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Copyright© 2021 Sara Ester

Capa: Laís Maria

Revisão: Sara Ester

Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e

acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer


semelhança com fatos é mera coincidência

_______________________________________________________

Seduzida pelo bilionário

Livro 1 — Bilionários irresistíveis

Sara Ester

1ª Edição

Outubro — 2021

Imbituba — SC/ Brasil

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98

e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


SINOPSE

Jonathan Hughes era conhecido por sua fortuna e seu jeito implacável
de fazer negócios, considerando que não estava acostumado a perder.

Nunca. Jamais.

Entretanto, tudo mudou quando ele tentou realizar seu mais novo

empreendimento: um resort de luxo numa ilha Caribenha. Jonathan não se


preparou para lidar com empecilhos, muito menos com um cheio de curvas,
pele cor de Jambo e língua afiada.

Ada Castilho não estava preparada para renunciar à única herança


deixada pelos seus pais, e lutaria até o fim para manter sua decisão. Mesmo
que seu corpo ameaçasse traí-la sempre que se aproximava do homem
bilionário e sedutor que chegara na ilha.
Sumário
SINOPSE

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21
Epílogo

ACOMPANHE OS OUTROS LIVROS DA SÉRIE

SINOPSE

SINOPSE
Jonathan Hughes

O barulho da música dançante foi ficando para trás conforme meu


sócio Richard e eu caminhávamos pela “boate” em direção ao setor VIP; no
caminho, passamos por duas belas garotas, sem companhia, bebericando suas
bebidas. Richard as ignorou, mas eu fiz questão de fazer sinal para que elas
nos seguissem. Eu precisava me divertir um pouco essa noite.

Era uma noite de comemoração.

Tínhamos conseguido fechar um ótimo negócio na República


Dominicana, especificamente, na Ilha La Romana. Meu sócio e eu
almejávamos construir um resort de luxo. Um empreendimento que custaria
alguns milhões de dólares, mas que devolveria nosso investimento em
pouquíssimo tempo.

Eu podia dizer que eu era um homem de visão, considerando todos os


negócios que espalhei pelo mundo, mas a verdade era que boa parte da minha
fortuna, eu herdara do meu falecido pai. Ainda em vida, meu velho investiu

em uma pequena rede de hotéis, fazendo o nome da nossa família ser

conhecido. Atualmente, com meu gerenciamento, fiz com que nosso


sobrenome se tornasse reconhecido, quase como uma marca. Eu tinha certeza
de que de onde quer que estivessem, ele e minha mãe — também falecida —
estariam orgulhosos de mim.

— Fiquem à vontade ali no bar, garotas. — Apontei, assim que


chegamos na área privada. — Podem pedir o que quiserem. Essa noite será
tudo por minha conta. — Sorri para elas, que olharam uma para a outra, com
os olhos brilhando de euforia.

Uma delas, a que estava com um vestido vermelho, se aproximou de


mim, toda sedutora.

Mordeu os lábios.

— Posso fazer algo para te agradecer por estar sendo tão generoso

conosco? — Fez biquinho, enquanto passeava as mãos por meu peitoral.

Segurei em seu queixo, analisando seus traços.

Era uma loira linda, toda cheia de curvas, embora eu desconfiasse que
boa parte fosse superficial.

— Agora não, lindinha — murmurei. — Meu sócio e eu temos alguns


assuntos chatos para tratar — falei, observando suas reações. — Mas você
vai poder me agradar depois. — Pisquei, maroto.

Seu sorriso se alargou.

Em seguida, ela e a amiga, que estava agarrada ao Richard, se


afastaram, seguindo para o bar. A animação das duas ficou evidente.

— Vadias safadas! — Exclamou Richard, se sentando no sofá. Logo,

fez sinal para que o empregado de bar se aproximasse. — Um uísque com


gelo, por favor.

Tomei o assento no sofá adjacente, pedindo o mesmo que ele.

— Então... — comecei a falar, depois que também pedi minha bebida


—, você mencionou que tivemos um pequeno problema com a compra do
terreno na Ilha — falei. — Não entendi muito bem, já que vi toda a
documentação de compra.

Mais cedo, Richard confirmou a compra do terreno, embora (deixando)

claro que havíamos tido um pequeno empecilho; mas que podia ser
facilmente resolvido.

Ele era, além de sócio, um bom amigo e, de longa data. Desde que nos
conhecemos, iniciamos sociedade em alguns empreendimentos.

Ouvi seu suspiro desanimado, enquanto pegava uma pasta em tom


pardo de dentro da sua mala de mão.

— Todos os moradores aceitaram vender suas terras — contou,


folheando os documentos. — Menos uma.

Franzi o cenho, surpreendido com isso.

— Como assim? — Indaguei, pegando os papéis da sua mão. — Por


quê? Quanto você ofereceu? — Analisei as informações.

— O mesmo que oferecemos para todos os outros — respondeu,

frustrado. O empregado de bar chegou com as nossas bebidas. — O problema


é que a garota acabou de perder o pai, e agora está se apegando.

— Garota? — Ergui os olhos.

— Sim. — Bebeu um gole. — Mora sozinha.

Suspirei, enquanto me jogava para trás, ainda analisando as


informações.

— E por que precisamos das terras dela? — perguntei, irritado com


aquele empecilho. — Todos os outros já venderam, então foda-se essa garota.

Richard inspirou fundo.

— Precisamos do terreno dela para o projeto — explicou. — As terras


da garota ficam bem no meio, então não tem como. Precisamos convencê-la a
vender, ou teremos de refazer toda planta. — Parecia desanimado. — Mas, ao
que parece, ela não aceita nenhum valor.

— Todo mundo tem um preço. — Afirmei, pegando meu copo de


bebida. — Só temos de descobrir qual é o dela. — Sorri, maquiavélico.

Richard deu risada.

— Então fique à vontade pra viajar para La Romana, Don Juan... —


comentou, entre risos. — Nosso empreendimento está nas mãos daquela
garota, então... — bebeu seu uísque — trate de convencê-la a assinar a venda.

Sorri também, sentindo a adrenalina fervendo minhas veias apenas com


a expectativa.

Eu sempre adorei um bom desafio.

Ainda mais, um que tinha saia.


Ada Castillo

O calor do sol, somado a leve brisa do mar banhavam minha pele,


fazendo-me fechar os olhos em contentamento. Joguei o corpo para trás,
apoiando minhas mãos sobre a areia; meus pensamentos não perdiam uma só
lembrança do meu pai, que faleceu há pouco mais de dois meses. As lágrimas
deslizaram de meus olhos sem eu poder controlar, molhando meu rosto
completamente. Saber que eu estava sozinha no mundo me fazia sentir uma

dor exorbitante, dessas que tira nosso ar.

Por longos meses, nós lutamos... lutamos contra aquela maldita doença;
o câncer levou meu pai de mim, assim como também levou minha mãe, há
alguns anos.

Agora, aos vinte anos, o que me restaram foram as boas lembranças.


Meus pais foram os melhores que uma garota poderia desejar na vida.

Abrindo os olhos, limpei os rastros de lágrimas e inspirei o ar


profundamente enquanto encarava o horizonte. Ergui os joelhos, abraçando
minhas pernas, observando a beleza do oceano.

Aquela vista me acompanhava desde meu nascimento; La Romana não


era somente mais uma ilha no mapa, mas era minha casa.

Meu lar.

O lugar que foi palco para a felicidade dos meus pais.

Suspirando, me ergui, ainda admirando o balanço das ondas. Ao virar


em meus calcanhares, observei a movimentação da vizinhança. Estavam
todos festejando, comemorando que logo iriam embora, já que venderam suas
terras para um empresário de fora. Meu coração se tornava pequenino com
isso, mas cada um deles sabia o que era melhor para suas vidas.

Caminhei em direção a minha casa, acenando para alguns amigos.


Precisava me preparar para mais um dia de trabalho, mesmo que meu coração
ainda estivesse em pedaços pela minha recente perda.

***

Concentrada em minha função, lutava para não transparecer a tristeza


perante minha mais nova realidade; há muitos anos, minha família adquiriu o
direito de vender sucos e bebidas num pequeno quiosque, próximo a várias
pousadas. A República Dominicana era muito conhecida pelo seu turismo; e
em consequência disso, muitos empresários se interessavam em investir
nestas terras.

— Um suco de laranja, por favor — pediu alguém, chamando minha

atenção devido ao forte timbre de voz. Quando virei a cabeça em sua direção
me deparei com um homem que carregava um ar imponente, berrando poder
por todos os poros.

Seus olhos escuros estavam nos meus, me estudando, tal qual, eu

estava fazendo com ele.

— Algum problema, senhorita? — Indagou, arqueando as


sobrancelhas. A arrogância tomou conta de suas belas feições, me fazendo
semicerrar os olhos.

Empinei o nariz, fingindo indiferença.

— Nenhum, senhor — murmurei, reunindo os ingredientes. — Vou


preparar seu suco em alguns instantes.

Me esforcei para ignorar sua presença, visto que, mesmo de costas,


podia sentir a força do seu olhar em mim, mas foi impossível. Era como um
ímã.

Diariamente, eu atendia pessoas de diversas etnias, então estava


acostumada com homens do nível dele, ricos e imponentes.

— Cinquenta pesos dominicanos. — Falei, assim que terminei e


depositei o copo de suco em sua frente, no balcão. Seus olhos não se
desgrudavam dos meus em nenhum momento. Observei melhor seus traços,
encantada com sua beleza. Era um homem realmente muito bonito e elegante.

Notei quando pegou a carteira de dentro do bolso do seu paletó azul-


marinho.

— Pode ficar com o troco. — Afirmou, após me entregar uma nota de


100 pesos.

Rapidamente, peguei a nota e, em seguida, lhe devolvi o troco.

— Agradeço, mas o valor é 50, senhor. — Declarei, séria, enquanto


limpava minhas mãos em uma toalha.

Percebi que suas sobrancelhas se arquearam um pouco, mas não disse


nada.

— Precisa de algo mais? — intimei, visto que continuava plantado ali,


me encarando. E isso já estava me deixando nervosa.

— Como é o seu nome, senhorita? — perguntou, antes de bebericar o


suco. Pareceu aprovar o sabor.

— Por que quer saber? — desconfiei.

— Eu me chamo Jonathan Hughes. — Declarou, arqueando as


sobrancelhas. — Você já deve ter ouvido falar de mim.

Minha expressão se fechou na mesma hora.


— Ouvi sim, — afirmei em tom seco — infelizmente, ouvi.

Vi que ele não gostou muito das minhas palavras, mas eu não me

importava.

— Bem, estou aqui há um bom tempo... — continuou falando,


parecendo não se incomodar com minha cara feia — e, antes mesmo de me
aproximar do seu pequeno quiosque, percebi que você não possui uma vida

fácil, senhorita... — parou de falar, como se me pedisse para dizer meu nome.

Rolei os olhos.

— Não finja que não sabe meu nome. — Sacudi a cabeça, impaciente.
— Vocês, ricos, não estão acostumados a serem contrariados, então, quando
isso acontece, tenho certeza de que cavam até as doenças que a pessoa tem,
ou que já teve.

— Está me ofendendo, senhorita Ada.

O encarei, de braços cruzados.

— Ah, sério? — debochei. — Então adivinhou meu nome, foi?

Ele ficou sem jeito.

Nesse momento, outros clientes se aproximaram do quiosque.

— Agora se puder me dar licença, eu tenho outras pessoas para


atender. — Gesticulei para trás dele.
Mesmo contrariado, ele saiu; porém, antes, jogou o copo de suco na
lata de lixo.

Idiota!

***

Fazia pouco mais de quarenta minutos que eu chegara em casa; tomei

um banho relaxante e, estava me preparando para fazer um lanche quando


alguém bateu na porta.

Mesmo desconfiada, já que não estava esperando ninguém, fui atender.


Antes não tivesse feito, porque a visita era extremamente desagradável.

— Você? — Indaguei, enquanto dobrava os braços diante do homem


arrogante que atendi mais cedo no quiosque. — Se veio para tentar me
convencer a vender minhas terras, esqueça. Nunca vou sair daqui.

— Será que posso entrar? — Gesticulou, em tom manso.

Neguei.

— Não convido estranhos para dentro da minha casa — sibilei,


segurando a porta. — Então... se me der licença.

Comecei a fechar a porta na cara dele, mas o abusado segurou a


madeira e me encarou com tanta intensidade que cheguei a perder o ar.
Nossos rostos ficaram tão próximos que pude sentir seu aroma contra meu
rosto.
— Está enganada sobre minhas intenções, senhorita — alegou, sério.
— Se me desse uma oportunidade, saberia.

Dizendo isso, parou de barrar a porta.

Quando fechei, senti que meu coração estava aos pulos.

Estranhamente havia algo nesse homem que mexia comigo, mesmo eu

não querendo. E isso era ruim, muito ruim.


Jonathan

Bati a porta do quarto de hotel com força assim que retornei da casa da
garota; minha frustração estava no limite, considerando a maneira grosseira
como ela me tratou, tanto no seu quiosque quanto em sua casa.

Eu não estava acostumado a ser desprezado dessa forma.

Honestamente, desde que saí de Londres, dois dias atrás, não imaginei
que fosse encontrar tanta resistência nessa garota. Qual a dificuldade em
assinar a porra de uma venda que poderia mudar sua vida? Caramba! Ela
trabalhava num maldito quiosque, vendendo suco e bebida para as pessoas,
quem iria gostar dessa vida?

Bufei, me jogando de costas na cama macia. Levei as mãos ao rosto,


esfregando-o.

Meu telefone começou a tocar, me fazendo remexer até pegar o

aparelho de dentro do meu bolso.

— Alguma novidade? — perguntou Richard, quando atendi.

— A garota vai dificultar as coisas — respondi, ainda irritado com esse

fato. — Bateu a porta na minha cara hoje.

Ouvir sua risada apenas piorou meu estado de revolta.

— Eu avisei que a garota estava decidida a dar problemas — lembrou


ele. — Talvez precisemos aumentar a oferta de compra.

Fiquei pensativo.

— Não sei... — resmunguei, sacudindo a cabeça — Vou tentar outra


tática primeiro.

— É o que estou pensando? — indagou, cheio de malícia.

Sorri, mesmo sabendo que ele não poderia ver.

— Vou entrar na vida dela — avisei. — Seduzi-la gradualmente,


quebrar todas as suas barreiras, até que ela esteja aos meus pés, toda molinha
e submissa. — Dei risada, acompanhado por ele.

— Você sabe ser pior que eu, Jonathan — murmurou, entre risos.

Não falei nada.


Mesmo porque, meus pensamentos não saíam da bela garota de pele
negra, que possuía os lábios e o sorriso mais lindo que eu já presenciei na

vida.

***

Ada Castillo era uma garota linda, eu não podia negar; os cabelos
escuros eram crespos, daqueles que se enchiam de pequenos cachinhos. Os

olhos verdes, evidenciavam sua pele cor de jambo.

Era meu quinto dia ali na Ilha, e eu apenas permanecia analisando


minha linda adversária de longe; óbvio que ela não fazia ideia de que eu a
tinha como uma competidora, entretanto, deveria saber que dizer “não” a um
homem como eu não resultaria em algo bom.

Respirando fundo, me levantei da cadeira de praia que eu estava e


caminhei até o quiosque. Eu estava usando uma camisa colorida, com os
botões abertos, e um short de praia.

Assim que me viu, ela revirou os olhos; a atrevida nem disfarçou o


descontentamento com minha presença.

— É desse jeito que trata seus clientes? — Gesticulei contra seu rosto.
— Com toda essa má vontade?

Bufou.

— Só faço isso com clientes inconvenientes — respondeu, malcriada.


Dei uma risadinha.

— Quero um suco de laranja. — Pedi, deixando uma nota de 50 pesos

em cima do balcão.

Vi que ela sacudiu a cabeça, incrédula.

— É sério isso? — quis saber, tediosa. — Até quando vai continuar

aqui? Eu não vou vender minha casa. Não quero conversar com você ou com
seu sócio. Já não estão satisfeitos com a compra das casas de toda
vizinhança?

Permaneci calado, apenas a observando. Ela não deveria ser tão linda.

— Poderia preparar meu suco, por favor? — pedi, ignorando suas


palavras. — Estou com a boca seca.

Sorri, cínico.

Mesmo sem acreditar, ela se aproximou do balcão e pegou o dinheiro.

A fúria estava evidente em sua postura e em seu rosto bonito.

Eu iria quebrá-la no cansaço.

***

Um mês.

Um maldito mês hospedado naquele hotel, e nada daquela garota


aceitar conversar comigo.
Eu precisava admitir que Ada era uma mulher de fibra. Em todos
aqueles dias, a observando de longe, percebi toda sua rotina cotidiana; ela

iniciava o trabalho às nove da manhã e largava perto das quatro da tarde. Por
vezes, eu a vi almoçando algum lanche, no quiosque mesmo. Não possuía
mais nenhum parente vivo, tinha apenas alguns amigos na vizinhança. Um
deles até próximo demais, mas vi que ela não queria nada sério com o tal

rapaz.

Era uma vida triste; entretanto, a garota vivia sorrindo. E o sorriso...


uau, era deslumbrante!

Me aproximei do seu quiosque mais uma vez, repetindo o que eu vinha


fazendo diariamente. Seus olhos me encontraram e, ao contrário do que eu
recebia sempre, dessa vez, ela sorriu. Um sorriso fraco, mas um sorriso.

— Você é realmente um homem persistente, tenho que admitir. —


Comentou, se aproximando do balcão e debruçando-se sobre ele. — Não se

cansou ainda?

— Sou um empresário, Ada — argumentei. — A persistência é meu


sobrenome. — Sorri, me recostando no balcão, de costas.

— Não vou vender, Jonathan — reafirmou. — Não vou me desfazer da


minha casa por dinheiro nenhum neste mundo.

Respirei fundo.
— Me dê alguns minutos do seu tempo para conversar — pedi, a
encarando nos olhos. — Eu só quero conversar. Só isso.

Visualizei a maneira como sua testa franziu, parecia estar pensando.


Foi impossível não olhar para seus lábios, quando ela os mordeu.

Era quase hipnotizante.

— Tudo bem. — Suspirou. — Espero você hoje à noite — avisou. —


Mas não conversaremos na minha casa.

Vibrei por dentro, porém não deixei minha euforia transparecer.

— Ok — murmurei. — Às vinte horas?

— Combinado.

Saí de lá, animado.

Finalmente sentindo que o jogo estava virando para mim.


Ada

Eu precisava admitir que a persistência daquele homem era admirável,


visto que eu só sabia dificultar as coisas para ele.

Nunca tive a intenção de causar problemas a ninguém, muito menos a


alguém tão importante, financeiramente falando; porém, eu não tinha escolha.
E não mudaria de ideia somente para agradá-lo.

Não poderia me desfazer da única herança que meus pais me deixaram.

O único refúgio deles para mim.

Ali, eu nasci; ali, eu cresci.

— Aquele homem não sai mais daqui, hum? — rosnou Yadiel, rapaz
que cresceu comigo, nitidamente incomodado. Eu e ele éramos bons amigos,
embora Yadiel almejasse algo mais, almejava ultrapassar uma linha que eu
não estava pronta. — Por acaso ele está importunando você?
O encarei, enquanto limpava meus materiais.

Meu amigo era um homem bonito; negro de olhos cor de mel. Eu o

amava, mas, às vezes, sua insistência em se intrometer na minha vida me


irritava demais.

— Eu sei me defender, Yadiel — resmunguei, chateada.

— E por acaso eu disse o contrário? — rebateu, na defensiva. — Eu


apenas fico preocupado com você — argumentou. — Esses homens ricos
tendem a ser perigosos, Ada.

— Eu sei disso — soprei. Em seguida, me aproximei dele e segurei


suas mãos, apertando-as nas minhas. — Me desculpe. Acredito que eu esteja
cansada e...

— Triste — concluiu por mim, beijando minhas mãos. — É


compreensível, visto que perdeu seu pai recentemente.

Mordi os lábios, evitando não chorar.

— Estou me sentindo muito sozinha agora — me queixei com um


suspiro. — E isso está me devastando gradualmente.

— Por que não aceita vender a casa de uma vez e venha morar
comigo? — convidou. Na verdade, já fazia tempo que ele insistia nisso. —
Podemos nos casar e ir embora daqui, Ada. Construir uma vida, juntos. —
Afirmou, me encarando nos olhos. — Você sabe que eu a amo.
Inspirei devagar, absorvendo suas palavras.

Ergui a mão e acariciei seu lindo rosto, notando como se aconchegava

a minha mão, ansioso por qualquer migalha de carinho meu.

— Não será justo com você — fui sincera. — Eu não o amo da mesma
forma, Yadiel. E eu nunca iria me perdoar se o fizesse infeliz.

— Mas eu tenho amor de sobra para nós dois — argumentou, usando


um tom brincalhão.

Dei uma risadinha, bagunçando seus dreads.

— Bobo. — Sorri.

Eu notei que ele ficou triste com minhas palavras, apenas não quis
demonstrar.

***

O reflexo da garota que me encarava através do espelho me deixou

espantada, porque aquele visual não fazia parte do meu cotidiano. Eu estava
usando um “top” vermelho, com decote em formato coração, que abraçava
meus seios perfeitamente. A parte de baixo era uma saia longa, também em
tom vermelho, porém com alguns detalhes transparentes.

Me senti bonita.

“Sexy”.
No fundo, eu não conseguia entender o motivo para toda aquela
preocupação em me arrumar para ter uma simples conversa com um homem

estranho, porque era isso que Jonathan era: um estranho.

Talvez fosse pelo fato de que algo nele mexia comigo de uma forma
inexplicável. Ou, talvez fosse apenas um lado meu, que estivesse curioso para
ouvir o que ele tinha a dizer.

De qualquer forma, eu estava me sentindo bem comigo mesma.

Respirei fundo quando escutei uma batida na porta.

Peguei uma bolsinha de mão, preta com algumas pedrarias e, em


seguida, fui até a porta. Quando abri, me deparei com Jonathan. Ele estava
usando um terno extremamente elegante, que o deixou ainda mais atraente.
Mesmo sem querer, minhas narinas inflaram para sentir seu perfume.

— Você está linda — elogiou, arrastando os olhos pelo meu corpo, me


deixando ainda mais inquieta internamente.

Tentei não ruborizar, embora meu tom de pele disfarçasse isso muito
bem.

— Agradeço — foi a única coisa que eu falei.

Deu um passo para o lado, gesticulando para o carro estacionado em


frente à casa.

— Aonde vamos? — perguntei, num misto de nervosismo e ansiedade.


— A um restaurante — respondeu ele.

Quando nos aproximamos do veículo, Jonathan espalmou minhas

costas com uma das mãos, enquanto com a outra, abria a porta do passageiro.

Seu toque pareceu queimar minha pele.

— Obrigada — soprei, num fiapo de voz.

Estava odiando todas essas reações esquisitas, visto que nunca me senti
assim com nenhum outro homem.

Na verdade, jamais tive nenhum relacionamento amoroso com alguém.

Quando Jonathan deu a volta no carro e entrou no lado do motorista,


seu perfume voltou a inundar minhas narinas, deixando-me quase bêbada.
Além de lindo, era um homem muito cheiroso.

— Está pronta? — perguntou, com um sorrisinho no canto dos lábios.

Gesticulei, embora estivesse com as mãos em meu colo.

— Vamos lá. — Sorri, contagiada com sua animação.

***

Jonathan escolheu um dos melhores restaurantes da região, o que não


me surpreendeu nenhum pouco; o homem era bilionário.

— O que vão querer beber? — perguntou o garçom.

— O vinho da casa, por favor — respondeu Jonathan, entregando-lhe o


cardápio.

O garçom assentiu, em seguida, se retirou.

— E então, Ada... — focou sua atenção em mim, que estava em sua


frente à mesa — confesso que fiquei surpreso quando aceitou conversar
comigo. Eu já estava perdendo as esperanças. — Sorriu, sem jeito.

Sorri também.

— Entendi que uma simples conversa não dói nada — comentei em


tom divertido enquanto dava de ombros. — E sua persistência me deixou
comovida.

Jogou o corpo para trás na cadeira, me analisando.

— Você é uma garota diferente — declarou, intensamente. — Decidida


e forte. — Não falei nada. — Me perdoe, mas pesquisei sobre você, então
descobri que perdeu seu pai recentemente. Consigo imaginar sua dor.

Arqueei as sobrancelhas, em desafio.

— Consegue?

Assentiu.

— Também perdi meus pais — declarou, com olhar entristecido. —


Perder alguém não é nada bom.

Pisquei, baixando a cabeça.


— Não, não é — concordei. — Deixa um buraco no peito, e um vazio
na alma — desabafei.

O garçom voltou a se aproximar, trazendo o vinho.

Nesse momento, Jonathan perguntou o que eu iria querer comer, e eu


deixei a escolha por sua conta.

Novamente sozinhos, sua atenção se voltou para mim, enquanto nos


servia com o vinho.

— É por causa deles que não quer vender a casa? — intimou. —


Acredita que seus pais não aprovariam?

Franzi o cenho, pensativa sobre sua pergunta.

— Aquela casa é a única herança que meus pais me deixaram, e eles


lutaram muito para conquistá-la — contei. — Para você, pode ser apenas
mais um pedaço de terra, mas para mim? É muito mais do que isso —

declarei. — Representa a luta diária dos meus pais. O suor e o sangue deles.

Permaneceu me olhando por alguns instantes.

— E se eu prometer não destruir a casa?

Sua pergunta me deixou confusa.

— Como assim? — indaguei, tentando entender sua lógica. — Por que


compraria minha casa se não para destruí-la?
Suspirou, voltando a apoiar os braços sobre a mesa.

— Veja bem, senhorita Ada... — murmurou, me encarando nos olhos.

— É verdade que meu sócio e eu temos um projeto para construir um resort


de luxo em toda a área que você mora, mas creio que podemos encontrar um
jeito de manter sua casa bem no meio, quase como uma preservação. O que
acha? — indagou. — Pensa que seus pais aprovariam?

A maneira intensa como ele me olhava me deixava encabulada.

— Suponho que vai destoar da elegância que imagino que deva ser a
ideia do projeto — comentei, sacudindo a cabeça.

— Um pouco, mas os arquitetos servem para isso... — se calou por um


segundo —, para fazerem suas mágicas. — Sorriu, remexendo seus dedos no
ar.

— Por que não me explica um pouco sobre? — pedi.

Logo, a comida chegou e, ambos começamos a comer.

Jonathan me explicou que seu projeto visava o desenvolvimento


sustentável, além de preservar o máximo do ecossistema da Ilha. Sendo que,
no projeto, estaria também uma cláusula de que, manteria todos os
pescadores livres para continuarem pescando na área dele. Fora, o tratamento
de esgoto, coleta de lixo...

Era realmente um projeto incrível, bem diferente do que imaginei.


— É um projeto bem complexo — argumentou ele, enquanto cortava
um pedaço de carne e o enfiava na boca. — Mas posso garantir que nós

queremos visar a natureza daqui... — se calou, para mastigar —, sendo tão


linda.

Peguei o guardanapo, e limpei meus lábios.

— Você conseguiu me deixar surpresa — admiti.

Sorriu, parecendo satisfeito.

— Fico feliz por isso.

Em seguida, voltou a chamar o garçom para pedir a sobremesa.

***

Quando seu carro parou em frente à minha casa, já passava das dez da
noite.

— Obrigada pelo jantar — falei, me preparando para sair do veículo.

— Ada... — prendi a respiração no instante que sua mão se fechou no


meu braço. Como que percebendo minha reação, ele me soltou — Me perdoe.

— Tudo bem — murmurei, nervosa.

— Eu só queria saber se... — pigarreou.

— Se eu já tenho uma resposta diferente da de antes sobre a venda da


minha casa? — concluí seu pensamento interrompido.
— Na verdade, eu ia perguntar se você aceitaria sair comigo de novo
— falou, me pegando de surpresa.

O espanto ficou visível em meu rosto.

Pegando minha mão, levou-a aos seus lábios, onde beijou, sem deixar
de me encarar.

— Por quê? — indaguei, tentando entender.

— Porque gostei da nossa noite. Gostei de você — respondeu, sem


pestanejar. — Você é uma garota doce e inteligente.

Sorri, tímida.

Em seguida, levei a mão a maçaneta da porta e a abri.

— Boa noite, Jonathan — falei, saindo do carro.

— E sobre meu convite? — gritou quando eu dei a volta no veículo.

Dei uma risadinha quando já estava no portão.

— Julgo que não seja uma boa ideia — declarei, mordendo os lábios.
— Foi uma noite agradável, mas... apenas isso.

Ele tentou insistir, mas não dei brecha.

— Boa noite.

Virei às costas e saí, deixando-o falando sozinho.


Jonathan

Eu não era um homem inexperiente; já tive de lidar com mulheres


difíceis antes, porém, não no nível da Ada. A garota me causava irritação,
mas também curiosidade. Podia dizer que minhas últimas semanas naquela
Ilha foram em vão, mas estaria mentindo; o jantar que tivemos há alguns dias
serviu para eu conhecê-la melhor e começar a me entranhar em sua pele;
conhecer suas fragilidades.

Ada Castilho se tornou minha adversária, mas eu não podia ser


hipócrita em não admirar suas qualidades. A garota era deslumbrante, e sem
precisar de qualquer esforço. Na noite do jantar, ela estava esplêndida, e eu
tive de me empenhar muito para me manter indiferente a sua beleza.

Richard e eu conversávamos quase diariamente, mas não comentei


nada com ele sobre meu jantar com Ada; ele não precisava saber de todos os
meus passos. Apenas saber que eu daria um jeito de conseguir a assinatura
dela.

Suspirei enquanto terminava de organizar minha planilha de trabalho;

há alguns minutos, terminei de conversar com minha assessora pessoal a


respeito de todos os negócios que necessitavam da minha atenção. Quando
saí de Londres não havia previsto que ficaria afastado por tanto tempo.

E, pelo visto, meu tempo de penitência naquela Ilha seria ainda maior.

Eu me esforcei muito para fazer Ada compreender que minhas


intenções eram boas, mesmo mentindo sobre a forma como o projeto foi
feito. Richard e eu não pensávamos em nada sustentável; nosso foco era
somente o luxo e conforto de nossos futuros clientes. Entretanto, ela não
precisava saber; só acreditar na historinha que inventei.

De repente, um alvoroço chamou minha atenção; eu estava perto do


quiosque — como uma forma de deixar claro que eu não desistira dela —
quando percebi um homem gritando.

Franzi o cenho, eriçado por perceber que, na verdade, ele estava


gritando com Ada. Que tipo de homem gritava com uma mulher dessa forma?

Como era fim de tarde, o local estava praticamente vazio, então me


coloquei de pé na mesma hora.

— Quem você pensa ser para me dizer “não”, garota? — dizia o


homem, nitidamente, embriagado. — Por acaso sabe com quem está falando?
Eu posso comprar essa tua espelunca aqui — gesticulou para seu quiosque.
— Posso comprar essa maldita Ilha se eu quiser.

Rangi os dentes, tentando me controlar.

— Algum problema aqui, Ada? — perguntei, me deparando com seus


olhos assustados. Ela estava no quiosque, quase pálida. Olhei para o homem.
— Você parece nervoso...

Ele me encarou da cabeça aos pés.

— Não se mete, cara — tentou me empurrar, mas me esquivei.

— Ada, querida, feche o quiosque — pedi, encarando-a. Ela estava tão


assustada que nem sequer conseguia falar.

Nesse momento, o idiota me empurrou, fazendo meu corpo bater em


uma das mesas do lugar.

— Você não entendeu o que eu disse? — sibilou, entre dentes. Depois,

indicou a Ada. — Essa vadia é minha, eu vi primeiro e...

Não o deixei concluir a frase nojenta, pois meti a porrada na sua cara,
fazendo-o cair no chão.

Eu podia não ser um príncipe encantado, mas jamais assediei nem


assediaria uma mulher dessa forma.

— Ada não é nenhuma vagabunda, seu escroto do caralho! —


exclamei, voltando a socar sua cara quando tentou se colocar de pé. Estava

tão bêbado que mal conseguia se levantar.

Assim que me voltei para Ada, ela estava chorando, toda encolhida.
Algo em meu peito se apertou com sua vulnerabilidade.

— Me desculpe — pedi, me aproximando dela. — Eu não quis assustá-


la, mas esse... — travei o maxilar, enquanto olhava para o homem,

resmungando no chão — lixo pediu um corretivo.

Ela sacudiu a cabeça, esfregando os braços como se estivesse com frio.


Desejei puxá-la contra mim para acalentá-la, mas engoli esse ímpeto.

— Posso acompanhá-la até sua casa? — pedi, notando haver fechado


seu quiosque.

Enxugou as lágrimas, pensativa sobre meu pedido.

Não verbalizou a resposta, apenas assentiu com a cabeça.

***

Quando estacionei em frente à sua casa, desci primeiro e dei a volta no


veículo para poder abrir a porta para ela.

Ada estava muito afetada com o recente episódio, o que era


compreensível. Na verdade, isso apenas serviu para me irritar mais. Ela não
merecia passar por algo assim. Aliás, nenhuma mulher merecia.
Acompanhei-a até a porta da sua casa, em silêncio. Eu queria ter as
palavras certas para dizer, mas não tinha. Nunca fui bom com essas coisas de

consolar pessoas.

Mas, odiava ver uma mulher chorando.

— Você está bem? — perguntei, quando ela abriu a porta da sua casa.

Vi que franziu o cenho, inspirando fundo.

— Aquele homem já tinha me assediado antes, mas hoje... — se calou


por um segundo, me encarando —, obrigada por ter me defendido.

A maneira como ela me olhou foi tão intensa que cheguei a perder o ar.

— Você não tem de me agradecer por isso — murmurei. — Detesto


covardia contra mulher.

Algo estalou em minha mente, com meu subconsciente me alertando


que, de certa forma, as minhas mentiras também eram um tipo de covardia,

mas ignorei.

Não precisava disso agora.

— Mesmo assim — reforçou ela, abraçando-se novamente. — Você


me defendeu. Eu não sei o que poderia ter acontecido, visto que ele estava
embriagado.

Travei o maxilar, revoltado apenas com a ideia do que poderia ter


acontecido se eu não estivesse lá.

— Você precisa fechar o quiosque mais cedo — falei, preocupado. —

É muito perigoso, Ada.

Ela sacudiu a cabeça, absorvendo minhas palavras.

Como o silêncio reinou, entendi que já era minha hora de partir.

— Bem... — cocei a garganta —, vou indo.

Assim que virei em meus calcanhares, fui parado pelas suas palavras
que saíram quase atropeladas:

— Eu aceito — Falou, quando atravessei a porta.

Me virei em sua direção, encontrando seu rosto ansioso e expectante.

— Aceita...?

— Sim. Aceito sair com você outra vez.

Um sorriso bobo tomou conta dos meus lábios.

Não entendi se pelo fato de que teria a oportunidade de estar perto dela
outra vez, ou se porque poderia dar continuidade ao meu plano de seduzi-la
até fazê-la assinar a papelada de venda.
Ada

Eu ainda conseguia me lembrar das sensações ruins que me abateram


quando fui assediada por aquele homem; não que houvesse sido a primeira
vez, mas eu nunca me acostumaria. Isso não deveria ser algo comum.

Quando vivos, meus pais sempre me ensinaram que o respeito implica


em reconhecer em si e nos demais os direitos e as obrigações. Em
contrapartida, o desrespeito gera violência, conflitos, desconforto e

confrontos.

Por que algumas pessoas tinham dificuldade em respeitar o espaço e o


direito do outro?

Desde muito pequena fui ensinada a amar e a entender que a cor da


minha pele era linda, e não um convite ao insulto gratuito. Então, quando um
homem se aproximava de mim se achando no direito de me assediar e a me
desmerecer por conta da cor da minha pele, ou pelo simples fato de eu ser
uma garota humilde — financeiramente falando — eu me sentia muito
entristecida. Era algo surreal até mesmo para pôr em palavras.

O barulho de batidas na porta chamou minha atenção, fazendo-me


dispersar os pensamentos aleatórios.

Diminuí a chama do fogão — onde estava preparando o jantar — e


limpei as mãos no pano de prato. Sentia-me estranhamente nervosa enquanto

seguia para fora da cozinha.

Tinha me arrumado, pois senti a necessidade de estar apresentável para


meu convidado.

Assim que abri a porta, me obriguei a segurar o ar e a não transparecer


minhas verdadeiras emoções quando meus olhos se detiveram no homem que
vinha habitando em minha mente mais do que deveria. Jonathan estava
provando ter valores, e não me refiro ao dinheiro.

— Oi! — Saudei, gesticulando para ele entrar. Foi impossível não

inspirar seu perfume quando passou por mim.

Jonathan era um belo exemplar masculino, sempre muito elegante. Em


todo esse tempo que ele estava na Ilha, não o vi sendo grosseiro com
ninguém, apenas quando precisou me defender. Esse mero detalhe me fez
enxergá-lo com outros olhos, considerando que ele demonstrou ser um
homem íntegro.
— Espero não ter chegado cedo demais — comentou com um sorriso
gentil. Notei estar com uma garrafa de vinho na mão. — Não quero

atrapalhar nada.

Sorri para ele. Aceitei quando me ofereceu o vinho.

Quando aceitei sair com ele uma segunda vez, decidi que o próximo
encontro seria na minha casa, pois queria fazer algo com minhas próprias

mãos em forma de agradecimento ao que ele fizera por mim.

— Chegou na hora certa — declarei, tentando não demonstrar meu


nervosismo com sua presença ali. Tinha algo nele que mexia comigo de
forma inexplicável. — Estou terminando de preparar o Pollo Guisado —
contei, referindo-me ao frango bem cozido, de sabor forte e um molho
delicioso.

— Hum! — Fez uma expressão de que havia aprovado a escolha do


cardápio. — Aprecio muito os pratos populares da República Dominicana —

comentou.

— As comidas típicas daqui variam muito dependendo da região, pois


temos duas influências predominantes: a cozinha africana e a mediterrânea —
argumentei, chamando-o para me acompanhar.

— Mas pelo pouco tempo que estou aqui notei que tem uma
característica que une a gastronomia de todo país — rebateu ele, me fazendo
encará-lo.

— Você sabe qual é? — intimei, curiosa.

Fui até o fogão, espiar nosso jantar. Jonathan permaneceu na porta, me


encarando.

— A ausência de condimentos picantes.

Dei uma risadinha, surpresa com sua percepção.

— Isso é verdade — confirmei. — Além também, de os ingredientes


serem extremamente frescos.

Assim que terminei, desliguei o fogo.

— De onde você é? — Perguntei, enquanto pegava as travessas.

— Londres — o ouvi dizer. — Mas tenho casa e apartamentos em


diversos lugares do mundo.

— Ah! É claro que tem. — Segurei o desejo de revirar os olhos.

— Não seja atrevida — resmungou ele, em tom de brincadeira. —


Estou sentindo um resquício de cinismo em seu tom de voz.

Dei risada, incapaz de me segurar.

— Desculpe, mas foi inevitável. — Murmurei, colocando o frango na


travessa de vidro. Em seguida, coloquei sobre a mesa redonda logo a minha
frente. — Você é um homem rico, Jonathan.
— E isso é ruim? — Rebateu, se aproximando e pegando os pratos da
minha mão. Fiquei um pouco surpresa quando começou a me ajudar. — Não

vejo problema algum em se ter regalias que o dinheiro pode comprar.

— Não falei ser ruim — defendi-me. — Só achei engraçado a sua


maneira de falar. — Sacudi a cabeça. Quando a mesa estava posta, gesticulei
para que se sentasse no lado oposto ao meu. — Por favor, sente-se. —

Apontei. — Minha casa não é nenhum restaurante luxuoso, mas espero que
meu tempero seja do seu agrado.

Nesse momento, seus olhos se fixaram nos meus e precisei engolir em


seco devido à tensão que o duplo sentido das minhas palavras causou.

Fiquei morrendo de vergonha.

— A aparência está ótima — disse ele, sentindo que fiquei


constrangida.

Me ajeitei na cadeira, em sua frente, observando quando ele começou a

se servir. Além do frango, também preparei um arroz e, de sobremesa, um


doce de morango.

— E então... — comecei a falar quando reencontrei a coragem para


encará-lo —, já sabe quando retorna para Londres?

— Por acaso está me expulsando? — perguntou, sério.

Meu rosto esquentou. Céus! Eu só estava me constrangendo.


— Não! — meu tom de voz se elevou. — Não foi isso que eu quis
dizer.

Nesse momento, ouvi sua risada calorosa. Foi um som gostoso de


escutar.

— Eu sei, Ada, relaxa — murmurou, tranquilo. — Estou brincando


com você, porque estou sentindo que está um pouco tensa. Não fique —

declarou. — Eu não mordo. — Piscou, maroto.

Sorri, sem jeito.

— Não é todo dia que recebo um visitante ilustre — zombei, rindo. —


Ainda mais um tão persistente assim — destaquei.

Voltou a sorrir.

— Persistência é meu nome do meio — Voltou a piscar, o que o deixou


ainda mais atraente. De repente, ficou sério: — E... — coçou a garganta —

como você está em relação àquele assunto? Você deveria dar queixa na
polícia.

Suspirei.

— Não quero falar sobre isso — resmunguei, sentindo-me nervosa. —


Infelizmente esse tipo de situação é algo comum e sempre vai acontecer,
Jonathan. Eu sou uma mulher, e uma mulher negra. Alguns homens tomam
isso como um motivo extra para atacar, assediar, menosprezar... — respirei
fundo, entristecida — Já faz parte do meu cotidiano.

Vi que seu rosto se tornou endurecido.

— Mas não deveria fazer — rugiu. — Isso é um absurdo! — exclamou,


chateado. — Você merece respeito, independentemente da cor, raça, gênero
ou questão financeira.

Sorri, mas sem mostrar os dentes.

— Bem-vindo ao meu mundo — falei, erguendo os ombros.

Ele parecia inconformado.

— Você nunca sonhou em sair daqui? Conhecer outros lugares? —


perguntou, começando a comer. — Há muitas aventuras esperando fora dessa
Ilha.

Fiquei pensativa.

— Sim, eu tenho o desejo de me aventurar — fui honesta. — Só não

tive oportunidade ainda. Meu sonho mesmo é me especializar em algo


relacionado a comida, sabe? Talvez fazer um curso de gastronomia. — Dei de
ombros.

— Isso foi uma forma de ganhar um elogio meu à sua comida?

Dei uma risadinha.

— Por quê? Funcionou?


Dessa vez ele riu mais alto, jogando a cabeça para trás.

— Sim, — confirmou, entre risos. — Está magnífica. — Voltou a

encher a boca com um pedaço de frango. — Seu tempero é realmente


delicioso. — Me encarou nos olhos.

A maneira como me encarou me deixou quente em partes que jamais


aconteceu antes, e isso me fez arfar.

Baixei a cabeça, sentindo-me um pouco constrangida pelo rumo


que meus pensamentos estavam seguindo.

— Por que não me fala um pouco sobre seus pais? — pediu ele,
mudando o assunto.

Agradeci mentalmente.

Automaticamente um sorriso tomou conta dos meus lábios. Falar


dos meus pais sempre me deixava repleta de felicidade.

— Ah! Os dois eram as melhores pessoas do mundo... —


comecei a dizer.

E assim passaram os próximos minutos, comigo, contando sobre


minha vida, minha infância; Jonathan falou pouco, mas me contou que
perdeu a mãe ainda jovem, e que o pai faleceu anos depois. Foi
impossível não sentir uma pequena conexão com ele, pois tínhamos a
mesma dor.
— Papai me criou um verdadeiro homem; ensinou a consertar a
máquina de lavar, cortar lenha... Posso fazer qualquer coisa. Tenho

minha própria caixa de ferramentas. — Falei, entre risos, enquanto


bebericava mais um gole do vinho. Perdi as contas de quantas taças
bebi. — Ajudo e protejo os mais fracos. Mas duvido que meu futuro
namorado ou esposo vá gostar... — comentei, gargalhando. Estava me

sentindo leve devido ao teor de álcool em meu sangue.

— Por que diz isso? — perguntou ele, achando graça. Jonathan


parecia estar adorando me ver alegrinha. Ele arrastara a cadeira para
mais perto da minha. — Às vezes, eu gosto de mulheres submissas,
mas admito que as atrevidas sejam as melhores — declarou.

— O meu amigo Yadiel sempre diz que preciso mudar meu


jeito, porque sou muito estúpida. — Fiz uma careta, irritada com isso.
— Você me acha grosseira?

— Preciso ser sincero em minha resposta? — rebateu, segurando


o riso.

Irritada com sua resposta, e movida pelo momento, estapeei seu


braço, rindo. Entretanto, o mero contato já serviu para fazer meu
coração acelerar, tanto que cheguei a perder o ar.

Jonathan estava tão perto que desejei puxá-lo contra mim.


Desejei encostar meus lábios nos seus para descobrir o sabor que tinha
sua boca.

— Não acho você grosseira, Ada — soprou, chegando o rosto


mais perto. Sua mão se ergueu para amoldar meu rosto. Travei a
respiração, nervosa demais. — Você é a garota mais incrível que já
conheci, e olha que a lista é grande... — deu uma risadinha, e eu

apenas rolei os olhos, mas não deixei de acreditar que fosse verdade.
— Você é cativante e doce ao mesmo tempo; é inteligente e sabe se
impor quando necessário...

— Mas não consegui fazer nada quando aquele homem me


assediou — expus num fiapo de voz. — Eu só fiquei lá... parada, feito
uma idiota. — Franzi o cenho com a lembrança. — Não me defendi.

— Mas eu defendi — lembrou ele. — Eu defendi, Ada. —


Desviou dos meus olhos e encarou meus lábios.

Todo meu corpo se aqueceu.

Sem pensar muito, colei nossas bocas, ansiosa demais para sentir
a textura dos seus lábios.

Jonathan, a princípio, não se moveu, mas à medida que minha


língua foi pedindo passagem, ele acabou cedendo. Gemi no instante
que senti o toque da sua língua, em conjunto com suas mãos, que
deslizavam por minhas costas, apertando-me com força calculada.

Sua boca tinha gosto de vinho.

Doce e saborosa.

Aliás, muito saborosa.

De repente, quando embrenhei os dedos em seus cabelos,

puxando os fios, escutei Jonathan gemer. Isso me fez ficar molhada lá


embaixo. Nenhum homem conseguira esse feito antes.

No instante que senti suas mãos descendo e se arrastando por


minhas pernas, por baixo do vestido, eu parei de beijá-lo. Meu coração
estava batendo depressa.

— O que foi? — perguntou, resfolegante. — Machuquei você?


Fiz algo que não gostou?

Sacudi a cabeça, negando.

— Não é isso, mas é que...

Eu estava ruborizada.

— Eu sou virgem — revelei de uma vez.

Antes não tivesse falado nada, pois seu rosto ficou pálido na
mesma hora.

— Jonathan...? — chamei quando ele se levantou, abruptamente,


quase tropeçando nos próprios pés.

Me levantei também, nervosa com sua mudança de postura.

— O que foi? Aonde vai?

— Me desculpe, Ada, mas... não posso fazer isso — disse,


porém, parecia estar dizendo para si mesmo. — Não posso fazer isso

com você. Não posso.

— Ei? — O segurei pelo braço quando pretendia abrir a porta


para ir embora. — Por que está fazendo isso?

Ele me olhou tão intensamente que cheguei a ficar sem ar. Sua
mão tocou meu rosto com um carinho cortante.

— Você merece o mundo, garota. Merece encontrar alguém que


a ame e a proteja de todos os monstros...

Franzi o cenho.

— Monstros? — Não entendi.

— Monstros como eu.

Dizendo isso, se virou nos calcanhares e saiu, me deixando


sozinha.

Sem entender absolutamente nada.


Jonathan

— Está dizendo que vai desistir da compra. É isso mesmo que


estou ouvindo, Jonathan?

Richard parecia indignado.

Mas minha decisão já estava tomada; eu não poderia continuar


com o plano de seduzir a Ada apenas com a intenção de fazê-la assinar
a papelada de venda. A garota não merecia isso.

Durante as últimas semanas, senti que as coisas mudaram um


pouco dentro de mim e, algo diferente aconteceu quando a beijei.
Sentir o toque de seus lábios e ouvir seus gemidos foi como estar no
céu, mas sem estar morto. Ada era toda pequena e delicada, e cheirosa,
e saborosa. Já tive muitas garotas em meus braços, mas nenhuma como
ela.
E saber que era virgem, intocada... puta merda! Eu não poderia
enganá-la. Não poderia.

Meu peito se apertava apenas com a ideia de lhe causar dor e


mágoa.

— Podemos modificar o projeto — acrescentei ao meu sócio.


Estávamos conversando via Skype.

— E sabe quanto isso vai nos custar, além do tempo? —


rebateu, nitidamente frustrado com isso. — Nós já estamos atrasados,
Jonathan, e alguns investidores já estão cobrando. Que porra
aconteceu? — Começou a rir. — Por acaso se apaixonou pela garota?
— zombou, ainda rindo.

Travei o maxilar, incomodado com sua maneira de falar. No


fundo, eu não sabia ao certo o que estava sentindo.

— Não aconteceu nada — respondi, na defensiva. — Eu só

estou cansado de continuar enxugando gelo, quando sei que a compra


não vai ser efetivada. Ela não quer vender.

Ficou me encarando, desconfiado.

— Então não conseguiu levar a vadiazinha pra cama —


comentou, balançando a cabeça.

Raiva tomou conta dos meus sentidos nesse momento.


— Ela é diferente, Richard — rosnei, tentando me controlar para
não o xingar. — Ada é uma garota diferente. — Tiquetaqueei meu

maxilar. — Então precisamos trabalhar com o que temos, e ignorar as


terras dela. Marque uma reunião com os engenheiros para ver o que
podemos fazer.

— Isso não vai funcionar. Temos prazos a cumprir — foi

taxativo.

Fiquei irritado com seu pessimismo.

— Então não podemos perder tempo, porra! — reagi com a raiva


que estava inflamando meus sentidos. — Infelizmente existem coisas
que fogem do nosso controle.

— Você pode ter desistido, mas eu não — declarou ele, sério. —


Vou ver na minha agenda quando poderei viajar. Essa palhaçada já
está indo longe demais.

— Richard...

Observei quando ele começou a remexer em alguns papéis sobre


sua mesa.

— Vou desligar agora — me cortou. — Mais tarde nos falamos.

Encerrou a vídeo chamada.

Fiquei num misto de sensações.


Merda!

***

Eu podia tentar enganar aos outros, mas, no fundo, sabia estar


me escondendo; me escondendo atrás da minha covardia. Desde que
jantei na casa da Ada, eu, simplesmente sumi do quiosque, e isso já
fazia uns dois dias.

Na verdade, eu não sabia como encará-la; não sabia como


olharia em seus olhos depois de tudo. A inocência da garota me
comovia, e isso estava me torturando gradualmente, porque ela não
merecia o que eu pretendia fazer.

— Senhor, o maquinário já está o mais rápido possível —


comentou um dos funcionários que contratamos para fazer a limpeza
dos terrenos. — Mais duas famílias já saíram de suas casas, então já
estamos trabalhando.

Peguei a papelada da sua mão, verificando toda documentação.


Eu precisava conferir se tudo estava em ordem e dentro da legalidade
para não termos problemas futuros.

— Ótimo! — exclamei. — Qualquer coisa, não hesite em me


procurar e... — minha voz se perdeu nas curvas da garota que
caminhava em nossa direção.
A beleza da Ada sempre me deixava sem fôlego.

Eu estava em uma das áreas que Richard e eu adquirimos para a

construção do resort.

— Vá trabalhar, homem. — Ditei, entregando a papelada para


ele e, me afastando, seguindo em direção a Ada.

Quando nós nos aproximamos, notei que ela buscou uma


respiração profunda como se minha presença a deixasse nervosa. Algo
em meu peito ficou feliz por isso. Saber que eu a deixava afetada
inflava meu ego.

— Oi! — Soprei, admirando seus lindos traços. Ela estava com


os cabelos soltos, repletos de cachinhos minúsculos. Minhas mãos
coçaram com o desejo de tocar. Aliás, eu ansiava tocá-la por inteiro,
ainda mais depois que provei do sabor de seus lábios carnudos.

— Você sumiu... — murmurou, baixinho.

Meu coração deu um solavanco esquisito com o fato de ela ter


sentido minha falta.

— Sentiu minha falta? — indaguei, encarando-a com


intensidade. Observei quando suas bochechas ganharam uma coloração
diferente, embora não tão visível, considerando a cor escura de sua
pele. — Admito estar sendo bem difícil não ir te ver.
— Foi pelo nosso... — coçou a garganta enquanto torcia as mãos
em frente ao corpo. Ela estava usando um vestido solto, porém, que

salientava seu decote.

— Beijo? — concluí seu raciocínio. — Você pensa que estou te


evitando?

Vi que ela piscou, sem jeito.

Sorri.

— Bem, é isso mesmo, eu estou — confessei a verdade.

Seus olhos se arregalaram.

— Ah! — foi a única coisa que disse.

Parecia tão desconcertada quanto eu.

Segurei sua mão, sentindo que seus dedos estavam frios.

— Mas, porque você me deixa intimidado — declarei num

sussurro. Observei a maneira como seus olhos brilharam para mim. —


É estranho, porque nunca me senti assim com nenhuma mulher antes.

— Eu intimido você? — perguntou, incrédula, com as


sobrancelhas arqueadas. Sua expressão foi tão fofa que desejei encher
seu lindo rosto de beijos. — Penso que seja o contrário. — Mordeu os
lábios.
Sorri, sentindo o desejo inflamando meus sentidos apenas com a
visão da sua boca carnuda.

De repente, inspirei fundo, forçando minha mente a voltar a


realidade. E a realidade não era nenhum mar de rosas.

— Esse é um caminho perigoso para nós dois, Ada —


murmurei, tomando coragem para tocar seu rosto com carinho. Passeei

os olhos conforme minha mão acariciava seus cabelos, notando como


sua pele se arrepiava sob meu toque gentil. — Não quero magoar seu
coração.

— Por que acredita que pode me magoar? — perguntou,


segurando minha mão, que estava em seu rosto.

Não falei nada.

Nem sequer consegui falar. Ela me odiaria.

Apenas fiquei ali, olhando para seu rosto, que era a


personificação da palavra perfeição.

Com meu silêncio, ela apenas sorriu, o que a deixou ainda mais
encantadora.

— Vem comigo... — entrelaçou nossos dedos e saiu me


arrastando pelo caminho que viera antes.

— Ei!? — reclamei com ela, embora estivesse achando graça. —


Para onde está me levando?

Virou a cabeça para me encarar.

— Para um passeio. — Respondeu com um sorriso que iluminou


seu rosto completamente.

Foi impossível ignorar o misto de sentimentos e sensações que

me abateram naquele momento, mesmo meu subconsciente gritando


comigo, me alertando de que aquilo não era uma boa ideia.

Aliás, era péssima.


Ada

Eu ainda podia sentir o toque dos lábios do Jonathan nos meus,


mesmo tendo se passado horas. Não entendia o motivo para ele sair,
praticamente fugido da minha casa depois do nosso beijo, mas isso não
foi suficiente para apagar a sensação prazerosa de ter suas mãos em
mim.

Ao mesmo tempo, me senti frustrada pelo seu sumiço, e me

esforcei para tentar entender o porquê agiu dessa forma.

Nunca me apaixonei, mas precisava admitir que meu coração


estava completamente balançado pelo Jonathan, e isso, de certa forma,
me deixava assustada.

E vulnerável.

Desde menina sonhei em um dia vivenciar o mesmo amor que


meus pais vivenciaram, embora soubesse que nem sempre esse

sentimento era apreciado. A maioria já estava acostumada a brincar

com os sentimentos das pessoas, ou apenas aproveitar romances


rápidos.

Não era meu caso.

— Que lugar é esse? — indagou Jonathan, assim que chegamos

a um pequeno esconderijo onde havia uma piscina natural. O visual ao


nosso redor era lindo.

— Eu sempre vinha pra cá quando queria ficar sozinha. —


Contei, tirando os chinelos e me sentando na beirada da piscina, com
meus pés na água. — Sente-se. — Pedi, esticando minha mão para ele,
que aceitou.

Arrepios me tomaram com seu toque, mas disfarcei as reações.

Jonathan enrolou as barras da calça e, em seguida, afundou os

pés na água também.

— Uau! A água está uma delícia — exclamou, sorrindo. Nesse


momento, levei os olhos até seus lábios, ansiosa para senti-los nos
meus novamente. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo
comigo, se era por carência devido à recente perda do meu pai, ou se
pelo fato de estar me apaixonando mesmo. — É realmente um lugar
perfeito para pensar e refletir sobre os problemas.

Sorri, desviando os olhos para o horizonte. Precisava mudar o

foco, ou acabaria atacando-o feito uma garota desesperada.

E, eu não era assim.

— Ontem, quando você foi embora, eu fiquei pensativa...

— Ada...

— ... fiquei me perguntando se você tinha se arrependido do que


aconteceu entre nós dois — continuei a falar, ignorando sua tentativa
de me interromper. — Eu estava um pouco alegre pelo vinho que
ingeri, mas me sentia perfeitamente consciente das minhas ações. —
Me voltei para ele, querendo que enxergasse a verdade em meus olhos.
— Eu quis beijar você. Eu quis, Jonathan.

Visualizei a maneira como sua respiração se tornou ruidosa.

— Admito que sou uma garota inexperiente, ainda mais perto de


você... — gesticulei, sem jeito — que deve escolher com quais
mulheres vai pernoitar. — Senti meu rosto esquentar. — Mas desde
que o conheci, comecei a sentir coisas...

— Coisas? — perguntou ele, chamando minha atenção para si.


— Que tipo de coisas? — Parecia expectante para ouvir.

Lambi os lábios e os mordi em seguida. Meu coração estava


batendo depressa.

— Sensação de calor em todas as partes do meu corpo — contei

em um sussurro tímido. — Meu coração bate mais rápido do que o


normal, meu estômago parece que fica embrulhado, ou é como se uma
explosão de energia me atingisse sempre que você olha para mim.

Vi quando seus olhos brilharam, intensos nos meus.

Tranquei a respiração no instante em que ele ergueu a mão para


tocar meu rosto. Foi um carinho cálido, mas suficiente para me deixar
toda amolecida.

— É uma pena que tenhamos nos conhecido nessas


circunstâncias... — admitiu com pesar —, comigo, tentando comprar
sua casa.

Baixei os olhos, absorvendo sua declaração.

— Ainda quer comprar minha casa?

O encarei, estudando suas reações.

Jonathan era um homem difícil de ler. Talvez por ser um


empresário bem-sucedido conseguisse esconder suas emoções com
facilidade.

— Não — respondeu, sério. Buscou minha mão e a levou aos


seus lábios, onde beijou delicadamente. — Não quero mais fazer isso.
Franzi o cenho, sem entender o sentido de suas palavras.

— Fazer o quê?

— Magoar você.

— Por que tem tanta certeza de que me magoaria?

Ele não respondeu. Ao invés disso, permaneceu me olhando com

os olhos repletos de significado.

Ansiosa para acabar com aquela tensão que tomou conta do


ambiente, decidi me colocar de pé, num pulo.

— Que tal uma dança? — convidei, fazendo-o piscar.

— Dança? — indagou, rindo. — Não sou bom com essas coisas.

Sorri da sua expressão fofa.

Peguei meu aparelho de celular e coloquei uma música para


tocar.

— Conhece o merengue dominicano? — perguntei, enquanto


segurava a barra do vestido, basicamente uma saia longa e rodada. —
Com um dos pés, você marca o tempo, enquanto o outro é arrastado no
chão.

Enquanto explicava, eu fazia os movimentos conforme as


batidas da música. Jonathan permanecia me olhando, admirado e
fascinado.

Em determinado momento, rodopiei ao seu redor, sensualizando

segundo o que a música pedia.

Fiquei tão entretida que acabei tropeçando em meus próprios


pés; só não caí, porque Jonathan me segurou.

Seus braços circularam minha cintura, mantendo-me segura.


Minha respiração travou no peito.

— Você é tão linda... — declarou, me puxando para mais perto


enquanto deslizava os dedos em meu rosto. — Por que é tão difícil
manter você longe?

— Não precisa me afastar — falei, com a voz afetada.

Com isso, sua boca tomou a minha de assalto, porém, com calma
e, carinho.

O beijo foi lento, cheio de intensidade.

Seu sabor era o mesmo que eu me lembrava, embora sem o


gosto do vinho.

— Ada... — gemeu contra meus lábios entreabertos — eu não


quero te magoar.

Neguei com a cabeça, enrolando os braços ao redor de seu


pescoço.

— Basta ser honesto comigo, Jonathan — declarei. — Não estou

pedindo você em casamento. Apenas quero viver isso que estamos


sentindo... — me calei, mordendo os lábios. — Você não quer?

Permaneceu me encarando por segundos, que mais pareceram


intermináveis.

— Quero mais do que tudo no mundo — declarou com fervor,


fazendo meu coração voltar a bater depressa.

Sorri, eufórica.

Voltei a beijá-lo, sentindo aquela adrenalina gostosa vibrando


em cada um dos meus poros.

Eu não queria parar para pensar no futuro.


Minha preocupação era com o presente, especificamente,

com o que estava acontecendo entre mim e Jonathan.


Jonathan

Dias depois

— Podemos contratar alguém para assustar a garota —


insinuou Richard, pelo telefone. Levei a mão ao rosto e o esfreguei, em
frustração. — De repente é desse incentivo que ela precisa para
assinar a porra da papelada de venda.

Sacudi a cabeça, indignado com o que acabara de ouvir.

— Desde quando usamos desse tipo de artifício, Richard? —


indaguei, cheio de revolta. — Ficou louco?

— Só se for louco de raiva por toda essa merda de empecilho,


porra!

Respirei fundo, buscando me acalmar. Eu não queria me


indispor com ele.
— Quando você vem para cá? — desconversei. — Falou com os
engenheiros?

— Estou tentando viajar, mas minha agenda está atolada de


trabalho e compromissos inadiáveis — resmungou, chateado. — E,
respondendo a sua pergunta, sim, eu conversei com eles. Dá para
fazer a mudança na planta, mas vai ficar uma merda, Jonathan. Uma

merda. E não é isso o que queremos, hum? Ou você quer apresentar


uma merda aos nossos futuros clientes?

— Claro que não quero, idiota! — Sacudi a cabeça, revoltado.


— Mas não temos escolha.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

— Ela não tem ninguém, Jonathan — comentou, de repente,


fazendo meu coração bater depressa. — Nenhum parente vivo, nada. É
sozinha no mundo. — Se calou. — Ninguém sentiria falta.

Meu sangue ferveu em minhas veias com sua insinuação. A


ameaça velada me fez arregalar os olhos.

— Vou fingir que não escutei isso — sibilei, repleto de fúria,


embora controlada. — Não faça nada. Deixe a Ada comigo.

Ouvi sua risada do outro lado da linha.

— Ah, agora entendi... — resmungou, entre risos. — Então seu


plano de seduzi-la ainda continua de pé?

Não respondi, então ele acrescentou:

— Já conseguiu levá-la pra cama?

Rolei os olhos para sua pergunta.

— Jonathan? — Me assustei com a chegada da Ada atrás de

mim. Me virei de modo abrupto, visualizando seu olhar preocupado.

— É ela quem está aí? Ouvi uma voz feminina — ouvi a voz do
Richard, seguida de uma risada. — E eu pensando que você estava
fraquejando... — gargalhou ainda mais, parecendo deliciado — Você
sempre foi mais cretino do que eu.

Travei o maxilar, incomodado com suas palavras.

— Vou desligar agora — avisei e encerrei a chamada sem


esperar por resposta.

Meu coração estava batendo acelerado.

— Está tudo bem? — perguntou Ada, sem jeito. — Cheguei em


uma hora ruim?

Eu a convidara para fazermos um passeio de lancha, então pedi


para que me encontrasse na Marina do hotel em que eu estava
hospedado.
Sacudi a cabeça, trincando os dentes e xingando o Richard
mentalmente.

— Alguns problemas. — Forcei um sorriso, enquanto me


aproximava. — Mas nada que vá estragar o nosso passeio. — Segurei
seu rosto e toquei nossos lábios.

Sua boca tinha se tornado minha pequena fonte de alimento

desde que começamos a nos relacionar mais intimamente. Eu não


conseguia controlar o ímpeto de beijá-la sempre que estávamos juntos.

— Já estou ansiosa. — Sorriu, com euforia.

Nos encaminhei para lancha.

Após longos minutos, finalmente começamos a navegar.

— Qual o plano? — perguntou, se aproximando de mim, que


estava no volante. Observei estar usando um biquíni branco por baixo

da camiseta larga.

— Navegaremos em direção à Ilha Catalina, joia do Mar Caribe


e uma das mais lindas praias dominicanas.

— É um pouco longe — comentou ela, fazendo-me encarar seus


olhos.

— Está com pressa? — indaguei, com as sobrancelhas


arqueadas. — Sou tão chato assim que você está preocupada com o
tempo que vai passar comigo? — Fingi estar chateado.

Ouvi sua risadinha e, em seguida, circulou minha cintura com

seus braços e beijou meu ombro. Senti meu coração acelerado com seu
gesto.

— Não seja bobo — disse. — Eu apenas fiz um comentário. —


Riu.

Apertei seu braço ao meu redor, e virei o rosto rapidamente para


beijar sua boca gostosa.

— Estou feliz por você estar aqui comigo — confessei.

— Também estou.

A maneira como ela me olhou me deixou com a sensação de


estar no fogo, mas sem me queimar. Uma mistura de emoções me
tomou naquele momento.

Tesão.

Culpa.

Euforia.

Culpa.

Paixão.

Culpa.
Eu não fazia ideia do que estava fazendo, mas a certeza de que
precisava dela, como precisava do ar para respirar, vibrava em cada

um dos meus poros.

O que era estranho.

Nossa primeira parada foi no lugar do mergulho mais famoso da


República Dominicana, onde se podia fazer snorkeling, no precioso

recife de coral cheio de cores e peixes tropicais.

— Quer mergulhar? — perguntei, repleto de animação. — Eu


trouxe máscara, nadadeiras e o snorkel. — Apontei. — Ah, e uma
câmera? — Balancei ela em minha mão.

Ada começou a tirar a camiseta e o shorts, fazendo-me admirar


suas curvas deliciosas. Notei que meu olhar a deixou encabulada, então
disfarcei.

— Vou adorar nadar com os peixinhos — declarou, sorrindo

lindamente.

Após estarmos prontos, eu e ela pulamos na água; Ada nadava


maravilhosamente bem, o que não me surpreendeu em nada, visto que
nasceu ali.

O snorkeling é um tipo de mergulho em que a pessoa fica na


superfície da água, para fins de lazer e recreação. Normalmente a
prática do snorkeling é feita em lugares costeiros em que a água é mais
apropriada para esse tipo de esporte que proporciona explorar de forma

mais eficaz a fauna e flora.

Nadamos um ao lado do outro, comigo, encantado com as


reações da Ada sempre que encontrava um peixe colorido; na verdade,
os corais e recifes também eram magníficos de se ver de perto.

Naquele momento, ali, com ela, me questionei sobre muitas


coisas a respeito da minha própria vida, da maneira como eu via o
mundo. Eu era um homem rico, ou melhor, bilionário, mas, por vezes
me esquecia da simplicidade das coisas; me esquecia que a felicidade
real não, necessariamente, era encontrada somente no dinheiro, mas
em momentos simples e, com alguém especial.

Ada era uma garota especial.

— Você viu como aquele peixe chegou perto do meu rosto? —

perguntou ela, exalando felicidade. Estávamos na lancha novamente.


— Ele quase me beijou. — Deu uma risadinha, com seus olhos
brilhantes.

— Eu não só vi, como também tirei uma foto. — Ergui a


câmera, visualizando seus olhos se arregalarem.

— Não acredito que conseguiu capturar o momento! — Se


aproximou de mim num rompante, querendo ver as fotos.

Foi impossível ignorar o desejo que a visão do seu corpo ali, tão

perto do meu, me causou. Ada estava usando um biquíni branco, com


uma calcinha minúscula, deixando pouco para minha imaginação.

E, saber que ela era virgem deixava tudo pior, porque meu lado
predador berrava aos meus ouvidos.

Aguçava meus instintos mais devassos e vorazes.

Como que sentindo meu olhar, Ada ergueu a cabeça, se


deparando com meu rosto bem perto do seu.

— Você é tão linda... — soprei, acariciando seu rosto com


devoção. Puxei-o para mim, tocando sua boca com a minha. Ela era
tão receptiva. — Estou tendo dificuldade de me concentrar em outras
coisas, pois é somente você em meus pensamentos — falei a verdade.

Seu gemidinho me deixou ensandecido.

Suas mãos em meu peito nu eram tão macias e delicadas que eu


mal sentia o toque.

Deslizei as minhas por seus ombros enquanto tomava sua boca


de assalto; ela era irresistível, e minhas forças se desfaziam sempre que
eu a tinha em meus braços.

Sem eu poder me conter, a deitei no chão da lancha, sem parar


de beijá-la; minhas mãos exploravam seu corpo com calma e cuidado,
pois não queria assustá-la.

Minhas intenções com a Ada eram as melhores, embora, mesmo


me esforçando, eu não conseguia apagar a culpa do que eu pretendia
fazer com ela, inicialmente.
Jonathan

Não fazia ideia do tempo que se passou desde que Ada e eu nos
deitamos no chão da lancha e começamos a trocar carícias; em
determinado momento, quando parei de beijá-la, permaneci olhando
para seu rosto; ela estava com os olhos fechados, respirando com
dificuldade.

Apoiei a cabeça sob minha mão, sorrindo com um calor gostoso

no peito.

— Você parece feliz — comentou ela, mordendo os lábios


enquanto se ajeitava de lado também.

— E eu estou — declarei, acariciando seu rosto. — Você é uma


companhia maravilhosa — trouxe sua mão aos meus lábios, onde
beijei. — Meu pai iria gostar de conhecê-la, sabia? Ele era assim como
você, vibrante; mesmo quando as coisas estavam ruins, continuava
sorrindo.

— Posso sentir que você o amava muito — argumentou, me

encarando.

Eu já comentei algumas coisas sobre mim, mas tudo detalhes


superficiais.

— Ele foi o melhor pai que eu poderia ter — falei, nostálgico.


— Sua persistência em somente querer o melhor para nós, mamãe e eu,
fez com que ele crescesse no ramo de hotelaria; foi quando começou a
fazer fortuna. Nossa vida mudou, no quesito financeiro, mas continuou
a mesma na parte de união familiar; continuávamos unidos e fortes. Eu
os amava.

— O que houve com sua mãe?

Franzi o cenho, incomodado com as lembranças.

— Não precisa contar se não quiser.

Sacudi a cabeça.

— Não, tudo bem — resmunguei, com um suspiro. — Minha


mãe morreu num acidente de carro. Foi fatal.

— Oh! — soprou. — Sinto muito.

Levei o olhar para longe, mas sem nada ver.


— Meu pai processou todos os envolvidos no acidente — falei,
duro. — Não descansou enquanto todos não estivessem na cadeia.

Estremeci quando senti o toque macio da sua mão em meu rosto.

— E isso amenizou a sua dor? — quis saber, com um olhar


acolhedor.

Estudei seu rosto minuciosamente enquanto absorvia sua


pergunta.

— Um pouco — fui honesto. — Mas isso não a trouxe de volta.


Eu a perdi. Assim como também perdi meu pai, anos depois.

Não fazia ideia do porquê estava contando tudo aquilo, mas Ada
me fazia sentir vontade de me abrir.

— É difícil aceitar, mas é necessário — afirmou ela. — Ou não


conseguiremos seguir.

— Por muito tempo, fechei meu coração para o amor — contei,


intenso. — Eu não aceitava amar de novo, porque isso poderia me
causar a mesma dor que senti quando perdi meus pais — expliquei. —
Então, apenas me foquei nos negócios, ignorando os relacionamentos
afetuosos, porque não me interessavam. Hoje, sou um homem
vitorioso, financeiramente falando.

Deslizei o polegar pelos seus lábios entreabertos.


— E ainda teme ao amor? — quis saber, resfolegante. Deduzi
que fosse devido ao meu toque.

Fiquei pensativo sobre sua pergunta.

— Um pouco — respondi com honestidade. Em seguida, voltei a


me inclinar, colando nossas bocas, mas sem beijá-la de fato. — Porque
ele é tão bonito quanto perigoso. — Fechei os olhos, deslizando o nariz

no seu. — E, no final, eu posso acabar sozinho, com a minha dor.

Abraçando-me, ela me puxou para si, unindo nossos lábios.

— Não vai — disse, como uma promessa. — Estou apaixonada


por você, Jonathan.

Afastei o rosto, assustado com sua declaração.

Meu coração parou uma batida.

— O-o que disse?

Me sentei, ainda abobalhado.

Ada fez a mesma coisa, num misto de nervosismo e ansiedade.

— Eu não escolhi sentir o que estou sentindo — murmurou. —


Aliás, creio que ninguém escolhe, porque esse sentimento
simplesmente acontece. — Amparou meu rosto. — Mas está tudo bem.
Não estou dizendo isso para ouvir de volta. Eu apenas senti a
necessidade de contar, porque gosto de honestidade, e não vejo sentido

em continuar protelando o inevitável.

Meu peito estava tão sufocado quanto a culpa pesando em minha


mente.

Puxei seu rosto para mim, colando nossas testas. Minha


respiração ficou ruidosa, conforme assimilava suas palavras.

Eu não a merecia.

Puta merda! Eu não a merecia.

A frase: “também estou apaixonado por você” dançou em minha


língua, engasgada em minha garganta, mas fui incapaz de proferir em
voz alta.

Ao invés disso, eu apenas a beijei.

Um beijo recheado de promessas e segundas intenções.


Ada

Alguns dias tinham se passado desde que me declarei ao


Jonathan, e nosso relacionamento estava de vento em poupa. Eu sabia
que nosso envolvimento era algo passageiro, considerando que ele
logo iria embora, mas eu não conseguia me manter longe. Era um
sentimento mais forte do que eu podia controlar.

Nós evitávamos conversar a respeito do seu projeto de resort, já

que isso foi o detalhe que nos colocou na vida um do outro, então
passávamos nosso tempo, juntos, rindo e nos conhecendo melhor.
Jonathan chegava a planejar um futuro para nós dois, mas eu não
ousava ir tão longe. Estava apaixonada por ele sim, mas tinha meus pés
no chão.

Éramos de lados opostos; ele, um homem de muitas posses e


poder; e eu, uma simples garota negra, moradora de uma Ilha.
Durante esse tempo que estávamos juntos, passei a entendê-lo
um pouco; Jonathan parecia ter um desejo constante de conquistar e de

crescer, era quase como uma necessidade íntima. Talvez fosse pelos
seus pais falecidos, considerando que quis sempre que os dois tivessem
orgulho dele.

— Já está fechando? — Me sobressaltei com a chegada abrupta

do Yadiel no meu quiosque. Obriguei-me a dispersar meus


pensamentos.

— Meu Deus, Yadiel! — Pressionei a mão no peito, de coração


acelerado. — Por que chegar assim, desse jeito abrupto? Quase tive
uma síncope agora — reclamei, sentindo as reações do susto me
dominando.

O idiota começou a rir.

Yadiel era um homem muito atraente, pele escura como a minha,

e olhos, cor de caramelo. Ele e sua família, assim como outras, ainda
não tinham se mudado da Ilha.

— Onde anda sua cabeça, Ada? — questionou, divertido.


Entretanto, no mesmo momento que sorriu, também ficou sério. —
Nem sei por que perguntei — baixou a cabeça, parecendo incomodado.
Certamente estava se referindo ao fato de eu estar com Jonathan.
Terminei de fechar o quiosque, e dei a volta para ficar frente a
frente com meu amigo.

— Yadiel, por favor...

— Esse cara vai te magoar, Ada — cortou-me, em tom


angustiado. — Estou sentindo isso.

Fechei a expressão, magoada com seu pessimismo em relação ao


meu relacionamento.

Se ele me amava como dizia, então deveria torcer pela minha


felicidade.

— Só está dizendo isso, porque não estou com você, mas com
ele — declarei, frustrada. Minhas palavras pareceram magoá-lo,
porque a dor ficou evidente em seus olhos. Suspirei, sentida com nosso
desentendimento. — Me desculpe... — peguei sua mão — sei que só
está preocupado comigo, mas não precisa.

Nesse momento, ele apertou minha mão, que estava em seu


rosto.

— De qualquer forma, saiba que sempre estarei aqui para você.


Sempre — prometeu.

Sorri, emocionada.

De repente, fomos interrompidos por um pigarro.


Quando me afastei, visualizei a figura do Jonathan. Sua
expressão se anuviou, conforme assimilava a cena perante seus olhos.

Nervosa, me distanciei do Yadiel.

— Tudo bem por aqui? — perguntou ele, com tom de voz


engasgado. O desconforto era nítido.

Senti que meu amigo se tornou tenso, ao meu lado.

Preocupada que os dois começassem a brigar, corri até o


Jonathan.

— Sim, está — respondi, enrolando o braço no seu. — Yadiel


apenas veio me dar um “oi”. — Acariciei o rosto do Jonathan, embora
sua atenção continuasse no meu amigo. — Vamos?

Mesmo frustrado, Jonathan assentiu. Nós viramos para sair, mas


a voz do Yadiel fez com que travássemos os passos.

— Se você a magoar, saiba que vou acabar com você —


declarou, ameaçador.

Fiquei tensa na mesma hora.

Jonathan se voltou para trás, exalando fúria em seus poros.

— E quem é você para me ameaçar, rapaz? — Tentei segurar


seu braço, mas Jonathan me ignorou e marchou até o Yadiel. Meu
amigo não se intimidou; ambos ficaram com os rostos colados um no
outro, mas sem se tocarem.

— Para você, eu não sou ninguém — disse ele, apontando o

indicador. — Mas sou tão especial para Ada... — apontou para mim —
quanto ela é para mim. — Meu coração estava aos pulos, temendo pelo
pior. — Então, fique sabendo que não vou admitir que você a magoe.
Tenha ciência da preciosidade que tem em mãos, pois essa garota é mil

vezes melhor que as mulheres com quem está acostumado.

— E por acaso pensa que não sei disso? — Jonathan revidou tão
feroz quanto.

Yadiel arqueou as sobrancelhas.

Agradeci quando se afastou um pouco.

— O recado está dado — rebateu. Em seguida, se aproximou de


mim, pegando minhas mãos, onde beijou. — Não se esqueça de que
estarei sempre disponível para você.

— Mas que porra é essa?!

Me coloquei na frente do Jonathan, que rugiu, querendo avançar


contra Yadiel.

— Por favor, vá — pedi ao meu amigo, que se afastou de nós.

Assim que Jonathan e eu ficamos sozinhos, o encarei, num misto


de sentimentos.
— O que foi isso? — intimei. — Por que agiu dessa forma? Não
gosto dessas coisas, Jonathan. Ou você confia em mim, ou o que temos

acabará aqui e agora. Um relacionamento sem confiança não tem


futuro algum.

Parecendo desesperado, ele veio até mim e circulou minha


cintura com seus braços fortes. Sua boca logo buscou pela minha, com

sofreguidão.

— Eu sei, me perdoe — soprou, repleto de angústia. Eu ainda


podia sentir seu corpo tremendo. — Não sei o que deu em mim.

O beijei de volta.

— Você ficou com ciúmes.

Respirou fundo, me apertando em seus braços. Seus lábios


pressionaram minha testa.

— Sim, eu fiquei — admitiu. — Fui um idiota.

Joguei a cabeça para trás, querendo olhar em seus olhos. Suas


mãos acariciaram meu rosto.

— Seu amigo gosta de você — acrescentou. — E saber disso me


deixou um pouco... intimidado.

Arqueei as sobrancelhas, incrédula com o que acabara de ouvir.


— O bilionário Jonathan Hughes se sentindo intimidado por um
simples rapaz, morador dessa Ilha?! — zombei, divertida.

Visualizei um pequeno rubor em suas bochechas, o que fez


minha risada aumentar.

— Pare de rir de mim... — murmurou, descendo as mãos em


minha barriga e começando a fazer cócegas.

Agoniada, me desvencilhei de seus braços e comecei a correr


dele, rindo.

Quando me alcançou, ambos caímos no chão, na areia, bem


próximo à praia. A noite estava chegando, então já podíamos visualizar
as lindas cores que os últimos raios solares deixavam no céu.

Jonathan se colocou sobre meu corpo, levando a mão em meu


rosto e cabelos; o brilho em seus olhos era tão lindo e intenso que me
deixava sem ar.

— Eu quero você — soprou, sem fôlego. — Quero você, Ada.


Apenas você.

Amparei seu rosto também, tão desesperada quanto ele.

Quando me beijou, eu me perdi. Era sempre a mesma sensação


quando eu estava em seus braços.

Jonathan era o único capaz de me fazer sentir no céu. Porém,


também era o único com o poder de me derrubar lá de cima.
Jonathan

Era surreal a felicidade que eu vinha sentindo nas últimas


semanas ao lado da Ada, mesmo com toda aquela sensação de culpa
me corroendo por dentro sempre que olhava para ela. Era certo que,
num primeiro momento, eu cheguei a desejar seduzi-la apenas com o
propósito de fazê-la assinar a papelada de venda da sua casa, porém,
isso ficou para trás. Meu único intuito agora era mantê-la em meus

braços e nunca mais deixá-la partir.

Estava apaixonado por ela. De um jeito que jamais senti com


outra garota.

E isso, de certa forma me assustava. Não era nenhum pouco


confortável saber que alguém possuía seu coração assim, podendo
machucá-lo tão facilmente.

Ada me deixava vulnerável. Mas, ao mesmo tempo, me fazia


sentir forte e a melhor pessoa do mundo. Eu me sentia mal sempre que

visualizava o brilho em seus olhos quando olhava para mim, como se


eu fosse um homem perfeito.

Eu podia ser tudo, menos perfeito.

E quando pensava em meus defeitos, me sentia intimidado;


ainda mais se comparado ao seu amigo, que era apaixonado por ela.

Droga! Eu odiava o fato de o idiota conhecê-la tão bem ao ponto de


saber tudo sobre ela.

— Por que está tão calado? — Pisquei com a pergunta da Ada.


— Tem algo errado?

Estávamos saindo do elevador, que nos levaria ao quarto de


hotel que vinha sendo meu lar nas últimas semanas.

Trouxe sua mão aos meus lábios, beijando com carinho.

— Só estou um pouco nervoso — expliquei, arrancando-lhe um


sorriso lindo.

— Por quê?

Peguei meu cartão-chave e passei na porta.

— Porque preparei uma surpresa para você.

Gesticulei assim que abri a porta.


Eu podia senti-la nervosa, embora tentasse disfarçar.

— Uau, Jonathan! — Cobriu a boca com as mãos, desviando os

olhos da mesa de jantar, com flores e velas. — Que coisa mais linda!
— Me encarou, com os olhos brilhantes.

Ela estava usando um vestido curto, de cor preta; a parte de


baixo era rodada, com tiras nas costas, que estavam totalmente

expostas. O decote não era tão fundo, mas as alças do vestido deixaram
a visão extremamente agradável aos meus olhos.

— Gostou? — Fechei a porta enquanto retirava o paletó. Não


conseguia abandonar o sorriso em meus lábios. — Eu precisava
presentear você com algo especial.

Vi que ficou envergonhada.

Depois que larguei o paletó em qualquer lugar, me encaminhei


para a mesa e arrastei a cadeira para que Ada pudesse se sentar.

— Obrigada — disse, admirando todos os detalhes.

O pessoal do hotel tinha realmente caprichado na preparação. O


clima ficou extremamente romântico.

— Admito que com todo esse cenário, eu esteja me sentindo


como na história: A Dama e o Vagabundo agora — comentei, entre
risos. — Só falta o cardápio ser massa.
Ambos gargalhamos quando abri a tampa da bandeja e
visualizamos o macarrão.

— Será um sinal? — brincou ela, se ajeitando na cadeira e


colocando o guardanapo no colo. — Mas já adianto que esse é meu
prato favorito. — Sorriu.

A acompanhei, encantado com o brilho em seus olhos.

Descobri que fazê-la sorrir se tornou meu passatempo preferido.


Eu queria dar o mundo para ela.

Começamos a comer, nos entretendo em diversos assuntos; eu


gostava de conversar com ela, porque Ada era uma garota inteligente e
comunicativa; minha garota sabia se impor em suas opiniões.

Minha garota...

— Que tal uma dança? — Convidei, longos minutos depois. Me

coloquei de pé e, em seguida, liguei o som em um volume ameno.

A música escolhida foi, Just The Way You Are — Bruno Mars.

Caminhei até parar ao lado da Ada, que ainda estava sentada à


mesa, e estendi minha mão. Mesmo sem jeito, ela aceitou, fechando
sua mão macia na minha.

— Juro que não vou pisar no seu pé — comentei, divertido. —


Só quero ficar assim... — aninhei-a ao meu peito, zanzando de um lado
ao outro — grudadinho com você. — Beijei sua testa.

De olhos fechados, levei o nariz aos seus cabelos, inspirando seu

perfume. Ada estava com suas mãos espalmadas em meu peito.

— Seu coração está batendo depressa — observou ela, afastando


o rosto para poder encarar o meu. — Está nervoso?

Assenti com a cabeça, enquanto alisava sua bochecha.

— Estou — confessei a verdade. — Você me faz sentir assim.

Suas mãos se arrastaram até meu pescoço.

— Assim como? — quis saber, num sussurro sedutor.

— Como se fosse a minha primeira vez com uma mulher —


admiti, deslizando os dedos por seus traços perfeitos, acompanhando o
movimento com meus olhos. — Porque você é especial, Ada. Você é
única. A única que já fez meu coração bater desse jeito.

Amparando meu rosto, ela uniu nossos lábios num beijo cálido.

— Você me faz sentir assim mesmo, como se eu fosse um


tesouro — soprou.

— E é exatamente isso que é para mim. — Puxei sua cabeça


mais perto, brincando com seus lábios de modo lento. — Estou
completamente apaixonado por você, Ada. Penso em você o tempo
todo, e já não consigo me imaginar sem a sua presença na minha vida,

em meus dias.

Olhando em meus olhos, visualizei a emoção dos seus perante


minha declaração; era a primeira vez que eu confessava meu amor.

— Eu quero ser sua — declarou num murmúrio. — Quero que


me faça sua, Jonathan. De corpo, porque de coração e alma eu já sou.

A intensidade das suas palavras me causou um frenesi de


emoções.

Reivindiquei sua boca, deslizando as mãos para sua nuca, abaixo


dos cabelos soltos.

Seus gemidos ‘sexy’ eram minha perdição; me fazia desejar cair


de joelhos em sua frente para adorá-la como ela merecia.

Ada merecia o mundo. Merecia somente o melhor que eu

pudesse dar.

E eu daria se assim ela permitisse.

Sabia que precisaria me sentar com ela e abrir meu coração, e


revelar tudo o que, inicialmente, eu pretendia fazer, mas não quis
estragar o momento. Na verdade, meu lado egoísta não me permitiu
fazer isso.

Contaria no dia seguinte.


E, ao som de Bruno Mars, nos embalei até o quarto, ansioso
demais para me deliciar com o calor de seu corpo no meu.
Ada

Eu estava tremendo de ansiedade e expectativa quando senti a


maciez do colchão em minhas costas no instante em que Jonathan me
depositou sobre a cama. Sempre desejei que minha primeira vez fosse
com um homem especial, alguém que eu amasse... e ali estava... o
homem que vinha fazendo dos meus dias um melhor que o outro.

Nosso envolvimento podia ser algo visto como rápido e sem

sentido, considerando todas as diferenças entre nós dois, mas somente


eu e ele sabíamos dos nossos sentimentos; do que sentíamos um pelo
outro.

E isso não aconteceu do dia para noite.

Jonathan e eu fomos construindo uma relação bonita e sólida


gradualmente; com respeito, amizade e compreensão.
— Jonathan... — gemi, dispersando os pensamentos aleatórios e
me concentrando no que sua boca estava fazendo comigo. Eu podia

sentir como se sua língua deixasse um rastro de fogo em minha pele.

— Shh... — soprou ele, arrastando suas mãos em todos os


lugares do meu corpo febril —, eu sei do que você precisa, baby.

Prendi a respiração no instante em que ele me sentou na cama e

me auxiliou a retirar o vestido. Ergui os braços para facilitar. Eu não


estava usando sutiã, então logo meus seios ficaram a mostra, com os
bicos apontados na direção de seus olhos atentos.

Jonathan parecia fascinado conforme esticava as mãos e me


tocava com delicadeza cortante.

— Linda demais... — soprou, num tom estrangulado. Todo meu


corpo se aqueceu com a maneira devassa como ele olhava para mim,
como se eu fosse a coisa mais linda que já tivesse visto.

Segurou minha cabeça, deslizando a mão para minha nuca e


reivindicando meus lábios. O beijo foi lento, mas cheio de intensidade.
Pude sentir sua língua explorando cada canto da minha boca,
deixando-me quente e molhada lá embaixo.

Fiquei sem ar.

— Vou cuidar de você — prometeu, num murmúrio, enquanto


voltava a me deitar.

Sem desviar os olhos dos meus, começou a arrastar a língua pela

minha pele, parando quando chegou em meus seios. Enquanto chupava


um, apertava o outro com sua mão livre, beliscando o mamilo entre os
dedos. Mordi os lábios, perdida em sensações. Esfreguei minhas
pernas uma na outra de modo a tentar aplacar a dorzinha que estava

sentindo ali. Como que percebendo meu desconforto, Jonathan desceu


uma das mãos e iniciou um movimento de pressão com os dedos por
cima da minha calcinha, porém, sem deixar de acariciar meus seios
com sua boca.

Meus gemidos se tornaram altos à medida que suas carícias


foram se intensificando. Minha respiração se tornou descompassada no
instante em que senti meu corpo, principalmente a parte do ventre,
virilha e pernas se enrijecendo com uma forte tensão, até que subiu

uma onda de calor muito grande e um frio na barriga. Era como se eu


tivesse morrido e retornado a vida.

— Tão sensível... — soprou ele, maravilhado, pairando o rosto


acima do meu. — Você fica ainda mais linda quando está gozando...
— sorriu em fascínio, beijando meus lábios. Eu ainda estava
respirando com dificuldade.
— Vamos ver como vai reagir ao sentir minha boca lá embaixo,
na sua boceta apertada — acrescentou, fazendo meu rosto esquentar

com suas palavras sujas.

Fiquei envergonhada, mas, ao mesmo tempo, também senti um


fogo descomunal se alastrando em minha pele.

O senti descendo com beijos molhados pelo meu corpo.

Lentamente, Jonathan deslizou minha calcinha para fora do meu corpo,


deixando-me nua para ele.

Ao contrário do que imaginei que aconteceria, não me senti


tímida perante seu olhar. A maneira como Jonathan me olhava, como
se eu fosse uma deusa, me fazia sentir exatamente assim.

Me apoiei sob os cotovelos quando ele, simplesmente


arreganhou minhas pernas e escondeu o rosto ali, para acariciar aquele
ponto sensível e íntimo. Lambi os lábios, encantada com aquela visão;

Jonathan me chupava tão intensamente que parecia estar degustando


de uma fruta muito saborosa. Suas mãos vieram para cima, para
amassar meus seios, beliscando os mamilos.

Podia sentir meus músculos se contraindo involuntariamente


conforme ia atingindo os níveis mais altos de prazer. Era como se
estivesse passando uma corrente de adrenalina por todo meu corpo,
que me fez jogar a cabeça para trás, dobrar os pés, apertar os lençóis e
outras coisas que nem percebi.

Quando finalmente relaxei, abri os olhos e me deparei com o


rosto do Jonathan acima do meu; o brilho em seus olhos era tão intenso
que me senti toda derretida.

— Bem-vinda de volta — soprou, divertido. Dei uma risadinha

para ele, que desceu a boca sobre a minha, fazendo-me sentir meu
próprio gosto em sua língua.

— E-eu... nunca senti isso — confessei-lhe. — É maravilhoso.

— Estou feliz por estar sendo o primeiro a lhe mostrar —


soprou, resfolegante.

De repente, saiu da cama e ficou de pé ao meu lado. Observei


quando tirou toda sua roupa, ficando nu a minha frente. Meus olhos se
arregalaram quando visualizei sua dureza.

— Está com medo? — quis saber, enquanto abria um pacote de


camisinha e se revestia com ela. — Se quiser parar basta me dizer,
Ada. Não faremos nada que não queira ou que não esteja pronta.

Sacudi a cabeça, negando.

— Não estou com medo — falei a verdade. — Nunca estive tão


certa de uma decisão como estou dessa. — O puxei contra mim
quando voltou para cama. Envolvi seu pescoço com meus braços. —
Eu quero ser sua, Jonathan.

Minha declaração pareceu motivá-lo, porque sua boca avançou


sobre a minha com sofreguidão. Nossos gemidos se misturavam à
medida que Jonathan me acariciava e se ajeitava entre minhas pernas.
Lentamente, começou a me invadir, sem pressa...

Seus beijos me enlouqueciam, assim como suas palavras, ora


românticas, ora sujas.

Quando o senti por completo dentro de mim, não consegui


segurar o desejo de chorar.

A preocupação tomou conta de seu rosto quando visualizou


minhas lágrimas.

— Machuquei você? — perguntou, parando de se movimentar.

Mordi os lábios, sacudindo a cabeça, tentando controlar o choro.

— Só estou emocionada — expus, amparando seu rosto com


minhas mãos. — Eu amo você.

Vi que seus olhos brilharam também, úmidos.

— Eu também. — Me beijou. — Também te amo.

***
Abri os olhos, sendo presenteada pela luz do sol que invadia o
luxuoso quarto de hotel. Olhei para o lado, na cama, mas não encontrei

Jonathan. Uma rápida olhada na porta do banheiro me fez deduzir que


estivesse ali.

Meu coração acelerou quando minha mente me presenteou com


as lembranças luxuriosas de horas atrás; eu estava dolorida lá embaixo,

mas a satisfação brilhava em meus poros.

Joguei os pés para fora da cama, procurando pelas minhas


roupas. Não era porque fizemos amor que eu não me sentia
envergonhada com a ideia de ele voltar a me ver nua novamente, ainda
mais à luz do dia. Vesti minha calcinha, seguido do vestido. Passei a
mão no rosto e nos cabelos, esforçando-me para alinhar os fios
bagunçados.

De repente, um barulho de mensagem chamou minha atenção

para o celular sobre o pequeno móvel de cabeceira. Como eu estava


perto do aparelho, consegui visualizar a notificação do aplicativo de
mensagem. A mensagem dizia:

“E aí? Já comeu a garota?”

Meu coração acelerou na mesma hora conforme assimilava


aquelas palavras.
Nesse momento, Jonathan saiu do banheiro, com uma toalha
enrolada na cintura. Sorriu para mim quando se deparou comigo em pé

ao lado da cama.

— Acordou, dorminhoca? — perguntou, ainda sorrindo. Porém,


franziu o cenho quando desviou o olhar do meu rosto para seu celular,
que estava em minhas mãos.

— Quem é Richard? — perguntei com a voz tremendo. — É o


seu sócio, hum? — lembrava-me vagamente do nome do homem.

A cor fugiu do seu rosto, e senti meu coração doer com a


constatação de culpa presente em seu olhar.

— Ada...

As lágrimas banharam meu rosto sem controle.

— Ele acabou de perguntar se você já me comeu. — Joguei o

celular contra ele, que segurou antes que o aparelho caísse no chão.

Peguei minhas sandálias, desesperada para sair dali. Eu


precisava sair dali o quanto antes.

— Ada, espere, por favor... — veio atrás mim, mas acelerei os


passos em direção a porta.

— Me deixa em paz. — Me desvencilhei de seu toque, sentindo


asco dele... de mim.
O desespero em seus olhos me cortou, mas minha mágoa se
sobressaia a qualquer outro sentimento.

— Me deixe explicar, por favor... — pediu, implorando. — Só


me dê um tempo para vestir uma roupa, aí conversamos.

Funguei, esforçando-me para controlar o choro, mas era


impossível. O lindo castelo, que eu construí ao longo das últimas

semanas, estava ruindo bem diante dos meus olhos.

— Eu só preciso saber de uma coisa — murmurei, com a voz


embargada. — A ideia foi sua, ou do seu sócio?

— Ada...

— A ideia de me seduzir foi sua, ou do seu sócio? — repeti a


pergunta, entre dentes.

Ele não disse nada.

E seu silêncio foi como arrancar meu coração.

A dor me devastou ao meio.

— Fique longe de mim, Jonathan — murmurei, aos prantos.

Mesmo sob protestos, consegui abrir a porta e sair.

Praticamente corri.

Pena que a dor me acompanharia para onde quer que fosse.


Jonathan

O chão se abriu sob meus pés no exato momento em que Ada


saiu do quarto correndo de mim como se eu fosse o próprio demônio.

Talvez eu fosse mesmo, considerando tudo o que cogitei a fazer


com ela, e apenas pelo “poder”.

Desesperado, deixei a toalha cair e fui até o closet para escolher


uma peça de roupa; precisava ir atrás dela. Precisava me explicar e

fazê-la entender que tudo ficou para trás no instante em que me


apaixonei, e que nada mais me importava, além do fato de estar com
ela em meus braços.

Eu não me importava mais com essa porra de resort.

Só queria ela.

Após estar pronto, peguei minha carteira e meu celular. Dei uma
breve fuçada no aparelho, lendo o teor das mensagens que o Richard
mandou para mim. Fúria invadiu minha corrente sanguínea com a

certeza de que o idiota foi o responsável por toda aquela merda.

Porra! A quem eu queria enganar? Se havia um culpado em toda


essa história, este era eu.

Guardei o aparelho no bolso e, em seguida, marchei em direção

a porta do quarto, esperançoso de encontrar Ada e me acertar com ela.

Pediria perdão de joelhos se fosse preciso.

***

Passei o dia todo procurando, em toda Ilha, mas não encontrei


nenhum sinal da Ada. O quiosque estava fechado, e sua casa também.
A procurei até no seu esconderijo de infância, local em que me levou
para conhecer, dias antes, mas também não a encontrei lá.

Meu desespero apenas aumentou, porque eu não fazia ideia do


que estava acontecendo com ela. Ada não estava com o psicológico
bom quando deixou meu quarto, horas atrás.

A culpa e o peso de todas as minhas atitudes recaíram em meus


ombros, arrancando meu ar. Tudo o que minha mente me mostrava era
a imagem da Ada, aos prantos e, sua decepção me partindo ao meio.

Tão diferente do seu olhar de satisfação na nossa noite juntos...


Não foi minha primeira vez, obviamente, mas senti como se
houvesse sido, porque foi tão especial quanto. Nenhuma outra já me

fez sentir o prazer da entrega; Ada, mesmo sem qualquer experiência


me enlouqueceu somente com o som de seus gemidos. Ela era linda.

E minha...

Não aceitaria perdê-la sem lutar.

Após ter esgotado todos os lugares os quais acreditei que ela


pudesse estar, decidi voltar para sua casa. Me sentei na porta e ali
fiquei, esperando.

***

Acordei no susto, piscando para raciocinar sobre o que acontecia


ao meu redor. Meu corpo estava todo dolorido, visto que acabei
dormindo na porta da casa da Ada. A luz do sol feriu meus olhos, mas
me esforcei para ficar de pé, esticando meus músculos.

Logo, me deparei com Ada abrindo o portão. Porém, ela não


estava sozinha.

Travei o maxilar, incomodado com a constatação óbvia de ela


ter passado o dia e a noite com ele; por isso não consegui encontrá-la.

— Ada... — me aproximei, mas seu amigo se atravessou em sua


frente como um escudo protetor.
— Eu te avisei que se a magoasse, acabaria com você! —
Apontou o indicador contra mim.

Em seguida, esticou o braço e meteu um murro na minha cara.


Como eu não estava preparado, não pude desviar do golpe. O soco foi
certeiro no meu nariz e boca.

Ainda no chão, o filho da puta me segurou pelo colarinho da

camisa e me socou de novo, dessa vez no olho. Eu conseguia ouvir os


gritos da Ada, que segurava seu amigo para o afastar de mim.

Mesmo zonzo, fui capaz de me levantar e me jogar contra ele


como um trator, derrubando-o no chão.

— Não tenho culpa se ela me escolheu, seu idiota! — exclamei,


acertando seu estômago com meu punho.

Impulsionando o corpo, o imbecil voltou a atingir meu rosto


com tanta força que fiquei aéreo por um segundo.

— Tem razão! Ela escolheu você, mas passou o dia e a noite


toda chorando por sua causa — rebateu, fazendo meu coração doer.
Aquele foi o pior golpe que ele poderia ter me dado. — Que porra de
homem é você que faz uma garota como a Ada chorar? — berrou,
enquanto eu ainda estava me rastejando pelo chão.

Uma rápida olhada para cima me possibilitou ver a Ada aos


prantos, implorando para que seu amigo se afastasse de mim.

Minha garota estava devastada.

Fiquei de pé, esfregando o rosto ferido.

Olhei dele para Ada, que não dizia nada, apenas chorava. O
simples detalhe de vê-la se esgueirando para trás das costas dele fez

com que eu percebesse o estrago que causei em seu coração e em sua


confiança em mim.

E eu nem sequer podia culpá-la.

— Saia daqui... — rugiu, ameaçador —, ou juro que não vou


parar até ver seu sangue se esvaindo.

O ignorei e me foquei na Ada, magoada.

Meus olhos nublaram com lágrimas de dor, embora não


permitisse que caíssem.

— Sinto muito — soprei para ela. — Eu realmente sinto muito.

Como ela escondeu o rosto atrás das costas de seu amigo,


entendi que não teria oportunidade ali.

Eu estava sobrando.

Perdi aquela batalha.

Mas não desistiria.


Não desistiria de reconquistar a única garota que conseguiu tocar
meu coração.
Ada

Pouco mais de vinte e quatro horas.

Esse era o tempo que fazia desde que caí do cume mais alto e,
simplesmente, me esborrachei no chão, sem anestesia.

Não tive aviso algum para poder me preparar.

Tudo em mim doía, e eu não sabia o que fazer para mudar isso.
Queria voltar no passado e desfazer o que havia feito, mas não podia.

O único jeito era respirar fundo e continuar em frente.

Mesmo sentindo meu coração em incontáveis pedaços e tendo


de colar os caquinhos.

Um a um...

— O que mais posso fazer por você, Ada? — perguntou Yadiel,


em tom desesperado.
Ele e Jonathan acabaram de protagonizar uma discussão feia em
frente à minha casa, e eu nem pude evitar. Mal tinha forças para

continuar de pé, quem dirá para apartar uma briga.

Olhei para meu amigo, me esforçando para parar de chorar; já


me bastavam as últimas horas que passei nos braços dele fazendo
somente isso. Yadiel foi a única pessoa que veio a minha mente

quando saí do hotel, perdida sobre para onde ir. E eu sabia que
precisaria me refugiar em um lugar que Jonathan não pudesse me
encontrar; ao menos naquele momento.

— Você foi meu escudo nas últimas horas, e eu não podia estar
mais grata por ter você como amigo, Yadiel. — Fui até ele e o abracei
apertado, sentindo os seus acariciando minhas costas.

— Você sempre terá a mim, Ada. Sempre — garantiu. Em


seguida, me afastou para poder encarar meu rosto inchado. — Serei o

que você precisar que eu seja apenas para fazê-la sorrir. — Tocou meu
rosto com carinho.

De repente, suspirei.

— Por que não me apaixonei por você? — perguntei, chorosa.


— Estou me sentindo uma idiota ao ter confiado nele.

Yadiel ergueu meu queixo, forçando meu olhar.


— O único idiota em toda essa história foi ele, que preferiu
brincar com você, ao invés de levá-la a sério — afirmou. — Não ouse

se desmerecer por causa daquele infeliz.

Respirei fundo, assentindo com a cabeça. As lágrimas não


paravam de cair de meus olhos.

Eu estava num misto de sentimentos e emoções.

Magoada.

Constrangida.

Ferida.

Jonathan foi o único a quem entreguei meu coração, porém, o


descartou como se não fosse nada.

— ... então, você poderá ir embora comigo — pisquei, ao ouvir a


voz do Yadiel.

— O que disse? — perguntei, por pegar a frase pela metade.

Ele sorriu, levando minhas mãos aos seus lábios para beijá-las.

— Eu falei que o convite para você ir embora comigo ainda está


de pé — repetiu, sério. — Poderemos ter um futuro, juntos, fora dessa
Ilha. Somente eu e você. — Não falei nada. — Só... pensa.

Assenti com a cabeça, incapaz de comentar qualquer coisa que


fosse.

— Agora vou deixar você sozinha — argumentou. — Mas saiba

que poderá me ligar a qualquer hora que quiser. E se aquele idiota


ousar chegar perto de você outra vez, me avise, porque acabo com ele
— rugiu, fervendo de raiva.

Nem o culpava por isso, pois Jonathan merecia todo aquele ódio.

Após se despedir, Yadiel foi embora.

Quando finalmente me vi sozinha, a realidade do que aconteceu


se fez mais presente em minha mente e, tudo o que me vi fazendo foi
arrastar minhas costas contra a madeira da porta e ficar no chão,
chorando.

Era um choro de decepção.

De dor.

De coração ferido.

Jonathan entrou na minha vida para me mostrar o amor, mas


também para me estragar para o mesmo sentimento.

***

Passei o dia todo em casa, considerando que não estava em


condições de sair nem de trabalhar.
Jonathan esteve ali diversas vezes, mas ignorei seu chamado em
todas elas. Não estava em condições de olhar para ele; não conseguia

enfrentá-lo ainda.

Precisava me reerguer emocionalmente primeiro.

Beirava às nove da noite quando saí da cama sentindo meu


estômago roncar por comida; passara o dia todo sem comer nada.

Então meu corpo já estava reclamando.

Yadiel me ligou algumas vezes, perguntando como eu estava e


se estava precisando de algo. Sempre preocupado com meu bem-estar.

Caminhei em direção a cozinha, porém, parei com o som de


batidas na porta.

Travei no lugar.

— Ada?

Era ele...

Meu coração parou de bater.

— Ada, eu sei que está aí — insistiu. — Por favor, vamos


conversar — pediu.

Mas eu continuei em silêncio.

Lentamente, caminhei até a porta e espalmei a madeira, como se


minha alma ansiasse abraçá-lo.

— Eu quero me explicar... — continuou a falar. Sua voz estava

quebradiça, eu podia sentir — Nada do que vivemos foi uma mentira,


Ada. Eu me apaixonei por você de verdade, mesmo tendo lutado
contra esse sentimento.

Sem controlar o choro, permiti que as lágrimas descessem livres.

— Eu amo você — insistiu. — Amo você. Amo você. Amo


você...

Me virei de costas contra a madeira da porta, fechando os olhos


enquanto o ouvia se declarar para mim, repetidamente.

Era difícil acreditar... assim como também era difícil aceitar que,
numa questão de horas, tudo o que vivemos se desmoronou como num
passe de mágica.
Jonathan me devastou. Me destruiu. E eu temia não ter

forças para me reerguer.


Jonathan

Três dias depois

— Que cara de bunda é essa? — perguntou Richard, assim que


entrou em meu quarto de hotel. Fazia alguns minutos que ele chegou
na Ilha. — Meu Deus! — Começou a rir. — E esse olho roxo aí? —
Apontou em minha direção.

Deixou a pequena mala no canto do cômodo, enquanto retirava o

paletó.

— Uma pequena discussão com um morador, nada de mais —


resmunguei, dando de ombros, sem querer detalhar o que realmente
aconteceu.

— Sei... — desconfiou, enquanto sacudia a cabeça. — E então?


O que temos? — Se sentou na poltrona ao lado da minha. Estávamos
em frente a uma pequena mesa, perto da janela. Beirava às nove da

manhã. — Quais são as novidades? — Serviu-se com um pouco de

conhaque. Em seguida, pegou a papelada que estava sobre a mesa. —


Você ainda não me disse em que pé está o seu plano de fazer a tal
garota assinar a venda.

Travei o maxilar, tentando me controlar. Eu não queria ter de

falar da Ada. Não queria nem sequer mencionar o nome dela ali, com
ele.

— Eu já falei que a Ada não vai vender as terras — rugi, em tom


seco. — Onde estão os documentos com as correções do projeto? —
intimei, referindo-me ao fato de ter pedido para que ele se reunisse
com nossa equipe de engenheiros e arquitetos para mudar tudo.

Richard me encarou como se eu tivesse duas cabeças.

— Isso é realmente sério?

— Por acaso estou rindo? — rebati, impaciente. — Quando foi


que me viu brincar a respeito dos meus negócios, Richard? Assim
como você, não gosto de perder dinheiro, muito menos, tempo —
complementei. — E já gastamos muito do nosso prazo aqui, tentando
comprar a área toda. Então, agora temos de nos contentar e trabalhar
apenas com o que temos.
Ele se levantou de modo abrupto, assustando-me.

— Vou atrás dessa garota e a farei assinar esse caralho de

documento...

Me levantei também, segurando seu braço.

— Não ouse se aproximar da Ada — sibilei, ameaçadoramente.

— Fique longe dela, ou vou me esquecer da nossa amizade e do


respeito que tenho por você.

Piscando, ele se soltou do meu aperto. Permaneceu me


encarando por alguns instantes, como se estivesse assimilando minhas
palavras.

— Comeu ela? — indagou, fazendo meus dentes trincarem.

Não segurei o ímpeto e o agarrei pela camisa.

— Não fale dela dessa maneira — rosnei. — Ada não é como as

garotas que você está acostumado...

— Que nós dois estamos acostumados, você quer dizer, né? —


cortou-me, gesticulando entre nós dois.

Suspirei, o soltando e me mantendo de costas para ele.

— Não acredito que se apaixonou — comentou, mas continuei


de costas, esforçando-me para voltar a ter controle sobre minhas
emoções. — A garota realmente te deu um chá de...

Me virei num rompante, pronto para socá-lo, mas o idiota ergueu

as mãos, como se estivesse se rendendo.

— Foi mal, foi mal... — desculpou-se, com um ar cínico. —


Prometo que não vou comentar mais nada.

— Ela está fora dos limites — apontei o dedo contra ele — Ada
está fora de joguinhos e de qualquer porra de ameaça. Deixe-a no
canto dela. Esqueça aquelas terras. Só a deixe em paz, Richard.

Eu realmente ansiava fazê-lo entender isso. Queria evitar trazer


mais sofrimento para minha garota, mesmo ela não querendo me ver
nem pintado de ouro em sua frente.

— Ok! — exclamou, sacudindo a cabeça. — Entendi, entendi.

Assenti, aliviado.

Estava exausto psicologicamente devido aos últimos


acontecimentos, e não precisava me indispor com meu sócio.

— Será que agora podemos -nos sentar e beber um pouco para


discutir a respeito de negócios? — quis saber, em tom ameno.

Olhei para ele, sorrindo fraco.

— Claro. — Gesticulei para a poltrona.


***

Foi difícil me manter afastado nos últimos três dias, mas entendi

ser necessário; Ada precisava de tempo para digerir tudo o que


aconteceu antes de me encarar, olho no olho.

Desde que aconteceu a briga com seu amigo, em frente à sua


casa, entendi necessitar dar esse tempo para nós dois; embora houvesse

ido atrás dela algumas vezes naquele mesmo dia, ansiando implorar
pelo seu perdão.

Respirei fundo, dispersando os pensamentos quando cheguei em


frente ao seu portão.

Ensaiei o que dizer várias vezes, me perguntando se seria


suficiente. Eu era um homem beirando os trinta anos, bem-sucedido
profissionalmente, mas, naquele momento, me sentia um fracassado
pelo que fiz com a única garota que conseguiu tocar meu coração.

Os dias que passei ao lado da Ada foram os melhores da minha


vida, e mal gastei dinheiro; nossa felicidade vibrava através de nós
dois apenas assistindo a um simples filme na TV.

E desde que ela descobriu tudo, meus dias se tornaram cinzas.

Vazios.

Eu precisava dela para me completar outra vez.


Precisava da minha garota.

Abri a portão da sua casa, devagar, me preparando para enfrentar

as consequências dos meus atos. Quando dei duas batidas na porta,


aguardei alguns segundos.

Ao abrir, Ada pareceu travar ao me ver ali.

Eu estava com um buquê de rosas nas mãos.

— Podemos conversar?

Ela não disse nada, entretanto, deu espaço e gesticulou para que
eu entrasse em sua casa.

Alívio brotou em meus poros.

Eu estava tão nervoso que sentia o suor me dominando.

Meu olhar se arrastou pelo seu corpo, com saudade. Eu queria


correr até ela e envolvê-la em meus braços para sentir seu calor e seu

perfume.

— Eu não estou aqui para me fazer de vítima, porque sei da


minha culpa; sei que fiz merda — comecei a falar, enquanto a
observava caminhar pelo ambiente, em silêncio. — Admito que no
começo minha única intenção com você fosse para fazê-la assinar a
papelada de venda da sua casa, mas, conforme fui conhecendo-a isso
mudou.
Observei quando pegou uma pasta parda de cima de um móvel.
Franzi o cenho, mas continuei falando:

— Eu me apaixonei por você, Ada, como jamais amei outra


mulher. Eu não me importo com mais nada, apenas com você.
Renuncio a qualquer coisa para ter você de volta. Qualquer coisa para
ter o seu perdão. — Meus olhos se tornaram úmidos. — Por favor, me

dê mais uma oportunidade. É só disso que preciso para lhe provar meu
amor, para lhe provar que sou o homem certo a estar do seu lado.

Séria, ela caminhou até mim e estendeu a pasta.

Lhe ofereci o buquê, mas ela apenas olhou para minha mão,
deixando nítido que não aceitaria as rosas. Murchei, mas não insisti.

Peguei a pasta de suas mãos e abri.

Arregalei os olhos na mesma hora.

— Mas isso é...

— Você venceu, Jonathan — cortou-me, me forçando a encarar


seus olhos úmidos, embora as lágrimas não estivessem jorrando. Eu
estava segurando os documentos da venda das suas terras. — Essa casa
agora é sua. — Gesticulou ao redor. — Era disso que tudo se tratava,
hum? Todo o seu empenho em me seduzir...

— Ada, por favor, isso não é... — tentei tocá-la, mas se afastou
num rompante.

— Não me toque! — exclamou, tão magoada que cheguei a

sentir sua dor. — Você perdeu esse direito no momento que descobri
que tudo o que vivemos foi uma mentira, um joguinho sujo para me
ludibriar e, no final, conseguir minha assinatura. — Cruzou os braços,
nervosa.

— Eu me apaixonei por você — insisti.

— Não acredito! Não acredito! — rebateu, alterando o tom de


voz. — O seu sócio fez questão de me explicar tudo, Jonathan, ele me
contou como você pensou em tudo direitinho, em como me
conquistaria para depois conseguir minha assinatura. Você é um
cretino. Aliás, vocês dois. Quero mais é que engulam essa Ilha e se
afundem com todo esse dinheiro.

— Ada, me dê outra oportunidade — implorei, me ajoelhando

em sua frente. Em seguida, rasguei os documentos assinados. Meus


olhos já estavam lacrimejantes naquele momento. — Não tem um dia,
desde que você saiu do meu quarto daquele jeito, que eu não me
arrependa amargamente de todas as escolhas péssimas que fiz. Em
toda minha vida procurei por satisfação através de negócios
financeiros, entretanto, não sabia que, no fim das contas, eu estava
procurando por você. Era você a peça que faltava na minha vida para

me fazer feliz. Para me fazer completo — declarei. — Não existe

dinheiro que pague a felicidade que é ter você em meus braços.

Chorando tanto quanto eu, ela enxugou o rosto, fungando e


inspirando forte.

Em seguida, rumou até a porta e a escancarou.

— Infelizmente, suas palavras soam vazias para mim, Jonathan


— murmurou, chorosa. — Vou continuar amando você, por esse
sentimento ser algo que não tem como arrancar do peito, mesmo eu
desejando isso. Por favor, se realmente acredita no que diz sentir por
mim, vá embora e me deixe em paz. Me esqueça. Esqueça que existo.

Enxuguei minhas lágrimas, sentindo meu coração despedaçado.

Reunindo toda minha dignidade, me coloquei de pé.

Suspirei e dei alguns passos até ficar frente a frente com ela.
Ambos estávamos magoados e feridos.

— Eu prometo que vou fazer de tudo para você voltar a me olhar


com aquele mesmo brilho de antes — soprei. — Brilho de admiração.
— Ergui a mão para tocar seu rosto, mesmo sem saber se ela aceitaria
meu toque ou não. — Amo você, Ada. — Deslizei o dedo por sua
bochecha. — E continuarei amando para sempre, mesmo que não me
queira mais em sua vida.

Visualizei seus olhos formando novas lágrimas, e essa mera

visão me forçou a sair de lá, pois vê-la chorar estava me matando


gradualmente. Ainda mais por saber que seu sofrimento era por minha
causa.

Caminhei sem rumo, perdido em sensações e emoções. Todo

meu corpo fervia de raiva de mim, do mundo... do Richard.

A frustração do que acabara de acontecer não chegava nem perto


da fúria que estava sentindo pelo meu sócio naquele momento.

Ele não tinha o direito de se envolver num assunto que eu


avisara para ficar longe. Não tinha o direito de se meter na vida da Ada
daquele jeito, enchendo a cabecinha dela com coisas que serviram
somente para magoá-la ainda mais.

Não.

Eu não aceitaria isso.


Jonathan

Meus nervos estavam à flor da pele quando cheguei ao hotel. Eu


não fazia ideia se encontraria o Richard no quarto dele, mas foi o
primeiro lugar que procurei.

— Richard? — Comecei a bater na porta, impacientemente. —


Richard? — Minha voz foi se alterando conforme batia a madeira com
cada vez mais força.

A fúria evaporava através de mim como ondas.

Depois de alguns minutos, quando tive certeza de que ele não


estava ali, rumei para o hall do hotel. Conversei com alguns
funcionários da recepção, em seguida, segui na direção que indicaram.
Disseram que, provavelmente, Richard estaria jogando golfe.

Longos minutos depois, peguei um dos carrinhos disponíveis e


comecei a circular pelo amplo espaço à procura do homem que exauriu

a mínima parcela de chance que eu tinha de conseguir o perdão da


Ada. Eu não sabia sentir outra coisa por ele a não ser raiva.

Richard e eu nos conhecíamos há alguns anos, porém, nunca


parei para analisar seu caráter. Nossa amizade se construiu em cima de
negócios financeiros e encontros esporádicos recheados de muita

bebida e mulheres, então, isso me impediu de enxergar seu verdadeiro


“eu”. E ele era um homem arrogante, implacável e cruel.

Assim que o avistei, freei o carrinho e dei um pulo para fora.

Ao me ver, sorriu para mim enquanto se preparava para dar uma


tacada.

— Oh, Jonathan! — exclamou, sorrindo. — Estava agora


mesmo contando aos meus colegas de jogo que nós dois estamos com
um projeto de resort em andamento e...

Não o deixei terminar de falar, porque calei suas palavras com


um murro. Meu punho atingiu seu rosto com tanta força que senti
meus dedos doerem. O golpe fez com que ele caísse no chão.

— Eu falei que o queria longe dela, porra! — berrei, esfregando


a boca e zanzando de um lado ao outro. Estava fervendo. — Você a
procurou — apontei. — Você a ameaçou. Você inventou mentiras.
As pessoas ao nosso redor se dispersaram, causando um pequeno
tumulto, mas ignorei tudo. Meu foco era o Richard e mais ninguém.

— Está falando daquela vadia? — perguntou, ainda no chão,


limpando o sangue que escorria da sua boca.

Voltei a me aproximar num rompante, chutando seu abdômen.

— Ada não é nenhuma vadia, caralho! — gritei. — Ela é mil


vezes melhor do que eu e você juntos.

Conseguindo se desvencilhar de mim, o filho da puta se levantou


e avançou contra mim, me derrubando no chão também.

— Você não sabe mais o que está falando, Jonathan, então


precisei interferir — declarou. — Percebi que a vadiazinha mexeu com
sua cabeça, e eu não podia permitir que uma simples boceta estragasse
nossos planos, porra!

Continuamos nos engalfinhando no chão, entre chutes, socos e


xingamentos.

Eu não queria ouvir mais nada.

Só queria descontar nele toda minha raiva e frustração.

Depois que nós nos cansamos, ambos permanecemos deitados


de barriga para cima, um ao lado do outro.
Eu podia ouvir o barulho áspero de nossas respirações.

— Só fiz o que fiz para te proteger de uma oportunista — disse

ele, quebrando o silêncio. — Aquela garota, por mais linda que seja,
não passa de uma espertalhona. Assim que a conheci percebi suas
intenções; se recusou a vender a casa, porque enxergou uma
oportunidade melhor quando viu você. Não percebe isso? Eu te protegi

de um golpe.

Fechei os olhos, indignado com o que ouvia.

— Cala essa boca, Richard — sibilei, me sentando. Estava


cansado não só fisicamente, mas emocionalmente também. — Você
não pensou em mim porra nenhuma, aliás, a única pessoa que você se
preocupa é consigo mesmo. — Sacudi a cabeça. — Demorei a
enxergar isso, demorei a enxergar o homem que você é por trás dessa
máscara de bonzinho. — O encarei. — Você é podre.

Enxerguei um brilho maldoso tomando conta de seus olhos.

— Não se esqueça de que somos quase o espelho um do outro


— rebateu, entre dentes. — Você fica aí, em cima desse pedestal de
príncipe encantado, mas foi o primeiro a tentar enganar a garota. O que
pensa que falei para ela, Jonathan? Por acaso acredita realmente que
inventei alguma mentira?
— Não, eu sei o que fiz — revidei. — Conheço meus erros e
aceito as consequências. O problema foi o motivo por trás de sua

atitude com ela, quando eu pedi para deixá-la em paz. Você não
respeitou minha decisão, não respeitou meu pedido. — Expliquei, me
colocando de pé. Sentia-me todo dolorido. — E com tudo isso,
descobri que você é alguém que não quero ter por perto nunca mais.

Não é confiável.

Comecei a me afastar, mas sua voz me parou:

— O que quer dizer com isso?

Me voltei para ele.

— Nossa parceria acaba aqui — ditei, sério. — Não quero ter


mais nenhum negócio com você. A partir da próxima semana entrarei
em contato com meus advogados para revogarem nossa sociedade;
pagarei a quantia que for apenas para me ver livre de você. Para

sempre!

Visualizei sua ira, misturada ao espanto.

— Você vai se arrepender disso, Jonathan — ameaçou, entre


dentes. — Vai se arrepender de me descartar dessa maneira.

Apenas mostrei o dedo do meio para ele.

Não tinha mais forças para brigar. Aliás, não tinha forças para
fazer mais nada, além de me afastar dele e de toda sua aura negra.
Ada

“Ele mentiu para você em todos os níveis que você pode


imaginar, garota. Então, por que não faz um favor a si mesma e assina
logo esse documento de venda?”

As palavras cruéis proferidas pelo sócio do Jonathan não


abandonavam minha mente desde que ele visitou meu quiosque na
tarde do dia anterior. Na ocasião, tentei recusar conversar com ele,

porque queria distância dele e de tudo que me lembrasse ao Jonathan,


mas o homem foi tão incisivo que não consegui escapar. Minha dor, já
torturante, se intensificou com tudo o que fui obrigada a ouvir.

Em contrapartida, a visita do Jonathan mais tarde naquele


mesmo dia, me deixou confusa. Era como se eu estivesse em cima de
um muro tendo de escolher entre o certo e o duvidoso. E, infelizmente,
a opção de escolher o Jonathan ainda era muito duvidosa para mim.
Presenciar seu choro, alegando que me amava de verdade foi
algo que partiu meu coração ainda mais, contudo, o meu estava tão

ferido que era impossível enxergar algo além da minha própria mágoa.
E já estava mais que na hora de eu pensar em mim. Me escolher antes
dos outros.

Mesmo Jonathan tendo rasgado o documento de venda, eu tomei

a decisão de que venderia. Yadiel continuava insistindo para eu ir


embora com ele, já que decidi vender minha casa, mas eu não lhe daria
esperanças. Não o amava do jeito que ele almejava, e um
envolvimento entre nós dois só nos causaria dor.

E eu não queria fazê-lo sofrer.

Precisava me reerguer, e faria isso sem ferir ninguém.

Dispersei os pensamentos quando ouvi uma batida na porta.


Olhei para o relógio notando beirar às sete da noite. Estava me

preparando para me aninhar entre as cobertas, para assistir a um filme.

Mesmo sem fazer ideia de quem fosse, mas desconfiando que


pudesse ser o Jonathan, rumei até a porta e a abri.

Meus olhos se arregalaram quando me deparei com o tal sócio


dele; não me lembrava do nome.

Travei o maxilar, incomodada com sua visita indesejada.


— Não sei o que quer, mas não estou mais interessada em nada
que tenha a me dizer. — Tentei fechar a porta na cara dele, mas o

infeliz forçou a mão na madeira impedindo meu ato.

A porta acabou batendo contra meu rosto, bem em meu nariz,


que começou a sangrar na hora.

— Ai! — O encarei, assustada. Pressionei meu ferimento.

— O que você quer ou deixa de querer não me interessa, vadia


— sibilou, entrando e fechando a porta atrás de si com um baque forte,
fazendo-me pular. Seus olhos eram diabólicos sobre os meus. — Você
já me causou tantos problemas que nem consigo enumerar — deu
risada, mas foi um som bem sombrio. Comecei a dar passos para trás,
com medo. As lágrimas já desciam de meus olhos descontroladamente.

— Por favor, saia da minha casa — pedi, num murmúrio. — Ou


vou chamar a polícia.

Sua risada aumentou.

— Sabe qual é o problema de vocês, pobres? — perguntou,


debochado, enquanto olhava ao redor, com desdém. — Pensam que
conseguem justiça. Pensam que a polícia vai escutar seus argumentos
quando, na verdade, o dinheiro sempre fala mais alto. Nós mandamos.
— Apontou para si mesmo.
Chegou mais perto de mim, todavia, comecei a correr pela casa.
Gritei quando seu braço se fechou em minha cintura e, em seguida,

jogou-me contra o sofá, forçando o corpo enorme no meu. Me


esperneei, mas não fui páreo para sua força masculina.

— Você acabou com a minha vida, sua puta! — berrou contra


meu rosto ferido. Senti o odor de álcool vindo dele. — Por sua causa, o

Jonathan desfez a sociedade comigo. Por sua causa, ele mudou da água
para o vinho e se transformou em um homem fraco. Você fez isso com
ele. Você estragou tudo, porra!

Minha respiração estava ruidosa.

— Por favor... me solte — implorei, repleta de pavor.

Olhou para meu rosto, descendo para meus seios. Eu estava


usando um conjunto de baby doll, então a parte de cima era de alças
finas.

Pavor invadiu minhas entranhas.

— Agora preciso de algo para compensar todo meu prejuízo —


sibilou, descendo a boca para tocar minha pele com sua língua. Senti
minha bile subir. — Nada mais do que justo eu provar do que o
Jonathan provou, hum? — Mordeu meu pescoço, causando-me asco.

Minhas lágrimas desciam livres.


— SOCORRO! — comecei a gritar, num esforço de me soltar de
seu aperto em meus braços, mas era em vão. — SOCORRO!

ALGUÉM ME AJUDA!

Uma de suas mãos soltou as minhas — no alto da minha cabeça


— para pressionar minha boca.

Voltou a trazer seu rosto sobre o meu; seus olhos pareciam

possuídos por uma fúria homicida, fazendo meu sangue gelar. Entendi
que aquele homem estava disposto a tudo para se vingar.

E, infelizmente, seu alvo era eu.


Jonathan

— Eu ainda não sei quando pretendo voltar, mas estou me


esforçando para adiantar algumas coisas aqui. — Esfreguei o rosto,
sentindo a frustração me dominar. — Por quê? Tem algo para mim?

Desci as escadas, seguindo em direção ao bar do hotel.

Minha assessora pessoal, Anne, continuou a encher minha


cabeça com todas as questões que precisavam da minha atenção

imediata; mesmo eu ansiando ignorar tudo e me focar somente na


minha fossa, não poderia. Eu ainda continuava sendo um homem rico,
com uma gama de empreendimentos, onde muitas famílias dependiam
de mim com seus empregos.

Cheguei ao bar, e já fui logo pedindo uma bebida.

Enquanto ouvia o tagarelar da Anne, meus olhos se arrastaram


para um canto do lugar, pois uma agitação diferente chamou minha

atenção. Tirei o celular do ouvido para poder ouvir melhor o que


acontecia ao meu redor.

Semicerrei os olhos ao visualizar a figura do Richard, que estava


sendo arrastado para fora do espaçoso bar. Eu nem fazia ideia de que
ele ainda estava na Ilha, considerando que fazia quase dois dias desde

que brigamos e desfiz nossa parceria.

“Vocês não sabem com quem estão mexendo!” “Não fazem


ideia do que sou capaz!” “Eu vou me vingar de todo mundo, porra!”

Seus gritos podiam ser ouvidos por todos ali. Fiquei espantado
com seu descontrole.

Era surreal quão visível sua verdadeira face ficou para mim.
Como demorei para enxergá-lo como ele realmente era? Um homem
arrogante, ruim?

Eu não me considerava um poço de perfeição, longe disso, mas


sempre busquei ser justo com as pessoas, independentemente de
qualquer coisa. Meus pais sempre me disseram que uma pessoa não
tinha de esbanjar dinheiro para mostrar seu real valor; apenas precisava
fazer isso com gestos e atitudes.

E era justamente por isso que eu me sentia tão envergonhado


pelo que cogitei fazer com a Ada no começo da nossa relação. Eu
cogitei brincar com ela, e nem que eu tivesse a vida toda, jamais

conseguiria amenizar a culpa que pulsava em meu coração e mente.

O telefone em minha mão começou a tocar outra vez,


assustando-me. Era minha assessora. Provavelmente, desligou a
chamada anterior e agora estava me ligando de novo para

continuarmos nossa conversa.

Rolei os olhos, impaciente, mas precisava atender.

***

Fiquei pouco mais de vinte minutos conversando com a Anne


até desligar. Contei sobre minha quebra de contrato com o Richard,
deixando-a ciente de que, provavelmente, o filho da puta não perderia
uma oportunidade sequer de arrancar quanto dinheiro ele pudesse de
mim. Expliquei-lhe para se reunir com a equipe de advogados para

que, juntos, bolassem uma estratégia.

— Mais uma dose, senhor? — perguntou o barman quando viu


meu copo vazia.

Fiquei olhando para o copo por poucos instantes, me lembrando


do escândalo do Richard de poucos minutos.

Algo em minha mente estalou com as palavras que ele proferiu


enquanto estava sendo escorraçado.

“Eu vou me vingar de todo mundo, porra!”

Senti meu corpo todo gelar, pois pensei na Ada.

— Não, coloca na conta — falei ao barman, me levantando e


saindo do bar, praticamente, correndo.

Eu precisava ir atrás da Ada para garantir que ela ficasse bem.

***

Quando estava perto da casa dela, comecei a escutar seus gritos,


deixando-me desesperado. Acelerei os passos, perturbado com a ideia
de que algo ruim estivesse acontecendo.

Acabei esbarrando com seu amigo no portão. Ambos nos


encaramos com fúria, mas nada era mais importante do que a
segurança da Ada.

— Você também ouviu — disse ele.

Não foi uma pergunta, mas respondi mesmo assim:

— Sim, — respondi, arregaçando o portão e rumando para a


porta, que estava trancada.

— ADA? — gritou seu amigo, zanzando de um lado ao outro.

— ADA? — foi minha vez de gritar.


Entretanto, não me contive e dei um chute na porta, que se abriu
facilmente por ser um material simples.

Nada me preparou para a visão que tive. Richard, o homem que


coloquei dentro da minha casa, o homem que coloquei na minha vida
estava em cima da garota que eu amava, tentando violentá-la como um
verdadeiro animal.

Aliás, nem mesmo um animal se comportaria daquela maneira


tão... inescrupulosa.

Vi vermelho.

Nada mais ficou no meu caminho naquele momento, além do


meu alvo.

Marchei até ele, que soltara a Ada; ergueu as mãos,


resmungando algo que não dei a mínima. Estiquei o braço e meti um
murro bem em cima do seu nariz, derrubando seu corpo sobre um

móvel, que se espatifou. Cada vez que ele tentava se levantar, era mais
um tombo causado pelos meus golpes.

Eu não conseguia parar, porque quanto mais o agredia mais eu


queria feri-lo.

Eu queria fazê-lo pagar por todo mal que causou a Ada.

Nenhuma mulher merecia aquele tipo de agressão. Nenhuma.


Minhas mãos estavam doloridas quando parei de socá-lo; eu
estava montado sobre ele, deitado no chão. Seu rosto estava todo cheio

de sangue.

Quando me levantei, sentia-me tremendo de cabeça aos pés,


todo cheio de adrenalina. Olhei ao redor, me esforçando para voltar a
ter controle sobre meus sentidos; então eu ouvi... Ada não parava de

chorar nos braços do Yadiel.

Minha respiração estava ruidosa quando caminhei até ela,


tropeçando em algumas coisas quebradas pelo chão.

— Ada...

— Vá embora, Jonathan — pediu, aos prantos. — Por favor, vá


embora...

Meu coração, já destroçado, se partiu em incontáveis


pedacinhos.

Assenti com a cabeça, compreendendo sua dor; sua necessidade


de me querer longe. Fui o único causador de tudo aquilo, então
merecia seu desprezo.

Engoli o choro e respirei fundo.

— Eu prometo que vou consertar as coisas — falei, baixo. —


Vou consertar tudo.
Ela não disse nada.

Com isso, me afastei, seguindo para o lado de fora da casa.

Peguei meu celular e fiz uma chamada para Polícia. Se dependesse de


mim, Richard passaria longos anos dentro de uma maldita cela de
prisão.
Ada

Três meses, dois dias e algumas horas.

Eu me sentia uma verdadeira idiota por estar contando, mas era


mais forte do que eu. Não conseguia controlar.

Era difícil, porque Jonathan continuava no meu cotidiano,


embora de longe. Ele não voltara a me procurar, o que de certa forma
causou-me uma dorzinha constante no peito. Mandá-lo se afastar foi

uma decisão minha, então ele somente respeitou meu pedido.

Meus dias voltaram no ritmo de antes, e eu demorei a encontrar


meu equilíbrio depois de tudo o que me aconteceu; ao menos uma vez
por semana passei a frequentar uma terapeuta para me ajudar a superar
todo terror que sofri nas mãos do Richard. Não foi fácil aceitar, mas
agora entendia que a culpa não foi minha.
A mulher sempre seria a vítima.

Aliviava-me saber que o mau-caráter foi preso e extraditado para

seu país; em minha última conversa com Jonathan, ele contou que faria
o que estivesse ao seu alcance para que seu antigo sócio mofasse na
prisão.

Meu coração doía sempre que me lembrava dele, sempre que o

via pela área. Surpreendi-me quando fiquei sabendo que Jonathan


presenteou todas as famílias, que ainda não tinham se mudado da Ilha,
com casas novas, além de empregos. A construção do projeto de resort
estava de vento em poupa, e com todas as facilidades da
autossustentabilidade. Descobri que boa parte dos funcionários era ali
da Ilha mesmo, o que me surpreendeu. Nos últimos meses, nossa
comunidade teve muitas melhorias, como, por exemplo, uma
Cooperativa de moradores, estação ecológica de tratamento de água;

painéis solares em todos os estabelecimentos, a coleta de lixo seletiva,


de modo a respeitar o meio ambiente. E tudo, graças ao Jonathan.

Não mantínhamos mais contato, mas eu o observava de longe.

Era estranho, porque, eu me sentia como em uma montanha-


russa de emoções, perdida em sentimentos. De um lado, estavam
minhas mágoas por tudo o que ele me fez; porém, por outro, o meu
amor por ele pulsava sem parar e, tão intensamente como no começo.

Não adiantava o que eu fizesse, Jonathan continuava morando

em meu coração, continuava me deixando em fôlego sempre que


nossos olhares se cruzavam quando ele aparecia perto do quiosque,
embora não ousasse se aproximar. Assim como eu o observava de
longe, ele também fazia o mesmo comigo.

Sorri, sozinha, me lembrando de uma tarde da semana passada


onde eu o vi jogando bola com alguns garotos; foi uma cena um tanto
quanto cômica, visto que Jonathan estava de traje social, na ocasião,
ele apenas dobrou as barras da calça. Eu nunca o vi daquele jeito... tão
leve. Parecia um menino sapeca.

Talvez, aquele ali fosse o verdadeiro Jonathan. O homem que


eu, por vezes, enxerguei quando estávamos juntos.

O sol já estava se pondo quando fechei o quiosque dando o

expediente por encerrado.

Como minha casa era perto, podia ir caminhando.

Alegrava-me sempre que me deparava com alguns conhecidos,


já que nem todos foram embora, devido as excelentes oportunidades
oferecidas pelo Jonathan. Yadiel foi embora no mês passado, porém,
ainda insistindo muito para que eu fosse com ele. Todavia, depois de
todos os acontecimentos, entendi que meu lugar era ali. E sempre seria.

Suspirei, tirando minhas sandálias e colocando meus pés direto

na areia. Eu adorava aquela sensação.

— Pega a bola, Ada! — ouvi um garoto dizer, jogando a bola


perto dos meus pés. Dei uma risada enquanto girava o corpo e
equilibrava a bola nos joelhos e a retornava para os pés.

Os moleques elogiaram, rindo e brincando entre si.

Sorrindo, me afastei deles e continuei meu caminho. Logo,


voltei a encarar o céu, notando que a lua estava prestes a sair. Essa
mera constatação me fez decidir ir até meu esconderijo; o lugar da
minha infância.

Longos minutos depois, cheguei ao local, já me preparando para


afundar meus pés na pequena piscina natural, mas me assustei quando
notei que o lugar não estava vazio. Havia alguém ali.

Jonathan ficou tão surpreso quanto eu, pois se levantou de modo


abrupto, parecendo nervoso com minha presença.

— Me desculpe — falou, baixando os olhos. — Não sabia que


você viria para cá... — deu um sorrisinho fraco. Ele estava usando uma
roupa diferente do costumeiro terno. — Mas vou embora.

Passou por mim, porém, tomei coragem e falei, sem me virar:


— Por que não fica?

Notei sua respiração ruidosa, assim como a minha.

— Tem certeza? — perguntou, depois que voltou a ficar em


minha frente. Eu ainda não olhei para ele diretamente, então quando o
fiz senti meu coração fraquejar. Tudo em mim, dentro e fora, desejava
abraçá-lo e encher sua boca de beijos.

Mas me contive.

— Podemos assistir ao nascer da lua, juntos — soprei, sentindo


meu coração bater depressa.

Preocupada em não conseguir resistir à tentação de tocá-lo,


desviei os olhos e me encaminhei para a beirada da piscina natural e
me sentei. Fechei os olhos rapidamente, obrigando meus sentidos a se
controlarem.

Logo, Jonathan me acompanhou, sentando-se ao meu lado.

Não disse nada.

E ficamos assim por longos minutos, num silêncio confortável,


ambos perdidos em pensamentos.

— Quando eu era pequena, minha mãe sempre dizia que noite de


lua cheia era a noite dos amores — falei de repente, quebrando o
silêncio. — Dizia que se olhássemos para a água com cuidado e
atenção poderíamos ver a silhueta da nossa alma gêmea.

Olhei para o Jonathan, encontrando seu olhar no meu. Até que,

desviou seus olhos para a água sob nossos pés. Fiz o mesmo.

Ambos encaramos nossos próprios reflexos; ele me olhou e eu o


olhei.

Sorri, emocionada.

Suspirei baixinho, voltando a encarar a lua.

— Sinto sua falta — admiti, sincera.

— E eu sinto a sua — rebateu ele, fazendo-me encarar seu rosto


lindo. Permanecemos assim por um tempo, perdidos em sensações.
Havia tanto a dizer... — Que tal começarmos de novo?

Pisquei, sem entender.

— Como assim?

Um sorriso lindo tomou conta de seus lábios.

— Prazer — estendeu sua mão para mim —, eu me chamo


Jonathan. Sou um homem rico, porém repleto de defeitos. Gosto de
acordar cedo e caminhar ouvindo música; também gosto de dançar,
apesar de você saber que não sou bom nisso — ambos sorrimos nesse
momento. — Sou romântico — me encarou — e capaz de tudo para
fazer a mulher que eu amo feliz, até mesmo me afastar para dar o

tempo que ela precisava.

Mordi os lábios nesse momento, olhando para baixo.

Meu coração estava batendo depressa quando toquei sua mão e


entrelacei nossos dedos.

— É um prazer conhecê-lo, Jonathan.

Sorrimos um para o outro. Ele levou minha mão aos lábios e


beijou os nós dos meus dedos.

Não havia pressa.

Tínhamos a vida toda pela frente.


Jonathan

Minhas últimas semanas foram bem produtivas, apesar da saudade que


me corroía por dentro, diariamente, pela Ada, que estava tão perto, mas, ao
mesmo tempo, tão distante. Mesmo sendo doloroso, eu consegui me manter
afastado, pois entendia que ela precisava desse tempo; precisava absorver e

assimilar tudo o que aconteceu entre nós.

Então me foquei no trabalho; foquei minha atenção em realizar


melhorias naquele lugar que, de certo modo, mudou minha vida
completamente, pois me trouxe a mulher que tocou meu coração.

Minha convivência com aquelas pessoas humildes me fez perceber que


a leveza da vida não podia ser comprada com dinheiro; eles me ensinaram
que a felicidade se conquista com coisas simples e boas atitudes. Meu

coração se tornava enorme cada vez que sentia o vibrar da gratidão em poder

ajudá-los a conquistarem seus sonhos e ideais. Meu pai sempre me dizia que
nós tínhamos de realizar grandes feitos na vida, mudar a vida de alguém,
positivamente. E eu estava me esforçando para isso.

Estava me esforçando para ser alguém melhor.

Um homem melhor.

E ali, enquanto admirava a mulher adormecida em meus lençóis, eu


não podia estar mais gratificado e orgulhoso de mim mesmo por fazer as
coisas certas dessa vez.

Dias atrás, quando Ada e eu nos encontramos no seu lugar secreto, meu
coração se encheu de euforia ao perceber que ela havia facilitado minha
aproximação. Na ocasião, desejei puxá-la contra mim para envolvê-la em
meus braços ansiosos, mas me contive. Eu sabia que ainda não era o

momento.

E eu continuaria esperando.

Por ela, eu esperaria o resto da vida se fosse necessário.

De repente, pisquei, dispersando os pensamentos quando vi que ela


começou a se remexer sobre a cama, toda manhosa.

Olhou de um lado ao outro, a minha procura, e sorriu assim que me


encontrou, sentado em frente a cama.

— Bom dia, dorminhoca — saudei, saindo de onde eu estava e me

jogando em cima dela. Enchi seu pescoço de beijos. Senti suas mãos em
minhas costas, deslizando-as para meus cabelos.

— Bom dia — devolveu, rouca. — Que horas são?

— Quase dez — murmurei, tocando seus lábios deliciosos com os


meus. — Está com fome? Posso mandar pedir seu café. — Continuei
beijando seu rosto. Eu não me cansava de beijá-la.

De acariciá-la.

De niná-la.

Sem controlar o desejo, desci o lençol um pouco, apenas para encontrar


seu mamilo e abocanhá-lo. Ada gemeu, entre risos.

— Céus, Jonathan! — exclamou, resfolegante. — Pare de ser tarado —

ralhou, brincando.

Soltei uma risadinha, mordendo seu mamilo antes de voltar a encarar


seus olhos lindos.

Ela estava sorrindo para mim.

Observar aquele brilho de felicidade em seu olhar me deixava com uma


sensação incrível, pois era exatamente o que eu queria.
— Não tenho culpa se você me enlouquece... — declarei, intenso.

Notei quando mordeu os lábios, nervosa.

Eu ainda a sentia um pouco reticente com algumas coisas dentro da


nossa relação, mas entendia que ainda era muito cedo para recuperar sua
confiança total. Seria um trabalho gradual.

— Venha, quero te mostrar uma coisa — pedi, saindo da cama.

Caminhei até a mesa em que estava anteriormente e me sentei,


esperando.

Ada se levantou e seguiu para o banheiro, onde fez sua higiene matinal.
Em seguida, veio para perto, usando um robe de seda. Ela ficava magnífica
na cor branca.

Sacudi a cabeça, espantando meus pensamentos luxuriosos, ou eu não


aguentaria a tentação de jogá-la contra a cama para fazê-la minha novamente.

— O que é isso? — perguntou, se colocando ao meu lado, com uma


das mãos em cima da mesa para observar toda a papelada.

— Este é o projeto do resort — expliquei, vendo seus olhos se


arregalarem. — E essa... — me levantei e fui até meu computador e o peguei,
clicando em uma tecla para iluminar a tela — é a maquete em 3D. — Voltei a
me sentar.

— Uau! — exclamou, maravilhada. — É incrível.


Comecei a narrar todos os detalhes, antigos e novos. Contei todos os
processos de mudança; o que foi retirado e o que foi acrescentado. Nos

últimos dias, como me preocupei em conversar com a comunidade, entendi


todas as falhas e carência de coisas simples, como, por exemplo, uma estação
de tratamento de esgoto.

— Eu sei que já disse isso, mas vou reafirmar diariamente se for

preciso — murmurei, arrastando a cadeira para trás e puxando Ada para se


sentar em meu colo, passando o nariz em seu pescoço —, eu quero que você
faça parte da minha vida. Quero que você me conheça — acariciei seu rosto.
— Que conheça o “Jonathan, empresário e empreendedor”, mas também o
“Jonathan homem”. Nunca vou me cansar de agradecer por ter me dado outra
oportunidade. Não faz ideia quão feliz você me fez, e saiba que farei tudo que
estiver ao meu alcance para fazê-la a mulher mais amada e realizada desse
mundo. Lhe darei somente o melhor.

Emocionada, ela amparou meu rosto e colou nossos lábios.

— Eu só preciso do seu amor para ser feliz, Jonathan — soprou,


intensamente, colando nossas testas. Seus olhos estavam fechados. — Você é
tudo o que eu preciso.

Meu coração se derreteu com suas palavras. Ela conseguia me


desarmar completamente.
De repente, coloquei-a sentada sobre a mesa a nossa frente, ao lado do
laptop. Me embrenhei entre suas pernas, mas sem intenções maliciosas,

mesmo que seu olhar implorasse por isso.

Levei a mão no bolso da minha calça e retirei a pequena caixinha de


veludo de lá, em seguida, abri diante de seus olhos lindos e expectantes.

— Eu sempre me considerei um tubarão na vida e nos negócios —

comecei a falar —, pois eis que esse tubarão — gesticulei para mim mesmo
— veio parar numa piscina, dentro de um recife, e assim encontrei uma
predadora a minha altura que, impiedosamente, com seu olhar e uma linda
alma arpoou meu coração me deixando totalmente em suas mãos — declarei,
visualizando suas lágrimas. — Você me fez totalmente seu, Ada. E me
sentirei ainda mais completo se você aceitar se tornar a minha esposa.

Trêmula, ela se inclinou e beijou meus lábios.

— Sim, eu aceito! Claro que aceito. — Encheu minha boca de beijos.

— Eu amo você demais.

Enxugou o rosto grosseiramente com as costas da mão, em seguida,


pegou o anel de brilhantes.

Depositei a caixinha sobre a mesa.

Segurando sua mão, deslizei a joia em seu dedo anelar, sentindo-me o


homem mais sortudo da face da terra.
Beijei a palma macia, depois puxei seu corpo no meu, reivindicando
sua boca deliciosa.

Eu não conseguia visualizar outra coisa em nosso futuro, juntos, além


de felicidade e amor.

Éramos a alma gêmea um do outro.

E eu mal podia esperar para iniciarmos nossa jornada.


Ada

Quatro anos depois

Acordei com uma carícia entre as pernas. Levei as mãos para baixo,
esfregando os cabelos do Jonathan, que decidiu iniciar meu dia de maneira
deliciosamente torturante.

Gemi enquanto mordia os lábios num esforço para não gemer tão alto,
o que era uma tarefa bem difícil. Meu marido adorava ouvir meus escândalos

sempre que nós fazíamos amor.

Jonathan e eu nos casamos há pouco mais de um ano, entretanto, a


cerimônia — realizada ao ar livre, na beira da praia — serviu somente para
reforçar nossos laços, as promessas que fizemos um ao outro quando ainda
estávamos nos conhecendo, aprendendo a confiar no amor que vinha
crescendo entre nós.
Nesse meio tempo, muita coisa aconteceu; Jonathan decidiu se mudar
para La Romana de modo definitivo, transformando a Ilha na principal sede

de seus negócios. Porém, óbvio que precisava viajar com frequência, visto
todos os empreendimentos que necessitavam de sua atenção e controle. Além
disso, ele amava viajar comigo, mostrar todos os lugares e me mimar de todas
as formas.

E eu adorava ser mimada por ele, o homem que me fazia feliz


diariamente.

— Oh, Jonathan... — gemi seu nome quando meu corpo se retorceu


com o orgasmo arrebatador.

Subiu com beijos pelo meu corpo seminu — pois eu tinha o hábito de
dormir de ‘lingerie’ — e pairou o rosto sob o meu. O sorriso em seus lábios
avermelhados era a coisa mais linda desse mundo.

— Bom dia! — exclamou, tomando minha boca de assalto, roubando

meu fôlego. Pude sentir meu próprio sabor em sua língua.

— Você sempre com essa mania de me beijar sem me esperar escovar


os dentes — ralhei, fazendo-o sorrir.

Desceu com beijos em meu pescoço.

— Eu já disse que não me importo. — Mordeu minha pele. Em


seguida, espalhou minhas pernas com as suas e me penetrou numa estocada
só, já que eu estava bem lubrificada graças ao recente orgasmo. Ambos
gememos com a conexão sem barreira. — Amo tudo em você, Ada. Tudo. —

Voltou a me encarar, com aquele brilho intenso que sempre me enfraquecia.


— Você é o grande amor da minha vida. É minha alma gêmea.

Desesperada, puxei sua nuca para mim de modo a me perder em sua


boca. Eu não me cansava de amá-lo.

Jonathan me prometera felicidade. Prometeu que eu sentiria orgulho


dele, e não mentiu.

Não havia um dia sequer que eu não me orgulhasse dele, e de mim por
ter nos dado essa oportunidade. Aceitá-lo no meu coração e na minha vida foi
minha melhor escolha.

— Você é o meu tudo — soprei, sentindo-o ir mais fundo em mim. —


Meu amor. Meu homem.

Minhas palavras pareceram enlouquecê-lo, porque suas investidas se

tornaram mais intensas, atingindo um ponto mais sensível dentro de mim. Foi
impossível segurar os gemidos mais altos.

— Grite — rosnou ele, sem fôlego — Grite por mim...

Quando menos esperei, arqueei as costas, buscando por mais. O


orgasmo foi ainda mais forte que o primeiro.

Com mais algumas investidas, ele também se derramou e se deixou


cair ao meu lado, levando-me consigo.

Me abraçou, beijando minha cabeça. Era sempre assim, Jonathan

sempre me acariciava depois que fazíamos amor. Fazia questão de me tratar


como uma preciosidade.

Bocejei, preguiçosa, enroscando-me em seu corpo quente.

— Temos mesmo que sair? — perguntei num sussurro, fechando os


olhos de sono.

Ouvi sua risadinha.

— Sim, precisamos — afirmou. — Temos um resort para inaugurar.

Não segurei o sorriso animado que tomou conta dos meus lábios.

Aquele empreendimento marcou nossas vidas, e eu mal podia esperar


para, com Jonathan, compartilhá-lo com outras pessoas.

***

— Levou pouco mais de quatro anos para que esse resort de luxo à
beira-mar fosse construído. Com cerca de 23.000 metros quadrados o
empreendimento oferecerá o conceito de hospedagem all-inclusive. O hotel
terá 313 quartos e todo o conforto esperado de um resort com classificação
AAA-4 Diamond. Os hóspedes terão acesso a cinco restaurantes e três bares,
serviços de ‘spa’ completos, centro de ‘fitness’, e várias outras opções de
lazer para todas as idades...
Eu não conseguia parar de olhar para meu marido, admirando-o
enquanto discursava para uma enorme plateia, desde pessoas da comunidade

até as mais influentes. Era impossível impedir que minha mente retornasse ao
passado, somente para contemplar nosso crescimento e amadurecimento. Eu
sempre dizia que nós dois aprendíamos um com o outro, porque ambos
tínhamos nossos próprios medos e receios. Era parte do percurso.

Pisquei, quando Jonathan me chamou até o palco improvisado. Meu


rosto esquentou de constrangimento. Ele sabia que eu odiava estar diante de
tantas pessoas.

— Bem, pessoal... — continuou o discurso, me puxando e beijando


minha mão, sorrindo para mim — vocês não sabem, mas nada disso teria
acontecido sem a colaboração dessa mulher aqui, ao meu lado, minha esposa,
amiga e parceira. Foi ela quem abriu meus olhos para este belo
empreendimento que todos aqui estão prestes a conhecer. Senhoras e

senhores, eu lhes apresento o Island. Resort.

Dizendo isso, me levou até a fita branca e, juntos, cortamos o laço.

E, ao som dos aplausos, Jonathan me puxou para si, colando o corpo no


meu. Seus olhos estavam cálidos e emocionados.

— Eu amo você — soprou, acariciando meu rosto com devoção.

Mordi os lábios, sentindo meus olhos pinicarem com lágrimas não


derramadas.

— Não, você não ama somente a mim... — murmurei, fazendo sua

testa franzir em confusão.

— Não...?

Neguei com a cabeça, enrolando seu pescoço com meus braços.

Em seguida, respirei fundo, peguei suas mãos e as pressionei em meu


ventre.

— Ama a nós dois.

Seus olhos se arregalaram na mesma hora, de susto, medo, confusão.


Não soube identificar.

— O que você... — se assustou, olhando para onde suas mãos estavam


pressionadas.

Assenti, aos prantos.

— Sim, estou grávida — confirmei com a voz embargada. — Estou


esperando um filho seu.

Jonathan caiu de joelhos aos meus pés, abraçando minha cintura. O


som de seus soluços me fez chorar com ele, comovida com sua emoção. Nos
últimos tempos acabei descobrindo que ele era um homem muito emotivo.

— Não acredito nisso — soprou ele, amparando meu ventre, beijando


por cima do vestido que eu usava.

Nem eu ou ele estávamos nos importando com as pessoas zanzando ao

nosso redor. Estávamos envolvidos em nossa própria bolha de amor.

Amparei seu rosto, inclinando-me para poder beijar seus lábios.

— Pois acredite — falei. — E digo mais... estou com vontade de comer

uma fruta do Brasil — contei, entre risos — Quero açaí.

Rindo junto comigo, em meio as lágrimas, ele voltou a se colocar de


pé. Ergueu-me em seus braços e girou comigo.

Será que existia uma fórmula para felicidade? Se existia, eu acabei


descobrindo sem querer. Não havia dúvidas de que Jonathan era e seria meu
parceiro para vida toda.
ACOMPANHE OS OUTROS LIVROS DA SÉRIE
CONQUISTADA PELO BILIONÁRIO - LIVRO 2 (SÉRIE
BILIONÁRIOS IRRESISTÍVEIS) - AUTORA VIVY KEURY

SINOPSE

Aos 34 anos, MAX SALAZAR é um bilionário que arranca suspiros

por onde passa, mas a última coisa que pensa é se envolver com alguém.
Após sua última decepção amorosa, decidiu focar somente nos seus projetos.
No entanto, tudo isso muda, quando em meio a uma seleção que ocorrerá em
sua empresa, resolve usar um método completamente diferente para poder
conhecer de perto cada candidato.

MEL é uma jovem sonhadora, que ficou completamente sem rumo


após uma perda dolorosa e abrupta. Depois disso, ela cumpriu com uma
promessa ao sair do interior para ir atrás de uma melhora de vida. Ao chegar
na cidade grande, se estabelece e começa a procurar por um emprego.

Por obra do destino, se depara com um anúncio para disputar uma vaga
de estagiária na grande empresa AppSalazar; confiante, ela resolve tentar e
dar o máximo de si para ser uma entre os escolhidos.

Em meio a uma mentira, uma amizade verdadeira surge entre ela e um


colega de trabalho, mas não imagina que existe um segredo... Sentimentos
inesperados surgirão até que tudo vem à tona.
ATRAÍDA PELO BILIONÁRIO - LIVRO 3 (SÉRIE BILIONÁRIOS
IRRESISTÍVEIS) - AUTORA MARTA VIANNA

SINOPSE

ENRICO MULLER é um homem atraente e sedutor, porém, centrado


em seus negócios. Dono de uma enorme rede de hotéis, patrimônio que

herdou da sua família, acabou multiplicando sua fortuna, tornando-se um dos


homens mais ricos do país. A mídia sempre especula sobre sua vida,
entretanto, ninguém imagina as feridas que Enrico carrega de um passado não
muito distante, mesmo ele se esforçando para apagar.

JADE MENDES traz consigo uma bagagem pesada de dor e tristezas.


Sozinha, aos vinte e três anos, ela acaba saindo do interior e seguindo para a
cidade grande na esperança de um futuro melhor, visto que suas poucas
economias estão acabando...

Uma bela oportunidade surge, porém, nada será tão fácil, pois uma

pedra vem junto, trazendo consigo muitos impedimentos para nosso casal.

Duas pessoas com passados tristes, mas que sonham com um final feliz
para suas vidas. Como eles se sairão diante disso?

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