Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CIVILIZAÇÃO GRECO-ROMANA
1. As questões colocadas na Grécia Antiga fizeram com que o ser humano
fosse o CENTRO DE TUDO:
à SÓCRATES: A essência do ser humano está na razão.
2. A questão da obediência: “Perante uma lei injusta o que devemos fazer?”
à 1º Resposta (Sócrates): Alegado de corromper a juventude, é
preso e condenado perante a possibilidade de escapatória, porem não
foge pois tem de obedecer a lei.
à 2º Resposta (Antígona): O rei ordena que Antígona não de
sepultura ao irmão morto, mas esta não obedece o rei e a lei.
REVELAÇÕES
1- Há limites na autoridade – o poder tem poder que se impõe sobre si;
2- O direito não se resume as leis escritas, está acima de todas as vontades;
3- Há liberdade de escolha perante a lei injusta;
4- No pensamento de Antígona estão 2 direitos:
4.1 DIREITO À OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA
4.2 DIREITO DA RESISTÊNCIA
3. A Democracia nasceu na Grécia
- Heródoto: pai da história (“O que se deve entender por Democracia?”)
. Igualdade de Direito
. A Força da Maioria (Vontade da Maioria)
. A Responsabilidade dos Governantes
- Tucídides: Há 3 condições para a Democracia:
. Que o Governo seja da Maioria;
. Que haja Igualdade Participativa na Política;
. Que haja Liberdade de Opinião (ausência de censura, mas com
responsabilidade civil/criminal).
Isto é, a democracia está ligada às ideias de legalidade e tolerância
5. Liberdade Interior:
- Escola Estoica: A liberdade interior é comum a todos os seres humanos.
Foi nesta escola que o pensamento de que os escravos também eram
seres humanos e homens com a liberdade de pensamento teve maior
visibilidade. Para eles havia liberdade e igualdade naturais.
- Séneca e Cícero: Propõem um governo misto que não se suprime, mas
garante a propriedade e a justiça (O Estado é a melhor garantia).
A REVOLUÇÃO JUDAICO-CRISTÃ
à ANTIGO TESTAMENTO – VERTENTE JUDAICA apresenta três grandes
contributos para o surgimento do fenómeno constitucional:
1- O ser Humano é criado à imagem e semelhança de Deus:
É o por isso que temos dignidade enquanto pessoas humanas, pois há uma
validação divina. Esta conceção do judaísmo apresenta-nos o fundamento
teológico da dignidade humana.
[Kant vai procurar libertar, através da Ética deontológica e do imperativo
categórico o Homem da ideia de dignidade teológica, que se assume como
irracional e metafísica];
2- A história do Antigo Testamento é a história do povo judeu:
Nómades que andavam em busca da sua terra prometida.
Ao longo desta busca acaba por formar-se o estado judaico, tem a liberdade
como valor fundamental para o próprio. No génesis, a liberdade aparece como
um conceito tão forte e de tamanha importância que Deus impôs limitações no
jardim de Éden, a Adão e Eva, com o fruto proibido. Ao incorrerem em pecado,
incorrem em desobediência. A liberdade assume assim uma preponderância
nuclear do pensamento judaico-cristão;
3- A história de Abel e Caim:
É um componente moralista pedagógico, principalmente na resposta que Caim
dá a Deus: “por acaso sou o guarda do meu irmão?”. Esta interrogação retórica
é a chave do Direito Social e do Estado de Direito Democrático.
Resume-se à postura de um egoísmo do homem em oposição à possibilidade
altruísta e de solidariedade – somos todos responsáveis pela existência do outro.
O valor da solidariedade é uma exigência do Estado Social, pois a sua
existência deve-se à proteção dos mais desfavorecidos (que também inspirou o
Wellfare-State e o New Deal americano a partir da Escola Keynesiana,
personificada pelo próprio John Keynes). No fenómeno constitucional, o Estado
Social inspirou a normatização da solidariedade.
à NOVO TESTAMENTO – VERTENTE CRISTÃ: A liberdade exige dignidade.
Há uma evolução do pensamento e agora a dignidade presente no ser humano
exige liberdade, o que são tidos como direitos inatos, adquiridos por sermos
pessoas, mesmo que contra o Estado, por isso o mesmo está à disposição do
cidadão e não o contrário.
- Jesus Cristo morreu por todos, por isso somos todos iguais.
- Há uma divisão entre os poderes: SECULAR Vs. ESPIRITUAL.
à Santo Agostinho: “o que distingue o Estado de um bando de ladrões é a justiça”
. A liberdade é o próprio livre-arbítrio;
. A justiça é o critério de ação dos governantes
(“o que distingue o Estado de um bando de ladrões é a justiça”).
à São Tomás de Aquino
. Natureza única de cada pessoa (Dignidade: colaborador de Deus na criação);
. O propósito do poder é o bem comum da coletividade;
. Devemos resistir as leis injustas, há a admissão da desobediência por um
critério de proporcionalidade do resultado;
. É a raiz da igualdade entre homem e mulher.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
à Marcílio de Pádua:
. Foi a favor da Rutura do Estado e da Igreja e pôs em causa a res publica
cristiana e a autoridade do papa, por meio do reconhecimento da liberdade
religiosa como um direito que está na base do pensamento democrático.
. Admite que a república existe para que as pessoas tenham uma boa vida,
com dignidade e para isso estabelece uma ideia de solidariedade,
. O poder da república está limitado pela lei (como Aristóteles), pois a lei deve
ser a expressão da maioria do povo.
Com este pensamento entramos na temática dos Descobrimentos:
Quando os portugueses e os espanhóis depararam-se com a questão dos índios
das américas, constatam que surgem problemas civilizacionais, mas também de
legitimidade do uso da força e do direito.
Os grandes protagonistas são:
à Bartolomeu de las Casas: “Todos nascem livres, e porque nascem livres,
não há ninguém escravo por natureza”.
. Condena todas as crueldades espanholas contra os índios da américa,
porque para ele não há razões culturais ou civilizacionais que possam legitimar
a escravidão o subjugo de outro povo.
à Francisco de Vitória: Ao responder a diversas perguntas, inicialmente
interrogou-se com o problema dos espanhóis que queriam batizar os nativos a
força, por isso, a questão que colocou foi: “Será legítimo impor a fé?”
. Ele responde que não! Pois a fé é parte da liberdade religiosa.
Outra pergunta que veio a responder foi: “Os índios devem reger-se por leis
próprias ou pelas leis espanholas?”
. A sua resposta foi que acima das leis de cada estado, há normas que são
aplicadas aos indivíduos, independentemente da sua nacionalidade e a isso
chama-se Direito Internacional Comum Público;
à Francisco Suárez:
. Reafirmar a ideia de há uma ordem jurídica acima dos Estados, o Direito
Internacional. É um dos pais do Direito Internacional Público e Democrático.
. Para ele, a lei escrita serve para proteger os direitos e não para ofendê-los.
. Condena as guerras injustas e admite guerras justas, como é o caso da
invasão da Rússia a Ucrânia.
. Como jurisprudente afirmava que há um direito de resistência face aos
governos ilegítimos e tiranos.
à Padre António Vieira: Denunciou os portugueses que mataram os índios
brasileiros com o objetivo de impor a cultura, religião e civilização a força.
. Conclusão da Revolução Judaico-cristã: Há uma contradição
estrutural entre a fé professada e a prática da mesma, por isso viveu aprisionada
porque os governantes declaravam-se cristãos, mas não praticavam a sua fé,
por isso tomavam decisões como:
. A admissibilidade e legalidade da escravatura (mesmo a ser baseada na
desigualdade e contra a liberdade – princípios bíblicos);
. A desigualdade perante a lei (até 1820, era um direito que a pena variasse
consoante quem cometia o crime, por isso, nobres tinham penas reduzidas);
. A existência de penas cruéis e desumanas (tortura) que iam de encontro à
ordem da revolução judaico-cristã.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
A IDADE MODERNA
DICOTOMIA LIBERDADE VS. AUTORIDADE
CONTRADIÇÃO DA IDADE MODERNA: LIBERDADE OU ABSOLUTISMO?
(133-134)
A idade moderna resume-se numa única e grande contradição constitucional:
Uns defendem a liberdade (são personalistas, centrados na pessoa Humana),
outros são a favor da autoridade, (assumindo-se a favor do estado). A
contradição existente entre um poder político confessional, nos termos de uma
matriz cristã, e uma prática política que continuava a negar alguns dos valores
mais sagrados de cada pessoa humana reconhecidos pelo Cristianismo, não
pode deixar de encontrar um significativo contributo nas ideias de soberania e
de Estado desenvolvidos durante a Idade Moderna e que conduziram na Europa
Continental a um modelo absolutista do poder real. (Enquanto na Europa
dominava o absolutismo régio, dominava no reino unido uma emancipação dos
cidadãos, pela liberalização do Estado e do Poder político).
Surge nesta perspetiva um primeiro autor: Jean Bodin.
Analisa-se a teoria e a ideia da soberania. Assume a ideia de que não há
nenhum poder superior ao poder do Estado: põe um ponto final na respublica
cristã, rejeitando a supremacia e a hegemonia do papa no controlo dos Estados
privados. Assume-se que não há nenhuma força superior à do Estado, muito
menos a de um poder centralizado num ente corpóreo que professa ideários de
fé. Se na perspetiva externa não há nenhuma força superior à do Estado, na
perspetiva interna não há nenhuma força superior à do Rei e da sua vontade
régia – ideia da soberania que abre caminho ao absolutismo régio.
Revolução inglesa:
- Igualdade de direitos pela igualdade universal de votos (sufrágio universal);
- É um governo assente num acordo/consentimento, um governo baseado num
princípio democrático;
. Parlamento (Câmara dos Comuns): Sufrágio Direito
. Parlamento (Câmara dos Lordes): Legitimidade da nobreza/aristocrática
. Coroa: Legitimidade real
Traduzem a ideia de um governo misto, onde uma das
suas componentes não elimina as outras
(há eliminação no constitucionalismo Francês).
- Separação entre o Estado e a Igreja, pois o monarca é a autoridade máxima
anglicana (Henrique VIII rompeu as relações com a igreja católica para divorciar-
se de Catarina de Aragão (na europa há rotura com a santa sé na Revolução
Francesa e em Portugal com a 1º República em 1910)).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Montesquieu (189-191)
Transmite-nos o pensamento chave de todo o constitucionalismo – para se
garantir a liberdade privativa dos cidadãos há que dividir o poder, de forma a
limitá-lo e controlá-lo. É na divisão do poder que encontramos a garantia para a
liberdade, justiça e segurança.
Defende assim a separação tripartida dos poderes políticos: executivo,
legislativo e judicial. A limitação de poder pressupõe a existência de veto. Há a
ideia de freios, contrapesos e equilíbrios no sistema jurídico.
“A liberdade traduz o direito de fazer tudo o que as leis permitem” – apenas
existem nos “governos moderados”, pois pressupõe a limitação do poder.
É contra a escravatura, pois esta mostra-se contrária ao Direito Civil e Natural.
Voltaire (191-195)
Partidário de um modelo político absolutista, formula que a razão é o que nos
permite distinguir o bem e o mal, estando o senso comum no fundo do coração
de todos. A liberdade é um dom conferido por Deus ao homem.
Cada um deve ser livre de pensar e de professar a religião que entender e “não
devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem”. Assim,
a liberdade de opinião e a liberdade de consciência expressam um interesse
geral da humanidade: a liberdade de opinião, pessoal e direito de propriedade.
A tolerância é o pressuposto da estabilidade do governo, configurando-se
como um direito de justiça e a primeira lei da natureza. É contra a pena de morte,
a prisão perpétua, a transmissão de penas, a inquisição e a tortura.
O homem nasce com inclinação para o domínio, sendo a riqueza, o prazer e a
preguiça limitadas.
Acomoda-se à desigualdade, reconhece que as necessidades geram
dependências entre os homens e a sociedade está dividida em duas classes:
oprimidos e opressores (precursor do marxismo), sendo a luta entre elas a
explicação de certos momentos históricos.
Humboldt (201-203)
Vem dizer que a verdadeira garantia da liberdade não passa pela separação
de poderes (como Montesquieu) mas sim pela criação de um estado mínimo.
O quanto menos um estado existir e intervir será melhor para salvaguardar a
liberdade dos cidadãos. Defende a postura do abstencionismo do Estado
(conceção defendida pelo GOP norte-americano). Está na génese do modelo
constitucional liberal (política da maior autonomia e preponderância privada face
ao controlo do Estado).
Deriva para o debate entre a privatização e estatização, entre austeridade ou
justiça social. Defende em suma que a garantia de liberdade existe com menos
estado.
KANT (203-206)
Vem revolucionar por completo todo o paradigma constitucional.
Kant protela três valores essenciais:
a) Liberdade;
b) Dignidade;
c) Igualdade.
Vem recuperar as bases não teológicas (pois Kant é racionalista). Vem
defender que todos os Estados devem ter o Direito e Constituição como
alicerces.
Responde à questão: “Será que se deve sempre obediência à lei?”
Afirma que sim, respeitar a lei e a constituição é respeitar o
estado de direito e a organização da sociedade.
Vem paradoxalmente defender que a liberdade, que expressa a autonomia de
vontade, é relevante para o fenómeno constitucional e jurídico.
O ser humano não é uma coisa – é sempre um fim em si mesmo. O ser humano
nunca pode ser usado como meio. Pois ele não é uma coisa desprovida de
dignidade.
Kant vem dizer que a dignidade é aquilo que não tem preço, não é propriedade.
A MATERIALIZAÇÃO DO LIBERALISMO
PROTAGONISTAS E A PRÓPRIA MATRIZ IDEOLÓGICA DO
CONSTITUCIONALISMO LIBERAL
Podemos falar numa clausula de bem estar: a dignidade humana não se basta
com os direitos liberais. Não basta ter o direito se não se pode usufruir deles.
MAS A QUEM COMPETE? Há 3 modelos:
a) Impõe ao estado a garantia do bem estar;
b) Tipo Britânico e Norte Americano: remete para a liberdade do legislador;
c) Modelo Misto: Há situações em que há imposição constitucional do bem estar,
mas também há liberdade do legislador (caso português: economia do mercado).
A garantia dos direitos sociais está nas mãos da administração pública,
estando a constituição refém da administração.
Estas conceções são produtos do final da II guerra mundial.
1. Liberdade:
à Concessões existencialistas do ser humano concreto e individual.
Cada ser humano é uma realidade abstrata e também concreta ao mesmo
tempo. O pensamento existencialista vai desenvolver esta concessão da
interioridade do ser humano, algo que lhe é inerente. Durante o século XIX, foi
então desenvolvido o pensamento existencialista.
Há o retomar deste pensamento, subdividido em 2 grupos, defensores do:
- Existencialismo Ateu, como Jean Bodin e Sartre, que defendem que não há
dignidade sem liberdade.
Importância ligada à liberdade: não há liberdade sem dignidade. Nem
dignidade sem liberdade.
- Existencialismo Cristão, como Maritain, Karl Jaspers e Kierkegaard.
O pensamento cristão centra-se na ligação entre o poder e a pessoa. O
estado está subordinado à pessoa, em segundo lugar vem sublinhar que
o Estado existe ao serviço do ser humano, e não ao contrário. O ser
humano não pode ser transformado em objeto, em prol do Estado.
à Karl Jaspers: Relativização das certezas, nenhum de nós pode ter certezas
absolutas, daí surge a tolerância para com os outros. Aceitar as certezas
relativas, dos outros.
à Kierkegaard: Reflexão sobre o ser humano e o seu sentimento, sofrimento e
individualidade. O ser humano não é uma realidade abstrata, o que importa é
cada indivíduo, único, vivo e concreto.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
2. Democracia:
à Raymond Aron: A democracia prossupõe pluralismo, sem ele, não há
democracia. Representa a essência da democracia do ocidente, afirmando que
esta se baseia no pluralismo e na salvaguarda dos direitos das pessoas. O
estado existe como papel social.
à John Rawls: A democracia prossupõe pluralidade e relativismo: a ideia de
respeito mútuo.
A ideia de concessão de sobreposição: ter de aceitar opiniões contrárias,
porque nenhuma delas é absoluta. Põe as questões:
- Há ou não uma hierarquia de valores?
Se houver, a concessão de sobreposição só termina quando esta começa.
- Todos os valores são iguais?
Se não, terão relevância uns sobre outros. É possível afirmar, que para
Rawls, todos os direitos têm de ser respeitados, mas nem todos têm o
mesmo valor: vida > legalidade.
à Karl Popper: o elemento central da democracia é um pluralismo critico e a
tolerância, uma sociedade aberta. Tudo é discutível, podemos sempre aspirar
por mais e melhor, mas a verdade é sempre relativa. Não há verdades absolutas
e irrefutáveis.
A verdade é então subjetiva, porque pode originar uma outra verdade distinta.
Paradoxo da tolerância→ perante os que são intolerantes, como é que os
devemos tratar? Com tolerância ou sem? Exemplo: terroristas e extremistas.
à Habermas: a democracia é um processo, não tem a ver com a substância de
valores. Não se baseia em o que é que defende mas sim como o defende. A
democracia prossupõe racionalidade de argumentos, igualdade entre os
intervenientes, e prossupõe a maioria como critério de decisão. Há uma
dimensão processual da democracia.
Problema: Estas concessões levam a uma democracia falsa, onde os valores
são desvalorizados.
Porquê? Porque admite como democrático qualquer conteúdo de decisão da
maioria, mesmo que seja inconstitucional.
à Zagrebelsky: a democracia é por natureza um regime de perecibilidade
decisória. O conceito de democracia critica. Na democracia não há certezas,
uma nova maioria tende a mudar o que uma antiga maioria pode decidir.
É critica das concessões antigas, a lei nova revoga a lei antiga. A lei é uma
expressão de um novo querer, de um novo ideal decisório.
Exemplo: sucessão Paços Coelho para António Costa (privatização da TAP).
- Notabilidade intencional→ perecibilidade.
- Olhar para dentro dos valores da democracia→ democracia humana.
É uma democracia que chega a duas conclusões:
1. Os direitos humanos são a essência e alicerce da democracia. Primeiro a
dignidade humana depois a soberania popular.
2. A democracia tem como limite o ser humano, que é simultaneamente o
alicerce e o limite da democracia. Aplicar pela força a democracia, caso
seja necessário. O principio democrático: só podem ser membros da UE,
estados que sejam democráticos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
3. Justiça Social:
Em termos jurídicos: a constituição francesa de 1793. A importância dos
valores judaico-cristãos – cada um de nós é guarda de si mesmo, e do próximo.
A doutrina social da igreja desde o final do séc. XIX sublinha a importância da
justiça social, da relevância da pessoa e da pessoa não apenas nos seus direitos
de liberdade, mas também condigna.
Debate ideológico: Perante a desigualdade social, o que deve o Estado fazer?
- Crítica Liberal e Neoliberal: quanto maior for a intervenção do estado (critica
do estado zorro), maior é o confisco, e que é através do sistema de impostos,
que a riqueza pode ser conduzida a um estrangulamento.
- A outra visão: Se não houver preocupações de redistribuição de riqueza pelo
Estado por meio dos impostos, haverá desigualdade social, logo, não há
dignidade humana. Tornando-se assim um conflito social. Novos modelos de
instabilidade. Sem esta redistribuição, o conflito é automaticamente instalado.
Para este debate, há dois autores do EUA que proferem conceções diferentes:
à John Rawls (social-democrata): Estado providência, a justiça está no
momento dos resultados, em repartir a riqueza (“Estado zorro”), fazer com que
aqueles que mais têm possam contribuir para o nível mínimo de existência para
os que menos têm→ estado intervencionista social;
à Robert Nozick (republicano): o importante não é a igualdade nos resultados,
o importante é a igualdade à partida.
Exemplo: avaliação superior, com o mesmo ensino.
A resolução do tema da justiça social, é a combinação de ambas as
concessões extremas referidas acima.
SECÇÃO II
O ESTADO DE DIREITOS HUMANOS
O que é o Estado de Direitos humanos?
É o que se baseia numa concessão assente nos valores judaico-cristãos. Ao
assentar nestes valores, significa a importância da liberdade e da dignidade, a
ideia de que o poder tem limites. Assenta ainda no pensamento de Kant, e na
filosofia de uma concessão existencialista. Não interessa o todo dos seres
humanos como uma realidade abstrata, mas sim como ser vivo concreto. Cada
um de nós tem uma pluralidade de dimensões que se resume em 3 ideias:
• Cada um de nós e individuo;
• Cada um de nós pertence à coletividade;
• Cada um de nós e parte da humanidade;
Não podemos renunciar o estatuto de pessoa. Todos nós temos direitos
irrenunciáveis e absolutos: a vida e a propriedade. Direitos sociais: saúde,
educação e trabalho por exemplo.
“O ser humano é um animal social” – Aristóteles.
à Indivíduo: titular de direitos fundamentais e inalienáveis. Existem direitos
pessoais de natureza universal: vida, liberdade, dignidade, reserva da intimidade
da vida privada, propriedade privada e direito a ter família. Quanto aos direitos
sociais: saúde, segurança social, educação, habitação, trabalho, aceso à cultura,
alimentação e vestuário. O homem é um animal social, significa que a pessoa é
parte da sociedade, em 2 óticas diferentes:
à Membro da coletividade: Somos seres sociais pertencentes à coletividade.
Se vivêssemos individualmente, não haveria Direito. Logo, onde há Direito, há
sociedade. Em 2 termos:
❖ A ideia de nação → o substrato cultural e espiritual.
É o que está na base da fundamentação de um Estado, a consciência
nacional: um estado é o resultado de uma nação. Existem estados com
uma pluralidade de nações, pela existência de diferentes povos (Espanha
– Catalunha/País Basco). A nação é a fonte de soluções jurídicas-
normativas como apelo à consciência e tradição nacional: a ideia de
espírito do povo, com relevância político-constitucional.
Relacionada com a escola histórica do direito → resultado de um
processo histórico do espirito do povo. A ideia da democracia alicerçada
no querer da nação. Expressa-se em diversas constituições, como é o
caso da constituição britânica, alicerçada no costume e na tradição,
(pluralidade de nações do reino unido).
O que é mais democrático? O querer da nação ou o querer do povo
enquanto vontade politica expressa pelos deputados?.
A pessoa não só se insere na nação da atualidade, pode também
inserir-se através do seu passado intergeracional. Não há estado sem
povo, mas há povo sem Estado. O povo é um conjunto de pessoas que
têm um vinculo jurídico com o estado: Cidadania. A Expressão da nação:
1. Dimensão do conceito do direito civil, de bons costumes;
2. Existência de feriados religiosos apesar de sermos um estado
laico devido à dimensão cultural católica da Nação;
3. Dia de descanso ao domingo – conotação religiosa.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Modelo Totalitário
Platão
Hobbes (na prática)
Rousseau (democracia totalitária)
Hegel (hipervalorização do estado)
Nietzsche
PRINCIPAIS TEMAS
à SOBERANIA – Jean Bodin
à SOBREVALORIZAÇÃO DA PROPRIEDADE – Maquiavel
à RAZÃO DE ESTADO – Maquiavel
à FINS JUSTIFICAM OS MEIOS – Maquiavel, Hobbes, Nietzsche
à RECUSA DA PROPRIEDADE PRIVADA – Utopia de More
à DIRIGISMO OMNIPRESENTE DO ESTADO – Utopia de More
à EUTANÁSIA – Utopia de More
à INVALIDADE DE LEI QUE VIOLE LEI SUPERIOR – São Tomás de Aquino
à DIREITOS INALIENÁVEIS E IRRENUNCIÁVEIS – Hobbes, Kant, Hegel
à SEGURANÇA COMO FIM – Hobbes, Humboldt
à LEGITIMA DEFESA – Hobbes
à USO DO TERROR – Maquiavel, Hobbes, Rousseau
à DEFESA DA PROPRIEDADE – Locke
à VIDA, LIBERDADE, PROPRIEDADE – Locke
à LIBERDADE RELIGIOSA – Locke
à SEPARAÇÃO ESTADO/RELIGIÃO – Locke
à SEPARAÇÃO DE PODERES – Locke, Montesquieu, Constant
à DIREITO COMO FERRAMENTA DE OPRESSÃO – Rousseau
à LIBERDADE NO ESTADO – Rousseau, Platão, Hegel
à ESTADO MINIMO – Rousseau, Humboldt, Nozick
à VONTADE GERAL NUNCA SE ENGANA – Rousseau, Kant
à JUSTIÇA COMO ÚNICA FUNÇÃO DO ESTADO – Humboldt
à ESTADO ABSTENCIONISTA – Humboldt, Nozick
à ESTADO DE DIREITO – Kant
à PAZ COMO FIM DO DIREITO – Kant
à LEI UNIVERSAL DO DIREITO – Kant, Hegel
à PESSOA COMO FIM – Kant (princípio da humanidade), Nozick
à DIGNIDADE – Kant, Pufendorf, Hegel
à PENA DE MORTE – Kant
à SOBERANIA POPULAR – Kant, Rousseau, Locke, Constant, Tocqueville,
Marsílio de Pádua
à HIPERVALORIZAÇÃO DO ESTADO – Hegel, Kant
à HUMANO ABSTRATO/HUMANO CONCRETO – Hegel
à LIBERDADE POLÍTICA/LIBERDADE PESSOAL – Constant
à DIREITOS COMO LIMITAÇÃO DA SOBERANIA POPULAR – Constant
à DH > PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO – Constant, Tocqueville, Locke
à NÃO HÁ LIBERDADE SEM IGUALDADE DE DIREITOS – Tocqueville
à NECESSIDADE DE LIBERDADE DE IMPRENSA – Tocqueville
à RACISMO – Nietzsche, Platão
à INDIVÍDUO > COLETIVO / CONCRETO > ABSTRATO – Kierkegaard, Sartre
à LIBERDADE COMO FUNDAMENTO DA DIGNIDADE – Sartre, Kierkegaard
à DEMOCRACIA COMO PROCESSO, DISCUSSÃO – Habermas
à REVERSILIDADE DECISÓRIA – Zagrebelsky
à ESTADO-PROVIDÊNCIA E REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA – John Rawls
à HIPER-INDIVIDUALISMO E NEGAÇÃO DA SOLIDARIEADE – Nozick
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Totalitarismo
• Estado Omnipresente; Indivíduo < Estado
• Individuo apenas como parte integrante do Estado, realizando-se neste;
• Estado como fim em si mesmo – transpersonalista;
• Instrumentalização do Terror;
• Recusa do Direito à Resistência;
• Concentração de Poderes;
• Instrumentalização da educação para servirem ao Estado (Rousseau);
• Recusa de Direitos Inatos ou de Dignidade da Pessoa Humana;
• Os Fins justificam quaisquer meios.
Princípio do Bem-Estar
• Vertente Material: + condições sociais e qualidade de vida;
• Vertente Imaterial: + condições políticas, culturais e educacionais;
• Vertente Temporal: preocupação com as gerações futuras;
• Impossível desassociar um sistema jurídico fundado na dignidade humana
e uma clausula constitucional de bem-estar;
• Ultrapassagem do modelo liberal;
• Concretização Jurídica:
o Reconhecimento constitucional de direitos socias como fundamentais;
o Opção do Legislador, sem imposição constitucional;
o Modelo misto – como é o caso da CRP.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
DEMOCRACIA HUMANA
• Direitos Humanos como alicerce da democracia;
• A dignidade da pessoa humana como limite à democracia;
• Pessoa como fundamento e limite da democracia;
• Estado de Direito material, comprometimento axiológico.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
O que é o Poder?
O poder é por definição uma disponibilidade de meios para se alcançar um
determinado fim. O poder tem sempre uma definição unilateral e imperativa. Uma
imposição unilateral de um comportamento, de uma conduta ou fiscalização.
à Imposição e unilateral: PODER. Envolve sempre um exercício de uma
autoridade. A autoridade exige do outro lado um direito de acatamento e de
obediência. Exercício de autoridade e um exercício de obediência. Não há poder
sem autoridade, nem há autoridade sem a possibilidade de imposição de um
comportamento. Quando não há obediência a autoridade fica enfraquecida e o
poder pode deixar de ser poder, pois é minado e destruído pela desobediência.
Que tipos de Poder existem?
Poder expresso: visível, sabe-se que existe, transparente.
Poder oculto: invisível, pode estar por detrás do poder expresso, manipulando.
O poder pode ser ainda:
Formal – regulado pelo direito, obedece a uma forma.
Informal – não está regulado pelo direito, surge de modo factual, é assente na
prática e no uso, não é um poder de natureza jurídica.
Uma revolução é uma fonte de poder factual e informal, genésico do
constitucionalismo, mas é geradora de uma nova axiologia constitucional.
Sete áreas do Poder:
a) Poder Político;
b) Poder Económico – condiciona inopinadas vezes o poder político;
c) Poder Militar – a violência organizada
d) Poder Religioso – confusão do poder político e religioso (res publica cristiana);
e) Poder Informativo – a informação é um dos grandes novos poderes. Quem
tem a informação controla a decisão – é especialmente apetecível pelo poder
político e também pelo poder económico;
f) Poder Científico/Tecnológico – as decisões são condicionadas pelas opções
científicas e tecnológicas;
g) Poder Interprivados – poder dos país em matéria de educação dos filhos
menores, relação laboral entre a entidade empregadora e os trabalhadores.
A) O que é o poder político?
O que é a política – é uma atividade humana que tem como objetivo e
propósito a conquista, a manutenção e o exercício do poder político.
Ao poder político compete a definição das opções essenciais da coletividade.
Numa sociedade podem-se colocar 3 grandes questões:
(I) Quais os objetivos da existência de uma sociedade?
(II) Quais são as soluções e os meios para atingir a convivência?
(III) Quem define os objetivos e os meios para os atingir pela comunidade?
A questão de saber quem é o sujeito que define os objetivos e meios de uma
sociedade está na sociedade organizada, nem todos podem decidir.
Qual o processo que deve ser adotado para escolher quem vai tomar essas
decisões, seguindo a vontade da maioria?
É o respeito da minoria pela vontade da maioria que é decisivo para a
estabilidade e concretização da maioria. O respeito plasma-se na obediência e
a constituição é a expressão jurídica deste equilíbrio.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
FORMAS DE ESTADO
Há 2 modelos de estado, quanto à forma, quanto ao modo de dispor e
organizar o poder em função do território:
a) Estado simples ou unitário – quando existe unidade de centros de
decisão política. Quando há um centro de decisão política.
b) Estado composto ou estado complexo – é um estado constituído por
outros estados, com vários centros de decisão política, concentra em si
um elemento de aglutinação.
A) ESTADO UNITÁRIO: Pode ser centralizado ou descentralizado. É
centralizado se só existir uma entidade pública. É descentralizado se existirem
uma ou mais entidades públicas (pluralidade).
A descentralização pode ter a ver com a função administrativa
(descentralização administrativa), ou descentralização política (legislativa), que
dá origem a regiões autónomas mas não dá origens a Estados Federados.
B) ESTADO COMPOSTO: pode ter 2 configurações.
(i) Federação – criam-se sempre órgãos novos, estruturas novas
(ii) União real – aproveitam-se órgãos já existentes nos estados-membros.
Por outro lado a união real tem sempre uma forma monárquica, enquanto a
federação nem sempre tem forma monárquica. São estados que se juntam para
criar um novo estado – Reino Unido ou Portugal e o Brasil entre 1815 e 1822.
União Pessoal: Os estados mantém a sua independência. Apenas ocorre que o
rei é o mesmo – Commonwealth. Não é um Estado composto, há uma mesma
titularidade.
Diferença entre a Federação e Confederação.
à Federação é a designação idêntica a um Estado Federal. Que assenta na
dicotomia de um Estado Federal e vários Estados Federados. O Federal tem
soberania no plano externo – Exemplos: EUA e Brasil – Estados Federados não
têm soberania no plano interno, mas têm uma constituição própria.
à Na Confederação, os Estados Confederados não perdem a totalidade da
soberania no plano externo. A Confederação não é a titular da soberania externa
(Exemplo: Guerra Civil Norte-Americana).
. Falsas designações: Suíça – Confederação Helvética, mas são
federação, pois os cantões suíços não têm soberania.
O que os caracteriza?
a) Os Cidadãos estão sujeito a duas ordens jurídicas: do Estado
Federado e do Estado Federal. Com esta particularidade, quem define a
fronteira entre o poder constituinte dos estados-membros e a do estado
federal, é a constituição federal. Sem prejuízo da teoria dos poderes
implícitos: Se a constituição federal atribui à reunião determinados fins,
deve-se atribuir os meios necessários para a prossecução desses fins. A
União tem ampliado a sua intervenção à custa dos estados federados que
providenciam os meios necessários;
b) A existência de uma Constituição Federal: garante a autonomia dos
Estados Federados e a competência da Federação. É o que define a
“competência das competências”- 1º regra da repartição da competência
(entre a união e os estados federados). Com esta particularidade a
constituição dos EUA estabelece o principio da igualdade entre os
estados.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Órgãos do Estado
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Tipos de órgãos
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
O Estado Pré-Liberal
Anteriores às revoluções liberais (francesa/portuguesa). Neste período
fazemos duas distinções:
O estado pré-liberal anterior ao moderno estado europeu: alicerçado na
concessão de Jean Bodin (soberania)
O estado anterior ao sec. XV. O que se encontra? O Estado oriental, que vai do
3º até ao 1º milénio antes de Cristo: Egipto, Mesopotâmia, nomeadamente:
• O Estado Grego→ o Estado de Cidade (pólis). Estado de reduzida
dimensão territorial. Surgem as primeiras conceções filosóficas a propósito
do poder politico.
• O Estado Romano→ Inicialmente de reduzida dimensão, acabando num
Império. É nele que surge a distinção entre direito público e direito privado.
É neste período também que surge a ordem de valores judaico-cristãos.
• O Estado Medieval/Corporativo→ Coloca estes problemas: Haveria
Estado? Porquê? Existia uma fragmentação do poder político entre o rei, a
nobreza, a igreja e os concelhos/municípios, não estava concentrado no rei,
o que fez surgir a questão de Estado. Há duas respostas.
o R1: Em Portugal havia Estado, a centralização régia do poder
começou muito cedo. Existia uma visão da sociedade em que o
pluralismo do centro político correspondia a um pluralismo de fontes
de direito, só existiam direitos privados, não existia uma regra geral.
Organização da sociedade em corporações, que representavam os
interesses das profissões. De início, o rei aliou-se à burguesia para
neutralizar o poder da nobreza. Temos também o poder do clero, em
que o reino estava na base de um governo religioso e régio.
o R2: No séc. XV surge o Moderno Estado Europeu de Jean Bodin –
surge o conceito de Soberania. Dentro do Estado não há poder
superior ao rei, fora do estado não há poder superior ao Estado, este
pensamento dita o fim da República.
Ainda podemos assistir a 2 modelos de Estado:
Estado barroco ou renascentista (Séc. XV a XVII):
→ Intervenção económica do Estado com o mercantilismo, monopólios da coroa;
→ Expansão ultramarina, que coloca 2 problemas: como governar? Qual a
estrutura administrativa para governar os novos territórios? (pode político fora do
território europeu) Qual o direito que deve reger estas novas povoações?
Surgem 2 conceções:
- Defende-se a regência dos próprios povos (proteção do próprio direito);
- Deve submeter-se ao direito do Estado metrópole.
→ Renascer do Direito Romano, recuperação da autoridade do rei dentro das
estruturas políticas. Esta recuperação alterou todo o poder jurisdicional, poder
de satisfazer necessidades coletivas, pertencendo exclusivamente ao rei. Esta
ideia preparou ideologicamente o Estado para iluminismo.
Estado iluminista (até às Revoluções Liberais – Séc. XVIII ao Sec. XIX):
→ Centralização do poder no rei: “o Estado sou eu.” – Luís XIV.
→ O rei é titular de poder ilimitado, então é superior a todos os poderes e leis.
→ Forte intervenção económica, social e cultural do Estado (Estado polícia,
omnipresente).
É este o modelo antes das revoluções liberais.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
4 Fases do Liberalismo
1. O predomínio da legitimidade democrática (fase revolucionária): base da
revolução liberal e base da constituição portuguesa de 1822;
2. O predomínio da legitimidade monárquica: base da carta constitucional de
1826 em Portugal – Rei: poder base do poder constituinte e fonte de legitimidade;
3. O equilíbrio entre a legitimidade democrática e a legitimidade monárquica: o
equilíbrio entre o rei e o parlamento: base da monarquia de julho francesa;
4. O predomínio da legitimidade democrática: muitas vezes com a supressão da
própria monarquia – “fase exclusiva da legitimidade democrática”
3. A Fragmentação do Estado:
• Há matérias cuja decisão deixou de estar em Lisboa e foram transferidas
para Bruxelas (UE).
• A existência de matérias partilhadas em termos de decisão – Nós por si
só, não conseguimos decidir assuntos como o orçamento de Estado, que
passou antes por Bruxelas;
• As situações de Neofeudalização interna – O Estado sofre o fenómeno
antigo do Feudalismo. Pluralidade de centros de decisão interna que
delimitam o poder do Estado. Ex: Entidades públicas e infra estatuais.
• A existência de grupos de interesse privados que procuram influenciar a
decisão do Estado. Os pesos dos outros interesses como expressão da
delimitação do Estado. Ex: a colonização partidária do Estado;
• A existência de novos agentes internacionais, a existência de novos
protagonistas na esfera mundial – Organizações não governamentais,
que condicionam o Estado, ou entidades privadas com propósitos
lucrativos (agências de ranking);
4. As vicissitudes do Estado – pode formar-se, desaparecer, transformar-se:
• Pode formar-se através da elevação de uma comunidade que não era uma
comunidade estadual: Moçambique. É também o caso do condado Portucalense.
• Pode também formar-se pela agregação de dois estados independentes, que
foram unificados, criando um novo estado: RFA+RDA= Alemanha.
• Um Estado pode, em sentido contrário, desagregar-se de um Estado.
Modalidade de desmembramento em vários estados – a extinção da antiga
Checoslováquia: República Checa e Eslováquia.
• A cessação de uma parte de um Estado. Não é todo o Estado que se
desmembra, é apenas uma parte do mesmo. Federação da Jugoslávia, que em
torno da Sérvia, agregava a Croácia, a Eslovénia, que originaram novos Estados.
• Como é que um Estado se pode extinguir? Aquilo que era o Estado, deixa de
ser uma comunidade estadual. Muitas vezes, porque passa a ser uma colónia.
Exemplo: Etiópia, pela invasão italiana;
• Pode também desaparecer, pela agregação de um Estado num outro Estado.
• As situações de integração/incorporação de um estado não de outro, mas numa
pluralidade de outros Estados. Um Estado retalhado/dividido por outros Estados.
Exemplo: Polónia, no Tratado de Viena de 1815.
• Um Estado pode transformar-se: Pode haver uma transformação da soberania,
porque vê limitada a soberania do Estado. Por exemplo: era independente e
passa a ser um protetorado internacional. Portugal, na situação da Troika em
matéria financeira, por exemplo. Pode ser também decorrente da integração ou
desintegração de um estado na união europeia. Quando entra, vê limitada a sua
soberania. Exemplo: Brexit, viu reforçada a sua soberania;
• Pode acontecer que um Estado tenha mesmo perda da sua soberania. Um
Estado independente entra numa federação.
• Pode haver ocupação ou desocupação de um território de um Estado. Exemplo:
Alemanha no setor soviético, britânico e francês.
• Pode acontecer que exista anexação ou perda de território por parte do Estado.
Exemplo: Final da 1ª GM: transferência para a Alemanha das terras de Florença.
Sistema Presidencial
1. O presidente é simultaneamente chefe de estado e chefe do executivo;
2. Não há em termos autónomos um verdadeiro governo:
à No modelo norte-americano existem secretários de estado que são
colaboradores do presidente, ajudando-o. Mas quem define a linha politica
é o presidente, que também os nomeia, não depende da confiança politica
do parlamento;
3. Há um casamento sem divorcio entre presidente e Congresso. Nem o
presidente pode dissolver o congresso, nem o congresso pode, por
razoes políticas, destituir o presidente. À exceção de casos de
impeachment (razões criminais/jurídicas).
Como é que o modelo surgiu e se desenvolveu?
Nos EUA, na constituição de 1887, a mesma constituição que ainda vigora.
Inspirado no rei britânico do sec. XVII, foi moldado o estatuto do presidente dos
EUA. Ainda em termos históricos, o presidencialismo dos EUA conjuga-se com
2 outras realidades:
1. Modelo de separação de poderes de base de Montesquieu, que envolve
um sistema de freios e contrapeso (checks and balances). Um sistema de
partilha e interdependência entre os diferentes órgãos.
à O poder de impedir está nos tribunais e no presidente da república.
à O poder legislativo está no congresso.
à O poder administrativo está nas mãos do presidente, no entanto, a
administração existe para aplicar o orçamento e a lei.
à O congresso aprova o orçamento de lei.
à O poder judicial (de estatuir), está encarregue aos tribunais.
à Quem designa os juízes dos tribunais supremos é o presidente.
Há assim uma interligação de poderes, para além da separação.
2. A forma de Estado: O facto de ser uma Federação, condiciona a
configuração do presidente. O presidente expressa a união, dando-lhe um
estatuo superior em comparação aos outros órgãos.
1. A Monarquia Limitada
É o resultado da contrarrevolução – uma reação aos excessos da revolução
francesa. O grande protagonista deste sistema é Benjamin Constant. O primeiro
expoente deste regime é a Carta Constitucional de 1814.
• O centro do poder político, da decisão constituinte, está instante no rei;
• O rei tem uma constituição escrita para o limitar;
• O rei, na sua atuação quotidiana, está limitado pela separação de poderes,
tem de contar com os tribunais e com o parlamento;
• Ainda assim, o principio monárquico domina a carta constituinte de 1814 em
França, e 1826 em Portugal;
• O ato constitucional é um ato de graça, outorgada pelo rei. Decide por si
limitar os seus poderes. A lei só é lei se o rei a sancionar: conjunto de duas
vontades, a de quem aprova (parlamento), e de quem a aceita: o rei;
• O veto do rei tem soberania absoluta;
• O rei pode dissolver a camara baixa, provocando eleições;
• Compete ao rei unir os membros da camara alta;
• Os seus ministros não são responsáveis politicamente no parlamento;
• O rei é o titular do poder moderador: é a chave dos demais poderes;
• Os tribunais são independentes, mas administram a justiça consoante a
vontade do rei;
• Se a constituição não atribui competência a outros órgãos, a competência
regra pertence ao rei: titular da competência das competências;
Este foi o modelo que esteve na base do império austro-húngaro e do alemão,
sobrevivendo até ao fim da 1º GM (1919). Este modelo resistiu até a república
em Portugal (5 de outubro de 1910).
3. O Governo de Chanceler
A origem está na Alemanha e na constituição que baseou a unificação alemã:
1871. No ano anterior é a derrota francesa, e em Versalhes, o chanceler
prussiano proclama a unificação alemã. O poder politico está concentrado no
chefe de estado: o imperador. Mas quem exercia o poder era alguém da
confiança politica do imperador, a quem o imperado delegava os seus poderes:
o chanceler.
O chanceler só é politicamente responsável pelo imperador. O executivo tem
a cabeça do imperador, mas por outro lado tem a cabeça do chanceler. É o
chanceler que escolhe os ministros e estes respondem sobre o chanceler, que
por sua vez, responde ao imperador. O parlamento não determina a cessação
dos governos, por isso o sistema não é parlamentar. Vigorou em Portugal na
constituição de 1973, O Estado Novo regeu-se por este sistema, com a diferença
que o chefe de estado era o presidente república.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023
Ideias sucintas:
Dissolução pode ser uma forma de superar uma crise, quando não há outra
solução, ou pode ser um instrumento na mão do governo, para reforçar a sua
posição: tradição britânica. Há sistemas que não o podem fazer, logo, o chefe de
Estado tem de se conformar com o seu congresso.
Semelhanças: o presidente francês, tal como o primeiro-ministro
britânico, é o líder da maioria parlamentar. Enquanto este líder, não só
controla o parlamento, como controla o executivo. Quem preside os
ministros, não é o primeiro-ministro mas sim o presidente da republica.
Ius cogens: duvida quanto à vinculação dos Estados, se é ou não imperativo/de
escolha própria e individual?
Toda a violação de normas de ius cogens determina a nulidade do ato
deliberado pelo respetivo Estado. Se for uma norma da constituição: dá-se o
problema de inconstitucionalidade de normas constitucionais. Porque violam um
padrão normativo, que está acima da constituição escrita de qualquer estado.
O Sistema
• Os valores essenciais de uma ordem jurídica provêm da constituição.
• A constituição ilumina quem faz as normas, e por isso essas normas são
axiologicamente justas. É a expressão do monopólio decisório do Estado,
traduz a institucionalização jurídica do Estado.
• A constituição como expressão do Estado, na feitura ou modificação da
constituição.
Nem sempre são aplicáveis, no caso britânico não acontece (constituição
flexível e consuetudinária). Para ser alterada, basta uma lei do parlamento. Não
há a visão rígida e estratificada, que está na base do pensamento de Kelsen.
Problemas quanto à ideia tradicional da Constituição
• Dentro das constituições compromissórias, nos estados modernos
(CRP). Porque na base da constituição não está uma única pessoa, há uma
pluralidade de partidos que partilham de ideias distintas. A constituição é
um compromisso ideológico. A CRP permite a privatização, assim como a
nacionalização. Impõe determinadas soluções, mas deixa para a margem a
liberdade do legislador a solução de outro casos. É complexa a
determinação da ordem axiológica da constituição. Não é simples e objetiva.
Por expressar a unidade, não significa que seja fácil de determinar –
Exemplo: leis fraturantes como o casamento gay, eutanásia, aborto. Há
quem diga que a constituição o permite, e quem diga que não o permite.
Com fundamentos jurídicos racionais, pode se defender as duas posições.
A unidade ideológica que resulta da constituição não é objetiva e clara. Não
é fácil determinar a linha de valores e princípios que emergem.
• A ideia que está na base do pensamento de Kelsen: a constituição é só
a norma escrita e publicada, a oficial. Ao lado das normas escritas, é
possível que a factualidade gere padrões normativos, uma não escrita.
Cada pais tem duas constituições: a escrita e a não escrita que as vezes se
sobrepõe à escrita.
• Normas costumeiras não resultam do que está escrito. Cumpre-se assim,
o costume, o hábito, uma pratica reiterada que ganhou convicção.
• Precedente constitucional: assume força vinculativa para casos idênticos.
O precedente pode servir como arma argumentativa, porque anteriormente
já foi adotada uma solução idêntica. A dissolução do parlamento não
determina, necessariamente, a demissão do governo, por exemplo.
• Normas que têm a ver com cortesia constitucional. São regras de
cortesia, de natureza ética, de bons modos.
Há uma fragmentação da força normativa da constituição – a concorrência de
normas fundamentais de DC. Nem sempre o Estado tem o monopólio da
formação das normas constitucionais:
1. Há uma normatividade não oficial, que escapa ao Estado.
2. Há normas que são produzidas pela comunidade internacional (ius
cogens), que são imperativas para todos os Estados. Exemplo: uma constituição
que admita a escravatura, essas mesmas normas eram inconstitucionais,
violavam valores normativos, supra-nacionais e supra-constitucionais.
3. Pode haver normas elaboradas por outras entidades, que não o Estado. A
internacionalização de certas matérias. Matérias que eram do critério de cada
estado, passam a ter a condição internacional. Pode haver princípios
fundamentais que se sobrepõe à vontade do Estado.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023