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Robert Flaherty, Noite e bruma de Alain Resnais e Cabra
marcado para morrer?
SEQÜÊNCIA DE CENAS
Sim e não.
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companheiros não viviam mais da caça de focas, que desde a
chegada das armas de fogo já não usavam mais o arpão, a ponto
de terem despendido vários dias reaprendendo a manejá-lo, é
mais do que provável que o espectador, agora certo de ter
sido enganado, decidisse abandonar o cinema.
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Aliás, os primeiros minutos de um filme não-ficcional também
desempenham um papel importante nesse processo de
contextualização. Antes de apresentar Nanook a seus
espectadores, Flaherty utiliza três cartelas e dois mapas.
Com eles, afirma: num lugar verdadeiro habita um homem real,
Nanook. Trata-se de ancorar o filme no mundo histórico. “Eis
Nanook, ele existe.” Oitenta anos depois, o dispositivo
continua a ser empregado, mesmo que as cartelas tenham dado
lugar a outros recursos, como a locução, por exemplo.
INÍCIO MASTER
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segundo essa mesma abordagem, avançar uma casa e transformar
toda ficção em documentário.
O GORDO E O MAGRO
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marcado para morrer – tão profunda que faz cada um desses
filmes ser irredutível ao outro.
NANOOK
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AO REDOR DO BRASIL
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Há mais de sessenta anos John Grierson forneceu uma das
definições mais clássicas de documentário. Segundo ele,
documentário seria “o tratamento criativo da realidade”.
Detendo-nos no substantivo tratamento, aprendemos que ele
indica uma transformação; quanto ao adjetivo, basta notar,
como contraponto, que Grierson não fala em tratamento
especular da realidade, mas em tratamento criativo.
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isso não é possível, preferem então declarar que todo filme
é ficcional. Estão errados. Manipular o material não
significa aproximá-lo da ficção.
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de documentários é sempre mais parecido com o documentarista
do que com o índio, o menino de rua, o nordestino da seca, o
artista popular, o bandido ou o esquimó, que formam o elenco
básico do gênero. O grande documentarista e etnógrafo Jean
Rouch escreveu [aspas]: “O cinema é a única arma que possuo
para mostrar ao outro como eu o vejo”. Percebe-se que
documentários não são exatamente sobre os outros, mas sobre
como documentaristas mostram os outros. A representação de
qualquer coisa é a criação de outra coisa. No caso do
documentário, essa outra coisa criada é um personagem.
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diretor, quando mostra seu filme na televisão de casa, tem
necessidade de falar: “Logo depois desse corte ele
disse...”; “Isso foi logo depois que chegamos”; “Nessa hora
passou um avião e tivemos que interromper”; “Aqui ele
começou a perceber que precisávamos terminar”; “Ela nos
recebeu assim mesmo, toda arrumada, pintou-se...”.
FILME FUTEBOL
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filho não conseguisse passar numa das inúmeras peneiras às
quais, incansavelmente, ele o levava nas folgas do trabalho,
sempre em nome de uma espécie de contrato pelo qual o
presente precisava ser duramente vivido em troca do futuro:
caso o filho fosse bem-sucedido, a família descansaria.
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natureza dessa relação. São filmes sobre encontros. Nem
todos são bons, mas os melhores tentam transformar a fórmula
eu falo sobre ele para nós em eu e ele falamos de nós para
vocês. Desse encontro, nasce, talvez, uma relação virtuosa
entre episteme e ética. Filmes assim não pretendem falar do
outro, mas do encontro com o outro. São filmes abertos,
hesitantes no que diz respeito a conclusões categóricas
sobre essências alheias. Não abrem mão de conhecer, apenas
deixam de lado a ambição de conhecer tudo.
Consuelo escreve:
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chorando o filho morto. Parafraseando Auden, seria bom se
nós nos convencêssemos de que documentário não faz nada
acontecer. Seria um modo de errar menos.
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