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Módulo Tributo e Segurança Jurídica

SEMINÁRIO IV - INTERPRETAÇÃO, VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA


NORMA TRIBUTÁRIA

Leitura básica
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 7ª ed. São Paulo:
Noeses, 2018, Capítulo III, primeira parte da obra e, item 2.4 (Sistema e norma: validade,
vigência, eficácia e interpretação da legislação tributária) da segunda parte do livro.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30 ed. São Paulo:
Saraiva, 2019, Capítulo IV.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Fundamentos Jurídicos da Incidência. 10
ed. São Paulo: Saraiva, 2015, Capítulo I, itens 15 (Validade como relação de pertinência
da norma com o sistema), 16, 17 e 18 (A interpretação do direito e os limites da
interdisciplinariedade).

Leitura complementar
• BEZERRA NETO, Bianor Arruda. O que define um julgamento e quais são os limites do
juiz: valores, hermenêutica e argumentação para a construção de uma teoria da decisão
judicial. São Paulo: Noeses, 2017. Capítulo 3 e 4.
• CARVALHO, Paulo de Barros. O absurdo da interpretação econômica do “fato gerador” –
Direito e sua autonomia – O paradoxo da interdisciplinaridade. Revista de Direito Tributário,
n. 97.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. v.1. 2 Ed. São
Paulo: Noeses, 2014, Tema II (As normas interpretativas no direito tributário: análise do
art. 3º da Lei Complementar n. 118/05 e seus efeitos jurídicos).
• DALLA PRIA, Rodrigo. Constructivismo jurídico e interpretação concretizadora:
dialogando com Paulo de Barros Carvalho e Friedrich Muller. In: VIII Congresso Nacional
de Estudos Tributários: derivação e positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses,
2011.
• GAMA, Tácio Lacerda. Competência tributária, fundamentos para uma teoria da nulidade.
3.ed. São Paulo: Noeses, 2020. Capítulo 11.
• MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em matéria tributária. 2.ed. São Paulo: Noeses,
2011. Itens 3.5 a 3.8 do Capítulo III.

Questões
1. Que significa afirmar que uma norma “N” é válida? Diferençar: (i) validade, (ii)
vigência; (iii) eficácia jurídica; (iv) eficácia técnica e (v) eficácia social.

Afirmar que uma norma jurídica é válida, diz respeito a sua relação com
o ordenamento jurídico como um todo, trata-se de qualidade da norma, que
pertence e atende com as regras impostas a sua criação.
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Pode-se dizer ainda que está atrelado com o seu processo de


formação, isto é, fora produzida por órgão competente, bem como atendeu à
todas as etapas necessárias para o seu nascedouro, estas previstas no direito
posto.
A validade em suma, pode ser compreendida então como o vínculo que
se firma com o texto normativo, de que tal lei o compõe e o pertence.
A vigência por sua vez, diz respeito à norma estar apta ou não a
produzir efeitos, segundo Paulo de Barros Carvalho, ela ainda se subdivide em
vigência plena (a qual atinge fatos passados e futuros, remetendo ao intervalo
de tempo em que a norma atua) e a vigência parcial/vigor (em que mesmo
revogada, a norma apresenta força vinculante com relação à fatos anteriores a
sua revogação).
Importante ainda dizer que a validade e vigência, no que diz respeito
aos veículos introdutores, estão correlacionadas, visto que, ao ingressarem no
sistema, já serão automaticamente vigentes, de forma a atender seu objetivo,
ora ingressar normas dentro do ordenamento.
Diferentemente do que ocorre com as normas introduzidas, as quais
terão sua vigência estipuladas pelas normas introdutoras, podendo coincidir ou
não com a sua entrada em vigor.
A eficácia jurídica remete à qualidade dos fatos jurídicos e não de
normas jurídicas, a qual decorre de um acontecimento concreto, cirando um
vínculo entre a incidência de um fato jurídico antecedente e a relação jurídica.
Ou seja, diz respeito à qualidade de irradiar os efeitos dos fatos
descritos na norma à relação jurídica firmada no caso concreto.
A eficácia técnica por sua vez, atrela-se à norma propriamente dita,
visto ela ser a causa mediata da capacidade de gerar efeitos, sendo, portanto,
o meio propiciador da produção de resultados, ora a judicialização de
determinado acontecimento.
E por fim, a eficácia social, é quanto ao respeito e acatamento que a
sociedade apresenta em face de determinada norma jurídica, de modo a
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cumprir o comando pré-fixado na norma. Assim, uma norma será eficaz quando
for integralmente seguida por seus destinatários.

2. Descreva o percurso gerador de sentido dos textos jurídicos explicando os


planos: (i) dos enunciados tomados no plano da expressão (S1); (ii) dos
conteúdos de significação dos enunciados prescritivos (S2); (iii) das
significações normativas (S3); (iv) das relações entre normas (S4).

O S1, diz respeito ao primeiro contato do intérprete com o texto, este


em seu sentido de suporte material da mensagem a ser passada. Através
desta primeira etapa, o intérprete acaba por ter acesso à dados objetivos,
positivados na lei.
Nesta fase, tem-se como escopo o foco na literalidade da textual,
focando-se no físico, na morfologia, na sintaxe, analisando os vocábulos
empregados, bem como a concordância verbal dos vocábulos, isolando partes
do texto que serão objeto de sua compreensão.
O S2, por sua vez, acaba por adentrar no plano do conteúdo, buscando
a conferir valores e construindo significações, primeiramente dos enunciados
isoladamente e posteriormente destes em conjunto, como forma de integrá-los
em um sistema uno.
Importante salientar de que esta construção de significação se inicia
pela análise por meio dos comandos prescritivos separadamente, para assim,
conseguir extrair o sentido propriamente dito.
O S3, remete à fase em que já tendo sido construída a significação de
um enunciado de forma separada, buscará integrá-lo com demais enunciados,
de forma a buscar a sua contextualização.
Por meio deste processo, o intérprete confrontará os sentidos isolados
obtidos, como forma de integração entre elas, contextualizando-as e gerando
desta forma uma um sistema estrutural uno, emanando determinada orientação
jurídica.
O S4, segundo Paulo de Barros Carvalho, é o estrato mais elevado,
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que tem como finalidade a organização, no sentido de estruturar a composição


hierárquica entre as normas construídas no S3.
Nesta etapa, acaba por incluir a norma em um sistema jurídico, de
forma a estabelecer a subordinação entre as normas formuladas pelo
intérprete, formando uma unidade dentro do direito.

3. Há um sentido correto para os textos jurídicos? Faça uma crítica aos métodos
hermenêuticos tradicionais. É possível falar em interpretação teleológica e literal
no direito tributário? E em interpretação econômica? Justifique. (Vide anexos I e II).

Partindo da premisa que o direito posto é um conjunto de camadas


linguísticas, parece que o sentido mais adequado é o que realiza a interpretação
como um sistema de linguagem, sendo este subdividido em três planos, os quais
são: sintaxe, semântica e a pragmática.
A sintaxe, diz respeito a articulação que os próprios símbolos/normas
possuem entre si, sem qualquer interferência do mundo exterior. Já o semântico,
está atrelado com a conexão entre símbolos/normas e os objetos
significados/comportamentos tipificados, mais especificamente com a significação,
ligando o campo normativo com o mundo social. E o pragmático por sua vez, é a
forma em que se emprega a linguagem em uma determinada comunidade, como
forma de motivação de determinado comportamento, ou seja, a acepção dos
vocábulos.
O método literal é aquele em que a interpetação do texto em sua
literalidade, por meio de conclusões feitas e exprimidas através do comando
jurídico contido na norma, se fazendo presente no plano da sintaxe.
O método teleológico por sua vez, almeja traduzir a finalidade de
determinada norma, buscando a exatidão da direção finalística de uma norma em
específica, sendo utilizada no plano semântico.
Já o método econômico pode ser entendido como um método sistemático
e teleológico voltado para a questão econômica da norma. Sendo assim, a sua
aplicação se atrela diretamente à carga tributária por parte do contribuinte, no
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sentido de averiguar se há adequação entre a incidência e capacidade econômica


do contribuinte.
Desta maneira, pode-se afirmar em interpretação pelo método literal e
pelo método teleológico no direito tributário, como integrantes de etapas dentro do
sistema de linguagem, sendo o primeiro referente ao plano da sintaxe e o segundo
do plano semântico.
Por outro lado, visto que a finalidade da norma dentro do direito tributário
não é propriamente a arrecadatora, mas sim indutora, a questão econômica não é
considerada ao ser realizada a interpretação teleológica.
O método hermenêutico tradicional, buscava por meio do texto, se extrair
intepretações através de técnicas, as quais procurava isolar a intenção do
legislador e o sentido originário da norma.
Insta salientar de que a base de sua significação está pautada no próprio
texto de lei propriamente dito, cabendo ao intérprete exteriorizar a sua acepção.
Entretanto, para a construção de uma semântica, diante de certas lacunas
normativas não há como se pautar somente pela lei, visto que tal atividade estaria
prejudicada, sendo necessário, o processo de integralização do direito como um
todo, utilizando por exemplo os princípios norteadores do direito.

4. A Lei “A” foi promulgada no dia 01/06/12 e publicada no dia 30 de junho desse
mesmo mês e ano. A Lei “B” foi promulgada no dia 10/06/12, tendo sido
publicada no dia 20 desse mesmo mês e ano. Na hipótese de antinomia entre os
dois diplomas normativos, qual deles deve prevalecer? Justificar.

O início do intervalo da vigoração de uma norma, tem como marco


referencial, a data de sua publicação no diário oficial. Desta maneira, pressupõe
que a lei B entrou em vigor antes da Lei A.
Ao se deparar com antinomia, deve buscar uns dos três critérios para a
sua solução e, visto que na presente demanda não há hierarquia entre as
normas, tão menos especificidade, resta analisar sobre a ótica da cronologia.
Considerando que, norma posterior revoga norma anterior, ao se tratar
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da mesma matéria, tem-se que a norma que prevalesce é a A, visto ter sido
vigorada posteriormente à norma B.

5. Compete ao legislativo a positivação de interpretações? Existe lei puramente


interpretativa? Tem aplicabilidade o art. 106, I, do CTN ao dispor que a lei tributária
interpretativa se aplica ao fato pretérito? Como confrontar este dispositivo do CTN
com o princípio da irretroatividade? (Vide anexos III e IV).

Partindo da ideia da tripartição dos poderes, percebe-se que a


interpretação de fato não é sua competência originária, visto se tratar de ato a ser
realizado pelo poder Judiciário ao aplicar determinada norma no caso concreto.
Contudo, isto não impede que, o legislativo o faça, em determinadas e
específicas situações, com natureza reprodutora de direitos já previstos e
assegurados por norma pretérita, sem que venha ferir a competência do judiciário.
Vale ainda ressaltar de que a sua aplicação deve ser buscando a
segurança jurídica, o que impede a sua aplicação de forma isolada, devendo
sempre ser utilizada como complemento de norma anterior.
Quanto à sua matéria, esta é limitada, visto que, em seu texto em nada
pode inovar dentro do ordenamento, deve somente buscar suprir e esclarecer o que
fora legislado anteriormente, sem que venha a alterar o disposto na lei vigente.
Em suma, pode-se dizer, portanto, que, para que uma norma não venha
ferir o princípio da não retroatividade, ela deve ser puramente interpretativa, como
forma a integrar o corpo da norma a qual traz seu exato alcance.
Partindo desta toada, verifica-se que ao não trazer inovação dentro da
legislação vigente, a aplicação de normas interpretativas poderá sim ser em relação
à fatos pretéritos, somente para fins de esclarecimento.
Já com relação à aplicação de penalidade esta não pode ser feita de forma
retroativa, visto que a norma que o prevê acaba por trazer inovação dentro do
ordenamento jurídico e a sua retroatividade à fatos anteriores feriria de fato a não
retroatividade.
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6. Dada a seguinte lei fictícia, responder às questões que seguem:


Lei ordinária federal n. 10.001, de 10/10/2016 (DO de 01/11/2016)
Art. 1º Esta taxa de licenciamento de veículo tem como fato gerador a propriedade
de veículo automotor com registro de domicílio no território nacional.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é o valor venal do veículo.
Parágrafo único. A alíquota é de 1%.
Art. 3º Contribuinte é o proprietário do veículo.
Art. 4º Dá-se a incidência dessa taxa no primeiro dia do quarto mês de cada
exercício, devendo o contribuinte que se encontrar na situação descrita pelo art. 1º
dessa lei, desde logo, informar até o décimo dia deste mesmo mês, em formulário
próprio (FORMGFA043), o valor venal, o tipo, a marca, o ano e a cilindrada do
respectivo veículo.
Art. 5º A importância devida, a título de taxa, deve ser recolhida até o décimo dia do
mês subsequente, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.
Art. 6º Diante da não emissão do formulário (FORMGFA043) na data aprazada,
poderá, a autoridade fiscal competente lavrar Auto de Infração e Imposição de
Multa, em decorrência da não observância dessa obrigação, impondo multa de 50%
sobre o valor do tributo devido.
(...)
a) Em 01/06/2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em ação direta (com efeito
erga omnes), pela inconstitucionalidade desta lei federal. Identificar nas datas
abaixo fixadas, segundo os critérios indicados, a situação jurídica da regra que
instituiu o tributo, justificando cada uma das situações:
Critérios\ 11/10/2016 01/11/2016 01/02/2017 01/04/2017 01/07/2019
datas

É válida Não Sim Sim Sim Sim


É vigente Não Não Sim Sim Sim
Incide Não Não Não Sim Não
Apresenta
eficácia Não Não Não Sim Não
jurídica

A validade remete à idéia de que determinada norma integra o


ordenamento jurídico, a qual ocorre com a sua inserção dentro do
ordenamento, por meio do ato de publicação.
E só perderá tal qualidade, quando outra norma a vier revogar,
retirando-a assim do ordenamento jurídico Importante ainda ressaltar de o
intervalo de validez, o qual remete ao tempo limite em que determinada norma
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jurídica pertencerá de fato à um sistema normativo, conforme ilustra Tarék


Moysés Moussallem.
Desta maneira, a validade estariam presentes nas datas 01/11/2016,
01/02/2017 01/04/2017 e 01/07/2019). Já a de data de 11/10/2016 pelo fato da
sua publicação ter sido posterior, não econtra-se válida.
No tocante à vigência, segundo o Professor Paulo de Barros Carvalho,
esta está atrelada com a aptidão da norma a produzir ou não efeitos. Somado a
isso, tem-se que o início do intervalo da vigoração de uma norma, tem como
marco referencial, a data de sua publicação no diário oficial.
E, sendo assim, a vigência da referida norma se faz presente de fato
nas datas de 01/02/2017, 01/04/2017 e 01/07/2019. Já a data de 11/10/2016
por não ser válida ela ainda não existe no sistema. A data de 01/11/2016 não é
vigente, pela necessidade de observar a vacatio legis nonagesimal e anual.
Já com relação à eficácia jurídica, esta pode ser entendida como a
qualidade de irradiar os efeitos dos fatos descritos na norma à relação jurídica
firmada no caso concreto. Ela ocorre através de sua vigência, se extinguindo
apenas com a declaração de insconstitucionalidade.
Ante a isso, ela se faz presente somente na data de 01/04/2017, visto a
ocorrência de seu fato gerador, pelo fato de ser a causalidade entre
antecedente e consequente, além de incidir.
Na data de 01/07/2019, não incide, como também não apresenta
eficácia, considerando que a declaração de inconstitucionalidade afeta ambos
os pontos mencionados.
Na data de 01/02/2017, também não incide e não apresenta eficácia,
tendo em vista que seu fato gerador apresenta sua incidência somente no
primeiro dia do quarto mês de cada exercício.
A data de 01/11/2016, pelo fato de não estar vigente, a mesma não
pode incidir, bem como não apresenta eficácia.
E a data de 11/10/2016, pelo fato de ainda não integrar o ordenamento,
não incide e muito menos apresenta eficácia.
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6. Uma lei inconstitucional (produzida materialmente em desacordo com a


Constituição Federal – porém ainda não submetida ao controle de
constitucionalidade) é válida? O vício de inconstitucionalidade pode ser sanado
por emenda constitucional posterior? (Vide anexo V).

Partindo da concepção de que a validade de uma norma está


diretamente atrelada com a sua existência específica, de modo a pertencer a
um determinado ordenamento normativo, esta permanecerá válida, enquanto
não for retirada do sistema positivo por outra norma.
Contudo, considerando que a Constituição Federal é fundamento de
validade para todas as normas hierarquicamente inferiores, se determinada
norma for contrária materialmente a seus preceitos, esta portanto não
pertencerá ao ordenamento jurídico ante a sua inconstitucionalidade.
Outrossim, não há que se falar em sanar vício material por meio de
emenda constitucional, visto que seu próprio conteúdo estaria destoante da
Carta Magna, sendo possível somente a sua revogação.

8. Leia atentamente abaixo a sucessão de fatos no tempo:


FATO 1 – A lei n. 9.528/97, alterando o art. 25 da Lei n. 8.212/91, estabeleceu que:
“Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física e do segurado especial referidos,
respectivamente, na alínea “a” do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada a
Seguridade Social, é de:0
I - 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção; 
II - 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para o
financiamento das prestações por acidente do trabalho.”
FATO 2 – Emenda Constitucional 20/1998 alterou a redação do art. 195, inciso I, da
Constituição Federal.
REDAÇÃO NOVA:
Art. 195 - A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: 
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes
sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
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c) o lucro;
REDAÇÃO ANTERIOR:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: 
I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;
II - dos trabalhadores;
FATO 3 – O STF, em controle difuso, declarou inconstitucional o art. 25, incisos I e
UU, da Lei n. 8.212/91, com as alterações promovidas pela lei n. 9.528/97:
(RE 363852, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2010,
DJe-071 DIVULGAÇÃO 22-04-2010 PUBLICAÇÃO 23-04-2010): “RECURSO
EXTRAORDINÁRIO - PRESSUPOSTO ESPECÍFICO - VIOLÊNCIA À CONSTITUIÇÃO -
ANÁLISE - CONCLUSÃO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - COMERCIALIZAÇÃO DE BOVINOS
- PRODUTORES RURAIS PESSOAS NATURAIS - SUB-ROGAÇÃO - LEI Nº 8.212/91 -
ARTIGO 195, INCISO I, DA CARTA FEDERAL - PERÍODO ANTERIOR À EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 20/98 - UNICIDADE DE INCIDÊNCIA - EXCEÇÕES - COFINS E
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PRECEDENTE - INEXISTÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR.
Ante o texto constitucional, não subsiste a obrigação tributária sub-rogada do adquirente,
presente a venda de bovinos por produtores rurais, pessoas naturais, prevista nos artigos
12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/91, com as redações
decorrentes das Leis nº 8.540/92 e nº 9.528/97. Aplicação de leis no tempo -
considerações.”
FATO 4 – A lei 10.256/2001, alterou o caput do artigo 25 da Lei n. 8.212/91:
“Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição de
que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial, referidos, respectivamente,
na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada à Seguridade Social, é
de:”
FATO 5 - O STF reconheceu a constitucionalidade da contribuição do empregador
rural pessoa física ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL):
(RE 718874, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-219 DIVULG 26-09-2017 PUBLIC 27-09-2017
REPUBLICAÇÃO: DJe-225 DIVULG 02-10-2017 PUBLIC 03-10-2017) Ementa:
TRIBUTÁRIO. EC 20/98. NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 195, I DA CF. POSSIBILIDADE
DE EDIÇÃO DE LEI ORDINÁRIA PARA INSTITUIÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DE
EMPREGADORES RURAIS PESSOAS FÍSICAS INCIDENTE SOBRE A
COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO RURAL. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
10.256/2001. 1.A declaração incidental de inconstitucionalidade no julgamento do RE
596.177 aplica-se, por força do regime de repercussão geral, a todos os casos idênticos
para aquela determinada situação, não retirando do ordenamento jurídico, entretanto, o
texto legal do artigo 25, que, manteve vigência e eficácia para as demais hipóteses. 2. A Lei
10.256, de 9 de julho de 2001 alterou o artigo 25 da Lei 8.212/91, reintroduziu o empregador
rural como sujeito passivo da contribuição, com a alíquota de 2% da receita bruta
proveniente da comercialização da sua produção; espécie da base de cálculo receita,
autorizada pelo novo texto da EC 20/98. 3. Recurso extraordinário provido, com afirmação
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de tese segundo a qual É constitucional formal e materialmente a contribuição social do


empregador rural pessoa física, instituída pela Lei 10.256/01, incidente sobre a receita bruta
obtida com a comercialização de sua produção.
FATO 6 – Resolução do Senado n. 15/2017:
“Art. 1º É suspensa, nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Federal, a execução do
inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a execução do art. 1º da Lei
nº 8.540, de 22 de dezembro de 1992, que deu nova redação ao art. 12, inciso V, ao art. 25,
incisos I e II, e ao art. 30, inciso IV, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, todos com a
redação atualizada até a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997, declarados
inconstitucionais por decisão definitiva proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos
do Recurso Extraordinário nº 363.852.”
Considerando as ocorrências acima, responda fundamentadamente:
a) Em dezembro de 1999, é possível afirmar que o art. 25, incisos I e II, da Lei
8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97) é válido, vigente e possui eficácia
técnica?

Pode se afirmar que se faz presente não só a validade, visto pertencer


ao sistema jurídico vigente, como também apresenta vigência, no sentido de
produzir efeitos jurídicos, além da eficácia técnica, visto ausente qualquer
norma que impeça a sua incidência.

b) A decisão na RE 363.852 é capaz de alcançar a validade, vigência ou a eficácia


do art. 25, incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97)?

Importante ressaltar que, determinada norma só terá a sua eficácia


técnica afetada de fato, somente mediante resolução. E, tendo em vista que no
presente caso, houve somente a declaração de inconstitucionalidade, a norma
continuará plena dentro do ordenamento jurídico.
Já no tocante à sua validade e vigência, permanecerão até que seja
criada norma que determine a sua retirada do ordenamento jurídico.

c) Quais os efeitos da Resolução do Senado n. 15/2017 no que se refere à


Vigência, validade e eficácia do art. 25, incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação
dada pela lei n. 9.528/97)?

A Resolução emitida pelo Senado, afetará tão somente a eficácia


técnica da norma declarada inconstitucional. Por outro lado, a norma
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permanecerá vigente e válida, até que seja introduzida outra norma que a retire
do ordenamento.

d) A decisão no RE 718.874 alcança a validade, vigência ou eficácia do art. 25,


incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97)?

Conforme já salientado acima, a decisão pela qual se tem determinada


norma declarada inconstitucional, apenas afetará a eficácia da norma, de
modo a suspendê-la.

Sugestão para pesquisa suplementar


• Capítulos 8 e 9 do livro “Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo”.
ADEODATO, João Maurício. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2014.
• Capítulo VII do livro “Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lógico-semântico” .
CARVALHO, Aurora Tomazini de. 6. ed. São Paulo: Noeses, 2019.
 Artigo: “O artigo 3º da lei complementar 118/2005, princípio da irretroatividade e lei
interpretativa”, de Paulo de Barros Carvalho.
• Artigo: “Competências comunicativas e o tema da validade no direito”, de Tácio Lacerda Gama,
in Constructivismo lógico-semântico, vol. I, Paulo de Barros Carvalho (Coord.). São Paulo:
Noeses.
• Artigo: “Teoria dos valores e a importância dos princípios na interpretação do direito”, de
Olívia Tonello Mendes Ferreira, in Constructivismo lógico-semântico, vol. I, Paulo de
Barros Carvalho (Coord.). São Paulo: Noeses.
• Itens 1.9 e 1.10, do Capítulo 1 do livro A prova no direito tributário, de Fabiana Del Padre
Tomé. São Paulo: Noeses.
• Item 4.3.2 – “Conceptualização dogmática do ordenamento: validade, vigência, eficácia e
força” do livro Introdução ao estudo do direito, de Tercio Sampaio Ferraz Júnior. São Paulo:
Saraiva.
• Capítulo III do livro A validade jurídica pré e pós-giro linguístico, de Sônia Maria Broglia
Mendes. São Paulo: Noeses.
• Capítulo I do livro Os limites à interpretação da norma tributária, de Tathiane dos Santos
Piscitelli. São Paulo: Quartier Latin.
• Capítulo III, itens 4.3.1 a 4.3.3, do livro Tributação do comércio eletrônico, de Daniela de Andrade
Braghetta. São Paulo: Quartier Latin.
• Itens 3.6 e 3.7 do Cap. III do livro Ficções jurídicas no direito tributário, de Cristiano
Carvalho. São Paulo: Noeses.
• Artigo: “Interpretação restritiva no direito tributário”, de Tárek Moysés Moussallem, in VII
Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET.
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Anexo I
RE 606.107/RS
DJ 25/11/2013
IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS E COFINS. NÃO
INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA EXPORTADORA. CRÉDITOS
DE ICMS TRANSFERIDOS A TERCEIROS.
I – Esta Suprema Corte, nas inúmeras oportunidades em que debatida a questão
da hermenêutica constitucional aplicada ao tema das imunidades, adotou a
interpretação teleológica do instituto, a emprestar-lhe abrangência maior, com escopo
de assegurar à norma supralegal máxima efetividade.
II – A interpretação dos conceitos utilizados pela Carta da República para
outorgar competências impositivas (entre os quais se insere o conceito de “receita”
constante do seu art. 195, I, “b”) não está sujeita, por óbvio, à prévia edição de lei.
Tampouco está condicionada à lei a exegese dos dispositivos que estabelecem
imunidades tributárias, como aqueles que fundamentaram o acórdão de origem (arts.
149, § 2º, I, e 155, § 2º, X, “a”, da CF). Em ambos os casos, trata-se de interpretação
da Lei Maior voltada a desvelar o alcance de regras tipicamente constitucionais, com
absoluta independência da atuação do legislador tributário.
III – A apropriação de créditos de ICMS na aquisição de mercadorias tem suporte
na técnica da não cumulatividade, imposta para tal tributo pelo art. 155, § 2º, I, da Lei
Maior, a fim de evitar que a sua incidência em cascata onere demasiadamente a
atividade econômica e gere distorções concorrenciais.
IV – O art. 155, § 2º, X, “a”, da CF – cuja finalidade é o incentivo às exportações,
desonerando as mercadorias nacionais do seu ônus econômico, de modo a permitir
que as empresas brasileiras exportem produtos, e não tributos -, imuniza as operações
de exportação e assegura “a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto
cobrado nas operações e prestações anteriores”. Não incidem, pois, a COFINS e a
contribuição ao PIS sobre os créditos de ICMS cedidos a terceiros, sob pena de frontal
violação do preceito constitucional.
V – O conceito de receita, acolhido pelo art. 195, I, “b”, da Constituição Federal,
não se confunde com o conceito contábil. Entendimento, aliás, expresso nas Leis
10.637/02 (art. 1º) e Lei 10.833/03 (art. 1º), que determinam a incidência da
contribuição ao PIS/PASEP e da COFINS não cumulativas sobre o total das receitas,
“independentemente de sua denominação ou classificação contábil”. Ainda que a
contabilidade elaborada para fins de informação ao mercado, gestão e planejamento
das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinação
das bases de cálculo de diversos tributos, de modo algum subordina a tributação. A
contabilidade constitui ferramenta utilizada também para fins tributários, mas moldada
nesta seara pelos princípios e regras próprios do Direito Tributário. Sob o específico
prisma constitucional, receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que
se integra no patrimônio na condição de elemento novo e positivo, sem reservas ou
condições.
VI – O aproveitamento dos créditos de ICMS por ocasião da saída imune para o
exterior não gera receita tributável. Cuida-se de mera recuperação do ônus econômico
advindo do ICMS, assegurada expressamente pelo art. 155, § 2º, X, “a”, da
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Constituição Federal.
VII – Adquirida a mercadoria, a empresa exportadora pode creditar-se do ICMS
anteriormente pago, mas somente poderá transferir a terceiros o saldo credor
acumulado após a saída da mercadoria com destino ao exterior (art. 25, § 1º, da LC
87/1996). Porquanto só se viabiliza a cessão do crédito em função da exportação,
além de vocacionada a desonerar as empresas exportadoras do ônus econômico do
ICMS, as verbas respectivas qualificam-se como decorrentes da exportação para
efeito da imunidade do art. 149, § 2º, I, da Constituição Federal.
VIII – Assenta esta Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da incidência
da contribuição ao PIS e da COFINS não cumulativas sobre os valores auferidos por
empresa exportadora em razão da transferência a terceiros de créditos de ICMS.
IX – Ausência de afronta aos arts. 155, § 2º, X, 149, § 2º, I, 150, § 6º, e 195, caput
e inciso I, “b”, da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e não
provido, aplicando-se aos recursos sobrestados, que versem sobre o tema decidido, o
art. 543-B, § 3º, do CPC.

Anexo II
REsp 1.325.709/RJ
DJ 20/05/2014
MANDADO DE SEGURANÇA DENEGADO NA ORIGEM. APELAÇÃO. EFEITO
APENAS DEVOLUTIVO. PRECEDENTE. NULIDADE DOS ACÓRDÃOS
RECORRIDOS POR IRREGULARIDADE NA CONVOCAÇÃO DE JUIZ FEDERAL.
NÃO PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. IRPJ E CSLL. LUCROS
OBTIDOS POR EMPRESAS CONTROLADAS NACIONAIS SEDIADAS EM PAÍSES
COM TRIBUTAÇÃO REGULADA. PREVALÊNCIA DOS TRATADOS SOBRE
BITRIBUTAÇÃO ASSINADOS PELO BRASIL COM A BÉLGICA (DECRETO
72.542/73), A DINAMARCA (DECRETO 75.106/74) E O PRINCIPADO DE
LUXEMBURGO (DECRETO 85.051/80). EMPRESA CONTROLADA SEDIADA NAS
BERMUDAS. ART. 74, CAPUT DA MP 2.157-35/2001. DISPONIBILIZAÇÃO DOS
LUCROS PARA A EMPRESA CONTROLADORA NA DATA DO BALANÇO NO QUAL
TIVEREM SIDO APURADOS, EXCLUÍDO O RESULTADO DA CONTRAPARTIDA DO
AJUSTE DO VALOR DO INVESTIMENTO PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA
PATRIMONIAL.
1. Afasta-se a alegação de nulidade dos acórdãos regionais ora recorridos, por
suposta irregularidade na convocação de Juiz Federal que funcionou naqueles
julgamentos, ou na composição da Turma Julgadora; inocorrência de ofensa ao Juiz
Natural, além de ausência de prequestionamento. Súmulas 282 e 356/STF.
Precedentes desta Corte.
2. Salvo em casos excepcionais de flagrante ilegalidade ou abusividade, ou de
dano irreparável ou de difícil reparação, o Recurso de Apelação contra sentença
denegatória de Mandado de Segurança possui apenas o efeito devolutivo. Precedente:
AgRg no AREsp. 113.207/SP, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 03/08/2012.
3. A interpretação das normas de Direito Tributário não se orienta e nem se
condiciona pela expressão econômica dos fatos, por mais avultada que seja, do valor
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atribuído à demanda, ou por outro elemento extrajurídico; a especificidade exegética


do Direito Tributário não deriva apenas das peculiaridades evidentes da matéria
jurídica por ele regulada, mas sobretudo da singularidade dos seus princípios, sem
cuja perfeita absorção e efetivação, o afazer judicial se confundiria com as atividades
administrativas fiscais.
4. O poder estatal de arrecadar tributos tem por fonte exclusiva o sistema
tributário, que abarca não apenas a norma regulatória editada pelo órgão competente,
mas também todos os demais elementos normativos do ordenamento, inclusive os
ideológicos, os sociais, os históricos e os operacionais; ainda que uma norma seja
editada, a sua efetividade dependerá de harmonizar-se com as demais concepções do
sistema: a compatibilidade com a hierarquia internormativa, os princípios jurídicos
gerais e constitucionais, as ilustrações doutrinárias e as lições da jurisprudência dos
Tribunais, dentre outras.
5. A jurisprudência desta Corte Superior orienta que as disposições dos Tratados
Internacionais Tributários prevalecem sobre as normas de Direito Interno, em razão da
sua especificidade. Inteligência do art. 98 do CTN. Precedente: (RESP 1.161.467-RS,
Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 01.06.2012).
6. O art. VII do Modelo de Acordo Tributário sobre a Renda e o Capital da OCDE
utilizado pela maioria dos Países ocidentais, inclusive pelo Brasil, conforme Tratados
Internacionais Tributários celebrados com a Bélgica (Decreto 72.542/73), a Dinamarca
(Decreto 75.106/74) e o Principado de Luxemburgo (Decreto 85.051/80), disciplina que
os lucros de uma empresa de um Estado contratante só são tributáveis nesse mesmo
Estado, a não ser que a empresa exerça sua atividade no outro Estado Contratante,
por meio de um estabelecimento permanente ali situado (dependência, sucursal ou
filial); ademais, impõe a Convenção de Viena que uma parte não pode invocar as
disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado (art.
27), em reverência ao princípio basilar da boa-fé.
7. No caso de empresa controlada, dotada de personalidade jurídica própria e
distinta da controladora, nos termos dos Tratados Internacionais, os lucros por ela
auferidos são lucros próprios e assim tributados somente no País do seu domicílio; a
sistemática adotada pela legislação fiscal nacional de adicioná-los ao lucro da
empresa controladora brasileira termina por ferir os Pactos Internacionais Tributários e
infringir o princípio da boa-fé nas relações exteriores, a que o Direito Internacional não
confere abono.
8. Tendo em vista que o STF considerou constitucional o caput do art. 74 da MP
2.158-35/2001, adere-se a esse entendimento, para considerar que os lucros auferidos
pela controlada sediada nas Bermudas, País com o qual o Brasil não possui acordo
internacional nos moldes da OCDE, devem ser considerados disponibilizados para a
controladora na data do balanço no qual tiverem sido apurados.
9. O art. 7º, § 1º da IN/SRF 213/02 extrapolou os limites impostos pela própria Lei
Federal (art. 25 da Lei 9.249/95 e 74 da MP 2.158-35/01) a qual objetivou regular; com
efeito, analisando-se a legislação complementar ao art. 74 da MP 2.158-35/01,
constata-se que o regime fiscal vigorante é o do art. 23 do DL 1.598/77, que em nada
foi alterado quanto à não inclusão, na determinação do lucro real, dos métodos
resultantes de avaliação dos investimentos no Exterior, pelo método da equivalência
patrimonial, isto é, das contrapartidas de ajuste do valor do investimento em
Módulo Tributo e Segurança Jurídica

sociedades estrangeiras controladas.


10. Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento, concedendo
em parte a ordem de segurança postulada, para afirmar que os lucros auferidos nos
Países em que instaladas as empresas controladas sediadas na Bélgica, Dinamarca e
Luxemburgo, sejam tributados apenas nos seus territórios, em respeito ao art. 98 do
CTN e aos Tratados Internacionais em causa; os lucros apurados por Brasamerican
Limited, domiciliada nas Bermudas, estão sujeitos ao art. 74, caput da MP 2.158-
35/2001, deles não fazendo parte o resultado da contrapartida do ajuste do valor do
investimento pelo método da equivalência patrimonial.

Anexo III
ADI-MC n. 6053/DF
DJe 27/06/2019

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – MEDIDA PROVISÓRIA DE


CARÁTER INTEPRETATIVO – LEIS DE CONVERSÃO POR MEDIDA PROVISÓRIA –
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE – CARÁTER RELATIVO – LEIS
INTERPRETATIVAS E APLICAÇÃO RETROATIVA – REITERAÇÃO DE MEDIDA
PROVISÓRIA SOBRE MATÉRIA APRECIADA E REJEITADA PELO CONGRESSO
NACIONAL – PLAUSIBILIDADE JURÍDICA – AUSÊNCIA DO “PERICULUM IN MORA”
– INDEFERIMENTO DA CAUTELAR.
– É plausível, em face do ordenamento constitucional brasileiro, o reconhecimento
da admissibilidade das leis interpretativas, que configuram instrumento juridicamente
idôneo de veiculação da denominada interpretação autêntica.
– As leis interpretativas – desde que reconhecida a sua existência em nosso
sistema de direito positivo – não traduzem usurpação das atribuições institucionais do
Judiciário e, em consequência, não ofendem o postulado fundamental da divisão
funcional do poder.
– Mesmo as leis interpretativas expõem-se ao exame e à interpretação dos juízes
e tribunais. Não se revelam, assim, espécies normativas imunes ao controle
jurisdicional.
– A questão da interpretação de leis de conversão por medida provisória editada
pelo Presidente da República.
– O princípio da irretroatividade somente condiciona a atividade jurídica do Estado
nas hipóteses expressamente previstas pela Constituição, em ordem a inibir a ação do
Poder Público eventualmente configuradora de restrição gravosa (a) ao “status
libertatis” da pessoa (CF, art. 5º, XL), (b) ao “status subjectionis” do contribuinte em
matéria tributária (CF, art. 150, III, “a”) e (c) à segurança jurídica no domínio das
relações sociais (CF, art. 5º, XXXVI).
– Na medida em que a retroprojeção normativa da lei não gere e nem produza os
gravames referidos, nada impede que o Estado edite e prescreva atos normativos com
efeito retroativo.
– As leis, em face do caráter prospectivo de que se revestem, devem,
ordinariamente, dispor para o futuro. O sistema jurídico-constitucional brasileiro,
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contudo, não assentou, como postulado absoluto, incondicional e inderrogável, o


princípio da irretroatividade.
* Sobre a matéria – vide RE n. 566.621/RJ, que representa posição firmada pelo
STF sobre o assunto.

Anexo IV
RE 753.705 AgRg/SC
DJ 05/01/2013

PRAZO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO.


IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DAS NORMAS INSCRITAS NOS
ARTS. 3º E 4º DA LC N. 118/2005, NOTADAMENTE DAQUELA QUE SE REVESTIRIA
DO CARÁTER DE INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA (LC N. 118/2005, ART. 3º).
Descaracterização da natureza interpretativa de referido preceito legal, que introduziu, no
tema, evidente inovação material de índole normativa. Perfil das leis interpretativas no
sistema de direito positivo brasileiro. Inteira submissão de seus aspectos formais e de seu
conteúdo material ao permanente controle de constitucionalidade do poder judiciário (ADI
605-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello). Incolumidade de situações jurídicas definitivamente
consolidadas, tais como previstas no inciso XXXVI do art. 5º da lei fundamental, como
expressão concretizadora do princípio constitucional da segurança jurídica. Precedente
emanado do plenário do supremo tribunal federal, firmado em julgamento de recurso
extraordinário (RE 566.621/RS), em cujo âmbito também se reconheceu a existência de
repercussão geral. Compensação do PIS/COFINS (lei n. 9.718/98) com outros tributos.
Alegada violação a preceitos constitucionais. Ofensa indireta à constituição. Contencioso
de mera legalidade. Agravo improvido. RE 753.705 AgR/SC, DJ 05/01/2013.

Anexo V
RE n. 346.084/PR
DJ 01/09/2006

CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE – ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI N.


9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 – EMENDA CONSTITUCIONAL N. 20, DE 15
DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da
constitucionalidade superveniente.
TRIBUTÁRIO – INSTITUTOS – EXPRESSÕES E VOCÁBULOS – SENTIDO. A
norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a
impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou
implicitamente.
Sobrepõe-se ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os
elementos tributários.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – PIS – RECEITA BRUTA – NOÇÃO –
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI N. 9.718/98.
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A jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal


anterior à Emenda Constitucional n. 20/98, consolidou-se no sentido de tomar as
expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindo-as a venda de
mercadorias, de serviços ou de mercadorias e serviços.
É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei n. 9.718/98, no que ampliou o
conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por pessoas
jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da classificação
contábil adotada.

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