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DIA 7

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO
ESTADO BRASILEIRO – TITULO (Arts. 18-43)
Da Organização Político-Administrativa:
Visão Geral (arts. 18-19)

03.03.2020

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Prefeitura de Aracaju decreta ponto facultativo no
Carnaval
“O prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) assinou nesta segunda-feira (25)
o decreto que estabelece o ponto facultativo nos órgãos, entidades e
empresas da administração no dias 4, 5 e 6 de março, período em que
ocorre o Carnaval.”
(G1, 25/02/2019)
Governo do Estado decreta ponto facultativo no Carnaval
“O governador Belivaldo Chagas decretou ponto facultativo em todas as
repartições e órgãos estaduais da administração direta e indireta nos dias
04, 05 e 06 de março, conforme o decreto estadual de número 40.208,
de 19 de dezembro de 2018, em virtude das festividades de Carnaval.”
(Infonet, 26.02. 2019)

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1. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA

Diz respeito à divisão espacial e vertical do Poder,


ao estabelecer a organização territorial do Estado
brasileiro (forma de Estado), que é uma federação
- e não um Estado unitário - e adota o federalismo
cooperativo. O federalismo confere a seguinte
autonomia aos entes federados locais: auto-
organização e autolegislação, autogoverno e
auto-administração.

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2 CARACTERÍSTICAS DA AUTONOMIA POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA

Auto-organização e autolegislação: capacidade de elaborar


Constituição (art. 25) ou Lei Orgânica (art. 29) e competência
legislativa específica e mesmo concorrente (arts. 23 e 30).

Autogoverno: o Estado-membro possui Poder Legislativo


próprio (Assembléia Legislativa); Poder Executivo
(Governador e pelos Secretários); e Poder Judiciário (TJ,
TJM e Juízes de primeiro grau - arts. 27, 28 e 125). Município:
Poder Executivo e Poder Legislativo próprios.

Autoadministração: bens e gestão próprios,


autonomizados dos demais entes federados (servidores
públicos estaduais, empresas públicas municipais etc.). Inclui
a autonomia tributária, financeira e orçamentária, pois
Estados e Municípios têm orçamentos (Plano Plurianual, LDO
e LOA) e tributos exclusivos (impostos, taxas e contribuições).
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2.1 DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS
CF, artigo 18: “A organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil compreende a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição.”
Decorre de um princípio fundamental (art. 1º)
Constituição Federal, art. 155: “Compete aos Estados e
ao Distrito Federal instituir impostos sobre: “I -
transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou
direitos.”
Constituição Federal, art. 156: “Compete aos Municípios
instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial
urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por
ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão
física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de
garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição.”
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2.2 Dispositivos da Constituição de
Sergipe
Art. 1º: “O Estado de Sergipe, unidade da República
Federativa do Brasil, autônomo e constituído sob o
regime da democracia representativa, rege-se por
esta Constituição e leis que adotar dentro de sua
competência e promoverá a defesa da cidadania, da
dignidade da pessoa humana, da moralidade, da
probidade e eficiência administrativas, dos valores
sociais do trabalho, da livre iniciativa, objetivando a
construção de uma sociedade democrática, livre,
desenvolvida e justa.”
Art. 12: “O território do Estado de Sergipe é dividido
em Municípios como unidades territoriais dotadas
de autonomia política, administrativa e financeira,
nos termos assegurados pela Constituição da
República e por esta Constituição.”
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“Art. 25. A administração pública, em todos os níveis e de
qualquer dos Poderes do Estado e dos Municípios, estruturar-
se-á e funcionará em obediência aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, transparência, razoabilidade,
publicidade, eficiência e ao seguinte:
§ 4º. A administração pública é direta quando efetivada por
órgão de qualquer dos Poderes do Estado.
§ 5º. A administração pública indireta é composta de: I -
autarquia; II - sociedade de economia mista; III - empresa pública;
IV - fundação pública; V - demais entidades de direito privado, sob
o controle direto ou indireto do Estado.”
Art. 46: “Cabe à Assembléia Legislativa, com a sanção do
Governador do Estado, não exigida esta para o especificado no art.
47, dispor sobre todas as matérias de competência do Estado e
especialmente sobre: I - tributos, arrecadação e distribuição de
rendas; II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias,
orçamento anual, operações de crédito e da dívida pública (...).”
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2.3 Dispositivos da Lei Orgânica de Aracaju

Art. 17: “São Poderes do Município, independentes e


harmônicos entre si, o Legislativo e o Executivo.
Parágrafo Único – Salvo as exceções previstas nesta
Lei Orgânica, é vedado a qualquer dos Poderes
delegar atribuições de seus membros aos
integrantes do outro.”
Art. 18: “A autonomia do Município configura-se,
especialmente, por meio de:
I – elaboração e promulgação da Lei Orgânica;
II – eleição do Prefeito e Vice-Prefeito;
III – organização de seu Governo e Administração”.
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2.4 Precedentes do STF
“A Constituição Federal conferiu ênfase à autonomia
municipal ao mencionar os Municípios como
integrantes do sistema federativo (art. 1º da CF/1988) e
ao fixá-la junto com os Estados e o Distrito Federal (art.
18 da CF/1988). A essência da autonomia municipal
contém primordialmente (i) autoadministração, que
implica capacidade decisória quanto aos interesses
locais, sem delegação ou aprovação hierárquica; e (ii)
autogoverno, que determina a eleição do chefe do
Poder Executivo e dos representantes no Legislativo. O
interesse comum e a compulsoriedade da integração
metropolitana não são incompatíveis com a autonomia
municipal. O mencionado interesse comum não é comum
apenas aos Municípios envolvidos, mas ao Estado e aos
Municípios do agrupamento urbano.” (ADI 1.842, Pleno,
06.03.2013)
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“A regência dos vencimentos dos
servidores estaduais decorre de normas
do próprio Estado. Não cabe, sob o ângulo
da isonomia, acionar legislação federal. “
(RE 459.128, 1ª Turma, 07.04.2009)

“Viola a autonomia dos Municípios (art. 29,


IV, da CF/1988) lei estadual que fixa
número de vereadores ou a forma como
essa fixação deve ser feita.” (ADI 692,
Pleno, 02.08.2004)
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Tema 793/STF: Responsabilidade
solidária dos entes federados pelo
dever de prestar assistência à
saúde.
Tese: O tratamento médico adequado aos
necessitados se insere no rol dos deveres do
Estado, sendo responsabilidade solidária dos
entes federados, podendo figurar no polo
passivo qualquer um deles em conjunto ou
isoladamente.
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“CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PACTO FEDERATIVO E
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA. PISO NACIONAL PARA OS
PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. CONCEITO DE PISO:
VENCIMENTO OU REMUNERAÇÃO GLOBAL. RISCOS FINANCEIRO
E ORÇAMENTÁRIO. JORNADA DE TRABALHO: FIXAÇÃO DO
TEMPO MÍNIMO PARA DEDICAÇÃO A ATIVIDADES EXTRACLASSE
EM 1/3 DA JORNADA. ARTS. 2º, §§ 1º E 4º, 3º, CAPUT, II E III E 8º,
TODOS DA LEI 11.738/2008. CONSTITUCIONALIDADE. PERDA
PARCIAL DE OBJETO. (...) 2. É constitucional a norma geral
federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio
com base no vencimento, e não na remuneração global.
Competência da União para dispor sobre normas gerais relativas
ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de
modo a utilizá-lo como mecanismo de fomento ao sistema
educacional e de valorização profissional, e não apenas como
instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 3. É constitucional
a norma geral federal que reserva o percentual mínimo de 1/3 da carga
horária dos docentes da educação básica para dedicação às
atividades extraclasse. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente. Perda de objeto declarada em relação aos arts. 3º e 8º
da Lei 11.738/2008.” (ADI 4167, Pleno, 27/04/2011)
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3. VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS AOS
ENTES FEDERADOS

Inicialmente não confundir entes federados ou


entes políticos (as 4 unidades que compõem a
federação brasileira: União, Estado, DF e
Município) com entes federais (pessoas jurídicas
da Administração direta e indireta da União -
federal)
A autonomia/competência atribuída aos entes
federados é desenhada pela própria
Constituição, que, a par de limitar Constituições
estaduais e Leis Orgânicas municipais,
expressamente proibiu determinados atos no
artigo 19. 13
3.1 Dispositivo constitucional
CF, art. 19: “É vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a
colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou
preferências entre si”
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4 LAICIDADE ESTATAL
Embora o preâmbulo invoque a proteção de Deus, o texto
constitucional permanente não estabeleceu religião oficial
para o Brasil (a Constituição de 1824 fixou a católica romana),
ao mesmo tempo em que assegurou a liberdade religiosa
(CF, art. 5º, VI, VII e VIII), de modo que o Estado brasileiro não
pode privilegiar/prejudicar nenhum credo.
Porém, a própria Constituição, ao tratar de educação, permite, no
art. 210, § 1, o ensino religioso nas escolas (embora de
matrícula facultativa) e autoriza, no artigo 213, que recursos
públicos sejam destinados a escolas confessionais, sob
certas condições.
Além disso, prevê imunidade tributária da seguinte forma, no
art. 150: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: (...) b)
templos de qualquer culto”.
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4.1 Música religiosa e evento oficial:
laicidade?

“Ateus processam Crivella por show gospel


no réveillon do Rio de Janeiro.
Usar do dinheiro público para contratar uma cantora
gospel é contra o princípio de laicidade e liberdade de
religião, disse os ateus.”

“Fim de ano em João Pessoa tem festival com


Padre Fábio de Melo e Réveillon com Mano
Walter
Festival 'Juntos na Fé' também vai ter nomes como
Aline Barros, Rosa de Saron e Fernanda Brum.”
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4.2 Cidade d’Oxum: Laicidade?

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4.3 Precedentes do STF sobre
Laicidade

“ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república


laica, surgindo absolutamente neutro quanto às
religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO –
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER –
LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE
– DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO –
DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME –
INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional
interpretação de a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126
e 128, incisos I e II, do Código Penal. (ADPF 54,
Pleno, 12/04/2012)

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“Direito constitucional e sanitário. Recurso
extraordinário. Direito à saúde. Custeio pelo Estado
de tratamento médico diferenciado em razão de
convicção religiosa. Repercussão geral. 1. A
decisão recorrida condenou a União, o Estado
do Amazonas e o Município de Manaus ao
custeio de procedimento cirúrgico indisponível
na rede pública, em razão de a convicção
religiosa do paciente proibir transfusão de
sangue. 2. Constitui questão constitucional
relevante definir se o exercício de liberdade
religiosa pode justificar o custeio de tratamento
de saúde pelo Estado. 3. Repercussão geral
reconhecida. (RE 979742, Pleno, 29/06/2017)
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Tema 386: Realização de etapas de
concurso público em datas e locais
diferentes dos previstos em edital por
motivos de crença religiosa do
candidato. (RE 611874, Pleno,
14/04/2011)

Tema 953: Possibilidade de, em nome da


liberdade religiosa, excepcionar
obrigação imposta a todos relativa à
identificação civil. (RE 859376, Pleno,
29/06/2017) 20
5 IGUALDADE ENTRE BRASILEIROS

Inadmissível, a princípio, que um ente federativo trate de


maneira diferente um brasileiro por sua origem, pois
prevalece a igualdade na nacionalidade.

A proibição está relacionada com os objetivos da República


(art. 3º, IV: promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação) e o direito fundamental de igualdade (art. 5º:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:“)
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5.1 IGUALDADE E COTAS
REGIONAIS?

“Campus de Lagarto terá bônus para


alunos de Sergipe
Além disso, candidatos que cursaram
todo o ensino médio em escolas
regulares e presenciais no estado de
Sergipe terão direito ao acréscimo de
10% da nota final do candidato.” (UFS,
04.11.2019)
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5.2 Igualdade Formal e Igualdade Material
Igualdade perante a Lei e Igualdade na Lei
Igualdade na Diferença

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6 PROIBIÇÃO DE NEGAR FÉ A DOCUMENTO
PUBLICO
“1. Certidão emitida por meio do sítio eletrônico do STJ
contendo equívoco quanto à data do trânsito em julgado de
acórdão. Discussão acerca do efeito jurídico a ser conferido
a certidão reveladora de falsos dados quando a parte
beneficiária das informações inverídicas não tenha
contribuído para o erro.
2. O art. 19, inciso II, da Carta da República determina
que se resguarde a boa-fé das informações constantes
de documentos oficiais e daqueles que as recebem e
delas se utilizam nas relações jurídicas. Havendo
quebra do binômio lealdade/confiança na prestação do
serviço estatal, o princípio da boa-fé há de incidir a fim de
que, no exercício hermenêutico da relação a envolver o
Direito e os fatos, as consequências jurídicas reconhecidas
sejam efetivamente justas.” (RE 964139, 2ª Turma, julgado
em 07/11/2017) 24
7 IGUALDADE ENTRE ENTES FEDERADOS

Além disso, também a princípio, não pode haver tratamento


discriminatório entre os próprios entes federados. Daí, por
exemplo, o artigo 201, §9º, da Constituição: “Para efeito de
aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de
contribuição na administração pública e na atividade privada,
rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de
previdência social se compensarão financeiramente, segundo
critérios estabelecidos em lei.”
Contudo, não custa lembrar que é um dos princípios fundamentais
como objetivo da República a redução das desigualdades sociais
e regionais (art. 3º, III), o que, em tese, permite, sim, um
tratamento diferenciado, com esse propósito.

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7.1 Precedentes do STF
“É inconstitucional a lei estadual que estabeleça como
condição de acesso a licitação pública, para aquisição de bens
ou serviços, que a empresa licitante tenha a fábrica ou sede no
Estado-membro.” (ADI 3.583, Pleno, 21/02/2008)
“É inconstitucional o preceito segundo o qual, na análise de
licitações, serão considerados, para averiguação da proposta
mais vantajosa, entre outros itens, os valores relativos aos
impostos pagos à Fazenda Pública daquele Estado-membro.
Afronta ao princípio da isonomia, igualdade entre todos quantos
pretendam acesso às contratações da administração. A CB proíbe a
distinção entre brasileiros. A concessão de vantagem ao licitante
que suporta maior carga tributária no âmbito estadual é
incoerente com o preceito constitucional desse inciso III do art.
19. (ADI 3.070, Pleno, 29/11/2007)

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“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. DECRETO N. 420/92. LEI N. 8.393/91.
IPI. ALÍQUOTA REGIONALIZADA INCIDENTE SOBRE
O ACÚCAR. ALEGADA OFENSA AO DISPOSTO NOS
ARTS. 150, I, II e § 3º, e 151, I, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. CONSTITUCIONALIDADE.
1.O decreto n. 420/92 estabeleceu alíquotas diferenciadas -
incentivo fiscal - visando dar concreção ao preceito veiculado
pelo artigo 3º da Constituição, norma-objetivo que define a
redução das desigualdades regionais e o desenvolvimento
nacional. Autoriza-o o art. 151, I, da Constituição.
2. A fixação da alíquota de 18% para o açúcar de cana não afronta
o princípio da essencialidade. Precedentes.”
(RE 480107, 2ª Turma, 03/03/2009)

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