Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

YASMIN DE OLIVEIRA MATOS AZEVEDO

RESENHA

Salvador
2019
Resumo do texto

O texto “A dimensão investigativa no exercício profissional” tem como objetivo


demostrar que a pesquisa garante o estatuto de maioridade intelectual para a
profissão: nos possibilita conectarmos com as contribuições das diversas áreas do
conhecimento e com as demandas da classe trabalhadora.

O texto se inicia abordando sobre o projeto profissional que se compromete a


promover uma formação intensamente crítica. Para tal formação, é necessário investir
na investigação.

A pesquisa para o serviço social fornece subsídios à análise do processo de


produção e reprodução da vida social sob o capitalismo, visando a instrumentalização
do assistente social para a elaboração dos projetos de intervenção, a compreensão
do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio histórico, identificar
as demandas presentes na sociedade, realizar visitas, perícias técnicas, laudos e etc.
Essas competências são elementos da intervenção profissional e referem-se
diretamente à investigação.

A autora conclui que para os profissionais do serviço social conseguirem


desvendar a essência e todas as expressões da questão social em seus diferentes
espaços sócio ocupacionais, é necessário o desenvolvimento da pesquisa, além de
ser fundamental para o processo de ruptura com o conservadorismo tão enraizado na
história da nossa profissão.

Bibliografia da autora

A autora do texto, Yolanda Aparecida Demétrio Guerra é assistente social,


mestre e doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo- PUC. Professora Associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro nos
âmbitos da Graduação e da Pós-Graduação.

O foco de sua investigação são as seguintes temáticas: fundamentos, teoria-


prática, instrumentalidade, projetos profissionais e direitos sociais.

Resenha:
Construção do conhecimento e o Serviço Social
Os homens em seu cotidiano conhecem apenas os fenômenos de forma
intuitiva, ou seja, de maneira superficial, mas compreender de fato tais fenômenos
depende do conhecimento sobre a historicidade dos processos sociais e suas
particularidades. Assim, Yolanda Guerra afirma em seu texto que há níveis e graus de
conhecimento: vindo da intuição, oriundo do entendimento e oriundo da razão crítico-
dialética.

Todo conhecimento se inicia pelos sentidos (intuição). O empirismo acredita


que o conhecimento só advém a partir da prática: só se aprende a fazer fazendo.
Durante muito tempo esse foi o pensamento construído dentro do serviço social
brasileiro, a atuação dos profissionais era extremamente técnica, não havia a
necessidade da pesquisa e construção do conhecimento porque as atribuições
profissionais eram apreendidas apenas com a prática. Tal ideia determinou o
conservadorismo e tecnicismo na profissão, pois o conhecimento que parte do senso
comum está permeado por preconceitos. O conhecimento pode partir do senso
comum, mas precisa ir além dele.

O conhecimento proveniente da intuição implica em nossa aceitação passiva


das informações que nos chegam através da experiência, pelo cotidiano e reprodução
da existência. A esse nível temos o “entendimento”. O entendimento é apenas o
reconhecimento da realidade que foi expressa pelo empirismo, ou seja, não existe
uma análise ou crítica sobre tal realidade, ela é apenas aceita, o que leva a reprodução
e manutenção da realidade que esse apresenta no imediato.

E por último, o conhecimento advindo da razão dialética (o mais alto nível do


conhecimento), esse é capaz de captar o movimento do objeto, sua constituição e seu
processo de formação e sobretudo suas contradições. O serviço social é permeado
por várias contradições, afinal, a profissão foi formada devido a expansão do
capitalismo monopolista e a questão social, assim como o capitalismo é repleto de
contradições, a profissão também será. Exemplo de tais contradições: o serviço social
surge enquanto profissão devido a necessidade do Estado e da classe dominante de
dominar a classe pauperizada e trabalhadora, como forma de manutenção do sistema,
entretanto, o mesmo trabalhará diretamente com a classe trabalhadora, mesmo que
a mesma não tenha demandado por seus serviços. Assim, a demanda do serviço
social parte da classe dominante, mas a classe que irá usufruir de seus serviços é a
classe trabalhadora. Tal entendimento sobre essa contradição, só foi possível devido
a adoção da teoria marxista crítica-dialética como matriz teórico-metodológica do
serviço social, rompendo com o conservadorismo advindo dos anos do empirismo e
tecnicismo. Mas, mesmo que o serviço social tenha avançado em termos de produção
do conhecimento, ainda temos muito o que avançar em termos de pesquisa.

O conhecimento crítico leva em conta que a realidade não se apresenta no


imediato, a parte conhecida não representa o todo e é necessário conhecer a essência
dos fenômenos. Toda realidade é composta por totalidades, exemplo: a Universidade
Federal da Bahia enquanto instituição é a totalidade mais ampla e complexa e suas
partes (alunos, professores, hierarquias, regulamentos, orçamentos, projetos, objetivo
e etc.) são totalidades menores, mas que estão ligadas a totalidade maior e possui
suas próprias contradições e particularidades.

É dessa forma que os (as) assistentes sociais devem enxergar a instituição na


qual trabalha, compreendendo-a como um todo e percebendo em qual totalidade se
encaixa sua atuação profissional e de que forma será determinada ou influenciada
pela instituição como um todo. Exemplo: em um determinado hospital, pode ser
exigido do assistente social que seus atendimentos com os usuários sejam feitos de
forma mais rápida para maior produtividade. Dessa forma, compreendendo a
totalidade da instituição será possível entender porque tal exigência está sendo feita,
além de perceber que tal exigência fere aquilo que nossa base teórica metodológica
e o código de ética profissional prega.

Com a construção de tal conhecimento, poderemos formar profissionais


capazes de desvendar todas as dimensões da questão social e a forma como o Estado
e a classe dominante intervém sobre suas expressões. A pesquisa nos garante maior
autonomia no campo do conhecimento e nos permitir compreender as demandas da
classe trabalhadora e de que forma podemos atende-la. Tal ponto é fundamental, pois
o serviço social de forma majoritária e na maior parte da sua história foi mais favorável
ao interesse do capital do que da classe trabalhadora, assim Yolanda afirma que a
produção do conhecimento é um grande passo para romper com o conservadorismo
e nos aproximar das necessidades da classe trabalhadora, a qual nos
comprometemos a defender, afinal também pertencemos a tal classe.

Por fim, o artigo “A dimensão investigativa no exercício profissional” de Yolanda


Guerra irá abordar de forma muito didática e detalhada sobre o papel da investigação
dentro do exercício profissional, assim como os caminhos necessários para a
construção do conhecimento. Portanto, a autora consegue cumprir com o seu objetivo
ao abordar determinada temática.

Recomendo esse artigo para todos os estudantes do serviço social a partir do


terceiro semestre, para assistentes sociais já formadas e professoras do curso.
Acredito ser necessário ter uma pequena bagagem teórica antes da primeira leitura
para assim ter melhor compreensão sobre determinados termos e temáticas
discutidos no texto.

Referências:

GUERRA, Y. A dimensão investigativa no exercício profissional. Serviço Social, Direitos e


competências profissionais. Programa de Capacitação continuada para assistentes sociais.
ABEPSS/CFESSS: 2009.

Você também pode gostar