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Recomendado para maiores de 18 anos.
AGE GAP + CHEFE E FUNCIONÁRIA + GRAVIDEZ INESPERADA + FAST BURN

AMANDA PERRY:
Parecia um pesadelo desde o momento em que descobri que carregava um filho de Trent
Jenkins. Mesmo grávida do homem que eu amava, nosso relacionamento foi quebrado por um
grande mal-entendido. Ele, cego para se vingar de mim, me rejeitou e transformou os meus dias
como sua secretária na Le Blanc, em um verdadeiro tormento. Contudo, uma mulher resiliente e
machucada não nasceu para perder batalhas. Determinada, eu jurei a mim mesma que Trent
sentiria na pele cada humilhação e dor que ele me fez passar. O dia de ele me pedir perdão viria,
e eu estava decidida a feri-lo com as mesmas armas que ele usou para dilacerar o meu coração. O
palco estava montado para uma reviravolta que ele nem imaginava que estava por vir.

TRENT JENKINS:
Onde eu estava com a cabeça quando pensei que poderia manter um relacionamento com
a secretária vinte anos mais nova do que eu? Amanda Perry e seus expressivos olhos verdes eram
claramente uma armadilha. E foi numa noite importante para nós dois, que eu flagrei Amanda
nos braços de seu amigo de infância. Depois ela correu para mim, para me anunciar a sua
gravidez. Revoltado e ferido, eu decidi mantê-la sob os meus olhos na empresa, fazendo da vida
dela o próprio Inferno. Ela queria apoio, mas eu dei desprezo, as palavras doces nunca soaram
tão amargas. Amanda estava enganada se pensava que eu seria tolo suficiente para acreditar que
o bebê era meu! Eu tinha certeza que aquele não era o meu filho, e eu estava determinado a
rejeitá-la, não uma, mas mil vezes, se fosse preciso.
Puxei a janela de vidro, quando o vento forte atingiu em cheio o meu
rosto. A chuva caía torrencialmente do lado de fora, como uma trilha sonora
melancólica para a noite que se desenrolava.
Joguei o corpo cansado no pequeno sofá do apart-hotel, bebendo uma
boa dose do uísque, enquanto aguardava a chegada de Amanda, a mulher que
preenchia meus pensamentos desde que nossos caminhos se cruzaram na Le
Blanc.
Observei o meu reflexo no imenso espelho que cobria parte da parede,
me dando conta de que eu era um CEO renomado, o meu império era
simplesmente a maior empresa de perfumes dos Estados Unidos! Sem
sombra de dúvidas, o meu nome era sinônimo de sucesso e poder, mas,
apesar de todas as conquistas profissionais, o campo sentimental ainda
deixava a desejar.
Eu nunca havia me apaixonado por ninguém e, além disso, me sentia
confuso quando Amanda confessava os seus sentimentos por mim.
Vivíamos um relacionamento secreto, mantido às escondidas, afinal,
eu era o chefe, e Amanda, a minha secretária, e isso poderia vir a manchar a
minha reputação.
Apesar de todas as consequências que esse relacionamento poderia
me gerar, principalmente por Amanda ser vinte anos mais nova do que eu,
não conseguíamos resistir à atração mútua que sentíamos, e nossos encontros
secretos eram uma espécie de fuga que nos mantinha unidos em meio à rotina
turbulenta da empresa.
Sorvi mais um gole de uísque, refletindo sobre o quanto Amanda
poderia estar apaixonada por mim, afinal, uma mulher linda e decidida como
ela, aceitaria um relacionamento secreto, com um cara cheio de problemas e
bem mais velho do que ela?
Os olhares discretos da garota e sorrisos sedutores denunciavam seus
sentimentos, mas eu mantinha uma linha tênue entre o fogo que me
consumia, e a sensatez. Não queria me envolver em um romance agora, não
poderia dividir o meu tempo com relacionamentos, apesar de eu já entender
que estava preso em um.
No entanto, quando a porta se abriu e Amanda entrou apressadamente
no quarto, a minha pulsação acelerou.
Um sorriso involuntário se desenhou imediatamente em meus lábios.
— Que bom que você veio, Amanda. — murmurei, aliviado por vê-la
ali.
A garota se aproximou com os olhos cansados e carentes, o visual
executivo de mais cedo, a deixava deliciosamente sexy, principalmente agora,
quando ela estava inteiramente encharcada de chuva.
— Passou mesmo pela sua cabeça que eu não pudesse vir? — sempre
direta e perspicaz, ela não perdeu tempo em responder, ao mesmo tempo em
que retirava o casaco dos ombros e espremia os cabelos nas mãos.
Prontamente fiquei de pé, deixando o copo vazio sobre a mesa
redonda de canto, para alcançar o seu corpo trêmulo.
— Fiquei preocupado com a maneira que você saiu hoje da empresa.
Amanda sorriu nos meus braços.
— Cansada?
— Arredia.
Ela suspirou, e seus olhos encontraram os meus com intensidade.
— Parece que você não me conhece, Trent Jenkins. — comecei a
desabotoar a camisa social dela. — Eu costumo ser arredia quando as coisas
saem do meu controle.
— Talvez eu realmente não te conheça.
Livrei Amanda da camisa úmida, encontrando de imediato os seios
deliciosos no sutiã de renda preta. Abarquei os seus ombros com as mãos,
descendo, delicadamente, para os seios, massageando-os.
— Como não me conhece? Se já estou sentindo cada parte do meu
corpo arrepiar... — ela sussurrou, respondendo ao meu toque. — Você
conhece cada traço de fragilidade que existe em mim, Trent.
— E as minhas fragilidades? — puxei a cintura delicada de Amanda,
colando o meu corpo ao dela. — Você se importa com elas?
A garota prontamente retirou o paletó do meu terno, desfez a gravata
e começou a desabotoar a minha camisa social, sem evitar o olhar atrevido no
meu.
— Você, Trent, um cara frágil?
Desci o zíper lateral da saia lápis.
— Se você não viesse, eu estaria preocupado e pensando mil merdas a
meu respeito, se por acaso eu fiz algo, mais cedo, que pudesse ter te
magoado.
Amanda retirou a camisa do meu corpo e depois dirigiu os dedos
atrevidos para o cinto, com o olhar concentrado no meu pau ereto.
— Você apenas me magoa, quando coloca o seu trabalho acima de
todas as coisas. — em apenas um gesto, ela abaixou a minha calça. —
Inclusive de mim.
Desabotoei o sutiã de Amanda, pegando-a, apenas de calcinha, em
meu colo, enquanto eu me livrava da minha calça com os pés.
— Eu juro que vou te assumir para a minha família, a imprensa. Eu só
preciso de tempo. — sussurrei nos lábios macios, antes de beijá-los
sofregamente, enquanto juntava os nossos corpos sobre a cama.
Inferno, eu não queria discutir relação a essas alturas, só queria me
afogar no incêndio delicioso que era Amanda Perry!
Amanda, rendida, afagava a minha nuca. Ali, ela era minha, e eu tinha
certeza que poderia fazer o que quisesse com ela.
Contudo, a garota segurou incisivamente no meu rosto, me
interrompendo com uma afirmação que me fez refletir.
— Eu sou apenas a sua secretária, e eu sei que estar nessa condição
afeta a sua reputação!
— Não é sobre a minha reputação, Amanda. — encaixei o meu corpo
ao dela, rebolando, em seguida, no meio de suas coxas gostosas. — É sobre a
veia maliciosa da imprensa, afinal podem deturpar tudo! Imagina se me
acusam de assediar funcionárias?
Afoguei o rosto na curva dos seios perfumados, após juntá-los com as
mãos. Queria logo fodê-la e esquecer desses detalhes.
— Por enquanto, eu estou sendo paciente, mas...
— Não queira me chantagear, Amanda. — lambi o colo perfumado,
sentindo a necessidade de deixar claro o meu ponto de vista. — Você não vai
conseguir cumprir com as suas promessas.
Ela sorriu, alcançando o meu rosto.
— Não mesmo.
Beijei a boca de Amanda, descendo as laterais da calcinha. Ela sugava
a minha boca com tesão, e o meu corpo inflamava, em questão de segundos.
Ao tocá-la e senti-la molhada, sentia o quanto ela estava derretida e
entregue. Amanda estava deliciosamente excitada e eu estava prestes a dar a
ela todo o prazer que merecia...
Mordi o queixo macio, e ela enlaçou as pernas ao redor do meu corpo.
Afaguei os seios empinados, sentindo os mamilos túrgidos em meus dedos,
represando a vontade insana de mordê-los, depois deslizei as mãos, em meio
a cócegas, até as coxas torneadas, para apertá-las com desejo.
Tomado por um tesão do caralho, debrucei no meio das pernas de
Amanda, e ela logo se contraiu, ao sentir o leve tocar de minha língua, no seu
clitóris.
— Trent... — gemeu, completamente entorpecida, enquanto eu
desferia chupadas imorais em todas as camadas de seu sexo.
Lambi em círculos, apenas a ponta do nervinho enrijescido, e depois
abarquei toda a boceta com a boca, sugando os lábios como se fosse uma
fruta cítrica.
Amanda se contraía, mas eu segurava de maneira incisiva as suas
pernas, abrindo-as ainda mais para mim.
— Não, Trent...
Subi com as carícias, beijando o umbigo de Amanda, os seios,
deixando mordiscadas e chupões nos mamilos rosados, e quando posicionei o
pau na curva deles, ela resfolegou, arranhando intesamente os gomos da
minha barriga e o alto de minhas coxas.
Rebolei sobre ela, masturbando o pau nos seios, com o meu olhar
preso ao dela.
Amanda umedecia os lábios, excitada, enquanto eu suspirava,
grunhindo de prazer.
— Eu quero você aqui dentro... — ela confessou, entre gemidos.
— Gostosa, esse seu corpo...
Ansioso, desci o pau até a boceta e penetrei Amanda com força, ela
praticamente rasgou as minhas costas com as unhas, mordendo a minha
orelha em resposta, enquanto nossos corpos quentes e suados se encaixavam
perfeitamente.
Revirei os olhos, sentindo a boceta apertada no pau.
A minha secretária era um verdadeiro incêndio.
Mordi os lábios, quando Amanda afagou a minha bunda,
experimentando a cadência de meu corpo, sobre ela, depois sussurrou em
meio a gemidos:
— Por favor, não para...
— Eu quero de quatro, agora. — ordenei.
Amanda sorriu, a libertinagem desenhada em seus olhos.
Ela saiu delicadamente por debaixo do meu corpo e se colocou
naquela posição deliciosamente sugestiva. Segurei no seu quadril,
empinando-o para mim e penetrei a boceta, por trás, lambendo
vagarosamente as suas costas, sentindo o suor se misturar à minha saliva.
Apertei os seios, em meio às estocadas, e brinquei com a parte mais
molhada de seu corpo, fazendo com que Amanda gemesse alto.
— Trent... Trent...
— Minha puta.
Mordi seu ombro, fazendo-o praticamente sangrar de tanta excitação,
sem parar de estimular o clitóris.
Amanda parecia falecer e reviver diversas vezes no meio de nossa
foda, e aquilo me excitava demasiadamente.
Em segundos, senti o seu corpo chicoteando sob o meu, como se
recebecesse uma espécie de carga elétrica, ela buscava ar, experimentando o
nível máximo de prazer.
Imediatamente jorrei dentro dela, apertando os olhos, concentrado
naquele momento intenso, o qual também era um suspiro de alívio diante da
minha rotina louca.
Exaustos, relaxamos de mãos dadas, um ao lado do outro, satisfeitos
com o fogo intenso que eram nossos corpos juntos.
— O anticoncepcional está em dia?
Amanda sorriu, ainda suspirando.
— Que pergunta, Trent. É claro que eu me cuido.
Olhei para ela, satisfetito, acariaciando o seu lindo rosto em brasas,
alterado pelo tesão, que dividimos há pouco.
Os slides passavam lentamente diante dos meus olhos, enquanto um
dos parceiros detalhava a sua proposta para a fragrância que lançaríamos no
final do ano.
Contudo, o trabalho ficava cada vez mais em segundo plano, pois os
quadris de Amanda desfilando deliciosamente pela sala de reunião, me
deixavam extremamente perturbado!
Parecia ridículo, eu sei, mas eu não conseguia me concentrar naquele
projeto milionário, pensando que, em breve, eu teria que dar um desfecho
para a minha situação junto à secretária.
Pensar que a imprensa poderia triunfar em cima de minha imagem, e
afetar a minha credibilidade, obviamente me preocupava!
Trent Jenkins assediou a sua jovem secretária de vinte e um anos...
Certamente eu piraria!
Mas não assumir Amanda, também não era garantia que o
relacionamento secreto perdurasse!
Enquanto o parceiro continuava a falar sobre a estratégia de
marketing, eu só pensava que, em breve, seria necessário dar um passo à
frente na nossa situação. Os segredos não ficariam enterrados para sempre, e
a minha relação com Amanda estava prestes a se revelar antes mesmo que
esperássemos.
Os meus pais sempre idealizaram que eu seguisse os seus caminhos,
que eu os presenteasse com netos, formasse uma família e vivesse um
romance como o deles, afinal os dois eram muito unidos, compartilhavam
uma vida simples no interior da Pensilvânia, viajando pelo continente em seu
motorhome, enquanto que eu sempre tive o trabalho e a ambição como parte
intrínseca da minha personalidade, e era o que me tornava bastante diferente
deles.
— Sr. Jenkins, aqui estão os relatórios que me pediu. — a voz doce
penetrou os meus ouvidos, junto ao decote que se desenhou diante dos meus
olhos.
Engoli as salivas da minha boca, alcançando imediatamente a mão de
Amanda, fazendo com que os olhos surpresos dela me encontrassem.
— A porra do seu decote está chamando mais atenção do que a
própria apresentação do Gunter.
A secretária prontamente tateou o colo, fechando constrangida os
botões, antes de deixar os relatórios sobre a mesa.
— Mais alguma coisa, Sr. Jenkins? — me perguntou entredentes e eu
adorei ver as covinhas se formando nas suas bochechas.
Era um sinal de que Amanda estava irritada.
— Às cinco no apart-hotel? — cochichei no ouvido dela.
— Hoje eu não posso.
Entortei as sobrancelhas, surpreso por ela ter me negado, pela
primeira vez, um encontro.
— Aconteceu alguma coisa?
Amanda umedeceu os lábios vermelhos, antes de olhar
cuidadosamente para os lados.
— O médico ligou agora há pouco, para falar sobre a situação da
minha avó...
— Sr. Jenkins, poderia nos fornecer uma visão geral das estratégias
que a empresa está implementando, para o próximo ano?
— Só um minuto, Amanda, depois a gente conversa sobre isso. —
fiquei de pé, me dirigindo imediatamente para a frente do telão.
A garota me encarou com um olhar decepcionado e, depois, saiu
desfilando na direção da porta.
Enquanto eu respondia Gunter e compartilhava as minhas ideias
acerca do projeto, os meus pensamentos estavam, inevitavelmente, na forma
como eu estava conduzindo o meu relacionamento com Amanda.
Ela havia saído da sala de reunião, visivelmente perturbada com a
minha falta de atenção. A mágoa em seus olhos estava mexendo comigo de
uma maneira que eu não sabia explicar, sem dúvidas sentia um pouco de
ansiedade e remorso, o que me fazia refletir o quanto estava difícil
desempenhar meu papel de chefe, diante dos sentimentos que nutria por
minha secretária.
A discussão sobre as fragrâncias continuava na sala, e eu apenas
imaginava que precisava encontrar um momento para falar com Amanda e,
assim, tentar chegar a um consenso quanto ao nosso relacionamento, porque,
no final das contas, eu não queria perdê-la, nem como a minha secretária,
nem como alguém que eu considerava profundamente.
Joguei as costas contra a parede, tentando respirar de maneira mais
tranquila, para, assim, tentar seguir com as demandas.
Ser a “namorada” de um CEO petulante e workaholic não era nada
fácil, de vez em quando eu caía na realidade e entendia, realmente, quais
eram as prioridades de Trent Jenkins.
E ele sequer pode ouvir sobre a situação de vovó!
Morava em Nova York com ela, onde compartilhávamos uma
modesta casa de dois quartos. Éramos o suporte uma da outra, desde que o
meu pai faleceu em um acidente de carro na Califórnia, quando eu tinha
apenas nove anos de idade.
A minha mãe nunca teve carinho algum por mim, preferiu se afundar
em relacionamentos passageiros a cuidar de sua filha, então a minha avó me
deu todo o acolhimento, me buscando em São Francisco, para morar junto a
ela em Nova York.
Agora, vovó era tudo o que eu tinha, ela era a minha família, e saber
que a vida dela estava por um fio no hospital, me consumia as forças!
A nossa ligação era tão profunda, a ponto de eu adivinhar as suas
necessidades, o que ela estava com vontade de almoçar, onde ela gostaria de
ir no final de semana, a música que ela gostaria de ouvir para se acalmar...
cada lembrança dos momentos que compartilhamos juntas, me sufocava de
tristeza.
Ela era mais do que uma avó para mim, era a minha amiga, a minha
confidente e a pessoa que eu mais amava na vida, e a ideia de perdê-la era
uma dor que eu não sabia como poderia suportar!
— Está tudo bem, Amanda? Está tão pálida! — de repente, senti a
mão reconfortante de Hellen em meu ombro.
Então suspirei, antes de encará-la.
— Estou preocupada com a minha avó. A situação dela não é nada
boa...
Levei as mãos ao rosto, tentando ser forte.
— Eu ia perguntar sobre ela hoje, mas não tive tempo...
— O médico entrou em contato comigo há pouco. — Hellen correu
para o bebedouro e depois me entregou um copo com água. — Vovó está
com um grave comprometimento nos pulmões e rins, além da pressão arterial
alterada e dificuldade para respirar...
Engasguei, sem conseguir represar o choro.
Então Hellen me incentivou a beber um pouco da água.
O líquido desceu rasgando a garganta, enquanto eu imaginava que
deveria estar agora com vovó no hospital, dando a ela todo o apoio que
precisava.
— Eu acho que vou embora. Só vou esperar a reunião terminar, para
avisar ao Sr. Jenkins.
Hellen concordou com um olhar complacente, me dirigindo para o
sofá de couro da sala de espera.
— Não precisa esperar por nada, Amanda. — afagou o meu joelho. —
Eu falo com ele assim que a reunião terminar, e também posso adiantar as
suas demandas, se preferir.
Sorri, sem forças, unindo as nossas mãos em um gesto de gratidão.
— Juro que não sei como te agradecer.
A assessora me avaliou com carinho, pegando a minha bolsa que
estava repousada sobre a mesa de trabalho.
— Vá cuidar da sua avozinha, afinal você só tem a ela, e ela, a você.
— considerou, enquanto eu concordava com ela.
Então Hellen me entregou a bolsa e eu bebi todo o restante da água,
ficando de pé, em seguida, tentando respirar com mais tranquilidade.
— Obrigada por seu apoio.
Hellen me abraçou, o que me deixou mais em paz.
— Não precisa agradecer. — ela me olhou nos olhos. — E mande
notícias, viu?
Assenti, já me dirigindo na direção do elevador, e assim que me
posicionei naquele pequeno espaço, vi Trent saindo da sala de reunião.
Os nossos olhares inevitavelmente se cruzaram.
Contudo, não tive tempo para nada. As portas duplas se fecharam, ao
mesmo tempo que o olhar pungente do CEO me atingia.
Depois de ver a minha secretária descendo pelo elevador, com a bolsa
no ombro, me dei conta de que ela estava indo embora, e aquilo logo me
encucou.
Será que Amanda estava realmente chateada, por eu não ter dado a
ela a atenção necessária?
Acelerei os passos na direção de Hellen, a minha assessora, quando a
loira parou de digitar, assim que me aproximei.
— Onde a Amanda está indo? — fiz uma pausa para verificar o
relógio de pulso. — Ainda não é horário do almoço!
A loira se virou para mim, semicerrando os olhos.
— Estava tão concentrada nas demandas, que não entendi muito bem
o que a Amanda me falou. Talvez tenha ido ao médico, a uma consulta.
Mordi os nós dos dedos, preocupado.
Eu havia sido indiferente com os sentimentos de Amanda, no
momento em que ela era queria me contar a respeito de sua avó, mas, porra,
estava no meio de uma reunião importantíssima e, naquele momento, não
poderia me distrair.
— Inferno! Eu não consegui dar atenção à Amanda. Ela estava me
falando sobre a situação da avó dela, que está há dias no CTI.
Hellen fez uma negativa com a cabeça.
— A avó dela apresentou melhora, não tem motivos para que Amanda
fique tão preocupada assim.
Sorri, aliviado.
— É sério? Que notícia boa. — relaxei os ombros, concluindo que
Amanda certamente voltaria atrás na sua decisão, e me encontraria no apart-
hotel, mais tarde. — Então, tudo indica que ela foi ver a avó no hospital?
— Não me pareceu, Sr. Jenkins. — Hellen cruzou as pernas, exibindo
um olhar conspiratório. — Eu acho que, na verdade, Amanda foi encontrar
com alguém. — uni as sobrancelhas, como numa interrogação. — Ela sempre
foi muito reservada quanto à sua vida pessoal, mas pelo que entendi, ela tinha
planos de encontrar um amigo que acabou de chegar da Califórnia ou algo
assim...
Depositei as mãos sobre a mesa, completamente conturbado com
aquela informação.
— O que está me dizendo?
— Melhor conversar diretamente com a Amanda sobre isso, —
Hellen se esquivou, girando o corpo na direção do computador. — não quero
passar por fofoqueira. — então, ela voltou a me encarar. — Inclusive, não
diga a ela que fui eu que te contei, não tenho certeza de nada.
— Não vou fazer isso. — ajeitei o paletó no corpo, intrigado com o
suposto amiguinho de Amanda. — Você sabe muito bem que eu odeio
intrigas entre os meus funcionários, e faço de tudo para preservar a boa
convivência no ambiente de trabalho.
Hellen concordou, juntando alguns papéis em uma pasta, depois de
grampeá-los.
— Aqui estão os relatórios que Amanda deixou antes de sair.
Segurei a pasta, verificando a papelada.
— Quanta eficiência, Hellen.
— Não sei, mas a Amanda está me parecendo tão desmotivada... não
acha?
Sorri, desconfiado.
— Desmotivada? A Amanda é uma funcionária exemplar, mas, apesar
disso, hoje mesmo terei uma conversa com ela. — engoli em seco, apenas por
imaginar que Amanda poderia ter um caso. — Quando ela retornar, peça à
garota que vá até a minha sala.
— Sim, Sr. Jenkins.
Adentrei ansioso o escritório, pegando imediatamente o celular. Olhei
para a tela, à procura de alguma mensagem de Amanda, que justificasse a sua
saída abrupta, mas não vi simplesmente nada.
Mordi os nós dos dedos, observando Nova York através da parede
vítrea, me dando conta do quanto eu estava ridiculamente enciumado com
aquele suposto encontro!
Eu não poderia deixar transparecer sentimento tão absurdo.
O que me restava era me afundar no trabalho e deixar um pouco de
lado os olhos verdes de Amanda, que estavam me levando a lugares nunca
antes visitados.
Vasculhei a bolsa em meu braço, quando, finalmente, encontrei as
chaves de casa. As minhas mãos tremiam. Ter visto vovó naquela situação no
hospital, toda entubada, pálida e sem qualquer traço de vida, era de dilacerar
a alma.
Estava determinada a tomar um banho e cair na cama. Sem fome
alguma, apenas ansiava por um momento de solidão e silêncio, mas, assim
que puxei a maçaneta, vi um carro familiar parado ao lado de casa.
Estreitei os olhos, quando me dei conta de que era Trent, o meu chefe,
que estava dentro do veículo de luxo, falando ao celular.
Surpresa, caminhei na direção do carro preto, sem evitar o sorriso
discreto no rosto.
— Ei, Trent! — exclamei, deixando leve batidinhas com as unhas no
vidro.
O belo homem, de olhos pretos hipnotizantes, abriu a janela,
tencionando levemente o maxilar.
— Depois eu falo com você, Hellen. — então ele encerrou a ligação e
guardou o celular no bolso do paletó. — Amanda? Não retornou à empresa?
Cruzei os braços, encucada.
— A Hellen não te avisou que eu estava no hospital com a minha
avó?
Trent prontamente saiu do carro e beijou delicadamente a minha boca,
puxando o meu corpo contra a sua estrutura forte e perfumada.
Adorava a maneira “brutal” como ele me pegava.
Então, adentramos a casa, e enquanto Trent cobria o meu pescoço de
beijos, acendi as luzes e, sem querer, caímos juntos no sofá.
— Finalmente, a sua avó recebeu alta? — ele tentou adivinhar,
ajeitando as madeixas que caíam sobre meu rosto.
— Do que está falando? — ajeitei uma perna sobre a outra. — A
minha avó está entre a vida e a morte no CTI! Ainda está entubada,
paralisada sobre a cama...
Engoli o choro, respirando de maneira profunda.
Trent era um homem tão ocupado e focado nos negócios que, com
toda a certeza, não ouviu o que Hellen tinha para lhe dizer a meu respeito.
— Calma, Amanda. Eu estou aqui. — Trent me abraçou contra o seu
corpo e eu inspirei o perfume de seu terno. — Eu posso te ajudar em alguma
coisa?
— Não gostei do seu tom. — fiquei de pé, me dirigindo na direção do
quarto. — Parece que estava desconfiando de mim!
Trent caminhou apressadamente ao meu encontro.
— Eu tinha certeza que estava tudo bem com a sua avó! Hellen deve
ter se confundido em algum momento!
Retirei a roupa de trabalho, ficando apenas de lingerie, pois não via a
hora de tomar um bom banho.
— Pelo jeito, você que não deu a mínima atenção à Hellen.
Distraído, o moreno me observava com faíscas em seus olhos,
enquanto coçava o queixo, se deliciando com a minha imagem e, apesar de
me sentir tentada, hoje eu não queria sexo.
O meu coração estava pesado demais para me entregar aos braços de
Trent.
Em seguida, abri o chuveiro e me coloquei por debaixo dele. Suspirei,
fechando os olhos, enquanto molhava os cabelos na água morna. Era uma
sensação tão aconchegante, um banho era tudo o que eu precisava, quando,
para a minha surpresa, senti Trent se aproximando por trás de mim,
completamente pelado.
Senti um choque percorrer as minhas células.
— Apesar de não termos nada juntos, — ele abraçou o meu corpo,
apoiando as suas mãos de anéis prateados sobre os meus seios. — eu ficaria
extremamente decepcionado se soubesse que você estaria interessada em
outro cara.
Sorri, me virando para ele.
A água espirrava e formava gotículas no rosto bonito de Trent, os
cabelos úmidos acrescentavam um charme extra à sua imagem.
— Você é hilário. De onde você tirou tamanho absurdo? — olhei para
ele de maneira incrédula. — Está se sentindo inseguro, é isso? Então por que
não assume logo o nosso compromisso?
Senti, de repente, os seus dedos cravando nos cabelos de minha nuca
de maneira indecente.
O seu corpo quente e musculoso se juntou ainda mais ao meu, me
deliciei com o toque de seus beijos atrevidos por minha têmpora, a sua mão
esquerda que desferia carícias perturbadoras por minha bunda...
Sem querer, deslizei as unhas pelas bolas de Trent.
Ele sorriu nos meus lábios.
— Que saber? É um risco que vale à pena. Se isso interferir na minha
credibilidade, que se foda. Eu preciso dar valor a você, Amanda, uma garota
que não merece migalhas. — ele me encaixou em seu colo, as minhas pernas
cruzadas nas suas costas largas, as minhas costas contra a parede fria de
azulejos. — E outra... eu não admito outro homem tocando no que é meu.
Surpresa com aquela confissão, segurei imediatamente no rosto de
Trent.
— Não pode estar falando sério, Sr. Possessivo! — brinquei, ainda
que estivesse perturbada. — Tenho certeza que amanhã mesmo voltará atrás
na sua decisão.
Ele sorriu na minha boca, a água jorrando sobre os nossos corpos
perfeitamente encaixados.
— Eu sou um homem de palavra, Amanda. Inclusive, não poderia
haver oportunidade melhor para eu te assumir publicamente. Neste final de
semana, será a festa de dez anos da fragrância Supreme. A imprensa, os meus
pais e meu irmão, todos estarão presentes, e então eu vou anunciar que Trent
Jenkins finalmente encontrou alguém para partilhar os seus momentos.
Com o coração preso na garganta, eu abracei entusiasmada Trent.
Eu o amava tanto!
Não estava acreditando que finalmente ele havia se dobrado a um
romance, que havia escolhido correr riscos, para me assumir publicamente,
talvez tenha sido o medo de me perder para algum cara, como ele mesmo
havia me dito.
O meu sorriso não cabia em meu rosto, enquanto repousava a cabeça
sobre o peitoral torneado, experimentando carícias por meus cabelos.
— Em meio ao caos da situação da minha avó, esse pedido de namoro
é um suspiro de alívio. Eu te amo tanto, Trent Jenkins.
— Amanda, minha querida, eu também te amo.
Unimos as nossas bocas em um beijo urgente, nos perdendo nas
carícias de uma maneira inédita. Havia paixão, um compromisso selado e
muitas esperanças no futuro.
Mesmo com o coração apertado pela preocupação com minha avó no
hospital, a felicidade me envolvia, pois Trent havia finalmente anunciado a
sua decisão de me assumir publicamente, como o início de um novo capítulo
para nós.
Nossos lábios ainda se beijavam cheios de promessas, como maneira
de celebrar o futuro que nos esperava.
O meu coração nunca pulsou tão feliz!
Depois de terminarmos o banho, seguimos juntos para o quarto, então
vesti o pijama vermelho, enquanto Trent, assim como veio ao mundo, se
deitou em meio ao edredom e me recebeu em seus braços.
Era tudo o que eu precisava, ficar ali, acolhida em meio àquela
estrutura forte, me sentindo completamente protegida e amada.
— Está tão aconchegante aqui. — sussurrei, encaixando as nossas
pernas sob o edredom.
— Eu vou ficar com você aqui, até você dormir. — Trent cochichou,
em meio a um cafuné gostoso na minha nuca. — Preciso voltar para casa,
tem um documento importante no escritório que eu preciso levar para a
empresa, amanhã, bem cedo e, merda, eu não sei onde coloquei.
Sorri, amassando os lábios.
— Não deveria estar surpresa. — sussurrei, sem me mover, no meio
daqueles braços fortes. — Estar em segundo plano já é algo natural para mim.
Dei de ombros, torcendo para que Trent me desse mais atenção daqui
para frente, agora que havia, finalmente, assumido o tão sonhado namoro!
— Jamais, Amanda. — ele se colocou por cima de mim, olhando com
intensidade no fundo dos meus olhos. — Você é a minha prioridade, mas eu
não posso deixar as minhas responsabilidades de lado. Eu sei que você,
melhor do que ninguém, entende os meus compromissos e a minha rotina,
por isso mesmo que quero dar uma chance a nós dois.
Belisquei levemente o queixo de Trent.
— Essa chance que você diz aí, é namorar de verdade? Viajar junto,
ver filme com pipoca e edredom, jantares e apelidos fofos?
Ele sorriu, deslizando a mão por minha coxa.
— Faltou o mais importante, sexo todo santo dia.
Beijei rapidamente a boca saborosa.
— Obrigada por ser um respiro em meio a tudo o que estou vivendo
agora.
Trent envolveu o meu rosto nas suas mãos.
— A sua avó vai sair dessa. E eu ainda vou ter a honra de conhecê-la.
Umedeci os lábios, confiante.
— Ela vai ficar bem... ela vai...
Trent me abraçou com carinho e ficamos assim encaixados, por um
bom tempo, aproveitando a presença um do outro, enquanto a noite avançava
e os meus olhos pesavam.
Queria evitar dormir, para prolongar o nosso momento juntos, mas foi
inevitável. Em segundos, peguei no sono, aliviada por, finalmente, me tornar
a namorada de Trent Jenkins.
Bebi mais um gole de café, saindo apressadamente do elevador.
Confesso que ainda estava perturbada com o pedido de namoro de Trent, sem
falar que essa era a minha primeira manhã de trabalho desde que ele resolveu
assumir a nossa relação.
Inclusive, já havia se passado cerca de um ano desde que começamos
a nos relacionar, e eu havia perdido as esperanças de que pudesse se tornar
algo mais sério, mas, felizmente, Trent havia nos dado essa chance, e
obviamente era tudo o que eu sempre sonhei!
A ansiedade estava no teto, no momento em que cheguei à mesa.
Desejei “bom dia” a Hellen e aos demais assessores, ligando o computador,
em seguida, quando vi um grupo de japoneses atravessando o corredor, na
companhia de Trent.
O meu coração disparou, ao me dar conta de que o CEO poderoso,
Trent Jenkins, era agora o meu namorado.
A ficha ainda não havia caído, principalmente agora por vislumbrar
aquele belo homem, na sua função de honra! O terno preto italiano, o
caminhar seguro, o olhar sério na minha direção, tudo isso me
desestabilizava.
Estava com o copo vazio de café na mão, mas só percebi, quando
tentei ingerir mais um gole e não caiu nada na boca.
Trent nos cumprimentou com um breve “bom dia” e depois se dirigiu
à sala da presidência.
Relaxei os ombros, imaginando que, pelo jeito, ele me “assumiria”,
apenas no dia da festa. Teria que ter paciência, até, enfim, viver o meu conto-
de-fadas.
Puxei a cadeira para me sentar, quando Hellen se aproximou.
— E a sua avó, minha flor?
Abaixei o rosto, sentindo o coração em pedaços.
— Está na mesma. Acabei de deixar o hospital e os médicos já não
estão mais com esperanças.
Hellen engoliu em seco, certamente enxergando muita tristeza em
meus olhos.
Estava devastada.
— E o que você pretende fazer, Amandinha? — ela envolveu as
nossas mãos, sentando ao meu lado. — Não tem ninguém por você, em Nova
York! É sozinha no mundo!
Suspirei, sentindo aflição ao me dar conta dessa condição. Ainda não
havia refletido sobre o meu futuro.
Na verdade, queria dizer à Hellen que agora teria o Trent, que ele iria
me dar todo o apoio, e que ele seria âncora no meu futuro incerto, porém eu
não deveria, o coerente seria esperar pelo momento oportuno, para que as
coisas se revelassem.
— Eu tenho os amigos de trabalho. — sorri, emocionada. — Sei que
posso contar com vocês.
Estranhamente, Hellen me dirigiu um olhar frio.
— Na verdade, você não tem nenhum amigo muito próximo, né
Amanda?
Concordei, refletindo que Trent sempre foi a minha prioridade, a
ponto de eu não ter tempo de compartilhar momentos com outras pessoas que
não fosse ele ou a minha avó.
Raramente participava de happy hour ou eventos, pois sempre
envolvida com as demandas de Trent, não tinha tempo para sequer estreitar
laços com os amigos do trabalho.
— Você não é a minha amiga, Hellen? — questionei, de maneira
direta e concisa.
A loira piscou os cílios volumosos, junto a um sorriso de
constrangimento.
— Sim, é claro que eu sou a sua amiga, mas eu gostaria de ser mais
próxima. Você sempre foi muito reservada.
Assenti, umedecendo os lábios, refletindo que ter um namoro secreto
com o chefe, me esquivava, inclusive, de sustentar intimidades com os
colegas de trabalho.
— É o meu jeito, Hellen. Sempre fui mais quieta, no meu canto, mas,
mesmo assim, sempre te considerei uma amiga.
Ela sorriu com a minha afirmação.
— Claro, nós somos amigas. — se resumiu a dizer.
— Inclusive queria te agradecer por ter conversado com Trent sobre
eu ter deixado o trabalho ontem, mais cedo.
Hellen revirou os olhos.
— Menina, ele é tão distraído! Com certeza não ouviu nada do que eu
falei! Me atropelou com assuntos do trabalho, o celular dele tocando o tempo
inteiro, enfim...
Encucada, uni as sobrancelhas.
— Ele nem sentiu a minha falta?
— Bom dia!
De repente, fomos surpreendidas por aquela voz grave e penetrante.
Os meus braços imediatamente arrepiaram, afinal eu não sabia que
atitude tomar! Deveria desejar apenas “bom dia” ao meu namorado, dar um
beijo breve na boca dele ou apenas continuar encenando que nunca tivemos
qualquer tipo de intimidades?
— Sr. Jenkins. — proferi em meio a um sorriso trêmulo.
O homem afagou o meu ombro e depois cruzou os braços em frente à
sua assessora.
— Hellen, a avó da Amanda ainda se encontra numa situação muito
delicada no hospital.
Volvi os meus olhos na direção da loira, sem entender por que Trent
confrontava Hellen.
— Sim, Sr. Jenkins. Foi o que eu tentei te dizer.
Um silêncio pairou.
Trent e eu nos entreolhamos. Hellen nos encarava com as bochechas
coradas.
— E para evitar mais mal-entendidos, a respeito da vida pessoal de
Amanda, eu anuncio a vocês... — um forte golpe atingiu o meu estômago,
enquanto a sala inteira estava em silêncio, com a atenção inteiramente
dispensada ao CEO. — que agora ela é a minha namorada!
Ouvimos a suspiros de surpresa.
Fiquei de pé, sorridente, emocionada, para me jogar nos braços de
Trent.
— Namorada? — Hellen questionou em completo estado de choque.
— Namorada. — o moreno ratificou, enquanto o burburinho
começava a tomar conta da sala, gradativamente.
— Trent... — tentei falar, mas fui interrompida.
— Mas nada mudou. — ele sorriu e afagou o meu rosto. — A relação
profissional com Amanda continua a mesma.
Chantel imediatamente se aproximou, nos esticando a mão.
— Parabéns, Sr. Jenkins e Amanda. Vocês formam um casal tão
lindo.
Gunter acrescentou do outro lado da sala:
— Eu sempre soube que tinha algo entre vocês.
Soraya deixou uma leve cotovelada na minha costela.
— Amanda, você nem me falou nada... Logo o chefe!
— Como vocês sempre me disseram, eu sou uma pessoa reservada. —
Trent me envolveu no braço com certa intimidade, e naquele momento eu não
sabia se estava sonhando. — E não importa se Trent é meu chefe, isso é mero
detalhe, acima de tudo é um homem carinhoso e que me faz muito feliz.
Hellen estava visivelmente petrificada ao meu lado.
Quando estava prestes a perguntá-la se estava tudo bem, o grupo de
japoneses se aproximou junto a Sr. Parkinson, reivindicando a presença de
Trent, na sala de reunião.
O belo CEO imediatamente nos deixou, visivelmente preocupado em
resolver os seus compromissos, enquanto o meu coração reverberava de
alegria.
Sem sombra de dúvidas, eu estava nas nuvens diante de toda a
consideração de Trent por mim!
— Você é uma garota de sorte. — Hellen resolveu falar, me cobrindo
com um olhar, talvez invejoso. — A sua avó já pode fazer a passagem
tranquila.
Recebi aquelas palavras com uma dor na alma.
Os meus olhos encharcaram, queria mandar a loira à merda, mas
obviamente eu não poderia!
— Respeite a minha dor, Hellen. Pelo menos disfarce a sua inveja.
A loira sorriu, jogando os cabelos para o lado.
— Eu não tenho mais quinze anos de idade, para me sentir afetada
pelo namoro da colega. Eu só fiz uma consideração, Amanda, não me leve a
mal. — então Hellen se sentou na sua cadeira, ajeitando a postura em frente
ao computador. — Eu só quis dizer que, caso o pior aconteça, você terá todo
o apoio do seu chefe... desculpa, namorado.
Revirei os olhos, mas mesmo assim mantive um sorriso largo no
rosto.
Hellen começou a digitar, me ignorando, quando, de repente, recebi
um afago no ombro.
— O café está fresquinho.
Elizabeth deixou a xícara sobre a minha mesa, e eu apenas agradeci,
ainda impactada com aquela atitude suspeita. Eliza sequer me dava “bom
dia”, e agora se preocupava se o café que me servia estava fresco!
Assoprava o líquido amargo, me dando conta que, daqui para frente,
as coisas nunca mais seriam as mesmas.
— Você está deslumbrante.
Beijei o dorso de Amanda, assim que deixamos o carro com o
manobrista. A garota estava simplesmente impecável no vestido preto com
brilho, que se encaixava perfeitamente ao corpo curvilíneo, a fenda que
apresentava a coxa deliciosa me tirava do sério, sem falar nos seios
empinados que se exibiam no decote perturbador.
Caralho, eu era realmente um homem de muita sorte.
— Espero que eu esteja à sua altura. — ela respondeu ao meu elogio,
afagando a minha mão.
— Você é muito mais do que eu mereço, Amanda, querida.
Ela sorriu e se aninhou ao meu braço, beijei os cabelos perfumados,
quando fomos abruptamente interrompidos.
— Amanda Perry?
Olhamos surpresos para o lado, quando percebi que o manobrista se
dirigia com certa intimidade à minha mulher.
Cruzei os braços, intrigado, enquanto via Amanda sorrindo. Parecia
que ela conhecia o rapaz.
— Alex? — os seus olhos arregalaram. — Céus, quanto tempo!
Em seguida, se abraçaram com um tanto de familiaridade. Irritado,
coloquei as mãos nos bolsos, sem saber se os afastava, dando um basta
naquela porra de intimidade ou esperava discretamente pela interação tosca
que estava acontecendo bem diante dos meus olhos.
Estranhamente, ao ver Amanda entusiasmada com uma presença
masculina que não era a minha, me dava nos nervos, sobretudo no momento
em que o tal Alex encaixou a mão na cintura de minha mulher, para beijá-la
no rosto.
— Trent, — a garota se virou sorrindo na minha direção. — esse é o
Alex, ele foi o meu vizinho por décadas, praticamente crescemos juntos.
Senti um gosto amargo na boca. A relação dos dois, pelo jeito, era
bem mais próxima do que eu poderia imaginar.
— Olá. — me resumi a dizer, enquanto apertávamos as nossas mãos
e, em seguida, segurei na mão de Amanda. — Bem, vamos? Temos um
protocolo a cumprir.
Amanda assentiu, para seguir ao meu lado, quando foi outra vez
interrompida.
— Manda, como está Sra. Perry?
O brilho no olhar de minha namorada desapareceu, enquanto o meu
era de cólera ao ouvir tal apelido.
— Tocar nesse assunto não é uma boa escolha no momento, meu
caro. — ponderei, seriamente, enquanto enlaçava o meu braço ao de Amanda.
— Espera, Trent. — porém ela me recriminou. — Alex era como um
filho para vovó. — curioso, levantei uma das sobrancelhas, enquanto ela se
dirigia ao rapaz. — A vovó não está nada bem. Inclusive eu vim à festa, para
tentar espairecer um pouco, o meu coração está constantemente apertado, não
tenho mais esperanças de que ela fique bem...
Amanda se engasgou, prestes a chorar, mas prontamente eu a abracei.
No entanto, Alex, totalmente atrevido, puxou a garota para os seus
braços e aquilo foi a gota d’água para eu dar um basta naquela porra de
intimidade.
— Vamos, Amanda! — esbravejei, puxando o corpo da menina na
minha direção.
— Eu estarei em orações por Sra. Perry. — ele acrescentou em um
aceno.
Amanda, por sua vez, apenas deixou um sorriso sem graça para o seu
maldito amigo de infância e, finalmente, se colocou ao meu lado. Estava
engasgado por vê-la nos braços de outro, sobretudo de alguém com o qual ela
já tinha um passado!
— Espero que Alex não tenha estragado a sua noite.
Amanda me avaliou com desconfiança.
— Não precisa ficar com ciúmes, afinal o que tivemos foi apenas um
namorico, coisa de criança, sabe?
Suspirei, deslizando a mão pelos cabelos.
— Que merda de informação. Preferia não ter sabido disso.
Amanda gargalhou.
— Você fica tão sexy com ciúmes, Trent Jenkins.
Sorri, sem vontade alguma, preferindo me esquecer daquela
abordagem inconveniente.
De braços dados, finalmente desfilávamos pelo tapete vermelho. Os
flashes disparados na nossa direção me relembravam que, em breve, estaria
estampando as colunas sociais e sites de fofoca, onde eu seria resumido ao
CEO de quarenta anos, que mantinha um relacionamento com uma de suas
funcionárias de apenas vinte e um anos de idade!
Contudo, pensar na possibilidade de perder Amanda, de vê-la nos
braços de outro cara, me perturbava demasiadamente, a ponto de eu estar
disposto a qualquer tipo de exposição.
Eu precisava assumir logo o nosso caso, correr todo tipo de risco, e
tentar conciliar as responsabilidades do trabalho com as de um romance, o
que não seria nada complicado, afinal Amanda era a minha secretária.
Vê-la sorrindo, empolgada com aquele momento, me deixava
tranquilo e grato. Amanda vinha enfrentando dias difíceis com a avó no
hospital, a qual era uma mãe para ela e, mesmo assim, fazia questão de me
acompanhar naquele evento importantíssimo para a Le Blanc, represando
todas as suas dores, para estar ao meu lado.
— Ótimo. Os meus pais já chegaram. — comemorei, assim que
atravessamos a porta do salão de eventos do Hotel The Ritz-Carlton.
Muitas pessoas já estavam presentes, aproveitando a noite de festa. A
decoração era um espetáculo à parte, impecável, requintada e, claro, a
fragrância da nossa linha Supreme pairava no ar, preenchendo a todos, com
seu aroma inconfundível.
Era uma noite promissora.
— Uau, como os seus pais são elegantes! — Amanda não
economizou ao elogiá-los, inclusive eu sentia a ansiedade percorrer o seu
delicioso corpo, ao sentir as suas mãos geladas.
Tudo indicava que Amanda não via a hora de conhecê-los.
— Senhor Jerry Jenkins e Senhora Mary Jenkins. — apresentei os
meus pais à Amanda, depois de abraçar a minha mãe com carinho e saudades.
Fazia mais ou menos seis meses que não nos víamos.
— Que moça bonita, Trent. Depois eu falo com você. — o meu pai
brincou comigo, enquanto beijava o rosto de Amanda, visivelmente
encantado com a beleza da garota.
Ela agradeceu timidamente o carinho e, abraçado à minha mãe, eu
observava a interação dos dois.
— Senhor Jerry, como vocês se parecem! — Amanda comentou
inspecionando nós dois com surpresa.
Vaidoso, o meu pai sorriu, ajeitando a gravata borboleta no pescoço,
recebendo, claramente, aquelas palavras de Amanda como um afago em seu
ego.
— A sua secretária é uma menina adorável, simpática e elegante. — a
minha mãe fez questão de dizer, o que acolheu o meu coração.
Tudo indicava que eu os meus pais haviam gostado de Amanda.
— Mas não vá atormentar a pobre da Amanda, esta noite, com
trabalho. — o meu pai acrescentou com um olhar de censura para mim. —
Deixe a moça se divertir. Aliás, — observou ao redor — o que não faltam são
olhares desferidos a ela.
Pigarrei, fuzilando o meu pai com os olhos, para puxar Amanda na
minha direção.
— Além de minha secretária, Amanda é a minha namorada. —
anunciei, sem rodeios, aceitando com tranquilidade aquela condição.
Amanda corou.
A minha mãe levou instintivamente as mãos à boca, exibindo os olhos
marejados de quem jamais acreditaria me ver num relacionamento sério,
especialmente com uma menina, e secretária da empresa.
— Isso sim é uma surpresa daquelas. — a minha mãe suspirou,
abraçando Amanda, em seguida. — Trent, que responsabilidade. Trate de
fazer a menina feliz.
— Muito bem, meu garoto. — o meu apertou a minha mão. — Estou
ansioso por um herdeiro. — ele piscou para mim, e eu gargalhei,
completamente averso àquela afirmação.
— Pai, vá com calma.
Mamãe segurava nas mãos de Amanda, ainda analisando a jovialidade
da menina.
— E você, Amanda? Sonha em nos dar netos?
Ela afirmou, com o rosto ainda corado.
— Eu sempre quis ser mãe, mas ainda é muito cedo para isso, Sra.
Mary. Estamos namorando há tão pouco tempo!
Sorri, beliscando o queixo delicado da menina.
— Você vai ficar linda grávida, mas como você mesma disse, são
planos só para daqui a alguns anos. — ofereci o meu braço à Amanda e
deixei um beijo na testa de mamãe. — Quanto a netos, fiquem tranquilos,
considerem que eu já dei um passo muito importante na minha vida, ao
assumir publicamente um namoro. — pausei para afagar o ombro de minha
mãe. — Tudo no seu tempo.
Mary Jenkins assentiu, porém percebi que ela estava preocupada.
Talvez a diferença de idade a afligisse.
— Vá ser feliz, meu filho. É tudo o que eu mais quero. — ela se
resumiu a dizer.
— Você sabe que eu sempre fui contra você se dedicar apenas à
empresa. — o meu pai acrescentou, deixando um breve tapa nas minhas
costas.
— Mas vale à pena, pai. — observei entusiasmado ao redor. — Veja
o sucesso dessa festa! A fragrância Supreme está entre as mais vendidas de
todo o mundo!
O meu pai sorriu jocoso, me observando junto à Amanda.
— Você é um homem de sorte!
Amanda e eu sorrimos, nos entreolhando, orgulhosos por termos um
ao outro.
— Juízo, Trent. — a minha mãe me pediu. — Cuide de Amanda
como se fosse uma joia.
— Ela é bem mais valiosa que qualquer diamante.
Beijei os lábios de Amanda com carinho, e um certo tesão, é claro.
E no momento em que meus pais se afastavam na direção da mesa,
resolvi pegar bebidas com o garçom, quando Amanda resolveu me dizer:
— Senti que os seus pais gostaram de mim. — confessou, mas nem
tão convicta, enquanto preenchia os lábios com a taça de espumante. —
Percebi inclusive o quanto ficaram surpresos por você estar namorando a sua
secretária.
— Na verdade, eles ficaram encantados com a sua juventude e beleza.
Isso pesou mais. Certamente estão preocupados agora se eu serei capaz de te
fazer feliz.
Amanda sorriu, enlaçando os braços no meu pescoço.
— Se esse for o problema, eles podem ficar tranquilos, afinal eu sou a
garota mais feliz de toda a América.
Beijei os lábios alcoólicos de Amanda, sem evitar uma pressão no
pau.
— Nesta rotina louca do trabalho, você é a paz que me equilibra,
Amanda.
Ela sorriu sem retirar os olhos dos meus.
— Eu te amo tanto, Trent.
Beijei delicadamente a boca de Amanda, deslizando a mão por suas
costas nuas. Experimentar a língua saborosa na minha, os lábios carnudos
entre os meus... me deixava em êxtase.
A minha vontade era de deixar tudo para trás e dar logo um desfecho
ao fogo que nos consumia, porém eu estava em um evento importantíssimo, e
não poderia cometer tamanha loucura.
— Não conheci o seu irmão. — Amanda me despertou, bebendo um
pouco do champanhe, enquanto eu disfarçava a ereção, com a taça.
— Thor deve estar azarando mulheres por aí. — olhei jocoso ao
redor. — Uma hora ele aparece.
Preferi omitir que Thor era bem mais mulherengo do que eu e que, a
essas alturas, deveria estar providenciando uma companhia para o resto da
noite.
— Boa noite, Sr. Jenkins! Oi, minha flor!
Olhamos para o lado e nos demos conta que Hellen nos abordava com
um drink colorido na mão. Sem que esperássemos, ela puxou Amanda para
um abraço, e logo percebi que minha namorada estava incomodada com
aquela abordagem exageradamente calorosa.
— Hellen, você...
— Vem comigo, Amanda. Deixa o Trent conversar os assuntos chatos
dele, com os seus amigos mais chatos ainda. — proferiu, em meio a sorrisos.
Depois puxou Amanda na direção de um lounge, sem dar qualquer
oportunidade para ela recusar aquele convite incisivo.
Amanda se afastou com os olhos presos aos meus, estava disposto a
impedi-la de seguir com Hellen, afinal tínhamos muito o que aproveitar
juntos, mas logo Gunter veio me abordar com dois copos de uísque na mão.
— Um brinde ao seu namoro. — ele me entregou o uísque e deixou a
minha taça vazia com um garçom. Brindamos. — Cara, você só me
surpreende. A Amanda é uma menina, ela tem idade para ser a sua filha!
Revirei os olhos, bebendo um bom gole do destilado.
— Cala a boca, filho da puta.
— Mas falando sério, — Gunter coçou o queixo, pensativo. — quem
poderia imaginar que você iria assumir um namoro assim, de uma hora para
outra!
Sorri da inocência de meu amigo.
— Bem, não foi de uma hora para outra. Amanda e eu já nos
relacionamos há um tempo. Você sabe que eu não gosto de nada que não seja
planejado.
Observei ao longe a bela menina na companhia de Hellen. Amanda
era tão linda, seu corpo era perfeito, o seu olhar, sexy, o beijo, intenso e, ao
mesmo tempo, doce, e a maneira como ela costumava me olhar nos olhos,
com segurança e atitude, me encantava, e me colocava totalmente rendido aos
seus pés.
— É verdade, agora estou me lembrando que já flagrei Amanda
entrando no seu carro, algumas vezes. Sem falar que ela sempre foi muito
reservada, sempre escolhendo ficar depois da hora a sair com a gente.
Bebi mais um gole de uísque.
— Amanda é uma menina de ouro, muito dedicada, companheira e
fiel. Eu não posso perdê-la por nada. — voltei a observar Amanda e vi o
quanto ela estava sendo paquerada. — Inclusive, eu odeio a maneira como os
caras olham para ela.
Gunter concordou.
— A Amanda é bonita pra caralho, ela tem presença, um charme
genuíno que chama a atenção. E aqueles olhos verdes...
Olhei para o meu amigo com censura.
— Gunter, dá um tempo.
Então o ruivo logo desviou o assunto, olhando assustado por cima dos
meus ombros.
— Caralho, será que eu bebi tanto assim? Estou vendo dois Trents!
Olhei para trás, quando, finalmente, vi Thor se aproximando.
Um sorriso largo de alegria se formou em meu rosto. Fazia tempo que
não nos víamos, sem falar que era uma grata surpresa estarmos juntos num
dos momentos mais importantes da minha carreira.
— Irmão! — abracei Thor, emocionado por tê-lo ali naquele
momento. — Até que enfim você abriu a porra de uma brecha, para vir me
prestigiar!
Thor gargalhou, deixando breves tapas em meu peito.
— Se eu dependesse de você para ir me ver, eu envelheceria sem me
lembrar do nosso último encontro, mas morar do outro lado do mundo tem
dessas coisas. Faz uns dois anos que a gente não se vê, não é mesmo?
— Ou mais!
— Japão? — Gunter decidiu perguntar.
Os dois apertaram as mãos, se apresentando.
— Nova Zelândia. Eu tenho uma empresa na área de tecnologia.
O garçom nos serviu com mais uísque e então eu afaguei o ombro de
meu irmão gêmeo. Estava feliz que Thor havia dado um tempo nos seus
negócios, para estar ali comigo e nossos pais. Até nisso éramos idênticos, o
trabalho e o sucesso sempre foram prioridade nas nossas vidas.
Gunter então resolveu cuspir asneiras.
— Cara, que bom que você mora longe, não sei se eu suportaria dois
Trents na minha rotina.
Olhei para o ruivo de maneira jocosa.
— Gunter está tentando ser engraçado. Está pedindo para ser
despedido.
Thor gargalhou e depois se dirigiu a mim.
— Pensei que fosse te ver acompanhado por uma belíssima mulher,
mas no lugar disso...
— Gunter é a minha amante, não sabia? — abracei o ruivo, entrando
na brincadeira.
— Não vai falar para o seu irmão que você quase perdeu os dentes
ontem à noite, de tanto que mordeu os travesseiros?
Empurrei Gunter, observando Thor se divertindo com aquelas
besteiras.
— Na verdade, estou namorando a Amanda.
Thor praticamente cuspiu o uísque.
— A sua secretária? Mas ela não tem dezoito anos?
— Vinte e um. Eu vou te apresentar ela... — olhei para o lounge, à
procura de minha garota. — bem, ela estava ali, até agora.
Então Gunter me deu um tapa nas costas.
— Vamos para a pista? Depois você encontra a Amanda. Bora, Thor.
Ainda que eu confiasse de olhos fechados na minha namorada, eu
estava encucado com o sumiço das duas. Amanda estava chamando a atenção
dos homens e isso me preocupava.
— Eu vou falar com Sr. Jerry. — Thor respondeu ao convite de
Gunter, apontando para os nossos pais que estavam sentados em uma mesa,
na companhia de outros casais. — Ele nega, mas quer a atenção do filho
bastardo o tempo inteiro.
Agora quem gargalhou fui eu.
— O nosso pai é dramático até o último fio de cabelo.
— Não precisa ficar com ciúmes, Trent. — Thor afagou o meu
ombro, sem evitar o sarcasmo. — Aceita logo que eu sou o filho preferido!
Bem, até você dar netos a eles.
Gunter logo me dirigiu um olhar surpreso, provavelmente suspeitando
que Amanda estivesse grávida, mas logo fiz questão de explicar, para evitar
boatos.
— Filhos apenas num futuro bem distante. Já estou preocupado se
vou conseguir ser atencioso o bastante com Amanda, o que dirá com filhos!
Se colocamos no mundo, é para no mínimo vivermos por eles.
Thor e Gunter concordaram, pois, como tudo indicava, pensavam
exatamente como eu, eram solteiros e não tinham intuito de ter filhos agora.
— Eu ainda tenho muito o que aproveitar. — Thor piscou para mim.
— Estou com uma saudade do caralho das americanas.
Sorri, já imaginando do que Thor seria capaz, naquela noite.
— Vá com calma, meu irmão. Poupe pelo menos as idosas, por favor.
Gargalhamos.
— Você também precisa aproveitar, Trent. — Gunter me
interrompeu, retirando o copo vazio da minha mão. — Daqui a pouco chega o
momento chato do discurso e você não se divertiu o suficiente.
— Gunter é amante, é babá... o nome dele é eficiência. — depois
dessa breve brincadeira, senti certa vaidade no meu assessor, ao ouvir meu
elogio. Ignorei Gunter e seu ego, para apertar a mão de Thor. — A gente se
vê, irmão.
— Espero que ainda esta noite.
Finalmente, Gunter e eu nos dirigimos para pista de dança, mas
obviamente não conseguia evitar olhar para os lados, seguia ansioso para
encontrar Amanda, na multidão.
A música pulsava no nossos ouvidos, assim que pisamos na pista de
dança. Os colegas de trabalho comemoravam felizes o sucesso de dez anos da
fragrância Supreme. Inclusive sentia um orgulho tremendo por ver todos ali,
felizes por fazerem parte da minha jornada de sucesso, quando percebi que o
ruivo me avaliava.
— Está mesmo grilado porque perdeu Amanda de vista? — Gunter
seguia enchendo a porra do meu saco.
— Se você estivesse no meu lugar, agiria da mesma forma.
Resolvi me intrometer no meio da pista, desviando de uns,
cumprimentando outros, ignorando algumas cantadas, quando, finalmente,
para o meu alívio, avistei Hellen e Amanda dançando e se divertindo.
Elas brilhavam na pista, sorrindo e aproveitando a noite como
ninguém, enquanto isso eu não conseguia retirar os olhos de Amanda, o seu
corpo se mexia de uma maneira eletrizante, os seus quadris se moviam com
sensualidade, as suas mãos percorriam desde a cintura até os seios, ela estava
completamente entorpecida com aquele momento e entregue a ele.
Gunter, percebendo a minha inquietação, sugeriu que nos juntássemos
a elas. E assim o fizemos. Ele se dirigiu à Hellen, e eu me encontrei com
Amanda, levando imediatamente às mãos ao corpo curvilíneo que me
pertencia.
Ela sorriu, aliviada por me ver ali.
— Estava quase gozando só de te ver dançando dessa maneira.
A garota gargalhou na minha boca.
— Que bom que você veio. Não aguentava mais a Hellen falando nos
meus ouvidos.
Enquanto dançávamos, sentia um calor agradável percorrer as minhas
células. Nossos corpos se moviam em sintonia, e nossos olhares se
encontravam, comunicando sentimentos que palavras não poderiam
expressar.
A música havia se tornado um mero pano de fundo, e então eu percebi
que não havia lugar na Terra onde eu preferisse estar naquele momento, que
não fosse junto à Amanda.
As mãos dela deslizavam por minhas costas, as minhas, apoiadas em
seus quadris, ajudavam a remexê-los, conforme o ritmo caribenho da música.
Os nossos sexos se uniam e se afastavam, como num convite obsceno.
A boca saborosa de Amanda exibia um sorriso bonito, selvagem e malicioso
ao mesmo tempo, ainda que seus olhos transmitissem um toque de inocência.
Empolgado com as luzes coloridas e o gelo seco, segurei na coxa de
Amanda, encaixando-a ao meu quadril, e então rebolei no meio de suas
pernas, enquanto um beijo sufocante uniu as nossas bocas.
A noite estava quente, e a energia da festa nos contagiava. A conexão
que tínhamos era inegável, quando Gunter teve uma ideia pra lá de
inesperada.
— Jenkins, me deixa dançar com a Amanda? — vociferou em meio à
pista, ainda com Hellen em seus braços.
Mesmo tendo ouvido à sua proposta, não queria acreditar em tamanho
atrevimento.
— O quê? — franzi o cenho.
Amanda me observava com incredulidade.
— Sugiro que troquemos de par. — ele insistiu, gesticulando.
Estava pronto para negar, mas Gunter pegou na mão de minha
namorada, não me dando tempo de nada, e quando percebi Hellen já vinha
com um sorriso na minha direção.
Sem saída, começamos a dançar extremamente próximos.
A loira estava nos meus braços, e uma sensação estranha percorreu a
minha pele, quando ela se aninhou ao meu corpo.
Ironicamente, a música agitada deu lugar a uma mais lenta. Hellen
depositou as minhas mãos na sua cintura e me abraçou de uma maneira
pegajosa e constrangedora.
Nossos corpos se moviam instintivamente, e eu não podia evitar
observar Gunter grudado em Amanda, eles trocavam palavras sussurradas e
sorrisos irritantes, enquanto a música continuava.
A maneira como meu amigo a conduzia era tão confiante e íntima que
me fazia cerrar os punhos com desconforto, sem falar que ciúmes percorriam
cada pedaço de mim, principalmente quando as mãos dele resvalaram nos
quadris de Amanda.
— Espera, Hellen. — afastei a loira e caminhei decididamente na
direção de Gunter.
— Onde você vai? É só uma dança. — Hellen ainda tentou “colocar
panos quentes”, mas não haveria nada que pudesse me impedir.
— Já deu, Gunter. — impus, puxando no ombro dele.
O meu assessor se afastou de Amanda, com as mãos em riste,
enquanto eu puxava na mão de minha mulher.
Bufei, irritado, antes de me sentar em um sofá.
Inferno, eu não me reconhecia mais! Sempre tão seguro das minhas
atitudes, agora me via nas mãos de minha namorada!
— Não gostei da maneira que você abraçou a Hellen. — Amanda
esbravejou nos meus ouvidos, de pé à minha frente. — Não deveria ter
deixando ela se aninhar daquela maneira em você.
Sorri, incrédulo.
— E você se preocupou com as mãos de Gunter roçando na sua
bunda?
Amanda engoliu em seco e depois se sentou ao meu lado.
— Juro que não percebi, ele ficou me dizendo umas coisas engraçadas
e foi só isso! Já a Hellen é uma boa pessoa, mas eu não confio nela.
Prontamente cravei os meus olhos nos de Amanda.
— E em mim, você confia?
Ela me encarou, sem titubear.
— Não tenho certeza.
Nesse minuto, senti como se um soco fosse desferido contra o meu
estômago.
— Claramente, você não confia em mim, Amanda. — afirmei e, para
a minha falta de sorte, passou uma mulher se insinuando descaradamente, ao
meu lado.
Ela sorriu e acariciou os meus cabelos, enquanto passava.
Fiquei sem ação, encarando a mulher, para me certificar se eu a
conhecia, quando Amanda, irritada, girou o meu rosto na sua direção.
— Agora você sabe porque eu não confio em você. — despejou,
ficando de pé e se afastando.
— Amanda, aonde você vai? — tentei alcançá-la, puxando no seu
braço.
— Ao banheiro.
— Vamos conversar. Não podemos estragar a nossa noite com
besteiras.
Eu estava prestes a convencer Amanda, quando de repente o imbecil
do Gunter surgiu do nada!
— Cara, a cerimônia já vai começar, e você precisa se organizar com
o discurso. Os alemães estão aqui e eles querem parcerias. Precisamos ser
meticulosos para conquistá-los.
Bufei, passando as mãos pelos cabelos, antes de dirigir um olhar de
compreensão na direção de Amanda.
— Tudo bem. Faça a sua parte. — ela me respondeu, entredentes. —
Pelo menos eu esperava que você, Trent, me apresentasse como a sua
namorada, como você prometeu, mas o que eu estou vendo agora é que o seu
trabalho realmente sempre estará em primeiro plano. — bufei, fazendo uma
negativa com a cabeça. — Até quando essas mulheres vão vir até você, não
respeitando a minha presença?
Prontamente envolvi o rosto dela nas minhas mãos, deixando um
beijo em sua boca.
— Não criei expectativas erradas sobre mim, Amanda. A noite ainda
nem começou. Ainda tenho tempo suficiente para te apresentar a todos como
a minha namorada. — deslizei o polegar por sua têmpora, os olhos dela fixos
nos meus. — Estarei no escritório com o Gunter. Eu te espero lá.
Amanda assentiu, se afastando, completamente apática e indiferente.
Fiquei ali, por segundos, refletindo se ela estaria realmente disposta a
permanecer ao meu lado, mesmo depois de tanta possessividade de minha
parte, do trabalho que surgia frequentemente como uma barreira,
interrompendo nossos momentos preciosos, sem falar no assédio das
mulheres que era constante, mas, mesmo diante de tantos obstáculos, eu
estava disposto a fazer o meu melhor, para ter Amanda ao meu lado.
Minutos atrás...
Hellen praticamente me jogou no sofá branco de couro. Quiquei entre
as almofadas, bebendo toda a taça de espumante, para tentar relaxar um
pouco diante daquela abordagem indigesta.
Droga, queria estar nos braços de Trent agora e não na companhia
daquela garota maluca!
— Como é estar no centro dos holofotes? Sempre tão discreta! —
Hellen não perdeu tempo, ao me questionar, junto a um afago em meu joelho.
— Eu só queria estar com o Trent agora, eu preciso...
Fiz menção de me levantar, mas ela prontamente puxou no meu
braço, me colocando de volta ao seu lado.
— Você já foi mais simpática comigo, flor. — sorriu num falso
constrangimento, bebericando a sua taça de drink. — Inclusive, eu acho que
você precisa se entrosar mais, agora que namora um homem tão poderoso!
Sei lá, precisa ser mais popular, estar mais em evidência.
Suspirei profundamente.
— Eu não vou mudar só porque estou namorando alguém de
influência. O Trent gosta de mim do jeito que eu sou, admira toda a minha
discrição, então por que devo me preocupar com isso agora?
Amanda depositou a sua mão em meu ombro, num afago.
— Eu gosto de você e torço pelo seu relacionamento. Desejo de
verdade que o Trent continue te admirando do jeito que você é.
— Não se preocupe, Hellen. — retirei delicadamente a mão dela do
meu ombro. — Já nos relacionamos há um tempo e o único obstáculo que
existe agora é o trabalho, esse sim pode vir a ser um grande desafio no futuro.
Ela me avaliou, com empatia.
— Esse é o ônus de namorar Sr. Trent Jenkins, mas pense no bônus,
esse sim vale muito mais à pena.
Hellen sorriu com os lábios presos à taça, dirigindo um olhar
malicioso na direção de Trent. Fiquei com ciúmes da maneira que ela
encarava o meu namorado que, naquele momento, conversava com Gunter.
Prontamente, segurei no queixo da loira, girando-o na minha direção.
— Vamos dançar um pouco? — sugeri, disposta a dar também um
basta na nossa conversa, afinal não queria estreitar laços com quem eu não
confiava.
Para o meu alívio Hellen concordou com um sorriso empolgado no
rosto, e então seguimos juntas para a pista de dança.
Estranhamente, me senti tão livre no meio daquelas pessoas, da
música caribenha que reverberava nos meus ouvidos, a ponto de uma energia
positiva percorrer todo o meu corpo, me incentivando a viver aquele
momento como se fosse o último.
Fazia tanto tempo que eu não me divertia! Sinceramente, não me
lembrava da última vez, então o que me cabia ali, era me entregar ao ritmo, e
dançar como se não houvesse amanhã, ou como se todas as questões
simplesmente não existissem.
A música fluía através de mim, a adrenalina era tão contagiante que,
por um instante, ousei sonhar que a minha avó pudesse melhorar e sair do
hospital! Todo o otimismo foi impresso nos meus gestos e eu me entreguei à
música de uma maneira nunca antes vista.
Era como se a pista de dança fosse um lugar onde todos os meus
problemas se dissipavam e eu pudesse ser verdadeiramente feliz.
Distraída, nem percebi quando Trent me abordou na pista, deslizando
as mãos pelo meu corpo de uma maneira extremamente sensual.
Quando estávamos juntos, éramos como fogo e gasolina.
Então sorri aliviada, ao vê-lo ali.
— Estava quase gozando só de te ver dançando dessa maneira.
Gargalhei na boca de Trent, inspirando o hálito mentalado e o
perfume característico de sua roupa.
— Que bom que você veio. Não aguentava mais a Hellen falando nos
meus ouvidos.
Trent resvalava os nossos quadris de uma maneira deliciosa, eu
simplesmente amava como ele conduzia a nossa dança, com paixão, entrega,
sensualidade... principalmente no momento em que a sua mão bruta afagou a
minha coxa, para encaixá-la ao redor de seu corpo, e então ele me sufocou
num beijo.
Os nossos lábios se encaixavam perfeitamente, os quadris dele se
juntavam aos meus, em meio a reboladas, e enquanto os seus dedos cravavam
na minha coxa, um tesão delicioso apimentava os nossos beijos.
Eu só queria fugir dali, para terminar o que começamos...
— Jenkins, me deixa dançar com a Amanda?
Mas a proposta maluca de Gunter acabou rompendo com o nosso
clima!
Arregalei os olhos, surpresa, com tamanha audácia.
Trent, irritado, imediatamente fechou o rosto.
— O quê?
Fiquei paralisada, temendo que aquilo fosse motivo para que os dois
discutissem.
— Sugiro que troquemos de par. — mas Gunter não desistiu.
Queria me impor e negar aquele convite, mas o ruivo, atrevido e
bêbado, segurou na minha mão, puxando o meu corpo na sua direção, ao
passo que Hellen já estava devidamente encaixada ao corpo que me pertencia.
E, naquele momento, eu tive certeza que só poderia ter sido ideia dela,
trocarmos de casal! Afinal a loira já havia deixado nas entrelinhas que
admirava Trent além do profissional, sem falar nos olhares safados dirigidos
a ele que, sem querer, me confessavam todas as suas intenções mais ocultas.
No entanto, o mais irritante foi a maneira como Hellen repousou a
cabeça no peitoral de Trent, e ele nem ao menos a impediu, pelo contrário,
ele a abraçou quando ela depositou as mãos dele na cintura dela.
Os meus olhos faiscavam, a minha boca estava seca e eu só queria
impedir que aquela dança continuasse!
— Amanda, sabia que é uma puta caridade, você dançar com um cara
feio feito eu?
Não pude evitar o sorriso. Gunter havia me pegado de surpresa.
— Você não é nada feio. Ou isso é uma estratégia para eu te cobrir de
elogios?
O ruivo então me rodopiou, segurando firmemente na minha cintura.
—Talvez seja, Amanda. Afinal, é a forma que encontrei para receber
elogios de uma mulher tão lin...
— Já deu, Gunter. — ouvi de repente ao rosnado de Trent.
O ruivo arregalou os olhos e logo se esquivou com as mãos em riste,
como se estivesse cometendo algum crime.
Trent me arrastou pela pista de dança sob os olhares inquisidores dos
convidados, depois bufou, irritado, para se sentar em um sofá.
Infelizmente, a conversa que tivemos ali não foi nada agradável!
Retoquei o batom, respirei profundamente e saí do banheiro disposta a
ter uma conversa franca com Trent. Estava disposta a dar um fim nos ciúmes
e confiar nas intenções dele comigo, ao mesmo tempo em que queria que
fosse recíproco também da parte dele.
Ao mesmo tempo, refletia que deveria haver mais compreensão de
minha parte quanto aos compromissos profissionais de meu namorado, por
isso estaria junto aos pais de Trent, à frente da mesa de empresários, para
prestigiar o sucesso de seus negócios, e ouvir com admiração ao seu discurso.
Sem sombra de dúvidas, eu torcia muito por Trent e queria muito
colaborar para que os seus objetivos se concretizassem cada vez mais, não
queria, de forma alguma, ser um obstáculo ou um fardo na sua busca por
resultados, pelo contrário, desejava somar ainda mais à sua carreira.
No entanto, também ansiava por equilíbrio. Trent não poderia se
limitar a direcionar todas as suas prioridades ao trabalho, ele estava em um
relacionamento, onde atenção era algo essencial para que as coisas dessem
certo.
Disposta a estar com ele, antes do discurso, para desejar “boa sorte”,
eu me dirigi ao suposto escritório do hotel, onde ele estaria junto a Gunter.
Atravessei o salão de festas e vi que alguns empresários já se
posicionavam na bancada, então acenei simpática para os pais de Trent e, no
caminho, peguei mais uma taça de espumante.
Cruzei a recepção e desejei “boa noite” a um jovem senhor que estava
por detrás do balcão, e depois me dirigi a um corredor de mármore que ficava
ao lado esquerdo dos elevadores.
Logo pude identificar que ali era a administração do hotel, certamente
Trent e Gunter estariam por detrás de uma daquelas portas.
Mas, em qual delas?
Sem pensar em mais nada, logo me atrevi a bater na primeira delas e
abri-la, porém, no momento em que puxei a maçaneta, a taça despencou dos
meus dedos.
Suspirei com uma cena de horror que se passava diante dos meus
olhos.
Trent estava sentado sobre a mesa, recebendo Hellen em seu colo.
Eles estavam... transando?!
As mãos dele nas coxas dela, o vestido pink na altura dos quadris, ela
rebolava sobre ele, sem se intimidar com a minha presença.
Só percebi o momento em que Trent me viu através das madeixas
loiras.
— Se junte a nós. — sugeriu, lambendo o rosto de Hellen, mas tudo o
que eu consegui foi pronunciar um fraco “eu te odeio”.
Bati a porta com fúria e saí dali, aos prantos.
As lágrimas despencavam de meus olhos, a dor da traição era
praticamente física. Levei as mãos ao rosto, em meio a soluços, totalmente
preenchida por raiva, nojo e decepção!
Há quanto tempo Trent teria esse caso com Hellen?
Quando a história deles havia começado?
Agora eu entendia parte da sua possessividade, ele não confiava em
mim porque ele mesmo não era exemplo!
Devastada, saí chorando pela porta do hotel. A minha visão ficou
momentaneamente turva, mas logo consegui me recompor.
Claramente, a noite havia acabado para mim. Eu não queria ver
ninguém, queria voltar para casa e tentar entender onde eu havia errado.
O que seria de mim, daqui para frente?
Levei as mãos à cabeça, sentindo o choro romper em solavancos em
meu corpo, quando alguns fotógrafos e repórteres me abordaram.
Droga, eu não queria falar com ninguém!
— Sra. Amanda Jenkins?
Uns três celulares estavam em minha boca.
Funguei, tentando engolir as emoções.
— Amanda Perry. — a minha voz saiu trêmula.
— A senhora é a secretária do CEO dos perfumes e, agora, a sua
namorada?
Umedeci os lábios, transtornada.
Confesso que a minha vontade do momento era a de entregar Trent e
toda a sua canalhice. Queria orientar aos fotógrafos que se dirigissem ao
escritório, e flagrassem aquela cena imunda, mas resolvi recobrar a seriedade.
— Trent e eu nunca tivemos nada juntos. A nossa relação é
estritamente profissional.
Os repórteres se entreolharam, quando um fotógrafo se aproximou e
me mostrou a sua câmera, com algumas fotos onde Trent e eu nos
beijávamos.
— Essa moça de vermelho é a senhorita? — olhei para o meu vestido
e, merda, não tinha como negar.
— Foi apenas o caso de uma noite, ele me pediu para acompanhá-lo
na festa e nós nos beijamos. Inclusive, eu estou indo embora agora, porque
Trent já encontrou outra companheira. Com licença.
Decidida, me dirigi à calçada.
— Senhora Perry, — pausei os passos. — precisamos de algo mais
impactante. Como pode nos ajudar?
Dei de ombros.
— Eu queria ajudá-los, de verdade, — olhei em direção à janela do tal
escritório, onde a minha honra era completamente ferida. Suspirei, antes de
continuar. — mas, no momento, eu não posso perder o meu emprego.
Os repórteres desviaram, claramente decepcionados e, desolada,
sentei em um dos bancos do jardim do hotel, disposta a me reerguer antes de
seguir para casa, quando senti uma mão pesar meu ombro.
Imediatamente levei os meus olhos para cima.
— Alex?
— Está tudo bem, Manda?
— Me abraça.
Alex chegou com cuidado ao meu lado e me tomou em seus braços.
Estranhamente me senti acolhida naquele gesto, que há tanto tempo não
experimentava.
Alex costumava ser um amigo fiel, muito presente na minha vida e de
minha avó. Nós já passamos momentos muito incríveis juntos, inclusive
compartilhamos algumas experiências únicas, como o nosso primeiro beijo.
Sentir Alex me abraçando me retomava a uma época muito distante,
na qual eu era muito feliz e quando não tinha problemas como esses os quais
estava vivendo agora.
Flagrar Trent junto a Hellen fez o meu mundo desmoronar. Eu não
queria acreditar que aquela cena se passou diante dos meus olhos.
Será que eles realmente tinham um caso?
O que estava acontecendo?
Trent nem ao menos se preocupou se eu poderia flagrá-los!
No momento, eu não queria falar com Trent, eu não queria vê-lo,
muito menos esclarecer nada. Estava me sentindo humilhada demais, para
tentar entender qualquer coisa que Trent estivesse disposto a me dizer.
— Alex, me ajuda. — segurei nas mãos do meu amigo, olhando em
seus olhos. — Você não vai acreditar no que aconteceu.
Ele me avaliou, preocupado.
— Fala logo, Amanda. Como eu posso te ajudar? Por que você está
chorando?
Engoli em seco.
— É tão patético. — abaixei os olhos. — É o Trent.
— Trent Jenkins. — Alex sorriu, soltando as minhas mãos. — Quem
não conhece a fama desse cara? Ele é um canalha. Admito que eu fiquei
surpreso quando te vi com ele!
Umedeci os lábios, sem saber se eu deveria defender Trent ou não.
— Eu comecei a trabalhar na empresa sem intenção alguma de
relacionamento. O meu intuito sempre foi o de ter um salário, uma carreira,
mas a gente se apaixonou e eu acabei me envolvendo muito mais que deveria.
A minha vida praticamente paralisou para eu me dedicar a Trent e aos seus
negócios, estávamos conectados vinte e quatro horas por dia...
Enquanto eu me perguntava como ele ainda foi capaz de sustentar um
lance com a Hellen, as lágrimas jorravam dos meus olhos. Um mal-estar
terrível absorvia os meus sentidos. O meu coração estava em migalhas.
— Não precisa nem me dizer o que aconteceu. O Trent deve ter te
assediado esse tempo inteiro no trabalho, para que vocês tivessem algo
juntos, ou quem sabe uma chantagem, se caso você não cedesse, ele te
demitiria?
Olhei para o meu amigo, com repreensão.
— Não, Alex, não é nada disso. Todo mundo tem essa imagem do
Trent, mas ele não era tão cafajeste assim. — relaxei sobre o banco de
madeira, sem evitar a voz trêmula. — Eu estava iludida, eu sei, mas nesse
tempo em que estivemos juntos, eu sempre soube que ele era um homem
responsável, carinhoso, digno, fiel. Eu sempre tive essa imagem dele e nunca
imaginei que ele pudesse fazer isso comigo.
— Tá, mas me conta o que aconteceu? Estou preocupado.
Volvi os olhos marejados na direção dos castanhos de Alex.
— O Trent estava transando com a sua assessora, Hellen, ali, naquele
escritório, na parte administrativa do hotel.
Alex imediatamente arregalou os olhos.
— Transando?
— É, eu abri a porta e flagrei os dois em cima da mesa. Foi uma cena
horrível, nojenta, eu não gosto nem de me lembrar.
Desolada, levei as mãos ao rosto.
— Poxa, Amanda. — Alex voltou a me acolher nos seus braços. — O
Trent é um imbecil. Quer que eu vá até lá e faça alguma coisa?
Sorri, sem forças.
— Não, infelizmente não há nada que você possa fazer.
Alex afagou o meu rosto e, depois, as minhas mãos.
— Quer ficar um pouco no carro, enquanto você se acalma? As suas
mãos estão tremendo. E lá é mais reservado.
Enquanto eu pensava se seria prudente de minha parte, me refugiar no
carro de Trent, eu vi ao longe Hellen saindo pela porta do hotel.
Senti uma forte náusea me preenchendo, ao observá-la.
Apesar de eu não querer abrir mão do meu emprego, como seria
possível eu voltar a trabalhar ao lado de mulher tão traiçoeira? Ao lado de um
homem tão falso e cruel?
Nisso, a loira ajeitava o cabelo, como se estivesse com a consciência
tranquila, depois retocou o batom em frente ao pequeno espelho que estava
dentro da bolsa, quando, de repente, ela olhou surpresa na nossa direção,
pausando o olhar em mim e em Alex, por segundos.
Permaneci encarando a loira, com toda a decepção que poderia existir
dentro de mim, ela era uma incógnita, às vezes me parecia tão amiga e
solícita, às vezes eu só queria me proteger de todo o seu veneno.
Fiquei apreensiva caso Hellen resolvesse se aproximar, porém, sem
que eu esperasse, o pai de Trent também saiu pela porta do hotel e
cumprimentou a loira, com certa intimidade.
Os dois se beijaram e, depois, para o meu alívio, Hellen seguiu para o
interior do prédio.
O homem começou a fumar um charuto, distraído, com uma das mãos
no bolso, e simplesmente não acreditei quando ele me viu junto a Alex e
decidiu caminhar na nossa direção.
Os olhos de Sr. Jerry eram interrogativos e seus lábios estavam
entreabertos, provavelmente querendo me questionar o que eu estava fazendo
ali na companhia do manobrista.
Alex e eu nos entreolhamos, enquanto eu tentava manter o
discernimento.
Assim que Sr. Jerry pausou ao meu lado, eu fiz um sinal apenas com
os olhos, para Alex, indicando que aquele senhor era o pai de Trent, mas
logicamente o meu amigo não havia entendido bulhufas do que eu queria
dizer.
— Amanda, por que está chorando? Não era para estar no salão,
prestigiando o seu namorado? E não aqui com o manobrista. O que houve?
Suspirei atenta àquela enxurrada de questionamentos, ponderando se
seria conveniente falar a verdade ou não.
— Sr. Jerry, eu não estou nada bem. — Alex logo se colocou de pé, se
afastando um pouco. — Tive uma crise de ansiedade horrível ali no corredor,
e eu precisei vir aqui fora para tomar um ar. Pode ver que as minhas mãos
ainda estão tremendo, estou com palpitação e uma pressão terrível na nuca,
inclusive não consigo voltar mais para a festa. Eu vou ficar no carro do Trent,
até me sentir melhor para ir embora.
O homem soprou a fumaça do charuto, antes de me avaliar com
cuidado.
— Não prefere que eu te leve em casa?
— Obrigada pela gentileza, Sr. Jerry, mas o senhor veio de tão longe
junto com a sua esposa, e eu não quero atrapalhar, afinal a prioridade é a
cerimônia, prestigiar o discurso de seu filho.
Quando me dei conta, Alex estava próximo outra vez.
— É importante para a Amanda ficar sozinha um pouco, eu vou abrir
o carro para ela.
— Senhorita Amanda! Ela é a namorada de Trent Jenkins! — o
homem impôs, corrigindo Alex um tanto quanto ríspido, depois me dirigiu
um olhar fraterno. — Bem, faça o que achar melhor, mas eu estarei na festa,
caso precise de mim.
Alex e eu nos entreolhamos constrangidos com a brutalidade de
senhor Jerry Jenkins, porém não tivemos oportunidade de dizer mais nada, o
homem nos deu as costas e seguiu fumando o seu charuto, para o interior do
hotel.
Alex prontamente me amparou, disposto a me conduzir até o
estacionamento.
— Desculpa pela malcriação de senhor Jerry. — eu disse,
caminhando lentamente ao lado de meu amigo.
Então, o garoto me avaliou com resiliência.
— Já estou acostumado a ser tratado como um merda. Fique tranquila.
Observei Alex de maneira complacente.
— E onde fica a garagem? Precisamos passar pelo interior do hotel,
para chegar até lá? É porque eu não quero cruzar com o Trent.
— Vamos pelo lado de fora, ok? Fique tranquila, você não vai ver
aquele imbecil nunca mais.
A fala de Alex me perturbou de várias maneiras. O fato de não ver
mais Trent, significava que eu não retornaria mais à empresa, algo que eu não
queria, especialmente porque perder o emprego era uma preocupação, e
também pensar em perder Trent para sempre era ainda mais angustiante,
porém tudo indicava que essa era a situação, pois eu não aceitaria aquele
traidor de volta!
A festa transcorria normalmente como se o meu mundo não estivesse
desmoronando. Trent certamente já deveria estar lá, no seu lugar à mesa,
passando, para todos os presentes, a imagem de CEO bem-sucedido e homem
de honra, sendo que, para mim, ele não passava de um mau-caráter.
Alex, meu amigo, me amparava gentilmente até a garagem. Parecia
que havíamos parado no tempo. Ele continuava gentil e atencioso, como na
época da nossa adolescência.
Inclusive, fazia tempo que não nos víamos, uns sete anos mais ou
menos, pois tínhamos perdido contato assim que ele se mudou do meu bairro,
mas, apesar disso, eu sentia que a nossa amizade permanecia a mesma.
E assim que chegamos à garagem, mais especificamente ao carro de
Trent, eu fiz um sinal para que Alex acionasse o controle do Rolls Royce. Em
seguida ele abriu a porta para mim e eu me aconcheguei no banco de trás.
Olhar para aquele lugar e inspirar o perfume de Trent ainda tão
recente ali dentro, partia o meu coração.
Amargurada, comecei a chorar, sem saber como conseguiria seguir
em frente, sendo que eu o amava tanto!
— Por favor, Alex, eu não estou me sentindo bem. Entra no carro
comigo?
O garoto cruzou os braços, visivelmente incomodado com aquela
proposta.
— Entrar no carro com você, Amanda? Você quer que eu seja
mandado embora?
Estiquei as mãos para ele.
— Por favor, Alex, fica aqui comigo. Eu estou me sentindo tão
perdida. Eu preciso tanto de um conforto, de um ombro-amigo.
Como eu poderia ser tão carente? Na realidade, eu não tinha amigos
verdadeiros, nem a minha avó mais por perto, como antes e, agora, estava
sem o Trent.
Eu precisava do apoio de Alex.
— Tá, Amanda. Você venceu.
A rapaz de cabelos cacheados logo se colocou ao meu lado, no banco
de trás.
Estávamos muito próximos, ali dentro.
Fiz menção de fechar a porta, mas Alex me impediu.
— Por favor, me dá um abraço? — o meu amigo assentiu, me
tomando em seus braços. — Eu gostei tanto do abraço que você me deu há
pouco. Aquele gesto me fez reviver tantas memórias, tantas lembranças boas.
— emocionada, olhei nos olhos dele. — Você sente saudades do tempo em
que a gente esteve juntos?
— Ah, Amanda, fala sério. — ele sorriu de lado. — Você só está me
falando essas coisas, porque o Trent estava transando com outra lá no
escritório.
— Não seja besta, Alex. — tomei o rosto dele nas minhas mãos. —
Eu estou sendo sincera, você não está dentro do meu coração para saber o que
se passa aqui, o quanto eu estou me sentindo feliz de verdade, por ter você
aqui comigo, me apoiando nesse momento difícil, da mesma maneira como
fazia antigamente.
— E agora só estamos nós dois aqui, sozinhos, como nos velhos
tempos...
Alex olhou profundamente nos meus olhos e eu soltei o rosto dele, me
lembrando de quando namorávamos. Éramos tão inocentes, e nossa paixão
tão pura.
Alex me passava uma sensação boa, me trazia de volta a minha
infância e adolescência. Eu sentia inclusive o sabor do bolo de cenoura de
vovó, que ela sempre fazia para assistirmos juntos à televisão. As festas de
Halloween, quando saímos para catar doces, pelas redondezas. Os Natais, em
que vovó e eu íamos passar junto aos pais de Alex.
— Eu tenho até hoje a caneca de duende que você me deu num dos
nossos Natais.
Alex sorriu me observando.
— Amanda, por que nos perdemos um do outro?
— Você terminou comigo. Talvez estivesse me traindo. Eu me
lembro muito bem que foi na época em que você se mudou para uma escola
nova.
Alex ficou vermelho.
— Não vamos nos lembrar dos detalhes ruins, apenas dos bons, e esse
aqui faz parte da nossa história.
De repente, Alex me beijou. Não queria que aquilo acontecesse,
porém foi inevitável. Os seus lábios abarcaram os meus, as suas mãos
repousaram em meus braços, enquanto eu fiquei imóvel, experimentando
aquele beijo com um leve sabor de vingança.
Eu não merecia ser humilhada por Trent, ao passo que ele também
não merecia mais o meu respeito.
Alex desceu as mãos para os meus quadris e os beijos se tornaram
mais lentos e imorais, ao mesmo tempo em que meus pensamentos estavam
naquele maldito homem que dizia me amar.
Alex lambia a minha orelha, quando a porta do carro se abriu de
maneira brusca.
— Amanda. — mirei nos olhos decepcionados de Trent. A voz dele
saiu fraca. Tentei me ajeitar, mas o moreno me puxou para fora do carro em
apenas um gesto. — Eu não estou acreditando no que eu estou vendo. Você,
você realmente está fazendo isso com o manobrista?
Ajeitei o vestido, enquanto Alex se colocava ao meu lado, certamente
querendo me proteger.
— Você chegou mais rápido do que eu imaginava. — balbuciei,
acertando o decote.
As mãos de Trent então abarcaram os meus braços, senti a minha pele
queimar com aquele gesto.
— Eu saí no meio da cerimônia para te amparar, mas acabei flagrando
essa baixaria! Você não presta!
Transtornado, Trent largou o meu corpo de qualquer maneira, e eu caí
sobre o capô do carro. Alex fez menção de me ajudar, mas logo foi
arremessado na parede pelo CEO.
— Trent, Trent. — falei com calma, ainda que lágrimas descessem de
meus olhos. — Você não imagina o que eu vi! Eu flagrei você e a Hellen,
juntos! Pelo jeito, você já se esqueceu de que me traiu primeiro?
Trent arregalou os olhos, apavorado com o que eu dizia.
— Eu e a Hellen?! Do que você está falando?
O jeito sonso dele me irritou e eu desferi socos em seu peitoral.
— Eu flagrei você e a Hellen no escritório! E não venha com
desculpas para me enganar!
— Eu e a Hellen no escritório? — ele sorriu, cruzando os braços. —
Eu estava o tempo inteiro com o Gunter. Se você preferir, fique à vontade
para perguntar a ele, — Trent alcançou o meu braço e sacudiu o meu corpo, a
ponto de um dos meus brincos cair no chão. — ou melhor, eu não quero mais
perder o meu tempo te convencendo a nada. Acabou, Amanda. Você acabou
se revelando uma pessoa, pela qual não vale a pena lutar. Você não me
respeitou! Você é falsa! Inclusive, não precisa aparecer mais na empresa. —
ele voltou a jogar o meu corpo sobre o carro. Depois segurou com brutalidade
nos meus cabelos. — Você está despedida. Não me interessa ter mais
nenhum tipo de vínculo com você. — então ele se virou para Alex, que
estava ao nosso lado como se pudesse fazer alguma coisa, parar interferir na
fúria de Trent. — Moleque, você também está no olho da rua. Eu vou falar
agora com o Sr. Ritchie, dono do hotel! — levei as mãos à boca, com pavor.
— E você, Amanda, nunca mais ouse me dirigir a palavra. Suma da minha
vida. Você não imagina o que você fez comigo, com os meus sentimentos,
com todo o respeito que sempre tive por você. Você arruinou tudo.
— Para de ser hipócrita, Trent. — gritei. — Você estava transando
com a Hellen. Eu vi!
Ele segurou no meu queixo, cravando as unhas na minha pele.
— Pare de inventar desculpas para justificar a sua transa com o seu
ex-namorado! Você não me viu, porra nenhuma. Você está sendo injusta
comigo, outra vez!
Alex prontamente segurou nos ombros de Trent, como num sopro de
coragem.
— Ei, cara, olha como você fala com a Amanda. Você estava traindo
ela.
O moreno de um metro e noventa e dois, obviamente não se intimidou
com o pobre do Alex. Segurou na gola do rapaz, em meio a gritos.
— Vocês dois são cúmplices. Inventaram essa história para justificar
essa vergonha que estavam fazendo no meu carro. Não me acuse de algo que
eu não fiz. Vocês não têm cacife para isso. — ele recuperou o fôlego e
continuou. — Quem vocês acham que são para quererem me destruir?
Acabar com a minha imagem? Dá um fora, antes que eu quebre todos os
ossos da sua cara e acabe com você, manobrista. E, Amanda, eu quero morrer
se um dia eu tiver que voltar a te tocar.
Trent deixou um olhar cheio de mágoas nos meus olhos e me deu as
costas.
Alex, que estava no caminho de Trent, foi arremessado e por pouco
não colidiu com as latas de lixo.
As minhas mãos tremiam, enquanto eu afirmava para mim mesma,
que havia flagrada a traição. Eu não estava maluca ou bêbada o suficiente
para imaginar coisas! Era o Trent que estava transando com a Hellen!
Inclusive, desconfiava que ela havia combinado previamente algo
com Trent, enquanto dançavam juntos, aquela proposta de Gunter foi apenas
estratégia para simular a intenção inicial dos dois.
Apesar de todo o turbilhão de emoções, no momento eu só precisava
amparar Alex, que estava no “olho da rua”, assim como eu.
— Alex, eu não queria que tivesse acontecido dessa forma...
A minha intenção era de segurar nas mãos dele, mas, furioso, ele
retesou.
— Claramente você quis se vingar do Trent! — vociferou, e o meu
coração instintivamente apertou por vê-lo assim. — Você me usou, Amanda,
e agora eu perdi o meu emprego! Que merda! Eu nunca deveria ter te
ajudado, nunca deveria ter te amparado!
— Eu não te usei, Alex, eu estava realmente envolvida. — proferi em
súplicas. — Foi muito bom o que a gente viveu aqui nesse carro, mas, me
desculpa, você não merecia que isso acontecesse, eu não imaginava que fosse
chegar a esse ponto.
— Sai da minha frente, Amanda, — ele me afastou com o braço. —
eu preciso ir embora, eu não quero mais falar com você, foi a pior coisa que
aconteceu comigo, ter te visto nessa festa, ter te reencontrado.
Ainda tentei alcançá-lo, mas ele me deu as costas.
— Alex.
— Me deixa em paz.
Ele se afastou, subindo as escadas da garagem.
E o que me restou foi sair do hotel completamente sem rumo, com as
sandálias nas mãos, eu olhei para os lados, sem saber para onde seguir, como
numa amnésia momentânea.
O que me caberia agora era retornar para a casa da minha avó e lidar
com a solidão, cada vez mais pungente, porque agora eu não tinha vovó, não
tinha o Trent, muito menos Hellen ou Alex, eu não tinha mais ninguém, nem
emprego.
Eu não sabia o que seria de mim, daqui para frente.
Trent ter negado tudo o que ele havia feito no escritório, era o mais
óbvio, e eu não ia mais entrar nesse mérito com ele, eu não queria mais
insistir para que ele assumisse a verdade, isso não importava mais, pelo jeito
a nossa história havia terminado, mas, caso as emoções esfriassem, quem
sabe eu ainda poderia querer estar frente e frente com Trent, afinal eu ainda o
amava.
Eu não estava cega, eu vi que era ele, era Trent que estava no
escritório com Hellen, por mais que ele negasse, ele estava me traindo, e a
minha consciência não poderia estar pesada do jeito que estava, porque eu
não fiz nada de errado, só agi como uma mulher ferida agiria.
Eu só queria que Trent sentisse o mesmo sabor amargo que eu havia
sentido, a mesma dor no coração, a mesma humilhação.
Agora, eu não tinha mais Trent, o amor da minha vida.
O que seria de mim?
Naquele momento eu só precisava ir para casa. Nervosa, alcancei o
celular na pequena bolsa, pronta para chamar o Uber.
— Amanda!
Olhei atordoada para trás.
— Trent?
O homem me avaliou por segundos. O rosto, tenso. As mãos fechadas
em punho. O olhar semicerrado e impactante.
— Aqui está o anel de diamantes que eu ia te dar, no final da festa. —
ele retirou o pequeno estojo de veludo do bolso, enquanto a respiração me
faltava. — Faça o que quiser com ele. Essa é a indenização por você ter
ficado comigo todo esse tempo, num namoro secreto.
A caixinha resvalou em mim e caiu no chão.
— Ai, você me atingiu o rosto.
— Você apunhalou as minhas costas. Isso é muito pior do que
qualquer dor física. — ele pegou a caixinha no chão, segurou na minha mão e
colocou o objeto ali dentro, fechando os meus dedos em seguida. — Você
morreu para mim, Amanda.
— Trent, espera.
Ele se foi, e estranhamente eu senti que aquela poderia ser a última
vez que eu o via.
O Uber estacionou e, desolada, eu joguei o meu corpo ali dentro.
Eu não fazia ideia do que o futuro me reservava, apenas que seria um
dos momentos mais incertos e solitários de toda a minha vida.
Nem sei como eu havia conseguido retornar à festa. Ao mesmo
tempo, eu agradecia mentalmente por não precisar compor a mesa da
cerimônia outra vez.
Todas as formalidades haviam terminado, não tinha mais protocolos a
seguir, agora todos estavam livres para terminar a noite, como bem
entendessem, enquanto eu estava completamente fora de mim.
Ver Amanda me traindo foi a pior coisa que poderia ter acontecido
esta noite, ironicamente a noite que seria especialmente nossa. Eu jamais
esperaria essa atitude de uma menina que sempre foi tão doce, sincera e fiel a
mim, alguém que parecia ter princípios, mas que no final se revelou uma
grande farsa.
Prontamente fui em busca de um copo de uísque. Eu precisava desse
acalento. Enquanto isso, Gunter me avaliava ao longe, provavelmente
estranhando o meu rosto transtornado.
Assim que peguei a bebida com o garçom, o meu amigo se
aproximou. Ele estava com um semblante interrogativo.
— E aí, cara? Cadê a Amanda? Conseguiu encontrá-la?
Afirmei com cabeça e bebi mais uísque, depois de balançar um pouco
o gelo.
Bebi três goles seguidos, como se a bebedeira pudesse anular a dor de
uma traição.
— O que foi? Você não está se sentindo bem?
Repousei a mão sobre o ombro do meu amigo.
— Porra, Gunter. Eu não queria te contar, mas eu não vou conseguir
guardar esse segredo só para mim. Como o meu pai havia me falado, eu fui
até o carro onde Amanda estaria se recompondo da suposta crise de
ansiedade, mas eu acabei flagrando ela com o manobrista.
Gunter sorriu totalmente desacreditado de tamanho absurdo.
— Junto? Junto como?!
Umedeci os lábios, antes de conseguir verbalizar.
— Eles estavam transando dentro do meu carro.
Terminei o uísque e fiz um sinal para que o garçom se aproximasse.
— Caralho, meu irmão. A Amanda? — Gunter se calou, visivelmente
perplexo. — Eu nem sei o que dizer num momento desses, mas, pensa por
um lado, isso aconteceu no início do namoro, poderia ter sido bem pior se
vocês estivessem noivos ou casados, ou se a imprensa já soubesse do
relacionamento de vocês.
Bebi uns três goles de uísque, antes de falar.
— Eu juro que eu não sei o que é pior ou melhor, nesse momento. Eu
estou sentindo tanto ódio, tanta raiva. É melhor eu ficar na festa, por
enquanto. Eu não quero encontrar Amanda, muito menos o filho da puta
desse manobrista.
Enquanto estava conversando com o Gunter, a minha mãe se
aproximou. Ela estava com os olhos preocupados e logo colocou uma mão
reconfortante em meu ombro.
Engoli em seco, me preparando para não expor aquela situação
indigesta para ela. A minha mãe não merecia passar por aquilo, uma vez ela
que já estava, inclusive, com esperanças de ter netos!
— Trent, como está a Amanda? Fiquei preocupada, o seu pai me
falou que ela estava tendo uma crise de ansiedade.
Observei a minha mãe de maneira complacente.
— A Amanda vai ficar bem, mãe. Ela foi para casa e achou melhor
descansar.
Forcei um sorriso, ainda que o meu coração estivesse preenchido por
muito ódio.
— Não acha melhor você ir para casa ficar com ela?
Gunter me avaliou, enquanto eu me enrolava em mentiras.
— Eu ainda tenho alguns compromissos aqui, mas daqui a pouco eu
já estou indo embora. E o Thor? Você viu ele por aí? — decidi mudar o
assunto, já que falar sobre Amanda agora, era algo insuportável.
— Ah, o Thor, ele está por aí com uma loira. Parece que é uma
menina que trabalha na empresa também.
Sorri, abismado.
— Uma loira? É uma que está de vestido rosa choque?
A minha mãe me observou, desconfiada.
— É, ela mesma. E tem um cabelo longo, tem uns cílios grandes,
postiços. Parecem postiços.
— Hellen, é isso. — bufei, fazendo um sinal para o garçom.
Passei a mão pelos cabelos, completamente perturbado.
Amanda havia dado um flagra em Thor! Claramente havia o
confundido comigo!
Contudo eu não estava disposto a voltar atrás para consertar algo que
eu não havia quebrado.
— O seu pai está me chamando. Eu já volto.
A minha mãe se afastou e eu permaneci com o olhar perdido,
completamente fora de mim.
Esse era o problema de ter um irmão gêmeo galinha e que também
gostava de usar smoking.
— Cara, você não vai contar para a sua mãe o que aconteceu?
Neguei veemente.
— Não, melhor não preocupá-la, não preocupar meu pai. Eles já
estavam até com esperança de eu ter filhos com a Amanda!
Sorri, desolado.
Ainda bem que eu ainda não havia me convencido a ter filhos, caso
contrário a decepção seria bem maior.
— É bem difícil mesmo, meu amigo. — Gunter ficou pensativo. —
Uma traição não é nada fácil. É um trauma difícil de superar, mas, olha, pelo
que eu entendi era o Thor que estava com a Hellen. Amanda só chegou no
lugar errado e na hora errada.
— Isso mesmo, Gunter. — suspirei. — Era o Thor que estava com a
Hellen. A Amanda com certeza viu o meu irmão gêmeo e pensou que fosse
eu.
— E agora você pensa em desfazer esse rolo?
Bebi mais uísque, e daí me dei conta que precisava dirigir para casa,
bêbado e, ainda, no cenário onde havia acontecido a porra da traição!
— Eu não penso em desmentir merda nenhuma, porque a Amanda já
me provou que ela não tem caráter. Ela, em vez de vir conversar comigo,
tentar colocar tudo em “pratos limpos”, agiu impulsivamente e resolveu me
trair. — sorri. — Por que ela quis se entregar àquele maldito manobrista? Por
que ela decidiu fazer isso comigo, como vingança, sem ao menos se
preocupar em vir falar comigo? Ela poderia, primeiramente, ter esclarecido
tudo e não ter agido da pior maneira possível, mas parece que foi apenas uma
desculpa, pra poder transar com o namoradinho de infância.
Gunter quase cuspiu a bebida.
— Não me diga que eles já se conheciam?
— Mais do que isso! Namoraram!
Gunter ficou ainda mais perplexo.
— É uma situação complicada, mas como que vai ficar a sua relação
com a Amanda na empresa?
Eu já estava seguro de minha decisão.
— Não tem mais relação comigo e com a Amanda. Seja na empresa,
seja no particular. Eu despedi a Amanda e também despedi o manobrista, por
tabela.
— Cara, a Amanda vai ficar desempregada? Você sabe que ela está
numa situação difícil com a avó dela!
— Que se dane, Gunter! — deixei o copo vazio com o garçom e
ajeitei o paletó no corpo. — Ela não pensa em mim e eu também não quero
pensar nela. Inclusive, eu dei um anel de diamantes para Amanda, como
indenização por ela ter me aturado nos últimos meses. Isso já é suficiente.
Gunter gargalhou.
— Indenização? Você é hilário, cara.
— Ela vai saber aproveitar o dinheiro do anel da melhor maneira
possível. — apertei a mão de meu amigo. — Agora eu preciso ir embora,
colocar a cabeça no lugar, tentar dormir ou ficar bebendo uísque pelo resto da
madrugada.
Gunter retribuiu o cumprimento.
— Tá bom, meu amigo, se precisar eu estou aqui. Qualquer coisa me
fala, que eu vou com você.
— Não, eu prefiro ficar sozinho. Até mais.
Saí da festa, percebendo as pessoas me observando. Algumas
mulheres ainda queriam tentar alguma coisa comigo. Se fosse numa outra
época, eu já estaria na cama do hotel com uma delas, mas, o que me cabia no
momento, era me afastar, calado, introspectivo, reflexivo, tentando entender
os motivos de Amanda ter me traído, talvez ela nunca tenha sustentado nada
por mim, no seu coração.
Curiosamente, eu sempre tive certeza dos sentimentos dela por mim,
mas, no lugar de ela vir conversar comigo, me ouvir, ela preferiu a vingança
e, por causa de atitude tão calculada, eu entendia que ela realmente nunca
havia me amado.
Nas últimas semanas eu estava mais sozinha do que de costume. Não
tinha mais o convívio com os colegas da empresa, não estava mais cercada
por pessoas, como costumava ser nos últimos dois anos.
Naquele momento, eu só estava me dedicando inteiramente a uma
pessoa muito especial, já que o auxílio desemprego me dava a segurança de
eu ficar essas semanas apenas cuidando da minha avó, que ainda estava no
hospital, porém de uns dias para cá, ela havia saído do CTI.
Infelizmente, desconfiava que poderia ser aquela “melhora da
despedida” que geralmente as pessoas têm quando estão próximas da morte,
mas, ao mesmo tempo, eu tentava pensar com esperança que, em breve, tudo
ficaria bem.
Seria um verdadeiro sonho, ter vovó de volta, no momento em que eu
mais precisava dela!
Ajeitei algumas coisas para senhora Perry, umas frutas e um bordado
que ela costumava fazer, para tentar distraí-la no hospital, mas, assim que
abri a bolsa, uma tonteira muito forte me percorreu o corpo, a minha visão
escureceu e eu prontamente me sentei no sofá até que aquele mal-estar
passasse.
Será que eu não tinha me alimentado o suficiente, esta manhã? Mas,
poxa, eu havia comido panquecas e tomado um bom copo de vitamina de
morangos!
Mas, mesmo não me sentindo totalmente recuperada do mal-estar, eu
decidi seguir para o hospital, vovó precisava de mim e eu já estava atrasada.
Levemente recuperada, puxei o zíper da bolsa, tranquei a porta de
casa e, no momento em que atravessava o jardim, senti o forte perfume da
vizinha, que acabava de estacionar o carro.
Fiz uma careta e tapei o nariz com os dedos, pois aquele forte cheiro
de lavanda estava me causando uma náusea terrível!
Cumprimentei a mulher com um seco “bom dia”, e ela sorriu de volta,
sem entender muito bem porque eu fechava a respiração.
Tentando me concentrar para não passar mal, respirei profundamente
e chamei pelo Uber, imaginando que o meu fígado deveria estar
comprometido, já que eu estava comendo muitas frituras nas últimas
semanas.
Dentro do carro, eu pensava em Trent, porque aquela acabava sendo a
mesma rotina de quando eu ia para a empresa. Preparava as coisas para levar
para vovó e passava no hospital, antes de ir para a Le Blanc.
Céus, como tudo havia ruído tão rapidamente?
Eu nunca mais havia visto Trent, desde o dia da festa. Inclusive, no
dia seguinte, eu tentei encontrar notícias ou fotografias em todos os jornais e
sites que falavam sobre aquela noite, mas não vi nada a meu respeito.
As fotos que estampavam os jornais eram apenas de Trent Jenkins,
sozinho. Eu não aparecia ao seu lado.
Será que ele havia pedido para que nossas fotografias não
aparecessem nas mídias? Ou a imprensa já estava acostumada a fotografá-lo e
divulgar a sua imagem como o homem solteiro que era?
Apesar de tudo, aquilo não me abalou. Por um lado, tinha sido melhor
mesmo que Trent não aparecesse acompanhado, porque, no final das contas,
eu não tinha mais nada com ele.
Inclusive foi bastante traumático a maneira como terminamos e
acabava refletindo no quanto ele era hipócrita!
Não era para Trent ter ficado com tanta raiva assim de mim. Era para
ele ter entendido o meu lado, afinal de contas ele também estava me traindo!
Por que Trent não queria mais conversar comigo, me ver, ou ao
menos não me demitir?
Eu estava passando por um momento muito delicado da minha vida, e
ele não ponderou essa situação. Confesso, inclusive, que eu tentei ligar
algumas vezes para Trent, mas ele me bloqueou. Ele me bloqueou no
WhatsApp, nas redes sociais e na sua vida.
Quando me dei conta, o motorista já estava estacionando em frente ao
hospital, então ajeitei a bolsa em meu ombro e me despedi do jovem senhor.
Assim que desci do carro e adentrei o hospital, logo me identifiquei
na recepção e subi correndo para o quarto. Estava animada e ansiosa, ao
mesmo tempo, para receber mais notícias de minha avó!
Animada, abri a porta do quarto e logo me deparei com ela acordada,
bebendo um suco e assistindo à televisão.
Parecia mentira que em tão pouco tempo ela havia saído da situação
tão complicada que se encontrava no CTI! Isso só ratificava o quanto Margot
Perry era uma mulher de fibra, forte e resiliente.
— Vó, como a senhora está se sentindo hoje? — deixei a bolsa sobre
a poltrona de canto e logo me sentei ao seu lado, beijando seus cabelos cinza
e perfumados.
— Amanda, meu amor. — ela tomou o meu rosto em suas mãos e me
beijou a testa. — Que bom que você chegou. Eu não aguento mais ficar
sozinha nesse quarto.
Ajeitei uma perna sob a outra, observando vovó beber mais suco.
— Eu tentei vir o mais rápido possível, mas eu estava sentindo uns
enjoos, umas tonteiras, e isso acabou me atrasando.
Vovó quase cuspiu o suco longe, e logo eu a amparei com um
guardanapo.
— O que você falou? — ela arregalou os olhos azuis na minha
direção.
— Pois é, tenho sentido umas tonteiras, umas náuseas. — dei de
ombros, voltando a me sentar ao seu lado. — Eu estou me alimentando bem,
mas talvez seja o emocional abalado, por eu ter que ficar no hospital
convivendo com outros pacientes, vivenciando o sofrimento das pessoas aqui
dentro. A senhora sabe o quanto eu sou sensível para certas situações.
Vovó sorriu, me observando de maneira jocosa.
— Bem, na minha época, esses sintomas queriam dizer gravidez.
Recebi aquelas palavras como um forte soco no estômago.
Eu não tinha parado para pensar sobre essa possibilidade!
Senti as minhas mãos dormentes e o coração na boca.
— Gravidez?! — fiquei de pé, caminhando aleatoriamente pelo
quarto. — Não, não... não pode ser verdade. Eu tenho tomado
anticoncepcional. — parei para refletir. — Bem, nos últimos meses, com a
senhora internada, eu não sei se tenho tomado continuamente a pílula, pode
ser que eu tenha falhado algum dia.
Levei as mãos ao rosto, completamente desesperada.
Vovó prontamente me alcançou, me puxando para perto dela.
— Meu Deus, um bisneto? Será que eu tenho idade para isso?
Ela largou o copo vazio sobre a cabeceira e continuou a me observar
perplexa.
— Ah vó, não brinca. — unimos as nossas mãos, as minhas estavam
extremamente trêmulas. — O Trent me odeia! E eu também o odeio, ele me
traiu! Não existe a possibilidade de eu estar grávida dele. Estou
desempregada, e com o coração partido.
— Eu já te falei para tentar conversar com Trent e esclarecer tudo. —
falou com impaciência.
— Mas como, vó? Se ele me bloqueou e nem quer me ver pintada a
ouro!
— Você precisa ir até a empresa! — levei as mãos aos cabelos, me
sentindo completamente perdida. Os pelos de meus braços eriçavam, apenas
por cogitar estar mais uma vez frente a frente com o homem que havia me
traído. — Não é possível que Trent peça aos seguranças para te levarem
embora! — então vovó fez uma pausa, para me olhar melhor nos olhos. —
Mas antes faça um teste de gravidez, porque aí você já adianta esse assunto
com ele. Quem sabe você não amolece o coração do empresário poderoso
com a sua suposta gravidez?
Levei as mãos ao ventre, imaginando como seria estar grávida num
dos momentos mais conturbados da minha vida.
— Ai, vó, será que eu devo fazer isso mesmo? Trent está me odiando,
vai pensar inclusive que eu quero dar um golpe nele.
— Que golpe que nada, menina. — vovó deixou um breve tapa em
meu ombro. — Vá até a empresa e faça o que eu estou te falando. — então
ela cruzou os braços, junto a um olhar repreensivo. — Não vai ouvir a voz da
experiência?
— Chega a me dar um frio na barriga, ouvir a senhora me
incentivando com tanta convicção, a rever Trent, depois dessas semanas
todas. Ele está com horror a mim, depois que me viu junto a Alex. — vovó
sorriu, porque ela sabia que Alex não era páreo para Trent, aliás ela não
acreditava que um homem feito o CEO poderoso Trent Jenkins, tinha ciúmes
de um frangalho feito Alex Wilson. — E eu nem sei se vou conseguir olhar
nos olhos de homem tão falso! Eu ainda não sei o que fazer. Será que eu devo
ir mesmo até a empresa?
— Vá logo, menina. Você só vai ter certeza das coisas, depois que
passar por elas. Por que está esperando pelo pior? Pense positivo e vá em
frente! Faça o teste de gravidez!
Segurei nas mãos geladas de minha avó e ela olhou para mim, de
maneira complacente. Eu lia nos olhos dela a certeza de que eu estava
realmente grávida.
Eu estava tão nervosa que respirei profundamente, para depois
segurar o ar por segundos. Vovó apalpou o meu rosto e, então, eu dei meu
ultimato.
— Eu vou à empresa ver o Trent, aquele traidor.
Vovó sorriu orgulhosa de mim, enquanto eu já pegava o celular,
disposta a encontrar um bom laboratório para realizar o exame de gravidez.
Joguei às costas na fachada da empresa, fechei os olhos e contei
pausadamente até três.
Havia chegado o momento de me reencontrar com Trent e, talvez, dar
a ele uma notícia bombástica.
Ontem à tarde, segui o conselho da minha avó, fiz o exame de sangue,
para confirmar se estava realmente grávida, já que esse procedimento era
mais seguro que o teste de farmácia, então achei mais prudente ir até o
laboratório.
Hoje, mais cedo, quando eu busquei o resultado, prometi a mim
mesma que iria abri-lo apenas quando eu estivesse frente a frente com o
Trent. Queria compartilhar com ele essa surpresa tão significativa e esse
momento delicado, porém a minha curiosidade não me deixou agir assim.
Ansiosa, tomei o envelope nas mãos, analisando-o com calma e
acabei cedendo à vontade de abrir ali mesmo, na calçada, antes de entrar na
empresa.
O sol de meio-dia assava os meus neurônios, o enjoo estava cada vez
mais pungente e algumas pessoas transitavam pela calçada, me analisando,
talvez o meu semblante pálido e desesperado pudesse estar chamando a
atenção dos pedestres.
Simplesmente puxei o papel, corri os olhos pelas letras miúdas e as
minhas mãos gelaram, tentei respirar, mas não consegui.
— Será mesmo verdade, eu estou realmente grávida de Trent Jenkins?
— duvidei, mesmo com a verdade estampada diante dos meus olhos.
Uma onda de desespero me percorreu, embolei o envelope nas mãos,
recuei contra a parede, apenas sentindo a fachada quente de sol aconchegar as
minhas costas.
Não poderia ser real, logo agora que estávamos separados! Por que
eu tinha que receber essa notícia, num dos piores momentos da minha vida?
Mas, por um lado, eu pensava que Trent, ao me ver nessa situação,
poderia me aceitar de volta, me perdoar pelo flagra no carro e me readmitir!
Agora, que eu estava grávida dele, me sentia inclusive disposta a
perdoá-lo pela traição. Sem sombra de dúvidas seria difícil, e um processo
gradativo, mas eu estava sentindo o coração mais leve para dar essa
oportunidade a Trent, uma vez que o bebê era incentivo para eu superar todas
as diferenças.
Embora eu ainda sentisse muito asco e mágoas da traição, entendia
que o bebê merecia os seus pais juntos, mas não num compromisso, para
assim oferecê-lo uma excelente criação.
Trent certamente se arrependeria de tudo o que fez a mim e me
imploraria para perdoá-lo. Não estava convicta que eu faria isso de primeira,
mas com um tempo o meu coração estaria mais leve e quem sabe um dia eu
iria aceitá-lo de volta.
Sem saída, eu preferi entrar o quanto antes no prédio, para dar logo
um desfecho às minhas expectativas, quando, de repente, uma mão pesou o
meu ombro.
— Amanda, o que você está fazendo aqui?
Fechei o rosto e ajeitei impacientemente os cabelos.
Aquela era a primeira vez que eu interagia com a assessora de Trent,
depois de tudo de ruim que ela havia me causado.
— Oi, Hellen. Bom dia. — fiz menção de me afastar, mas a loira
segurou no meu braço, resvalando as unhas na minha pele.
— Nossa, menina, eu sinto muito pelo que aconteceu. Infelizmente,
todos nós da empresa sabemos que o Sr. Jenkins terminou com você.
Umedeci os lábios, visivelmente irritada.
Estava chocada com a insensibilidade e indiferença de Hellen diante
de tudo o que havia acontecido.
— Fico realmente surpresa de você ainda ter a audácia de vir falar
comigo, depois de tudo o que aconteceu! Não sente vergonha de continuar
fingindo ser a minha amiga? — Hellen piscou os olhos, impactada com o que
eu havia acabado de dizer.
— Ei, o que aconteceu? Do que você está falando? — a sua voz era
calma, enquanto as minhas mãos tremiam.
— Não seja sonsa, Hellen. Eu te flagrei no escritório do hotel, com o
Trent, e foi por isso que terminamos! Eu fui a vítima, eu não tive culpa, eu...
— Não, não. — ela sorriu, revirando os olhos. — Eu realmente
imaginei que você pudesse ter confundido tudo, mas não tive a oportunidade
de te falar. O Sr. Jenkins tem um irmão gêmeo, o Thor Jenkins. Você não o
viu na festa?
Abismada, recuei alguns passos para trás.
Apesar de estar em choque, hesitei em acreditar imediatamente em
Hellen.
— Espera, o que você está me dizendo? — cruzei os braços,
indignada. — Que o Trent tem um irmão gêmeo? Só pode ser mentira sua.
— É verdade, confirme com ele. O Thor é irmão gêmeo do Sr.
Jenkins e era com ele que eu estava no escritório.
Fiquei calada por segundos, olhando para o nada.
Naquele momento, eu começava a entender o quanto eu havia sido
injusta com Trent, o quanto eu o fiz sofrer, gratuitamente.
Mais uma vez, o meu mundo desmoronava. Eu sentia uma impotência
gigantesca, afinal era impossível retornar ao passado, para consertar as
coisas.
Trent não mereceu o troco que eu dei nele.
— Hellen, por que você não me falou isso antes? — a minha voz saiu
trêmula. — Você me viu chorando com o manobrista no pátio do hotel e não
se preocupou em desfazer o mal-entendido? Eu cheguei a abrir a porta do
escritório, você não me viu?
Queria encontrar culpados, justificar os meus erros, embora isso não
fosse suficiente para trazer Trent de volta à minha vida.
— Amanda, eu estava num clima tão gostoso... — ela sorriu,
visivelmente entusiasmada. — você acha mesmo que eu ia perceber quem
estava abrindo a porta do escritório ou deixando de abrir? Eu não sou tão
racional assim como você pensa, ainda mais nos braços de um deus grego
feito Thor.
Passei a mão pelo rosto, sentindo desespero e arrependimento.
— Você não imagina o que aconteceu. Eu fui capaz de me vingar do
Trent, por nada. — balbuciei, perdida.
Hellen então esticou a mão no meu ombro.
— Sim, Amanda, eu sei de tudo o que aconteceu. Você foi audaciosa,
hein. Quem poderia imaginar? Se vingou de Sr. Jenkins com o manobrista, e
no carro dele! E o pobre do meu chefe acabou flagrando tudo. — então ela
pausou e suspirou. — Realmente a sua situação agora é bastante complicada.
Pensava no nosso filho, no que Trent estava pensando a meu respeito,
no tamanho do ódio dele por mim.
— O Trent ter um irmão gêmeo, significa muitas coisas. Ele sempre
foi fiel e me respeitou. — desabafei, sentindo os olhos marejados.
— Sim, Sr. Jenkins sempre foi fiel, mas, agora, infelizmente, ele não
quer te ver mais, Amanda.
Fechei os olhos e engoli em seco. Embora eu estivesse em cacos, eu
não estava disposta a desistir tão facilmente.
Então me encaminhei na direção das enormes portas da Le Blanc.
— Eu preciso falar com o Trent. Eu preciso pedir desculpas...
Contudo senti Hellen me impedindo, ao segurar nos meus braços.
— Calma, ele está em reunião.
— Eu não quero saber. — imediatamente eu me afastei. — Eu vou
falar com o Trent de qualquer maneira, nem que ele interrompa a reunião
para me receber.
O desespero falava por mim, e ainda que fosse tarde demais para
tentar reverter algo tão grave, eu estava reunindo coragem para que Trent me
ouvisse.
— Ei, quem você pensa que é? — Hellen sorriu. — Ele não vai
interromper a reunião só para falar com você!
— Ah, Hellen, dá um tempo. Você já atrapalhou demais a minha vida.
— Eu atrapalhei a sua vida? — ela me cravou os olhos. — Você mete
os pés pelas mãos, age com impulsividade e agora a culpa é minha? Pelo
amor de Deus, né Amanda? Você tinha que respeitar o Sr. Jenkins, ele é um
bom partido, toda mulher sonha com um homem feito ele, só você não soube
valorizar isso.
Abaixei o rosto, observando o envelope amassado nas minhas mãos.
Ouvir a verdade doía demais.
— Você tem razão, eu não soube valorizar o Trent, mas nunca é tarde
demais para desfazer mal-entendidos.
Suspirei, passando as mãos pelo rosto.
— O que você tem aí na sua mão?
— Na minha mão? — fiquei desconsertada. — Ah, esse envelope não
é nada, inclusive você é uma garota muito curiosa.
— Peraí, é de um laboratório? Você está doente ou é da sua avó?
A loira fez menção de pegar o papel da minha mão, mas eu tentei
impedi-la.
— Espera, Hellen, eu não admito que você...
Tarde demais!
Ela foi bem mais rápida do que eu.
— Uau, um exame de gravidez. — os olhos dela estavam surpresos.
— Hellen, me dá isso aqui!
Então ela logo tratou de ler todo o teor do exame.
— Ah não, você engravidou do manobrista? — me avaliou, jocosa.
— Por favor, me respeita.
Imediatamente retirei o papel das mãos dela e guardei na bolsa.
— Então você engravidou do Trent! — concluiu, levando as mãos à
boca. — Deus, estou chocada.
Hellen olhou para mim com os olhos arregalados. Ela mal conseguia
respirar. As suas pupilam me contornavam, e muitos pensamentos a
alcançavam naquele momento. Certamente, ela desejava estar no meu lugar.
— Hellen, por favor, não vá contar nada a ninguém, sou eu que
preciso conversar pessoalmente com o Trent, sobre assunto tão delicado. — a
loira parecia estar em outra dimensão, completamente perplexa. — Não vá
falar nada para ele! Pensando bem, ele não acreditaria em você. Ele não
confia em você.
— Não, amor. — ela sorriu. — Ele não confia em você. — fiz menção
de responder, mas a loira segurou no meu ombro. — Eu acho melhor você
subir, Amanda, esse assunto é realmente muito sério.
— Finalmente você entendeu que é sério. Ainda mais agora que
descobri que cometi um grande erro com Trent!
— Eu vou ao Café, esfriar a cabeça. — Hellen me deu dois beijinhos.
— Boa sorte para você, flor. Espero que o Trent queira te ouvir, mas só
depois da reunião, ok? — então ela acariciou o meu ventre. — Você está
realmente em maus lençóis.
Ignorei a petulância de Hellen, ainda que ela não estivesse tão errada
assim, depois girei em meus calcanhares e, finalmente, adentrei a empresa.
Por mais que fosse difícil tentar contornar situação tão delicada, eu
estava com esperanças de que Trent me perdoasse pelas minhas
impulsividades.
Desejei bom dia às recepcionistas Suzy e Catherine, e me dirigi ao
elevador, cruzando os dedos para que a reunião de Trent já tivesse acabado.
Assim que cheguei ao andar da presidência, o aroma peculiar daquele
local, logo apertou o meu coração. A fragrância Supreme estava por todos os
ambientes e, irremediavelmente, ela fazia parte de minha história com Trent.
Olhei para os lados e vi os meus amigos de trabalho. Obviamente, as
minhas pernas congelaram. A maneira com que eles me encaravam e me
julgavam estava me constrangendo no nível máximo. Eu sabia o que eles
estavam pensando a meu respeito. O pior havia acontecido e eles estavam me
recriminando por isso.
Mesmo intimidada, ainda consegui desejar “bom dia”, mas ninguém
me respondeu. Eles apenas se entreolharam como se tivessem algo
previamente combinado entre eles.
Eu não quis insistir no cumprimento, preferi entender que eles
estavam concentrados demais nas demandas.
Com passos lentos, mas decididos, eu me aproximei da mesa de
Soraya e, então, ela me olhou de cima a baixo como se eu tivesse cometido
algum tipo de delito.
— Amanda, você por aqui? — questionou surpresa, então suspirei,
cruzando os braços.
— Por favor, Soraya, eu preciso falar com o Trent. É algo muito sério.
A mulher baixou os óculos vermelhos, para me observar melhor.
— O Sr. Jenkins está numa reunião importantíssima com os alemães.
Eu tenho certeza que ele não vai querer interromper esse compromisso tão
sério para vir falar com você. — ela fez uma pausa e me contornou o olhar
julgador mais uma vez. — Principalmente, depois de tudo o que aconteceu.
Eu me senti diminuída, mas aqueles eram apenas obstáculos os quais
eu deveria superar.
Olhei para os lados e vi que Gunter também me observava pelo canto
dos olhos.
Chantel e Elizabeth cochichavam e me observavam com dó.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei, indócil. — Vocês, por
acaso, são perfeitos? Vocês não cometem erros? Não metem os pés pelas
mãos, de vez em quando? Vocês nunca se arrependeram de nada do que
fizeram? — despejei, arrancando olhares constrangidos de toda a equipe.
Estava tão incomodada com aquela situação que, mais uma vez, agi
por impulso.
Então Gunter, percebendo o meu desespero, se aproximou para me
amparar, segurando imediatamente nos meus ombros.
— Amanda, melhor você ir embora. O Trent proibiu que falássemos
com você, caso você aparecesse aqui.
Abri a boca.
— Ele fez isso?
— Sim, e ele nos ameaçou, caso a gente tente facilitar alguma coisa
para você, tente convencê-lo a te retornar à empresa, porque nós temos
consciência da sua situação com a sua avó, e que você está desempregada
agora. — perplexa, eu ouvia atentamente a tudo o que Gunter me dizia. —
Trent sabe que nós temos vontade de te ajudar, por isso ele proibiu que a
gente tente se reaproximar de você. Por favor, querida, vá embora.
Sem palavras, olhei apavorada para Gunter, totalmente incrédula com
o que ele me dizia.
Trent foi capaz de impor regras apenas para me humilhar?
Tentei ensaiar algumas palavras, mas não deu tempo. De repente ouvi
a passos atravessando o corredor, prontamente olhei surpresa para os lados,
quando eu vi Trent liderando a sua equipe e, mais atrás, os alemães que o
acompanhavam.
O meu coração disparou.
Eu estava completamente em ruínas por ter cometido tamanha
injustiça com o homem que eu amava.
Agora, o pai do meu filho!
E ele estava tão atraente, o mesmo olhar compenetrado, o porte
bonito, e aquele corpo escultural que se escondia sob o impecável terno
italiano...
Trent congelou os passos assim que me viu, inclusive algumas folhas,
que estavam nas suas mãos, resvalaram de seus dedos e caíram no chão.
Soraya, totalmente solícita, correu ao encontro do seu chefe para
ajudá-lo, então ele se virou para Gunter, fuzilando-o apenas com o olhar,
como se questionasse o que eu estava fazendo ali, num lugar onde eu não era
mais bem-vinda.
Gunter apenas levantou as mãos sem reação e se afastou de mim.
Eu olhei para o pessoal da equipe e todos estavam me avaliando,
como se implorassem para que eu desse logo um fora daquele lugar e não
causasse mais problemas. Pelo jeito, eu estava os prejudicando de certa
forma. De acordo com as informações que Gunter me passou, Trent poderia
suspeitar que estávamos conspirando contra ele.
Então, eu logo resolvi esclarecer tudo e não me acovardar.
— Trent, por favor, não é nada do que está pensando, eu só preciso
conversar com você.
O CEO poderoso logo fez um sinal para que a sua equipe e os
alemães o esperassem.
— Amanda, nós não temos nada para conversar. Não está vendo que
eu estou ocupado agora? — a sua voz saiu mais imponente e grave do que de
costume.
— Então eu vou te esperar.
Em seguida, ele me deu as costas e entrou com a sua equipe e os
alemães, na sala.
Desesperada para falar sobre a gravidez, eu me sentei sobre o sofá de
couro e levei as mãos ao rosto. Pelo jeito, não seria fácil me reaproximar de
Trent.
Eu só pensava no meu bebê, no filho que eu estava gerando em meu
ventre, no pequeno ser que significava vínculo tão forte que me unia a Trent.
O que seria de mim? O que Trent poderia fazer por mim nesse
momento? Será que ele estaria disposto a me ouvir?
Enquanto refletia sobre a minha situação, logo me dei conta que,
agora que a minha avó havia finalmente melhorado, que ela estava prestes a
voltar para casa, eu precisava lidar com situação tão desafiadora.
Não que ter um bebê fosse ruim, longe disso, mas não em contexto
tão instável. Eu não sabia como eu iria agir caso tivesse que criar um filho,
sozinha, o filho de um homem que eu tratei de desrespeitar e ser injusta com
ele e, que no momento, apenas me odiava.
Então, ainda sentada no sofá, eu apenas vi Hellen se aproximando
com dois copos de café do Starbucks. Ela me entregou um e afagou o meu
ombro.
— Você precisa se alimentar.
Olhei para ela com desespero.
— Hellen, por favor, não vá abrir a sua boca quanto a... — apontei
para o ventre. — O Trent está na sala, em reunião. Eu só estou esperando
terminar, para falar com ele.
— Ninguém te falou que você não pode ficar aqui, Amanda?
— Sim, eu sei que eu não posso ficar aqui, que o Trent não quer me
ver na empresa, e que, inclusive, eu estou correndo risco de prejudicar vocês,
mas, você sabe, eu preciso falar com ele.
Então, Hellen sentou-se à sua mesa, bebeu um pouco do café e pegou
o celular.
— Espera só um minuto, por favor.
Fiquei receosa com as intenções da loira, porque eu não confiava nela.
Será que enquanto ela digitava, já estava aproveitando para adiantar o
assunto com o Trent, mesmo sem eu ter falado nada com ele?
Aquela atitude me encucou, mas, ao mesmo tempo, eu tinha um fio de
esperança que me fazia acreditar na boa vontade de Hellen, talvez ainda
existissem boas intenções em seu coração.
Então Hellen olhou para mim e piscou um dos olhos, sorrindo.
— Consegui convencer Sr. Jenkins.
Relaxei aliviada sobre o sofá.
— Muito obrigada, Hellen.
A loira piscou novamente e depois se posicionou diante do
computador, enquanto eu contava os segundos para que Trent me chamasse.
As minhas mãos estavam geladas, ainda que eu sustentasse a bebida
quente entre elas.
Mal me dei conta e a sala foi liberada, bebi todo o café e fiquei ali por
minutos, calada, reflexiva, observando dezenas de homens de terno deixando
o setor, quando eu ouvi a voz de Trent reverberando pelo corredor.
— Amanda, vamos? Não tenho tempo a perder.
O meu coração se apertou, sentindo-o parar na garganta. Tudo poderia
ser resolvido, havia chegado a hora de eu contar ao CEO, sobre a minha
gravidez.
Eu, inocente, pensando que poderia ter um minuto de paz em dia tão
atribulado, me deparei com a Amanda no hall do escritório. E é claro que o
meu coração disparou, que as emoções se reuniram todas para me perturbar!
Eu queria ignorá-la, mandá-la embora, chamar pelo segurança,
expulsá-la como ela merecia, mas, infelizmente, eu precisava ouvir o que ela
tinha a dizer.
Hellen já havia adiantado que era algo extremamente grave.
Queria, ao mesmo tempo, dar um ultimato, falar para a Amanda que
tudo acabou, que ela não teria mais oportunidade nenhuma de trabalhar na
empresa, que nós não tínhamos chance alguma de ficarmos juntos, uma vez
que havia sido muito difícil para mim, pisar na Le Blanc nos últimos dias.
Eu amava Amanda com todas as minhas forças e saber que ela havia
me traído e me acusado por algo que não cometi, era uma dor difícil de
reparar.
Todos sabiam que era Thor que estava com a Hellen. Todos sabiam
que eu tinha sido traído injustamente, e que Amanda havia transado com o
manobrista, por vingança.
Os funcionários, por sua vez, me julgavam, falando nas minhas
costas, comentando sobre a traição, debochando que eu fui substituído por
um manobrista. Isso logicamente me afetou, pois eu virei escárnio nas mãos
dos meus próprios funcionários.
Cansado, permaneci sentado à mesa de trabalho, cocei a testa e olhei
os arranha-céus através da parede vítrea. De costas, eu permaneci, quando
escutei a maçaneta se abrindo lentamente.
— Entre, Amanda, pode se sentar.
Ouvi aos seus passos incertos. O barulho tão familiar do salto alto.
Agora, qualquer indício de que a Amanda estava próxima a mim me dava nos
nervos. Não era mais agradável senti-la por perto.
Eu não queria girar a cadeira, eu não queria olhar nos olhos cor de
menta. Eu tinha medo do que pudesse se passar dentro do meu coração.
Porém, sem saída, eu girei a cadeira e encontrei Amanda numa roupa
casual, diferente da qual ela costumava frequentar a empresa.
Ela usava calça jeans e uma regata, mas, mesmo assim, ela continuava
linda em seus saltos. Os seus olhos verdes ainda brilhavam tão inocentes,
mas, no fundo, ela era uma mulher venenosa que preferiu me apunhalar.
— Trent, eu nem sei por onde começar.
Fiz um sinal para que ela se sentasse e, então, Amanda desfilou até a
mesa e se aconchegou à minha frente.
— A Hellen me falou que você está aqui por causa de um assunto
importante. Se não for sobre a sua avó, nada mais me importa, e é melhor
você deixar a empresa. — resumi-me a dizer, ainda que a minha vontade era
a de possuir o corpo dela, como castigo.
— A minha avó está bem. Ela saiu do CTI, e já está no quarto do
hospital. — Amanda me respondeu com a voz trêmula, as emoções
transbordando em seus olhos.
Confesso que fiquei tranquilo com aquela novidade.
— Era isso o que queria me dizer? — abri algumas pastas e comecei a
assinar e a carimbar papéis. — Então, pode ir. Eu só quero deixar claro que
eu não vou te readmitir, que nós não vamos reatar, que o que você fez...
— Sim, Trent, eu sei que eu fui injusta. — olhei para Amanda,
curioso com o que ela tinha para me dizer. Finalmente havia descoberto que
não era eu que estava na porra do escritório com a Hellen? — A Hellen me
falou que você tem um irmão gêmeo. — as suas bochechas coraram. — Por
que você não me falou isso antes?
Sorri, ficando de pé.
Coloquei as mãos nos bolsos e caminhei até ela.
— Eu precisava te dizer isso, Amanda, que eu tinha um irmão gêmeo?
O seu papel era o de ser fiel, independentemente de qualquer merda. Nós
tínhamos um compromisso. Aliás, eu decidi passar por cima de tudo, de
todos, da imprensa, passar por cima de qualquer tipo de fofoca, de qualquer
consequência que poderia causar assumir um namoro com você, com uma
menina da sua idade, só para te pedir em namoro. Eu fiz de tudo por você e
agora você me culpa por eu não ter te apresentado o meu irmão gêmeo?
— Eu não estou te culpando, Trent. — Amanda ficou de pé e me
olhou nos olhos. Ela estava tão próxima que eu pude sentir o calor emanando
do seu corpo. — Mas o que você queria que eu pensasse? Eu abri a porta do
escritório e vi aquela cena. Poxa, o Thor é idêntico a você. Eu nunca ia
imaginar que você teria um irmão gêmeo, já que a sua vida sempre foi tão
preservada, inclusive de mim. — tencionei os lábios, e Amanda continuou.
— E a Hellen, ela sempre se insinuou para você, eu já vi indícios na fala dela
quanto a uma atração oculta que ela sempre sentiu por você, eu já percebi
vários olhares dela cheios de intenção. A Hellen não é tão inocente quanto
parece. Então eu apenas uni os fatos, considerando que vocês já tinham
dançado daquela maneira íntima e pegajosa na boate.
— Isso não vem ao caso. — desviei para o lado contrário, pois o meu
corpo ainda respondia à presença tão próxima de Amanda. — Você me traiu,
você se entregou ao manobrista, no meu próprio carro. Não tem perdão. —
virei-me para ela. — Aliás, eu nunca perdoei uma traição dentro da empresa,
porque eu sou averso a qualquer tipo de desvio de caráter, logo você já deve
subtender que eu jamais vou te perdoar.
Amanda correu ao meu encontro, aproximando os nossos rostos outra
vez.
— Trent, se você não quiser me perdoar, tudo bem, eu te entendo e te
respeito. Mas, olha, eu tenho uma notícia tão séria para te dar. Eu queria que
pelo menos você me ouvisse e tentasse considerar a minha situação.
Então Amanda pegou um envelope dentro da bolsa. Olhei curioso
para ela e as minhas mãos instintivamente ficaram dormentes.
Inferno, eu já estava desconfiado! Será que era o que eu realmente
estava pensando?
— Veja, Trent, veja com seus próprios olhos.
Estiquei a mão para aquele envelope. Eu não queria acreditar. Era um
exame de laboratório.
— Não, Amanda. — me recusei, já temendo a revelação.
— Abra, Trent.
Cautelosamente, eu abri o papel. E lá estava o teste de gravidez.
Positivo. Joguei o corpo sobre a cadeira, passei a mão pelos cabelos e
continuei encarando perplexo o exame.
Um calor insano percorreu o meu corpo. As minhas mãos formigaram
outra vez.
— Teremos um filho juntos. — ela balbuciou.
Olhei para a Amanda, olhei para o papel e cheguei a uma conclusão.
— Esse filho não é meu.
Joguei o envelope sobre a mesa e me adiantei até a água saborizada,
que ficava sobre o aparador, para beber um bom gole.
— Do que você está falando, Trent?
Virei-me para Amanda, com muita gana e decepção.
— Você transou com o manobrista. Você quer que eu pense o que a
seu respeito? — bebi todo o copo de água, para deixá-lo sobre o aparador. —
Quer que eu confie cegamente em você? Com quantos caras você já transou?
Quem garante que aquela não foi a primeira vez que você se encontrou com
seu namoradinho da infância?
Amanda levou as mãos ao rosto e se sentou lentamente sobre a
cadeira.
— Trent, você é muito cruel. Você sabe que eu sempre fui fiel a você,
fiel até o dia da festa. E o que rolou entre mim e Alex no seu carro, foi apenas
um beijo.
Debrucei sobre a garota, apoiando as mãos nos braços da cadeira.
— Eu não confio em você, Amanda.
Ela volveu os olhos verdes na minha direção.
— Está bem, Trent. Vamos esperar as onze semanas e eu faço o
exame de DNA. E pronto, o filho é seu!
Ela se levantou, de maneira decidida, colocando a bolsa no ombro.
A forma como Amanda estava segura de suas suspeitas e afirmando
que estávamos esperando juntos um bebê, me deixou intrigado. Então eu me
dei conta de que eu precisava ser mais racional naquele momento.
— Tudo bem, eu vou esperar por esses três meses, — cruzei os braços
e Amanda pausou à minha frente. — e já que está grávida, eu exijo que você
permaneça trabalhando aqui, na minha empresa.
Amanda sorriu, impacientemente.
— Você acabou de dizer que não quer me empregar novamente, que
não quer mais conviver comigo!
Diminui o espaço que nos separava.
— Você está grávida. Temos um outro cenário agora. E, além de
tudo, eu sou um homem de caráter. Eu jamais dispensaria uma funcionária
grávida, mesmo que ela seja a porra da minha ex-namorada, que me feriu os
sentimentos, que se mostrou uma pessoa traiçoeira. Eu vou te manter sob os
meus olhos, porque se esse filho for meu, eu vou requerer a guarda dele.
Amanda entreabriu os lábios, visivelmente desesperada.
— Não, você não vai tirar o meu filho de mim. — declarou,
repousando as mãos sobre o ventre.
— Vamos esperar pelos três meses, então. — caminhei de volta para a
mesa. — Se esse exame de DNA der positivo, se esse bebê for realmente
meu, eu vou reivindicar a guarda dele, sim. Você tem se mostrado bastante
irresponsável e inconsequente, não tem maturidade para criar uma criança
sozinha.
A garota me apontou um indicador incisivo.
— Trent, você não pode falar assim de mim. Eu sempre fui muito
responsável, batalhei horrores nessa empresa e ajudei a elevar o seu nome,
então não me resuma a um mero mal-entendido.
— A admiração que eu sentia por você, curiosamente se perdeu. Por
favor, passe no RH agora. — peguei um papel e assinei, era uma solicitação
de readmissão. — Aliás, não comente com ninguém da equipe sobre esse
bebê.
A garota segurou no documento, sem desviar o olhar do meu.
— A Hellen pegou o exame da minha mão e viu que eu estou grávida.
Bufei, impacientemente. Parecia que eu estava lidando com crianças.
— Diga a Hellen que você estava blefando, que o exame é falso. Eu
não quero que ninguém saiba sobre a gravidez. A sua barriga é chapada, por
isso vai demorar um pouco para aparecer.
Desci os olhos para o corpo de Amanda e, inevitavelmente, eu me
lembrei das vezes em que eu deixei beijos molhados por sua barriga, seu
umbigo desenhado, até alcançar a virilha...
— Eu me recuso a me envolver em mentiras.
Recuperei a sobriedade e logo me adiantei para a porta.
— Espera só um minuto.
Saí da sala, transtornado. Eu não sabia onde eu pisava. Os meus olhos
estavam como numa espécie de vertigem.
Do nada, eu poderia ser pai!
Então eu olhei para Hellen e chamei por ela.
— Pois não, senhor Jenkins?
Cheguei bem próximo à loira, para cochichar algo sério.
— Eu queria te pedir para não comentar com ninguém sobre a
gravidez da Amanda. Você sabe o quanto eu preso pela discrição.
É óbvio que eu também pensava na minha imagem. Seria um
descuido deixar vazar que eu havia engravidado a secretária, vinte anos mais
jovem que eu, alguém que certamente me traía, e com quem eu não
sustentava, agora, nenhum tipo de vínculo.
— Como o senhor me pede isso? Tarde demais, eu já comentei com
os meus amigos!
Bufei, mordendo os nós dos dedos.
— Porra. Por que você fez isso? Por que comentou algo tão íntimo?
Com a intenção de ajudar a Amanda, ampará-la junto aos seus amigos? Eu
não proibi que estreitassem vínculos com ela no ambiente de trabalho?
Amanda não é uma pessoa confiável. Quem garante que ela não pode
prejudicar a minha imagem de alguma forma?
Hellen retirou os fones e ficou de pé à minha frente.
— Sr. Jenkins, eu apenas comentei, porque gravidez é algo que não dá
para esconder. A Amanda vai passar por enjoos, tonteiras, vômitos, todo
mundo vai saber, mais cedo ou mais tarde, que ela está grávida, inclusive o
pessoal da equipe desconfia que seja do senhor, apesar do ocorrido na festa...
— Esse filho não é meu. Amanda está enganada. — cocei o alto da
cabeça. — E você tem razão, Hellen. Se eu estou disposto a manter Amanda
sob os meus olhos, nesta empresa, não haveria possibilidades de esconder a
gravidez, mas vamos combinar de não tocar mais nesse assunto, ok?
Hellen então me olhou com curiosidade.
— A Amanda será readmitida?
— Sim, mas eu não te devo satisfações.
Dei as costas para a assessora intrometida e retornei à sala, me
deparando com os quadris deliciosos de Amanda marcados na calça jeans.
Ela estava de frente para a parede vítrea e eu podia perceber o quanto
estava ansiosa, devido à sua respiração completamente alterada.
— Amanda, siga com a Hellen para o RH, ela vai te auxiliar nas
demandas que desempenhará agora na empresa.
A garota se virou na minha direção, com um olhar de censura.
— Não, Trent. Hoje não há a possibilidade de eu voltar a trabalhar.
Eu só vou poder começar amanhã, porque eu prometi à minha avó de passar o
dia com ela. A minha prioridade agora é apenas a minha avó.
Segurei no queixo de Amanda, incomodado por ela estar me
contrariando.
— Esse seu jeito me irrita, mas eu vou acatar ao seu pedido, em
consideração à sua avó, se não eu te despediria uma segunda vez.
Amanda retirou a minha mão do seu queixo e depois se dirigiu à
porta.
— Obrigada por você ter me readmitido, por ter tido consideração
pelo bebê, — Amanda de repente sorriu e uma lágrima escapuliu de seus
olhos. — pelo nosso filho.
— Não atrapalhe as coisas, Amanda. Você já me iludiu uma vez, não
queira me iludir de novo. Eu não vou cair na sua lábia e sonhar que esse filho
seja realmente meu, inclusive eu tenho certeza que ele não é.
— Para, Trent. — ela voltou a se aproximar. — Se você realmente
tivesse certeza que esse filho não é seu, não estaria me readmitindo. Pelo
contrário, estaria satisfeito por ter me colocado no olho da rua e ainda me
pediria para procurar pelo Alex.
— Não fale o nome deste moleque dentro de minha empresa. —
sentei à mesa, voltando a assinar papéis. — Você me respeita, Amanda, eu
sou o seu chefe, e apenas isso. Você será tratada igual aos demais
funcionários, sem regalias, sem intimidades, senhorita Amanda. Dirija-se
agora ao RH. Até amanhã.
Amanda bateu a porta e eu fiquei analisando aquele exame de
gravidez, por minutos. Eu apenas imaginava como seria daqui para frente
convivendo com Amanda grávida, sob o mesmo teto que o meu, mas, não
tinha saída, eu precisava dela perto de mim, até que eu descobrisse se o bebê
era um herdeiro, um Jenkins, ou não.
Provavelmente não era meu filho. Amanda achava que eu era tolo de
acreditar nas suas mentiras. Achou que fosse me comover e conquistar o meu
perdão com um simples exame de gravidez! Mas o pior ainda estava por vir.
Amanda ia pagar por cada lágrima que eu derramei naquela maldita
noite da festa.
Rejeitada e humilhada, saí desolada da sala de Trent, com Hellen no
meu encalço.
Estava sem energia alguma para interagir com ela, queria o quanto
antes me ver livre daquela companhia indesejada, e correr para contar as
novidades para vovó, que certamente ficaria decepcionada com as atitudes de
Trent e sobre o que ele falou a meu respeito, duvidando que geramos o nosso
filho juntos.
— Hellen, você não precisa me acompanhar, eu sei muito bem o
caminho até o RH.
— Amanda, você está de volta. — ela me abraçou, numa falsa alegria.
— Pelo menos isso. Vamos ver agora quais serão as regras que o Sr. Jenkins
vai impor.
— Regras?
Ela me conduzia na direção do elevador, falando pelos cotovelos.
— Ele não vai querer que a equipe estreite vínculos com você, ele já
deixou bem claro que não confia em quem puxa o tapete dele. Inclusive, eu
acho que você não vai continuar sendo a secretária dele, não é? Até porque
agora eu ocupei o seu cargo.
Arregalei os olhos na direção do espelho do elevador.
— Você é a nova secretária do Trent?
Ela sorriu, enrolando os cabelos.
— Sim, eu sou a secretária de Sr. Jenkins. Nada mais natural que isso.
Eu sempre fui uma assessora exemplar, cumpro com todo o trabalho e
rigorosamente o horário. Você foi demitida e eu assumi o seu lugar, simples
assim.
Hellen ajeitou o penteado em frente ao seu reflexo, enquanto eu me
dava conta do quanto eu poderia ser substituível para Trent.
Em breve, ele também me substituiria no seu coração.
A porta do elevador se abriu e eu fiz um gesto, impedindo Hellen de
me acompanhar.
— Vamos ver o que o Trent está reservando para mim. Até mais.
As portas se fecharam e eu me senti mais tranquila, sem a nova
secretária de Trent tagarelando nos meus ouvidos.
Fechei os olhos, suspirei, antes de seguir na direção do RH, refletindo
sobre o que eu havia passado há pouco.
Trent havia me rejeitado. Eu esperava, romântica, que ele me
amparasse, que ele me abraçasse e dissesse que me amava e que me perdoaria
por tudo que eu havia feito.
Eu estava contando com isso, que ele tivesse certeza que o filho era
dele e que não esperasse pelo exame de DNA, afinal, não chegou a acontecer
nada entre mim e Alex!
Era estranho pensar que eu estava grávida de Trent e que a primeira
atitude dele foi a de me rejeitar. Apesar de ele ter me amparado na empresa,
eu tinha a sensação que era um sentimento mecânico, que ele estava
manipulando as situações e não me acolhendo.
Eu vi o ódio nos olhos de Trent, a maneira fria como ele estava me
odiando. Temia, inclusive, que ele tenha me mantido na empresa, apenas para
evitar os escândalos.
Ele me manteria agora sob os seus olhos o tempo inteiro, sob o seu
controle.
Aliás, eu não via mais o Trent de antes, aquele olhar febril de quando
estávamos perto, junto a toda a delicadeza no seu tom de voz quando ele me
abordava.
Tudo havia se perdido porque eu errei, eu fui burra, eu confundi o
Trent com o seu irmão gêmeo!
Retornei do RH, satisfeita por agora poder ter novamente um salário,
por eu poder, de certa forma, estar perto de Trent, embora eu não soubesse o
que o futuro me reservaria daqui para frente.
Completamente abalado, abri a porta do apart-hotel, o lugar onde
Amanda e eu costumávamos nos encontrar. Dessa vez, eu não fui para casa,
eu decidi vir para o nosso local secreto.
Sentei no sofá onde já tínhamos namorado tantas vezes e olhei ao
redor. Tudo parecia tão vazio e sem vida, sem a presença da garota que
costumava ser a minha fuga num dia difícil de trabalho.
E Amanda não era só a minha fuga, era também o meu abrigo, quem
me dava forças para prosseguir. Ela era a emoção dentro da minha razão,
quem me fazia enxergar, numa rotina tão conturbada, o meu lado mais
humano.
Amanda sempre me fez entender que a gente precisava das relações
para poder sobreviver, e não apenas do dinheiro, do poder.
Agora tudo parecia desmoronar à minha frente, Amanda estava
grávida e eu tinha certeza que não era de mim, ela já havia me traído outras
vezes, porque foi tão fácil de ela se entregar ao manobrista, sem vir me
questionar o que estava acontecendo!
Ela duvidou de mim, ela não acreditou na minha fidelidade e fez o
pior para me atingir.
Saí do sofá para pegar um copo de whisky, me servi de uma boa dose
e depois adicionei os gelos. Ajeitei as almofadas do sofá, quando, de repente,
eu encontrei o casaco do terno de Amanda.
Fiquei paralisado, como se ela pudesse estar ali de novo. Segurei
aquela peça entre os dedos e inspirei o perfume.
Aquele gesto fez o meu coração sangrar. Eu não confiava mais na
mulher que eu amava. E eu entendia que nunca mais teríamos nada juntos,
pois como eu poderia conviver com alguém que foi capaz de me trair?
Eu nunca mais dormiria em paz ao lado de Amanda. Agora, mantê-la
sob os meus olhos na empresa era a única saída. Eu não queria que ela
desaparecesse com um suposto filho meu.
Eu iria reivindicar a guarda do bebê e iria criá-lo como meu filho, mas
eu não queria mais Amanda na minha vida.
Bebi toda a dose de whisky e fui para o banheiro tomar uma ducha.
Ironicamente, a escova de dente de Amanda estava sobre a pia. Peguei aquele
objeto e arremessei pela janela do apart-hotel.
Após o banho demorado, caí sem roupa sobre a cama. Desolado,
fechei os olhos e tateei embaixo do travesseiro como maneira de me
aconchegar. Estranhamente, o sutiã de Amanda estava ali debaixo.
Por que eu estava estranhando aquilo? Aquele era o nosso refúgio. As
marcas de Amanda continuavam no apart-hotel da mesma maneira que
estavam dentro de mim, mas ela ia ter o que merecia na empresa, eu não iria
facilitar para ela. Eu seria um outro Trent. E ela seria obrigada a conviver
com a minha nova versão.
Desanimado, eu preferi ficar deitado sobre a cama, fitando o teto, que
já foi testemunha de tantos momentos quentes, ali dentro, naquele pequeno
espaço.
De repente, o meu celular vibrou sobre a cabeceira. Peguei o aparelho
e vi que Gunter estava me ligando.
— Fala, cara.
Suspirei, coçando os olhos.
— Espero que esteja bem. Deixa eu te perguntar. A Amanda está
realmente de volta? É isso mesmo que eu entendi?
— Amanda está grávida. — despejei, sem rodeios, uma vez que
Hellen já havia divulgado para “Deus e o mundo” sobre a condição de
Amanda.
— Eu soube. Que merda. E você acredita que esse filho seja seu?
Gunter não fazia ideia do quanto aquela pergunta me afligia.
— Amanda está convicta que é meu, mas eu não confio nela. Acredito
inclusive que ela estava disposta a me dar um golpe, mas ela não contava que
eu pudesse descobrir tudo, na noite da festa. Esse bebê pode ser do
manobrista, de outros amigos de infância, de alguém que veio da Califórnia...
— Peça o exame de DNA, é tão simples de resolver.
— É o que combinamos, mas ele só pode ser feito daqui a três meses.
E nesse tempo, eu quero a Amanda na empresa. Eu não quero ela longe de
mim ou que ela suma com o suposto herdeiro, com o suposto Jenkins.
— Como você vai conviver com a Amanda durante esses três meses,
cara? Você não consegue disfarçar a sua aversão a ela e, inclusive, não quer
que a gente se relacione mais com a menina.
Cocei a barba por fazer, me sentindo sufocado com tantas questões.
— Eu continuo não querendo que vocês tenham uma relação com a
Amanda. Vocês precisam ser frios e indiferentes, deixá-la vir recorrer apenas
a mim. Ela vai ser obrigada a conviver comigo e sentir o sabor amargo da
vingança. Se ela é uma pessoa vingativa, eu posso ser pior. Ela não se vingou
de mim, pela minha suposta traição? Agora ela vai ter o que merece.
— Trent, a Amanda está grávida, não pega pesado com ela.
— Eu sei o que eu estou fazendo. Ao final dos três meses, teremos
uma resposta. E se esse filho for meu, eu vou requerer a guarda dele.
Apenas pensava, se caso eu tivesse um filho, o quanto eu me sentiria
fortalecido e satisfeito com essa condição, ainda que nunca tenha sido o meu
maior sonho.
— Você com um bebê? Tem certeza que você vai dar conta disso?
Você tem jeito com crianças, Trent?
— Nada disso importa. Será um filho meu. Tudo se tornará mero
detalhe, perto da importância que vai ter uma criança na minha vida.
— Amanda vai sofrer muito se ela perder esse filho.
Bufei, tentando ponderar.
— Eu já estou sofrendo por perdê-la. A solidão que está nesse quarto,
cada traço dela nesse apart-hotel, cada lembrança, tudo isso é devastador. Ela
fez isso comigo e eu não vou poupá-la. Boa noite, Gunter.
Desliguei o aparelho, jogando-o sobre a cama.
Tudo estava tão obscuro. Meu desejo de vingança falava mais alto
dentro de mim. Amanda iria sofrer tudo que eu estava sofrendo. Eu não
estava acostumado a ser passado para trás. Eu não estava acostumado a
perder e, fatalmente, ela havia trazido esse sentimento de derrota para dentro
de mim.
Agora Amanda iria sentir na pele tudo que eu também estava
sentindo.
As minhas vistas estavam embaralhadas diante de tantas informações
solicitadas naquele relatório, mas aquilo não ia me abalar.
Eu sabia que Trent estava fazendo de propósito, contudo eu estava
disposta a provar para ele, que eu era boa o suficiente para permanecer na sua
equipe, mesmo que ele usasse de todas as artimanhas para me deixar
insegura.
Prontamente girei a cadeira na direção de Hellen.
— Você pode me ajudar com esse cálculo? — suspirei. — Eu não
quero refazer pela terceira vez esse relatório.
Então ela me olhou segurando o telefone no ouvido.
— Desculpa, Amanda, eu não posso falar com você agora, estou
numa ligação importantíssima com um dos sócios da Alemanha e você está
me interrompendo.
Sorri amarelo para Hellen, pois essa não era a primeira, nem a última
vez, que ela me ignorava.
Aliás, toda vez que eu chegava à empresa, ninguém me desejava
“bom dia”, ninguém sorria para mim, as pessoas passavam com os rostos
baixos ao meu lado ou atendiam os seus celulares, como se eu fosse um
objeto.
Na hora do almoço, eu me sentava na copa com a minha marmita e os
colegas levantavam para mudar de lugar!
Eu estava sofrendo com tamanha indiferença e humilhação, mas nada
disso seria suficiente para me abalar. Eu ia permanecer na empresa, até que
eu pudesse fazer o exame de DNA e provar para Trent, de uma vez por todas,
que ele estava errado.
Eu estava disposta a ser forte e resiliente, assim como a minha avó
sempre foi.
E, agora, por mais que eu evitasse falar com Trent, eu seria obrigada a
entrar na sala dele e pedir ajuda com aquele maldito cálculo!
Aquela era a minha única saída, então foi o que eu fiz.
Respirei pausadamente, dei uma mordida na minha maçã,
considerando que agora a minha mesa ficava cheia de frutas, e segui para a
sala do meu chefe.
Obviamente, as pessoas se entreolharam, assim que presenciaram a
minha atitude, mas eu estava disposta a conservar o meu emprego, a
continuar com o meu bom salário, para poder sustentar meu bebê, e não
pretendia esmorecer diante das dificuldades.
Dei dois toques na porta e adentrei a sala do magnata.
Trent estava ao telefone e logo fez um sinal com a mão para que eu
pausasse. Umedeci os lábios olhando constrangida para os lados, mas, mesmo
assim, eu fiquei ali, até que ele terminasse a ligação.
Trent, pelo jeito, não estava muito feliz de me ver no seu escritório.
O seu semblante estava fechado, muitas rugas de preocupação
estampavam a sua testa, mas ele continuava com seu belo porte de deus
grego.
— Quem te deixou entrar aqui? Você precisa avisar à minha
secretária antes de entrar na sala, senhorita Amanda.
Ajeitei os papéis nas mãos e dei alguns passos até ele.
— Trent, eu só preciso de uma ajuda. — puxei a cadeira e me sentei.
Os seus olhos estranhamente me devoravam. — Já que você proibiu a equipe
inteira de me ajudar e a falar comigo, preciso de ajuda nesses cálculos, nessa
parte especificamente, porque eu já terminei o levantamento da parte final.
De repente, ele segurou as folhas e institivamente pegou na minha
mão. Os nossos olhares se cruzaram. Trent ficou por segundos me olhando,
analisando o meu rosto, meus olhos, depois a minha boca.
Um fogo insano percorreu as minhas células. Fazia tanto tempo que a
gente não se tocava, que não nos beijávamos. O meu corpo clamava pelo
dele, como se fosse vital Trent me beijar agora.
Seus dedos permaneciam entrelaçados aos meus. Ele não sabia como
agir. Quando, de repente, retesou.
— Isso é tão simples, você já fez tantas vezes. Pelo jeito, você está
querendo se esquivar do trabalho.
Cruzei as pernas, focando o meu olhar no dele.
— Ok, não precisa me humilhar, eu só preciso de ajuda com esse
cálculo. Eu nunca fiz relatório tão minucioso, senão já estaria pronto na sua
mesa.
Então ele debruçou à minha frente e se aproximou do meu rosto,
permitindo que o perfume delicioso me invadisse as narinas.
— Meça suas palavras, eu sou o seu chefe. — balbuciou com
autoridade a ponto dos meus braços arrepiarem. — A porra do relatório era
para ser entregue às dez da manhã e já passou das onze.
Desviei o olhar irritada, por não estar correspondendo às expectativas
de Trent. Queria surpreendê-lo com o meu trabalho, como sempre fiz, e
demonstrar que sua indiferença não era capaz de abalar as minhas estruturas.
— Tudo bem, Sr. Jenkins. — respondi, ainda bem próxima a seu
rosto. — Por favor, me ajuda? Eu só quero ser a funcionária exemplar que
sempre fui.
— Na verdade, eu preciso muito mais do que um relatório. — ele
alcançou as minhas mãos, para depositá-las no seu peitoral. Suspirei, ao
receber aquele tranque em meu corpo, no momento em que me puxou na sua
direção. — Vem aqui, bem perto de mim.
Quando me dei conta, eu já estava de pé e apenas a mesa nos
separava.
— O que você quer, Trent, com isso? — gaguejei.
— Amanda, olhe bem aqui no fundo dos meus olhos.
Trent se aproximou bem mais do que deveria. Instintivamente nossos
lábios se tocaram, fazia tanto tempo que a gente não se aproximava daquela
maneira e, por isso, aquela sensação se tornou ainda mais deliciosa.
— O que você quer, Trent? Fala logo! — supliquei, sentindo as suas
mãos brutas descerem da minha cintura, para os meus quadris.
Ele afagou a minha bunda de uma maneira selvagem e deliciosa.
— Você não imagina o sentimento ruim que estou alimentando por
você, aqui dentro, Amanda. Como foi possível você despertar isso em mim?
Eu te amava tanto.
Pendi a cabeça para trás, experimentando beijos lentos por meu
pescoço. O meu corpo estava coberto por arrepios.
— Trent, eu não vou voltar mais nesse assunto. Você sabe muito bem
que eu fiz por vingança.
As suas mãos seguraram de maneira rude nos meus cabelos e, em
apenas um gesto, ele voltou a aproximar as nossas bocas.
— Você é uma pessoa vingativa, Amanda, mas eu posso fazer da sua
vida um Inferno. Sinta o que você perdeu.
Ele segurou na minha mão e levou até o seu pau duro, me ajudando a
massageá-lo.
Mordisquei os lábios e esfreguei as pernas, sentindo o meu sexo
pulsar.
O meu corpo estava em chamas, os meus olhos presos aos de Trent.
Ele sabia que tinha a mim, nas suas mãos daquela maneira insana.
— Não me faça ameaças, Trent. Eu já tenho noção de tudo o que vou
passar nessa empresa, mas, mesmo assim, você não vai me fazer desistir. —
pronunciei essas poucas palavras, cortando as sílabas.
Apesar do tecido da calça, eu conseguia sentir o quanto ele estava
quente e pronto para mim.
Um homem lindo, poderoso, perfumado, gostoso, me incentivando a
apalpá-lo daquela maneira...
Quais eram as pretensões de Trent Jenkins?
— Amanda, não repita mais isso. — ele se sentou em sua cadeira e
fez um sinal para que eu me aproximasse. Engoli as salivas acumuladas em
minha boca e o obedeci, como se estivesse enfeitiçada. — Você não vai
desistir, eu não quero que você desista, você vai continuar na empresa até os
três meses de gravidez, nem que para isso eu precise triplicar o seu salário.
Estava frente a frente com Trent. Ele sentado e eu de pé, quando de
repente fui alçada contra os seus músculos e, instintivamente, eu me sentei no
seu colo.
As minhas mãos, na sua nuca, as dele, nas minhas coxas.
— Eu só vou continuar na empresa, para provar que esse filho que
estou esperando é seu. — proferi, roçando os nossos narizes.
As suas mãos avançaram deliciosamente sob a minha saia. Ele afagou
a minha bunda e puxou lentamente a minha calcinha para baixo.
Arfei.
— Eu tenho certeza que esse filho não é meu. — rosnou, esfregando o
meu clitóris umedecido.
Sem perceber, me movimentei sobre ele, me livrando da lingerie e
Trent, por sua vez, apenas se preocupou em colocar o pau duro para fora.
— Então espere para ver, Trent. — sorri, excitada. —Esse filho é
realmente seu.
Ele segurou com brutalidade na minha cintura e me ajeitou sobre ele.
— Pare de mentir para mim, Amanda.
Sentei sobre o membro rígido e comecei a quicar sobre o homem pelo
qual eu era louca.
— Trent, por favor. — gritei, fechando os olhos.
— Quieta.
Automaticamente os dedos dele se dirigiram para a minha boca, como
maneira de me calar.
Gemi, deslizando sobre o pau duro, buscando ar quando ele beijava a
minha boca.
— Será que não dá para você parar de usar esse perfume, que me
lembra tanto o nosso passado? — ele lambeu o meu pescoço. Com as mãos
sobre seus ombros, quicava sobre a estrutura rígida, sentindo seus dedos
estimularem enlouquecidamente o meu clitóris. — Essa pele, Amanda... essa
boceta quente e melada... Pare de tentar resgatar o que perdemos lá atrás.
Gemi, revirando os olhos, enquanto me deliciava com o pau atingindo
um ponto muito estratégico dentro de mim.
— Eu não estou fazendo nada. É tudo tão natural, Trent...
Ele cravou as unhas curtas na minha bunda, me impulsionando a
quicar cada vez mais freneticamente sobre o seu sexo.
Depois olhou nos meus olhos, na minha boca e deu um sorriso breve,
antes de me beijar.
Perdi o ar, diversas vezes, enquanto Trent continuava me beijando e
me massageando, percorrendo as mãos nas minhas costas, nas minhas pernas.
A fusão de nossos corpos me derretia, me melava.
— Esse pau que está te fodendo agora, ainda vai estar na boceta de
muitas.
— Nunca, Trent.
Envolvida com aquele momento, peguei na nuca de Trent com
violência, e curioso que ele me beijou lentamente, me fazendo sentir cada
pedacinho dos músculos de seus lábios, a sua extrema coordenação motora.
As nossas línguas disputando quem dava mais carinho à outra...
Depois ele beijou meu olho, meu queixo, meu pescoço e, em resposta,
mordi brevemente a sua orelha, e eu vi quando ele arrepiou.
A nossa energia transcendia, unindo todas as nossas versões em um
único momento.
Então observei Trent, com cuidado, e vi que ele apertava os olhos,
soltando um forte grunhido de desejo.
— Sinta como eu te quero, minha puta, mas, infelizmente, você me
perdeu.
O meu corpo chicoteou sobre Trent, num acesso louco de tesão, a
ponto de eu puxar a gravata dele e mergulhar um beijo imoral na sua boca.
Ele apertou meu pescoço, me afastando um pouco, para morder meus
seios.
Nisso, senti que Trent havia transbordado em mim. As nossas línguas
voltaram a se unir intensamente, com fogo e principalmente saudades.
Pertencíamos um ao outro, ainda que o destino insistisse em ditar as
regras.
Quando me dei conta, Trent segurou no meu corpo e me colocou de
pé. Catei a minha calcinha no carpete e me vesti, antes que alguém nos
flagrasse.
Trent já estava devidamente vestido, mas ainda parecia afetado pelo
que tínhamos acabado de consumar ali. O seu rosto estava avermelhado, os
seus olhos pareciam brasas, quando ele resolveu quebrar o silêncio.
— Por favor, tire cópias desses documentos. Eu vou terminar os
cálculos do relatório, já que você não foi capaz de fazer isso. — friamente,
foi apenas o que ele me disse.
Mordisquei os lábios, tentada a fazer mil perguntas, porém optei pelo
mais óbvio.
— Sim, Sr. Jenkins. — então resolvi pausar os passos, antes de deixar
a sala. — E você não foi capaz de cumprir com a sua promessa de nunca mais
me tocar.
Ele me observou como um tigre feroz prestes a atacar a sua presa.
O que me coube foi sair da sala, praticamente tropeçando em meus
pés.
Estranhamente um nó sufocava a minha garganta. Nunca havia me
sentido tão desprezada.
Além disso, Trent acabou despertando em mim sentimentos que já
estavam adormecidos há tempo, sentimentos os quais eu já estava superando,
pois claramente eu ainda o amava, apesar da sua prepotência, da sua sede de
vingança, eu ainda o queria e o desejava mais do que tudo.
E, por um breve instante, cheguei a ponderar se a melhor opção seria
pedir demissão, desaparecer das vistas de Trent e criar o bebê, sozinha. Não
sabia se teria forças para suportar tamanha humilhação por tanto tempo.
Trent só estava me testando, se eu ainda o queria, mas agora ele tinha
certeza que eu seria capaz de tudo para ficar com ele, havia descoberto as
minhas fragilidades e certamente usaria isso contra mim.
Apesar de tudo, eu sentia que Trent ainda me amava. Os beijos dele o
denunciaram, a maneira como ele me recebeu em seu colo.
Sentei atordoada em frente ao computador.
— Amanda, por que você demorou tanto na sala do nosso chefe? —
Hellen chamou a minha atenção e eu olhei surpresa para ela. — Será que foi
apenas dificuldade de entender o que ele estava te pedindo no relatório?
Sorri.
— Hellen, por favor, você ficou o dia inteiro sem me dirigir a palavra
e agora vem me questionar certas situações que não te cabem no momento.
— Amanda, eu só estava preocupada com você. — ela me observou
com censura. — Você está gravidinha e poderia ter passado mal. Eu só quero
ajudar. — então ela me entregou a minha garrafa de acrílico. — Eu trouxe
mais água para você.
— Obrigada, Hellen. — bebi um pouco da água, ciente de que
precisava me hidratar, quando decidi me aproximar um pouco mais da loira.
— Vem cá, me fala uma coisa. O Trent já comentou com você sobre ainda
gostar de mim? — a garota me observou pelo canto dos olhos e depois pegou
o celular, para enviar mensagens. — Hellen, estou falando com você.
— Agora eu não posso. Estou respondendo uma mensagem
importantíssima.
Bufei e voltei para o computador.
Até quando eu ia suportar aquele clima terrível na empresa?
Apesar disso tudo, eu não iria desistir, eu estava ali por diversas
questões. Inclusive o meu brio estava em jogo.
Assim que cheguei ao setor, senti que havia algo diferente. Tudo
estava escuro e em silêncio. Então, decidi acender imediatamente as luzes,
para tentar chegar à minha mesa e, ao vislumbrar o vazio, fiquei confusa com
o que poderia estar acontecendo.
Será que eu havia confundido sexta-feira com o sábado?
Prontamente olhei para o relógio de parede e vi que passava das oito
da manhã. Inclusive, eu estava atrasada.
Transitei entre as mesas e observei cada canto para certificar se havia
algo diferente. Não entendia por que todos estavam fora.
O que será que Trent havia aprontado dessa vez?
Sem saída, corri diretamente para a sala dele. Dei dois toques na porta
e puxei a maçaneta.
Trent estava de costas, olhando através da parede vítrea. Os arranha-
céus se confundiam com o enorme ego daquele CEO poderoso.
— Bom dia, Amanda. Está atrasada. — ele proferiu, sem me olhar.
— Bom dia, Sr. Jenkins. Por um acaso hoje é feriado e eu me
esqueci?
Sorri, ainda perdida.
Então Trent virou na minha direção e me cravou seus sérios olhos
negros.
— Não, hoje não é feriado. Fui eu que dei folga para a equipe.
Surpresa, levei a mão à boca.
— Folga para toda a equipe? — repeti, consternada. — E qual é o
motivo para isso? Por que não me avisou? A minha avó está necessitada,
insistiu para que eu ficasse com ela, mas eu precisei vir trabalhar! Sem falar
que eu me atrasei porque estava vomitando até o almoço de ontem.
Trent estava digitando no computador e assim permaneceu.
— Srta. Amanda, você não vai me comover com os seus sintomas de
gravidez. Hoje, eu resolvi fechar o escritório, para que você realize uma
demanda importantíssima para mim. — ele pegou uma pilha de papéis. — Eu
preciso entregar esses dossiês, amanhã, para uma empresa inglesa, e você
precisa me ajudar com isso.
Cruzei os braços, curiosa.
— Por que não chamou o Gunter ou a Hellen?
— Não me diga o que eu devo fazer. — de repente, ele ficou de pé,
para caminhar até mim. — Eu escolhi a pessoa certa para me auxiliar nessa
demanda. E eu quero que você passe o dia aqui comigo.
O hálito mentalado me atingiu deliciosamente as narinas, observei
seus lábios bonitos e gostosos, a gravata preta cheia de nuances.
— Eu acho tão sufocante ficar com você o dia inteiro. — impliquei e
Trent deu um breve sorriso. — Você não pensa o mesmo a meu respeito?
Afinal, você não me suporta.
Trent me tomou em seus braços, cravando os dedos nos cabelos de
minha nuca.
— Eu não suporto o que você fez comigo, Amanda. Agora o seu
trabalho, esse sim eu admiro. Você está se saindo bem na sua nova função.
Assessorar a Hellen não é nada fácil.
Depois ele se esquivou e voltou a se sentar à sua mesa, enquanto eu
sentia o perfume dele na minha roupa.
— Conviver com a Hellen não é fácil, — retifiquei. — mas eu estou
aqui pelo salário, e para que você acredite de uma vez por todas que eu
espero um filho seu. — levei as mãos ao ventre. Eu já sentia um amor tão
forte pelo meu bebê! — Inclusive, já está chegando o final do nosso prazo.
Ele me dirigiu um olhar frio. Parecia que havia esquecido do dia em
que retirou sangue no laboratório, para comprovar que o filho era dele.
— Não vamos entrar nesse mérito agora, temos muito trabalho pela
frente, e eu preciso de concentração.
Cheguei bem próxima a Trent e segurei no seu queixo.
— Olha para mim. O que eu fiz foi tão grave? Eu não beijei Alex por
prazer ou simplesmente porque queria outro cara, foi apenas uma injeção de
autoestima.
Ele me aproximou de seu corpo, me puxando pelos meus quadris.
— Não me restam dúvidas sobre a sua índole, afinal os fatos já me
disseram muito sobre ela. Eu vi você me traindo.
Passei as mãos pelo rosto, rendida.
— Tudo bem, Trent. Até quando vai insistir nessa história e me
crucificar por isso?
Ele se levantou, se afastando de mim.
— O pior, Amanda, foi te flagrar com a porra de um manobrista...
Sorri, observando a paisagem acinzentada do outro lado da janela.
— Eu feri o seu ego. É difícil demais para você, saber que eu te
troquei por uma pessoa infinitamente inferior. — dei de ombros. — Bem,
para você, o Alex pode ser inferior, mas, para mim, vocês dois têm a mesma
importância, afinal foram os únicos homens da minha vida.
Trent arregalou os olhos na minha direção. Visivelmente, aquela
afirmação o enervou.
— Não me coloque no mesmo patamar que aquele moleque. Eu já
pedi a você que não fale comigo sobre ele. Eu odeio tudo o que remeta a esse
caso que vocês tiveram juntos. — esbravejou, se sentando irritado à mesa.
Sentei sobre os documentos, bem à frente de Trent.
— Eu não tive caso nenhum com Alex, apenas lá atrás, ainda
adolescentes. Você sabe muito bem porque eu fiquei no seu carro com ele. Eu
estava me sentindo cruelmente apunhalada, depois de ter visto o seu irmão
gêmeo que, para mim, era você.
Trent se ajeitou à minha frente, depositando as mãos em minhas
pernas.
— Você não traiu o Thor. Traiu a mim, à minha confiança. — então
ele voltou a ficar de pé e me deu as costas. — Vamos ver, Amanda, se você
vai ser capaz de cumprir com tudo o que estou te pedindo e, quem sabe, eu
volte a confiar em você.
— Tudo bem, — desci da mesa, para depois ajeitar o calhamaço de
folhas nos braços. — eu vou começar o trabalho agora e dar o meu melhor,
como sempre foi, e tentar relevar que você está fazendo isso por vingança. —
sorri, desanimada. — Em plena sexta-feira ensolarada, em que todos os
outros estão curtindo suas famílias, viajando, emendando o final de semana,
eu estou aqui, ouvindo desaforos e me humilhando para te provar algo que
você já sabe.
Trent então resolveu me encarar nos olhos. Ele exibia um semblante
sério e indiferente.
— Não reclame, Amanda, não era para eu ao menos ter te contratado.
Você despertou em mim o meu pior lado, então só te resta ser grata e fazer o
que eu estou te pedindo.
— Você não imagina o quanto essas ofensas ficarão marcadas para
sempre, no meu coração. — declarei, com o choro preso nos lábios, já me
encaminhando para a minha mesa, quando percebi que o celular estava
vibrando no bolso da calça de alfaiataria.
Prontamente deixei o dossiê ao lado de Trent e atendi a ligação.
— É do hospital. — comuniquei ao meu chefe, enquanto eu ouvia
atentamente a tudo o que me diziam.
Trent me observava, em expectativa.
— Aconteceu alguma coisa?
Fiquei alguns segundos no celular, e quando finalmente desliguei,
senti uma emoção muito forte transbordar em meu peito.
— A minha avó recebeu alta. — sorri e uma lágrima escapuliu. —
Lembra de quando eu sonhava com esse dia?
Trent sorriu contido para mim.
— Deus do céu. Que notícia boa.
— Eu preciso ir embora, Trent. — anunciei, pouco me importando se
seria realmente necessário eu ficar na empresa, para realizar trabalho tão
importante. — A minha avó está me esperando para deixar o hospital e...
— Você ainda tem algumas pendências comigo, antes de ir embora.
Ele se adiantou para perto de mim, segurando instintivamente no meu
rosto. Os olhos dele devoravam os meus, o seu corpo pesava sobre a minha
estrutura. Trent queria me beijar, mas parecia que muitas questões o
impediam agora.
Fiquei estatelada, sem saber como reagir, apenas experimentando o
corpo esculpido cobrindo cada parte da minha existência.
As nossas pernas roçavam, as nossas respirações se tocavam, as
pupilas dele dançavam por meu rosto, analisando os meus lábios
entreabertos.
As suas mãos tão quentes permaneciam aconchegadas na minha face,
depois ele massageou os meus cabelos, numa carícia eletrizante.
De repente, Trent fez menção de me beijar, eu estava pronta, era tudo
o que eu mais queria, porém ele simplesmente segurou nos meus ombros e,
em apenas um gesto, abaixou a minha regata, o meu sutiã.
Os meus seios ficaram livres e ele me lambeu, tocando com os lábios
e a língua cada um dos meus mamilos.
Gemi, puxando os seus cabelos.
— Por favor, Trent...
Depois ele me abraçou e me guiou contra uma das paredes e, em
seguida, se abaixou à minha frente, sem deixar de me olhar nos olhos por um
segundo sequer.
A minha respiração estava ofegante. Inspirava e expirava sem ritmo
algum, já adivinhando o que me esperava.
Trent de joelhos, baixou a minha calça, desceu a calcinha pelas
laterais e chupou a boceta...
A sua língua pincelava deliciosamente o meu clitóris. De cima a baixo
ele me lambia, subindo em círculos, até abrir os lábios e penetrar a cavidade.
— Trent... eu te amo tanto! — gritei, em meio a um forte gemido.
Instantaneamente o moreno ficou de pé, ajeitando o paletó no corpo,
visivelmente incomodado.
— Você está despedida. Não precisa mais ficar na minha equipe.
Ajeitei a minha roupa, sentindo como se Trent tivesse me jogado um
balde de água fria.
— Por quê?
Ele se sentou à mesa e entrelaçou as mãos.
— Estou me envolvendo mais do que deveria. E eu não tenho
pretensão alguma de me relacionar com alguém que eu não confio, cujo filho
não é meu.
Engoli em seco, extremamente abalada.
— Daqui a duas semanas, teremos o resultado do exame e você terá
todas as respostas que precisa.
— Não importa. — ele ficou de pé e cruzou os braços à minha frente.
— Eu não quero mais você nessa empresa, fazendo parte da minha rotina. E
se esse filho for meu, eu vou saber onde te encontrar.
Trent se afastou, enquanto eu olhava perplexa para os lados, sem
saber se era verdade mesmo tudo o que eu ouvia.
Parecia um pesadelo ser desprezada de maneira tão calculada, sem
falar que eu não cogitava ficar desempregada a essas alturas!
— Foi você que me seduziu. — furiosa, debrucei sobre a mesa. —
Que quebrou a droga da promessa que nunca mais me tocaria. Não é
novidade saber que eu te amo! O que te custa me tratar de maneira
profissional e me deixar tranquila no meu emprego? Apesar de eu achar uma
bosta a indiferença dos meus colegas.
Ele engoliu em seco, tencionando o maxilar.
— Eu fiz de caso pensado, Amanda. Eu queria te despedir quando
você pensasse que eu estava envolvido, confiando em você a ponto de te
demandar uma ação tão importante. — ele sorriu torto. — Eu não vou
permitir que você me aplique a porra do golpe da barriga, para conseguir
vantagens financeiras e viver de luxos.
Eu estava me sentindo pior do que o lixo mais nojento.
Os meus lábios tremiam.
Trent, pelo jeito, estava sorvendo cada gole da vingança.
Respirei, antes de me dirigir a ele, pela última vez.
— Olhe para você, Trent. Solitário, imerso no trabalho. É o seu
destino, é o que a vida reservou para você. Um homem tão centrado em si
mesmo não merece carinho, um amor verdadeiro, apenas poder e dinheiro. É
isso que o move.
Ele me observava com um ar de superioridade que me irritava.
— Passe no RH.
Mais uma vez, rejeitada, abandonei a sala de Trent, perdida e sem
expectativas, jurando para mim mesma que o dia do arrependimento de Trent
chegaria e ele pagaria por todas as mágoas que me causou.
Quando ele finalmente me quisesse de volta, eu estava pronta para
rejeitá-lo e mostrar a ele a dor de uma mulher ferida.
Ele iria se arrepender por tudo o que estava fazendo comigo!
Agora, a alegria que estava vivendo ao reencontrar a minha avó, havia
se dissipado, instantaneamente.
Finalmente, havia chegado a hora do almoço.
Optei por um dos restaurantes mais bem-conceituados de Nova York.
Estava sozinho e precisava espairecer um pouco, após uma reunião
desagradável realizada mais cedo.
Amanda costumava ser meu escape, mas, agora, em que eu não a
tinha mais por perto, eu precisava reinventar a minha vida, as minhas
necessidades.
Estava difícil de seguir sem ela.
De maneira intrigante, eu ainda sentia a dor da traição, como um filme
incessante que projetava Amanda nos braços de um moleque, de um cara bem
mais jovem do que eu. Ela me feriu, ignorando completamente meus
sentimentos, anulando toda a minha admiração por ela
Estava devastado e me obrigando a não ir procurá-la, depois de eu ter
vingado cada lágrima que eu havia derramado na noite da festa.
Com toda a certeza o exame de DNA já havia ficado pronto e, a essas
alturas, Amanda já estaria decepcionada por não gerar um filho meu, afinal
sempre nos prevenimos e dificilmente o manobrista teria preservativos
consigo, na hora do trabalho, sem falar que ela já poderia ter me traído tantas
outras vezes.
Assim que estacionei em frente ao restaurante, logo um manobrista
veio me abordar.
Retirei os óculos escuros no momento em que reconheci aquele rosto.
Alex?
Que coincidência infernal!
Abaixei o vidro, não querendo deixar o meu carro nas mãos daquele
verme. Aliás, um carro que ele já conhecia muito bem.
— Bom dia, Trent Jenkins. — cumprimentou com um ar de deboche.
— Sr. Jenkins para você. — rosnei, segurando firmemente no volante.
Estava disposto a acelerar e ir para outro restaurante, mas refleti que
seria um tremendo desaforo, seguir para outro lugar só porque alguém que
não me agradava estava ali.
Então resolvi olhar nos olhos de Alex, o moleque que havia tocado
naquela que costumava ser a minha mulher.
Que sensação repugnante!
Franzi as sobrancelhas e me dirigi a ele.
— Bem, eu estava disposto a dar um fora daqui, mas você não me
desperta qualquer emoção, não me incomoda a ponto de me fazer desviar dos
meus planos. Eu vou deixar você fazer o seu trabalho medíocre,
tranquilamente. Pode ficar com o carro.
Abri a porta, voltando a colocar os óculos escuros e soltei a chave no
chão.
O garoto apenas sorriu debochado e pegou a chave que estava
próxima aos meus sapatos franceses. Depois, ele abriu a porta e se colocou no
volante.
Saí dali, ajeitando o terno no corpo, estava disposto a ignorar aquele
manobrista insuportável, mas logo ele me fez uma pergunta que me irritou.
— Trent, e a Amanda? Como ela está?
Parei onde eu estava, virei-me para ele e voltei a retirar os óculos
escuros.
— Por que você quer saber da Amanda?
Ele sorriu, mais uma vez irônico.
— Você se lembra do que aconteceu entre mim e ela no dia da festa.
Então, cara, não foi apenas naquela noite. Agora que eu sei que vocês
terminaram, eu acho que vale a pena você saber que a gente estava se
encontrando, às escondidas. Juro que tentamos disfarçar o nosso caso, mas
acabou rolando no seu carro, ou melhor, neste carro. — então o moleque
ajeitou o braço na janela. — Você sabe como é, né? Não se pode brincar com
desejos e com sentimentos.
Cerrei os punhos, inclinado a acreditar naquela mentira.
— O que você está me dizendo, Alex?
Cruzei os braços e bufei atordoado, olhando nos olhos cínicos daquele
manobrista.
Será que ele estava realmente falando a verdade?
— Você sabe que eu e Amanda nos relacionamos lá atrás. E ela
sempre me confessou que você nunca teve tempo, nunca teve interesse em ter
algo mais sério com ela. Então a menina vinha desabafar comigo, insegura se
poderia investir no relacionamento de vocês, então nos encontrávamos e
acabava rolando. — sentia um ódio genuíno me preenchendo. — Mas, e a
Amanda? Você não tem tido mais contato com ela?
— Amanda está grávida. — despejei, furioso, mas logo me arrependi.
Eu não deveria dar detalhes da vida da Amanda para ele, mas,
estranhamente, eu me senti aliviado por Alex não saber da gravidez de
Amanda, isso significava muitas coisas, que eles não tinham laços e que
talvez ele não fosse o pai.
— Amanda está grávida? — ele sorriu, coçando o alto da cabeça. —
Esse filho é meu, pode acreditar.
Umedeci os lábios, desconcertado.
— Eu também acho que o filho é seu. — considerei, não querendo
confrontá-lo nesse aspecto. Alex, por sua vez, não contava com a minha
sinceridade. — É melhor mesmo que ela vá te procurar. E fico surpreso por
vocês não terem mais nada juntos.
Alex fechou o rosto.
— Que estranho a Amanda não ter me procurado mesmo. Eu tenho
certeza que esse filho é meu.
Ajeitei a gravata no reflexo do carro.
— Bem, você e a Amanda tem uma história juntos, então vocês
podem se acertar e vir a criar esse bebê. Felizmente, a nossa história terminou
daquela maneira escrota.
— Mas, Trent, quer dizer, Sr. Jenkins, você não pediu o exame de
DNA? Esse filho corre o risco também de ser seu.
Fiz uma negativa com a cabeça, enquanto percebi Alex reflexivo.
— Eu não te devo satisfações, eu já perdi tempo demais com você. E
eu tenho certeza que esse filho não é meu.
Enervado, saí de perto de Alex. Eu precisava almoçar e retornar à
empresa, mas ele acabou plantando em mim certos sentimentos.
Fiquei inseguro, hesitante, enquanto ponderava que o exame de DNA
já deveria estar pronto. Três semanas se passaram, desde quando eu despedi
Amanda, e com toda a certeza ela guardava a resposta consigo.
No final das contas, eu só pedi uma pequena porção de camarões e
um chá gelado, e logo me dirigi à saída, solicitando ao Alex que pegasse o
meu carro.
— Faz favor.
Em segundos, meu Rolls-Royce estava à minha frente.
Abri a porta e me coloquei em frente ao volante, quando percebi que
o moleque estava debruçado na minha janela.
— Já vai embora? Poxa, tão cedo, senhor. Não ficou nem para
sobremesa?
— Estou achando que você quer chupar o meu picolé.
Subi o vidro da janela e arranquei com o carro, decidido a dirigir para
a casa de senhora Perry.
Finalmente, reuni coragem para me reencontrar com Amanda e
abordá-la sobre o exame de DNA. Estava postergando isso há dias. A certeza
que o filho não era meu me fazia procrastinar, ao mesmo tempo que sentia
um certo constrangimento, considerando tudo o que eu fiz Amanda passar na
empresa, embora eu soubesse que ela merecia enfrentar as consequências de
cada beijo trocado com Alex, no meu próprio carro.
Eu precisava colocar todas as emoções no lugar, e torcer para que
enfim existisse um desfecho para a nossa história, pois muitas questões ainda
precisavam ser resolvidas. Eu precisava saber de fato, de quem era esse bebê.

Aliás, o meu amor por Amanda estranhamente sobrevivia, e eu


precisava decidir entre nutrir esse sentimento ou aceitar, de uma vez por
todas, que era hora de suprimi-lo dentro de mim.
Apesar de Amanda me parecer sempre muito fiel e sincera, corria
riscos sim que ela pudesse estar sustentando uma relação com o manobrista,
nos últimos tempos.
Vivíamos momentos intensos juntos, nos quais ela se mostrava
extremamente entregue, compartilhando abertamente seus sentimentos,
fazendo de tudo por mim e pela empresa. Era difícil de acreditar que tudo
isso fosse encenação, os sentimentos dela pareciam genuínos demais para
serem falsos, mas, mesmo assim, toda essas minhas certezas haviam caído
por terra, no dia festa da Supreme.
Estacionei em frente à casa de Amanda e nem sei como havia
conseguido chegar até lá.
Estava muito perturbado no trajeto, impactado pelas palavras de Alex,
que, de alguma forma, haviam mexido comigo, mesmo que eu relutasse em
acreditar que ele e Amanda compartilharam um relacionamento juntos.
Embora encontrá-la dentro do meu carro indicasse muitas coisas,
havia chegado a hora de colocar um ponto final nas dúvidas.
Eu precisava descobrir se um herdeiro Jenkins estava a caminho. Se
fosse o caso, eu reconsideraria minha decisão de reivindicar a paternidade,
inclinando-me mais a perdoar Amanda e tê-la de volta na minha vida, algo
que eu percebia ser cada vez mais necessário.
Eu já havia feito Amanda sofrer o suficiente, a conta estava paga,
agora, caso ela me convencesse que sempre me amou, que foi apenas um
maldito beijo, e que o bebê era meu filho, as chances de eu perdoá-la eram
cada vez mais concretas.
Assim que estacionei, avistei Sra. Perry à janela. Ela imediatamente
fechou as cortinas e adentrou a casa, no momento em que saí do carro.
Passei a mão pelos cabelos imaginando que não seria nada fácil ter
acesso à Amanda.
Prontamente toquei a campainha e fitei as mensagens de trabalho no
celular, enquanto aguardava que alguém viesse me receber. Ignorei os
compromissos da empresa, pois a minha cabeça estava totalmente voltada a
outras situações bem mais sérias.
E, para a minha surpresa, quem abriu a porta foi a Amanda.
Os meus olhos imediatamente congelaram nos verdes dela. Sorri sem
ao menos perceber. Não havia como omitir as saudades.
— Trent?
Ela parecia que havia visto um fantasma.
— Oi Amanda, eu preciso muito falar com você.
Ela sorriu, cruzando os braços, para recostar ao batente.
— Se é sobre o DNA, você está perdendo seu tempo. Eu ainda não
busquei o resultado do exame.
Amanda estava prestes a bater à porta na minha cara, mas Sra. Perry a
impediu, deixando apenas uma fresta nos separando.
— Amanda, revele logo toda a verdade ao Trent. Você não pode
esconder algo tão sério. Você está grávida e daqui a pouco o bebê vai nascer
e você vai precisar do apoio dele. Está desempregada e sem perspectivas.
Criar um filho não é fácil!
Apenas ouvia Amanda suspirando do outro lado da porta, enquanto o
coração perdia o ritmo das batidas em meu peito.
Agora, eu sabia que essa história poderia ter um fim. Amanda estava
com o resultado do exame de DNA em mãos e eu ia confirmar, de uma vez
por todas, se o filho era meu ou não.
Aguardei apenas alguns segundos, quando Amanda abriu novamente
a porta e fez um sinal com o braço, para que eu entrasse.
— Fique à vontade. — comunicou entredentes.
Pigarrei e adentrei à sala.
Sentei em um dos sofás, dobrei uma perna sobre a outra e fiquei na
expectativa que Amanda falasse logo o que eu pretendia buscar ali.
Então ela se sentou ao meu lado e aquilo foi o suficiente para eu
mergulhar nos meus pensamentos.
Ela continuava tão linda. A sua barriga estava um pouco mais
protuberante do que da última vez que nos vimos. Os olhos estavam ainda
mais verdes por causa da luz lateral da janela que atingia sua íris. Seus lábios
estavam vermelhos, umedecidos, e seu perfume de banho recém tomado me
perturbava o juízo.
Se o bebê não fosse meu, o que eu faria? Sufocava a paixão que me
consumia inteiro e tentaria seguir em frente? Seria pior que tortura, mas o
meu amor-próprio certamente não me deixaria seguir ao lado de quem estava
gerando um filho que não era meu.
— Trent, — ela depositou a mão no meu joelho. — esse filho é
realmente seu.
Senti o choro vindo na garganta, mas preferi me esquivar das
emoções.
— Não brinca! É... é verdade?
Naquele momento, eu me dava conta do quanto eu havia sido cruel
com a Amanda. Enquanto ela esperava um filho meu, sangue de meu sangue,
eu a tratava como a minha arqui-inimiga!
Então, senhora Perry se aproximou com o envelope nas mãos, me
entregando o resultado do exame de DNA. Queria abraçá-la, demonstrando
carinho ao finalmente conhecê-la, alegria por vê-la bem de saúde, mas, no
momento, eu mal sentia o chão sob os meus pés.
Engoli em seco e relaxei sobre as almofadas, desfrouxando a gravata
em seguida.
A avó de Amanda sumiu pelo corredor, deixando-nos a sós
novamente.
Calado, abri o envelope e, realmente, lá estava que o filho que
Amanda gerava no seu ventre era meu.
Naquela tarde, em que o laboratório recolheu meu sangue, eu estava
estranhamente convicto de que o filho era de Alex ou até mesmo de outro
deslize de Amanda, mas, agora, lendo o resultado, tudo mudava de forma.
Emocionado, senti as minhas extremidades dormentes, a minha boca
ressecou e logo eu fitei os olhos verdes de Amanda.
— Esse filho é realmente meu. — afirmei, enquanto ela concordava
comigo.
— Foi o que eu sempre disse.
Mordi os nós dos dedos, reflexivo.
— Eu tentei me esquivar de todas as maneiras da possibilidade de ser
pai, temia, também, receber um belo balde de água fria, quando tudo se
revelasse. Inclusive eu acabei de encontrar o Alex e ele afirmou para mim
que você sempre me traiu com ele.
Amanda arregalou os olhos, visivelmente impactada.
— O Alex mentiu, você sabe disso. — a sua voz tomada por ódio. —
Eu sempre fui sua, Trent, sempre, inclusive o que aconteceu entre mim e ele,
no carro, foi apenas um beijo.
— Eu acredito em você. — deixei o envelope de lado e segurei nas
mãos de Amanda, então ela me analisou com indiferença. — Precisei de
provas, eu sei, mas eu estava ferido demais para enxergar a realidade.
Infelizmente eu acreditei na sua pior versão.
Prontamente ela ficou de pé.
— Trent, agora você pode ir embora.
Tomei Amanda em meus braços, sentindo uma emoção genuína me
travar os sentidos.
— Amanda... um filho... eu vou ser pai, isso tem tanto significado.
Você está gerando um Jenkins, um herdeiro. Isso é tão importante pra mim.
Depositei as mãos na barriga dela, mas ela logo se afastou.
— Mudou de ideia, Trent?
Tomei o seu rosto nas minhas mãos.
— Parece que a ficha está caindo aos poucos, que eu vou ser pai, ter,
muito em breve, um bebê nos meus braços. Isso é tão valioso.
Então Sra. Perry prontamente interveio, surgindo no meio de nós dois.
— Você não pensa em retirar o filho de minha neta, como a ameaçou
diversas vezes, não é mesmo? Espero que tenha desistido dessa ideia maluca!
Analisei o olhar íntegro de Sra. Perry.
— Nunca teria coragem de ser tão cruel. Cheguei a ponderar essa
possibilidade em meio ao ódio que sentia por Amanda, mas, agora, com a
certeza de que vou ser pai, tudo isso ganha um significado diferente. —
ansioso, virei-me para a garota. — Diante disso, nós precisamos conversar.
— Não, Trent, nós não temos nada para conversar. — ela sorriu, sem
forças. Eu via nos olhos dela muitas mágoas e ressentimentos. — Inclusive,
eu preciso que você vá embora agora. — ela se adiantou para abrir a porta. —
Eu tenho alguns compromissos hoje à tarde, eu não posso me atrasar... mas
antes de você ir embora, eu preciso te entregar uma coisa.
Então Amanda entrou no pequeno corredor que ficava ao centro da
sala, e eu fiquei ali, na expectativa, aguardando o que ela pretendia, enquanto
eu sentia o olhar desconfiado de Sra. Perry me cobrindo.
Em segundos, Amanda retornou, com um semblante determinado.
— Toma, isso é seu.
Segurei a pequena caixa de veludo nas mãos, e vi que era o anel de
diamantes.
— Você precisa disso, Amanda. Ele é seu. — fiz menção de entregá-
la, mas ela retesou. — Por favor, não haja na base da emoção. Você precisa
de dinheiro, está desempregada. A não ser que aceite retornar à empresa.
Amanda amassou os lábios e, depois, colocou um dedo incisivo no
meu rosto.
— Eu não preciso de nada que venha de você, Trent. Você me
humilhou, me usou enquanto eu estava na empresa, no momento em que,
grávida, eu precisava me reerguer. Você me deixou desempregada em um dos
piores momentos da minha vida, me prometeu apoio, mas você só quis se
vingar de mim. Agora, eu preciso que você vá embora e leve tudo que for seu
com você, exceto esse bebê, é claro, porque esse filho está sendo gerado
dentro de mim e ele me pertence, e sou eu que vou decidir se você vai
conhecê-lo ou não.
Amanda respirava sem ritmo algum.
Ela me odiava, eu sentia isso em cada sílaba proferida por sua boca.
Enquanto isso, meu coração estava despedaçado, carregando a carga
da culpa, do arrependimento e, acima de tudo, do autodesprezo por todas as
merdas que cometi, motivado pelo meu ego ferido.
— Amanda, você está sendo indiferente com os meus sentimentos.
Pelo jeito, o amor que sente por mim não é suficiente para me perdoar.
— Ótimo. Era isso mesmo o que eu queria que você entendesse, que o
amor tem prazo de validade, quando não é nutrido da forma adequada,
inevitavelmente se esgota.
Amanda bateu a porta nas minhas costas e eu fiquei parado fitando o
anel de diamantes. O anel que tinha tanto significado para mim. Ele
representava a noite em que celebraríamos o nosso namoro, o começo de uma
nova etapa, duas vidas que se completavam de maneira inédita, porém, agora,
eu estava ali, sozinho, desolado, ferido, fitando o anel que só representava a
rejeição de Amanda.
Dessa vez era ela que havia desistido de mim.
— Amanda, abra a porta! — gritei. — Eu tenho o direito de criar o
meu filho! Amanda, eu te amo! Você precisa me perdoar!
Alguns vizinhos saíram para ver o escândalo, outros começaram a me
filmar com o celular. Não querendo cair nas redes, eu imediatamente decidi
entrar no carro.
Ao caminhar até o Rolls-Royce, pensava no meu filho. Uma criança
que chegaria para dar mais cor à minha vida, pela qual eu estaria disposto a
reavaliar minhas prioridades e me dedicar plenamente.
Desejava estar presente em cada fase do crescimento do bebê,
acompanhando de perto todos os detalhes. Eu nunca fui de me esquivar das
minhas responsabilidades e jamais faria isso com um filho.
Seria emocionante se Amanda estivesse ao meu lado, compartilhando
esse momento e compreendendo, de uma vez por todas, a profundidade dos
meus sentimentos por ela.
Será que ela me perdoaria um dia?
Eu não aguentava mais procurar por emprego. Era a décima vez que
eu recebia um “não”, em apenas uma hora.
O sol estava quente, a minha cabeça fervia. Eu pensava no bebê e em
como eu iria criá-lo, daqui a alguns meses, quando ele estivesse nos meus
braços.
Dobrei a esquina, a caminho de uma academia. Pelo menos eu tinha
esperanças de que lá, as pessoas me vissem grávida e sentissem algum tipo de
empatia por mim e resolvessem me dar uma chance.
Caminhava pelas calçadas de Nova York e logo me preparei para
atravessar no sinal, quando uma buzina me chamou a atenção.
Estreitei os olhos na direção de um carro preto e vi uma figura
familiar me acenando.
— Alex?
— Quer uma carona, menina?
As mentiras que meu amigo de infância havia contado, naquele dia, a
Trent, sem querer reverberaram na minha mente. Eu senti antipatia do
manobrista e logo tratei de ser o mais contida possível com ele.
— Obrigada. Está tudo bem. — fiz menção de atravessar, mas ele
logo me interrompeu.
— E esse bebê que você está esperando? — ele me perguntou da
janela do carro, enquanto eu estava plantada sobre a faixa de pedestres. — É
um tesouro precioso, não?
Sorri, entendendo a malícia na fala de Alex. Prontamente depositei a
mão sobre a barriga.
— O meu filho é uma dádiva, sim. E falta pouco para descobrir se é
menino ou menina.
— Se for menino, eu quero uma homenagem. Alex Jenkins. Imagina?
— Você não mudou nada. — balancei a cabeça, censurando a
piadinha sem graça de Alex. — Nem parece que já tem vinte e três anos! Não
se arrepende por ter inventado absurdos sobre nós dois para atingir o Trent?
Atingir a mim?
Alex sorriu, pouco se importando. Ele não sentia vergonha e muito
menos arrependimento.
— Trent Jenkins é um pilantra. Eu quero que ele morra. Boa sorte,
Amanda. Você precisa realmente de muita sorte.
Estava pronta para responder Alex, mas, de repente, o sinal abriu e ele
acelerou, sumindo numa esquina, em seguida.
Suspirei, tentando impedir que o meu ex-namorado “alugasse um
apartamento” na minha mente. Eu sabia que não era a pessoa mais sortuda do
mundo, mas eu tinha a minha avó recuperada, ao meu lado, gerava um bebê
saudável e, no momento, eu só precisava de um empego, só isso, afinal de
contas a pensão de vovó só cobria as despesas básicas.
Então atravessei a rua e logo me deparei com a academia bem-
conceituada que eu procurava.
Decidi tentar a sorte ali, afinal de contas as empresas não tinham
vagas ou torciam o nariz quando viam uma grávida.
Assim que empurrei a porta de vidro e me dirigi ao balcão, eu não
pude retirar os olhos de um dos aparelhos.
Lá estava ele, Trent Jenkins, fazendo exercícios, trabalhando os seus
bíceps, completamente ofegante e suado, ao lado de Gunter e Hellen.
Pelo jeito, eles haviam mudado de academia, pois costumavam treinar
numa próxima à empresa.
Imediatamente, eu virei o rosto e agradeci a mim mesma, que eles não
haviam me visto.
Ainda desconcertada, peguei rapidamente a pasta dentro da bolsa e
puxei um currículo. E ao depositar o documento sobre o balcão, a atendente
me avaliou e sorriu.
— Você está grávida?
— Sim, estou grávida de quatro meses e eu preciso de um emprego
com urgência. Eu vi num site que vocês têm vaga para faxineira. Eu faço
qualquer coisa, já que o importante é um salário para sustentar o meu filho ou
filha, ainda não sei.
Então a atendente olhou para mim com piedade e aceitou o meu
currículo.
— Você é Graduada e tem diversos cursos...
— Se Deus quiser, será provisoriamente, mas, acredite, eu estarei
satisfeita aqui na academia.
E nesse momento eu senti uma mão sobre o meu ombro. Antes que eu
pudesse me virar, eu levei um baita susto.
— Flor, você sumiu! E, uau, olha essa barriga!
Hellen me abraçou, beijando em seguida o meu rosto.
— Depende do ponto de vista. — sorri para ela. — Você também
sumiu e nunca mais me procurou para saber se eu estou bem.
A loira enrubesceu as bochechas e me analisou completamente sem
graça.
— O que está fazendo aqui? Sr. Jenkins foi tomar um banho correndo
e já vem falar com você.
Suspirei, desanimada.
Era tão difícil estar frente com alguém que havia quebrado o meu
coração tantas vezes.
— Eu só preciso de um emprego.
Então a loira segurou imediatamente nas minhas mãos.
— Amanda, volte para a empresa. Eu tenho certeza que Sr. Jenkins
vai te aceitar de volta. Ele te ama. Inclusive, eu abro mão da minha função de
secretária para...
— Por favor, Hellen. Tudo isso ficou num passado bem distante. A Le
Blanc foi uma fase. Agora eu só preciso pensar no meu bem-estar, eu não
quero que o ego de Trent interfira na gravidez. Cansei de orbitar ao redor
dele. Eu vou ser feliz aqui, como faxineira, mas nada pesado, apenas
limpando os aparelhos.
Olhei surpreendentemente para trás e vi que Trent ouvia a nossa
conversa.
— Amanda, você enlouqueceu? Você quer ser a faxineira da
academia? Você tem um filho meu aí dentro.
Os olhos negros dele também me questionavam.
O perfume de banho era uma espécie de memória afetiva,
estranhamente eu me sentia num lugar seguro, ao inspirar aquela fragrância.
Trent estava de camiseta e seus braços exibiam deliciosas curvas. O
peitoral largo costumava ser um abrigo, porém tudo o que eu queria agora era
distância desses pensamentos românticos e repletos de ilusão.
Hellen prontamente saiu pela porta com Gunter, que nem ao menos
veio falar comigo, apenas acenou de longe.
— Qual o problema, Trent? É um trabalho digno, como qualquer
outro. E uma das poucas vagas disponíveis agora no mercado de trabalho. Eu
só preciso criar o meu filho e, principalmente, sem a sua ajuda.
Então ele me olhou nos olhos e me puxou para o canto.
— Amanda, por favor, eu preciso que você me perdoe por tudo que eu
fiz, por ter duvidado de você, por ter acreditado que você foi infiel, por ter
pensado apenas em vingança. Você está carregando um filho meu. Isso é um
vínculo tão forte. Isso faz com que meus sentimentos por você só cresçam.
Eu tenho necessidade de cuidar de você e de cuidar desse filho. Por favor, me
dá uma chance. Me perdoe, Amanda, e volte para a empresa.
Cruzei os braços, vendo Trent se esforçando para eu perdoá-lo. Estava
realmente surpresa com as reviravoltas do destino.
— Não, Trent, você não tem mais chance alguma comigo. Eu preciso
ser independente. Pensar que eu nunca me relacionei com você, apesar de
estar gerando esse bebê. — ele tocou na minha barriga. — Eu preciso colocar
na minha cabeça que nós não temos ou que nunca tivemos nada juntos.
Os olhos dele marejavam.
Trent prontamente segurou nos meus braços.
— Por que você está sendo tão cruel assim, Amanda? Por que você
não me perdoa? Eu sei que você ainda me ama.
— Você pensa, Trent, que eu ainda te amo. — saí do seu alcance. —
Mas, na verdade, o que eu tenho aqui dentro é uma mágoa muito profunda.
Todos os sentimentos bons que eu sentia por você se transformaram em
sentimentos ruins agora. Eu só penso na maneira como você me tratou na
empresa, que você ordenou para que as outras pessoas me tratassem. Poxa, eu
estava grávida de seu filho! Eu sempre falei isso para você! E, simplesmente,
você só me humilhou, dia após dia. Eu me senti usada, diminuída. Eu não
posso te perdoar agora. Você não é uma pessoa confiável. Eu temo um dia
em me casar com você e sofrer o mesmo que eu passei na empresa, caso eu
volte a errar. Não te trair, mas digamos que eu cometa algum deslize, e você
volte a ser o Trent vingativo! Eu só preciso ir embora e saber se eu vou
conseguir esse emprego.
Trent voltou a segurar no meu braço, a ponto do meu vestido voar.
— Amanda, por favor, foi você que se vingou primeiro. E eu te
perdoei!
— Perdoou depois de ter brincado com os meus sentimentos! De me
fazer sentir um lixo fedido na empresa, quando eu era ignorada por todos os
corredores! Quando um exame comprovou uma verdade que eu repetia há
meses!
Trent passou os dedos pelos cabelos úmidos, visivelmente
desesperado.
— Eu errei, Amanda, eu errei com você, eu sei. Eu não agi feito um
homem, mas como um moleque que se sentiu diminuído por ter sido trocado
por alguém cujo passado cruzava com o seu, por alguém da sua idade! —
pisquei os olhos, afetada com aquelas palavras. — Amanda, me desculpe. Eu
nunca fui um pai exemplar, porque eu realmente não acreditava que esse filho
fosse meu, mas me deixe me redimir. Eu aprendi muitas coisas longe de
você. Sinto falta de você pra caralho.
Trent alcançou o meu rosto e olhou bem no fundo dos meus olhos.
O calor do seu corpo aquecia as minhas células, os meus desejos e,
então, por segurança, eu preferi me afastar.
— Você mudou, só porque entendeu, de uma vez por todas, que esse
filho é seu?
— Se não existisse o bebê, eu também estaria jogado aos seus pés.
Você é o amor da minha vida, Amanda e, ainda mais agora, grávida! Você
não sabe a maneira como isso está mexendo comigo. Eu não consigo mais
trabalhar direito, não consigo mais pregar os olhos. Eu só penso nessa
criança, no que você está passando nessa gravidez sem o meu apoio. Eu
quero estar do seu lado, eu quero segurar na sua mão quando você estiver se
sentindo mal, com medo ou sozinha. Eu quero voltar no tempo e poder
consertar as coisas.
Enxuguei uma lágrima intrusa.
— Não, Trent, tarde demais. Eu vou conseguir um emprego, eu serei
a faxineira da academia, eu tenho certeza.
— Não diga uma coisa dessas. — Trent segurou no meu queixo. — A
faxina é um trabalho digno, mas você já passou dessa fase, o seu currículo é
invejável. Você não tem que estar aqui limpando a academia, o seu lugar é ao
meu lado na empresa. Me diz que você aceita um trabalho que condiga mais
com a sua capacidade intelectual.
— Prefiro trabalhar num cemitério a retornar à empresa. — me afastei
de Trent, observando algumas pessoas nos avaliando. — Eu nunca me
esqueci da forma que eu fui humilhada por você, a maneira dolorosa que
escolheu para me despedir. O último lugar que quero estar é ao seu lado.
Ele se calou por segundos, como se estivesse buscando pelas palavras
certas.
— Te ver sentada no colo de um cara dentro do meu carro, também
foi insuportável, mas agora eu entendo os seus motivos. A dor da traição nos
leva ao limite, perdemos o discernimento, a capacidade de respeitar, e todas
as nuances da vingança nos cegam irreversivelmente.
Umedeci os lábios, entendendo que Trent tinha razão, mas o meu
coração ainda não estava preparado para o perdão, ele estava enraizado de
ressentimentos terríveis.
— Me deixa embora, Trent. Por favor. O assunto está encerrado.
Girei em meus calcanhares, mas o moreno se colocou à minha frente.
— Eu te levo na casa da sua avó, o sol está muito quente. Você já se
alimentou hoje?
— Você nunca se importou se eu me alimentei, se eu bebi água
suficiente, se eu realizei o pré-natal. Você nunca me perguntou sobre essas
coisas. E agora você quer saber sobre isso?
— Então, aceita esse dinheiro. — ele pegou a carteira e retirou uma
boa quantia lá de dentro e colocou na minha mão, fechando os meus dedos
em seguida. — Aqui deve ter uns dois mil dólares.
Analisei o montante, sem querer acreditar que Trent estava disposto a
me comprar.
— Eu não quero o seu dinheiro. — arremessei as notas no seu corpo.
— Eu nunca estive com você por dinheiro. E esses dois mil dólares eu vou
conseguir num emprego digno, com o suor das minhas próprias mãos. Com
licença, Trent.
Ele se abaixou para catar as notas que voavam ao seu redor. Algumas
meninas o ajudavam e ele só me olhava como se implorasse pelo meu perdão.
Ainda levaria muito tempo para perdoar Trent. As feridas causadas
por suas atitudes insanas eram profundas demais. Não queria me sentir
manipulada, voltar apenas porque ele havia estalado os dedos.
Reviver tudo o que passei nos últimos meses era o meu maior medo.
A dor de ser usada por Trent na empresa era intensa demais.
Talvez eu perdoasse Trent apenas para ele poder ter acesso ao filho,
ter os seus dias com a criança, mas um relacionamento entre nós dois talvez
jamais existisse.
Desde aquele dia em que eu encontrei Trent na academia, nossos
caminhos nunca mais se cruzaram. Apesar de ele estar constantemente à
minha porta, querendo saber notícias minhas e do bebê com a minha avó,
ainda muito ferida, eu apenas via o vulto dele através das cortinas e o
ignorava.
Agora eu estava deitada sobre o sofá da sala, sentindo o meu corpo
pesado, os meus pés estavam inchados, minhas costas doíam, estava com
enxaqueca, sem falar que eu não tinha mais ânimo nenhum para procurar
emprego.
Eu via a minha avó sentada na sua cadeira de balanço fazendo o
bordado. Magra, mas ainda corada, ela não tinha disposição para os afazeres
de casa.
Então eu precisava me esforçar para fazer o almoço, o jantar, a faxina,
sendo que eu não conseguia mais executar as tarefas da mesma forma que era
antes.
Cinco meses de gravidez me deixavam cada vez mais prostrada.
Continuava deitada, tentando criar coragem para subir para o quarto.
— Vó, eu vou dormir. — comuniquei, me sentando com cautela sobre
o sofá.
— Vá sim, minha filha, vá descansar. — ela me olhou por cima dos
óculos. — Você precisa de repouso. Olha o tamanho dessa barriga. A Lily
precisa nascer com saúde.
Sorri para a vovó.
Ela ter falado o nome de minha filha fez o meu coração pulsar mais
forte.
Lily significava lírio, era uma flor muito elegante e conhecida no mudo
inteiro.
E obviamente eu estava feliz que ia ser mãe de uma menina. Da Lily,
Lily Perry. E apenas Perry. Eu não sei se o Trent pretendia colocar o nome
dele na nossa filha, mas esse sobrenome tão importante não importava agora.
O que importava era eu conseguir um emprego, afinal a batalha ainda não
havia terminado. Esperava criar a minha filha sozinha, e com muita
dignidade.
Então resolvi subir as escadas. Dei um beijo de “boa noite” na testa de
vovó e subi lentamente os degraus, um passo de cada vez.
Ao chegar no andar de cima, no meu quarto, eu deitei sobre a cama,
esticando as pernas e ajeitando os travesseiros, quando eu ouvi um carro
estacionando.
Estranhei, por ser mais de dez da noite, então, me levantei lentamente,
calcei os chinelos e observei pela janela.
— Droga, é o carro do Trent. — resmunguei e fechei as cortinas, sem
paciência.
Então caminhei lentamente até a porta do quarto e gritei para vovó:
— É o Trent, vó. Por favor, não abra a porta.
— Não me diga o que eu devo fazer, queridinha. Eu já te falei que você
deve fazer as pazes com o Trent. Você não está vendo que ele está
arrependido por tudo o que fez? Deve ser a milésima vez que o pobre vem te
procurar e é apenas eu que o recebo!
Passei as mãos pelo rosto, não querendo ceder à insistência de Trent.
— Eu sei, vó, mas quem garante que ele mudou? Eu não quero sofrer
de novo.
Então, sentei sobre a cama e, de repente, a campainha ressoou. Apenas
ouvi os chinelos da minha vó arrastarem lentamente até a porta.
— Oi, Trent. Boa noite. Dessa vez, eu vou te deixar subir.
Vovó era terrível. Ela não respeitava a minha decisão, não respeitava
os meus sentimentos. Eu não queria falar com Trent, principalmente agora,
que eu estava toda dolorida e com uma enxaqueca daquelas.
Corri para o guarda-roupa, me livrei da camisola e joguei um vestido
azul sobre o corpo. Passei um batom e soltei os cabelos.
Quando, de repente, eu apenas ouvi a passos lentos pela escada e uma
fragrância deliciosa se adiantou. Era o perfume de Trent. Em minutos ele
estava à minha porta. Apenas vi a sua sombra junto a um buquê imenso de
rosas.
— Por favor, Amanda, me perdoe. — ele estava com olheiras. — Eu
não sei mais o que fazer para conseguir o seu perdão. Eu estou esgotado.
Vamos jantar comigo no apart-hotel?
— Trent, melhor você ir embora. Eu não estou nada bem.
— O que você tem, Amanda? Senta aqui.
Ele deixou as flores sobre a cama e eu segurei nas mãos dele, naquelas
mãos brutas e quentes que já surtiram tantas sensações pelo meu corpo.
Assim que me aconcheguei na cama, experimentei o toque delicioso de
Trent no meu rosto.
Os olhos dele dentro dos meus. A preocupação estampando seu
semblante. Além de tudo, eu via sinceridade da parte dele, Trent estava
realmente preocupado comigo, não se importava apenas com o trabalho na
empresa, como sempre foi.
As vezes em que ele bateu à minha porta, embaixo de sol e de chuva,
provou, de certa forma, que ele estava deixando um pouco de lado as
responsabilidades na Le Blanc, para saber sobre mim e o bebê.
— Amanda, você já procurou um médico? Eu quero te ver bem.
— Claro, eu tenho ido às consultas regulares do pré-natal. Fique
tranquilo.
— A sua avó me falou da última vez que estive aqui, que você tem
sentido muitas dores pelo corpo.
— É normal, olha bem para o tamanho dessa barriga.
— Está linda. Estou ansioso para ver o rosto do nosso filho ou filha. —
então ele segurou as flores. — Eu trouxe essas rosas para você. Espero que
goste. Era o buquê mais bonito da banca de flores.
Recebi o buquê nos braços, observando a beleza e a delicadeza das
rosas.
— São lindas, Trent. E muito perfumadas. — sorri, levemente
comovida. — Obrigada, mas eu preciso ficar sozinha agora.
— Eu pensei em você a noite toda. — ele ajeitou uma mecha de cabelo
atrás de minha orelha. — Eu pensei nessa criança. — ele acariciou a barriga
com carinho.
— Eu e Lily estamos...
— O que você disse? Lily?
— Lily é o nome da minha... da nossa filha.
— Que nome perfeito, — ele estava emocionado, seus olhos brilhando
mais que o normal. — é o nome da nossa menininha.
Trent voltou a tocar na minha barriga, como se ele pudesse tocar na sua
própria filha. Os seus olhos ainda marejavam. O rosto bruto e sério não era
mais o mesmo, tinha muita ternura e muita paixão desenhando o seu sorriso.
— Lily, eu já te amo tanto. — declarou com a voz embargada. — Por
favor, convença a sua mãe teimosa que eu quero conviver com ela, para
cuidar de vocês.
— Trent, por favor, não me iluda. — retirei as mãos dele da minha
barriga e me afastei, ficando de pé. — Eu já passei por muitas coisas ao seu
lado, pelas quais eu não quero passar novamente. Eu conheci a sua pior
versão e isso não me fez nada bem.
Trent se aproximou segurando nos meus ombros e, então, eu me virei
para ele.
— Amanda, as vezes em que transamos na empresa, tudo isso foi
muito forte e sincero para mim. A cada beijo, a cada carícia, a fusão dos
nossos corpos juntos, tudo isso me fazia entender o quanto eu te amava. E eu
sentia mais ódio de mim por isso, porque eu não sabia se poderia confiar em
você. No final das contas, eu só preciso que entenda que eu não te usei.
— É claro que você me usou como se eu fosse algo descartável. Você
tinha certeza que esse bebê não era seu.
— Amanda, apesar de tudo, eu sempre tive sentimentos por você, por
mais que eu tivesse que lutar contra eles, toda vez que eu te beijava e te
tocava, eu sentia tesão, sentia amor. Sempre foi real.
— É claro que eu sei que seus desejos são sinceros, — me afastei e
me sentei sobre a cama. — disso eu não tenho dúvida, mas sentimentos são
outra coisa, Trent. Os sentimentos não iam deixar você me rejeitar daquela
forma, quando você não teve empatia nenhuma por mim, mesmo eu estando
grávida. Por mais que você acreditasse que esse filho era do Alex, você tinha
que pensar pelo menos em mim.
— Amanda, eu estou pensando em você agora, — ele se sentou ao
meu lado, os seus olhos em súplica. — eu estou aqui para me redimir. Por
favor, me perdoa. Quer que eu implore de joelhos?
Prontamente ele se ajoelhou à minha frente e beijou lentamente o meu
pé, subindo delicadamente pela minha perna, deixando rastros de beijos
molhados por minha pele. Fechei os olhos e suspirei. Os arrepios cobrindo o
meu corpo e denunciando os desejos.
Ali, Trent se despia de todas as vaidades e do orgulho, apenas para
ficar comigo, mas, mesmo assim, eu ainda não me sentia segura o bastante.
— Não precisa ficar de joelhos. — fingi indiferença e puxei Trent
pelas mãos, fazendo com que ele se sentasse ao meu lado. — Eu não vou te
perdoar agora. Eu já te disse, Trent, você vive pelo seu trabalho, pelo seu ego,
pelos seus negócios e funcionários, e eu tenho certeza que Lily e eu não
seremos prioridade na sua vida, que vamos ter que enfrentar muitas noites
sozinhas e suportar uma rotina sem a sua presença. Eu não quero isso para a
minha vida. Eu preciso criar a minha filha num ambiente saudável e será
junto à minha avó. A minha avó me ama de verdade, sente carinho por mim e
pela Lily. É ela que vai saber cuidar da gente, e não você.
Desabafei a ponto de levar as mãos ao rosto e chorar.
Trent me abraçou, me acolhendo junto ao seu corpo perfumado.
— Calma, Amanda. Eu sei da importância da sua avó na sua vida,
mas você não pode substituir a paternidade por Sra. Perry. Eu sou o pai e
prometo que vou cuidar de vocês, e nunca mais te abandonar. Me dê uma
chance.
Olhei nos olhos de Trent e ele secou algumas lágrimas que faziam
curvas pelo meu queixo.
— Me deixe dormir em paz. Estou morrendo de enxaqueca. Não vou
decidir nada agora.
— Eu prometo, Amanda, que não vou te importunar mais. Quero
preservar a sua saúde e a saúde da bebê. — ele se encaminhou para a porta,
com um olhar extremamente triste. — Eu vou esperar por uma resposta sua.
Se você não vier me procurar, eu vou entender que você colocou um ponto
final na nossa história.
— Ok, Trent, está combinado assim. Se você quiser, a gente já até
deixa acordado de você ter uns dias com a Lily, mas eu não sei também se
isso vai te interessar. O que você vai querer fazer com um bebê no meio da
sua rotina de trabalho, não é mesmo?
— Você está diminuindo os meus sentimentos e a minha preocupação
por vocês, Amanda.
Instintivamente eu me aproximei de Trent.
— Não estou, é apenas o que eu sinto. Melhor você ir embora agora.
Ele segurou delicadamente no meu queixo.
— Então, você vai fazer o que eu estou te pedindo. Vai me procurar
assim que se sentir mais à vontade para isso, quando tiver uma decisão
definitiva. Se você não me procurar pelos próximos dias, eu vou entender que
você não me quer mais na sua vida, e então eu vou dar um jeito de participar
da criação da Lily e seguir com a minha vida.
Engoli em seco, mas, mesmo assim, mantive o meu olhar firme no
dele.
— Sim, nada mais justo que você participar da criação da sua filha,
mas tudo indica que não seremos mais um casal.
— Tudo bem.
Trent deixou um beijo na minha testa e se afastou. Apenas ouvi seus
passos vencendo os degraus.
Reflexiva, fiquei olhando para aquelas rosas. Elas representavam os
sentimentos de Trent por mim, inclusive eu tinha percebido o quanto ele
amava Lily, a maneira como ele ficou emocionado por saber que era uma
menina, a nossa menina.
Estava há noites sem dormir.
Fazia uma semana desde quando Trent me deu aquele ultimato e,
surpreendentemente, ele não esteve mais à minha porta, como costumava
fazer, pelo menos três vezes por semana, para saber de notícias minhas e da
bebê, com a minha avó.
Será que ele havia jogado tudo para o alto?
Os seus sentimentos eram tão fugazes a ponto de ser tão fácil de me
esquecer? Esquecer da sua filhinha?
A possibilidade de perdoá-lo e seguir ao seu lado, como se nada
tivesse acontecido, me atormentava e me fazia questionar se eu estava
realmente preparada para isso.
Ao mesmo tempo, eu pensava em Lily, no quanto eu a amava e
desejava que ela fosse criada por uma família estruturada. O ideal mesmo
seria não pensar apenas em mim, e nas minhas dores, mas na felicidade de
minha própria filha.
Considerando esses dois lados, eu me sentia perdida. As dúvidas e as
inseguranças ainda estavam presentes no meu coração, parecia que tudo que
Trent havia feito, ainda não havia sido suficiente para eu me entregar
tranquilamente nos seus braços.
Refletia sobre isso, atravessando as ruas da cidade.
A chuva caía torrencialmente no centro de Nova York e, nada havia
mudado, eu seguia deixando currículos e levando “nãos” como resposta.
Sedenta e exausta, resolvi parar em uma loja de conveniência.
Comprei uma água e uns snacks e me sentei em uma das mesas, de frente
para algumas revistas, quando os meus olhos paralisaram em uma imagem.
Trent Jenkins estampava a capa de uma delas. O belo magnata sorria,
com as mãos nos bolsos, trajado em um elegante terno preto.
— Deus, que homem bonito.
Com muita curiosidade, estiquei os dedos cheios de farelo, na direção
da revista, e me surpreendi quando li sobre a nova fragrância de lírios que a
Le Blanc estava lançando, exclusivamente para bebês.
Lily era o nome dela.
— Que incrível... eu não... eu não posso acreditar.
— A senhora precisa de alguma coisa?
Pensei tão alto que acabei chamando a atenção da atendente.
— Não, obrigada.
Prontamente comprei a revista e folheei as páginas, até chegar na
matéria, onde Trent contava mais sobre aquele projeto.
As minhas mãos tremiam, enquanto os meus olhos estavam
embaçados por conta da emoção.
Ele expressava a sua paixão pelo projeto, destacando suas ideias de
maneira tão sensível...
"A fragrância Lily é mais do que apenas um perfume para mim, é uma
celebração de um novo capítulo na minha vida. Inspirada pela chegada da
minha filha, Lily, essa fragrância é uma homenagem à pureza e à beleza da
maternidade. Quis criar algo atemporal, algo que capturasse a essência
delicada e encantadora que encontrei na paternidade."
"Ao desenvolver a Lily, busquei combinar notas suaves e florais dos
lírios do campo, que transmitem a ternura e a inocência que associamos ao
nascimento. Cada elemento foi escolhido com cuidado para criar uma
experiência sensorial única, uma expressão olfativa do amor e da alegria que
minha filha está trazendo à minha vida."
"Lily é mais do que apenas um nome, é um símbolo de beleza, graça e
renovação. Quis compartilhar esse sentimento com o mundo, criando uma
fragrância que não envolve apenas os sentidos, mas também uma história de
amor e inspiração."
"Espero que todos que experimentem a fragrância Lily possam sentir
a mesma emoção e alegria que experimentei quando soube que era uma
menina que estava a caminho. É um presente não apenas para ela, mas para
Amanda Perry e todos que acreditam na magia dos momentos especiais e no
poder transformador do amor."
Fechei a revista, aos prantos.
Bebi toda a água e joguei o pacote de biscoito e a revista na bolsa.
Que belíssima homenagem Trent havia feito a Lily! Tudo tão lindo,
puro e genuíno!
Era perceptível que não foi com a intenção de me comover ou de
comprar o meu perdão, pois, se eu não visse a revista, jamais saberia da
idealização e significado daquele projeto.
O meu coração estava prestes a sair pela boca. Eu precisava agradecer
a Trent pela homenagem e reconhecer os seus sentimentos.
Peguei o primeiro táxi que passou pela avenida e pedi ao motorista
que seguisse para Le Blanc. No trajeto, eu ainda folheava a revista, lendo e
relendo palavras tão bonitas e emanadas de significados.
— Trent... — sibilei, sem ao menos perceber.
Assim que o táxi estacionou, senti uma espécie de nostalgia por
revisitar aquele local que, de certa forma, fazia parte da minha história.
Estava nervosa, emocionado, sei lá.
Como Trent poderia reagir ao me ver depois de tanto tempo na sua
empresa?
Ainda sentindo as mãos trêmulas, subi no elevador, acompanhando os
andares com os olhos e, cada vez que se aproximava mais da cobertura, o
meu coração apertava.
Finalmente, havia chagado ao andar da presidência, e logo percebi
que os colegas me cumprimentavam, acenavam e alguns me davam inclusive
os “parabéns”, pela gravidez! Sendo que nas primeiras semanas, quando
estava aqui, ninguém fazia questão de ser educado comigo ou lembrar que eu
esperava um bebê.
— A nossa homenageada chegou! — Hellen comemorou assim que
me viu. — E não estou falando sobre você, Amanda, é sobre a Lily!
A loira depositou as mãos sobre a minha barriga, e deixou um beijo
sobre ela, o que me desconcertou um pouco, enquanto eu me preocupava em
saber se Trent estaria ocupado.
Soraya então se aproximou com uma caixa de bombons.
— Você merece esse mimo, Amanda, querida. Comprei essas delícias
para levar para casa, se você não aparecesse de surpresa, é claro. E que
surpresa maravilhosa.
— Maravilhosa, realmente! — Gunter chegou ao meu lado e me deu
dois beijinhos. — Está ainda mais linda, grávida.
Senti as minhas bochechas corando, não esperava recepção tão
calorosa.
— Vocês estão diferentes comigo, ou melhor, voltaram ao normal. —
fiz questão de implicar.
— Vamos deixar o passado lá atrás, florzinha. Melhor assim. —
Hellen ponderou, acariciando o meu rosto.
Soraya então me conduziu até o sofá de couro, onde eu me acomodei.
— Quer uma massagem nos pés? Eles estão tão inchados.
Revirei os olhos, incrédula.
— Está tudo bem, Soraya, eu só preciso falar com o Trent.
Prontamente Chantel se aproximou e me cumprimentou, depois
deixou um copo de suco de melancia para mim.
— Infelizmente, você não está com tanta sorte assim. — a morena
acrescentou. — Sr. Jenkins está numa reunião interminável.
Soraya corroborou, analisando o relógio de pulso.
— Não quer vir outro dia?
Então Hellen pegou o celular e me mostrou animada uma mensagem.
— Olha isso, Amanda. Sr. Jenkins acabou de me dizer que vai
interromper a reunião, para falar com você.
Senti os meus braços arrepiando, afinal era praticamente impossível
interferir na rotina sempre regrada de Trent Jenkins, por qualquer motivo que
fosse.
Ele realmente parecia que havia mudado.
E no momento em que terminei o suco de melancia, eu ouvi a passos
atravessando o corredor de mármore. Fiquei ali, na expectativa de ver Trent,
e não demorou muito para ele surgir no setor, com um semblante aliviado,
principalmente quando ele depositou o olhar soturno em mim.
— Amanda. — ele proferiu e caminhou apressadamente na minha
direção para me tomar nos braços.
Retribuí aquele gesto, sentindo que faltava muito pouco para perdoá-
lo.
As minhas mãos cravaram nas costas de Trent, eu o abraçava com
tanta intensidade, como se fosse impossível soltá-lo mais.
Ele beijou os meus cabelos e segurou no meu rosto.
— Vamos para a minha sala?
— Eu não atrapalho a sua reunião?
— Eu quero que se foda os compromissos. Infelizmente eu tive que
passar por tudo isso, para me dar conta o que realmente importa.
Amassei os lábios num breve sorriso, enquanto Trent me guiava para
a sua sala.
Hellen nos observava de uma maneira estranha, estava muito séria e
seus olhos, venenosos.
Talvez fosse apenas impressão minha.
Assim que chegamos à sala de Trent, ele me conduziu até o seu sofá e
me ofereceu água saborizada.
Agradeci a gentileza e bebi um bom gole da água levemente cítrica.
— Já tem uma resposta? — questionou sem rodeios.
— Uau, você sabe ser direto, mas, primeiramente, eu queria te
agradecer pela homenagem linda e tão sensível que fez à Lily.
— Como você soube? — parecia surpreso.
— Coincidentemente eu te vi na capa de uma das revistas que estava
numa loja de conveniência, e acabei lendo a matéria. As suas palavras foram
tão delicadas, eu me permiti ler com cuidado cada sílaba. A Lily sentiu,
através de mim, toda a emoção e, também, o seu amor por ela.
Trent chegou um pouco mais para perto.
— Quando você me falou que a nossa filha ia se chamar Lily, me
despertou uma vontade insana de homenageá-la em uma fragrância. Eu me
lembrei dos lírios do campo, da sua delicadeza e perfume, e impossível
também não me lembrar do Salmo que diz assim: Olhem os lírios do campo,
que não trabalham nem tecem! E, contudo, nem Salomão em toda a sua
glória se vestiu tão bem como eles. Por que eu sempre me preocupei tanto
com o trabalho, com dinheiro, poder? E os sentimentos verdadeiros, o que eu
estava fazendo com eles, com você, Amanda? Eu sempre pensei mais em
mim, do que em qualquer outra coisa e acabei sozinho. Se eu fosse mais
compreensivo e menos amargo, jamais buscaria vingança. E a Lily é uma
inspiração para mim. — ele acariciou o meu ventre e eu envolvi as minhas
mãos nas suas. — Vocês são prioridade na minha vida agora.
Sorri, emocionada.
A confusão de sentimentos não existia mais. Parecia que uma força
fora do comum me impulsionava para Trent. Eu precisava dar essa chance a
ele, afinal ele batalhou tanto para ficar comigo, enfrentou todas as
intempéries, bateu constantemente à minha porta e provou o quanto já amava
a nossa filha.
— Trent, eu te perdoo.
— O quê? — balbuciou, consternado.
— Eu quero seguir em frente com você.
Exclamei e depositei um beijo apaixonado nos lábios do homem da
minha vida. Do pai da minha filha.
Enquanto Trent segurava suavemente no meu rosto, o toque de sua
boca transmitia uma paixão intensa. Meus lábios tomados por um movimento
lento, excitante, se entregavam ao amor que nos unia.
Pude sentir a familiaridade da boca de Trent, uma sensação que trazia
lembranças de momentos já compartilhados. Era como se o tempo tivesse
parado naquele instante, o beijo era como se fosse a confirmação de algo que
sempre existiu entre nós dois.
As minhas mãos se entrelaçavam nos cabelos de Trent, enquanto ela
se entregava à conexão que ressurgia naquele momento.
Era um reencontro de almas, um capítulo novo que começava a ser
escrito na nossa história tumultuada e apaixonada.
— Desculpa incomodá-los, mas os sócios canadenses precisam do
senhor na reunião agora.
Olhamos sobressaltados para a porta.
— Hellen, remarque a reunião. Eu vou para casa.
— Sr. Jenkins, um acordo milionário pode ser rompido se o senhor...
— Eu não pedi a sua opinião. É uma ordem.
Trent passou comigo ao lado de Hellen, e eu nem tive tempo de me
despedir da moça.
Pelo jeito, ele continuava sendo um CEO arrogante e prepotente, mas
o que importava era que, para mim, ele se mostrava o homem mais gentil do
mundo.
Já no carro de Trent, eu apenas me dava conta do quanto eu o amava e
o quanto lutamos para finalmente ficarmos juntos. Lutei contra sentimentos,
contra os ressentimentos e as malditas lembranças, e acredito que para ele
também não tenha sido nada fácil.
— Já conseguiu um emprego? — Trent me despertou dos devaneios.
— Impossível. Ninguém quer contratar uma mulher grávida.
— Thor me contou que está combinando com a Hellen de levá-la para
a Nova Zelândia. Estão namorando à distância!
Arregalei os olhos, perplexa.
— Que bela novidade! Espero que eles sejam felizes!
Justificável a “quedinha” que Hellen sempre sustentou pelo Trent. O
namorado dela era xerox dele! E até passou pela minha cabeça que ela já
deve ter cogitado ter o par de gêmeos somente para ela, e por isso que sentia
tantos ciúmes de mim!
— Isso quer dizer que você pode voltar a ser a minha secretária.
Claro, depois que Lily tiver dois anos de idade.
Sorri.
— Uau, isso é muito tempo. Quem vai ficar no meu lugar então?
— A Soraya, mas eu faço questão de comunicá-la que será provisório,
que esse cargo é seu.
— Trent, eu não estou pensando num cargo agora, eu só quero dar um
lar de amor a nossa Lily.
— Você e Lily terão tudo de mais incrível, amor, apoio e a minha
presença.
Trent segurou na minha mão e beijou o meu dorso. Um arrepio morno
contornou a minha espinha. Eu estava ansiosa para que todas aquelas
promessas se cumprissem!
Em minutos, ele já estacionava em frente à sua casa.
Poucas vezes eu vinha aqui, já que o nosso esconderijo secreto
sempre foi o apart-hotel.
Trent, cuidadosamente, segurou na minha mão e me ajudou a sair do
carro, então subimos juntos as escadas que davam acesso à mansão e eu
fiquei impactada com a beleza e luxo daquele lugar.
— Essa casa é muito grande para mim, mas agora ela pertence à nossa
família. — informou, girando a chave na fechadura.
Senti um aconchego no peito, com aquela fala amorosa de Trent.
E logo não pude conter a surpresa ao vislumbrar lugar tão colossal.
— Realmente é enorme, um castelo. Os seus pais costumam te
visitar?
Adentramos a sala e os meus olhos se perdiam nos tapetes, nas obras
de arte, nas plantas e na imensa lareira de pedra.
— Não muito, eles têm a vida deles na Pensilvânia e viajam mais que
ficam em casa. Aliás, estão radiantes com a notícia de que serei pai.
Trent me guiou por uma escada de mármore e corrimão dourado.
— Eles sabem detalhes dos nossos desencontros?
— Não sabem de nada. Pensam que jamais nos separamos.
Suspirei aliviada.
— Melhor assim. Seria muita exposição, e eu não sei como olharia
para eles depois disso tudo.
Trent concordou e, juntos, atravessamos um imenso corredor, repleto
de pinturas a óleo e porta-retratos. Estava tão encantada que nem percebi
quando Trent estacionou em frente a uma daquelas portas e segurou na
maçaneta.
— Está preparada?
Sorri, pensando que ele fosse me surpreender com uma cama repleta
de pétalas de rosa e champanhe.
— Não entendi. Preparada?
— Feche os olhos, Amanda. — assim o fiz. — Agora, pode abri-los.
Trent abriu a porta do quarto.
Ao entrar, senti um nó se desfazer em meu peito ao me deparar com
aquele cômodo todo tomado por tons suaves de rosa e branco. Cada detalhe
era uma expressão do carinho e da dedicação de Trent.
Um berço branco, elegantemente decorado com tecidos macios e
almofadas fofas, ocupava o centro do quarto. Sobre a cômoda, havia uma
série de produtos de cuidados para o bebê, dispostos de maneira organizada.
Na parede oposta, as prateleiras exibiam livros infantis e pequenos
brinquedos. As cortinas de folhas balançavam suavemente. Nas paredes,
quadros contavam histórias, sem falar nas pelúcias e brinquedos que estavam
dispostos sobre prateleiras brancas.
Uma poltrona confortável estava estrategicamente posicionada
próximo à janela, um local aconchegante para amamentar ou simplesmente
relaxar com Lily nos braços.
Uma iluminação suave, proveniente de uma delicada iluminação de
teto, criava um clima sereno e acolhedor.
Senti os olhos marejarem ao perceber o cuidado meticuloso em cada
escolha. Era um refúgio de serenidade, um universo de amor. A emoção
tomou conta de mim, e eu sorri diante da surpresa planejada por Trent, a
ponto de uma lágrima escapulir dos meus olhos. Ao notar melhor cada
detalhe, e o cuidado dedicado à preparação do quarto, não consegui conter as
lágrimas de felicidade.
Cada elemento, desde a decoração até a escolha dos móveis, refletia o
amor e a ansiedade de Trent para receber nossa pequena Lily. Era um gesto
de preocupação com o conforto e o bem-estar, revelando a profunda conexão
que ele desejava criar com a sua nova família.
— Está sentindo esse perfume? — ele segurou na minha mão, me
puxando para beijar a minha boca. — É a fragrância Lily.
O aroma suave de flores frescas pairava no ar.
— É delicioso! E tão mágico! Aliás, — passeei os dedos pelos
móveis. — ficou tudo tão lindo. Que bom gosto, Trent. — elogiei com a voz
embargada.
Os meus olhos ardiam de tanto chorar.
O belo moreno então levou as mãos ao meu ventre.
— Está tudo pronto para o seu nascimento, princesa.
Uni as minhas mãos às dele.
— Papai não economizou na beleza de seu quartinho.
Então Trent me abraçou.
— Lily merecerá sempre o melhor, inclusive todo o ganho que eu
tiver com essa nova fragrância ficará no nome de nossa filha. Lily Perry
Jenkins.
Logo me afastei para olhar para ele.
— Como assim, Trent? Você vai abrir mão de todo o lucro?
Ele concordou, visivelmente emocionado.
— Todas as ações do perfume estarão no nome de Lily.
Sorri, perplexa.
— Isso é loucura.
— Estou abrindo mão desse negócio milionário, para dar um
patrimônio à nossa filha.
Levei as mãos à boca e fiquei paralisada, olhando para os lados.
— Trent, isso é tão nobre. Você...
— Sim, eu mudei, Amanda. Dinheiro para mim é segundo plano
agora, perto da magnitude dos meus sentimentos por vocês. Inclusive, eu não
quero mais que você vá embora. Pegue as suas roupas e venha viver comigo,
hoje mesmo.
Gargalhei, maravilhada.
— Deus do céu, que proposta tentadora, mas a minha avó? Tem
estado bastante debilitada e não pode ficar sozinha.
Trent juntou o meu corpo ao dele, outra vez.
— Já viu o tamanho dessa casa? Eu quero receber a sua avó aqui,
ainda hoje.
— Que sonho, Trent.
Sorri, mal sentindo o chão sob os meus pés.
Nos braços de Trent, senti o calor reconfortante do seu abraço. Seus
lábios encontraram os meus e, naquele quarto dedicado à nossa filha, selamos
um compromisso que transcendia palavras.
Foi um momento mágico. O quarto de Lily testemunhava não apenas
o cuidado com nosso bebê, mas também o início de um novo capítulo de
nossa história.
Quatro anos depois...

O sol se escondia no horizonte enquanto nosso motorhome seguia


pela estrada empoeirada, em direção ao interior da Pensilvânia. O clima era
descontraído, com o som das risadas e a sensação de liberdade que só uma
viagem em família poderia proporcionar.
Dentro do motorhome, Amanda e Lily estavam relaxando no pequeno
sofá da sala, já os meus pais cozinhavam uma deliciosa comida caseira,
compartilhando histórias e risadas, na cozinha. Lily, toda animada, ansiava
em conhecer e explorar a cidade onde eu havia passado a minha infância.
Eu dirigia com um sorriso no rosto, ao ouvir as risadas de todos eles
juntos. A rádio tocava uma trilha sonora animada, e a estrada à nossa frente
parecia não ter fim.
Eu estava feliz por estar ali, longe das reuniões, relatórios e
funcionários, para curtir um momento junto à minha família.
Após superar todos os conflitos pessoais, me concentrei em levar a
empresa a novos patamares. O sucesso no mundo dos negócios cresceu ainda
mais, mas, mesmo assim, sempre encontrava tempo para conciliar a carreira
com o papel de pai e parceiro amoroso.
Amanda, agora, era a vice-presidente da Le Blanc e todo o sucesso
seria impossível sem ela ao meu lado.
E aquele, certamente, era um dos momentos mais felizes da minha
vida, quando saíamos juntos de férias para desbravar o continente no nosso
motorhome. Eu tinha uma família maravilhosa e ainda poderia desfrutar de
todo o sucesso dos meus negócios.
Decidimos, então, fazer uma parada rápida em um local panorâmico,
onde as montanhas se espalhavam diante de nossos olhos. Descemos do
motorhome e apreciamos o visual, tirando algumas fotos.
Enquanto os meus pais fotografavam junto a Lily, Amanda e eu
colhíamos pequenas frutas silvestres.
— A Lily ama essas viagens com os avós. Já perguntei se ela quer
conhecer a Disney e ela apenas me respondeu: “Dá para ir de motomome,
para a Disney, mamãe?”
Gargalhei, sentindo o coração cheio de gratidão por estar vivendo
aquele momento.
— Lily está crescendo em um ambiente cheio de amor e apoio. À
medida que ela se desenvolve, eu sinto orgulho do que nós decidimos ser, por
ela.
Amanda então entrelaçou as mãos no meu pescoço, enquanto eu
admirava o sorriso lindo de minha esposa.
— Ao lado de você dois, eu me tornei uma mulher ainda mais forte e
realizada.
Toquei no rosto de Amanda e mergulhei nos seus lindos olhos verdes.
Deixei um morango silvestre na boca dela, quando o meu pai resolveu
interromper nosso momento.
— Vamos nos juntar para uma selfie!
Lily veio correndo ao meu encontro.
— Eu quero o colo do papai.
— Vem, meu amor.
Então a garotinha, curiosa como de costume, logo observou as nossas
bocas rosadas.
— O que vocês estão comendo?
— Morangos silvestres. Você quer? — Amanda perguntou.
Lily experimentou um e fez uma careta divertida. Beijei a barriguinha
dela, em meio a cócegas. Ela gargalhava e assim saímos na foto, da maneira
mais espontânea possível.
Depois Lily correu pelos campos, explorando os mesmos lugares que
eu costumava explorar na minha infância, e uma forte nostalgia me envolveu.
Lembrava de quando eu só pensava em viver pelos meus pais, cuidar
deles e dar a eles todo o apoio, porém esses sonhos foram interrompidos pela
ambição, fique há anos recluso no meu trabalho, tendo apenas um suspiro,
quando eu tinha Amanda ao meu lado.
Agora, me ver reunido com todos ali, ao lado da bela família que eu
havia conquistado, me preenchia de orgulho. Eram os sonhos do pequeno
Trent que estavam se realizando!
Seguimos juntos para o almoço e, mais tarde, quando a noite caiu,
encontramos um lugar tranquilo para estacionar. Acendemos uma fogueira,
assamos marshmallows e partilhamos histórias ao redor do calor das chamas.
Lily estava encantada com o fogo dançante, e Amanda e eu nos
olhávamos com a certeza de que estávamos construindo memórias que
durariam para sempre.
— Olha as estrelas, minha filha. Aquela deve ser a bisa, e aquelas
juntinhas são as “Três Marias”. — Amanda comentou com a menina em seus
braços, enquanto eu comia um marshmallow.
— Por que não as “Três Lilys”?
O som de nossas risadas ecoou de alegria, reverberando pelas colinas.
— Essa cena pede um abraço coletivo! — a minha mãe sugeriu e, ali,
no meio deles, eu me senti ainda mais sortudo por ter uma linda mulher, uma
filha esperta e saudável, os meus pais vivos ao meu lado e com saúde.
— Eu amo vocês. — confessei e meus pais sorriram.
— Um Trent sentimental, é o que temos agora! — a minha mãe
brincou, apertando a minha mão.
— Não queremos o antigo Trent de volta. Chato e workaholic. — o
meu pai completou e, antes que eu pudesse responder, Lily cruzou os braços,
irritada.
— O meu pai não é chato. Ele é o pai mais legal da Terra.
— E você é a filha mais preciosa do mundo.
Amanda abraçou a menininha, enquanto eu inspirava o perfume delas
duas.
— Nós também te amamos, Trent. Você é a razão das nossas vidas.
Sorri, para a minha esposa, levemente emocionado.
— E vocês são a minha vida.
Observei meus pais juntos, brindando suas taças de vinho.
Amanda e Lily abraçadas como se fossem uma só, e como elas se
pareciam, inclusive os fascinantes olhos verdes da garotinha eram idênticos
aos da mãe, já a personalidade dela era toda minha.
O anel de diamantes reluzia no dedo de Amanda, como uma das
provas do meu amor. Finalmente ele estava no lugar ao qual pertencia.
Fiquei junto a elas, assando marshmallows e preenchendo as duas de
carinho.
Queria dar valor a cada segundo, pois esses momentos simples eram
os que mais costumavam fazer falta no futuro.
Incentive os escritores nacionais e independentes, avaliando os seus livros. :)
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lançamentos:
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