por mais que
a chamassem não acordaram.
Muito eu podia falar do meu querido pai que é um ex-
emplo de homem, de filho, de pai e de esposo. Desempen-
hou em Miracema muitos trabalhos importantes: foi fis-
cal, foi juiz de paz, delegado, comerciante, fazendeiro e um
leitor assíduo.
Em 1979 meu pai que estava quase cego foi à Brasília
para submeter-se a uma cirurgia, estava acompanhado da
mamãe de minhas irmãs Ruzulina e Isabel, foi uma cirurgia
que deixou todos contentes, mas por ele ter fumado duran-
te muitos anos contraiu enfisema pulmonar, em razão da
cirurgia precisou ficar deitado por 3 dias e ao sentar foi
acometido por uma insuficiência respiratória que o levou
a morte e assim terminava a vida terrena do maranhense
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trabalhador com 80 anos e deixou muitas saudades.
Euzébia a esposa, depois de 8 meses que o Tonho fale-
ceu ela também nos deixou. Ficando só o seu exemplo de
mulher autêntica e trabalhadora.
São seus oito filhos :
Raimundo (Mundico) 1º advogado nascido aqui em
Miracema
Adalgisa professora trabalhou na educação por 48
anos.
Maria : Nasceu de 8 meses, óbito fetal.
Luzia: morreu aos 16 anos.
Ruzulina professora dedicada trabalhou em Miracema
e na Capital do pais
Antonio Nolêto Filho ingressou no exército passou por
várias progressões e hoje é um aposentado
Isabel professora foi delegada de ensino, por 3 vezes,
coordenadora da menores mirim, coordenadora da mer-
enda escolar estadual, secretaria municipal de educação e
presidente de partido político.
João que até os 18 anos parecia normal, tinha um tran-
storno mental e morreu aos 22 anos.
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O talento de um faisqueiro
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da viagem. A família chegou ao garimpo, lugar de muito
dinheiro mas de muita violência e como algumas pessoas
diziam: lá matavam só para ver a queda. A mãe de Mundico
tinha muito medo, pois o filho não se contentava em ficar
quieto em casa. O garoto pensou vários dias para resolver
qual seria o seu trabalho, daquela época em diante pediu
a Nossa Senhora que desse uma luz e foi aí que optou para
ser um pequeno faisqueiro.
Depois de pesquisar quais as ferramentas necessárias
para o seu trabalho, começou a trabalhar acreditando no
êxito daquela profissão. Pela manhã, depois de tomar o
café colocava no ombro o seu embornal branco e dirigia-se
para o manchão área ao lado das catas (grandes buracos de
onde era tirado o cristal pelos garimpeiros).
Todo cristal refugado pelos faisqueiros e capangueiros:
pirâmides, pedras e pedaços, eram recolhidos e colocados
no embornal do pequeno faisqueiro, os grandes compra-
dores de cristal se encantavam com aquele empreendedor
tão novinho, mas que dava exemplo de trabalho e perse-
verança a muitos adultos. Depois de um dia de trabalho,
o cristal recolhido era beneficiado por ele e vendido para
aqueles compradores que o tinham jogado no manchão
sem dó nem piedade.
Depois de um ano, quando a família resolveu sair do
garimpo o faisquerinho já tinha feito o seu pé de meia e
juntado muitos cruzeiros (moeda da época) antes de sair
grandes capangueiros como o Sr. Rodolfo sempre estavam
atrás do seu pai, pedindo para que ele deixasse o seu fil-
ho ir com eles para o Rio de Janeiro para fazerem dele um
homem com muito estudo e rico, o pai não deixou.
De volta a sua cidade era hora de pensar na continu-
ação dos seus estudos, o pai resolveu manda-lo para Belém
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interno no Colégio Salesiano. No 1º ano de internato,
Mundico usou o dinheiro que ganhou no garimpo (o pé de
meia) para ajudar o pai nas despesas do colégio e mesmo
nas despesas pessoais. A felicidade estava estampada no
seu rosto por poder contribuir para sua formação.
Lá ele teve muito progresso nos estudos. Era tempo das
medalhas e do quadro de honra, todos os dias o seu nome
estava no quadro de honra e a blusa do uniforme era pesa-
da de tantas medalhas, seu nome era dado como exemplo
para os alunos do colégio.
Raimundo fez ao mesmo tempo os cursos: contabili-
dade e cientifico e depois faculdade de direito. O Sr. Pedro
Alvares que era responsável por ele em Belém, mandou
uma carta para seus pais pedindo-lhes ordem para tirá-lo
do internato e levá-lo para sua casa, ele alegava que tinha
dois filhos e o Mundico com sua responsabilidade e vonta-
de de crescer serviria de exemplo para eles.
Os pais de Mundico consentiram, e ele foi morar na casa
do Sr. Pedro. Daí em diante as coisas ficaram mais fáceis e
ele era tratado como filho. Terminado o 2º grau enfrentou
o vestibular para Direito passou e estudou com afinco até
se formar e começar a vida de um profissional competente
e entusiasta.
Foi a 1ª criança nascida em Miracema do Tocantins, 1º
advogado filho da cidade e quis a providência divina que
fosse o 1º em tudo o que enfrentava. O Sr. Pedro viu no Rai-
mundo a figura de um político responsável que seria apoia-
do por ele.O jovem entrou na politica de corpo e alma, não
encontrando muita dificuldade para se eleger.Foi vereador
2 vezes e deputado uma, deixou a política pelos apelos do
seu pai que dizia: filho, você não tem necessidade de políti-
ca porque tem sua profissão.
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Era no tempo da revolução, Mundico era deputado,
muito dos seus colegas foram presos e ele apesar de ser
vigiado, não encontraram nada que desabonasse a sua
conduta. Era hora de pensar em um escritório de advocacia
onde ele trabalharia muito com a competência que lhe foi
dada por Deus e pelo seu esforço.
Deixou a política e se concentrou em desempenhar
bem a sua profissão. Era muito querido por todos. O seu
escritório de advocacia era renomado, muito conhecido
e procurado para resolver muitas causas, até mesmo dos
Miracemenses.
Casou, só teve uma filha que foi educada com muito
carinho e participando do trabalho do pai desde os 8 anos.
Quando tinha 15 anos, já resolvia problemas do escritório,
cuidava do dinheiro e dos funcionários, foi uma assessora
perfeita.
Raimundo conquistou um patrimônio razoável, com
conforto e bem estar. Ele era religioso e sempre ajudava as
instituições de caridade como: a Santa Casa de Misericór-
dia e outras. Era muito carinhoso com seus familiares,
quando sabia que os pais e também sua tia que ajudou na
sua criação estavam doentes ou precisando dele para re-
solver algum problema era aí que se desdobrava, mandava
passagens, ou ele mesmo vinha e levava os que estavam
precisando.
Foi um filho, um esposo, um pai, um sobrinho, um
irmão e um amigo maravilhoso e não media esforços para
satisfazer as necessidades dos mesmos. Quando chegava
alguém da sua família em Belém o Mundico tinha grande
alegria de mostrar as partes mais importantes da cidade,
os pontos turísticos e explicar a importância de cada um.
Naquele tempo muitos jovens de Miracema iam para Belém
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estudar e o Mundico sentia-se feliz oferecendo o seu apoio
e a sua amizade.
Em sua cidade natal (Miracema do Norte) recebeu uma
homenagem de filho ilustre e seu nome foi dado ao fórum
da cidade. Tudo isso aconteceu na gestão do Prefeito Boan-
erges Moreira de Paula, que sempre valorizou os aconteci-
mentos históricos de Miracema.
Depois de vários anos de trabalho adoeceu gravemente
e morreu aos 45 anos vítima de um coma diabético.
Era muito triste quando nas ruas de Belém os jorna-
leiros vendendo o seu jornal gritavam; morreu o Dr. Nolêto,
(como era conhecido em Belém) morreu o pai dos pobres
. Enquanto isso o cachorrinho Rex procurava o dono pela
casa inteira.
Mundico foi enterrado em Belém e assim desapareceu
aquele ser que nasceu para ajudar o próximo. Sua doença
foi rápida e ele não teve tempo de fazer muita coisa que
ainda queria...
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Febrona
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O acontecido já se espalhara por toda a redondeza, o
medo estava estampado em cada rosto, ninguém conse-
guiu entender o que estava acontecendo. Os vizinhos não
paravam de comentar:
“Você já ouviu falar da assombração na casa do Jeremi-
as?”
“Deus me livre!, cruz credo!, não quero nem passar por
aquelas bandas!, os espíritos maus estão soltos.”
“Eu queria adivinhar o que o casal fez de tão ruim para
está sendo perseguido pelos fantasmas.”
A família tinha que se mudar para cidade distante, os
preparativos da viagem já estavam prontos, mas, antes da
mudança, precisava desvendar aquele mistério. Homens e
mais homens eram contratados para encontrarem o louco
ou desvendar o mistério. Fora criado uma espécie de reve-
zamento de trabalhadores, pois alguns já queriam cair fora.
Meio dia, sol a pino, todos tresnoitados. Adultos cochil-
am, crianças procuram entender... Era dia de lavar roupa no
córrego. Febrona chorava e tremia com medo do encontro
com o Caboclo.
“Tia, eu quero lhe pedir uma coisa... “Peça” “Eu quero
que a comadre me faça companhia, tenho que lavar roupa”
A patroa chora de pena da filha alheia. “Mariinha pode ir
com você, mas tenha cuidado com a minha filha” As pedra-
das comiam e os roxos aumentavam no corpinho da meni-
na.
Antevéspera da viagem, roupa suja, medo, patroa que
chora: É injustiça deixar Febrona ir lavar roupa sozinha,
mas minha filha já está doente e muito nervosa... vou deix-
ar a Mariinha lhe fazer companhia, mas todo cuidado é
pouco!.”
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No córrego, roupas são pisadas e rasgadas. O Caboclo
está furioso e só não danifica as roupas da amiga. O chefe
da família já não aguenta mais. Sua cabeça é só confusão:
muito medo pela família, cuidado redobrado com os filhos.
Manhã de Domingo, Sr. Jeremias não sabe mais o que
fazer, está desesperado. Ô de casa! Tem alguém aí? O dono
da casa reconhece aquela voz e responde: “ entre estamos
na sala.” Abraços, palavras de conforto. Seu Chiquinho era
um grande amigo, viera à fazenda para ajudar a solucionar
o problema que afligia aquela família . “Jeremias, só sairei
daqui quando for resolvido este caso.” E assim passou a
trabalhar, vigiando os passos da garota louca. Ela, por sua
vez, preocupava-se com o visitante, mas fingia ignorá-lo.
Seu Chiquinho, homem muito astuto, logo se aproxima de
Mariinha, com ela faz amizade, conversa muito e descobre
que a menina está sugestionada, nunca tendo visto o tal
Caboclo.
Noite enluarada, família reunida. De repente, alguém
grita “Ele me acertou!” O detetive aproximou-se, examina
a pedra e constata que, apesar da chuva forte, a pedra está
enxuta e conclui: “ Esta garota está nos colocando no bol-
so...”
A vida continua. Chiquinho e Jeremias já descobriram.
A patroa não acredita. É preciso uma prova a qualquer
preço.
Mais uma vez Febrona precisa de companhia e mais
uma vez a patroa é ludibriada. Chegaram ao córrego, Febro-
na fala alto, briga com o Caboclo, deixa a roupa na tábua e
volta para casa aos prantos. “ Mamãe, mamãe... o Caboclo
desta vez quase quebra minha costela.” A mãe revoltada ex-
clama: Esse louco quer matar a minha filha.”
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É hora de tornar pública a descoberta. Em uma reunião
familiar a dona da casa se convence. Seu Chiquinho não
estava feliz: “É preciso dar um castigo para essa garota .
Com o corpo encarvoado e atrás das árvores, que margeiam
o córrego, aplicarei na mentirosa um grande surra e tudo
ficará por conta do Caboclo. Os fazendeiros não consenti-
ram tal castigo, chamaram Febrona, disseram-lhe tudo o
que descobriram e pediram a seu pai que viesse buscá-la.
Muito choro. Tratamento para a criança, sossego para
todos. A fazenda volta ao normal, acabaram-se as visagens.
Ao longe, o trote de um cavalo, Febrona volta para casa.
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Efeitos da cobiça
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resolveu deixar o garimpo para morar em uma cidade tran-
quila, chamada de “Berço da Cultura.” Lá, apesar de muito
só e de perder de vez a sua família, sentiu-se em paz.
Não quis mais se casar nem colocou em casa nenhuma
mulher, Chegou a se lembrar muito pouco da sua verda-
deira família pela distância, pelo passar do tempo e pela
falta de notícias. Não voltou para o Piauí para não ter que
enfrentar os seus e dizer que esteva mais pobre...
Ao chegar fez amizade com muita gente, pois nas ci-
dades pequenas todas as pessoas se conhecem. O Sr. Deo-
cleciano destacou uma família pela solidariedade e deli-
cadeza. Fez dela a sua própria família. Seu Lupercino, D.
Nancy e seus dois filhos passaram a fazer parte da vida do
novo habitante daquela cidade.
Era no tempo em que existia o curso ginasial. O prédio
onde funcionava o ginásio ficava bem perto de um bar que
por sinal era o bar do Sr. Deocleciano que fez amizade com
alunos, professores e funcionários. Os fregueses eram ao
mesmo tempo amigos e reuniam-se para o bate papo de
fim de tarde. Como era bom o suco de limão feito pelo Sr.
Deocleciano... Além do suco, vendia salgadinhos, analgési-
cos, vitaminas e às vezes uma caipirinha.
Passaram-se os anos e aquela rotina só era quebrada
quando a família amiga fazia um passeio e o Sr. Dedé era
convidado especial. Nessas ocasiões, o bar era fechado por
uma tarde ou um dia.
Convidado para jantar com os amigos o Sr. Deocleciano
ficou à vontade para conversar e falar de sua prosperidade
no comércio. O Sr. Lupercino perguntou-lhe quais eram as
suas pretensões daquela data em diante:
- Dedé, como você está prosperando o que pretende
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fazer de agora em diante?
O Sr. Deocleciano, com a alegria que lhe era peculiar,
disse ao amigo:
- Pretendo trabalhar mais alguns anos e depois quero
me aposentar.
O amigo concordou, deu forças e disse:
- Dedé, você do jeito que vai são necessários apenas
uns dois anos para alcançar o seu objetivo.
Conversaram muito, a par de toda pequena fortuna que
o amigo conquistara, despediram-se. Já era tarde, todos
dormiam, apenas o Sr.Lupercino fumava um cigarro após
outro e naquela cabeça de homem sem Deus, começaram a
se formar confusas ideias.
A sexta-feira amanheceu triste, nublada, muito cal-
or, trovões ao longe. Era o anúncio do final das águas. O
Sr. Deocleciano estava confuso e com o coração apertado.
Tivera sonhos conturbados e um deles era prenúncio de
maus acontecimentos.
Procurou a amiga dona Nancy e falou do seu medo e da
sua ansiedade. Dona Nancy acalmando-o disse-lhe:
- Coragem meu amigo, sonho é bobagem e não quer
dizer nada.
Algo de muito estranho tomava conta daquele homem
aparentemente tranquilo.
Dentre os amigos do dono do bar havia um menino de
uns dez anos, o Valdemar que todos os dias chegava bem
cedinho para vender limões para fazer o suco: marca regis-
trada daquele bar.
Era mês de março, chovia muito. O Bar amanheceu
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fechado e os vizinhos e amigos intrigados perguntaram:
Será que o Sr. Deocleciano amanheceu doente? Enquanto
isso, na soleira da porta como em todos os dias, estava o
Valdemar com seu balde de limões amarelinhos. Cansado
pela espera deixou que o seu relógio marcasse 9 horas. Co-
locou o ouvido e os olhos na fechadura da porta, não ouviu
nenhum ruído nem ressonar e deu o alarme.
Em altos gritos clamava Socorro! O meu amigo morreu!
Mataram o meu amigo. Dentro da casa não há nenhum sinal
de vida. A polícia foi chamada e depois do arrombamento
da porta, todos ficaram estarrecidos com o que viram. O Sr.
Deocleciano de cueca, com a cabeça esmagada estava caído
no corredor em uma poça de sangue. Foram levados o seu
dinheiro e objetos de valor.
O medo se estampou em cada fisionomia e aquela ci-
dade passou a trancar suas portas às 18h para só abri-las
no outro dia às 7 horas da manhã. Ninguém estava em paz
e uns diziam que o criminoso tinha se escondido no quarto,
outros que ele estava atrás da porta. Cada pessoa manifes-
tava o seu pensamento aumentando a insegurança daquele
povo...
A cidade transformou-se em inferno de lamentos e in-
seguranças.
A família mais amiga tomou conta de tudo do funeral,
das roupas, das despesas e chorar muito o amigo perdido.
Muitas foram as flores e as coroas que mandaram para o
morto. No meio delas, destacava-se a maior e mais bonita,
com os seguintes dizeres. Saudades da família Lupercino
que chora o amigo que se foi...
Os murmúrios continuavam cada um queria adivinhar
o esconderijo do assassino. Nancy tinha saudades do ami-
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go, inquietava-se com o grande mistério, a crueldade do ser
humano mexeu com a sua sensibilidade. Recorreu às auto-
ridades, mandou vir detetives e saiu à rua para ir à igreja
pedir ajuda de S. Judas Tadeu.
Depois de três meses, o crime continuava sem solução.
Da Capital chegou àquela cidade o coronel Barbosa e sua
equipe de detetives. No coronel Barbosa a população da
cidade depositou toda a esperança da solução daquele
caso tão complicado. Barbosa fez da cidade a sua casa e
começou a visitar residências, casas de comércio, escolas,
bares e hotéis. Procurou adquirir a confiança da sociedade
para facilitar o seu trabalho.
Era hora de chamar as pessoas para deporem. Começou
pelos vizinhos do bar e familiares do grande amigo. As
peças foram se encaixando e era a vez de D. Nancy que at-
ravés de suas pesquisas descobriu tudo e colaborou com a
polícia contando o que tinha descoberto.
O Sr. Lupercino foi chamado para depor e apesar de se
esquivar não teve como fugir. O coronel já sabia de tudo
pelas suas pesquisas mas queria arrancar daquele homem
frio a sua própria confissão. O Sr. Lupercino contou para
Barbosa que há muito vinha planejando tirar a vida do ami-
go, para ficar com seu dinheiro.
O coronel com a autoridade que lhe foi confiada e com
a revolta por tanta maldade, perguntou ao Sr. Luperciono –
Você era tão amigo do Sr. Deocleciano como teve coragem
de tirar lhe a vida? Ele respondeu:
- No homem há sentimentos bons e sentimentos maus,
cabe a ele saber cultivar os bons.
O coronel Barbosa irritou-se e disse – Você não respon-
deu a minha pergunta e eu vou fazê-la novamente – Por
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que você matou o seu amigo?
- Por pura inveja. Saltei o muro que dava da minha casa
para o bar, bati na porta do quarto e ele acordou assustado,
sem querer falar. Ao ouvir minha voz, abriu a porta com
alegria. Perguntou se tudo estava bem comigo, respon-
di que sim mas a minha esposa estava com forte dor de
cabeça e queria um calmante.
Seu Dedé guardava os remédios em cima da geladeira e
ao virar as costas, foi agredido com uma travanca (pedaço
de pau), a mesma que servia de ferrolho para a porta de
quarto.
A cabeça do amigo ficou esfacelada, não tendo nem
tempo para pedir socorro. Caiu agonizante e permaneceu
por várias horas em poça de sangue. Roubei os objetos de
valor e o dinheiro, em seguida, pulei o muro de volta ao
meu quintal e acreditei que meu desejo tinha se concret-
izado.
Depois do depoimento o Sr. Lupercino foi declarado
culpado e algemado seguiu para a penitenciária da Capital.
A paz foi restabelecida, a cidade voltou ao normal, livrou-se
do medo que foi substituído pela confiança. O coronel Bar-
bosa estava contente por ter desvendado aquele mistério,
mas o seu coração batia descompensadamente e ele mur-
murava:
- ao longo da minha vida profissional, já descobri mui-
tos crimes mas este foi o mais triste...
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Iracema Club
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começou o trabalho incansável de angariar fundos para a
construção. Foram feitos bingos, rifas, jantares, festas en-
quanto isso, o jovem idealizador procurava sensibilizar os
comerciantes para a viabilidade daquela construção. Al-
guns diziam: Isto não tem sentido. Outros diziam: por que
você não aluga uma sala e faz as festas? O Chico esperanço-
so explicava que nada disso resolveria e partia para o diálo-
go com outros segmentos da nossa sociedade. Muitos diz-
iam: você é doido, não tem sentido essa história.
Outras pessoas foram se juntando a equipe como: Arias
Gomes, Trajano Coelho, Lourival Costa, Adelmam Porto,
Delfino Araújo e outras. As paredes já se erguiam e um belo
dia o Mustafá Bucar amanheceu acreditando no empreen-
dimento e prometeu vender fiado o que tivesse na sua loja,
passando a ser sócio e muito contribuindo.
O trabalho para adquirir fundos continuava e o Hernani
Mota que viajava para Anápolis levava o dinheiro e com-
prava o material de construção, pois aqui não tinha quase
nada. As madeiras para o teto foram trazidas de Belém do
Pará pelo Senhor Antônio Evangelista que fazia viagens
para Belém e também era sócio. O Chico foi eleito pela
equipe fundadora como o primeiro Presidente do Iracema
Club. E depois vieram muitos outros presidentes.
Quantas vezes com poucos dias que tinha dado luz, fi-
cava até quase de manhã ajudando-o na realização das fes-
tas e eventos; As festas não eram como as de hoje, a renda
era pouca e precisávamos trabalhar e trabalhar muito... de-
pois de uma festa, toda equipe era reunida para prestação
de conta do dinheiro arrecadado e o direcionamento para
compras dos materiais necessários para terminar a con-
strução.
As paredes já estavam altas e algumas pessoas come-
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çaram a acreditar, era hora de partir para venda de um
determinado número de ações. Foi elaborado o Estatuto
do Club, seus fins, duração e representações. Sempre bem
organizado, o Chico mandou imprimir ações, carteirinhas,
contrato social. Era um trabalhador incansável, sempre or-
ganizando a escrita e fazendo tudo direitinho, para que o
Iracema Club fosse um exemplo de associação, tudo tinha
que ser bem feito: pasta para cada documento, nada fora
do lugar, prestações de contas e balancetes mensais.
O Iracema Club foi palco de grandes carnavais, réveillon,
festas de debutantes, reuniões politicas, festas de format-
uras, apuração de votos das eleições, festa de aniversários,
casamentos e outras. Com o passar do tempo, acreditando
na realização do projeto, outras pessoas foram se juntan-
do a equipe.
Hoje, o Iracema Club não tem mais condições de diver-
tir as pessoas, ficaram as boas lembranças e o bailar dos
ratos incomodando os vizinhos.
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Irmãs da Assunção (Colégio Tocantins)
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Goiânia e o Sr. Oscar Sardinha Filho se encarregou da ad-
ministração da construção o que resultou em um belo pré-
dio com muitas salas de aula e dependências necessárias
para um funcionamento de uma unidade escolar.
Cuidaram da formação integral, da catequese, de diver-
sos cursos, do apoio às famílias, eram confidentes e muitas
vezes ofereciam aos alunos aquilo que suas famílias não
podiam oferecer. Através do teatro, nossos jovens eram in-
seridos no mundo das artes, trabalhando as emoções, seus
talentos, e desenvolvendo a leitura e visão de mundo, le-
vando-os a busca de novos horizontes.
Muitos alunos do Colégio Tocantins se destacaram na
escolha de suas profissões, contribuindo para grandeza de
nossa Pátria e de outros países.
A 1ª Delegada de Ensino foi a Irmã Lourdes Irene, sub-
stituída pela Irmã Regina. A Irmã Doracina foi a 1ª Diretora
da Escola Estadual Santa Terezinha. A princípio, tínhamos
só uma comunidade de Irmãs no Colégio Tocantins. Com a
instalação da Diocese, mais uma comunidade foi formada
no Centro de Treinamento. Aquelas religiosas desempen-
haram um trabalho de fazer inveja a qualquer comunidade.
Ajudadas pelo D. Jaime e alguns padres, promoveram en-
contros, cursos, assembleias, cursilhos e tudo o que de-
pendesse da sua ajuda.
Aos domingos, quando íamos à missa não encontráva-
mos lugares para nos sentarmos, e aí nos lembrávamos do
tempo em que nove ou dez pessoas compareciam à igreja.
À medida que as famílias foram sendo conscientizadas da
necessidade de uma religião, elas foram se transformando
e vimos o incansável trabalho ser coroado de êxito.
Muitas Irmãs já passaram por Miracema. Algumas já
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moraram aqui, mais de uma vez como: Irmã Geralda, Irmã
Angélica, Irmã Elvira, Irmã Odília Irmã Emma, Irmã Severi-
ana, Irmã Eugênia, e outras.
Foram diretoras do Colégio Tocantins: Madre Redemp-
ta (Nilza) Madre Gertrudes, Irmã Maria Rita, Irmã Lourdes
Irene, Irmã Beatriz, Irmã Joana Pedro, Irmã Márcia, Irmã
Terezinha, Irmã Naila e Irmã Diná.
Fiz parte com muita alegria da família Assunção, pois
além de estudar, lecionei e desempenhei outros cargos
neste Colégio que tanto amo. Muitos professores con-
tribuíram e ainda contribuem para o grande sucesso do
Colégio Tocantins. Acompanhei esse maravilhoso trabalho
desde o 1º dia e acho que o Colégio Tocantins e as Irmãs
da Assunção merecem de todos nós e das autoridades o
reconhecimento pelo muito que fizeram em prol da nossa
comunidade.
No dia 31 de maio de 1998, tivemos o privilégio de
uma jovem miracemense, Maria Luísa, se tornar freira, um
acontecimento que fez parte das comemorações dos 100
anos da fundadora das Irmãs da Assunção.
As irmãs retornaram aos seus lugares de origem e deix-
aram conosco o resultado de um trabalho feito com muito
amor e dedicação. Hoje, o Colégio Tocantins que tanto bem
fez a Miracema e região foi entregue a um grupo de profes-
sores que muito tem feito pela comunidade.
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Maternidade Dona Domingas
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maternidade em suas carências?
Depois que a maternidade Dona Domingas fechou ver-
ificamos a tristeza das mães que já tinham àquele porto se-
guro. As autoridades podiam criar órgãos e não retirar o
que está instalado e servindo a nós e outras comunidades.
Talvez nunca mais tenhamos uma maternidade. Resta-nos
chorar e pedir a Deus que nos ajude a suportar tanta falta
de amor.
O nome da Maternidade Dona “Domingas” foi para
homenagear uma grande mulher que ajudou muito as
famílias miracemenses como excelente parteira.
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Vítima do Destino
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O Pai com toda arrogância de um chefe de família
mal-educado, respondeu: - Não quero saber, quem manda
nesta casa a nesta família sou eu, sou o chefe e pronto. Já es-
colhi o seu marido e não adianta chorar nem pedir. Aman-
hã, o rapaz virá aqui para marcarmos a data de casamento.
No dia marcado para o pedido, o Sr. Lafaiete mandou
que Josefa vestisse o melhor vestido, penteasse os sedo-
sos cabelos e aguardasse a chegada do futuro noivo. Josefa
tinha de obedecer ao pai e ao futuro marido... eram as leis
daquele tempo.
O pai aguardava com ansiedade quando na porta da
frente, soaram palmas. Era ele, o pretendente, Sr. Venâncio,
com seu terno de linho branco, cabelos bem penteados e
muita vontade de conhecer a noiva.
Mesmo aborrecido com o atraso do futuro genro e fa-
zendo ver a ele que a palavra do homem valia tudo, aceitou
suas desculpas e chamou a mulher e a filha para as apre-
sentações. Josefa teve de fingir-se de alegre para que o pai
não tivesse um acesso de raiva.
Foi acertado o casamento para dali a um mês. A moça,
debulhando-se em lágrimas, conversou com sua grande
amiga e pediu-lhe que avisasse ao namoradinho do tem-
po da escola primária, Zezinho, o acontecido. Este, após a
notícia, passou a perambular pelas ruas do povoado can-
tarolando o nome de Josefa. Nunca mais comeu... definhou
até morrer.
Tudo transcorreu naturalmente, os dias longos e si-
lenciosos, as noites turvas e profundas. Até que chegou o
dia do casamento. Josefa foi para o altar com um pesar de
morte. Ferida em seus sentimentos, era como boi conduzi-
do ao matadouro... o seu coração sangrava de angústia.
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Enquanto lá fora os sinos anunciavam o casamento, do
lado de dentro, à beira do altar, Josefa implorava aos céus a
proteção divina.
- Minha Nossa Senhora, interceda por mim, faça com
que esse casamento não se realize Por favor, Minha Santa
Mãe!
De nada adiantou, o seu destino estava traçado e foi
feita a vontade do Pai. Muito choro, abraços e lamentos.
Depois do casamento, da festa para os convidados, mu-
daram-se para uma casa emprestada e, daquela data em
diante, as más qualidades do marido foram aparecendo.
Era um dormir que não acabava nunca. Não tinha profis-
são, os trabalhos que apareciam não eram realizados, e as-
sim, nenhum dinheiro entrava naquela casa pelas mãos do
marido. A família não passava fome porque o sogro ajudava
e Dona Josefa trabalhava por ela e pelo marido, procurava
convencer o marido da necessidade de fazer alguma coi-
sa e de refletir na grande responsabilidade de um chefe de
família, mas ele era irredutível e estava sempre falando:
- Quando a gente tem que ser rico, não precisa fazer
força.
Os filhos foram chegando: um, dois, três, já eram sete.
Mesmo sem gostar de trabalhar queria a casa cheia.
- Como é bom ter muitos filhos e ficar atrapalhado com
os seus nomes, dizia.
Dona Josefa entrou de corpo e alma no trabalho para
poder criar os filhos. Não queria sempre estar pedindo
ajuda ao pai, que acompanhava de perto a vida inútil do
genro. A Cada ano chegava mais um filho e nada de mu-
danças, nada de procurar um trabalho que o dignificasse.
O sogro resolveu abrir o jogo, conversou com o genro, fez
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indagações, ofereceu ajuda e falando nos filhos ouviu dele.
- Deus dá, Deus cria...
Não havia mais o que fazer. O Sr. Lafaiete pediu à filha
que acabasse com o casamento, pois eram muitas as suas
preocupações em relação ao futuro dos seus netos e prom-
eteu auxiliá-la com a educação e criação das crianças. Jose-
fa, com toda mágoa que lhe ia na alma, fez ver ao pai que
ele era o culpado, pois quis assim, escolhendo o seu marido
sem conhece-lo, apenas por aparências. O pai indignou-se
com a resposta da filha.
- De agora em diante lavarei as minhas mãos, não que-
ro nem saber dos acontecimentos de sua casa, porque você
é o balaio e ele a tampa. A pobre filha, chocada com o que
ouvia, chorou e pensou: - meu pai foi que escolheu a tampa.
As cobranças eram muitas e a coragem pouca, o marido
não queria mudar e resolveu abandonar, sem aviso prévio,
os seus familiares, viajando para os garimpos de Mato
Grosso. Nunca deu notícias. A mulher estava grávida do 8º
filho, o caçula. Depois do abandono desdobrou-se para ten-
tar fazer às vezes de pai e mãe, cuidando da cozinha e dos
filhos, costurando e tecendo grandes redes. Trabalhava de
segunda a domingo, sem descanso, dormia poucas horas
na noite e trabalhava enquanto os filhos dormiam. Esforça-
va-se para satisfazer a curiosidade deles em relação à via-
gem do Pai. Os vizinhos intrigados diziam:
- Você não respeita nem os domingos, trabalha dia e
noite.
- É melhor trabalhar no Domingos do que pedir na Se-
gunda.
E assim ela tampava a boca dos murmuradores.
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A princípio, mãe e filhos preocupavam-se com a falta
de notícias. Á medida que os anos foram passando a família
foi se acostumando com a ausência do Sr. Venâncio e, as-
sim, a vida continuava com dificuldade. Os meninos faziam
mandados e trabalhos leves para os vizinhos e conhecidos.
As meninas bordavam e vendiam colchas, toalhas, guar-
danapos e assim ganhavam algum dinheiro para completar
o minguado orçamento familiar.
Em Mato Grosso o Sr. Venâncio vivia mal, não tinha
notícias dos seus familiares e há muito se arrependera,
mas era tarde. A vida muito difícil, era preciso medir as pa-
lavras para conversar, não passar para frente o que ouvia
dos outros garimpeiros porque as mortes aconteciam em
todos os lugares: nos barracões, nos quartos, no trabalho e
nas ruas. Era difícil passar um dia sem corpos estendidos
nas ruas daquele garimpo inumano.
Dias e dias o Sr. Vicente ficou deitado, doente, sem
remédios, mal alimentado, sem ter quem cuidasse dele
e esperando a qualquer hora, a morte que não vinha. As
dores eram muito fortes, dores físicas e dores morais. Nos
momentos de reflexão, pensava em sua família e como a
tinha deixado tão covardemente. Na Bíblia, encontrou abri-
go e fortalecido pela palavra desejou a cura, só pensava em
voltar e reparar o seu erro.
Num Domingo, recebeu a visita de uma irmã de cari-
dade que depois de alimentá-lo quis saber quem ele era, de
onde vinha, se tinha família, quantos filhos e por que não
se esforçava para voltar ao lugar de origem. O Sr. Venâncio,
muito emocionado, contou a sua história, elogiou sua espo-
sa, manifestou a vontade que tinha de rever os filhos e de
conhecer o caçula que, naquele ano, completaria 11 anos.
Irmã Amália ouviu atentamente o relato do infortúnio
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daquele arrependido homem e depois de abraçar o de-
sconhecido, aconselhou-o a escrever para a família pedin-
do perdão e para que os filhos fossem buscá-lo. Ele disse
que tinha muita vergonha e receava não ser atendido pela
mulher e filhos, porque já os tinha maltratado muito. A
irmã falou-lhe da humildade e pediu-lhe que tentasse.
Depois de muito refletir, ele resolveu escrever com mui-
to esforço, uma longa carta. Depois de saudar seus antes
queridos, desfazia-se em lamentos. Contava toda sua vida
após a saída de casa. Pedia perdão pela falta de coragem e
pela ingratidão. Contou das doenças, da falta de solidarie-
dade naquele garimpo, dos assassinatos que amedronta-
vam, da malária que matava centenas de pessoas todos os
anos e afirmava não ter adquirido nada pela falta de sorte.
No final da carta, falava do seu estado de saúde o pior pos-
sível. Pedia perdão e implorava a caridade da esposa e dos
filhos, porque estava doente, cego e morrendo à mingua.
Josefa recebeu a carta e depois de muito pensar, cha-
mou os filhos e pediu-lhes que empreendessem viagem a
Mato Grosso e trouxessem o pai deles para que ela o tra-
tasse, não como esposo, mas como um ser humano que
precisava dos seus cuidados.
- Mas um trabalho extra, mais uma preocupação. Pen-
sou.
Apesar de todos os cuidados dos familiares, o Sr. Venân-
cio morreu depois de seis meses de sua volta. Não sobre-
viveu porque o organismo já não correspondia a nenhum
tratamento. Morreu pedindo perdão. Mãe e filhos senti-
ram-se aliviados por terem praticado uma boa ação, embo-
ra o Sr. Venâncio já fosse quase um estranho.
Passaram-se algumas décadas, D. Josefa já não precis-
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ava trabalhar para viver, na sua velhice fora contemplada
com certo conforto vindo dos filhos que ela soubera edu-
car. Era muito querida, e todos os familiares disputavam
a sua companhia. Escolheu a casa do filho mais velho para
morar, pois era muito amiga da nora e esta a compreendia
em todos os momentos.
Muitas luas vieram e foram embora e, aos oitenta anos,
com muitos netos e bisnetos, vitimada por um acidente, a
mulher guerreira despediu-se dos seus e partiu para não
mais voltar, transformando-se apenas em um exemplo,
uma doce lembrança. Aliviado das suas recordações e ao
som do primeiro galo na madrugada, Rafael olhou mais
uma vez a fotografia de Josefa e sobre ela, adormeceu.
— Página 69 —
Vida conturbada
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O marido sentia-se intrigado com o sofrimento da mul-
her e perguntava-lhe se queria ir ao médico, consultar um
psicólogo, fazer análise e tirar do coração o que tanto lhe
amargurava. Ela respondia que não necessitava de médico
e que era apenas o modo de ser de cada pessoa. Tinha af-
inidade com todos os filhos, mas a caçula, a Regina era sua
companheira predileta.
Conversavam muito e a filha pediu à mãe que lhe con-
tasse como foi a sua infância pois adorava ouvir história de
vida, principalmente dos seus familiares e em especial de
sua mãe. Marjory desconversava e dizia: filha, minha infân-
cia foi igual à qualquer menina do interior e completava: na
minha infância não tem nada digno de se notar. Regininha
encorajava a mãe para falar do que a atormentava. Mãe, es-
tou preparada para ouvi-la pode ter confiança, esvazie-se
do que a aflige e só assim terá vida normal. O
medo era muito grande, a coragem como que a abandona-
va quando pensava na possibilidade de ter de dividir com
os outros o seu segredo...
Cansada de sofrer, chamou a filha e depois de abraçá-
la, perguntou-lhe: Filha, se eu lhe contasse algo terrível que
me aconteceu no passado você ainda gostaria de mim? A
filha com todo amor e carinho respondeu: minha mãe fique
tranquila, pois nada no mundo fará diminuir o amor e ad-
miração que eu tenho por você, e não será por um erro do
passado que irei desprezá-la.
Encorajada pela filha e estudando o que lhe ia na alma,
resolveu acabar de vez com o que não lhe deixava ser fe-
liz. Chamando a filha de lado, pediu que ela se preparasse
para ouvir o que pensava nunca conseguir coragem de con-
tar para ninguém, o seu terrível segredo, guardado a sete
chaves, no fundo do coração.
— Página 72 —
Filha, foi há muito tempo, eu era penas uma garotinha
de oito anos. Vivíamos alegres, brincávamos juntos eu e
meus irmãos. Meus pais viviam em paz, apenas trabalha-
vam muito. Tinham fazendas e para desenvolvê-las e au-
mentá-las viviam com a casa cheia de peões, homens que
vinham de todas as partes a procura de trabalho. No meio
dos trabalhadores existia um homem alto, lábios grossos,
pés grandes e sem nenhuma instrução. Era daqueles que
fazem medo às crianças apenas pela sua presença.
O homem, com toda a brutalidade que lhe era peculiar
começou a me molestar. Menina inocente tremia de medo
quando via ao menos a sombra daquele brutamontes que
eu pensava ir me matar. À medida que me molestava estava
sempre a me ameaçar: “você tem que ter cuidado até com
os sonhos e não pode contar pra ninguém o que aconteceu.
Tem que ficar caladinha... se contar, será o seu fim, seu pai
vai lhe matar de pancadas, você vai ser expulsas de casa,
não terá pra onde ir e eu apodrecerei na cadeia se não me
matarem antes.”
Tremendo, eu prometia não contar e o medo aumenta-
va no meu coração de menininha quase bebê. Foi assim que
fui vítima da crueldade de uma pessoa rude e inescrupulo-
sa que não arruinou apenas a minha vida porque os seus
pais nunca souberam daquele acontecimento nefasto que
abalou para sempre a vida de uma pessoa que começava a
viver.
No meu tempo de criança uma situação como a que
eu vivi era muito difícil, pois os pais distanciavam-se dos
filhos, não havia comprometimento nem intimidade entre
eles. Nem por sombra atrevia contar para minha mãe o que
eu pensava ser um grande pecado, julgando-me suja para
o resto da vida.
— Página 73 —
Ao se abrir com a filha, aquela mulher tão sofrida de-
itou e pela primeira vez depois de muito dormiu em paz.
Marjory estava aliviada, mas ainda faltava completar sua
tranquilidade. Com a ajuda da filha, resolveu consultar um
analista que a ajudou com sua orientação. Cada dia, os fan-
tasmas que atormentavam aquela jovem senhora iam se
distanciando mais.
O analista explicou para ela que o sofrimento das cri-
anças que foram vítimas de abuso sexual, é não conse-
guirem contar o que se passou com elas, porque se julgam
culpadas e diferentes das outras. É preciso contar para
que os culpados sejam punidos e impedidos de abusarem
de outras crianças. Ele falou ainda que são muitas Marjo-
rys espalhadas por todo país, divergindo apenas no modo
como foram molestadas e como encararam o problema, re-
voltando-se, ficando de mal com a vida, pedindo apoio aos
familiares e às autoridades, ou fazendo os seus corações
transformarem-se em pedras de gelo.
Foram duas as fases da vida de Marjory, uma antes e
outra depois da análise. Após tudo isso, ela foi se trans-
formando e aos poucos os fantasmas que a atormentavam
deixaram-na para sempre. Em uma reunião familiar, todos
contribuíram para fundarem uma instituição de apoio a
criança vítimas de abuso sexual, estendendo a ajuda a seus
familiares. Marjory muito alegre, abraçando o marido e
os filhos, deu os primeiros passos para que a obra se real-
izasse com êxito e em tempo hábil. A instituição recebeu o
nome de “Passo a passo com amor.”
— Página 74 —
Zico
— Página 77 —
Romãozinho
— Página 79 —
II
A Mensagem
Clarice Lispector
Mulheres
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enfermeiras cuidando da saúde física, as administradoras
administrando as pequenas e grandes empresas, fisioter-
apeutas atua no tratamento e prevenção de doenças e
lesões, as repórteres que muitas vezes para trazer a notí-
cia ariscam a própria vida, as garis que cuidam da limpeza
das vias públicas, muitas vezes além do seu serviço diário
ainda são obrigadas a limpar a sujeira das pessoas mal-ed-
ucadas.
Essas profissionais fazem o seu trabalho fora e ainda
dirigem a sua casa sendo o suporte da família. Não podería-
mos esquecer de falar nas donas de casa que trabalham
o dia inteiro sem receberem nenhum salário e ainda tem
que responder a pergunta: Está cansada de quê? Enfim são
muitas as profissões todas elas de grande importância para
o desenvolvimento global.
Depois da “Lei Maria da Penha” muitas coisas melhor-
aram. As mulheres podem ser o que quiserem, vestir o que
gostarem, casar com quem escolherem, ficarem solteiras,
ter filhos se quiserem sem obrigação de seguir padrões.
A mulher é dona da sua vida e das suas escolhas. Há pou-
cos dias vi a entrevista de uma astronauta que dizia gostar
muito de sua profissão, mas que só estaria realizada quan-
do pisasse na lua.
Temos muitas mulheres que vão atrás dos seus son-
hos por mais difíceis que sejam e os realizam, mulheres
que não estão satisfeitas com os seus corpos procuram um
profissional (cirurgião plástico) e depois de modelá-los fi-
cando conforme o seu desejo.
Mulheres são convocadas para fazerem parte nas
pesquisas da vacina contra o coronavírus. Por que elas
são convocadas? Pela importância e competência. Mesmo
naquele tempo de desvalorização da mulher, algumas não
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se conformavam com a vida que levavam: ouvi a história
de uma mulher que o marido foi escolhido pelo seu pai e
que ela só teve conhecimento do casamento, uma semana
antes da sua realização, fez que concordava, participou das
comemorações e demonstrou que estava feliz.
Na véspera do casamento comprou um canivete e es-
perou hora de usá-lo, na noite de núpcias, o marido muito
contente se aproximou da esposa e levou uma cutucada de
canivete nas costelas e assim aconteceu todos os dias. O
casamento não deu certo.
Na epidemia, mulheres solidárias formam grupos e
procuram ajudar as pessoas que estão necessitando de
alimentos, material de limpeza, material de higiene cor-
poral. A princípio não parece grande coisa, pois não há
divulgação, mas a grandeza dessas mulheres deve ficar gra-
vada em nossas mentes par que possamos nos aliar a esses
grupos.Vamos ficar atentos à evolução da mulher para que
possamos parabenizá–las e incentivá-las a trabalhar para o
seu crescimento e o desenvolvimento do nosso país.
As mulheres da nossa família foram e são guerreiras
e batalhadoras. Vamos começar pela minha avó materna,
Maria que teve 6 filhos e 2 dos seus filhos morreram nos
garimpos: 3 mulheres, Joaninha que foi costureira e com o
marido visitaram todos os garimpos de Goiás e Mato Gros-
so na esperança de ficarem ricos. Leodora criou com ded-
icação a sua família.
Minha mãe (Euzébia) mulher incrível, além do seu
tempo, empreendedora, esposa, mãe, comprometida com
o progresso valorizava o estudo e fazendo o possível para
que seus filhos estudassem e fossem alguém no futuro. Ela
era tão especial que a sua sogra tendo vários filhos morou
conosco 25 (vinte e cinco) anos, até sua morte.
— Página 85 —
Do lado paterno temos a vovó Luzia que teve três filhas,
todas mulheres com “M” maiúsculo e que as famílias se
orgulhavam dela.
Mamãe teve cinco filhas, sendo que as que viveram até
a vida adulta, foram três mulheres batalhadoras e consci-
entes do seu papel na sociedade.
Eu tive cinco filhas: todas mulheres guerreiras e deter-
minadas, que não se contentam com as injustiças e com as
desigualdades sociais. Tenho sete netas que têm os mes-
mos pensamentos. São três as noras que também são tra-
balhadoras, amigas e conscientes das causas sociais. Mui-
tas sobrinhas que comungam com mesmos pensamentos.
No século 21 as mulheres não são mais consideradas
parte fraca, porque a fortaleza está com elas e todos os dias
a mulher é notícia e se destaca pelos sesu feitos. No mundo
verificamos a força da mulher que assume o papel de mãe
e de pai ao mesmo tempo, cuida da família porque o pai
morreu, está doente ou se ausentou por vontade própria.
Por tudo isso podemos afirmar que a mulher é uma
mola propulsora que move esse mundo. Ainda temos mui-
to o que fazer mas já temos meio caminho andado. E a luta
continua...
— Página 86 —
Uma visão diferente sobre o olhar
— Página 89 —
atingidos por ele sonham uma paz e uma felicidade sem
limites e não podemos deixar de vê-los, pode acontecer em
todos os dias da nossa vida.
Há também, os olhares que fogem a nossa vontade pois
são involuntários como aqueles que depois de uma inter-
venção cirúrgica somos surpreendidos pela visão dupla e
para tudo que olhamos há uma cópia que nos atormenta o
dia inteiro.
Os olhos na Pandemia são de tanto valor que as más-
caras que resguardam o rosto, deixam os olhos descober-
tos para que eles identifiquem as coisas e as pessoas, de-
sempenhando o papel de fiscal e possam orientar aqueles
que usam.
É de se pensar se o olhar cigana e dissimulado de “Ca-
pitu” passaria despercebido aos olhos de alguém.
— Página 90 —
Quarentena
— Página 93 —
mal, na UTI de um hospital recusou o respirador e pediu
que ele fosse usado por uma pessoa mais jovem que tinha
tudo pela frente, no outro dia, a velhinha morreu.
As normas estabelecidas pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) são muitas e algumas difíceis, mas necessárias,
entre essas normas está a “quarentena”, é necessário que
pessoas obedeçam que fiquem em casa, pois a quarentena
é um dos meios mais eficientes para que o coronavírus se
distancie de nós, muitas pessoas compreendem direitinho
a quarentena, outras desobedecem.
Temos a vida toda pela frente, por que não sair de casa
por 30 dias? Algumas pessoas dizem: que só a ajuda de
Deus basta para nos livrarmos do vírus que assola o mun-
do. A quarentena é uma norma fácil de ser obedecida, ela
faz com que a família fique reunida que os filhos conheçam
os pais, e os pais conheçam seus filhos, a família se alimen-
ta, faz orações, desenvolve jogos e brincadeiras, deixa o
papo em dia, exclui o que não é útil, cultiva bons hábitos e
orienta aqueles que precisam de orientação. Enfim, a quar-
entena foi Deus que nos mandou para que pudéssemos cul-
tivar a união e a paz.
— Página 94 —
O medo que corrói a todos
— Página 97 —
até TV a Cabo, mas não conversava e nem dialogava comi-
go.
Os especialistas dizem que os jovens podem ter tudo,
mas se não tiverem amor, nada disso valerá.
Os atiradores tinham um verdadeiro arsenal: armas de
fogo, entre elas, uma besta, arma medieval , arco, flecha,
machadinha e a vontade de matar.
Antes de adentrarem a escola os atiradores mataram
um empresário, tio de um deles.
O resultado do tiroteio foi: 10 pessoas mortas e outras
feridas. Depois de uma semana quatro alunos ainda per-
manecem hospitalizados.
No meio de tudo isso existe as pessoas que nasceram
para ajudar: a coordenadora pedagógica, a inspetora de
alunos, a vice-diretora que se trancou com alunos em uma
sala para tentar avisar e pedir ajuda à polícia, a meren-
deira, que conseguiu salvar da morte mais de 50 crianças,
trancando-as na cozinha, os vizinhos que abriram suas
portas e portões para que alunos em fuga entrassem e se
protegessem.
A aluna que lutou com um dos rapazes e conseguiu fu-
gir abrindo a porta para os outros saírem, ela contou que
alguns alunos ficaram travados sem poderem sair dos lu-
gares em que estavam e foram mortos com a maior cruel-
dade. Ela contou que quando abriu a porta e os atiradores
viram os alunos fugindo ficaram desnorteados por algum
tempo.
E por que não falar dos policiais que evitaram tragédia
maior? Eles enfrentaram tudo, entraram na escola sem sa-
ber o que iriam encontrar com um único objetivo, ajudar,
deixaram também seus familiares e seus filhinhos sujeitos
— Página 98 —
a todo tipo de maldade, pois hoje não estamos seguros nem
em nossas casas.
No dia 18 de março, as portas da escola “Raul Bra-
sil” foram abertas para professores, funcionários e pais
que foram recebidos por psicólogos, assistentes-sociais,
psiquiatras e foram surpreendidos com muitas homena-
gens: inscrições nos muros da escola, camisetas com frases
significativas, cartazes vindos de várias escolas e alguns
com afirmação de que a educação está de luto.
Nessa reunião traçaram estratégias para a visita dos
alunos à escola porque ainda não sabem quando as aulas
recomeçarão.
Os alunos estão amedrontados, as cabeças cheias de
pensamentos confusos e com uma concentração muito
difícil.
Por muito tempo eles viverão com a insegurança e a
lembrança dos acontecimentos daquele dia.
— Página 99 —
Mulher De Mente Cansada
Os problemas da família,
Afetam seu pobre coração,
Mulher de mente cansada,
Mulher de mente cansada.
A injustiça e a ingratidão
Vão chegando de mansinho,
— Página 101 —
Mulher de mente cansada,
Mulher de mente cansada.
— Página 102 —
Miracema – 50 anos (Bodas de Ouro)
— Página 105 —
Quando lhe acontece qualquer coisa triste é aí que enx-
ugo suas lágrimas. É difícil, porque apesar de querer con-
solá-la, nós duas choramos abraçadas uma a outra. Mirace-
ma, não deixe que retirem de você o que foi conquistado ao
longo dos anos. Converse ao pé do ouvido com as pessoas
que não conhecem a sua história e talvez a solução virá
como você espera. As vezes quando desconhecemos uma
pessoa, uma cidade ou uma história pensamos diferente
mas, quando achamos quem nos conte, quem nos ajude a
entender passamos a pensar de outra maneira.
Não se acomode querida amiga, o mundo é dos fortes;
vá a luta, chore, grite, dialogue, peça e quem sabe sairá vi-
toriosa nessa luta que apenas está começando. Parabéns
Miracema pelos seus 50 anos. São felizes todos aqueles que
atingem essa idade e você teve essa graça. Todas as festas
do mundo inteiro seriam poucas para as homenagens que
você merece.
— Página 106 —
Miracema ontem e hoje
— Página 109 —
Medo da Morte?
— Página 111 —
Com relação à morte, não podemos nos esquecer do
descaso que algumas pessoas têm com os velórios, a até
fazem promessas para que eles aconteçam dizendo: esta-
mos com saudades daqueles lanches, daqueles encontros e
das negociatas e conchavos políticos.
Conheci um homem que perguntava, quando vai ter
um velório, estou com saudades, quando será o primeiro?
No mesmo dia aconteceu o velório do seu filho e ele deses-
perado, aos gritos pedia desculpas àquelas famílias que ele
ofendeu com suas piadas e descaso. Estejamos atentos à lei
do retorno, pois ela é implacável.
— Página 112 —
Por quê?
— Página 115 —
Festival Gastronômico
— Página 117 —
fazia parte de vários pratos, o babaçu emprestou-nos suas
amêndoas para que os peixes ficassem mais saborosos, o
abacaxi também estava presente na gostosura das tortas
e doces oferecidas pela gastromira, os músicos, compos-
itores e cantores do Tocantins se apresentaram e mostr-
aram os seus talentos.
O público presente foi avaliado em 10.000 pessoas. O
esmero das pessoas no vestir, na maquiagem e na alegria
marcou a importância dada a gastronomia. Segundo a
opinião dos organizadores a gastromira foi um sucesso e
ficou a saudade e a vontade de repetir a dose).
A inscrição dos pratos foi feita com antecedência para
que os expositores tivessem tempo de testarem suas co-
midas para quando fossem apresentadas agradassem aos
consumidores. 80% dos leitos de pensões, hotéis e dor-
mitórios foram ocupados, os carros, moto-taxi tiveram o
seu período de gloria transportado os expositores e pes-
soas de outras cidades, o comércio foi aquecido. Pela vinda
de produtos necessários naquela ocasião, laços de amizade
foram construídos, reconhecimento de chefs e auxiliares, o
gosto pela cozinha foi despertado em muitas pessoas que
ficaram conhecendo o valor de uma cozinha bem organiza-
da, com pratos simples e gostosos.
Foram escolhidos 23 pratos, dos quais nove seriam
escolhidos pelo júri e seriam premiados os que tirassem
1º, 2º e 3º lugares de cada categoria (em nº 3). O público
presente foi avaliado em 10.000 pessoas. O esmero das
pessoas no vestir, na maquiagem e na alegria marcou a im-
portância dada à gastronomia.
Segundo a opinião dos organizadores a gastromira foi
um sucesso (e ficou a saudade e a vontade de repetir a
dose). As comidas escolhidas foram:
— Página 118 —
Lanches salgados:
1º lugar: Cuscuz do Recanto
2º lugar: Costela Burgger
3º lugar Pastel Caipira do Cerrado
Pratos doces:
1º lugar: Torta Alemã com sabor da Amazônia
2º lugar: Bolo de Castanha de Cajú com Cupuaçu
3º lugar: Doce mel caipira do Cerrado
Comida Salgada:
1º Lugar: Moqueca Cremosa de Pirarucu com babaçu.
2º lugar: Chambarice
3º lugar: Baião Cremoso do Cerrado.
Quando falamos em ambiente não podemos deixar
de parabenizar o grande arquiteto miracemense: Mustafá
Bucar Filho (o Fafilho) que como arquiteto nos proporcio-
nou o Ponto de Apoio que por sua beleza e utilidade é um
cartão de visita da nossa cidade.
— Página 119 —
Mágoas
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Coronavírus
— Página 123 —
A máscara
— Página 125 —
Em todos os países, no mundo inteiro, nas grandes e
pequenas cidades é necessário que as pessoas obedeçam
as normas sem serem obrigadas e sim por um ato de soli-
dariedade consigo e com os outros.
É obrigado o uso da máscara nas repartições, nos
ônibus, taxi-uber, nos lugares públicos e no ambiente de
trabalho. Os garis catadores que fazem parte da linha de
frente, além do trabalho tem que pegar do chão ou das lix-
eiras máscaras usadas.
Vamos colocar as máscaras usadas em sacolinhas e de-
positá-las nas lixeiras e assim vamos mostrar ao mundo
que somos educados. Quando acabar tudo isso, o mundo
está mais pobre e menos habitado, resta-nos a lembrança
de dias tão sofridos.
— Página 126 —
Uma história que jamais será esquecida
— Página 129 —
do enterrado em um dia muito triste às 10h30min da man-
hã. A esposa que fazia pouco tempo na UTI morreu e foi
sepultada às 17h30min do mesmo dia.Na UTI eles estavam
um no leito sete e o outro no leito oito. Ficaram unidos até
na morte, o que é muito difícil de ver. Resta nos confortar
os filhos e familiares daquele casal que nos deixou um ex-
emplo de vida mostrando o amor e o companheirismo de
pessoas que há 56 anos viviam uma para outra...
— Página 130 —
A Emoção de uma Viagem
— Página 134 —
tado, pois novamente vou deixar minha filha, mas agrade-
cida por Deus nos ter dado a graça de passarmos dias tão
inesquecíveis ao lado de pessoas tão queridas.
O motorista contratado foi nos buscar em casa (Cabo
frio) para nos levar ao aeroporto no Rio de Janeiro, depois
de duas horas de viagem chegamos. O voo atrasou meia
hora e só chegamos ao aeroporto de Congonhas (SP) de-
pois de uma hora de voo. chegamos a tempo de fazermos a
conexão, mas como as pessoas que usavam cadeira de ro-
das como eu, desembarcavam por último e a demora para
chegar o carro de apoio para o desembarque, perdemos a
conexão.
Novamente tivemos que retirar a bagagem, uma grande
espera, e desta vez só eram eu e minha filha, solicitamos
ajuda de um funcionário da companhia aérea, depois de
retirar a bagagem, fomos conduzidas ao balcão para fazer-
mos um novo check-in, nos encaminharam para um novo
voo e nós pensamos que seria no mesmo aeroporto e nossa
surpresa foi quando nos disseram que teríamos que em-
barcar em outro aeroporto, não sabíamos a distância e só
depois de estarmos no táxi e termos andado um tempo, o
motorista quis saber o horário do nosso voo e nos disse
a distância que iríamos percorrer 45 km, imagina ... São
Paulo, uma sexta-feira, final de tarde. Saímos às 15h35min
e o voo seria às 17h10min , o motorista riu e disse: estão
tirando sarro com a cara de vocês, pois estou fazendo o
possível, mas com certeza não chegaremos no horário.
Chegamos a Guarulhos, fiquei no táxi e minha filha foi
direto ao balcão da companhia, LATAM, agora outra com-
panhia parceira e como não era surpresa, o avião já tinha
decolado. Ela voltou com uma cadeira de roda, depois de
“brigar” com os atendentes, pois os mesmo falaram que a
— Página 135 —
empresa que tínhamos comprado a passagem teria que re-
solver o problema, disponibilizaram uma cadeira de roda
e um auxiliar para empurrar a cadeira, e ela levar a baga-
gem até o balcão da companhia onde tínhamos comprado
nossas passagens.
Já era quase noite e a única refeição que tínhamos feito
foi no Rio de Janeiro às 8h da manhã e no avião aquelas
conhecidas sementes que quando estamos com fome dá
vontade de chorar.
No aeroporto nem água podíamos tomar, porque senão
minha filha que estava na fila perderia o lugar. Só ai fomos
avisadas que não tinha mais voo naquele dia. Aproveita-
mos para fazermos um “jejum”.
Depois de muita luta, e um descaso pelos atendentes,
encontramos uma alma caridosa que se sensibilizou com a
nossa saga, fomos conduzidas a um hotel há 45 km de onde
estávamos, sendo que já tínhamos vindo de lá.
No hotel Jantamos, porque estávamos famintas, toma-
mos banho, dormimos e ficamos até às 10h30min, resolve-
mos chegar ao aeroporto mais cedo para não acontecer
nenhum imprevisto, pedimos um “UBER” , pois no hotel só
tinha uma van que transportava as pessoas ao aeroporto,
fomos para o aeroporto e viajamos às 14h30min.
Depois de um voo de 2 horas chegamos ao destino final
da nossa viagem, cansadas, mas aliviadas e pensando: na
vida tudo é passageiro... Voltamos e apesar do meu coração
ficar apertado, temos que dar graças a Deus de passarmos
dias tão inesquecíveis ao lado de pessoas amadas e assim
terminou aquela viagem, cheia de surpresas e que apesar
das dificuldades nos deu muita alegria...
— Página 136 —
III
este livro
foi escrito por uma mulher
que fez a escalada da
montanha da vida
removendo pedras
e plantando flores.
Versos... não
Poesias... não
um modo diferente de contar velhas estórias.
Ressalva
Cora Coralian
Janelas
— Página 141 —
passa. Tenho visão dupla que me incomoda seriamente.
Para tudo que olho há uma cópia, deixando-me atormenta-
da. O médico acalma-me e diz:
- Isso é normal, acaba com o tempo.
O choro passou a fazer parte da minha vida, a insônia
é constante.
Com toda a frieza das pessoas que já se acostumaram
com a dor alheia, o médico volta a falar:
- De cem pessoas que se submetem a essa cirurgia, só
em uma não desaparece a visão dupla, e a senhora foi uma
delas.
O choro embarga a minha voz e eu permaneço calada.
Volto para casa, procuro adaptar-me à situação. Não dou
conta. É preciso esquecer e é impossível, pois não posso
andar com os olhos fechados. Meus familiares não se con-
formam, meus filhos convidam-me a ir a jornais e revistas
denunciar o cirurgião. Consigo demovê-los da ideia, mas
fica a revolta.
Dois anos depois as manchas reaparecem, já não enx-
ergo. Tenho de mudar de médico. Perdi a confiança. Na
mesma cidade, em outra clínica, um médico faz os exames
e esclarece-me o que está acontecendo. A retina além de
descolada está rasgada.
Nova cirurgia, implante de silicone. Volto à clinica to-
dos os meses de carro, de avião e de ônibus. Muita esper-
ança. O tempo passa e com ele a desilusão. Depois de dois
anos, o médico explica: Tudo o que eu tinha de fazer, já fiz.
Vou recomendar-lhe a um especialista em córnea.
O médico muito simpático diz: a córnea está muito in-
flamada, vou receitar-lhe alguns colírios, a senhora deverá
— Página 142 —
usá-los durante oito dias. É um teste para ver se escapo da
cirurgia. Não houve melhora. Submeto-me à quinta ciru-
rgia: transplante de córnea! Aguardo ansiosa mais um re-
sultado. Depois de muitos meses, a notícias de que houve
uma rejeição e é preciso um novo transplante. Descrente,
pergunto ao médico quando poderei fazer a cirurgia, e ele;
Pode ser logo ou daqui a seis meses. E ainda me disse: A
senhora vai escolher: ou se acomodar ou revestir-se de
coragem e fazer a cirurgia. Todo o meu ser está chorando,
embora as lágrimas não apareçam. Digo que vou pensar e
depois resolver. Sinto-me sem forças para continuar a luta.
O meu poder de decisão está diminuindo, diminuindo...
Já vou! Meu marido me chama. Uma história comoven-
te, mas infelizmente, já é noite e eu preciso fechar as janelas.
— Página 143 —
Sonho
— Página 145 —
Uma Vida
Almas irmanadas,
Á vida é mesmo assim
Difícil de ser vivida,
Mas valeu a pena.
Momentos de alegria,
Trabalhos e sacrifícios.
Meios de sobrevivência,
Filhos criados,
um certo conforto.
— Página 147 —
Cabeças que pensam,
Família aumentada
Genros, noras e netos.
Novos sonhos, novas esperanças
E assim vivemos.
Em uma ciranda de idas e voltas,
Fizemos o possível
E esperamos a felicidades que não passa...
Porque será eterna
— Página 148 —
Essa vida é uma mentira
— Página 151 —
É necessário olhar de frente a vida
Sem medo de quebrar a cara.
O que nos dá coragem é a capacidade de seguir em
frente,
Vencer obstáculos,
Aproveitar experiências, valorizar o outro,
Cair e saber levantar, sabendo que Deus está para todos
Que não é feio pedir ajuda
E que mais bonito é ajudar.
Só assim estaremos capacitados para dizer que nos en-
ganamos
Pois apesar das mentiras, a vida vale a pena ser vivida
Porque os homens fazem parte dela.
— Página 152 —
Se os Gatos falassem
— Página 155 —
As mães são tão importantes...
— Página 157 —
los esposos, namorados e ex-companheiros, eles são movi-
dos pelo ciúme, ódio, ignorância e a ilusão de serem donos
das companheiras.Umas são vítimas daqueles homens
“galanteadores” de mães solitárias, se aproximam, fazem
amizades e terminam ganhando a confiança daquelas
mães e de repente estão em suas casas e em seus corações.
Enganam tomam a frente dos negócios, dos depósitos
bancários e por algum tempo ficam ao lado daquelas mães
até quando se cansam e sorrateiramente apoderam-se de
tudo que elas têm e somem...
A mãe desempenha o papel de médico, psicólogo para
que os filhos fiquem bem. Mãe, 3 letrinhas mágicas que
tem o poder de acalmar, de aliviar dores que diminuem
angustias e tornam os filhos felizes...
Mães, uma no palacete e outra na casinha simples são
iguais no seu amor e no seu instinto maternal. Muitas mães
são valorizadas pelos seus esposos, filhos e familiares dan-
do a elas o respeito e o amor que merecem.
Conheci uma mãe na fazenda, que quando algum dos
seus filhos tinha febre alta, ela fazia sanapismos de casca de
laranja ou de angu de farinha, colocava nos pulsos daque-
les que estavam com febre alta e a febre passava como por
encanto.
Temos as mães que sempre estão criando o que é bom
para seus filhos, aproveitando os seus talentos para ad-
mirá-los e incentivá-los.
Este ano o Corona vírus chegou de repente e com ele
a mudança dos hábitos que eram de abraçar e beijar, o dia
das mães vai ser de olhares e demonstração de carinho,
nem por isso deixará de ser especial.
Em muitos lares a mãe é querida e respeitada não só
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por seus filhos, mas pelo esposo e todos os familiares. Que
essas famílias sirvam de exemplo e que outras famílias
amem e respeitem as suas mães é o que todos esperam dos
brasileiros.
Aniversário - 88 anos
— Página 161 —
ta consideração. Não me deixaram comprar nada, mesmo
eu me oferecendo. Tudo conspirou para o brilho da minha
festa, até os meus pés que doem sempre deram uma trégua
e não doeram naquele dia.
Meu coração está cheio de amor e gratidão...Tudo isso
me deixou alegre, feliz e com vontade de viver mais um
pouquinho. Pensei: enquanto tantos idosos estão nos asi-
los ou nos quartinhos no fundo das belas mansões, eu re-
cebo o carinho dos meus familiares.
Durante a festa meu coração pulsava agradecido e os
meus lábios teimavam em sorrir. Quanta bondade, quanta
generosidade. Cada pessoa mostrava sua alegria, sua sim-
patia e a demonstração que estava ali para somar, para val-
orizar uma aniversariante de 88 anos que ao lado de todos
festejava a vida e dizia que não tem idade para a gente ser
feliz.
Cada ano que passa é Deus na sua bondade infinita que
nos presenteia para que possamos ajudá-lo na construção
de um mundo melhor, de um mundo mais humano e cheio
de paz.
— Página 162 —
Abandono familiar
— Página 165 —
precisavam da família.
Qual não foi a sua surpresa quando em certo dia al-
guém veio lhe visitar, dizendo que um dos seus filhos es-
tava à porta da morte e insistia para que chamasse a sua
mãe, pois não podia morrer sem abraçá-la e pedir perdão
pelo filho ingrato que foi ele dizia: “por favor não me deixe
morrer sem falar com a minha mãe”. D. Amélia concordou
em ir com a neta e depois de abraçar e pedir perdão a mãe,
aquele filho ingrato morreu em paz.
D. Amália viveu alguns anos ao lado dos seus familiares
e um dia depois de uma reunião familiar, agradeceu a to-
dos pelo carinho, disse não ter mágoas do passado e que
desejava a todos muita sorte e pedia aos netos que valo-
rizassem os seus pais para que eles tivessem a felicidade
sonhada. Já era a hora de se recolher ao quarto, abraçou a
cada um e a agradeceu, falou da sua felicidade e sorrindo
desejou-lhes uma boa noite.
Às nove horas da manhã ainda não tinha levantado
e causou admiração a todos que chamaram, bateram na
porta e foi preciso usar os serviços de um chaveiro para
abri-la. E qual não foi o espanto de todos quando ao chamá-
la não encontraram os sinais vitais. A vovó estava como
que dormindo, sorrindo ela deixou a família para receber o
prêmio daqueles que souberam viver aqui na terra.
Ao lado da sua cama encontraram um bilhete que dizia;
quando eu partir, por favor, cante no velório a música do rei
Roberto Carlos; é Preciso Saber Viver... E assim D. Amélia
partiu para a outra dimensão.
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A perda nos leva ao crescimento
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A força de uma caçula I
— Página 171 —
Quando pequena, a Isabel era muito engraçada e
gostava de ver as pessoas rindo das suas graças. Uma épo-
ca faltou uma pessoa em casa para ajudar nos trabalhos
domésticos e a mamãe dividiu as tarefas entre nós, para
a Isabel que era a mais novinha ficou lavar a louça. De-
pois do almoço, cada um tratou de fazer a sua tarefa. De
repente ouvi um choro ao lado de soluços sofridos corri
para ver o que era, qual não foi a minha surpresa vendo a
caçula (tinha 12 anos) chorando sem parar e interrogada
respondeu mostrando as mãos: minhas mãos estão cheias
de calos de lavar louça.... Assim era a nossa caçula.
Quando Delegada de ensino pela 1ª vez, enfrentou
muitas dificuldades porque tudo tinha que ser resolvido
em Goiânia, até a folha de pagamento dos funcionários era
preciso que ela fosse buscar. Percorreu por muitas vezes
todos aqueles municípios que faziam parte da Delegacia de
Ensino de Miracema, as estradas eram péssimas, o carro
não obedecia aos anseios daquela Delegada que eram aju-
dar e ajudar.
Quando foi instalada em Miracema a 1ª capital do
Tocantins, a Isabel era Delegada pela 3ª vez e apesar de
demitida foi convocada pela autoridade responsável pela
Educação do Tocantins para orientar a nova delegada. A Is-
abel que gosta de piadas, com toda sua capacidade e qual-
idades naturais fez o que pediram e assim viveu em paz.
Muitos anos se passaram e ela sempre saudável, alegre
e com muita capacidade para fazer e conservar amizades.
Depois de trabalhar muito, chegou a hora da aposentadoria
e o convívio total, ao lado de sua bela família.
Em 2018, logo no início do ano, foi acometida de
fortes cólicas e os médicos constataram ser diverticulite.
Ao procurar fazer uma consulta só saiu do hospital depois
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de operada. Foi uma cirurgia de risco e tanto os familiares
como os médicos temeram pela sua vida. A recuperação foi
um sucesso e depois de vários meses chegou a hora de uma
nova cirurgia reversão da bolsa de colostomia.
Hoje 3 de dezembro estamos por várias horas esperan-
do notícias da nova cirurgia, resultado que demorou muito.
Os médicos pensavam que ela sairia da UTI com três dias o
que não aconteceu, houve complicações, mas se Deus quis-
er no dia 6 (sexta-feira) ela irá para o quarto. Aguardamos
ansiosos a sua alta e uma ótima recuperação. Os médicos
e a equipe que cuidam dela são maravilhosos e merecem a
nossa gratidão e respeito.
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A força de uma caçula parte II
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pessoa muito querida. Ela que amava tanto a sua casinha
foi velada lá e muitas pessoas nos ajudaram a diminuir a
dor da perda de um ser muito amado.
O que nos resta é fazer as nossas orações para que ela
esteja nos braços do pai e vivermos com a falta e a saudade
que nos acompanharão para sempre. Temos que agradecer
a equipe médica, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e
todos os colaboradores que cuidaram dela com profission-
alismo e competência.
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Velhice
Alguém disse:
Velhice não dói,
Saúde que é preciso.
O amor é preciso
A experiência conta em nossas vidas,
Quem viveu tem muito que oferecer,
As rugas e os cabelos brancos mostram o entardecer.
A Vida e Eu
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Se Deus me ajuda
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