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Federalismo, república e democracia na constituição 1988

A Constituição brasileira de 1988 estabelece o federalismo, a república e


a democracia como princípios fundamentais do sistema político do país. Vou
explicar brevemente cada um deles:
Organização política administrativa do estado (funcionamento do estado)
federação ou estado unitário. Descentralização do poder. Característica; estado
federa (soberania) entes federados (autonomia)
Na RFB... união/ estados membros/ municípios/ DF
Federalismo: O federalismo é um sistema de organização política em
que o poder é dividido entre um governo central e governos regionais,
conhecidos como estados ou unidades federativas. No caso do Brasil, a
Constituição estabelece a divisão de competências entre a União, os estados,
o Distrito Federal e os municípios. Cada esfera de governo possui autonomia
política, administrativa e financeira dentro de suas áreas de atuação.
O federalismo é um dos princípios fundamentais da Constituição
brasileira de 1988. Ele está presente em diversos artigos e define a forma de
organização política do país, estabelecendo a divisão de competências e
poderes entre o governo federal e os estados, o Distrito Federal e os
municípios.
Alguns pontos importantes sobre o federalismo na Constituição brasileira
são:
1. Divisão de Competências: A Constituição específica claramente as
competências exclusivas da União, dos estados, do Distrito Federal e
dos municípios. Essa divisão visa evitar conflitos de competência e
estabelecer áreas específicas de atuação para cada ente federado.
2. Competências da União: A União é responsável por questões como
política externa, defesa nacional, moeda, políticas de telecomunicações,
energia nuclear, entre outras.
3. Competências dos Estados e do Distrito Federal: Os estados e o
Distrito Federal têm competências que abrangem áreas como educação,
saúde, segurança pública, transporte, meio ambiente, administração
penitenciária, entre outras.
4. Competências dos Municípios: Os municípios têm autonomia para
cuidar de assuntos locais, como saúde pública, educação infantil,
transporte urbano, entre outros.
5. Partilha de Receitas: A Constituição também estabelece a forma como
as receitas fiscais são partilhadas entre os entes federados, garantindo
recursos para que cada esfera de governo possa exercer suas
competências.
6. Intervenção Federal e Estadual: A Constituição também prevê a
possibilidade de intervenção federal em estados e municípios, caso haja
o descumprimento de princípios constitucionais ou em situações
excepcionais.
7. Unidade Indissolúvel: A Constituição brasileira consagra a unidade
indissolúvel da federação, ou seja, não é permitida a secessão ou a
separação de um estado ou território da união.
O federalismo na Constituição brasileira é essencial para a organização
política e administrativa do país, buscando equilibrar a autonomia dos estados
e municípios com a necessidade de uma coordenação central em certas áreas.
Essa estrutura federativa visa garantir a diversidade regional e local, ao mesmo
tempo em que permite a cooperação e a busca de soluções comuns para os
problemas nacionais.
Federalismo brasileiro vs Federalismo americano
Como o modelo de federalismo americano é diferente do brasileiro - e o que
podemos aprender com eles.
Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são “federações” - mas qualquer um que tenha
ouvido um pouco sobre as leis nos Estados Unidos já deve ter percebido a imensa
diferença entre os sistemas. Para quem não ouviu, funciona mais ou menos assim:
Pergunta: Pena de morte é permitida nos EUA?
Resposta: Depende, em qual estado?

No Brasil, algo tão importante dificilmente seria deixado para os estados decidirem.
Nossa constituição repartiu as competências legislativas de forma extremamente
desigual. Para ter uma ideia, o artigo que define as competências da União possui 29
incisos, ou seja, 29 temas sobre os quais apenas Brasília pode legislar.

Enquanto isso, os estados sequer possuem um artigo próprio. O Artigo 24, que possui
16 incisos, define sobre o que os estados podem legislar, mas também permite que a
União decida as regras gerais, que não podem ser contrariadas pelos estados.

Já os municípios, apesar de terem artigo próprio, ficam praticamente só com as brechas


nas leis acima deles e com as leis de mobilidade e urbanismo, além de é claro, os
deveres.

Constituição enxuta, mas poder para os estados


Grandes territórios sempre atraíram muitos pessoas obcecadas por poder.

Nos Estados Unidos, a situação é bem diferente. A Constituição Americana é


extremamente enxuta, com 7 artigos e 27 emendas (em contraste com os 250 artigos e
mais de 100 emendas da Constituição do Brasil), e define apenas as competências do
Congresso Federal, deixando muito espaço para a legislação residual dos estados. E
apesar de historicamente os poderes terem se concentrado cada vez mais na União, até
hoje conseguimos ver diferenças marcantes entre os estados, como é o caso da pena de
morte, do porte de armas e até nos impostos!

Essas diferenças entre as duas constituições são fruto do contexto em que elas foram
escritas. Nos EUA, eram estados se juntando para formar uma nação. No Brasil, foi um
governo centralizado distribuindo algumas competências para seus subordinados.

Grandes territórios sempre atraíram um grande número de pessoas obcecadas por poder.
Os Estados Unidos tiveram sorte de terem tido uma constituição que, além de limitar o
poder do governo, distribuiu esse poder entre os entes federados, garantindo mais
liberdade e prosperidade para o cidadão americano.

Alguns artigos da Constituição de 1988 que abordam


especificamente o federalismo, a república e a democracia. Aqui estão
eles:

Federalismo:
Artigo 18: Estabelece os princípios fundamentais do federalismo no
Brasil, definindo a repartição de competências entre a União, os estados, o
Distrito Federal e os municípios.
Artigo 25: Trata da competência dos estados para legislar sobre
questões específicas, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição.
Artigo 30: Estabelece a competência dos municípios para legislar sobre
assuntos de interesse local.
República:
Artigo 1º: Declara que a República Federativa do Brasil é formada pela
união indissolúvel dos estados, municípios e do Distrito Federal.
Artigo 2º: Estabelece os fundamentos da República, que incluem a
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.
Obras
"Federalismo, República e Democracia" - Autor: Pedro Serrano Nessa
obra, o autor examina a relação entre federalismo, república e democracia,
discutindo as implicações e os desafios desses princípios no contexto da
Constituição brasileira.
"Federalismo e Descentralização" - Autor: José Afonso da Silva Nessa
obra, o autor explora o tema do federalismo, discutindo a estrutura e os
princípios do federalismo brasileiro, bem como as questões relacionadas à
descentralização política, administrativa e fiscal.
"Federalismo e Reforma do Estado" - Autor: José Afonso da Silva
Nesta obra, o autor discute o federalismo brasileiro, analisando suas
características, desafios e possibilidades de reforma, levando em consideração
a estrutura estabelecida pela Constituição de 1988.
"Democracia e Federalismo no Brasil: Perspectivas e Desafios" -
Autor: Roberto Goulart Menezes Este livro examina as relações entre
democracia e federalismo no Brasil, discutindo a participação política dos
cidadãos, os processos decisórios e a descentralização do poder, à luz da
Constituição de 1988.
"A República Federativa do Brasil e o Estado Democrático de
Direito" - Autor: Alexandre de Moraes Neste livro, o autor discute a estrutura
da República Federativa do Brasil, analisando os princípios republicanos e o
Estado Democrático de Direito presentes na Constituição de 1988.

Federalismo na constituição de 88
Capítulo 4/ 4.5 Traços essenciais da Constituição de 1988
Além dos direitos fundamentais, o outro “coração” da Constituição de 88
é a democracia.
No que concerne ao federalismo, a Constituição de 88 não rompeu com
a tradição centrípeta brasileira, de extrema concentração das competências
normativas no plano federal. Contudo, foi a primeira a atribuir expressamente a
natureza de entidade federativa aos municípios, ampliando a sua autonomia.
Além disso, promoveu maior descentralização administrativa, bem como
financeira. Quanto à última, repartiu de forma mais favorável aos Estados e
Municípios as competências tributárias e as receitas decorrentes da
arrecadação dos impostos, conferindo a tais entidades federativas condições
para o exercício das suas competências materiais, de forma a atenuar a sua
dependência econômica em relação ao Poder Central, que caracterizava o
regime constitucional anterior.
Em relação ao Poder Legislativo, a Constituição de 1988 manteve o
bicameralismo federativo e a distorção na representação entre Estados mais e
menos populosos, pela fixação do número mínimo de 8 e máximo de 70
deputados federais por Estado. De acordo com a Constituição, cada Estado
elege 3 senadores, pelo sistema majoritário, para mandatos de 8 anos, com
renovação alternada de 1/3 e 2/3 da bancada a cada 4 anos. Já o sistema
eleitoral para a escolha dos deputados é o proporcional.
Capítulo 7.2.4.3.1 A forma federativa de Estado
O federalismo é um arranjo institucional que envolve a partilha vertical
do poder entre diversas entidades políticas autônomas, que coexistem no
interior de um Estado soberano. Trata-se de um modelo de organização política
que busca conciliar a unidade com a diversidade. O fato de um Estado ser
unitário não torna injusta ou autoritária a sua ordem jurídica. Sem embargo, há
elementos no pacto federal que favorecem os valores do constitucionalismo
democrático. O federalismo envolve a repartição de poderes no plano espacial,
o que evita a concentração excessiva de poderes, que poderia favorecer o
autoritarismo. Ele aproxima o exercício do poder político dos seus
destinatários, possibilitando que o povo tenha maior participação e exerça mais
de perto o controle sobre as decisões e atividades públicas. A federação
favorece o pluralismo e a diversidade, ao preservar espaços para o poder local,
que tende a ser mais receptivo às demandas e peculiaridades das respectivas
populações. Não há um único modelo de federalismo. A federação, surgida nos
Estados Unidos em 1787, é hoje a forma de Estado adotada por 24 países,
cada um deles adotando um pacto federal próprio, com as suas peculiaridades.
O federalismo norte-americano, por exemplo, envolve um grau de
descentralização das competências legislativas muito maior do que o brasileiro.
O Brasil, por sua vez, incluiu os municípios no pacto federal na
Constituição de 88, o que não ocorre em nenhuma outra federação. Há,
portanto, grandes variações, e não um único modelo ideal de federação, a ser
escrupulosamente seguido. Sem embargo, existem alguns elementos mínimos
que devem ser observados, sem os quais a federação se descaracteriza, ou o
pacto federativo é posto em xeque. É preciso: a) que exista partilha
constitucional de competências entre os entes da federação, de modo a
assegurar a cada um uma esfera própria de atuação; b) que tais entes
desfrutem de efetiva autonomia política, que se expressa nas prerrogativas do
autogoverno, auto-organização e autoadministração; c) que haja algum
mecanismo de participação dos Estados-membros na formação da vontade
nacional; 66 e d) que os entes federais tenham fontes próprias de recursos
para o desempenho dos seus poderes e competências, sem o que a
autonomia, formalmente proclamada, será, na prática, inviabilizada. O STF já
enfrentou algumas vezes a questão da violação da cláusula pétrea da
federação. A primeira vez se deu no julgamento constitucionalidade da EC nº
3/93, que instituiu o IPMF, e possibilitou a incidência do imposto sobre as
movimentações financeiras realizadas por Estados e Municípios, criando uma
exceção à imunidade tributária recíproca dos entes da federação. A Corte
invalidou essa exceção, por considerar que a imunidade recíproca seria
componente essencial do pacto federativo. Parece-nos que o STF foi longe
demais na decisão. A imunidade recíproca, embora se relacione ao pacto
federal, está bem longe do seu núcleo essencial. Pelas razões antes expostas,
a invalidação de uma decisão do poder constituinte derivado é providência
extremamente grave, demandando um ônus de justificação elevado, que a
decisão do STF não logrou superar. O Supremo Tribunal Federal voltou ao
tema, ao apreciar a constitucionalidade da EC nº 15/96, que alterou a redação
do §4º do art. 18 da Constituição Federal. Na redação originária do preceito,
previa-se que a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
Municípios far-se-iam com observância de requisitos previstos em lei
complementar estadual. Na nova redação, o dispositivo passou a estabelecer
que a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios só
poderiam ocorrer “dentro do período determinado por lei complementar
federal”. A competência antes conferida ao legislador complementar estadual
passou, em parte, a ser atribuição do legislador complementar federal. O STF
entendeu, na ADI nº 2.381, não haver violação ao núcleo essencial do princípio
federativo na mudança: “o recuo da EC nº 15/96 — ao restabelecer, em tópicos
específicos, a interferência refreadora da legislação complementar federal —
não parece ter atingido, em seu núcleo essencial, a autonomia dos Estados-
membros, aos quais (...) permaneceu reservada a decisão política concreta”.
67 Outro julgamento da Corte na matéria foi relativo à reforma previdenciária,
realizada pela EC nº 20/98. Como a emenda em questão também afetara o
regime previdenciário de agentes públicos estaduais e municipais, alegou-se
que ela teria violado a cláusula pétrea da federação. A tese foi corretamente
rechaçada pelo STF. 68 O Supremo também rejeitou, com razão, a alegação
de ofensa à federação na criação do Conselho Nacional de Justiça, pela EC nº
45/04. 69 Afirmara-se, na inicial da ADI nº 3.367, que a afronta estaria no fato
de o referido órgão estar inserido na estrutura da União, mas exercer o controle
administrativo, financeiro e disciplinar também sobre os tribunais estaduais. A
Corte, acertadamente, refutou o argumento
Capítulo 14.4.2 Recepção, federação e alteração de competência
legislativa
Em Estados federais ou regionais, é possível que uma nova
Constituição, ou mesmo uma emenda constitucional, altere a competência
legislativa para disciplina de determinado tema. Nessas hipóteses, pode-se
discutir se ato normativo editado pelo ente político originariamente competente
mantém a sua validade, após o advento da referida modificação. Sobre o tema,
poucos autores se pronunciaram. Pontes de Miranda 52 e Gilmar Ferreira
Mendes 53 defenderam a tese de que as normas editadas por entidades
superiores manter-se-iam em vigor, mesmo após a transferência da
competência legislativa para entidades menores, até que fossem revogadas
pelos entes políticos agora competentes. Mas, para tais juristas, o oposto não
ocorreria. As normas ditadas por entidades menores deixariam de valer quando
houvesse alteração na competência em favor de entidades maiores. Já Luís
Roberto Barroso sustenta posição diversa. 54 Para Barroso, as normas postas
por entidades que, à época de sua edição, eram dotadas de competência, são
recepcionadas pela Constituição, desde que materialmente compatíveis com
ela. Tais atos normativos continuariam valendo até serem ab-rogados pelos
novos entes competentes para a disciplina da matéria. O raciocínio valeria
tanto para a mudança de competência de entidades maiores para menores,
como vice-versa. O STF, ao apreciar a subsistência de norma federal que
instituíra, antes da Constituição de 88, benefício fiscal em tributo estadual —
providência possível sob certas condições no regime constitucional pretérito,
mas vedada pela Carta de 88 —, afirmou, invocando o princípio da
continuidade da ordem jurídica, que “se havia legislação federal e a matéria
passou a ser de competência estadual ou municipal a legislação federal é
recebida como estadual ou municipal”. 55 A Corte, salvo engano, ainda não
enfrentou a situação inversa, envolvendo possível recepção de norma editada
por município ou estado, quando tenha havido transferência de competência
legislativa para estado ou para a União. Tal hipótese, na nossa opinião, não se
resolve apenas por meio da lógica formal. Por um lado, é certo que o princípio
da continuidade da ordem jurídica também se aplica ao caso, justificando,
como regra geral, a recepção provisória das normas editadas por entes
políticos menores, até que advenha a regulação do tema pela entidade política
superior, agora investida pela Constituição na competência legislativa
correspondente. Contudo, podem surgir situações em que a adoção dessa
orientação gere graves problemas constitucionais, sobretudo no que concerne
ao respeito ao princípio da isonomia. Isto porque tal solução pode conduzir, por
exemplo, à obrigatoriedade de aplicação, pela União, de milhares de normas
municipais de conteúdos radicalmente díspares a pessoas que se encontrem
em situações idênticas, apenas por se acharem nos territórios de municípios
diferentes, em hipótese em que tal diferença de localização se afigure
irrelevante. Note-se que a ofensa à isonomia aqui não proviria do conteúdo de
qualquer ato normativo, mas sim da aplicabilidade simultânea, pelo mesmo
ente federativo, de inúmeros deles — cada um, quando visto isoladamente,
dotado de conteúdo válido —, levando a um injustificado tratamento
diferenciado de pessoas que se encontram em situações iguais. Em hipóteses
assim, a análise da recepção deve envolver uma ponderação entre os
princípios da continuidade da ordem jurídica e da isonomia. Em outras
palavras, deve-se perquirir o que, da perspectiva constitucional, é mais danoso
em cada caso: a discriminação injustificada, decorrente da recepção, ou o
vazio normativo, resultante da não recepção. Em suma, entendemos que a
mudança de competência legislativa não prejudica, geralmente, a recepção dos
atos normativos editados anteriormente à sua ocorrência, tendo em vista o
princípio da continuidade da ordem jurídica. Porém, quando a alteração ocorrer
no sentido do deslocamento de competência normativa de entes políticos
menores para maiores, esta regra geral poderá eventualmente ceder numa
ponderação com o princípio da isonomia. Nesse caso, a alteração de
competência até poderá, excepcionalmente, ensejar a não recepção das
normas anteriormente editadas por municípios ou por estados.

Direito constitucional; Daniel sarmento e Claúdio pereira

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