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TURMA: A 2022/2023

RESUMO "INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E


CONSTITUCIONAIS" E APONTAMENTOS
DAS AULAS
F D U L
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

RESUMOS DIREITO CONSTITUCIONAL


PLATÃO – O GOVERNO DOS HOMENS – ANTICONSTITUIÇÃO
Para Platão, os governantes que fazem a lei devem ser os melhores, pois as
leis limitam os homens, mas o guardião da cidade, da república, deve ser o rei
filósofo, que nunca deve ser limitado, por isso é antidemocrático.
Platão afirma que o governo deve ser o governo dos filósofos, porque têm
sabedoria. No entanto isto traduz uma dicotomia que radica no seguinte: se o
governo é dos sábios, sendo a perspetiva filosófica de sabedoria
hierarquicamente superior ao nível da inteligibilidade, então o sábio (governante)
não pode estar limitado pela Lei, materializada pelo Homem.
A sua sabedoria coloca-o num patamar superior, acima da lei. Podemos
concluir que os regimes ditatoriais, tiranos e totalitaristas radicam na conceção
platónica de governo anticonstitucional, de homens e não de leis.
Platão concebe na “República” a justiça como condição para uma vida feliz,
através da coletividade. Por isso, é necessário construir uma sociedade
igualmente justa – uma SOCIEDADE IDEAL que é constituída por três classes:
1. Trabalhadores
2. Militares
3. Governantes
Cada um ocupa uma classe a partir da sua vocação, pois para o filósofo, cada
um já nasceu predestinado a sua classe. Mas como saber quem ocupa cada
classe?
Platão divida a natureza humana entre corpo e alma, sendo o mais divino
depois de Deus, mas nem todas as almas são iguais, existindo 3 tipos de alma:
1. O EPITHYMIA – concentra-se na parte abdominal do corpo e essas
pessoas têm funções artesanais ou de trabalho manual: mais emotivas e
pouco racionais
2. O TYMOS – concentra-se no coração, estimula a ira e a coragem, por isso
estão predestinados às atividades militares (inclinação para a guerra)
3. O NOUS – busca ideias perfeitas, por isso têm uma inclinação para o
estudo e investigação, nomeadamente as ideias políticas de justiça, de
bem e virtude. Assim, eram os governantes e legisladores numa
sociedade ideal.
Platão conclui que o Rei-Filósofo é o mais apto para governar a república, por
ter uma alma racional e melhor conhecer a ideia de justiça. Ao mesmo tempo,
admite que deve existir um governo das elites dos “NOUS”.
N´A República”, Platão afirma que ao Estado compete a discriminação entre
indivíduos superiores e inferiores, o controlo dos casamentos, dos filhos e o
cultivo da Elite, com um modelo de ausência de direitos para com as massas,
mas não permite que sejamos injustos e violentos com os criados e escravos.
O seu propósito foi descobrir um modelo de governo da cidade funcionalmente
dirigido à busca da felicidade do indivíduo, permitindo que nela possa alcançar
a melhor vivência da sua vida privada, por isso concebe o absolutismo
paternalista do rei-filósofo.
Assim também, Platão concebe a ideia de que as mulheres apenas têm filhos
para o Estado e que neste governo elitista sobre uma massa “desprezível”, é o
rei-filósofo que terá a sabedoria de governar com justiça, pois é um chefe infalível
e acima da lei, colocando em prática a sua ideia de que “o governo de um homem
é preferível ao governo de leis”.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

ARISTÓTELES – O GOVERNO DAS LEIS – CONSTITUCIONAL


O Conceito de Constituição surge na Grécia com base no pensamento de
Aristóteles: o bom governo é o governo das Leis porque as leis são isentas de
emoções e paixões.
Apresenta a constituição e os fenómenos constitucionais como essenciais para
a limitação do poder político. A constituição serve para limitar a ação governativa
e salvaguardar os princípios primordiais do Estado de Direito democrático.
Critica o Comunitarismo Platónico e tem a ideia de que a política nasce da
própria pólis, que nasce da interação entre várias pessoas, vem da Oikos
(autoridade parental), mas onde prevalece a igualdade.
A cidade existe para assegurar a vida boa (ética), após o homem encontrar o
seu ápice político, pois o homem é um animal político.
Os membros da cidade de facto participam da sociedade, por isso, essa
participação política é naturalmente parte do que significa ser cidadão.
Para Aristóteles, o único governo justo é o governo das leis, pois a “paixão
transforma todos os homens em animais” e cega a razão, a justiça, a igualdade
e o direito. Para que haja um verdadeiro governo justo, as leis, “isentas de
paixões”, garantirão a razão e evitarão o risco de tirania, pois limitarão o
governante.
Apenas e unicamente a lei garante a justiça política na regulação das relações
entre os homens, pois o governante, aplicando sempre a lei, é o guardião da
justiça “e se é guardião do direito, também é da igualdade”.
Para Aristóteles, a cidade não deve ser discriminada entre indivíduos
superiores e inferiores, mas formada “a partir de várias aldeias” para atingir o
máximo de autossuficiência. A cidade existe por natureza e um homem sem
cidade está condenado a ser uma “peça isolada de um jogo”.
Nesse jogo conjunto, Aristóteles concebe a ideia de que a democracia é o
sistema em que governam as pessoas livres, existindo igualdade na alternância
entre quem manda e quem obedece, numa cidade que não é unificada, pois
“uma casa é mais eficiente que um indivíduo, a cidade mais do que a casa”.
Mesmo a ser contrário à discriminação entre “almas”, Aristóteles ainda entende
a escravatura como uma “instituição natural, pois, “de acordo com as leis da
natureza, há homens feitos para a liberdade e outros para a escravidão” e que o
Estado não pode cair nas mãos dos mais pobres, porque isso levaria à tirania
por puro desprezo às leis.
Filosoficamente, foi aquele que sistematizou e separou o conhecimento
filosófico da Antiguidade, escrevendo sobre diversos assuntos como a Ética,
Política, Ciência, Metafísica e Lógica.

Palavras-chave de cada autor:


Platão: VERDADE; ANTICONSTITUCIONAL; GOVERNO DOS HOMENS; REI-
FILÓSOFO; SOCIEDADE IDEAL; DIVISÃO SOCIAL.
Aristóteles: EXPERIÊNCIA; CONSTITUCIONALISTA; GOVERNO DAS LEIS;
GUARDIÃO DA JUSTIÇA; PÓLIS; DEMOCRACIA.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

CIVILIZAÇÃO GRECO-ROMANA
1. As questões colocadas na Grécia Antiga fizeram com que o ser humano
fosse o CENTRO DE TUDO:
à SÓCRATES: A essência do ser humano está na razão.
2. A questão da obediência: “Perante uma lei injusta o que devemos fazer?”
à 1º Resposta (Sócrates): Alegado de corromper a juventude, é
preso e condenado perante a possibilidade de escapatória, porem não
foge pois tem de obedecer a lei.
à 2º Resposta (Antígona): O rei ordena que Antígona não de
sepultura ao irmão morto, mas esta não obedece o rei e a lei.

REVELAÇÕES
1- Há limites na autoridade – o poder tem poder que se impõe sobre si;
2- O direito não se resume as leis escritas, está acima de todas as vontades;
3- Há liberdade de escolha perante a lei injusta;
4- No pensamento de Antígona estão 2 direitos:
4.1 DIREITO À OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA
4.2 DIREITO DA RESISTÊNCIA
3. A Democracia nasceu na Grécia
- Heródoto: pai da história (“O que se deve entender por Democracia?”)
. Igualdade de Direito
. A Força da Maioria (Vontade da Maioria)
. A Responsabilidade dos Governantes
- Tucídides: Há 3 condições para a Democracia:
. Que o Governo seja da Maioria;
. Que haja Igualdade Participativa na Política;
. Que haja Liberdade de Opinião (ausência de censura, mas com
responsabilidade civil/criminal).
Isto é, a democracia está ligada às ideias de legalidade e tolerância

Ideia de Proporcionalidade da Pena Face ao Crime


(Carta Magna – 1215)

- Platão: Defende um governo Autocrático que sugere uma presença


omnipotente do Estado, pois o governante é o filósofo rei que não está
limitado pelas leis.
4. Qual é o melhor governo?
- Dos Homens (Platão – Porque não estão limitados pela lei, pois são
sábios e sabem o que é melhor)
- Das Leis (Aristóteles – As leis não têm paixões, apenas definem regras
iguais para todos, sendo aplicadas pelos governantes. A base do conceito
é a Constituição, que serve para limitar, criar o Estado de Direito,
proporcionalidade, igualdade e equidade, isto é, uma justiça de caso
concreto, com leis iguais para todos).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

5. Liberdade Interior:
- Escola Estoica: A liberdade interior é comum a todos os seres humanos.
Foi nesta escola que o pensamento de que os escravos também eram
seres humanos e homens com a liberdade de pensamento teve maior
visibilidade. Para eles havia liberdade e igualdade naturais.
- Séneca e Cícero: Propõem um governo misto que não se suprime, mas
garante a propriedade e a justiça (O Estado é a melhor garantia).

6. Relação entre a Lei Divina vs. a Natural vs. a Escrita:


6.1- Através da razão humana o ser humano participa do divino
(Compreende, capta e participa).
6.2- Há Lei Natural comum a todos, imutável e infindável (Lei
Universal/Intemporal – pensamento histórico em nós por Deus).

7. A Igualdade: A Democracia pressupõe igualdade:


. Aristóteles: aproxima a Igualdade e a Equidade.
. Tucídides: Igualdade de Participação Política
. Escola Estoica: Os Escravos também são seres humanos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A REVOLUÇÃO JUDAICO-CRISTÃ
à ANTIGO TESTAMENTO – VERTENTE JUDAICA apresenta três grandes
contributos para o surgimento do fenómeno constitucional:
1- O ser Humano é criado à imagem e semelhança de Deus:
É o por isso que temos dignidade enquanto pessoas humanas, pois há uma
validação divina. Esta conceção do judaísmo apresenta-nos o fundamento
teológico da dignidade humana.
[Kant vai procurar libertar, através da Ética deontológica e do imperativo
categórico o Homem da ideia de dignidade teológica, que se assume como
irracional e metafísica];
2- A história do Antigo Testamento é a história do povo judeu:
Nómades que andavam em busca da sua terra prometida.
Ao longo desta busca acaba por formar-se o estado judaico, tem a liberdade
como valor fundamental para o próprio. No génesis, a liberdade aparece como
um conceito tão forte e de tamanha importância que Deus impôs limitações no
jardim de Éden, a Adão e Eva, com o fruto proibido. Ao incorrerem em pecado,
incorrem em desobediência. A liberdade assume assim uma preponderância
nuclear do pensamento judaico-cristão;
3- A história de Abel e Caim:
É um componente moralista pedagógico, principalmente na resposta que Caim
dá a Deus: “por acaso sou o guarda do meu irmão?”. Esta interrogação retórica
é a chave do Direito Social e do Estado de Direito Democrático.
Resume-se à postura de um egoísmo do homem em oposição à possibilidade
altruísta e de solidariedade – somos todos responsáveis pela existência do outro.
O valor da solidariedade é uma exigência do Estado Social, pois a sua
existência deve-se à proteção dos mais desfavorecidos (que também inspirou o
Wellfare-State e o New Deal americano a partir da Escola Keynesiana,
personificada pelo próprio John Keynes). No fenómeno constitucional, o Estado
Social inspirou a normatização da solidariedade.
à NOVO TESTAMENTO – VERTENTE CRISTÃ: A liberdade exige dignidade.
Há uma evolução do pensamento e agora a dignidade presente no ser humano
exige liberdade, o que são tidos como direitos inatos, adquiridos por sermos
pessoas, mesmo que contra o Estado, por isso o mesmo está à disposição do
cidadão e não o contrário.
- Jesus Cristo morreu por todos, por isso somos todos iguais.
- Há uma divisão entre os poderes: SECULAR Vs. ESPIRITUAL.
à Santo Agostinho: “o que distingue o Estado de um bando de ladrões é a justiça”
. A liberdade é o próprio livre-arbítrio;
. A justiça é o critério de ação dos governantes
(“o que distingue o Estado de um bando de ladrões é a justiça”).
à São Tomás de Aquino
. Natureza única de cada pessoa (Dignidade: colaborador de Deus na criação);
. O propósito do poder é o bem comum da coletividade;
. Devemos resistir as leis injustas, há a admissão da desobediência por um
critério de proporcionalidade do resultado;
. É a raiz da igualdade entre homem e mulher.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

à Marcílio de Pádua:
. Foi a favor da Rutura do Estado e da Igreja e pôs em causa a res publica
cristiana e a autoridade do papa, por meio do reconhecimento da liberdade
religiosa como um direito que está na base do pensamento democrático.
. Admite que a república existe para que as pessoas tenham uma boa vida,
com dignidade e para isso estabelece uma ideia de solidariedade,
. O poder da república está limitado pela lei (como Aristóteles), pois a lei deve
ser a expressão da maioria do povo.
Com este pensamento entramos na temática dos Descobrimentos:
Quando os portugueses e os espanhóis depararam-se com a questão dos índios
das américas, constatam que surgem problemas civilizacionais, mas também de
legitimidade do uso da força e do direito.
Os grandes protagonistas são:
à Bartolomeu de las Casas: “Todos nascem livres, e porque nascem livres,
não há ninguém escravo por natureza”.
. Condena todas as crueldades espanholas contra os índios da américa,
porque para ele não há razões culturais ou civilizacionais que possam legitimar
a escravidão o subjugo de outro povo.
à Francisco de Vitória: Ao responder a diversas perguntas, inicialmente
interrogou-se com o problema dos espanhóis que queriam batizar os nativos a
força, por isso, a questão que colocou foi: “Será legítimo impor a fé?”
. Ele responde que não! Pois a fé é parte da liberdade religiosa.
Outra pergunta que veio a responder foi: “Os índios devem reger-se por leis
próprias ou pelas leis espanholas?”
. A sua resposta foi que acima das leis de cada estado, há normas que são
aplicadas aos indivíduos, independentemente da sua nacionalidade e a isso
chama-se Direito Internacional Comum Público;
à Francisco Suárez:
. Reafirmar a ideia de há uma ordem jurídica acima dos Estados, o Direito
Internacional. É um dos pais do Direito Internacional Público e Democrático.
. Para ele, a lei escrita serve para proteger os direitos e não para ofendê-los.
. Condena as guerras injustas e admite guerras justas, como é o caso da
invasão da Rússia a Ucrânia.
. Como jurisprudente afirmava que há um direito de resistência face aos
governos ilegítimos e tiranos.
à Padre António Vieira: Denunciou os portugueses que mataram os índios
brasileiros com o objetivo de impor a cultura, religião e civilização a força.
. Conclusão da Revolução Judaico-cristã: Há uma contradição
estrutural entre a fé professada e a prática da mesma, por isso viveu aprisionada
porque os governantes declaravam-se cristãos, mas não praticavam a sua fé,
por isso tomavam decisões como:
. A admissibilidade e legalidade da escravatura (mesmo a ser baseada na
desigualdade e contra a liberdade – princípios bíblicos);
. A desigualdade perante a lei (até 1820, era um direito que a pena variasse
consoante quem cometia o crime, por isso, nobres tinham penas reduzidas);
. A existência de penas cruéis e desumanas (tortura) que iam de encontro à
ordem da revolução judaico-cristã.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A IDADE MODERNA
DICOTOMIA LIBERDADE VS. AUTORIDADE
CONTRADIÇÃO DA IDADE MODERNA: LIBERDADE OU ABSOLUTISMO?
(133-134)
A idade moderna resume-se numa única e grande contradição constitucional:
Uns defendem a liberdade (são personalistas, centrados na pessoa Humana),
outros são a favor da autoridade, (assumindo-se a favor do estado). A
contradição existente entre um poder político confessional, nos termos de uma
matriz cristã, e uma prática política que continuava a negar alguns dos valores
mais sagrados de cada pessoa humana reconhecidos pelo Cristianismo, não
pode deixar de encontrar um significativo contributo nas ideias de soberania e
de Estado desenvolvidos durante a Idade Moderna e que conduziram na Europa
Continental a um modelo absolutista do poder real. (Enquanto na Europa
dominava o absolutismo régio, dominava no reino unido uma emancipação dos
cidadãos, pela liberalização do Estado e do Poder político).
Surge nesta perspetiva um primeiro autor: Jean Bodin.
Analisa-se a teoria e a ideia da soberania. Assume a ideia de que não há
nenhum poder superior ao poder do Estado: põe um ponto final na respublica
cristã, rejeitando a supremacia e a hegemonia do papa no controlo dos Estados
privados. Assume-se que não há nenhuma força superior à do Estado, muito
menos a de um poder centralizado num ente corpóreo que professa ideários de
fé. Se na perspetiva externa não há nenhuma força superior à do Estado, na
perspetiva interna não há nenhuma força superior à do Rei e da sua vontade
régia – ideia da soberania que abre caminho ao absolutismo régio.

GIOVANO PICO DELLA MIRANDOLA (135-136)


É um dos mais notáveis representantes do humanismo renascentista, discorre
numa perspetiva de “valorização e promoção dos valores do Homem”
Tem uma Postura antropocêntrica: na qual o homem é o vértice de toda a
realidade e saí surge a sua dignidade.
Para Pico della Mirandola o homem é capaz de escolher o seu próprio destino,
sendo a única criatura capaz de ser dotado de uma capacidade para se
autodeterminar, pelo facto de Deus o ter condenado à liberdade, dotado de uma
capacidade soberana de se determinar segundo o seu próprio arbítrio.
Assume uma síntese entre a razão e a liberdade:
Razão + Liberdade = DIGNIDADE.
Esta conceção é humanista e precursora do Existencialismo defendido por
Sartre no século XX (o homem é o que dele próprio fizer). Firmada nos termos
expostos a conceção de Pico della Mirandola na sua obra ORATIO DE HOMINIS
DIGNITATE, a pessoa humana surge dotada de valor próprio que decorre de
razão e da liberdade da sua vontade, gozando em consequência, de uma
dignidade que surge como qualidade de valor natural, inalienável e
incondicionado.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

NICOLAU MAQUIAVEL (136-139)


Autor relevante para a modernidade do constitucionalismo é Maquiavel.
Assume uma postura radicalmente oposta à de Pico della Mirandola
(humanista). Enquanto Pico della Mirandola professa uma centralização e
relevância na pessoa humana e na sua dignidade, conjugando liberdade (ou
livre-arbítrio) com racionalismo, Maquiavel centra no Estado e na sua autoridade,
o debate constitucional.
Aborda a ideia da razão do estado. Em suma, propõe que podem existir
circunstâncias excecionais que justificam, em nome da coletividade, do interesse
comum e de autoridade do estado, a prática de normas inconstitucionais.
A ideia de razão de estado significa que o Estado tem interesses que tem de
prosseguir em nome do bem da coletividade o que lhe permite escapar a
algumas regras e normas.
Maquiavel defende que a crueldade pode ser boa para reforçar o poder do
governante. Afirma que os fins justificam sempre os meios (por isso é que reitera
que a crueldade pode ser boa). Afirma também que a propriedade é um bem
mais precioso que a própria vida: “os Homens esquecem mais facilmente quem
lhes matou os pais do que quem lhes roubou a propriedade”, neste sentido, o
Direito preocupa-se mais em acautelar a propriedade do que a vida (inversão da
ordem axiológica).
Quando existe uma ordem jurídica que protela mais de forma pivotal o
axiologismo da propriedade do que a vida, então NÃO é um estado de Direito.

CONTRA-DOUTRINA DE MAQUIAVEL: ERASMO DE ROTERDÃO (139-141)


O autor oposto a Maquiavel na doutrina que defende é Erasmo de Roterdão.
Afirma, em linhas genéricas, que um governante (cristão) tem limites na sua
ação. Tais limites podem ser limites jurídicos e/ou limites éticos. A descoberta da
ética como limite do governante marca uma transição axiológica evidente- nem
tudo o que a lei proíbe esgota aquilo que se deve fazer.
A ética não é normatizada por lei. Ela existe na consciência dos governantes,
no uso da sua discricionariedade. Assim, a ética assume-se como o limite da
ação política dos governantes. Diz-nos, por exemplo, que um governante não
pode ser simultaneamente titular de negócios privados e negócios públicos, na
mesma área.
A ética pode ter acolhimento ou não em normas jurídicas (exemplo: código de
conduta do XXI governo Constitucional da República Portuguesa, presidido pelo
Primeiro – Ministro António Luís Santos da Costa).
Outra referência relevante e importante em Erasmo de Roterdão é a seguinte:
“quem faz as leis deve ser o primeiro a cumpri-as”. Todos os Homens são
responsáveis pela Lei. O legislador não fica isento de as cumprir. Até à aplicação
executiva desta ideia de Erasmo de Roterdão o Direito, sendo classista e elitista,
não era aplicável ou subsidiário para com os poderosos, por isso, os homens
não eram todos iguais juridicamente e constitucionalmente.
Erasmo de Roterdão afirma até que só é aplicável a execução e exigência do
cumprimento cabal das leis pelos destinatários se o legislador for o primeiro a
cumpri-las. O cumprimento da lei pelo legislador é exigido para que seja dotado
de força moral para obrigar à obediência da lei pelo cidadão comum.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A SÍNTESE PROTESTANTE: O CONTRIBUTO DE LUTERO (141-143)


Não é coerente dizer que o absolutismo monárquico europeu adveio do
Protestantismo, é mais tangível o argumento de que a Igreja Católica era
absolutista do que as Igrejas Protestantes, como é possível observar no exemplo
de França durante o século XVI (16).
Parte da burguesia era calvinista, enquanto o Estado era CATÓLICO. A fim de
solucionar o problema, Henrique III, que era católico, aliou-se a Henrique de
Bourbon, líder dos huguenotes (protestantes calvinista). Após a morte do rei, em
1589, Henrique de Bourbon, para assumir o trono foi obrigado a converter-se ao
catolicismo, ficando conhecido como Henrique IV.
Os protestantes vêm procurar fazer a síntese da conceção advogada por
Martinho Lutero. Vem-se determinar que deve existir:
A) Liberdade religiosa (como outros pensadores tal como Marcílio de
Pádua assume-se contra a Respublica e contra a hegemonia do papa).
O rei deixa de estar submetido ao papa, por inerência o Estado deixa
de estar submetido à vontade do papa (rei enquanto chefe de estado);
O rei só tem de responder a Deus e é dotado de poder divino. Desta
forma é evidente e forçoso perceber que não há limites para a sua
ação, o que poderia conduzir ao absolutismo régio (em vez de Direitos
de todos existem privilégios de alguns).
B) Recuperam as características básicas do Direito Romano, afirmando
que é mais importante o património do que a vida.

SENTIDO GERAL DO DIREITO ANTERIOR AO LIBERALISMO (143-148)


O direito anterior ao liberalismo caracteriza-se por 3 pontos de referência:
à A desigualdade perante a lei (o direito garante privilégios de alguns e não o
direito de todos – mesmo a magna carta de 1215);
à A escravatura é a expressão máxima da desigualdade e ausência da
dignidade das pessoas (1773 Portugal / 1888 Brasil);
à A importância de o património ser superior a importância da pessoa humana.
O Direito Constitucional limita os poderes daqueles que governam, aqueles que
têm mais poder do que nós.
Chegamos assim ao berço do constitucionalismo formal.
Derivamos nas conceções de Thomas More, Descartes e Hobbes.

A UTOPIA DE MORE E A GÉNESE DA MODERNIDADE (160-164)


1- Tomas More: Governante Britânico que recusa aceitar o divorcio do rei, a
rutura com o papa é executado, escreve um livro “A Utopia” e contribui para
a modernidade constitucional:
1.1- Critica a injustiça das sociedades do seu tempo, o que faz com que
possa ser visto como o precursor do socialismo e da doutrina social da
igreja e Rousseau (O direito é o instrumento de domínio e de repressão –
Marx dirá o mesmo no século XIX); Este livro e a sua conceção fazem
uma crítica severa à injustiça e à iniquidade.
1.2- A ideia de que na sociedade utópica não há propriedade privada;
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

1.3- Há um princípio de igualdade e solidariedade entre todos os seus


membros, pois o seu fim é o bem-estar de todos, para isso, é o Estado
que tem uma forte intervenção pública;
Afirma que o Direito e a ordem jurídica constituem domínios de repressão
(ideias que são reproduzidas por Marx). Este modelo da utopia é um
modelo ideal e irreal da sociedade. (reforço dos poderes de autoridade
em detrimento da minoração da liberdade e da autonomia privativas).
1.4- A importância de o sublinhar da liberdade religiosa, resolvendo o
conflito entre católicos e protestantes e a intolerância religiosa.
More propõe os conceitos de justiça e Estado de Direito Social, revolucionando
o constitucionalismo, pois imprime-lhe uma evidência e necessidade universais
e suprapositivas, faz uma forte crítica ao egoísmo e individualismo que orientam
os princípios capitalistas.
Em suma, é defendido na Utopia de More (como matriz para o
constitucionalismo Moderno segundo esta perspetiva) uma normatização do
Estado Social, com a garantia dos direitos fundamentais, para ocorrer a
prossecução de um estado justo e equitativo.
Nega a possibilidade de existir propriedade privada, pois para More o Homem
nasce bom mas é a propriedade privada a origem de todas as guerras e
problemas.
A conceção de More, sendo “utópica”/idealista, está plasmada na organização
de uma sociedade preditiva, maturada por uma forte intervenção da autoridade
comum (estado), reforçando o papel do último em relação à liberdade. É
protelada uma ação geral comum que limita a liberdade dos cidadãos como
forma de garantir a vida boa pelo estado (autoridade).
Outro princípio estruturante que já advém da antiguidade é o da
proporcionalidade entre o castigo e a dimensão do delito.
Admite-se a liberdade religiosa e a liberdade interior de consciência pois é
fisicamente impossível limitá-las contudo esta conceção, sendo utópica
aproxima-se muito do comunismo marxista bolchevique, o que redunda em
ditadura.
HOBBES: UMA MODERNIDADE ENTRE DIREITOS INALIENÁVEIS DO
HOMEM E UM PODER AO SERVIÇO DA SEGURANÇA? (164-170)
Hobbes vai assumir uma postura constitucional diferente de More. Hobbes vai
debater-se com o conflito entre a garantia dos direitos inalienáveis do Homem e
a necessidade de o estado controlar a mesma, em defesa do valor supremo da
segurança.
Hobbes vem propor que o homem tem direitos fundamentais, materiais e
inalienáveis, decorrentes da sua condição humana, adquirida aquando do
nascimento (Direitos Constitucionais e Civis). Faz da justiça, equidade e honra a
síntese de todo o tipo de virtudes. A lei natural só deve vincular a consciência
dos homens e não ser normatizada juridicamente, pois é universal.
Todos os Homens são iguais por natureza (estoicismo grego). Postula o
princípio da legítima defesa – em caso de ameaça temos direito de nos
defendermos, para salvaguardar a nossa integridade e dignidade.
Afirma que a liberdade é natural ao ser humano e que deve ser providenciado
um “mínimo de existência” para as pessoas humanas (adotado em princípios
constitucionais a partir do Sec. XX).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Hobbes vai valorizar mais substancialmente a autoridade e minorar a


liberdade privativa, como resposta ao debate e conflito entre a necessidade de
ser garantida a segurança e assegurar os direitos constitucionais e civis dos
cidadãos.
Hobbes parte de uma visão pessimista das pessoas e diz que o homem é mau
e conflituoso por natureza, o que leva ao entendimento de que as guerras e
conflitos surgem da génese malévola do homem.
Cada um dos homens deve abdicar de alguns dos seus direitos para reforçar
o poder do estado, no controlo, na prevenção. Por isso, afirma que o ideal é a
garantia da segurança em detrimento da liberdade.
Os direitos inalienáveis e fundamentais (portanto constitucionais) que Hobbes
defende são:
(i) Todos os homens são iguais (por natureza). A lei natural é a de consciência,
sem praxis normativa no ordenamento jurídico pois é universal e suprapositiva,
dotada de inteligibilidade, assim, justifica-se a aplicação uniforme da lei;
(ii) Todo o homem tem o direito de se preservar da dor e da morte (pois tem
direito à integridade humana). É direito natural que ele salvaguarde o seu corpo
e a sua integridade;
(iii) Legítima defesa – o homem é impelido a proteger-se contra a possibilidade
da sua destruição;
(iv) Desobediência à lei injusta – como garantia dos direitos fundamentais da
pessoa humana, tudo o que é abusivo, contra a lei natural, contra os designados
valores inalienáveis é passível de ser desobedecido pelo homem;
(v) Todo o homem tem direito à defesa;
(vi) 5ª Emenda da Constituição dos EUA: “ninguém pode ser obrigado a acusar-
se a si mesmo por efeito de um pacto”;
(vii) Propriedade privada (More na sua utopia era contra a propriedade privada);
(viii) Integridade física, dignidade humana e mínimo de existência;
(ix) Legítima defesa;
(x) Garante a existência da liberdade religiosa e liberdade interior e de
consciência;
(xi) Liberdade genérica, autonomia da vontade – o que o homem faça de acordo
com a sua vontade nunca pode ser considerado como uma injúria para o próprio.

A MODERNIDADE FILOSÓFICA: A DIMENSÃO RACIONAL E LIVRE DO


“EU” EM DESCARTES (170-175)
Descartes centra a reflexão na subjetividade do eu. A racionalidade e a
importância da liberdade são matrizes para o constitucionalismo. É uma
conceção precursora do existencialismo, pois Descartes afirma que devemos
cultivar a razão como meio de avançar no conhecimento da verdade. Diz também
que o conhecimento do seu ser não depende das coisas – advoga o
conhecimento racional, apriorístico, metafísico e imaterial.
Matriz racional ao fenómeno constitucional: este é legitimado pela via da
evidência e que o homem foi concebido à imagem e semelhança de Deus,
aproximando-os, o que permite a possibilidade de se garantir a liberdade e a
liberdade de vontade. A liberdade mostra-se essencial para a dúvida metódica.
O constitucionalismo moderno é, pode dizer-se de raiz cartesiana e o
entendimento de um conceito concreto de cada ser humano, enquanto “eu” que
se relaciona também com o “outro” sendo atinente à procura do bem-estar geral
de todos os homens – perspetiva utilitarista.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A Contra Corrente do Constitucionalismo britânico: Assinalar a ideia de que


o constitucionalismo britânico estava em contracorrente/sentido contrário da
Europa Continental:
- Magna Carta (1215): há uma limitação do poder do rei, ou seja, nobreza e
clero impuseram uma limitação ao poder do rei. Estamos perante um limite ao
poder real, curiosamente, se olharmos para a europa continental, no início do
século XIII, temos a afirmação da centralização do poder real. Enquanto no
Reino Unido limitam o poder, na Europa Continental, caminhava-se para a
centralização do poder real.
No século XVII (1640), com a Revolução inglesa, procurou-se limitar o poder
do rei através da hegemonia do parlamento. Por outro lado, na Europa
continental, no séc. XVII, verificaram-se as bases do que seria, no século XVIII,
o absolutismo régio.
Reino Unido – Democratização
Europa Continental – Absolutização

Revolução inglesa:
- Igualdade de direitos pela igualdade universal de votos (sufrágio universal);
- É um governo assente num acordo/consentimento, um governo baseado num
princípio democrático;
. Parlamento (Câmara dos Comuns): Sufrágio Direito
. Parlamento (Câmara dos Lordes): Legitimidade da nobreza/aristocrática
. Coroa: Legitimidade real
Traduzem a ideia de um governo misto, onde uma das
suas componentes não elimina as outras
(há eliminação no constitucionalismo Francês).
- Separação entre o Estado e a Igreja, pois o monarca é a autoridade máxima
anglicana (Henrique VIII rompeu as relações com a igreja católica para divorciar-
se de Catarina de Aragão (na europa há rotura com a santa sé na Revolução
Francesa e em Portugal com a 1º República em 1910)).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A pessoa humana e o contributo liberal (179-180)


Há quatro alicerces históricos ao liberalismo:
1. Igualdade de todos perante a lei;
2. Liberdade de pensamento e ideias;
3. Propriedade (privada);
4. Limitação do poder.
O Direito a Segurança aparece com a Revolução Francesa de 1789
Spinoza (180-182)
A vontade democrática da sociedade: A vontade do povo é determinante para
a vontade legislativa, para a prossecução dos fins do estado.
A vontade democrática garante a prossecução da liberdade, da justiça, da
propriedade e da segurança, que estão relacionadas.
A razão é o instrumento da liberdade do homem: “todos temem as mesmas
coisas e todos contam a mesma garantia de segurança e razão de viver”.
Pufendorf (182-185)
Vem associar a ideia de liberdade à ideia de dignidade. Esta ideia era
revolucionária pois, à época, não era plasmada a igualdade de todas as pessoas.
Apesar de ser Deus o autor da Lei Natural, é através da razão humana que se
revela o Direito Natural (Razão é inata).
Todos os seres humanos são iguais em liberdade. A liberdade é uma condição
decorrente da dignidade que têm, pela condição de pessoas humanas iguais
pois partilham todos a mesma natureza humana. Todo o Homem é igual em
dignidade, seja o mais influente ou o mais miserável (igual condição humana).
Vem defender também que a sociedade existe para bem do indivíduo, sendo
que é este que dá origem à sociedade, por isso, o homem não pode tirar a sua
própria vida, pois “o homem não nasceu exclusivamente para si mesmo”.
Há direitos inalienáveis (que mais tarde se chamarão direitos constitucionais):
não temos liberdade para dispor da nossa integridade física.
A nossa autonomia de vontade (“livre-arbítrio”) tem limites que se prendem
com a salvaguarda do superior interesse da vida.
John Locke (186-188)
Defende o contratualismo social: o homem fica vinculado ao Estado por
contrato tácito, referente ao usufruto das condições que este lhe providencia.
Defende que a primeira razão de ser e a mais importante também da existência
da sociedade e do estado é a existência e a proteção da propriedade privada,
vida, liberdade, integridade do corpo e proteção contra a dor.
Hobbes aposta na segurança para fundamentar e legitimar a autoridade do
estado em detrimento da liberdade privativa civil.
Locke, por outro lado, defende a propriedade privada como centro para a
existência e vigência do Estado Social. Locke revoluciona o constitucionalismo
pois é o primeiro autor a falar de “Direitos do Homem”. Abandono do militar.
A lei serve para limitar o poder e para defender a liberdade privativa e a
propriedade privada. A lei fixa uma fronteira e o poder, por isso, o poder político
não a pode ultrapassar. Os direitos das pessoas são as limitações do poder.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Montesquieu (189-191)
Transmite-nos o pensamento chave de todo o constitucionalismo – para se
garantir a liberdade privativa dos cidadãos há que dividir o poder, de forma a
limitá-lo e controlá-lo. É na divisão do poder que encontramos a garantia para a
liberdade, justiça e segurança.
Defende assim a separação tripartida dos poderes políticos: executivo,
legislativo e judicial. A limitação de poder pressupõe a existência de veto. Há a
ideia de freios, contrapesos e equilíbrios no sistema jurídico.
“A liberdade traduz o direito de fazer tudo o que as leis permitem” – apenas
existem nos “governos moderados”, pois pressupõe a limitação do poder.
É contra a escravatura, pois esta mostra-se contrária ao Direito Civil e Natural.

Voltaire (191-195)
Partidário de um modelo político absolutista, formula que a razão é o que nos
permite distinguir o bem e o mal, estando o senso comum no fundo do coração
de todos. A liberdade é um dom conferido por Deus ao homem.
Cada um deve ser livre de pensar e de professar a religião que entender e “não
devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem”. Assim,
a liberdade de opinião e a liberdade de consciência expressam um interesse
geral da humanidade: a liberdade de opinião, pessoal e direito de propriedade.
A tolerância é o pressuposto da estabilidade do governo, configurando-se
como um direito de justiça e a primeira lei da natureza. É contra a pena de morte,
a prisão perpétua, a transmissão de penas, a inquisição e a tortura.
O homem nasce com inclinação para o domínio, sendo a riqueza, o prazer e a
preguiça limitadas.
Acomoda-se à desigualdade, reconhece que as necessidades geram
dependências entre os homens e a sociedade está dividida em duas classes:
oprimidos e opressores (precursor do marxismo), sendo a luta entre elas a
explicação de certos momentos históricos.

David Hume (195-198)


A liberdade pressupõe que o poder se encontre repartido entre diversos
órgãos, mesmo sendo pessimista neste contexto, apesar de todos os
contrapesos e cautelas dos textos constitucionais.
“Não temos outra segurança para as nossas liberdades e propriedades que a
boa vontade dos nossos governante: isto é, nenhuma”. Porém, reconhece a
centralidade decisória à utilidade: a utilidade pública é a única origem da justiça,
nela residindo o fundamento das leis relativas à propriedade.
Reconhece que nas monarquias civilizadas “governam as leis e não os
homens”:
Rousseau (198-201)
Dá prioridade à igualdade sobre a garantia da propriedade privada. É a antítese
de Locke. Para este autor o essencial é a igualdade e a liberdade. É defensor de
um modelo esquerdista burguês. O homem é bom, o que o corrompe é a
desigualdade adjacente da propriedade privada (ideia recuperada de More).
Soberania popular, vontade geral do povo como garantia dos objetivos
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Humboldt (201-203)
Vem dizer que a verdadeira garantia da liberdade não passa pela separação
de poderes (como Montesquieu) mas sim pela criação de um estado mínimo.
O quanto menos um estado existir e intervir será melhor para salvaguardar a
liberdade dos cidadãos. Defende a postura do abstencionismo do Estado
(conceção defendida pelo GOP norte-americano). Está na génese do modelo
constitucional liberal (política da maior autonomia e preponderância privada face
ao controlo do Estado).
Deriva para o debate entre a privatização e estatização, entre austeridade ou
justiça social. Defende em suma que a garantia de liberdade existe com menos
estado.
KANT (203-206)
Vem revolucionar por completo todo o paradigma constitucional.
Kant protela três valores essenciais:
a) Liberdade;
b) Dignidade;
c) Igualdade.
Vem recuperar as bases não teológicas (pois Kant é racionalista). Vem
defender que todos os Estados devem ter o Direito e Constituição como
alicerces.
Responde à questão: “Será que se deve sempre obediência à lei?”
Afirma que sim, respeitar a lei e a constituição é respeitar o
estado de direito e a organização da sociedade.
Vem paradoxalmente defender que a liberdade, que expressa a autonomia de
vontade, é relevante para o fenómeno constitucional e jurídico.
O ser humano não é uma coisa – é sempre um fim em si mesmo. O ser humano
nunca pode ser usado como meio. Pois ele não é uma coisa desprovida de
dignidade.
Kant vem dizer que a dignidade é aquilo que não tem preço, não é propriedade.

A MATERIALIZAÇÃO DO LIBERALISMO
PROTAGONISTAS E A PRÓPRIA MATRIZ IDEOLÓGICA DO
CONSTITUCIONALISMO LIBERAL

THOMAS PAINE (227-229)


Está ligado ao constitucionalismo dos EUA. O seu contributo:
a) Há direitos que são naturais ao ser humano (inerentes à sua
condição humana);
b) O poder existe para prosseguir determinados fins- a vinculação
teleológica do poder (o poder visa a justiça).
Todos os homens nascem livres e são iguais – está presente o entendimento
que há uma igualdade de natureza das pessoas.
Introduz a ideia de que cada Homem é um proprietário do governo. Cada
homem determina, pelo voto, quem são os governantes (1 homem = 1 voto).
O fundamento dos governos está no respeito pelos direitos. A soberania
pertence à nação, ao todo, à coletividade. Terá influência na DDHC de 1789.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

STUART MILL (229-233)


Visa sublinhar a importância da liberdade individual e a importância da
limitação do poder (tema recorrente do constitucionalismo britânico). Há uma
liberdade de consciência, de opinião inerente a todas as pessoas (estoicismo) e
de liberdade de associação (criar uma sociedade comercial, civil, etc) mas
também pressupõe o surgimento dos partidos políticos, na sua vertente pública
institucionalizada.
Sublinha também que não há liberdade para dispor da liberdade. Ela é um
valor tão importante que nenhum de nós pode quebrar a liberdade que lhe é
inerente (nega a escravatura). Ninguém pode renunciar a sua liberdade.

BENJAMIN CONSTANT (233-237)


Defende duas ideias centrais – A democracia tem limites
A) Os direitos individuais são o limite à soberania do povo e são também à
autoridade. Significa que os direitos das pessoas são o limite à
democracia, os segundo o entendimento de que a vontade de todos nunca
pode prevalecer sobre o respeito pelas liberdades e direitos individuais.
(ex: aprovação em referendo de genocídios- é ilegítimo).
A dignidade humana tem precedência e prevalência sobre a vontade
popular. Prevalência dos direitos individuais sobre a maioria;
B) Limitação da autoridade pelos direitos individuais. Vem colocar este
entendimento com clareza – há uma liberdade do séc. XIX e direitos
individuais, mas também há direitos de participação política.
Uns estão subordinados aos outros.
Como é que tudo isto se materializa?
1º momento: Na origem da normatividade jurídica do constitucionalismo temos a
magna carta.
DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE VIRGÍNIA – 1776
(237-238)
Resulta o entendimento que os homens são livres e independentes. Há direitos
inatos. A importância do governo orientado para o bem comum (S. Tomás de
Aquino). Princípio da separação de poderes.
DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA – 1776
(239-240)
Se um governo desrespeita princípios fundamentais então o povo está
legitimado para se insurgir contra esse governo. É um ato de rutura entre a antiga
colónia e o reino unido.
Cinco princípios nucleares da nova ordem política:
1. Igualdade;
2. Deus dotou os homens de Direitos Inalienáveis;
3. Direito à vida, liberdade, busca da felicidade são inalienáveis;
4. Governos são para assegurar os direitos inalienáveis e o seu poder
resulta do consentimento dos cidadãos;
5. Sempre que um governo desrespeita tais propósitos, o povo tem o direito
de revolta.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO –


1789 (240-242)
Foi o 1º produto jurídico da revolução francesa.
1. Liberdade;
2. Propriedade;
3. Segurança;
4. Resistência à opressão.
Afirmação do direito à resistência à opressão. Advém do modelo norte-
americano.
ADIANTAMENTOS À CONSTITUIÇÃO DOS EUA (1789-1791) –
Bill of Rights (242-243)
a) Direito de reunião e o direito de petição (apresentação de pedidos às
autoridades);
b) 5ª EMENDA – Ninguém pode ser forçado a incriminar-se – direito a legitimante
recursar responder;
c) Cláusula Aberta – para além dos direitos fundamentais que estão inscritos na
constituição, podem existir outros direitos fundamentais ao nível do direito
ordinário – não são apenas criados ao nível da constituição (abertura da
constituição a outros direitos fundamentais) – princípio da não tipicidade dos
direitos fundamentais.
CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1793 (243-246)
Nunca vigorou, mas a matriz soviética baseou-se nesta. É a constituição que
consagra o pensamento de Rousseau.
Há 5 direitos fundamentais com esta ordem:
1. Igualdade;
2. Liberdade;
3. Segurança;
4. Propriedade;
5. Direito à insurreição (contra a tirania dos governos – recuperado em 1976
na CRP).
É a primeira constituição a consagrar direitos sociais – são tanto mais
garantidos quanto menor for a intervenção do estado – conferem-nos a exigir ao
estado prestações.
Os direitos sociais são tanto mais garantidos quanto maior for a intervenção do
estado. Estava consagrado o direito à subsistência (mínimo de vida), direito à
instrução).
O direito à instrução na CRP plasma o ensino a ambos os géneros.
CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1848 (248-250)
A afirmação do bem estar como fim, como função do estado. O estado tem
como base a família, o trabalho, a propriedade e a ordem pública.
- É a primeira constituição a abolir a escravatura.
- Abolição da pena de morte por convicção política.
- Primeira a proibir a censura à imprensa.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Quais são os grandes alicerces do liberalismo? (250-253)


1º) Importância da liberdade, propriedade e segurança;
2º) Limitação do poder através da separação de poderes;
3º) Interdependência entre a vontade da coletividade e a vontade legislativa do
Estado – o parlamento é a síntese da coletividade (quando um deputado vota,
vota a coletividade), é a principal instituição constitucional do estado de direito;
4º) Igualdade de todos perante a lei.
A Importância da Democracia (253-265)
Desenvolvido o pensamento na conceção de Marcílio de Pádua, na conceção
do Presidente Lincoln da democracia e governo do povo, feito por ele e para ele;
A vontade geral não deve ser limitada – Rousseau opõe-se à separação de
minorias, a minoria está sempre errada (democracia não-democrática);
A vitória do modelo democrático: vitória em 1945 com a 2º Guerra, vitória do
modelo democrático anglo-americano pelos aliados contra os Totalitaristas.
PODER CONSTITUINTE: Poder de preparar, elaborar e aprovar uma
constituição. É o poder da soberania da nação.
ESTADO REPRESENTATIVO: Princípio da representação política.
1. Eleição
2. Mandato (Comissão)
3. Controlo (Fiscalização) – publicidade dos parlamentos
à Democracia Americana de Tocqueville – “Da Democracia na América”:
Analisa a influência da democracia nas instituições e ideias norte-americanas.
Tocqueville assinala a importância da colonização britânica, pois a liberdade, de
consciência e religiosa, que é verdadeiramente aplicada naquela sociedade,
advém de uma concessão cristã de liberdade divina e igualdade de Protestante.
Nesta democracia, o povo participa por um sufrágio que não é censitário e a
instrução primária está ao acesso de todos e os pais são obrigados a enviarem
os filhos para as escolas públicas.
A ideia e vivência do bem-estar material individual é uma característica desta
sociedade. Tocqueville sublinha que se houver uma Revolução, ela virá dos
negros escravos, não das classes médias, pois esses são tidos como desiguais.
A SOCIEDADE AMERICANA ESTÁ ASSOCIADA A:
1. Democracia – nega a aristocracia e os privilégios;
2. Liberdade;
3. Instrução;
4. Bem-estar.
A diferença desta sociedade está na igualdade divina trazida pelos puritanos,
baseados no protestantismo – “não há liberdade sem o apoio da igualdade”.
Retomando a ideia de Hume de que a liberdade de impressa é um pilar da
sociedade, a censura é tida como o perigo absoluto à soberania do povo.
Com um sistema eleitoral baseado no Sufrágio Universal, os deputados eleitos
fazem as leis e os agentes do executivo governam. A soberania do povo está na
maioria, o que deve ser controlado, para não correr o risco de tirania. “Na
omnipotente maioria, e no inerente desespero das minorias, encontra
Tocqueville o maior perigo para a liberdade na América”.
Alerta ainda o filósofo sobre o perigo de contaminação da democracia pelo
despotismo por meio do intervencionismo do estado. É o alicerce Liberal.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

CRÍTICA IDEOLÓGICA AO LIBERALISMO: UMA VISÃO


ALTERNATIVA DA PESSOA HUMANA
BURKE: HERANÇA TRADICIONAL BRITÂNICA (268-272)
Pai do pensamento conservador, vem dizer que os direitos das pessoas, os
direitos fundamentais, radicam e têm a sua origem não na lei mas na tradição,
são o produto da história e da evolução histórica.
Os direitos não estão na lei mas no costume - é a fonte dos D. Fundamentais.
Por isso, há uma importância do passado, há uma aceção histórica que deve ser
honrada, o peso do passado e da doutrina na prática constitucional.
É a valorização do passado face ao presente. Sublinha a ideia presente no
direito brasileiro dos DIREITOS ADQUIRIDOS, na sequência da história e da
tradição. Valoriza o Costume como expressão do tempo, da tradição e da
história, em detrimento da lei (retomar do modelo anterior à revolução francesa).
Os direitos não são criados pela lei mas são o produto de uma continuidade
histórica.
MAISTRE – CONSTITUIÇÃO NATURAL FRANCESA (272-278)
A constituição não é uma lei escrita, mas é produto da existência e do tempo
natural da sociedade, interpretada pelo Monarca. O monarca é um símbolo da
constituição, esta é a fonte dos direitos e liberdades dos franceses, não as
declarações e leis produzidas pelo parlamento (importância do costume e da
história).
As críticas é que valorizam mais o peso dos mortos do que a vontade dos vivos.
à Faz a síntese entre o passado pré revolucionário e o presente (Constant),
através da afirmação do princípio monárquico (a decisão constituinte é
protagonizada pelo rei, a centralidade do seu princípio na feitura da constituição
e no funcionamento dos organismos, instituições e poderes públicos).
Sublinha a EXISTÊNCIA DE UMA CONSTITUIÇÃO ESCRITA PARA LIMITAR
OS PODERES DO REI (QUE SE AUTOLIMITA, POIS FAZ A MESMA) e A
CONSAGRAÇÃO CONSTITUICIONAL DOS PODERES E DOS DIREITOS –
Carta constitucional francesa 1914, presente na constituição brasileira de 1824
e em Portugal na carta constitucional de 1826 (até 5 de outubro de 1910).
SOCIALISMO – A UTOPIA DO NOVO HOMEM (278-290)
à O SOCIALISMO CRISTÃO (SANTSIMON): Criar um cristianismo que se
assenta na ideia de bem estar e não envolve a abolição da propriedade privada.
à SOCIALISMO ANAQUISTA (Proudhon): Diz que a propriedade é um roubo
e por isso deve ser abolida, também o Estado deve ser abolido, pois é uma forma
de repressão.
à SOCIALISMO MARXISTA-LENINISTA: Conjuga ambos os contributos e
assenta nas ideias:
1. A história baseia-se na luta de classes;
2. Ideia da abolição da propriedade privada (Rosseau), pois a causa da
desigualdade e da luta entre os homens é a propriedade.
3. O Estado é aquele que vai garantir, através da ditadura do proletariado, a
1º fase da sociedade socialista, com um forte peso do estado (Platão e
Hobbes) e hipervaloriza o seu papel (Hegel) no campo económico, social
e cultural.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A ditadura do proletariado é uma via para atingir o objetivo comunista, no qual


o Estado deixa de existir, numa concordância com o pensamento anarquista,
pois o estado extingue-se.
à GÉNESE DO CONSTITUCIONALISMO SOVIÉTICO (288-289): Consagrou-
se no modelo da URSS na constituição russa de 1918 e que culminou na última
soviética de 1977.
- A influência do modelo de Rosseau assente na importância da concentração
de poderes (num órgão de grande representação – Soviete Supremo, que se
reunia alguns dias por ano, pois o verdadeiro poder estava delegado num órgão
super restrito:
1) O acesso ao órgão amplo (Soviete Supremo), estava dependente de
candidaturas por um partido único, que controlada os candidatos,
controlando o estado de fora do estado – PARTIDO COMUNISTA;
2) Quem controlava o partido comunista era quem controlava o estado, o
SECRETÁRIO-GERAL do partido, pois condicionava as candidaturas); o
forte intervencionismo do estado, numa substituição do modelo
económico capitalista pelo modelo comunista de direção central.
3) Os direitos fundamentais não são de todos, são os direitos do trabalhador,
com oposição aos direitos burgueses (constituições liberais), em clara
prevalência dos direitos sociais aos direitos individuais. Baseado na
Constituição Francesa de 1793, que nunca entrou em vigor.

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA (290-298)


Tem o seu início com a carta do Papa Leão 13, de 1891, “rerum novarum”,
que afirma que a igreja não pode ser indiferente a questão social que o
liberalismo põe em causa.
”A exploração do trabalho, do ser humano, é uma realidade da sociedade
liberal”, com a ausência de salários justos, condições de trabalho e etc, pois o
importante era o lucro.
Há que respeitar a dignidade humana e o direito dos trabalhadores. A igreja
não pode ficar de braços cruzados a espera de que o Estado mude isso. Não é
através da abolição da propriedade privada ou da coletivização, por isso é
esmiuçado um novo modelo económico, baseado na união entre capital,
produção e o direito dos trabalhadores e dos seus direitos (Corporativismo).
Carta encíclica de 1931:
1. Há uma antinomia entre o catolicismo, o liberalismo e o socialismo.
2. Princípio da subsidiariedade: tudo o que uma sociedade mais
restrita possa fazer, não deve ser feito por uma estrutura de âmbito
mais amplo. Isto é, quando uma de âmbito mais estrito não consegue
fazer, uma mais ampla deve intervir. Funciona como uma regra de
repartição de espera de intervenção.
RELEVÂNCIA: Entre a sociedade Civil e o Estado (Quanto a iniciativa
privada não quer ou não pode fazer, o Estado tem de agir); Modelo de
organização administrativa (autarquias locais e regiões autónomas,
não pode ser feita pela administração central – princípio do tratado de
lisboa: o que os estados-membros podem fazer, a UE não deve fazer).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

MATERIALIZAÇÃO JURÍDICA DA DOUTRINA SOCIAL


ANTERIOR À II GUERRA: MÉXIMO, WEIMAR E A OIT (290-298)
Consagração constitucional antes da II Guerra Mundial:
1) Constituição mexicana (1917): O Estado está empenhado na garantia
da Educação, das condições justas de trabalho e de previdência social
por meio de um sistema de Segurança Social.
2) Constituição Alemã (1919): Afirmou o bem-estar público como o objetivo
final do Estado, proclamando que a organização económica deve realizar
a justiça. Impõe ao estado incumbências, desde regular a repartição e
utilização do solo, até à proteção do trabalho e criação da Segurança
Social, reconhecendo o direito ao trabalho e de sustento em caso de falta.
3) Carta da OIT (1919): A nível internacional sublinha a necessidade de
condições humanas para o trabalho, nomeadamente:
- Regulação das Horas de Trabalho;
- Fixação de duração máxima de dias e da semana de trabalho;
- Luta contra o desemprego;
- Proteção contra doenças e acidentes no trabalho;
- Proteção contra o Trabalho Infantil;
- Liberdade Sindical.
----- TRATA-SE DA AFIRMAÇÃO DO ESTADO SOCIAL -----
A REAÇÃO CONSTITUCIONAL ANTILIBERAL E A
DESVALORIZAÇÃO TOTALITÁRIA DA PESSOA H.
TOTALITARISMO E A DILUIÇÃO DO INDIVÍDUO NO ESTADO
(303-310)
O totalitarismo dilui e dissolve os seres humanos em relação a uma hiper
valorização do Estado, no qual deixamos de ter relevância autónoma. Um
modelo totalitário assenta numa omnipresença e omnipotência do estado.
à Características:
1) “Tudo pelo estado, nada contra o estado” – Mussolini;
2) Inversão dos dogmas liberais: o parlamentarismo, a liberdade politica, o
estado mínimo para que haja maior liberdade individual, o individualismo;
3) O Estado é uma máquina de terror e repressão para impor a ordem;
4) Prefere o coletivo ao individual, a autoridade à liberdade, prefere uma
conceção elitista do poder a uma conceção democrática, prefere o instinto
à razão, prefere a violência ao humanismo (desvalorização da pessoa).
ANTECEDENTES IDEOLÓGICOS TOTALITÁRIOS (310-326)
à Mussolini: é dele que vem o totalitarismo;
à Platão: O estado tem como objetivo preservar a pureza da raça, preferindo o
governo dos homens ao governo das leis.
1) Cria um modelo em que existiam privilégios naturais, ao invés do
entendimento de que todos nascemos livres e iguais.
2) O Estado tem como objetivo preservar a raça;
3) O governo das leis não existe, há o governo dos homens: a tirania;
4) O estado tem uma intervenção total (casamento, educação, sociedade);
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

à Hobbes: Estado como modelo de poder ilimitado, baseado na força e no


medo, pois há direitos inatos e invioláveis, mas sendo pessimista sobre a
natureza humana então o homem cria o estado e transfere para o estado parte
da sua liberdade para o mesmo.
à Hegel: Procede a uma divinização do estado, na qual o homem só se realiza
no estado. É uma visão transpersonalista do estado, na qual prosseguem os
interesses da coletividade, há prevalência cega, absoluta e ilimitada – cada um
só se realiza como pessoa dentro do Estado.
à Nietzsche: Inverte a ordem de valores judaico cristã, para ele a piedade é
expressão de fraqueza. Defende a extinção de raças e povos inferiores
(inspiração para Hitler) e culpa os judeus de todas as desgraças da Alemanha.
A crueldade é admissível, como afirma Maquiavel, e valoriza a guerra em
detrimento da paz e da tolerância.
REVERSIBILIDADE DO PROCESSO HISTÓRICO (331-332)
O SENTIDO HISTÓRICO DO TOTALITARISMO: É o que institucionaliza
características como matar indivíduos pela sua “raça”, é cruel. Toda a ordem
axiológica judaico-cristã é invertida. Vem dizer que a luta pela dignificação do ser
humano não é sempre um processo evolutivo, por vezes as constituições e o
Direito Constitucional não servem para garantir direitos mas podem causar
atentados contra a dignidade humana.

A HERANÇA LIBERAL: BEM-ESTAR SOCIAL E


DIGNIFICAÇÃO HUMANA (333-383)
DIMENSÃO SOCIAL DA PESSOA HUMANA:
OS DIREITOS SOCIAIS (333-347)
A herança liberal está na base do estado de bem estar social (europeu):
- Assenta na visão da pessoa humana como um contexto social, recuperando
a ideia de Aristóteles de que temos direitos sociais e não só deveres.
à DIREITOS SOCIAIS: Pressupõem uma intervenção do estado (enquanto os
liberais radicais estão assentes no estado mínimo), na qual os direitos são cada
vez mais satisfeitos com a intervenção estatal. Isto é, o direito a educação, o
direito a saúde (SNS) e a segurança, agora a intervenção do estado, por meio
de artifícios financeiros, é quem satisfaz.
Esta ideia já era encontrada em Péricles, na idade clássica, em Marsílio de
Pádua, em Kant, em Hegel e na doutrina social da igreja da encíclica Rerum
Novarum.
INTERVENÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTERIORES À II GUERRA
MUNDIAL (336-339): Constituição Mexicana (1917), Constituição Alemã (1919),
Constituição Espanhola (1931). Constituição Portuguesa (1933).
Não tem apenas que ver com as condições sociais e económicas, pressupõe
a educação, a cultura, e uma dimensão imaterial (preocupação não apenas com
o bem estar da geração presente, mas também com as gerações futuras - ex:
recursos naturais e a sua exploração, poluição, recursos financeiros: reformas,
pensões, subsídios - dimensão intertemporal do bem estar).
É uma garantia da dignidade humana, dos que existem e dos que virão a
existir. O Estado tem o dever de garantir o bem estar.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Podemos falar numa clausula de bem estar: a dignidade humana não se basta
com os direitos liberais. Não basta ter o direito se não se pode usufruir deles.
MAS A QUEM COMPETE? Há 3 modelos:
a) Impõe ao estado a garantia do bem estar;
b) Tipo Britânico e Norte Americano: remete para a liberdade do legislador;
c) Modelo Misto: Há situações em que há imposição constitucional do bem estar,
mas também há liberdade do legislador (caso português: economia do mercado).
A garantia dos direitos sociais está nas mãos da administração pública,
estando a constituição refém da administração.
Estas conceções são produtos do final da II guerra mundial.

CENTRALIDADE DO BEM-ESTAR E DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS NAS CONSTITUIÇÕES DO PÓS II GUERRA
MUNDIAL (347-361)

Quais as primeiras constituições com Direito Social?


- 1946 Constituição Francesa;
- 1947 Constituição Italiana;
- 1949 Constituição Alemã;
- 1976 CRP;
- 1978 Constituição Espanhola;
- 1988 Constituição Brasileira.
à Constituição Francesa, Italiana e Alemã (347-349): Quase todos os textos
constitucionais antes de 1945 integravam diversos direitos fundamentais, mas
após a II GM, tratava-se de textos constitucionais que impunham ao Estado o
propósito implementador do bem-estar social, harmonizando a tutela de direitos
individuais, herdados do liberalismo, e a garantia de direitos sociais.
A Constituição Francesa de 1946 reafirma os direitos e as liberdades
consagradas na Declaração de 1789, referindo a necessidade de serem aditados
desenvolvimentos no campo económico e social, proclamando um conjunto de
direitos laborais, de saúde, de segurança social e ensino (Bem-estar Social).
A Constituição Italiana de 1947 representa a 2ª expressão histórica do modelo
de Estado Social, fundando a República no Trabalho – direito dos cidadãos
promovidos pelo Estado e o reconhecimento dos Direitos Invioláveis do homem.
A Lei Fundamental de Bona da 1949, retoma a tradição de Weimar,
reconhecendo a natureza sagrada da dignidade do indivíduo e da existência de
direitos que são invioláveis e inalienáveis. Regista-se o dever do Estado de
promover a igualdade entre homens e mulheres, proteger o casamento e a
família, criar um sistema público escolar, tudo para o bem-estar social.
à Constituição Portuguesa e Espanhola (350-351): A Constituição
portuguesa traçou as bases do modelo de Estado de Direito Democrático
baseado na dignidade da pessoa humana e no respeito pela vontade popular.
Garantindo os direitos fundamentais e a promoção do bem-estar coletivo.
A constituição espanhola, proclamou a existência de um estado social e
democrático de direito, com valores superiores a liberdade, a justiça, a igualdade
e o pluralismo político, fazendo da dignidade inviolável. Fixam os princípios
diretivos da política social e económica dos poderes públicos nos domínios dos
direitos económicos, sociais, culturais, de proteção da família, de Segurança
Social, de saúde, de cultura e educação, do meio ambiente e habitação.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

à Constituição Brasileira – 1988 (351-352): Traçou um exaustivo elenco de


direito individuais e coletivos, afirmando que a ordem social tem como base o
primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
Fazendo da dignidade da pessoa humana um dos fundamentos do Estado
Democrático de direito, a Constituição elege como objetivos fundamentais do
Estado a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, visando a
erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades
sociais e regionais e a promoção do bem de todos.
No Art.º 5.º, integra-se o expresso reconhecimento dos direitos sociais à
educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social,
proteção à maternidade e à infância e à assistência dos desamparados, além
dos direitos dos trabalhadores.
3º Fase das Constituições:
- Final dos anos 40: Giravam em torno do direito do trabalho, segurança social,
saúde, educação e na função social da propriedade (não só limitada ao indivíduo,
mas também a função social que desempenha).
- Anos 70 e 80: Os Direitos Sociais estão especialmente preocupados com o
ambiente, património artístico e as gerações vindouras;
- Anos 90 à atualidade: As preocupações estão localizadas em duas matérias:
biomedicina e na informática (até onde podem ir os limites da tecnologia?).
SÉCULO 20:
1. Internacionalização da temática dos direitos humanos – significa que esta
matéria não é exclusiva de cada estado, é um problema que diz respeito
a toda a comunidade internacional.
2. Devido a internacionalização, existem tribunais internacionais capazes de
sancionar e reprimir as violações feitas pelos estados aos direitos
humanos (Tribunais de Tóquio e Nuremberga).
Manifestações Anteriores à 2º Guerra Mundial (361-362):
à Em 1906, com convenções para a proteção humanitária dos combatentes,
prisioneiros e feridos – Convenções de Genebra.
à Proteção das minorias com o fim dos impérios alemão e austro-húngaro.
à Proteção dos Trabalhadores com a OIT.
Na sequência da II Guerra Mundial surge a ideia da proteção das minorias:
(i) O que a Alemanha Nazi e a Rússia fizeram aos judeus era uma
crueldade que jamais poderia voltar a ser praticada;
(ii) Tratamento pelos japoneses dos prisioneiros de guerra, levou a criação
de 2 tribunais internacionais para julgar crimes contra a humanidade,
tribunais dos
vencedores contra os vencidos (de Tóquio e Nuremberga);
(iii) Importância da criação da ONU e da DUDH de 1948: Os direitos
humanos passaram a ser normas imperativas para todos os estados (Ius
Cogens – direito obrigatório e imperativo transnacional).
à Por Exemplo: Apartheid (1970) – Direitos fundamentais comuns a
todos os estados (ius consititucionale comune), simultaneamente a
limitação do estados mas também a garantia de proteção individual maior.
Não há uma “Constituição Europeia” mas há o Tratado de Lisboa, a Convenção
de Viena, outros acordos e a Carta dos direitos fundamentais da União Europeia.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Intervenção das Nações Unidas: o Ius Cogens (362-365)


Carta das nações unidas de 1945→ significou o reconhecimento de normas
e de direitos fundamentais que estão acima de qualquer Estado. Correspondem
a um direito universal e imperativo onde advém a DUDH. O constitucionalismo
transnacional é constituído por normas sobre direitos fundamentais comuns a
todos os Estados (ius comunes constitucionale).
A universalização dos direitos humanos e direitos fundamentais foi objeto de
intervenção em diversas convenções. O Ius cogens é então o direito
internacional público. A Carta das NU veio a reafirmar a dignidade e o valor da
pessoa humana; a igualdade de direitos no trabalho/saúde/segurança
social/educação, mas também a defesa da igualdade de direitos entre sexos,
raças e religiões.
Constitucionalismo Transacional (365-370)
A sua amplitude vai dar a uma redução do espaço de liberdade dos Estados,
na matéria constitucional.
Domínio reservado dos Estados→ presente na Carta das Nações Unidas.
Quanto maior são as matérias que passam para a esfera internacional, menor é
a de cada Estado.
As normas de ius cogens têm imperatividade própria e autónoma, vinculando
todos os Estados, independentemente da sua vontade.
Mecanismos Internacionais da Tutela (374-376)
Há tribunais internacionais para a defesa dos direitos humanos. A violação dos
direitos humanos faz soar o alerta em toda a comunidade internacional, que em
caso de não cumprimento pode resultar em sanções. Por exemplo: nos anos 70
do sec. XX, a África do sul tinha um ideal que consistia na discriminação de
raças. Este incumprimento de DH, originou a sua proibição na participação dos
jogos olímpicos.
à 2 fenómenos na base da proteção internacional dos direitos humanos:
- nem sempre há tutela das convenções internacionais tem um carater
jurisdicional (a sujeição dos estados a um tribunal internacional depende da
vontade dos estado)
- Quanto mais as matérias sobre direitos humanos estão internacionalizadas,
menor é o domínio reservado dos estados.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

SÉCULO XX: A IDADE DOS DIREITOS? (378-383)


“O século XX é o século das grandes preocupações de Direitos Humanos
ou das grandes violações dos Direitos Humanos?”
1. Estados com grande desenvolvimento e com grande atraso
tecnológico, em extrema pobreza;
2. Consciência dos direitos e banalização da violência resultante de uma
indiferença perante o valor da vida, em que o problema em um país é
conhecido por todos, ao seu lado há uma banalização da violência;
3. Vivemos numa sociedade onde os direitos dos animais e do ambiente
têm mais valor do que a vida humana. Os maus-tratos aos animais é
um crime, já o abandono de idosos não é crime;
4. Estado zorro que tira aos ricos para dar aos pobres, em nome da
justiça social, mas que por outro lado há um eclipse da vida humana
mais velha.
AS COORDENADAS CONTEMPORÂNEAS DA TUTELA
DA PESSOA HUMANA (387-476)
Grande desafios que a tutela humana hoje convoca:
1. Liberdade;
2. Democracia;
3. Justiça Social;
4. Crise da cláusula do bem-estar.

1. Liberdade:
à Concessões existencialistas do ser humano concreto e individual.
Cada ser humano é uma realidade abstrata e também concreta ao mesmo
tempo. O pensamento existencialista vai desenvolver esta concessão da
interioridade do ser humano, algo que lhe é inerente. Durante o século XIX, foi
então desenvolvido o pensamento existencialista.
Há o retomar deste pensamento, subdividido em 2 grupos, defensores do:
- Existencialismo Ateu, como Jean Bodin e Sartre, que defendem que não há
dignidade sem liberdade.
Importância ligada à liberdade: não há liberdade sem dignidade. Nem
dignidade sem liberdade.
- Existencialismo Cristão, como Maritain, Karl Jaspers e Kierkegaard.
O pensamento cristão centra-se na ligação entre o poder e a pessoa. O
estado está subordinado à pessoa, em segundo lugar vem sublinhar que
o Estado existe ao serviço do ser humano, e não ao contrário. O ser
humano não pode ser transformado em objeto, em prol do Estado.
à Karl Jaspers: Relativização das certezas, nenhum de nós pode ter certezas
absolutas, daí surge a tolerância para com os outros. Aceitar as certezas
relativas, dos outros.
à Kierkegaard: Reflexão sobre o ser humano e o seu sentimento, sofrimento e
individualidade. O ser humano não é uma realidade abstrata, o que importa é
cada indivíduo, único, vivo e concreto.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

2. Democracia:
à Raymond Aron: A democracia prossupõe pluralismo, sem ele, não há
democracia. Representa a essência da democracia do ocidente, afirmando que
esta se baseia no pluralismo e na salvaguarda dos direitos das pessoas. O
estado existe como papel social.
à John Rawls: A democracia prossupõe pluralidade e relativismo: a ideia de
respeito mútuo.
A ideia de concessão de sobreposição: ter de aceitar opiniões contrárias,
porque nenhuma delas é absoluta. Põe as questões:
- Há ou não uma hierarquia de valores?
Se houver, a concessão de sobreposição só termina quando esta começa.
- Todos os valores são iguais?
Se não, terão relevância uns sobre outros. É possível afirmar, que para
Rawls, todos os direitos têm de ser respeitados, mas nem todos têm o
mesmo valor: vida > legalidade.
à Karl Popper: o elemento central da democracia é um pluralismo critico e a
tolerância, uma sociedade aberta. Tudo é discutível, podemos sempre aspirar
por mais e melhor, mas a verdade é sempre relativa. Não há verdades absolutas
e irrefutáveis.
A verdade é então subjetiva, porque pode originar uma outra verdade distinta.
Paradoxo da tolerância→ perante os que são intolerantes, como é que os
devemos tratar? Com tolerância ou sem? Exemplo: terroristas e extremistas.
à Habermas: a democracia é um processo, não tem a ver com a substância de
valores. Não se baseia em o que é que defende mas sim como o defende. A
democracia prossupõe racionalidade de argumentos, igualdade entre os
intervenientes, e prossupõe a maioria como critério de decisão. Há uma
dimensão processual da democracia.
Problema: Estas concessões levam a uma democracia falsa, onde os valores
são desvalorizados.
Porquê? Porque admite como democrático qualquer conteúdo de decisão da
maioria, mesmo que seja inconstitucional.
à Zagrebelsky: a democracia é por natureza um regime de perecibilidade
decisória. O conceito de democracia critica. Na democracia não há certezas,
uma nova maioria tende a mudar o que uma antiga maioria pode decidir.
É critica das concessões antigas, a lei nova revoga a lei antiga. A lei é uma
expressão de um novo querer, de um novo ideal decisório.
Exemplo: sucessão Paços Coelho para António Costa (privatização da TAP).
- Notabilidade intencional→ perecibilidade.
- Olhar para dentro dos valores da democracia→ democracia humana.
É uma democracia que chega a duas conclusões:
1. Os direitos humanos são a essência e alicerce da democracia. Primeiro a
dignidade humana depois a soberania popular.
2. A democracia tem como limite o ser humano, que é simultaneamente o
alicerce e o limite da democracia. Aplicar pela força a democracia, caso
seja necessário. O principio democrático: só podem ser membros da UE,
estados que sejam democráticos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

3. Justiça Social:
Em termos jurídicos: a constituição francesa de 1793. A importância dos
valores judaico-cristãos – cada um de nós é guarda de si mesmo, e do próximo.
A doutrina social da igreja desde o final do séc. XIX sublinha a importância da
justiça social, da relevância da pessoa e da pessoa não apenas nos seus direitos
de liberdade, mas também condigna.
Debate ideológico: Perante a desigualdade social, o que deve o Estado fazer?
- Crítica Liberal e Neoliberal: quanto maior for a intervenção do estado (critica
do estado zorro), maior é o confisco, e que é através do sistema de impostos,
que a riqueza pode ser conduzida a um estrangulamento.
- A outra visão: Se não houver preocupações de redistribuição de riqueza pelo
Estado por meio dos impostos, haverá desigualdade social, logo, não há
dignidade humana. Tornando-se assim um conflito social. Novos modelos de
instabilidade. Sem esta redistribuição, o conflito é automaticamente instalado.
Para este debate, há dois autores do EUA que proferem conceções diferentes:
à John Rawls (social-democrata): Estado providência, a justiça está no
momento dos resultados, em repartir a riqueza (“Estado zorro”), fazer com que
aqueles que mais têm possam contribuir para o nível mínimo de existência para
os que menos têm→ estado intervencionista social;
à Robert Nozick (republicano): o importante não é a igualdade nos resultados,
o importante é a igualdade à partida.
Exemplo: avaliação superior, com o mesmo ensino.
A resolução do tema da justiça social, é a combinação de ambas as
concessões extremas referidas acima.

4. Crise da cláusula constitucional do bem estar: Finais do Séc. XX


É motivada por excesso de intervencionismo do Estado, aumento da
administração pública e aumento dos custos financeiros por parte desta. A
crescente reivindicação social de melhor estado e menos estado.
O híper intervencionismo do Estado levou a que se passasse de um estado de
bem estar para um estado de mau estar. O problema que se coloca é duplo:
• Excesso de estado de bem-estar e crise financeira: a pandemia e a crise
de 2008 reforçaram o problema social.
A pandemia veio colocar a necessidade do Estado de ter um papel mais
presente: mais custos, mais endividamento. Não é apenas a crise das
pessoas envolvidas, é a crise no âmbito das famílias e das empresas:
todos os agentes económicos.
A visão do seculo XX – hoje há claramente perigos que espreitam o ser
humano e a sua tutela constitucional:
1. A radicalização religiosa e/ou laica, a ausência de valores religiosos que são
a base da democracia.
2. O relativismo, tudo é igual, não há hierarquia de valores.
3. A ideia de uma liberdade sem limites. Respeito pela liberdade dos outros, eu
próprio tenho limites à minha liberdade. A liberdade de um, acaba na liberdade
do outro. A crise pandémica veio reforçar que a liberdade tem limites, um deles
é o da coletividade ser superior.
4. Risco de uma democracia sem valores. Não pode existir esta neutralidade,
porque é um risco de a democracia ser capturada pelo totalitarismo.
A democracia está limitada pela liberdade e dignidade humana.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

SECÇÃO II
O ESTADO DE DIREITOS HUMANOS
O que é o Estado de Direitos humanos?
É o que se baseia numa concessão assente nos valores judaico-cristãos. Ao
assentar nestes valores, significa a importância da liberdade e da dignidade, a
ideia de que o poder tem limites. Assenta ainda no pensamento de Kant, e na
filosofia de uma concessão existencialista. Não interessa o todo dos seres
humanos como uma realidade abstrata, mas sim como ser vivo concreto. Cada
um de nós tem uma pluralidade de dimensões que se resume em 3 ideias:
• Cada um de nós e individuo;
• Cada um de nós pertence à coletividade;
• Cada um de nós e parte da humanidade;
Não podemos renunciar o estatuto de pessoa. Todos nós temos direitos
irrenunciáveis e absolutos: a vida e a propriedade. Direitos sociais: saúde,
educação e trabalho por exemplo.
“O ser humano é um animal social” – Aristóteles.
à Indivíduo: titular de direitos fundamentais e inalienáveis. Existem direitos
pessoais de natureza universal: vida, liberdade, dignidade, reserva da intimidade
da vida privada, propriedade privada e direito a ter família. Quanto aos direitos
sociais: saúde, segurança social, educação, habitação, trabalho, aceso à cultura,
alimentação e vestuário. O homem é um animal social, significa que a pessoa é
parte da sociedade, em 2 óticas diferentes:
à Membro da coletividade: Somos seres sociais pertencentes à coletividade.
Se vivêssemos individualmente, não haveria Direito. Logo, onde há Direito, há
sociedade. Em 2 termos:
❖ A ideia de nação → o substrato cultural e espiritual.
É o que está na base da fundamentação de um Estado, a consciência
nacional: um estado é o resultado de uma nação. Existem estados com
uma pluralidade de nações, pela existência de diferentes povos (Espanha
– Catalunha/País Basco). A nação é a fonte de soluções jurídicas-
normativas como apelo à consciência e tradição nacional: a ideia de
espírito do povo, com relevância político-constitucional.
Relacionada com a escola histórica do direito → resultado de um
processo histórico do espirito do povo. A ideia da democracia alicerçada
no querer da nação. Expressa-se em diversas constituições, como é o
caso da constituição britânica, alicerçada no costume e na tradição,
(pluralidade de nações do reino unido).
O que é mais democrático? O querer da nação ou o querer do povo
enquanto vontade politica expressa pelos deputados?.
A pessoa não só se insere na nação da atualidade, pode também
inserir-se através do seu passado intergeracional. Não há estado sem
povo, mas há povo sem Estado. O povo é um conjunto de pessoas que
têm um vinculo jurídico com o estado: Cidadania. A Expressão da nação:
1. Dimensão do conceito do direito civil, de bons costumes;
2. Existência de feriados religiosos apesar de sermos um estado
laico devido à dimensão cultural católica da Nação;
3. Dia de descanso ao domingo – conotação religiosa.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Pode a nação criar normas costumeiras contrárias à constituição?


Positivistas – não podem, o costume contrário à constituição é sempre uma
norma inconstitucional.
Não positivistas – é possível, costume contrário à constituição escrita impede
a aplicação do princípio constitucional escrito.
❖ A ideia de povo → Conceito de Cidadão→ vinculo de cidadania com o
estado português.
❖ Estrangeiro → cidadania com outro estado, que não o português.
❖ Apátrida→ não tem qualquer tipo de cidadania/vinculo.
1. A cidadania é um direito fundamental que tem consagração na constituição
portuguesa e na declaração universal dos direitos do homem;
2. A história resume-se na perspetiva da cidadania a uma progressão da pessoa
independentemente da cidadania → nós somos pessoas com esses mesmos
direitos independentemente a que estado pertencemos;
3. A cidadania é um prossuposto da participação politica;

A pessoa como parte da humanidade


A humanidade é uma realidade jurídica, é um espaço de direitos e deveres. Na
assistência humanitária em caso de desastres naturais; Na ideia de conflito
armado: a carta das NU, pode permitir um ataque para cessar uma guerra
injusta; No caso dos crimes à humanidade, intervém também: o caso do
nazismo; Estes são alguns dos casos onde se prevê interajuda humana. Há
fraternidade e solidariedade entre Estados, num contexto humanitário.
O conceito de humanidade tem diversas manifestações:
o Ideia de património da humanidade→ cuja titularidade pertence a todos: lua;
o Humanização dos conflitos armados→ tentativa de se regular juridicamente
os conflitos;
o Assistência humanitária→ situações de catástrofe natural (assistência de
outros estados);
o Ideia de conflito armado humanitário→ intervenção das NU (Ex: em casos
de ofensa grave aos direitos humanos);
o Crimes contra a humanidade→ certas condutas que são inadmissíveis
independentemente a que estado se referem (nazismo no sec. XX).

Estado de direitos humanos: é mais exigente do que o estado de direitos


fundamentais, porque alicerça-se no respeito pela dignidade humana. Porquê?
1. Há um enfraquecimento dos direitos fundamentais, por ser tão alargado que
se questiona quais são de facto importantes para a sociedade. O EDH, centra-
se no que importa. Atualmente, entrega-se os direitos fundamentais às
coletividades, em contraste com os direitos humanos.
2. Hoje, existem direitos despersonalizados, como é o caso do direito ao
ambiente. São interesses difusos que foram elevados a direitos fundamentais,
mas não se focam em individuo especifico.
3. Atualmente, tentam-se criar direitos fundamentais contrários à dignidade
humana: como por exemplo: o direito à prostituição ou a legalização da pedofilia.
4. Através da clausula aberta, a lei tem direitos fundamentais, mas existem
outros fora da constituição. A lei pode criar novos direitos que vão de encontro a
alguns que estão escritos na constituição.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Responsabilidade em matéria de direitos fundamentais:


o Os direitos fundamentais envolvem sempre tarefas fundamentais para o
estado, ou seja, todo o direito fundamental impõe obrigações ao estado:
segurança, prestação social, proteção perante terceiros, existência de um
sistema de justiça (tribunais). O estado deve ser contra a discriminação.
o Direitos fundamentais exigem deveres fundamentais. Não há direitos
sem deveres, que significam a fase oculta destes. Os direitos são o
prossuposto da atuação do estado. A dignidade humana não é só fonte de
direito, mas também de deveres. Estes são a horizontalização dos
Direitos Fundamentais – não é só o estado (vertical) que tem de respeitar.
o Todos os direitos fundamentais têm custos. O direito à segurança exige
que exista um sistema de segurança, o mesmo acontece com a justiça, a
educação e a saúde.
Estado de direitos humanos→ envolve então 6 ideias:
1. Estado de direitos humanos é o modelo de sociedade alicerçado no
respeito pela dignidade pela pessoa humana:
A dignidade humana é um contributo do pensamento judaico-cristão e do
pensamento Kantiano: o existencialismo. O ser humano é sempre um fim em si
mesmo, nunca é um meio. Cada ser humano é individualmente consagrado.
O respeito pelo ser humano não é uma dádiva do poder, é o ser humano que
se impõe ao poder como uma realidade superior e anterior. Todos temos a
mesma dignidade, esta não varia consoante as pessoas, mas quem não tem
compreensão e consciência deveria ter ainda mais dignidade. A dignidade
prolonga-se para além da morte, é irrenunciável e inaliável, mesmo que admita
uma decisão voluntária e consciente. Exige respeito e proteção da vida e da
integridade física. A dignidade prossupõe uma concessão de liberdade e igual
participação politica: 1 homem = 1 voto.
Não existe dignidade sem liberdade. Existência convicta: não basta existir para
ter dignidade. A dignidade exige um espaço próprio, imune a intervenção do
estado, impondo segurança, pois o estado também o faz para manter justiça
social. Não deve nunca existir um estado totalitário. Um primado do ser sobre o
ter, porque as pessoas têm mais valor do que as coisas. A dignidade humana é
um princípio, um valor, um dos primeiros da constituição: envolve uma obrigação
geral de respeito. A minha dignidade tem o limite da dignidade dos outros. A
dignidade humana é a base de todos os direitos humanos.

2. Função constitucional da dignidade:


Síntese da consciência jurídica universal. Primeiro principio do ordenamento
jurídico de valor absoluto, é uma obrigação geral de respeito, que se projeta
sobre todo o ordenamento jurídico. Tem 3 dimensões essenciais:
Dimensão vertical→ relação da pessoa perante o Estado. Cria uma
obrigação do Estado não só de defender/proteger, mas também garantir a
dignidade;
Dimensão horizontal→ projeção da dignidade da pessoa sobre todos;
Dimensão autorreferencial/diagonal→ não podemos alienar nossa a
própria dignidade. A dignidade é uma vinculação universal? Sim. É então
uma vinculação temporal de sentido da história.
Direitos e deveres da dignidade humana: pessoais, sociais e políticos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

3. A garantia e a defesa da cultura da vida:


A inviabilidade da vida humana – legitima defesa é uma exceção;
A defesa da vida prossupõe livre desenvolvimento da personalidade,
com momentos de maturidade diferentes. Exemplo: podem ou não os pais
proibir tatuagens nos filhos ou a mudança de sexo? Até que ponto é que
os pais podem impor concessões ideológicas como a religião?;
Vinculação termológica da investigação científica e tecnologia devem
estar ao serviço da pessoa humana, nunca entrando em confronto. Caso
contrario, é ilícito (experiências humanas como cobaias);
O princípio da solidariedade do antigo testamento. A ordem jurídica
deve preferir a inseminação artificial à adoção? A adoção é solidariedade.

4. A vinculação internacional à tutela dos direitos fundamentais:


Principio da solidariedade – As matérias sobre direitos fundamentais/humanos
não são uma questão exclusiva do Estado. São questões que têm a ver com
toda a dignidade natural → internacionalização da tutela dos DF:
§ O reconhecimento do valor hétero-vinculativo e do direito internacional
(ius cogens);
§ A constituição internacional tem primado sobre as constituições do
Estados, que estão subordinadas, assim como o estado face a jurisdição
internacional;
§ Há tribunais específicos que podem julgar as pessoas responsáveis por
crimes contra a humanidade;

4.1. Normas constitucionais sobre direitos fundamentais têm uma


eficácia reforçada. Mais fundamentais que as restantes normas:
A eficácia reforçada nas normas constitucionais → Exemplos (4):
1) As normas são dotadas de aplicabilidade direta: normas sobre direitos
fundamentais aplicam-se na ausência de lei ou contra lei expressa.
. Art.º 17º da CRP em conjugação com o Art.º 18.º/1.
2) As normas do direito fundamental vinculam entidades públicas e privadas.
3) O principio da interpretação conduz à máxima efetividade de uma norma.
4) A relevância que tem em matérias nucleares, a designada proibição do
retrocesso da proteção jus fundamental.
Ex: Se uma pensão é de 100, não é possível arbitrariamente que passe para
um valor inferior – Este conceito visa evitar a deliberação arbitrária.
5. A existência de um poder politico democrático:
Assenta em democracia humana, uma democracia empenhada numa ordem
de valores, ao serviço da pessoa humana, com a existência de prossupostos
funcionais.
6. A existência de uma ordem jurídica axiologicamente justa:
A ordem de valores justa, que naturalmente pressupõe garantias a favor da
justiça: o recurso às estruturas do Estado para garanti-la (tribunais).
O modelo perfeito de um estado de direitos humanos, reúne estas 6
características. Se não existirem os dois primeiros requisitos, não existe
estado de direitos humanos. Um estado que consagra a pena de morte,
nunca será um estado de direitos humanos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Respeito pela dignidade da pessoa humana e garantia de defesa: sem estes


não há estado de direitos humanos.
Desafios ao Estado de direitos humanos:
1. Reconhecer a sobrevivência de movimentos totalitários na
democracia, que não está isenta do perigo do totalitarismo. Este vírus é o
mesmo que o de uma pandemia, pensamos que pode estar neutralizado,
mas pode sempre voltar.

2. A existência de uma cultura de morte: Há um eclipse do valor da vida


e da sua inviolabilidade. A realidade do ser humano é uma realidade antes
do ganho da personalidade jurídica (nascimento) e o Estado deve garantir
e nunca atentar os direitos humanos. Somos pessoas não pela
constituição, mas por termos adquirido com o nosso nascimento.

3. A divinização do principio maioritário: A maioria é um puro critério


matemático para resolver questões de menos importância. O essencial
escapa ao principio maioritário→ Art.º 1º da CRP: dignidade humana e
soberania popular.

4. Uma desorientação de um progresso tecnológico e cientifico: Só faz


sentido que seja a favor do Homem, nunca contra o mesmo. Até que ponto
é que alguns desenvolvimentos estão eticamente cegos?

5. Modelo de sociedade de vigilância total: Todos nós somos suspeitos


de fazer ou ter feito algo de errado. Perseverança da segurança em prol
da liberdade, pois com o 11 de setembro, foi aumentada a vigilância, o
que evitou vários atentados, contudo, criou uma entidade omnipresente.

6. A perversão do modelo de sociedade de informação: É agravado em


situações de globalização: risco de instrumentalização das pessoas,
através dos meios de comunicação social. Será legitimo dispor da nossa
privacidade? (Ex: Big Brother)

7. A intolerância: é uma característica da história. Um estado alicerçado na


democracia romana, deve tratar sempre com tolerância, mesmo aqueles
que são incoerentes. Não se deve responder da mesma maneira, quando
atacados (Ex: racismo e xenofobia). A intolerância religiosa, que tanto é o
fanatismo de quem a tem, como o fanatismo ateu, são exemplos vivos
disto mesmo. Por último, a intolerância politica que conduz ao terrorismo.

O Estado de Direitos Humanos não está completamente adquirido

A democracia ainda é um governo do povo, para o povo?

Termina aqui a matéria da pessoa humana, assim como o volume I do manual


de Instituições Políticas e Constitucionais do Prof. Dr. Paulo Otero.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Guia Para Resolução de Casos Práticos – Constitucional I


OBEDIÊNCIA À LEI DESOBEDIÊNCIA À LEI
- Sócrates - Antígona
- Platão - São Tomás de Aquino
- Marsílio de Pádua - Francisco Suárez
- Hobbes - Locke
- Spinoza - Constant
- Montesquieu - Tocqueville
- Rousseau
- Kant

CONTRA ESCRAVATURA ADMITEM ESCRAVATURA


- Santo Agostinho - Aristóteles
- Bartolomeu de Las Casas - São Tomás de Aquino
- Montesquieu
- Rousseau
- Kant
- Hegel

Contra Invasões de Motivo Civilizacional ou Religioso:


Bartolomeu de Las Casas
Francisco de Vitória

Modelo Totalitário
Platão
Hobbes (na prática)
Rousseau (democracia totalitária)
Hegel (hipervalorização do estado)
Nietzsche

Lei Como Limitação do Poder


Aristóteles
São Tomás de Aquino
Marsílio de Pádua
Montesquieu
Kant

Direitos Como Limitação do Poder


Locke
Constant
Tocqueville
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PRINCIPAIS TEMAS
à SOBERANIA – Jean Bodin
à SOBREVALORIZAÇÃO DA PROPRIEDADE – Maquiavel
à RAZÃO DE ESTADO – Maquiavel
à FINS JUSTIFICAM OS MEIOS – Maquiavel, Hobbes, Nietzsche
à RECUSA DA PROPRIEDADE PRIVADA – Utopia de More
à DIRIGISMO OMNIPRESENTE DO ESTADO – Utopia de More
à EUTANÁSIA – Utopia de More
à INVALIDADE DE LEI QUE VIOLE LEI SUPERIOR – São Tomás de Aquino
à DIREITOS INALIENÁVEIS E IRRENUNCIÁVEIS – Hobbes, Kant, Hegel
à SEGURANÇA COMO FIM – Hobbes, Humboldt
à LEGITIMA DEFESA – Hobbes
à USO DO TERROR – Maquiavel, Hobbes, Rousseau
à DEFESA DA PROPRIEDADE – Locke
à VIDA, LIBERDADE, PROPRIEDADE – Locke
à LIBERDADE RELIGIOSA – Locke
à SEPARAÇÃO ESTADO/RELIGIÃO – Locke
à SEPARAÇÃO DE PODERES – Locke, Montesquieu, Constant
à DIREITO COMO FERRAMENTA DE OPRESSÃO – Rousseau
à LIBERDADE NO ESTADO – Rousseau, Platão, Hegel
à ESTADO MINIMO – Rousseau, Humboldt, Nozick
à VONTADE GERAL NUNCA SE ENGANA – Rousseau, Kant
à JUSTIÇA COMO ÚNICA FUNÇÃO DO ESTADO – Humboldt
à ESTADO ABSTENCIONISTA – Humboldt, Nozick
à ESTADO DE DIREITO – Kant
à PAZ COMO FIM DO DIREITO – Kant
à LEI UNIVERSAL DO DIREITO – Kant, Hegel
à PESSOA COMO FIM – Kant (princípio da humanidade), Nozick
à DIGNIDADE – Kant, Pufendorf, Hegel
à PENA DE MORTE – Kant
à SOBERANIA POPULAR – Kant, Rousseau, Locke, Constant, Tocqueville,
Marsílio de Pádua
à HIPERVALORIZAÇÃO DO ESTADO – Hegel, Kant
à HUMANO ABSTRATO/HUMANO CONCRETO – Hegel
à LIBERDADE POLÍTICA/LIBERDADE PESSOAL – Constant
à DIREITOS COMO LIMITAÇÃO DA SOBERANIA POPULAR – Constant
à DH > PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO – Constant, Tocqueville, Locke
à NÃO HÁ LIBERDADE SEM IGUALDADE DE DIREITOS – Tocqueville
à NECESSIDADE DE LIBERDADE DE IMPRENSA – Tocqueville
à RACISMO – Nietzsche, Platão
à INDIVÍDUO > COLETIVO / CONCRETO > ABSTRATO – Kierkegaard, Sartre
à LIBERDADE COMO FUNDAMENTO DA DIGNIDADE – Sartre, Kierkegaard
à DEMOCRACIA COMO PROCESSO, DISCUSSÃO – Habermas
à REVERSILIDADE DECISÓRIA – Zagrebelsky
à ESTADO-PROVIDÊNCIA E REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA – John Rawls
à HIPER-INDIVIDUALISMO E NEGAÇÃO DA SOLIDARIEADE – Nozick
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Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)


• Liberdade;
• Propriedade;
• Segurança;
• Resistência à Opressão.

Doutrina Social da Igreja


• Nem todos os direitos emanam do Estado e este tem limites;
• Defesa das classes operárias e “deserdadas”;
• Crítica da exploração capitalista;
• Dever de pagamento de um salário justo, amizade entre capital e trabalho;
• Respeito pela dignidade do trabalhador;
• Solidariedade, pessoal e estatal – Crítica ao Abstencionismo Liberal;
• Direito de Propriedade como direito inato;
• Direitos dos trabalhadores, proteção da infância, segurança social, garantia
de sustento e educação;
• Princípio da Subsidiariedade: o que pode ser feito por uma realidade
social menor não deve ser feito por uma superior, e vice-versa.
Isto é, o que pode ser feito pelas autarquias não deve ser feito pelo
governo, ou o que as famílias não podem fazer deve ser feito pelo Estado;
• Ideia de Estado Social.

Totalitarismo
• Estado Omnipresente; Indivíduo < Estado
• Individuo apenas como parte integrante do Estado, realizando-se neste;
• Estado como fim em si mesmo – transpersonalista;
• Instrumentalização do Terror;
• Recusa do Direito à Resistência;
• Concentração de Poderes;
• Instrumentalização da educação para servirem ao Estado (Rousseau);
• Recusa de Direitos Inatos ou de Dignidade da Pessoa Humana;
• Os Fins justificam quaisquer meios.

Princípio do Bem-Estar
• Vertente Material: + condições sociais e qualidade de vida;
• Vertente Imaterial: + condições políticas, culturais e educacionais;
• Vertente Temporal: preocupação com as gerações futuras;
• Impossível desassociar um sistema jurídico fundado na dignidade humana
e uma clausula constitucional de bem-estar;
• Ultrapassagem do modelo liberal;
• Concretização Jurídica:
o Reconhecimento constitucional de direitos socias como fundamentais;
o Opção do Legislador, sem imposição constitucional;
o Modelo misto – como é o caso da CRP.
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• Cláusula do Bem-estar refém da Administração Pública – é à alocação de


fundos por parte da administração que cabe a implementação e (in)sucesso
desta cláusula
• Crise da Cláusula do Bem-Estar:
o Hiper intervencionismo
o Redução de Liberdades
o Esquecimento do princípio da Subsidiariedade
o Excessiva regulamentação pelo Direito

ESTADO DE DIREITOS HUMANOS


• Internacionalização
o Criação das Nações Unidas / DUDH: texto revelador de uma síntese
axiológica de direitos da pessoa humana;
o Ius Cogens: DUDH assume uma imperatividade própria que vincula
todos os Estados, revelando o reconhecimento heterovinculativo de tais
direitos humanos, gozando assim de uma força normativa superior a
quaisquer atos internos ou internacionais;
o Constitucionalismo Transnacional – normas de natureza constitucional
comuns a todos os Estados, ou uma “constituição global dos direitos
fundamentais”;
o Existência de Mecanismos Internacionais de Tutela: Tribunais
Internacionais de natureza jurisdicional de garantia de DH (ex: Tribunal
Penal Internacional ou Tribunal Europeu dos DH);
o Erosão do monopólio estadual de produção de normatividade
constitucional e da sua liberdade constituinte, através de um ius
commune constitucional em domínio de DH.
• Humanização dos Conflitos Armados;
• Assistência Humanitária;
• Conflito Armado Humanitário;
• Crimes Contra a Humanidade (Tribunal Penal Internacional);
• Estado de Direitos Fundamentais – alicerça-se no respeito pela dignidade
humana, encontrando-se ao serviço da sua garantia e proteção;
• Estado de Direitos Humanos – trata-se de um modelo de sociedade
política fundado no 1respeito pela dignidade da pessoa humana, na
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garantia e defesa da cultura da vida e na 3vinculação internacional à
tutela dos direitos fundamentais, possuindo 4normas constitucionais
ditadas de eficácia reforçada, um 5poder político democrático e uma
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ordem jurídica justa.

DEMOCRACIA HUMANA
• Direitos Humanos como alicerce da democracia;
• A dignidade da pessoa humana como limite à democracia;
• Pessoa como fundamento e limite da democracia;
• Estado de Direito material, comprometimento axiológico.
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O que é o Poder?
O poder é por definição uma disponibilidade de meios para se alcançar um
determinado fim. O poder tem sempre uma definição unilateral e imperativa. Uma
imposição unilateral de um comportamento, de uma conduta ou fiscalização.
à Imposição e unilateral: PODER. Envolve sempre um exercício de uma
autoridade. A autoridade exige do outro lado um direito de acatamento e de
obediência. Exercício de autoridade e um exercício de obediência. Não há poder
sem autoridade, nem há autoridade sem a possibilidade de imposição de um
comportamento. Quando não há obediência a autoridade fica enfraquecida e o
poder pode deixar de ser poder, pois é minado e destruído pela desobediência.
Que tipos de Poder existem?
Poder expresso: visível, sabe-se que existe, transparente.
Poder oculto: invisível, pode estar por detrás do poder expresso, manipulando.
O poder pode ser ainda:
Formal – regulado pelo direito, obedece a uma forma.
Informal – não está regulado pelo direito, surge de modo factual, é assente na
prática e no uso, não é um poder de natureza jurídica.
Uma revolução é uma fonte de poder factual e informal, genésico do
constitucionalismo, mas é geradora de uma nova axiologia constitucional.
Sete áreas do Poder:
a) Poder Político;
b) Poder Económico – condiciona inopinadas vezes o poder político;
c) Poder Militar – a violência organizada
d) Poder Religioso – confusão do poder político e religioso (res publica cristiana);
e) Poder Informativo – a informação é um dos grandes novos poderes. Quem
tem a informação controla a decisão – é especialmente apetecível pelo poder
político e também pelo poder económico;
f) Poder Científico/Tecnológico – as decisões são condicionadas pelas opções
científicas e tecnológicas;
g) Poder Interprivados – poder dos país em matéria de educação dos filhos
menores, relação laboral entre a entidade empregadora e os trabalhadores.
A) O que é o poder político?
O que é a política – é uma atividade humana que tem como objetivo e
propósito a conquista, a manutenção e o exercício do poder político.
Ao poder político compete a definição das opções essenciais da coletividade.
Numa sociedade podem-se colocar 3 grandes questões:
(I) Quais os objetivos da existência de uma sociedade?
(II) Quais são as soluções e os meios para atingir a convivência?
(III) Quem define os objetivos e os meios para os atingir pela comunidade?
A questão de saber quem é o sujeito que define os objetivos e meios de uma
sociedade está na sociedade organizada, nem todos podem decidir.
Qual o processo que deve ser adotado para escolher quem vai tomar essas
decisões, seguindo a vontade da maioria?
É o respeito da minoria pela vontade da maioria que é decisivo para a
estabilidade e concretização da maioria. O respeito plasma-se na obediência e
a constituição é a expressão jurídica deste equilíbrio.
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Sr. Doutor Professor Marcello Caetano: A faculdade exercida por um povo


de pura autoridade própria, poderia não recebida de outros, para instituir órgãos
de um senhorio de um território, e nele criem e impõem por ordem jurídica,
dispondo dos necessários meios de coação.
1ª Questão – Quais os problemas históricos do poder político?
a) Origem do poder político;
b) Fins do poder político;
c) Limitação do poder;
d) Legitimidade dos titulares do poder político.
(i) Conceção teológica: todo o poder vem de Deus ou do Diabo.
(ii) Conceção democrática: o poder vem do povo, enquanto coletividade,
enquanto soberania popular (pensamento de Rousseau); ou vem da nação
enquanto realidade abstrata, realidade cultural, realidade que se projeta no
tempo de forma intergeracional – soberania nacional.
(iii) Conceção de mediação: o poder é divino, mas por consentimento do povo;
(iv) Conceções sociológicas.
2ª Questão – Fins do poder político.
Nunca se podem identificar com os interesses do titular do poder.
à O bem comum e o bem público são o fim do poder político. Podemos ter
uma conceção do bem comum numa vertente personalista, a pessoa humana é
o centro justificativo do poder político e a razão de ser do poder comum ou a
conceção transpersonalista (Hegel) – mais importante o estado do que a pessoa.
3ª Questão – Como é possível delimitar o poder político?
a) Anarquia: não é possível delimitar o poder político, pois este deve ser abolido;
b) Conceções que delimitam o poder, pois reconhecem a sua necessidade:
(i) Conflito permanente entre direito e os factos. O direito quer sempre
condicionar e regular os factos. Mas muitas vezes os factos não se deixam
regular pelo direito. Acontece que os factos produzem juridicidade – as normas
jurídicas escritas podem perder efetividade, são normas desvitalizadas. Por
vezes, a norma escrita é substituída por uma norma não escrita. Nesse
momento, o facto deixa de ser facto e passa a ser direito – todo o DC é uma
permanente luta entre os factos e o direito;
(ii) Qual o melhor poder? Governo das leis ou dos homens – O melhor
poder é sempre o poder delimitado pelo direito:
• O poder faz as normas e submete-se às suas próprias normas.
Está autolimitado – ESTADO DE DIREITO FORMAL;
• Também está limitado por direito superior ao do estado, emanado
por outras instituições – ESTADO DE DIREITO MATERIAL (ex:
DUDH, Ius cogens) – está auto e heterolimitado.
(iii) Separação e divisão de poderes (Montesquieu).
4ª questão – Legitimidade do poder.
Legitimidade quanto ao título ou quanto à forma, conquistada pelo:
a) Poder carismático;
b) Poder de base tradicional;
c) Poder racional: sempre um fenómeno jurídico captado pelo direito.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Como é que se pode regular o poder político?


(I) Pode ser feita por normas escritas ou por normas não escritas.
Nem todo o direito é direito escrito – normas morais, éticas/trato social.
(II) Pode ser regulado por factos (precedentes);
(III) Normatividade oficial associada à normatividade não oficial. A
normatividade não oficial vai contra a normatividade oficial (contra
legem). As normas não oficiais não serão normas inválidas e têm a
função de substituir/modificar as normas escritas.
Tipos de poder político:
a) Com expressão na comunidade internacional – ONU;
b) Integração supranacional – União Europeia;
c) Expressão no estado – Estado = plano interno, a fonte de poder político.
3 Conceções de Estado:
a) Estado soberano, subordinado no plano externo;
b) Estado coletividade, enquanto titular do poder constituinte – Estado de DC;
c) Pessoa coletiva de poder público (Direito administrativo).
DEFINIÇÃO DE ESTADO: Associação formada por um povo, dotado de
um poder político original e fixado em um determinado território.
à Soberania: Deu ao poder político a sua força e substância moderna. É um
atributo do poder político que nos diz que este é supremo na ordem interna e
independente na ordem externa. SUPREMACIA E INDEPÊNDENCIA.
“O poder absoluto e perpétuo de uma república”.
1. Dar a lei a todos;
2. Direito de fazer a guerra e negociar a paz;
3. Instituir principais oficiais;
4. Definir na última instância;
5. Dar o perdão aos condenados acima das leis e das sentenças.
Produto deste século, nascendo historicamente com o fim dos privilégios feudais,
da reconstrução da unidade europeia, com Hobbes. ELEMENTO UNIFICADOR.
O Estado moderno evoluiu, começando como absoluto, depois como liberal
(garantindo direitos e separando poderes), no final do século XIX, torna-se social
e procura satisfazer fins sociais (social democrático de direito: Wagner e México).
Estados Autoritários e Totalitários foram conhecidos pela Europa no século XX.
Elementos Materiais do Estado.
1. Território – Onde exerce o seu poder e delimita a componente humana.
Tem uma dimensão física e ficcionada – embaixadas e dos consulados.
(i) Território marítimo / (ii) Componente terrestre / (iii) Espaço aéreo;
2. Nome – Princípio da não repetibilidade, elementos políticos ou religiosos;
3. Reconhecimento Internacional – Natureza Constitutiva ou Declarativa;
4. Símbolos Nacionais – Bandeira e Hino irrepetíveis.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

FORMAS DE ESTADO
Há 2 modelos de estado, quanto à forma, quanto ao modo de dispor e
organizar o poder em função do território:
a) Estado simples ou unitário – quando existe unidade de centros de
decisão política. Quando há um centro de decisão política.
b) Estado composto ou estado complexo – é um estado constituído por
outros estados, com vários centros de decisão política, concentra em si
um elemento de aglutinação.
A) ESTADO UNITÁRIO: Pode ser centralizado ou descentralizado. É
centralizado se só existir uma entidade pública. É descentralizado se existirem
uma ou mais entidades públicas (pluralidade).
A descentralização pode ter a ver com a função administrativa
(descentralização administrativa), ou descentralização política (legislativa), que
dá origem a regiões autónomas mas não dá origens a Estados Federados.
B) ESTADO COMPOSTO: pode ter 2 configurações.
(i) Federação – criam-se sempre órgãos novos, estruturas novas
(ii) União real – aproveitam-se órgãos já existentes nos estados-membros.
Por outro lado a união real tem sempre uma forma monárquica, enquanto a
federação nem sempre tem forma monárquica. São estados que se juntam para
criar um novo estado – Reino Unido ou Portugal e o Brasil entre 1815 e 1822.
União Pessoal: Os estados mantém a sua independência. Apenas ocorre que o
rei é o mesmo – Commonwealth. Não é um Estado composto, há uma mesma
titularidade.
Diferença entre a Federação e Confederação.
à Federação é a designação idêntica a um Estado Federal. Que assenta na
dicotomia de um Estado Federal e vários Estados Federados. O Federal tem
soberania no plano externo – Exemplos: EUA e Brasil – Estados Federados não
têm soberania no plano interno, mas têm uma constituição própria.
à Na Confederação, os Estados Confederados não perdem a totalidade da
soberania no plano externo. A Confederação não é a titular da soberania externa
(Exemplo: Guerra Civil Norte-Americana).
. Falsas designações: Suíça – Confederação Helvética, mas são
federação, pois os cantões suíços não têm soberania.
O que os caracteriza?
a) Os Cidadãos estão sujeito a duas ordens jurídicas: do Estado
Federado e do Estado Federal. Com esta particularidade, quem define a
fronteira entre o poder constituinte dos estados-membros e a do estado
federal, é a constituição federal. Sem prejuízo da teoria dos poderes
implícitos: Se a constituição federal atribui à reunião determinados fins,
deve-se atribuir os meios necessários para a prossecução desses fins. A
União tem ampliado a sua intervenção à custa dos estados federados que
providenciam os meios necessários;
b) A existência de uma Constituição Federal: garante a autonomia dos
Estados Federados e a competência da Federação. É o que define a
“competência das competências”- 1º regra da repartição da competência
(entre a união e os estados federados). Com esta particularidade a
constituição dos EUA estabelece o principio da igualdade entre os
estados.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

c) Todos os Estados Norte-Americanos têm o mesmo numero de


representantes: 2 senadores por estado independentemente da
dimensão territorial e populacional (garante o princípio de igualdade entre
os Estados). Diferente da ação da Câmara dos Representantes. A
circunstância de ter mais poder reflete a igualdade dos Estados. Os
estados têm um poder autónomo de revisão constitucional. Verificamos
que é um federalismo perfeito. Diferente do Federalismo BRA e RU;
d) Dualidade de soberanias: Soberania no plano interno e externo (Jean
Bodin) – Só o Estado Federal tem delegações diplomáticas, poder de
reclamação internacional, etc. A representação e soberania no plano
externo está toda ela concentrada no Estado Federal. Mas a dualidade de
soberanias reside na ideia de que cada Estado Federado tem soberania
no poder interno, porque cada Estado Federado tem poder constituinte.
à 50 constituições e a constituição federal;
e) Não obstante tudo isto, há uma Prevalência Federal:
(i) É a constituição federal que fixa os princípios a que os estados devem
ficar adstritos;
(ii) Compete a Supreme Court a última palavra sobre a constitucionalidade
de circunstâncias;
(iii) A defesa, a segurança e as relações externas são do Estado Federal;
(iv) A prevalência do poder federal e do órgão executivo – Presidente.
Há ainda quem defenda que entre o estado unitário e estado composto há o
Estado Regional. É composto por regiões autónomas – há casos em que o
estado é composto integralmente por regiões autónomas (Espanha e
parcialmente Portugal).
Será que estamos perante uma nova forma de estado? Há quem entenda que
sim e que o estado regional fica a meio caminho entre o estado unitário e
composto. Esses autores defendem uma descentralização politico-
administrativa que confere autonomia às regiões:
- Não se pode falar de estado regional, quando não é composto
integralmente por regiões autónomas de descentralização PA;
- Os estados federados têm soberania no plano interno e poder
constituinte – as regiões autónomas não têm poder constituinte – os
estatutos são leis do estado, não são uma constituição regional;
- Há regiões autónomas que têm mais poder que estados federados-
Espanha- As comunidades autónomas espanholas têm mais poder que
os estados federados brasileiros. As nossas regiões autónomas têm mais
poder internacional que certos estados federados.
Como é que se diferencia uma região autónoma das regiões administrativas?
Uma existe, a outra não existe instituída.
à As regiões autónomas traduzem uma descentralização político-
administrativas.
à As regiões administrativas serão uma mera autarquia local. Essas regiões
mesmo que venham a ser criadas não contribuem em nada para o conceito de
estado regional.

Que tipos internacionais de estado podemos encontrar?


Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

a) Estado soberano: nada tem a ver com os estados soberanos anteriores.


Soberania europeizada, globalizada. Um estado soberano é um estado com
personalidade e competência internacional em termos de direito de legação, de
receber e enviar representantes diplomáticos, tem direito de celebrar tratados e
acordos internacionais, tem direito de reclamação internacional, tem direito a
estar representado na ONU e tem o direito de fazer a guerra, em legítima defesa;
b) Estado Não Soberano: Estados Federados;
c) Estados Semi-Soberanos:
(i) Estado Vassalo – Andorra;
(ii) Estado protegido: na sequência de um empréstimo internacional. É um
protetorado em termos financeiros;
(iii) Estados Confederados;
(iv) Estado Exíguo: Mónaco (pela dimensão territorial);
(v) Estado Neutralizado: caso da Áustria;
d) Falsos Estados: Podem esconder uma realidade colonial (Goa, Damão, Dio).
O exercício do poder politico por parte do estado
Como é que o poder político se exerce? A diferença e o desenvolvimento quer
da ideia de fins, quer da ideia de funções, quer da ideia de poderes do estado.
Fins do estado: Necessidades que a sociedade politica estadual visa satisfazer:
Segurança: principal razão para as pessoas juntarem-se é a garantia da
defesa dos próprios e dos bens. Leva a que autores encontrem no Estado
um propósito único: a segurança, como a doutrina de Hobbes conduz a uma
abdicação das liberdades de cada um em prol da garantia do Leviatã.
A segurança prossupõe 3 características:
1. Paz
2. Estabilidade
3. Proteção de confiança
Paz: tem uma vertente interna e uma vertente externa, sempre com o recurso à
força na sua base. A segurança está sempre adjunta de mecanismos de força
por parte do Estado, quer a níveis internos quer quanto a ataques externos.
Estabilidade: a segurança envolve a ideia de existência de normas jurídicas que
garantam continuidade. Isto é, a continuidade da ordem jurídica confere
estabilidade. As leis que lesem liberdades e direitos dos cidadãos não podem
ser de natureza retroativa. Se beneficiarem os cidadãos, podem ser retroativas.
Proteção da Confiança: O entendimento da previsibilidade gera segurança.
Não é possível a frustração de expectativas, caso contrário deverá haver uma
indemnização. O Estado deve ser o primeiro garante da proteção da confiança,
através das normas que o emanam, mas também através dos tribunais.
o A justiça: é o valor mais alto do estado, pois prossupõe que a segurança
já está instalada, o que tende a manter a paz. Esta ideia está ligada ao
pensamento de Agostinho: “o que distingue o estado de um bando de
ladrões é a justiça”. A ausência da garantia da justiça por parte do titular
do poder permitia o seu afastamento. A justiça depende da igualdade.
Justiça comutativa: tratamento dos entes em caso de situação de equidade.
Justiça distributiva: tratamento dos entes em caso de situação diferenciada.

O que fazer perante o Direito injusto?


Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Devemos obedecer ou há legitimidade em desobedecer em caso de injustiça?


Na temática de São Tomás de Aquino, é possível desobedecer ao direito injusto,
se da desobediência não surgirem efeitos negativos piores se não o tivéssemos
feito. Há que ponderar de acordo com uma ideia de proporcionalidade.
Bem Estar: Pode ser material ou imaterial. Determina que circunstâncias
e necessidades do individuo/sociedade, se insuficientes, o Estado tem de
as garantir (no caso da iniciativa privada não o fizer). O Estado não se
pode privar de agir em casos de privação de necessidades básicas dos
cidadãos, pois é o desrespeito total dos direitos fundamentais do ser
humano e à sua dignidade (habitação, alimentação e vestuário).
Desta ideia de bem estar, podemos constatar os seguintes pontos:
1. Atualmente há uma evolução crescente desde o Estado Liberal para o
Estado social. O que pode conduzir a um estado social que seja sufocante,
convertendo-se num estado de mau estar, por excesso de intervencionismo;
2. O principio da subsidiariedade: o Estado só deve intervir no que a sociedade
civil não puder ou conseguir fazer;
3. A importância do bem estar de hoje para legitimação dos governantes:
promessas eleitorais.
As Soluções do Estado
A simples existência do Estado não garante a concretização dos seus fins. Para
que os fins do Estado sejam realizados, é necessário que este desenvolva uma
atividade: as funções do estado – a prossecução deste para atingir os seus fins.
Quais são as funções do Estado?
A melhor perspetiva para o professor Paulo Otero:
1. Funções do estado que são jurídicas→ fazer uma lei: emanar um ato
jurídico. Podem subdividir-se entre funções constituintes (atividade de fazer
ou modificar a Constituição) ou as funções constituídas (atividades
desenvolvidas ao abrigo da CRP – Exemplos: função legislativa,
administrativa e jurisdicional. Como se diferenciam?
Função Legislativa: elaboração de normas que substanciam opções
políticas de natureza constituída, ou seja, as leis ordinárias. Têm
fundamento na CRP, sempre.
Função Jurisdicional: garantia através da intervenção dos tribunais,
órgãos independentes ao litigio que opõe A e B, sendo um terceiro
relativamente aos interesses que estão em jogo.
Função Administrativa: consubstancia toda atividade jurídica
desenvolvida pelo Estado, que não origina a criação de leis. É tudo aquilo
que o estado delibera menos a parte legislativa e judicial.
2. Funções do Estado que não são jurídicas→ realizar uma intervenção
cirúrgica é uma intervenção do Estado, mas não é jurídica. Traduzem-se na
prática de atos não jurídicos. Diferenciamos estas funções em duas:
• Função Política: Definição das linhas de orientação sobre as opções
essenciais da sociedade. Têm, por isso mesmo, este cunho não jurídico,
que se substancia, por exemplo, na organização de eleições.
• Função Técnica: Apela a conhecimentos de natureza especializada, em
termos científicos que permitem exercer atividades pelo Estado: dar uma
aula, construção de uma ponte, consulta médica.
Duas Precisões Complementares:
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

→ No desenvolvimento das funções jurídicas, podem existir simultaneamente


o exercício de atividades não jurídicas, integradas na função política ou na
função técnica: fazer uma lei que consubstancie o exercício de funções de
natureza jurídica envolve uma técnica ou a forma como se estrutura uma
sentença de tribunal, também ela tem uma técnica. Apesar das soluções
jurídicas não se identificarem com as soluções politicas, elas não conseguem
viver de forma separada. As funções jurídicas têm muitas vezes a persecução
de fins de natureza politica e de natureza técnica. Outro exemplo vigente: quando
o PR dissolve o parlamento, está a tomar uma decisão de função jurídica, mas
com clara carga de natureza política. Há um cunho político nos juízes, de
inconstitucionalidade: saber se a lei é conforme ou não com a CRP, baseia-se
na função jurídica, no entanto, é claro que emana também a natureza política.
Apesar de distintas, estas funções têm várias interligações.
→ O desenvolvimento das funções não jurídicas tem como base atos jurídicos
produzidos ou na função administrativa, ou na função jurisdicional ou por fim, na
função legislativa. A prática de atos não jurídicos, assenta em atos de natureza
jurídica, ou podem originar reflexos de natureza jurídica. Exemplos: dar uma
aula, ter uma intervenção cirúrgica (em estabelecimentos públicos), são atos de
natureza técnica mas quer o médico, quer o professor necessitam de um titulo
jurídico para poderem efetuar estas funções.
O PM delibera atos de função política, mas sempre de base jurídica. Neste
caso, podem também resultar efeitos jurídicos, de deliberações originalmente de
natureza não jurídica (exemplo: ofensa por parte de um professor a um aluno,
gera responsabilidade civil).
Para que as funções sejam desenvolvidas, têm de estar distribuídas por vários
órgãos. A persecução das funções do estado prossupõe um sistema de
separação de poderes, retomando o pensamento de Montesquieu: é a melhor
maneira de limitar o poder do estado. É constatado assim, que o estado se
baseia não só num sistema de separação de poderes, mas também com a sua
respetiva interdependência, consagrada na CRP.

Contraste da matriz Francesa com a Norte-Americana


Esta ideia de separação com interdependência dos EUA, opõe-se ao modelo
rígido de separação de poderes da matriz francesa.
No caso Norte-Americano→ há uma conjugação entre os diferentes poderes
para a realização da mesma função. Os tribunais podem fazer cessar a vigência
de uma lei que é inconstitucional por exemplo. Quer os tribunais, quer o PR, quer
o Congresso têm diferentes poderes associados ao poder legislativo. Não há
nenhum poder sem interdependência, um órgão tem o poder de estatuir, no
entanto, os restantes órgãos têm o poder de limitar e condicionar essa mesma
deliberação/estatuição.
No caso Francês→ Rousseau: oposto (concentração de poderes). Ao longo
do sec. XIX foi se desenvolvendo a ideia de separação de poderes, com a
atribuição sempre, e em exclusivo do poder judicial. Paulo Otero: “Não há estado
de direito se os tribunais não tiveram o monopólio da decisão jurisdicional”.
Existe uma divisão temporal do poder e uma divisão politica do poder.

Órgãos do Estado
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Este tema é importante porque as pessoas coletivas – regiões autónomas, o


Estado, as universidades públicas, precisam de órgãos para expressar uma
vontade, enquanto a pessoa singular expressa-a por si só.
→ O que é o órgão? É um centro institucionalizado que expressa uma vontade
e, essa vontade, é imputada à pessoa coletiva. É de frisar a importância da noção
de órgão e da sua distinção de outras designações.
→ O que distingue órgão de titular? O titular é a pessoa física que ocupa a
função no respetivo órgão.
→ O que distingue órgão de agente? O agente ajuda à formação da vontade,
é no fundo, alguém que colabora previamente ou posteriormente à função do
órgão.

O Órgão envolve 5 ideias:


A ideia de instituição – o órgão é diferente do titular que é temporário,
enquanto o órgão, em principio é permanente. Contudo, há órgãos de
natureza temporária;
A ideia de competência – é a parcela de poder público de área de decisão
a cargo daquele órgão. São os poderes que os órgãos têm para decidir
sobre determinada matéria, a fronteira da vontade que este pode expressar;
A ideia de titular – é a pessoa física que ocupa o órgão num determinado
período. Na república, é sempre temporário. Na democracia, afirma-se que
deve ser votado por sufrágio universal direto. O titular tem ainda aspetos
que lhe geram deveres: o princípio da responsabilidade – são responsáveis
pelos atos que na respetiva atividade determinem prejuízos a terceiros;
A ideia de cargo/mandato – traduz a relação do titular com o
estado/entidade pública. São situações ativas ou passivas, funcionais que
estabelecem um nexo entre o titular e o respetivo órgão. Esta relação é
traduzida pelo respetivo cargo;
A ideia de imputação – a ideia de atribuir os efeitos – que quem age é o
órgão, mas os efeitos são imputados à pessoa coletiva na qual ele se
encontra.
2 Fenómenos: O titular empresta uma vontade ao órgão, mas este ao manifestar
essa vontade, ela é imputada à pessoa jurídica, na qual se integra o órgão.
Competência expressa→ resultam direta/imediatamente das normas jurídicas;
Competências implícitas→ que se extraem de outras competências. Se a lei
atribui competência para revogar, implícita também competência para
suspender. Porque quem pode revogar, pode também suspender (menor efeito).

Tipos de órgãos
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Separação entre órgãos singulares: um único titular (presidente da república) e


órgãos colegiais: mais do que um titular (governo).
Regras básicas dos órgãos colegiais:
• Um órgão colegial só pode começar a funcionar se estiver presente o co-
órgão. O que é? É metade + 1 dos seus membros. (51 de 100)
• Qual é a maioria exigida para deliberar? A regra no direito português é a de
maioria simples: é obtida através da proposta que tem o maior numero de
votos. Opõe-se à maioria absoluta. No caso de aprovação da constituição é
a maioria reforçada que se verifica em pelo menos 2/3;
• Todos os órgãos colegiais têm o poder de auto-organização interna. Ou
seja, todos os O.C. podem elaborar normas que disciplinem o seu
funcionamento interno;
• A diferença entre o voto de desempate e o voto de qualidade – No voto de
desempate significa que o presidente do órgão só vota quando há empate,
sempre fundamentando a sua decisão. No caso do voto de qualidade, o
presidente do O.C. vota conjuntamente com os outros, em caso de empate,
ganha a que o presidente votou;
Os órgãos (colegiais e singulares) podem ter vicissitudes que têm a ver com a
competência do órgão (ampliada ou restringida). As vicissitudes do titular podem
resultar na sua destituição ou dissolução. Nestes casos, o Direito conta sempre
com mecanismos de substituição, para evitar vazio politico.

Como é que os titulares podem ser designados?


Processo jurídicos:
❖ A herança: há uma transmissão de poder, segundo regras legais de sucessão
(familiar, típicas da monarquia);
❖ A cooptação: quando um titular de um órgão é escolhido pelos titulares desse
mesmo órgão;
❖ A nomeação: há a designação de um titular de um órgão, por outro órgão;
❖ A inerência: alguém é titular de um órgão, pela simples circunstância de ser
titular de outro órgão;
❖ A eleição: processo de designação dos governantes através da expressão do
voto de uma pluralidade de pessoas. Sistema maioritário X sistema proporcional:
No sistema maioritário→ quem ganha, esgota a representação;
No sistema proporcional→ a conversão dos votos em mandatos, é de algum
modo correlativa a esses mesmos votos.
Processos não jurídicos: decorrem à margem do direito.
❖ O Golpe de Estado: alteração das regras da designação dos governantes;
❖ A Revolta: leva à substituição dos titulares do poder;
❖ A Revolução: ação violenta contra os titulares do poder vigente e às normas
constitucionais.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A ELEIÇÃO – Sistema Eleitoral: normas que disciplinam os atos eleitorais.


Há uma pluralidade de sistemas eleitorais:
a) O sistema eleitoral condiciona o sistema partidário;
b) Os dois condicionam o sistema de governo.
Quais os principais sistemas eleitorais:
a) Maioritário;
b) Proporcional;
c) Misto.
a) Sistema maioritário: O candidato ou a lista que vence numa determinada
circunscrição eleitoral leva à totalidade dos representantes dessa circunscrição.
A lista mais votada é a única que vai ter representantes daquela circunscrição
determina a reduzida representatividade partidária parlamentar – não prevê a
representação das minorias e dos vencidos. Há duas modalidades:
(I) Sistema maioritário com sufrágio uninominal – um deputado por
cada círculo, só uma pessoa pode ser eleita – RU, determina o
bipartidarismo e a dificuldade da representação parlamentar de outros
partidos.
(II) Sistema maioritário plurinominal – vários deputados por cada círculo.
Pode conduzir à diminuição do pluralismo. É maioritário com vários
grandes eleitores (colégio eleitoral – constituído pelo número de
senadores de cada estado (sempre 2) + X representantes, em função da
dimensão territorial e populacional do estado).
Mas o winner takes it all – USA, com exceção de alguns estados
federados (que apresentam um sistema proporcional).
à O sistema maioritário pode ser maioritário:
a) A uma volta: RU - 1 deputado por cada circunscrição (maioria simples),
modelo também Norte-Americano – tradicionalmente uninominal.
b) A duas voltas: França tem um sistema maioritário de 2 voltas (50%+1).
Caso contrário à outra volta com os 2º mais votados. Na 2ª volta ganha quem
tiver mais votos (maioria simples) - também aplicado a sistemas maioritários
uninominais contudo vigora a exigência de uma maioria absoluta para a eleição,
não havendo a representação dos vencidos, da minoria.
b) Sistema Proporcional: Deve existir correspondência entre o número de votos
e os eleitos. Ao contrário do sistema maioritário, garante a representação dos
vencidos e das minorias, e pressupõe a suscetibilidade de existir um
multipartidarismo assente numa múltipla e pluripartida representação.
Só existe vigorando sistemas plurinominais e pressupõe sufrágio plurinominal,
que garanta a representação das minorias. O risco é levar ao multipartidarismo.
Enquanto o sistema maioritário é perigoso por não representar as minorias, o
sistema proporcional conduz a instabilidade governativa devido ao
multipartidarismo – leva à bloqueios à ação do governo por via legislativa.
O sistema eleitoral Português é plurinominal, pressupõe a concorrência de
diversos deputados a uma mesma circunscrição eleitoral e é um sistema
proporcional já que garante a representação dos vencidos e das minorias, pois
o “vencedor não leva tudo”, ao contrário do sistema maioritário, havendo neste
caso uma correspondência entre o voto popular e a eleição, segundo o método
de representação proporcional de Hondt.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

c) Sistema Eleitoral Misto


à Duplo voto: num vota-se no deputado que servirá para uma circunscrição
eleitoral (é um circulo uninominal). Tem outro voto, a nível nacional, que é
plurinominal (sistema alemão). Há uma complementaridade entre características
do sistema maioritário e do sistema proporcional. Prevê também a representação
das minorias e dos vencidos.
O sistema eleitoral determina o sistema partidário existente. Por exemplo, o
caso britânico, preponderantemente bipartidário (Conservadores e Trabalhistas),
devido ao sistema eleitoral a uma volta, de eleição direta de 1 deputado por cada
circunscrição eleitoral. Cria pouco espaço para a representação parlamentar de
partidos não tradicionais.
O sistema eleitoral português, baseado na eleição de listas à AR, com vários
deputados por cada circunscrição, eleitos com representatividade nacional,
segundo o método de Hondt, determina um pluralismo partidário.
O sistema eleitoral norte-americano, para o presidente, por via do colégio
eleitoral, determina uma competição entre Democratas e Republicanos para
esse cargo, verificando-se que os Third Party Candidates usualmente não têm
representatividade no colégio eleitoral, já que não há proporcionalidade entre o
voto popular e o número de delegados eleitos, verificando-se que esses
candidatos, por não terem nunca a maioria de votos num Estado, não terão
representação no colégio eleitoral.

Tipos de círculos eleitorais


à Círculos uninominais: eleição de um único deputado (um só nome) – caso
britânico (uma só volta) e francês (também uninominal mas em duas voltas);
à Círculos plurinominais: eleição de vários deputados (vários nomes) – caso
português.
No sistema proporcional, o circulo eleitoral vai eleger mais do que um deputado
(circulo plurinominal). Também é possível o sistema maioritário ser de circulo
plurinominal, como é o caso da eleição do presidente norte-americano. O
sistema maioritário sacrifica a representatividade em beneficio da estabilidade,
logo do pluralismo. O sistema proporcional permite que todas as ideologias que
se representem no ato eleitoral, possam ter representatividade. O S.M. tende a
garantir a estabilidade governativa. O S.P. tende a conduzir a uma maior
instabilidade porque existe um pluripartidarismo dentro do parlamento. O S.P.
tem sofrido algumas correções: o Método de Hondt – privilegiar os partidos com
mais votos. É possível a existência de sistemas que conjuguem estes dois
modelos. A constituição portuguesa abre portas para isso: círculos uninominais
e plurinominais.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Atividade Decisória do Estado


Princípios da atividade decisória e as regras de atuação:
❖ Principio da Juridicidade: quem decide, tem de decidir subordinado ao
direito, que o Estado cria: ideia de um estado de direito formal.
Mas também um direito que heterovincula o Estado: Estado de direito material.
Este principio baseia-se na subordinação do decisor público, quer à legalidade,
quer à constituição. Há duas ideias nucleares:
à Só pode decidir dentro da sua esfera de competência, que resulta
sempre de uma norma.
à A forma como o faz é também um limite. Este principio funciona então
como fundamento, como limite e como critério de decisão de todos os
poderes públicos.
❖ Principio do respeito pelos direitos e pelos interesses dos cidadãos:
quem decide tem de decidir em prol do bem comum e no respeito pelos direitos
dos cidadãos. Estes funcionam como razão de ser e limite do poder. Não é
possível agir se for em confronto com os direitos, a menos que seja em sentido
de extrema necessidade. Quando violados/lesados numa atuação ilícita da
administração, aqui haverá responsabilidade por ato ilícito do poder.
❖ Principio da Igualdade: Significa que todos somos iguais perante a lei, não
pode haver descriminações arbitrárias (Art.º 13º da CRP), no Art.º 9º tem a ver
com uma ideia de materialidade da igualdade.
❖ Principio da Justiça: A ordem jurídica deve ser axiologicamente justa
(normas justas nunca desrespeitando os direitos fundamentais). A justiça de
braço dado com o estado social, com o principio do bem estar – fundamenta a
existência de descriminações alicerçadas num fundamento racional. Tratar com
igualdade o que é desigual, pode originar uma profunda injustiça. Também se
conecta à ideia de boa-fé: se não há segurança e proteção da confiança, a justiça
está posta em causa.
❖ Principio da proporcionalidade: Como o poder público decide? Estado de
emergência é um exemplo típico. A sua relevância é aferida a 3 níveis:
A proibição do excesso: as medidas agressivas que põe em causa direitos
fundamentais, ao interesse legalmente protegido, não podem ir para além
do que é indispensável. Só se justificam estas restrições, em casos
especiais e nunca para além do que é o necessário (proporcionalidade).
A ideia de adequação: estabelece uma relação entre os meios e os fins. Os
meios tem de ser idóneos para alcançar um fim. Não é possível à luz deste
princípio, que a adequação se demonstre insuficiente. O meio e o fim têm
de estar diretamente conectados. Se o meio nada tem a ver com o fim, a
medida não é adequada, pode até originar uma medida arbitrária. (“em caso
de pandemia, todos têm de usar a cor azul”)
Principio da razoabilidade: apela para a ponderação de interesses que estão
em causa. Deve ser feita à luz do balanço: custo VS vantagens. Se está em
causa a construção de um aeroporto, irá escolher uma localização que traga
os menores custos para a população, e o máximo de vantagens possíveis.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

❖ Principio da Imparcialidade: Quem decide não deve ter um interesse,


ligação com o conteúdo da matéria que vai decidir ou em relação ao destinatário
da decisão que irá ser deliberada. Convoca a ideia de incompatibilidades, para
garantir a ausência de descriminações, sejam elas favorecer, sejam elas de
perseguição. Este principio também envolve uma vertente positiva: quem decide,
tem de ter em consideração todos os interesses pertinentes para a respetiva
decisão (ponderação para a melhor decisão possível para o bem comum).
❖ Principio da colaboração dos interessados: tomar em conta os
destinatários (a sua opinião, interesse e vontade). Não significa que vai aceitar
tudo, mas tem de ouvir e ponderar a palavra dos respetivos destinatários.
Colaboração do poder legislativo na legislação das R.A. (interesse de ambos).
❖ Principio do procedimento adequado: o poder público do Estado,
subdivide-se em diferentes funções. Em todas as suas funções, têm sempre de
haver regras que pautam o caminho para a decisão. Este caminho chama-se
“procedimento decisório”: formalidades/atos que têm de se praticar. A feitura de
uma lei obedece a um processo decisório. Em caso de engano ou de
aplicabilidade incorreta, a decisão será sempre inválida.
Formas de exercício que a atividade decisória do Estado conhece:
A regra é que esta atividade se pauta pela aplicação do direito público:
normalmente o DP é o direito que regula as decisões das autoridades públicas.
No entanto, há exceções, onde o direito privado é usado. Dentro do direito
público pode ser o direito público interno, ou o direito internacional público, ou o
direito público da EU, ou, em casos externos, pode também haver a intervenção
do direito estrangeiro. O poder público é desenvolvido por entidades públicas.
Todavia, estas entidades públicas, podem exercer diretamente por si, ou
podem criar entidades privadas que são instrumentos criados também por si. Há
aqui o exercício indireto sobre forma privada, do direito público. No entanto, há
outro fenómeno excecional: a atividade pública ser confiada a entidades
privadas, chama-se a isto: exercício privado de soluções públicas. Esta ideia
baseia-se na ideia de Estado Liberal. Exemplos:
No âmbito da função administrativa→ os concionários de uma autoestrada.
Exercem poderes privados numa esfera pública;
No âmbito da função judicial→ tribunais arbitrais;
No âmbito da função politica→ partidos políticos;
As formas de decisão: como se exterioriza a decisão do poder?
Unilateral: só há uma vontade, a vontade do poder.
Bilateral: a vontade do poder conjuga-se com outros interesses.
Formas unilaterais de decisão:
1. Gerais: natureza normativa, que se aplicam a uma pluralidade de
destinatários. São também abstratas: a decisão não se esgota numa única
deliberação. Exemplo: leis.
2. Individuais: sem natureza normativa, os destinatários são identificáveis. São
de natureza individual. Exemplo: as sentenças dos tribunais.
Formas bilaterais de decisão: as convenções internacionais, ou as
convenções de direito externo são exemplos de partilha de interesses, logo
decisões bilaterais. Há formas de decisão quanto ao direito regulador: formas
de direito privado e formas de direito público.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Limites ao poder do Estado


A própria existência do Direito, já é, por si só, uma limitação ao poder do
Estado. Já sabemos que todos os princípios acima referidos, que pautam a
atividade decisória, também são limites.
O enquadramento histórico da limitação do poder, pode ter 3 configurações:
1. É impossível limitar o poder. Historicamente confirmado por uma razão:
se o poder tem como base a soberania, a soberania é insuscetível de ser
limitada, porque se o for, deixa de ter o sentido amplo que a descreve. Quem
concorda com esta concessão, afirma que podia haver limites, mas só de
carácter religioso e moral aos titulares dos órgãos do governo. Foi assim até
à Revolução Francesa. Antes, o rei conhecia a ideia de auto limites: O
governante cria para si os seus próprios limites. O rei podia assumir um
certo compromisso deliberado por si e para si. Contudo, ninguém o podia
fiscalizar e, a qualquer momento, poderia suspender ou até acabar com este
mesmo compromisso.
2. É desnecessária a limitação do poder. É a tese de Platão: O governante
é o sábio, não precisa de leis, muito menos de ser limitado. Porque sendo
sábio, sabe o que é o correto, não necessita de qualquer limite. Foi este
pressuposto de Platão, que originou os modelos totalitários do séc. XX.
Rousseau também vem a contribuir para esta ideia: a autoridade está
exposta através da expressão da maioria. A maioria não tem de estar
limitada. Há também, aqui, o risco de um modelo totalitário.
3. É necessária a identificação do direito com o Estado: conceção do
pensamento de Kelsen. O Estado deve a sua existência ao Direito. A
questão da limitação do poder é aqui uma falsa questão. O poder escolhe
sempre as suas limitações: o Estado de Direito Formal. O direito é uma
própria autodeterminação do poder. O que importa para Kelsen, não é se o
direito é ou não justo, mas se uma certa norma deriva da competência de
uma outra norma. Uma concessão formal: Direito cego à justiça.
Como resolver o problema da limitação do poder do Estado?
1. O Estado está limitado por princípios jurídicos fundamentais, que
transcendem o mesmo, e que por isso, são indisponíveis pelo Estado. O Estado
não tem o monopólio da criação do Direito, cinge-se a princípios supra positivos.
Aqui reside a ideia de que se houver leis injustas, estas não o são (leis), pois
violam princípios fundamentais. Em casos de direito injusto, surge o direito a
desobedecer ao mesmo. Mesmo que a decisão seja feita a partir da constituição,
se for o caso de uma norma inconstitucional, a deliberação não é válida.
2. Apesar do Estado estar limitado ao direito que o transcende, a verdade é que
o Estado também tem uma margem para poder criar Direito. Pode criar
normas que disciplinem a sociedade: direito da expressão de vontade do estado,
que serve como auto limite, logo, podem ser reversível. A relevância da vontade
do Estado subdivide-se na criação de normas constitucionais, ou ao abrigo da
CRP, criar leis que espelhem essa mesma vontade. Pode ainda, em terceiro,
criar normas regulamentares no exercício da função administrativa que visam
pormenorizar as soluções legislativas de convenções internacionais. Logo, o
Estado exerce a vontade, e ao fazê-lo, está limitado no exercício das suas
funções. Estes limites podem ser criados exclusivamente por si, ou pelo Estado
e um Terceiro (UE): hétero-vinculação, contudo com base de auto-vinculação.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

3. Não são apenas limitações jurídicas, há limitações não-jurídicas.


Há fundamentalmente, 4 grandes limitações deste tipo:
Os partidos políticos (em especial os de oposição);
Os grupos de interesses (sindicatos querem influenciar a população);
A opinião pública: eleições e/ou inquéritos de estatística/sondagens;
Os meios de comunicação social e as redes sociais: denunciar situações de
irregularidade, crimes, servindo como um debate generalizado de ideias.
O problema dos limites aos limites não jurídicos: O uso de noticias falsas,
deve ser admitida como liberdade de expressão, ou deve ser um limite? Se for
um limite, quem o controla e impõe? Não será isto um ato de censura? Como
se pode então limitar juridicamente as limitações não jurídicas?
É este o maior desafio da atualidade.
Mecanismos de controlo do poder
1. Mecanismos intraorgânicos: dentro dos próprios órgãos de decisão. Há
casos em que cada órgão, tem dentro de si mecanismos intraorgânicos.
Intra, por estarem dentro do próprio órgão limitarem a sua deliberação.
§ No parlamento, temos o caso da existência de um bicameralismo (2
câmaras no parlamento). No modelo britânico ou no modelo norte
americano. Há aqui controlo do próprio poder, porque necessita da
conformidade de vontade de ambas as partes, por exemplo, no que
toca à matéria legislativa.
§ A exigência de maiorias qualificadas. Quanto maior for a maioria
exigida para aprovar um determinado diploma, mais importante é
alargado o consenso, logo maior é o controlo. A maioria tem de ser
previamente decidida, porque há variadíssimas formas de maioria.
§ O executivo pode também ter mecanismos de limitação. A existência
de um executivo dualista: chefe de estado e um governo. Logo, tem de
haver uma articulação entre ambos. Existe uma obrigatoriedade de
convergência de vontades. Ou quando há um governo de coligação:
os partidos em causa limitam-se mutuamente na deliberação de
governar. A existência de tribunais colegiais (pluralidade de juízes).
2. Mecanismos interorgânicos: controlo entre diferentes órgãos. Podem
ser mecanismos de controlo político ou mecanismos de controlo jurídico.
§ Controlo político – Controlo do governo pelo parlamento. O parlamento
pode tirar a confiança politica do governo, pela aprovação de uma moção
de censura, ou no presidencialismo, o parlamento pode destituir o
presidente pelo impeachment, ou a existência de meios ordinários de
controlo do governo pelo parlamento: inquéritos e nomeações.
Pode também existir o contrário: o governo controlar o parlamento. O
governo pode condicionar a atuação do parlamento na questão do
orçamento. O parlamento diz sim ou não. Mas o processo de desencadear
é exclusivo ao governo. O governo pode também solicitar à rainha a
dissolução do parlamento (no caso Britânico).
§ Controlo jurídico: O controlo pode incidir em termos internos, ou pode ser
proveniente de termos externos. Quanto aos termos internos, se for sobre
atos, pode se verificar na fiscalização dos atos praticados pelo poder.
É também o exemplo disto mesmo, a condição de responsabilidade civil
por parte do titular. Quanto aos termos externos, pode ser verificado pelo
tribunal da EU (mecanismo internacional de controlo externo).
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Não há mecanismos de limitação do poder, fora dos órgãos?


Há e são os chamados mecanismos extraorgânicos de controlo. Exemplo:
através do eleitorado, ou através da opinião publica (redes sociais por exemplo).
Mecanismos estes que estão fora do poder. Quando já não é possível a
existência de mecanismos de limitação do poder, sobra-nos o direito de
resistência. O direito de não se subordinar a determinadas decisões e/ou
comandos, que entram em confronto com determinados direitos fundamentais:
Artigo 21º da CRP.

Instituições e Sistemas Políticos do Estado – Matrizes ideológicas:


à O Liberalismo – tem como filosofia base: “Tudo o que impede e que limita a
liberdade individual, deve ser suprimido.” A liberdade é então a condição natural
do ser humano. A limitação do poder é a melhor garantia das liberdades
individuais. Insere-se neste pensamento: Locke e Kant. Limita-se o poder,
obrigando-o a respeitar os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. O
sec. XIX é claramente onde se valoriza a liberdade individual e propriedade
privada, no âmbito do estado mínimo. A ideia da mão invisível de Adam Smith.
Quais são então as características desta matriz liberal:
o O individualismo;
o A minimização do Estado, o Estado apenas se deve ocupar da segurança,
da defesa, da ordem e da regulação;
o A crença ilimitada no valor do mercado, o mercado é a fonte por
excelência da regulação das opções da vida económica e social;
o A propriedade privada é sagrada e um direito natural.
Quanto ao século XX, o liberalismo é assente em dois períodos:
Um 1º período que vai até à grande depressão dos anos 20. É como que
uma continuação do liberalismo do sec. XIX;
Num 2º momento, depois da grande depressão (crash da bolsa), surge
uma nova preocupação: o intervencionismo do estado. Keynes vem dizer:
o mercado não é suficiente, o Estado deve intervir para uma maximização
de aproveitamento no próprio mercado. Este modelo intervencionista veio
a vigorar até ao fim da década de 70, do sec. XX – Neoliberalismo.
Neoliberalismo: A redução do peso económico do estado, através das
privatizações. O Estado deixa de regular, e confia a autorregulação ao
mercado e, por fim, o livre comércio internacional.
O liberalismo seduziu todas as grandes correntes politicas, com exceção do
marxismo-leninista e dos conservadores que apostam no peso do Estado.
Mesmo a China, acabou por adotar o liberalismo em matéria económica.

à O Conservadorismo: modelo anterior à revolução francesa, o estado pré-


liberal. É no fundo, na sua base, o pensamento contrarrevolucionário. Recusa a
igualdade liberal, porque defende uma sociedade assente numa hierarquia,
numa diferenciação de classes. Rejeita a legitimidade democrática em prol de
uma legitimidade monárquica. Tem uma adversidade à mudança e à inovação.
Esta matriz politica, assente essencialmente em dois pressupostos: história e
tradição.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Principais Características do Conservadorismo:


A importância da história e da tradição: importância romântica do passado,
da pátria, da família. A valorização excessiva da história.
A importância da autoridade e do poder;
A importância da segurança e da ordem públicas;
A preferência pela liberdade em prol a igualdade;
A importância da religião e da moralidade judaico-cristã;
A importância da garantia da propriedade.
Há, atualmente, 5 vertentes do conservadorismo:
1. O conservadorismo contrarrevolucionário assente nos legitimistas;
2. O conservadorismo restauracionista – está ligado à Carta Constitucional
francesa de 1814, e a Portugal na de 1826. Conectado aos cartistas, defensores
da carta constitucional. A personalidade mais marcante: Benjamin Constant;
3. O conservadorismo nacionalista: nos anos 20 e 30, este conservadorismo
sofre a grave tendência totalitária anticomunista;
4. O conservadorismo neoliberal: é no fundo, a junção do conservadorismo
clássico e as conceções neoliberais. É o conservadorismo que está na base do
modelo de Reagan e Thatcher: “menos Estado, melhor Estado”;
5. O conservadorismo protecionista: surgiu com a liderança de Donald Trump.
Não é favorável às teses do livre comércio internacional. Mas sim, à ideia do
isolamento por razões ideológicas, exemplo disso mesmo: ambição da
construção de um muro entre EUA e México. A ideia de que: “A américa é para
os americanos”. O livre comércio, vem, supostamente, destruir as opções de
emprego nacionais. Há aqui não só a defesa de valores judaico-cristãos, como
o protecionismo económico, que é uma outra modalidade oposta aos neoliberais.
à O Socialismo: historicamente surgiu para combater o liberalismo – 4 pontos:
❖ Preferência da igualdade em prol da liberdade;
❖ Preferência da propriedade coletiva em prol da propriedade privada;
❖ Preferência da intervenção do Estado face a uma postura abstencionista;
❖ Preferência do um estado intervencionista na economia, retirando a liberdade.
Esta matriz política tem a centralidade do Estado como princípio fundamental:
1. O socialismo marxista-leninista: É a confluência do pensamento de Karl
Marx com o de Lenine. É um socialismo que tem como meta o comunismo,
logo a posterior eliminação do Estado. Contudo, até lá é um sistema assente
na ditadura do proletariado. Teve como exemplo a URSS;
2. O socialismo maoista: com origem na República Popular da China –
“Mao”. Por um lado, um mecanismo politico de limitação de liberdades, com
um partido único. Mas em termos económicos, a importância de uma
economia neoliberal, assente no comércio internacional;
3. O socialismo democrático: aceita o capitalismo e o pluralismo politico.
Tem preocupações sociais, onde entrega ao estado o papel nuclear, onde
frisa a ideia de estado social, de bem estar. E tem intervenção económica
no estado, ou na competitividade com os privados, ou ainda num modelo de
subsidiariedade do estado sem participação dos privados. Aceita nas
últimas décadas, o princípio neoliberal, através de politicas de privatizações;
4. O socialismo de base populista: Chegando ao poder por via democrática,
procura subverter as instituições desse mesmo poder, de modo a garantir
uma perpetuidade do exercício do poder, por estas forças socialistas. Como
é o caso da Venezuela.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Modelos politico-constitucionais do Estado – Dois modelos:


O modelo Pluralista→ assenta em 5 pressupostos:
O reconhecimento e a tutela pelo Estado, dos direitos, das liberdades e
das garantias dos cidadãos;
A designação dos principais titulares ativos do poder politico, é feita por
sufrágio universal;
O papel relevante confiado aos partidos políticos. “não há democracia
sem partidos políticos e o pluralismo dos mesmos”;
A existência de uma hierarquia entre as normas jurídicas e a afirmação
de um principio de juridicidade;
O controlo jurisdicional do poder público;
(democracia direta ou democracia representativa: eleições são o
processo principal pelo qual o povo expressa a sua vontade, no entanto o
voto confirma a confiança entregue aos deputados representantes do
respetivo voto).
A democracia representativa também beneficia da democracia participativa.
Esta segunda, apela para a intervenção dos cidadãos através de mecanismos
para a sua integração: mecanismos estes, que reforçam a democracia.
A maioria é um critério fundamental no que toca aos pressupostos da
democracia, não à unanimidade, porque isso seria impossível. A maioria é um
critério de decisão mas não é sempre verdadeira/válida. Quem faz esse controlo
de veracidade são os tribunais. Modelos quanto aos partidos políticos:
→ Modelo de pluripartidarismo: há vários partidos políticos. Só este é
adjunto da democracia;
→ Modelo de unipartidarismo, opõe-se ao descrito acima;
→ Modelo de estado sem partidos, exemplo: estado novo.
Dentro do modelo pluripartidário, existem 3 concessões:
• Sistema bipartidário, não significa necessariamente que só existam 2 partidos
políticos. Contudo, a representação política tende a juntar-se/a circunscrever-se
a apenas dois partidos. Partidos esses que vão alternando o seu poder;
• Sistema bipolarizado, há partidos que se agrupam à esquerda, e outros à
direita. Como distinguir estes dois sistemas? A resposta é dada pelo sistema
eleitoral;
• Sistema de multipartidarismo, há representação parlamentar de vários
partidos. De forma tendencialmente desorganizada. Neste sistema pode vir a
encontrar-se um partido que sobressai, um partido dominante. Ou então uma
igualdade partidária.
O modelo totalitário→ é a seu tempo, o modelo que inverte as características
do modelo pluralista.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O Estado Pré-Liberal
Anteriores às revoluções liberais (francesa/portuguesa). Neste período
fazemos duas distinções:
O estado pré-liberal anterior ao moderno estado europeu: alicerçado na
concessão de Jean Bodin (soberania)
O estado anterior ao sec. XV. O que se encontra? O Estado oriental, que vai do
3º até ao 1º milénio antes de Cristo: Egipto, Mesopotâmia, nomeadamente:
• O Estado Grego→ o Estado de Cidade (pólis). Estado de reduzida
dimensão territorial. Surgem as primeiras conceções filosóficas a propósito
do poder politico.
• O Estado Romano→ Inicialmente de reduzida dimensão, acabando num
Império. É nele que surge a distinção entre direito público e direito privado.
É neste período também que surge a ordem de valores judaico-cristãos.
• O Estado Medieval/Corporativo→ Coloca estes problemas: Haveria
Estado? Porquê? Existia uma fragmentação do poder político entre o rei, a
nobreza, a igreja e os concelhos/municípios, não estava concentrado no rei,
o que fez surgir a questão de Estado. Há duas respostas.
o R1: Em Portugal havia Estado, a centralização régia do poder
começou muito cedo. Existia uma visão da sociedade em que o
pluralismo do centro político correspondia a um pluralismo de fontes
de direito, só existiam direitos privados, não existia uma regra geral.
Organização da sociedade em corporações, que representavam os
interesses das profissões. De início, o rei aliou-se à burguesia para
neutralizar o poder da nobreza. Temos também o poder do clero, em
que o reino estava na base de um governo religioso e régio.
o R2: No séc. XV surge o Moderno Estado Europeu de Jean Bodin –
surge o conceito de Soberania. Dentro do Estado não há poder
superior ao rei, fora do estado não há poder superior ao Estado, este
pensamento dita o fim da República.
Ainda podemos assistir a 2 modelos de Estado:
Estado barroco ou renascentista (Séc. XV a XVII):
→ Intervenção económica do Estado com o mercantilismo, monopólios da coroa;
→ Expansão ultramarina, que coloca 2 problemas: como governar? Qual a
estrutura administrativa para governar os novos territórios? (pode político fora do
território europeu) Qual o direito que deve reger estas novas povoações?
Surgem 2 conceções:
- Defende-se a regência dos próprios povos (proteção do próprio direito);
- Deve submeter-se ao direito do Estado metrópole.
→ Renascer do Direito Romano, recuperação da autoridade do rei dentro das
estruturas políticas. Esta recuperação alterou todo o poder jurisdicional, poder
de satisfazer necessidades coletivas, pertencendo exclusivamente ao rei. Esta
ideia preparou ideologicamente o Estado para iluminismo.
Estado iluminista (até às Revoluções Liberais – Séc. XVIII ao Sec. XIX):
→ Centralização do poder no rei: “o Estado sou eu.” – Luís XIV.
→ O rei é titular de poder ilimitado, então é superior a todos os poderes e leis.
→ Forte intervenção económica, social e cultural do Estado (Estado polícia,
omnipresente).
É este o modelo antes das revoluções liberais.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O Estado Liberal – Fundamentalmente tem 5 inovações:


1. Separação de poderes;
2. Supremacia da lei (a lei é a expressão da vontade geral), significa também a
supremacia do parlamento e da legitimidade democrática relativamente ao rei
(expressão da legitimidade monárquica);
3. Igualdade de todos perante a lei;
4. A importância dos direitos fundamentais;
5. O abstencionismo do Estado.

Qual é a evolução do Estado Liberal?


O estado liberal conhece fundamentalmente dois momentos de tenção:
1º) Tensão entre a legitimidade monárquica digna do antigo regime (D. Miguel
contra os liberais D. Pedro);
2º) Tensão entre parlamento e rei (a vitória liberal na guerra civil em 1834 não
resolveu o problema desta tenção, vai continuar até ao dia 5 de outubro de 1910
com a República)

4 Fases do Liberalismo
1. O predomínio da legitimidade democrática (fase revolucionária): base da
revolução liberal e base da constituição portuguesa de 1822;
2. O predomínio da legitimidade monárquica: base da carta constitucional de
1826 em Portugal – Rei: poder base do poder constituinte e fonte de legitimidade;
3. O equilíbrio entre a legitimidade democrática e a legitimidade monárquica: o
equilíbrio entre o rei e o parlamento: base da monarquia de julho francesa;
4. O predomínio da legitimidade democrática: muitas vezes com a supressão da
própria monarquia – “fase exclusiva da legitimidade democrática”

Quais são as questões politicas que o Estado Liberal coloca?


1. A revolução francesa foi exportada pelas invasões francesas, o liberalismo
chega pela força com dois modelos de liberalismo:
• Liberalismo Francês→ está na base da constituição portuguesa de 1822:
predomínio da legitimidade democrática;
• Liberalismo Inglês→ modelo misto de equilíbrio entre rei e parlamento.
2. É no liberalismo que surge o primeiro processo de descolonização: Américas.
3. Principio das nacionalidades: a cada nação deve corresponder um estado.
4. A discussão entre a Questão Social. Será admissível explorar pessoas para
apenas aumentar o lucro? O Estado deve apenas contemplar a pobreza ou
deverá agir? Será que o estado deve abster-se desta matéria ou intervir?
Surgem duas conceções:
• Doutrina social da igreja
• Conceção socialista marxista-leninista
Estado Antiliberal.
O estado antiliberal é o resultado da critica marxista, por isso mesmo é que
este Estado, tem configuração no modelo soviético e no modelo chinês, ou no
pensamento reacionário/fascista, que levará ao movimento totalitário, quer no
Estado Italiano quer no Estado Alemão (Nazi). Estas são algumas das respostas
ao movimento/período liberal→ antiliberalismo: Nega-se a separação de
poderes, o abstencionismo do Estado, a tutela dos direitos. Aposta-se no
intervencionismo do Estado em todos os campos sociais, culturais e
económicos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O Estado Pós Liberal


Este período é, basicamente, o período de um Estado social. É o Estado de
bem estar caracterizado pela herança liberal das liberdades, dos direitos e da
separação de poderes. Caracterizado pela tutela dos direitos fundamentais, não
apenas os direitos e liberdades básicos, mas também os de matriz especial. É
por isso um estado intervencionista. Resta saber se hoje, no sec. XXI, estamos
perante um estado neoliberal. O regresso ao liberalismo com as privatizações,
“menos estado, melhor estado”. O neoliberalismo sofreu dois grandes limites:
§ A crise financeira de 2008, que fez com que o estado tivesse um novo
papel de regulação, designadamente de mercado.
§ Nos últimos meses, nos últimos dois anos: a pandemia. Uma segurança
mais eficiente acompanhada de Estados de emergência, foram
verificados novos papéis.

O Estado é objeto de ataques que visam minar a sua Centralidade


Como é que se observa esta fragmentação?
1. Internacionalização: de matérias politicas. Até há algumas décadas eram da
esfera de decisão do Estado, mas a partir da carta das Nações Unidas, têm vindo
a ser reduzidas. Pela internacionalização, a liberdade de decisão dos Estados
passam a ser objeto de intervenção da comunidade internacional. Exemplos:
• Saber se um território é ou não parte integrante de um Estado, ou se
esse território é uma colónia→ Nações unidas passam a decidir isto.
Aconteceu o mesmo em Portugal: descolonização;
• Quando no inicio dos anos 90, o Iraque evadiu o Kuwait, as NU não
concordaram com a inclusão do Kuwait como território do Iraque;
• A garantia dos direitos fundamentais, e o seu respetivo respeito. Deixou
de ser um problema interno de cada estado, para passar a ser uma
preocupação internacional. Exemplo: ausência do respeito pelos Direitos
fundamentais na antiga união soviética (anos 60/70/80);
• A partilha de ideia de internacionalização e do domínio reservado de
cada estado: os crimes contra a humanidade;
• Partilha de recursos: ZEE, é o espaço marítimo sobre a jurisdição de um
Estado, mas cujo a exploração dos recursos não é exclusiva do Estado,
podendo ser partilhada pela comunidade internacional. Admite-se em
determinadas circunstâncias, que as NU intervenham em matérias de
natureza humanitária (fome por exemplo);
2. Globalização: Vem no fundo demonstrar uma certa impotência do Estado em
controlar fenómenos de dimensão global e transnacional. Exemplos:
• Criação de instituições internacionais de trabalho, educação, etc;
• O controlo do terrorismo ou do tráfico de pessoas/drogas;
• O controlo das pandemias;
• Os desastres ambientais, dizem respeito a todos os Estados.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

3. A Fragmentação do Estado:
• Há matérias cuja decisão deixou de estar em Lisboa e foram transferidas
para Bruxelas (UE).
• A existência de matérias partilhadas em termos de decisão – Nós por si
só, não conseguimos decidir assuntos como o orçamento de Estado, que
passou antes por Bruxelas;
• As situações de Neofeudalização interna – O Estado sofre o fenómeno
antigo do Feudalismo. Pluralidade de centros de decisão interna que
delimitam o poder do Estado. Ex: Entidades públicas e infra estatuais.
• A existência de grupos de interesse privados que procuram influenciar a
decisão do Estado. Os pesos dos outros interesses como expressão da
delimitação do Estado. Ex: a colonização partidária do Estado;
• A existência de novos agentes internacionais, a existência de novos
protagonistas na esfera mundial – Organizações não governamentais,
que condicionam o Estado, ou entidades privadas com propósitos
lucrativos (agências de ranking);
4. As vicissitudes do Estado – pode formar-se, desaparecer, transformar-se:
• Pode formar-se através da elevação de uma comunidade que não era uma
comunidade estadual: Moçambique. É também o caso do condado Portucalense.
• Pode também formar-se pela agregação de dois estados independentes, que
foram unificados, criando um novo estado: RFA+RDA= Alemanha.
• Um Estado pode, em sentido contrário, desagregar-se de um Estado.
Modalidade de desmembramento em vários estados – a extinção da antiga
Checoslováquia: República Checa e Eslováquia.
• A cessação de uma parte de um Estado. Não é todo o Estado que se
desmembra, é apenas uma parte do mesmo. Federação da Jugoslávia, que em
torno da Sérvia, agregava a Croácia, a Eslovénia, que originaram novos Estados.
• Como é que um Estado se pode extinguir? Aquilo que era o Estado, deixa de
ser uma comunidade estadual. Muitas vezes, porque passa a ser uma colónia.
Exemplo: Etiópia, pela invasão italiana;
• Pode também desaparecer, pela agregação de um Estado num outro Estado.
• As situações de integração/incorporação de um estado não de outro, mas numa
pluralidade de outros Estados. Um Estado retalhado/dividido por outros Estados.
Exemplo: Polónia, no Tratado de Viena de 1815.
• Um Estado pode transformar-se: Pode haver uma transformação da soberania,
porque vê limitada a soberania do Estado. Por exemplo: era independente e
passa a ser um protetorado internacional. Portugal, na situação da Troika em
matéria financeira, por exemplo. Pode ser também decorrente da integração ou
desintegração de um estado na união europeia. Quando entra, vê limitada a sua
soberania. Exemplo: Brexit, viu reforçada a sua soberania;
• Pode acontecer que um Estado tenha mesmo perda da sua soberania. Um
Estado independente entra numa federação.
• Pode haver ocupação ou desocupação de um território de um Estado. Exemplo:
Alemanha no setor soviético, britânico e francês.
• Pode acontecer que exista anexação ou perda de território por parte do Estado.
Exemplo: Final da 1ª GM: transferência para a Alemanha das terras de Florença.

Há vicissitudes de natureza constitucional: Revisão da constituição ou uma


Revolução. Estas não transformam o estado no plano internacional.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Quais são os principais tipos de Estado na esfera Internacional?


à Estado Soberano: Jean Bodin – teorizou sobre o renascimento, em que o
Estado tem uma individualidade fora da respublica cristiana.
O Estado tem uma personalidade internacional: na comunidade
internacional, tem direitos e obrigações – personalidade jurídica do Estado.
O Estado tem a competência das competências: define a competência
de todas as restantes autoridades existentes dentro do Estado. Significa o
poder de participar na modificação de organizações supranacionais.
Significa também o poder de elaborar uma Constituição própria.
O Estado tem competência internacional: o direito de receber e de
enviar representantes diplomáticos. O direito a ter embaixadas e receber
embaixadas: direito de legação. O direito de celebrar convenções
internacionais. O direito de reclamação internacional: de apresentar queixa
junto das NU. O direito de fazer guerra (licita em caso de legitima defesa).
à Estado Não Soberano: não tem personalidade internacional, como o caso
dos Estados Federados de uma Federação. O caso dos estados do Brasil e EUA;
à Estados Semi-Soberanos: Andorra, por exemplo.
• O protetorado pode ser o caso financeiro: como foi o caso de Portugal no
período da Troika – parcialmente soberano.
• O Estado exíguo: o Estado de reduzida dimensão territorial – Mónaco-França.
• O Estado neutralizado: o Estado cuja defesa está ao encargo de outra entidade,
não tem exército, forças armadas.
à Falsos Estados: são muitas vezes realidades coloniais que têm designação
honorifica de Estado, mas não o são. O exemplo de Portugal: Goa, Damão e Diu,
qualificados como o Estado da Índia, mas eram pretensão de Portugal.

Sistemas de Governo: Dois grandes modelos: parlamentar e presidencial.


Parlamentar→ baseia-se nas seguintes características:
• Existência de um governo, que é um órgão autónomo em relação ao
chefe de Estado e ao parlamento;
• O governo é formado segundo a composição do parlamento. É esta
composição que determina a formação de governo. O governo nunca
pode ter em si a maioria em oposição do parlamento;
• O governo é politicamente responsável pelo parlamento. Se o
parlamento tirar a confiança ao governo, o governo é dissolvido/demitido.
É na Grã Bretanha que surge no seculo XVII, a figura do gabinete, um órgão
colegial que reúne os principais ministros e o primeiro-ministro. O gabinete é a
reunião dos ministros mais importantes do governo. O primeiro-ministro passa a
ser a mediação entre o rei e o resto dos ministros: razão histórica – a língua
inglesa. A ligação do primeiro-ministro ao gabinete, ao rei, ao parlamento.
O parlamento veio desencadear isto: quando um ministro não agia de acordo
com o parlamento, o parlamento responsabilizava-o criminalmente. Se agissem
em sentido contrário ao parlamento, a composição do gabinete deveria
representar a vontade da maioria do parlamento. Passa de responsabilidade
criminal para responsabilidade politica. Passou a existir aqui o primeiro
pressuposto do governo parlamentear. O parlamento rege o governo.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Há dois grandes modelos de Sistema Parlamentar:


O Sistema Parlamentar Monista→ O governo só é responsável politicamente
perante o parlamento – 3 tipos de sistema parlamentar monista:
1. Parlamentarismo de gabinete da GB e as suas características:
§ Prevalência do gabinete sobre o parlamento – Esta prevalência politica
decorre dos seguinte pressupostos: o parlamento é dominado pela
maioria, dentro da maioria esta obedece ao seu líder. O líder da maioria é
simultaneamente primeiro-ministro, que controla o parlamento. O primeiro-
ministro consegue controlar a camara dos comuns (parlamento) e também
controla o governo. O sistema Britânico faz do primeiro-ministro um eixo
da vida politica. A câmara dos comuns prevalece sobre a câmara dos
lordes, dentro da câmara dos comuns o que prevalece é a maioria, dentro
da maioria o que prevalece é a vontade do seu líder: PM;
§ Bipartidarismo: significa que a representação politica-parlamentar tende
a esgotar-se em dois partidos. Logo, normalmente quando ganha, ganha
com maioria absoluta→ garante estabilidade. Disciplina partidária: o líder
quer, o partido obedece;
§ Centralidade do PM enquanto líder da maioria e chefe do governo;
§ Não só tem protagonismo quem tem maioria, como o líder da
oposição tem também: o chamado governo sombra, que faz uma
cobertura de cada um dos ministros eminentes, pronta a substituir o atual.
2. Parlamentarismo de Assembleia: 3ª República Francesa, em 1870-1875:
Supremacia total do parlamento sobre o governo, que tem reduzidos
poderes sobre o parlamento;
Um multipartidarismo: vários partidos políticos com representação
parlamentar. Não há maiorias absolutas, que originam governos fracos;
Instabilidade politica: “é verdadeiramente para lamentar”
O poder de dissolução do parlamento é o instrumento nas mãos do
chefe de Estado para tentar encontrar novas soluções. Recorre-se à
dissolução do parlamento, quando as soluções deste estão esgotadas:
eleições justificadas.
3. Parlamentarismo Racionalizado: A Constituição cria mecanismos que
impedem os excessos do parlamentarismo de Assembleia, evitando o caos e a
instabilidade do outro modelo. A razão histórica está na Alemanha: moção de
censura construtiva→ quando é apresentada uma moção de censura a um
governo, os preponentes dessa moção têm de apresentar obrigatoriamente um
nome, de substituição. Cria-se esta figura para permitir sempre uma alternativa
de governo, caso necessário. A estabilidade é o melhor mecanismo para
racionalizar o parlamentarismo. Portugal é um parlamentarismo racionalizado:
• Um intervalo de tempo entre a apresentação, discussão e votação da moção
de censura Art.º 194º da CRP (48h);
• Limitação e iniciativa dos deputados que apresentam a moção de censura,
ou então tem de haver um limite de deputados;
• Um voto de confiança, mas não poder haver uma desconfiança maioritária.
O programa de Governo não tem de ser aprovado, não precisa da confiança
da maioria do parlamento, pois pode entrar em plenitude de funções mesmo
em regime minoritário.
A Noção de Confiança é desencadeada pelo governo ao parlamento. A
moção de censura é desencadeada pelos deputados ao governo.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O Sistema Parlamentar Dualista→ o governo é responsável perante o


parlamento mas também perante o chefe de estado. O dualismo está na dupla
responsabilidade politica do governo.
1. Sistema Orleanista: Surge em França, na sequência da revolução de julho
de 1830, com o propósito de acabar com a dinastia Bourbon. A revolução
burguesa levou então ao poder de Luís Filipe de Orleães. Características:
o Baseia-se numa reforma de revisão da Carta Constitucional de 1814.
Foi alterada pelo parlamento, mas teve de ter a sanção régia. Dualismo
de modalidades, e simultaneamente um pacto/compromisso que está na
base do modelo orleanista, através da Dupla responsabilidade do
governo. O governo é de base parlamentar e do poder régio. Se o rei tirar
a confiança ao governo, mesmo com a maioria, o governo está dissolvido.
o Natureza compromissória que este sistema fica a meio caminho entre a
monarquia limitada: Carta Constitucional francesa de 1814 (o rei dispõe
dos seus ministros como bem entende). Os ministros só são responsáveis
perante o rei. Não há uma autonomia do governo, onde o executivo é o
rei mais os ministros. Entre a monarquia parlamentar, é o sistema em que
o governo só depende da confiança politica do parlamento, ex: Espanha.
2. Sistema Semipresidencial: A sua origem histórica está na monarquia
orleanista. Este sistema é também duplamente responsável perante o
parlamento e o Presidente da República, esta é a essência deste sistema.
Responsabilidade politica→ quebra de confiança do PR no governo = demissão
do governo; na Responsabilidade institucional→ a desconfiança politica não
determina a demissão do governo.
Diferença entre o Semipresidencial e do modelo Orleanista:
• O sistema orleanista é próprio dos modelos monárquicos, e este é dos modelos
próprios republicanos;
• O presidente da republica é dotado de poderes efetivos de intervenção politica,
é mais do que um árbitro;
• Tem o poder de veto, por razões politicas discordar das leis;
• Tem o poder de dissolução do parlamento;
• Tem o poder de demitir o primeiro-ministro por queda da confiança politica.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Sistema Presidencial
1. O presidente é simultaneamente chefe de estado e chefe do executivo;
2. Não há em termos autónomos um verdadeiro governo:
à No modelo norte-americano existem secretários de estado que são
colaboradores do presidente, ajudando-o. Mas quem define a linha politica
é o presidente, que também os nomeia, não depende da confiança politica
do parlamento;
3. Há um casamento sem divorcio entre presidente e Congresso. Nem o
presidente pode dissolver o congresso, nem o congresso pode, por
razoes políticas, destituir o presidente. À exceção de casos de
impeachment (razões criminais/jurídicas).
Como é que o modelo surgiu e se desenvolveu?
Nos EUA, na constituição de 1887, a mesma constituição que ainda vigora.
Inspirado no rei britânico do sec. XVII, foi moldado o estatuto do presidente dos
EUA. Ainda em termos históricos, o presidencialismo dos EUA conjuga-se com
2 outras realidades:
1. Modelo de separação de poderes de base de Montesquieu, que envolve
um sistema de freios e contrapeso (checks and balances). Um sistema de
partilha e interdependência entre os diferentes órgãos.
à O poder de impedir está nos tribunais e no presidente da república.
à O poder legislativo está no congresso.
à O poder administrativo está nas mãos do presidente, no entanto, a
administração existe para aplicar o orçamento e a lei.
à O congresso aprova o orçamento de lei.
à O poder judicial (de estatuir), está encarregue aos tribunais.
à Quem designa os juízes dos tribunais supremos é o presidente.
Há assim uma interligação de poderes, para além da separação.
2. A forma de Estado: O facto de ser uma Federação, condiciona a
configuração do presidente. O presidente expressa a união, dando-lhe um
estatuo superior em comparação aos outros órgãos.

Podemos encontrar formas de presidencialismo adulterado:


exemplo Brasileiro, porque a federação brasileira é em si imperfeita.
Presidencialismo da constituição francesa de 58: este modelo não é
presidencial, é Hiper presidencial.
E ainda, o chamado presidencialismo puro, que é o caso dos EUA,
acima referido.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

MODELO NORTE AMERICANO – Modelo típico de presidencialismo.


Normalmente quando o presidente levanta objeções, estas são ouvidas e
atendidas. Neste modelo, ao invés do Britânico, não há uma disciplina rígida dos
deputados. Daí o poder do PR de chamar à casa branca, membros do
congresso, para tentar aliciá-los, das suas boas intenções e objetivos. O
presidente não pode dissolver o Congresso que tem.
O veto ocorre no final das deliberações legislativas: não devolver o diploma
mas também não o assinar/promulgar: veto de mesa/algibeira. Este poder não
resulta do expresso, mas sim do silêncio da constituição.
O congresso também tem poderes de intervenção com o presidente. Ele
condiciona as nomeações mais importantes do presidente. Se o PR quiser
nomear A, mas se o congresso não vir fundamento nisso mesmo, A não chega
a ser nomeado/colocado em questão, por vezes. O congresso pode negar as
comissões de inquérito, por exemplo, chegar a conclusão depois de análise, que
o PR cometeu crimes (responsabilidade criminal). No limite, pode ser destituído,
não politicamente, mas sim a níveis criminais.
Composto pela Câmara dos Representantes e pelo Senado (principio de
igualdade dos Estados – cada um tem 2 Senadores– vice presidente dos EUA é
presidente do Senado, que em caso de empate, decide quem tem maioria).
O Presidente não é designado por sufrágio direto. Há uma fase em que os
Democratas e Republicanos vão procurar identificar quem é o seu candidato –
AS PRIMÁRIAS – Haverá uma convenção nacional de ambos, em que cada
partido vai decidir, entre os seus militantes, quem vai ser o candidato. No final
das primárias, saberemos quem são os candidatos.
A partir dai, vai haver eleições nacionais em que vão decidir os “grandes
eleitores” – pessoas que constam numa lista, apresentada por cada Estado, em
que cada tem tantos grandes eleitores como a soma de nº de membros do
senado (2) + nº da câmara dos representantes (sistema maioritário a uma volta
– quem ganha, leva consigo todos: CR= 20 + SENADO (2)= 22, LOGO, a lista
dos candidatos A SÃO 22 ELEITOS, EXCLUINDO OS OUTROS). OS
ELEITORES ESCOLHEM OS ELEITORES AFETOS AO CANDIDATO A OU E.
Os Grandes Eleitores reúnem-se no colégio eleitoral, que vai escolher o
presidente, eleito por SUFRÁGIO INDIRETO. Pode ocorrer que o nº de votos da
população nos grandes eleitores no candidato b é superior ao nº de votos do
candidato a.
Em princípio, os grandes eleitores estão associados aos candidatos que os
indicam, mas se não o for, não há qualquer sanção.
O poder de estatuir em matéria judicial pertence aos tribunais e, dentro desses,
ao SUPREMO TRIBUNAL DOS ESTADO e, acima, o STF em Washington D.C..
O poder de impedir está, politicamente, nas mãos do presidente, que tem poder
de veto – ao discordar, devolve o diploma ao congresso, que depois, só com ¾,
pode obrigar o presidente e receber o diploma outra vez.
O Presidente tem o VETO BOLSO/VETO ALGIBEIA – DEIXA O DIPLOMA,
não veta, nem passa. O poder de impedir também reside nos tribunais, porque
esses podem fiscalizar a constitucionalização das leis.
É O CONGRESSO QUE, ATRAVÉS DO ORÇAMENTO, TEM NAS MÃOS OS
MEIOS FINANCEIROS DA ADMINISTRAÇÃO – Mesmo que um presidente
queira a guerra, quem tem os meios é o Congresso.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O CONGRESSO PODE FISCALIZAR A POLÍTICA E ATUAÇÃO DO


PRESIDENTE. PODE DESENCADEAR A RESPONSABILIDADE CRIMINAL DE
UM PRESIDENTE (NIXON – Watergate: Escutas são postas na sede do partido
da oposição, o presidente mente a dizer que não sabia e renuncia, antes de ser
destituído / BILL CLINTON: Mentiras e atos não tolerantes na Casa Branca, foi
objeto de um processo de responsabilidade criminal (impeachment), no qual o
Congresso negou e não permitiu.
Os atos do executivo estão sujeitos a controlo de legalidade pelos tribunais,
que são controlados pelas leis, que só podem ser constitucionais, e as
nomeações dependem da conjugação da vontade do presidente que nomeia e o
nomeado que não pode ter objeções pelo senado
DIFUSÃO DO PRESIDENCIALISMO NORTE AMERICANO
1) O presidencialismo norte americano foi exportado para, primeiramente:
França em 1848 (2ª republica francesa)- liderada pelo sobrinho de
Napoleão que instaura este sistema politico. Na 3ª republica francesa já
institui o parlamentarismo de assembleia;
2) O Segundo país que recebeu esta experiência foi Portugal – Sidónio
Pais.

MODELO FRANCÊS - Está em causa a constituição de 1958 – Duas hipóteses:


1. O presidente é o líder da maioria parlamentar: Há sintonia entre a
maioria politica que elegeu o presidente (sufrágio direto), e quem elegeu
o parlamento. O sistema Hiper presidencial só funciona neste primeiro
cenário. É chefe de estado e também simultaneamente líder da maioria
politica do parlamento, por isso regulamenta a atuação parlamentar;
2. Há duas maiorias politicas, a que elege o presidente da república e o
que elegeu a maioria parlamentar: primeiro-ministro. Enquanto chefe da
maioria, escolhe o primeiro-ministro.
Perfeição do modelo francês→ se as coisas correm bem ao PM, quem é
beneficiado é o PR, porque é quem tem a linha politica do poder. Sempre que as
coisas correm mal, quem é julgado é o PM. O primeiro a “sair”, é sempre o
primeiro-ministro e funciona apenas como um colaborador do PR, o que significa
que o PR em França, soma as vantagens do presidente norte-americano e as
tradicionais vantagens do primeiro-ministro Britânico.
à PR: Tem direito de veto no governo e no parlamento. É ele que preside às
reuniões do executivo. O PR pode instrumentalizar o PM e os ministros à
execução da sua politica. Quando há sintonia política, o PM executa o que lhe é
ordenado pelo PR. O PR francês controla o governo e a maioria parlamentar,
podendo-o destituir facilmente. Tem um papel importante e autónomo no
desencadear do referendo.
No modelo francês quando há sintonia de maioria, não é presidencial, mas sim
híper presidencial. Quando não há sintonia de maioria (coabitação), o modelo
funciona com um decréscimo de poder do PR.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Sistema Diretorial: A origem em França, na constituição de 1995


• Rigorosa separação de poderes, no fundo é a expressão da ideia de
Montesquieu, que a separação de poder é a melhor maneia de limitar o poder.
• O sistema diretorial é um sistema de governo próximo do presidencial. A
grande diferença consiste na natureza colegial do órgão executivo. No
presidencial, é singular, no diretorial, é colegial. Este órgão colegial de natureza
legislativa não pode, todavia, aprovar moções de censura contra o órgão
executivo. Nem o diretório pode dissolver o órgão colegial de natureza
parlamentar. A ideia, portanto, de casamento sem divórcio.
Sistema Convencional: Com origem no pensamento de Rousseau
Assenta-se na concentração. Todos os órgãos são órgãos colegiais e o
poder assenta num sistema de caixas chinesas, ou seja: esta é a convenção, o
órgão máximo que concentra os poderes soberanos, e deste órgão emana um
outro órgão, de cunho executivo. Deste órgão, emanará outro órgão, este sim
emana todos os poderes. O que separa estes dois sistemas:
• Separação e concentração dos poderes
• Responsabilidade politica permanente de cunho mais restritivo, ou de
amplitude eleitoral
à Dois modelos de Sistema Convencional:
1. Jacobino: constituição que nunca chegou a vigorar (1793)
2. Modelo Soviético, com todo o seu constitucionalismo em base neste
sistema. Assenta-se na ideia de concentração de poderes, no soviete
supremo: bicameral.

Sistemas de raízes pré-liberal:


Rousseau dentro do liberalismo, é partidário de uma conceção diferente da
divisão de poderes.
Parlamento de assembleia→ separação de poderes.
É o modelo de origem, mas não é a sua expressão – 3ª republica.

Como sobreviveram os sistemas liberais?


Os modelos de organização politica que existem num estado constitucional, cuja
origem está no modelo anterior às revoluções.
3 modelos:
1. Monarquia Limitada;
2. Cesarismo;
3. Governo do Chanceler
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

1. A Monarquia Limitada
É o resultado da contrarrevolução – uma reação aos excessos da revolução
francesa. O grande protagonista deste sistema é Benjamin Constant. O primeiro
expoente deste regime é a Carta Constitucional de 1814.
• O centro do poder político, da decisão constituinte, está instante no rei;
• O rei tem uma constituição escrita para o limitar;
• O rei, na sua atuação quotidiana, está limitado pela separação de poderes,
tem de contar com os tribunais e com o parlamento;
• Ainda assim, o principio monárquico domina a carta constituinte de 1814 em
França, e 1826 em Portugal;
• O ato constitucional é um ato de graça, outorgada pelo rei. Decide por si
limitar os seus poderes. A lei só é lei se o rei a sancionar: conjunto de duas
vontades, a de quem aprova (parlamento), e de quem a aceita: o rei;
• O veto do rei tem soberania absoluta;
• O rei pode dissolver a camara baixa, provocando eleições;
• Compete ao rei unir os membros da camara alta;
• Os seus ministros não são responsáveis politicamente no parlamento;
• O rei é o titular do poder moderador: é a chave dos demais poderes;
• Os tribunais são independentes, mas administram a justiça consoante a
vontade do rei;
• Se a constituição não atribui competência a outros órgãos, a competência
regra pertence ao rei: titular da competência das competências;
Este foi o modelo que esteve na base do império austro-húngaro e do alemão,
sobrevivendo até ao fim da 1º GM (1919). Este modelo resistiu até a república
em Portugal (5 de outubro de 1910).

2. O cesarismo – É caracterizado por:


Concentração de poderes, com a diferença de que a concentração de poderes
do primeiro é na assembleia, no cesarismo decorre somente no César.
Pressupostos históricos: Napoleão e ainda tem a expressão entre 1852 e 1870,
no 2º Império. Baseia-se no plebiscito, a legitimação democrática do titular do
poder. Com a diferença, que na democracia chega ao poder quem ganha as
eleições, aqui continua no poder aquele que desencadeia o poder: legitimação à
posteriori.

3. O Governo de Chanceler
A origem está na Alemanha e na constituição que baseou a unificação alemã:
1871. No ano anterior é a derrota francesa, e em Versalhes, o chanceler
prussiano proclama a unificação alemã. O poder politico está concentrado no
chefe de estado: o imperador. Mas quem exercia o poder era alguém da
confiança politica do imperador, a quem o imperado delegava os seus poderes:
o chanceler.
O chanceler só é politicamente responsável pelo imperador. O executivo tem
a cabeça do imperador, mas por outro lado tem a cabeça do chanceler. É o
chanceler que escolhe os ministros e estes respondem sobre o chanceler, que
por sua vez, responde ao imperador. O parlamento não determina a cessação
dos governos, por isso o sistema não é parlamentar. Vigorou em Portugal na
constituição de 1973, O Estado Novo regeu-se por este sistema, com a diferença
que o chefe de estado era o presidente república.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

Ideias sucintas:
Dissolução pode ser uma forma de superar uma crise, quando não há outra
solução, ou pode ser um instrumento na mão do governo, para reforçar a sua
posição: tradição britânica. Há sistemas que não o podem fazer, logo, o chefe de
Estado tem de se conformar com o seu congresso.
Semelhanças: o presidente francês, tal como o primeiro-ministro
britânico, é o líder da maioria parlamentar. Enquanto este líder, não só
controla o parlamento, como controla o executivo. Quem preside os
ministros, não é o primeiro-ministro mas sim o presidente da republica.
Ius cogens: duvida quanto à vinculação dos Estados, se é ou não imperativo/de
escolha própria e individual?
Toda a violação de normas de ius cogens determina a nulidade do ato
deliberado pelo respetivo Estado. Se for uma norma da constituição: dá-se o
problema de inconstitucionalidade de normas constitucionais. Porque violam um
padrão normativo, que está acima da constituição escrita de qualquer estado.

A constituição como teoria, como lei fundamental:


CONSTITUIÇÃO
Vista como ato jurídico e à luz das normas constitucionais.
A ideia tradicional da constituição resume-se no fundo a 3 notas:
a) A CRP expressa a unidade axiológica do sistema jurídico. É a síntese de
valores do sistema jurídico;
b) Tem uma força jurídica prevalecente – todos os actos jurídicos têm de ser
conformes com a CRP, caso contrário serão inconstitucionais – ocupa o topo na
hierarquia;
c) É expressão do monopólio do poder constituinte do Estado.
Nem sempre a Constituição é o topo da hierarquia das normas, e não é apenas
o texto escrito. Pode ser um conjunto de costumes e convenções – o modelo dos
EUA, dá palavra aos tribunais. A constituição não formal é prevalecente em
alguns casos à constituição formal.
A constituição dentro do sistema jurídico: A constituição é num esquema de
um autor austríaco, ocupa o topo da estrutura hierárquica normativa.
No topo da pirâmide, assentando na ideia de que a constituição é escrita, tem
uma força jurídica prevalecente. A constituição é a pauta normativa de todas as
demais leis. É a força jurídica prevalecente. Se houver um ato jurídico que vai de
encontro com a constituição, é um ato inválido e, portanto, inconstitucional.
• Inconstitucional porque quem emanou o ato, não era competente, não tinha
esse poder: inconstitucionalidade organiza;
• O ato foi praticado sem a forma devida, ou mesmo com a forma devida o
seu percurso foi desconforme. Ex: a constituição diz que a lei em causa
deve, antes de ser aprovada, ser ouvida pelos órgãos das regiões
autónomas. Caso contrario, a lei não é válida;
• O ato pode ser proveniente do órgão competente e até respeitar a forma,
no entanto, o objeto do ato não tem fundamento. Nestes casos, quando viola
a constituição: inconstitucionalidade material.
• A força jurídica prevalecente (a constituição) prevalece sempre sobre os
demais atos.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

O Sistema
• Os valores essenciais de uma ordem jurídica provêm da constituição.
• A constituição ilumina quem faz as normas, e por isso essas normas são
axiologicamente justas. É a expressão do monopólio decisório do Estado,
traduz a institucionalização jurídica do Estado.
• A constituição como expressão do Estado, na feitura ou modificação da
constituição.
Nem sempre são aplicáveis, no caso britânico não acontece (constituição
flexível e consuetudinária). Para ser alterada, basta uma lei do parlamento. Não
há a visão rígida e estratificada, que está na base do pensamento de Kelsen.
Problemas quanto à ideia tradicional da Constituição
• Dentro das constituições compromissórias, nos estados modernos
(CRP). Porque na base da constituição não está uma única pessoa, há uma
pluralidade de partidos que partilham de ideias distintas. A constituição é
um compromisso ideológico. A CRP permite a privatização, assim como a
nacionalização. Impõe determinadas soluções, mas deixa para a margem a
liberdade do legislador a solução de outro casos. É complexa a
determinação da ordem axiológica da constituição. Não é simples e objetiva.
Por expressar a unidade, não significa que seja fácil de determinar –
Exemplo: leis fraturantes como o casamento gay, eutanásia, aborto. Há
quem diga que a constituição o permite, e quem diga que não o permite.
Com fundamentos jurídicos racionais, pode se defender as duas posições.
A unidade ideológica que resulta da constituição não é objetiva e clara. Não
é fácil determinar a linha de valores e princípios que emergem.
• A ideia que está na base do pensamento de Kelsen: a constituição é só
a norma escrita e publicada, a oficial. Ao lado das normas escritas, é
possível que a factualidade gere padrões normativos, uma não escrita.
Cada pais tem duas constituições: a escrita e a não escrita que as vezes se
sobrepõe à escrita.
• Normas costumeiras não resultam do que está escrito. Cumpre-se assim,
o costume, o hábito, uma pratica reiterada que ganhou convicção.
• Precedente constitucional: assume força vinculativa para casos idênticos.
O precedente pode servir como arma argumentativa, porque anteriormente
já foi adotada uma solução idêntica. A dissolução do parlamento não
determina, necessariamente, a demissão do governo, por exemplo.
• Normas que têm a ver com cortesia constitucional. São regras de
cortesia, de natureza ética, de bons modos.
Há uma fragmentação da força normativa da constituição – a concorrência de
normas fundamentais de DC. Nem sempre o Estado tem o monopólio da
formação das normas constitucionais:
1. Há uma normatividade não oficial, que escapa ao Estado.
2. Há normas que são produzidas pela comunidade internacional (ius
cogens), que são imperativas para todos os Estados. Exemplo: uma constituição
que admita a escravatura, essas mesmas normas eram inconstitucionais,
violavam valores normativos, supra-nacionais e supra-constitucionais.
3. Pode haver normas elaboradas por outras entidades, que não o Estado. A
internacionalização de certas matérias. Matérias que eram do critério de cada
estado, passam a ter a condição internacional. Pode haver princípios
fundamentais que se sobrepõe à vontade do Estado.
Marcos Alves Turma: A6 - 2022/2023

A força constitucional, pode ser proveniente de normas escritas,


normas não escritas ou normas provenientes do exterior:
Há uma pluralidade de fontes a revelarem normas constitucionais e hoje, a
constituição, é uma constituição multinível. Há um nível formal e oficial: normas
produzidas pelo Estado, e normas informais que fazem parte da constituição não
oficial. Normas que se sobrepõe às normas internas. Também há normas feitas
por estruturas transnacionais: EU.
Há fragmentação da força normativa da constituição formal. Porque há uma
concorrência de normas constitucionais. Pode acontecer que esta concorrência
de fontes pode determinar soluções jurídicas antinómicas (conflitos entre
normas). Isto coloca em causa a própria unidade do sistema jurídico. A
pluralidade de fontes, produz muitas vezes confrontos entre normas.
Há também uma relativização da força normativa da constituição interna.
• Podem existir fenómenos de auto desconstitucionalização: retirar força
constitucional a certas normas da constituição, ou seja, degradar a força
das normas constitucionais, para serem ordinárias.
• Pode acontecer que a própria constituição atribua valor supraconstitucional,
a certas matérias. É o oposto do primeiro ponto. Normas das constituição
que lhes é dado um valor superior das demais.
• Art.º 16/2: Os preceitos devem ser interpretados e integrados de harmonia
com a DDH. A própria constituição está a conceder que a DDH tem um valor
superior em relação às demais normas constitucionais. Reconhece esse
valor supra constitucional, a todas as normas da constituição e das normas
ordinárias. Há uma subordinação das normas da CRP à DDH.
• A perda de efetividade das normas constitucionais→ as normas
constitucionais estão lá escritas, mas quando chega ao momento da
verdade, não são aplicadas. Objeto de um desuso: meio caminho de um
costume contrario à constituição. Exemplo: norma socialista.
Dentro da própria constituição, pode dizer que há preceitos seus que têm uma
hierarquia superior a outros preceitos da constituição→ Dentro dos seus
preceitos dizer que há umas normas mais constitucionais que outras. Exemplo:
Art.º 19º/6 – deste artigo resultam duas normas essenciais:
1. Quais são os direitos fundamentais, que mesmo em estado de exceção,
nunca poderão ser suspensos.
2. Uma hierarquia de direitos fundamentais, logo, dentro da constituição.
Isto relativa a força normativa da constituição.
Quando se fala na constituição, nem sempre são feitas pela intencionalidade do
próprio estado. De um processo formal, há normas que surgem em contexto
informal, como é o exemplo do costume.
A 3ª República Francesa (1870) atribui ao chefe de estado o poder de dissolver
o parlamento, mas nunca o fez – norma em coma jurídico, mesmo escrita, nunca
aplicada, como se nunca tivesse chegado ao ordenamento jurídico.
→ O uso e o abuso da modificação da constituição também vem a relativizar a
força normativa da constituição.
→ Quando a constituição remete a produção dos efeitos das suas normas.
Nos termos da lei, a objeção da existência só existe
quando, e como, a lei o proferir.
É a lei que dá utilidade prática à constituição.

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