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MÓDULO EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Seminário V
IPI e IOF
Miguel Tadeu Bertanha de Abreu

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO


TRIBUTÁRIO

Seminário V

TRIBUTAÇÃO INTERNACIONAL

Aluno: Miguel Tadeu Bertanha de Abreu


Telefone: (11) 94884-5853
E-mail: migueltbertanha@gmail.com
Site: https://migueltbertanha.jusbrasil.com.br/
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Miguel Tadeu Bertanha de Abreu

Questões

1. Construa a RMIT dos Impostos de Importação e de Exportação. Qual o


conceito de produto para fins de incidência destes tributos?

Resposta:

Inicialmente, destaco as palavras da Il. Prof. Aurora Tomazini sobre a premissa para
estabelecer a regra-matriz:

“Todas as regras do sistema têm idêntica esquematização formal: uma proposição-


hipótese “H”, descritora de um fato (f) que, se verificado no campo da realidade social,
implicará como proposição-consequente “C”, uma relação jurídica entre dos sujeitos (S’ R
S’’), modalizada com um dos operadores deônticos (O, P, V). Nenhuma norma foge a esta
estrutura, seja civil, comercial, penal, tributária, administrativa, constitucional, processual,
porque sem ela a mensagem prescritiva é incompreensível.”

No que diz respeito à Regra Matriz de Incidência Tributária (RMIT), temos também o
conceito trazido por Ferragut:

“Regra-matriz de incidência tributária é norma jurídica, definida por nós como sendo a
significação organizada numa estrutura lógica hipotéti-co-condicional (juízo implicacional),
construída pelo intérprete a partir do direito positivo, seu suporte físico. Tem por função
regular condutas intersubjetivas.

Difere das demais normas existentes no direito positivo apenas em virtude de seu
conteúdo, que descreve um fato típico tributário e prescreve a relação obrigacional que
se estabelece entre os sujeitos ativo e passivo, tendo por objeto o pagamento de uma
prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nessa se possa ex-primir, não
decorrente de ato ilícito (tributo)”

Desta forma, a regra matriz leva em consideração alguns critérios no seu antecedente
para sua caracterização, sendo eles o (i) o critério material (ii) o critério espacial – local
onde se reputa ocorrido o fato social que enseja a relação jurídica obrigacional, (iii)
critério temporal (momento da ocorrência do evento, cuja certificação se dá por meio de
linguagem jurídica competente – vertido em fato jurídico – consoante descrito na hipótese
normativa).

No seu consequente, verificam-se, (iv) o critério pessoal (sujeitos ativo e passivo da


relação obrigacional, e o (v) o critério prestacional – conduta a ser cumprida.
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Quanto ao Imposto de importação, verificamos que a sua regra matriz esta materializada
no Art. 153, inciso I da CF, que assim dispõe:

“Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

I - importação de produtos estrangeiros; ”

Desta forma, passemos a destrinchar a sua RMIT, que em seu antecedente temos:

(i) Critério material = pelo critério material, destaco que o núcleo deste critério sempre
será composto de um verbo que representa a ação a ser realizada pelo contribuinte,
seguido de seu complemento, indicativo da peculiaridade da ação a ser realizada que
individualiza a obrigação tributária decorrente.

Conforme acima descrito, o imposto incide sobre a importação de produdos estrangeiros,


sendo que, devemos definir o que seria produto estrangeiro para fins de incidência do II.

Por produto estrangeiro para fins de incidência do II, cuja sua definição não é trazida na
constituição, entende-se tratar de um de um produto ou um bem, por mais que a
constituição tenha trazido somente a expressão produto. Condudo, não podemos fazer
uma interpretação restritiva neste caso, devendo ser interpretado como a incidencia do II
sobre os produtos e os bens/mercadorias, sendo que, mercadoria é destinada ao
comércio, ao passo que produtos são bens corpóreos passíveis de valoração econômica.

Nos termos do Código Tributário Nacional, em seu Art. 19 a seguinte definição:

“CAPÍTULO II

Impostos sobre o Comércio Exterior

SEÇÃO I

Impostos sobre a Importação

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos


estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional”

Assim, o critério material da RMIT do II é composto do verbo importar seguido do


complemento produtos estrangeiros.

(ii) Critério Espacial = pelo critério espacial, Paulo de Barros diz tratar-se do local em
que a norma expressamente determina onde o fato deve ocorrer, tratando-se de áreas,
regiões e intervalos territoriais.
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Neste viés, podemos definir que o Critério Espacial faz menção ao local para ocorrência
do fato típico, áreas específicas de ocorrência, hipóteses de critério genérico em um
determinado espaço geográfico, transformando o evento ocorrido naquele determinado
local em fato.

Sobre o II, seu critério espacial seria a entrada do produto no território nacional, nos
termos do Decreto Lei nº 37/66, podendo ainda, ser considerada a entrada do produto no
território nacional a entrada na repartição aduaneira que recebe o bem do exterior.

(iii) Critério Temporal = referido critério se aproxima do espacial, tendo em vista


tratar-se da informação contida na hipótese normativa que nos permite identificar, com
exatidão, o momento de ocorrência do evento a ser promovido à categoria de fato
jurídico. Contudo, são critérios distintos, visto que a indicação do fator “ação” utilizado
para demarcar sua realização jurídica no tempo, com a sinalização da ação em si, que
apresenta mais complexa e sucessiva no tempo.

Neste caso do II, o critério temporal deste tributo aponta para o momento em que o
direito considera realizado o fato jurídico tributário e não para a ação núcleo do
acontecimento. Assim, critério temporal se dá no momento do registro da Declaração de
Importação no Siscomex, conforme entendimento dos tribunais superiores e do art. 73,
inciso I, do Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009.

Por sua vez, no consequente da RMIT temos:

(iv) Critério Pessoal = São os sujeitos da relação jurídico tributária, tratando-se do


sujeito ativo, credor ou pretensor da satisfação do seu crédito, e o sujeito passivo, que é
conferido o dever de realizar a ação tendente a satisfazer o crédito do sujeito ativo.

Neste critério, destacamos que temos os seguintes sujeitos em relação ao II:

Sujeito Ativo = União Federal


Sujeito Passivo = o contribuinte que realiza o fato gerador e possui relação direta com
o fato jurídico tributário ensejador da relação jurídica tributária.

Nos termos do Art. 104 do Regulamento Aduaneiro, temos que o sujeito passivo é: o
importador, assim considerada qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria
estrangeira no território aduaneiro; o destinatário de remessa postal internacional
indicado pelo respectivo remetente; e o adquirente de mercadoria entrepostada.

(v) Critério Prestacional = Referido Critério também é chamado de critério


quantitativo e possui por finalidade identificar o objeto prestacional, no qual determina o
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quantum será pago pelo sujeito passivo e que poderá ser exigido pelo sujeito ativo,
abrangendo a Base de Cálculo e a Alíquota aplicável.

Por base de cálculo, trata-se de um critério abstrato que mede os fatos tributários e
determina o que servirá de alicerce para a quantificação do tributo.

No caso do II, temos que a sua base de cálculo está definida no Art. 20 do CTN, que
assim dispõe:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é:

I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária;

II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência,
para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País;

III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço da


arrematação.

Art. 21. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar
as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da
política cambial e do comércio exterior.

Por sua vez, no que diz respeito à alíquota do II, por este imposto possuir função
reguladora de mercado, poderá onera os produtos de acordo com sua utilidade, assim,
tende aplicar alíquotas menores, ou até mesma nula, àqueles produtos considerados
essenciais e, por outro lado, aplicar alíquotas maiores aos considerados supérfluos ou
perigosos como os Cigarros. Ainda, deve-se ressaltar que, com fundamento político na
extrafiscalidade, as alíquotas desse tributo podem ser alteradas pelo Poder Executivo sem
necessidade de observância ao princípio da anterioridade.

Por sua vez, no que diz respeito ao Imposto de Exportação, passamos a demonstrar
também sua regra matriz de forma mais célere, tendo em vista já ter sido estabelecida as
premissas acima:

(i) Critério Material = Exportar produtos para o exterior, de produtos nacionais ou


nacionalizados.

Verifica-se que referido critério está exposto na CF, em seu artigo 153, inciso II que assim
dispõe:
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“Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;”

(ii) Critério Espacial = saída de produto nacional, ou nacionalizado, para outro país.

(iii) Critério Temporal = Momento da momento da expedição da Guia de Exportação


ou documento equivalente.

(iv) Critério pessoal:

Sujeito Ativo = União Federal


Sujeito Passivo = o contribuinte que realiza o fato gerador e possui relação direta com
o fato jurídico tributário ensejador da relação jurídica tributária. Neste caso, como sendo
quem realiza a exportação.

(v) Critério Quantitativo= composto de base de cálculo e alíquota.

Nos termo do art. 24 do CTN, a base de cálculo do imposto será:

I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária;

II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência,
considerando a entrega como efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos
os tributos diretamente incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas
efetuadas a prazo superior aos correntes no mercado internacional o custo do
financiamento.

Assim como no II, o IE pode por intermédio do Poder Executivo, nas condições e nos
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim
de ajustá-los aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

Por sua vez, o conceito de produto para fins de incidência destes impostos, pode ser
definido no seu conceito amplo como acima explicado, visto emglobar os produtos e as
mercadorias, relacionadas aos bens corpóreo e destinado ao comercio, que pode aferir
valor, de uso pessoal direto ou indireto, bem material e virtual (corpóreo ou incorpóreo)
para consumo de valor agregado, para o uso pessoal ou de aplicação, para venda ou de
uso particular.

2 - A empresa “X” firmou contrato de fornecimento, formalizando a aquisição


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de bem do exterior, datado de 10/05/2017. Os produtos transpuseram a


fronteira brasileira, por via marítima em 15/06/2017, chegaram ao porto de
Santos em 18/06/2017, em 25/06/2017 a empresa registrou a operação junto
ao SISCOMEX e os produtos foram desembaraçados em 02/07/2017. No
momento da realização do contrato a alíquota do referido imposto era de 10%.
No entanto, em 01/06/2017 o Governo Federal publicou decreto que
aumentou a alíquota aplicável à importação do referido bem para 20%, em
16/06/2017 houve outro aumento de alíquota para 30%, em 22/06/2017 para
35% e em 01/07/2017 para 38%. Pergunta-se: qual é a alíquota aplicável à
operação de importação em análise? Fundamente. (Vide anexo I e II)

Resposta: No caso, pelo fato do Imposto de Importação não possuir a


caracteristica/necessidade de respeitar o critério da anterioridade, deverá considerar a
alíquota aplicável no momento da ocorrencia do fato gerador, que ocorre no momento do
registro do SISCOMEX, conforme premissas estabelecidas na questão anterior.

Nestes termos, a alíquota aplicável é aquela vigente em 25/06/2017, qual seja, de 38%.

3 - A reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo se equipara


à importação, ou seja, a mercadoria exportada perde a condição de nacional,
devendo se submeter ao Imposto de Importação ao ser reimportada? (Vide
anexo III)

Resposta: A nova importação da mercadoria que outrora foi objeto de operação de


exportação, será submetida a nova declaração e registro no SISCOMEX, tendo em vista a
nova operação de importação da mesma, conforme entendimento abaixo ementado:

“PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. IMPORTAÇÃO.


REIMPORTAÇÃO. ATIVIDADES DISTINTAS. TIPICIDADE. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. RESP n. 662.882/RJ DJ 13/02/2006”

4 - Sobre os tratados, responda:

a) Defina o conceito de “tratado internacional”, descrevendo como se dá seu


ingresso no ordenamento jurídico, seu momento de vigência no direito interno
e sua posição hierárquica no sistema jurídico (vide §2º do art. 5º da
Constituição e o art. 98 do Código Tributário Nacional e o entendimento
exposto pelo STF anexo IV).
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Resposta: Por tratado internacional, podemos entender como o acordo de vontades


entre Estados, sujeitos de Direito Internacional, regulamentado por algum Órgão do
Direito Internacional, cuja produção de efeitos será determinada por cada parte desta
relação, nos termos dos seus respectivos ordenamentos internos.

No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão


hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em
consequência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais, que, incorporados
ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da
Carta Política.

Quanto ao momento da vigência destes tratados no Brasil, a CF/88 determina que o


Presidente da República, por meio de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos
que lhe são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial
de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional, pode, após todas estas etapas,
vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.

Nos termos do artigo 49, inciso I da CF/88, temos que esta regulamentação interna
depende do Congresso nacional, conforme abaixo transcrito:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem


encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

b) Pode a União, visando a regular a política tarifária, versar sobre a isenção de


tributo de competência estadual?

Resposta: Sob pena de invasão da competência tributária, ferindo o disposto no Art. 110
do CTN, entendo que a União não poderá invadir a competência estadual:

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente,
pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do
Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

Outrossim, a política tarifária está prevista na CF no art. 175, parágrafo único, inciso III e
caso a União invada a competência Estadual, o Estado poderá, por analogia, invadir a
compentência Municipal.

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
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concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.


Parágrafo único. A lei disporá sobre:
III - política tarifária;

c) Os tratados podem revogar ou suspender a eficácia das normas tributárias


inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios?
Haveria violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos
Municípios consagrados na CF/88? (Vide anexos V e VI)

Resposta: Os tratados, desde que internalizados no sistema jurídico brasileiro, possuem


mesmo grau de validade, vigência e eficácia das leis ordinárias, sendo que, em eventual
conflito de competências, será aplicada o critério cronológico (“lex posterior derogat priori”)
ou, quando cabível, do critério da especialidade.

d) No que consiste o “uso impróprio” dos tratados? É necessária previsão


expressa de cláusulas antielisivas específicas? Um planejamento tributário
internacional que está formal e substancialmente em conformidade com as
legislações tributárias dos Estados envolvidos, mas que implique uma situação
de (dupla) não tributação, pode ser juridicamente proibido? Fundamente,
estabelecendo uma análise crítica entre os conceitos de “responsabilidade
social corporativa”, “parcela justa de tributos” e “livre concorrência entre
empresas multinacionais e nacionais” (vide artigo 31 da Convenção de Viena
sobre Direito dos Tratados e anexo VII)

Resposta: Consiste no uso com a finalidade de obter alguma vantagem, seja econômica
seja pessoal, em desrespeito à boa-fé, dando finalidade diversa aos tratados às quais não
faz jus em razão da sua elaboração/convenção.

Nesta situação, não há necessidade de expressa cláusula antielisiva específica, mas sim,
clausula antielisiva genérica e abrangente, visto que não é possível prever e regulamentar
todas as possíveis interpretações daquele de má-fé.

Nos termos do artigo 31 da Convenção de Viena, temos que:

Artigo 31 Regra Geral de Interpretação


1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo o sentido comum atribuível aos
termos do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade.

2. Para os fins de interpretação de um tratado, o contexto compreenderá, além do texto,


seu preâmbulo e anexos:
a)qualquer acordo relativo ao tratado e feito entre todas as partes em conexão com a
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conclusão do tratado;
b)qualquer instrumento estabelecido por uma ou várias partes em conexão com a
conclusão do tratado e aceito pelas outras partes como instrumento relativo ao tratado.
3. Serão levados em consideração, juntamente com o contexto: a)qualquer acordo
posterior entre as partes relativo à interpretação do tratado ou à aplicação de suas
disposições; b)qualquer prática seguida posteriormente na aplicação do tratado, pela qual
se estabeleça o acordo das partes relativo à sua interpretação; c)quaisquer regras
pertinentes de Direito Internacional aplicáveis às relações entre as partes.
4. Um termo será entendido em sentido especial se estiver estabelecido que essa era a
intenção das partes.

Desta forma, se o planejamento tributário internacional está formal e substancialmente


em conformidade com as legislações tributárias dos Estados envolvidos, não há motivo
pelo qual impedir a realização das operações às quais se propôs, no caso, o não
pagamento de tributo, visto estar em plena sintonia com a legislação vigente.

5. A Lei Complementar nº 104/2001 acrescentou um parágrafo segundo ao


artigo 43 do CTN, dispondo “que na hipótese de receita ou de rendimento
oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se
dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto...”. Indaga-se: o
regime de tributação em bases universais abrangendo as controladas e
coligadas no exterior nos moldes em que prescrito pela Lei 12.973/2014 está
de acordo com o ordenamento jurídico? Considerar em sua resposta a
manifestação do STF a respeito do tema. (Vide anexos VIII e IX)

Resposta: Nos termos do entendimento do STF sobre o tema, destaca-se que os lucros
auferidos por controlada ou coligada no exterior serão considerados disponibilizados para
a controladora ou coligada no Brasil na data do balanço no qual tiverem sido apurados,
na forma do regulamento, bem como que os lucros apurados por controlada ou coligada
no exterior até 31 de dezembro do ano anterior, serão considerados disponibilizados em
31 de dezembro do ano posterior, salvo se ocorrida, antes desta data, qualquer das
hipóteses de disponibilização previstas na legislação em vigor.

Referida interpretação, a princípio, não está nos moldes do ordenamento jurídico, mas,
para se evitar evasão de divisas a países de tributação favorecida, ou desprovidos de
controles societários e fiscais adequados, deve-se realizar uma interpretação sistemica, a
qual se faz coerente nos termos do julgado do STF, parcialmente abaixo ementado:

ADI n. 2588/DF DJ 10/02/2014 TRIBUTÁRIO. INTERNACIONAL. IMPOSTO DE RENDA E


PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA. PARTICIPAÇÃO DE EMPRESA CONTROLADORA
OU COLIGADA NACIONAL NOS LUCROS AUFERI DOS POR PESSOA JURÍDICA
CONTROLADA OU COLIGADA SEDIADA NO EXTERIOR. LEGISLAÇÃO QUE CONSIDERA
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DISPONIBILIZADOS OS LUCROS NA DATA DO BALANÇO EM QUE TIVEREM SIDO


APURADOS (“31 DE DEZEMBRO DE CADA ANO”). ALEGADA VIOLAÇÃO DO CONCEITO
CONSTITUCIONAL DE RENDA (ART. 143, III DA CONSTITUIÇÃO). APLICAÇÃO DA NOVA
METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO TRIBUTO PARA A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS
APURADA EM 2001. VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA IRRETROATIVIDADE E DA
ANTERIORIDADE. MP 2.158-35/2001, ART. 74. LEI 5.720/1966, ART. 43, § 2º (LC
104/2000)

6. Que significa a expressão “preços de transferência” e qual sua função? O


que é o princípio “arm’s lenght” aplicado pelo fisco no Brasil? Foi positivado no
Brasil pela Lei n. 9.430/96 e alterações posteriores? Comente sobre a
possibilidade de aplicação coercitiva deste conceito. (Vide anexo X).

Resposta: O termo “preço de transferência” tem sido utilizado para identificar os


controles a que estão sujeitas as operações comerciais ou financeiras realizadas entre
partes relacionadas, sediadas em diferentes jurisdições tributárias, ou quando uma das
partes está sediada em paraíso fiscal. resumidamente, a função do" preço de
transferência nas palavras de Heleno Tôrres "pode servir como forma de alocação
estratégica de receitas ou despesas, nas operações de venda de bens, prestação de
serviços, transferência e uso de tecnologia e patentes, mútuos e outros, efetuadas entre
pessoas interdependentes ou de qualquer modo relacionadas, situadas em diferentes
jurisdições tributárias, e em condições divergentes das que seriam pactuadas com
empresas independentes, visando, no mais das vezes, reduzir a tributação geral da
empresa ".

Quanto a arm’s length, consiste em tratar as empresas vinculadas como se não fossem
vinculadas. Desta forma, busca-se alcançar o valor da operação praticada entre pessoas
relacionadas se estivessem negociando em condições de livre comércio, pelo preço fixado
pelo mercado.

Verifica-se que este termo/princípio, não foi positivado no ordenamento jurídico brasileiro,
mas é aplicado implicitamente . Ora, se a função dos arm's length é verificar e aplicação o
preço justo ou imparcial para fins de tributação, o ordenamento jurídico brasileiro através
dos princípios constitucionais da capacidade contributiva, da igualdade e da livre
concorrência visa o mesmo cenário!

Portanto, toda vez que se verificar uma transação entre partes relacionadas que não
respeite o arm's length, ou seja, o preço praticado de livre concorrência, deve-se aplicar
os métodos previstos pela legislação de forma a promover a efetivação do princípio.
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7. Sobre troca de informações fiscais, baseada em tratados internacionais,


pergunta-se: a) Que meios estão legalmente disponíveis para a obtenção de
informações fiscais? Quais proteções aos contribuintes estabelecidas pelo art.
26 da convenção-modelo da OCDE13? É possível haver a transferência de
informações recebidas por um determinado país para um terceiro país, com
quem o Estado receptor da informação tenha celebrado acordo de troca
automática de informações para fins fiscais? b) Caso o Brasil receba um pedido
de troca de informações de um Estado com quem tenha celebrado tratado para
evitar a dupla tributação, cuja redação do art. 26 seja idêntica àquela da
convenção-modelo da OCDE, ele pode se recusar a fornecer a informação, em
virtude de aquela informação ser sigilosa? (vide art. 5º, inc. X e XII da CF/88, e
anexo XI)

Resposta: Dentre os meios legalmente previstos para obtenção de informações fiscais,


estão os aprovados pela Receita Federal, de que a violação ao sigilo fiscal de determinada
pessoa jurídica ou física, deve ser precedida de autorização judicial. Quanto a cooperação
recíproca entre os Estados, se um determinado Estado possui informações e lhe é
solicitada a cooperação internacional, respaldada em um tratado internacional o qual o
seja signatário, deverá fornecer as informações solicitadas.

A resposta acima, está baseada nos artigos da CF os quais foram indicados a leitura,
quais sejam: art. 5º, inc. X e XII da CF/88.

Bibliografia utilizada:
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 29. ed. São Paulo:
Malheiros, 2013.

BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União,


Brasília, 05 out. 1988. Disponível em: Acesso em: Acesso em: 02 outubro 2019.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário.

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