Você está na página 1de 32

1ª Fase | 37° Exame da OAB

Direitos Humanos

1ª FASE 37° EXAME

Direitos Humanos
Prof. Mateus Silveira

1
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade.

Lembre-se: o seu sonho também é o nosso.

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc. ♥

2
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

1ª FASE OAB | 37° EXAME

Direitos Humanos
Prof. Mateus Silveira

Sumário

1. Conceitos, Teorias e Estruturas Gerais dos Direitos Humanos ............................................... 4


2. Sistemas de Direitos Humanos: Internacionalização dos Direitos Humanos, ONU e Carta
Internacional dos Direitos Humanos .......................................................................................... 11
3. Direitos Humanos Internacional: Tratados Internacionais Diversos de Proteção das Pessoas ... 17
4. Sistemas Regionais de Direitos Humanos ............................................................................. 20
5. Sistema Nacional de Direitos Humanos: Constituição e Leis Protetivas dos Direitos Humanos .. 24
6. Direito dos Refugiados e Asilados ......................................................................................... 29
7. Tribunal Penal Internacional (TPI) – Estatuto De Roma ........................................................ 30
8. Tratado de Marraqueche........................................................................................................ 30
9. Lei de Migração (Lei No 13.445/2017).................................................................................... 31

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em outubro de 2022.

3
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

1. Conceitos, Teorias e Estruturas Gerais dos Direitos Humanos

1.1. Fontes, princípios e classificação dos Direitos Humanos


Conceituarmos direitos humanos é algo desafiador, pois podemos apresentar diversos conceitos
que se complementam, tais como o conjunto de direitos e garantias assegurados nas declarações e nos
tratados internacionais de direitos humanos e o conjunto de direitos considerados indispensáveis para a
vida humana pautada em liberdade, igualdade e fraternidade.
Um dos grandes elementos conceituais dos direitos humanos é o reconhecimento de que essa dis-
ciplina estabelece as liberdades públicas individuais, ou seja, aquelas prerrogativas que têm o indivíduo em
face do Estado.
Há outros conceitos que podemos abordar ligados aos direitos humanos:
1) O conjunto de direitos e garantias assegurados nas declarações e tratados internacionais de
direitos humanos.
2) O conjunto de direitos considerados indispensáveis para vida humana pautada na liberdade,
igualdade e dignidade.
3) Dá-se o nome de liberdades públicas, de direitos humanos ou individuais àquelas prerrogativas
que tem o indivíduo em face do Estado.
A expressão “direitos humanos” está ligada diretamente ao direito internacional público, pois são os
tratados e documentos internacionais a principal fonte de direitos humanos que temos. Desse modo, quando
falamos em direitos humanos, estamos nos referindo a direitos que são garantidos por normas de origem e
natureza internacional, ou seja, por declarações ou tratados celebrados entre os Estados com o propósito
específico de proteger pessoas sujeitas à jurisdição dos Estados signatários dos documentos internacionais
(MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direitos humanos. 4. ed. São Paulo: Método, 2017).
Direitos Humanos (ordem internacional) X Direitos Fundamentais (ordem interna)

*Para todos verem: esquema.

Direitos Fundamentais
Ordem Interna
(Estado/Nação/País)
Constituição de cada país

Direito das Pessoas


Ordem Internacional
(Organismos Direitos Humanos
Internacionais)

4
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Terminologias diferenciadas:
*Para todos verem: esquema.

• Direitos que não são expressos no documentos internos e


Direitos do internacionais, podem ser chamados de direitos naturais.
Homem

• Direitos que estão previstos e disciplinados nos textos


Direitos do constitucionais.
Homem

• Direitos estabelecidos em normas internacionais (tratados,


Direitos declarações, pactos e convenções).
Humanos

1.1.1. Características dos Direitos Humanos


Historicidade: os direitos humanos são históricos, ou seja, são direitos que se estabeleceram atra-
vés dos tempos, sendo conquistados e construídos. Destacam-se os precedentes da internacionalização
dos direitos humanos (Direito Humanitário, Liga das Nações e Organização Internacional do Trabalho –
OIT) e a efetiva internacionalização dos direitos humanos a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com
a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945.
Inerência: os direitos humanos pertencem a todos os seres humanos, são inerentes à condição hu-
mana.
Universalidade: não importa a raça, a cor, o sexo, a origem, a condição social, a língua, a religião
ou orientação sexual, pois todas as pessoas são titulares dos direitos humanos. Desse modo, estabelecer
que os direitos humanos são universais significa que não se requer outra condição para a efetivação dos
direitos além de o sujeito ser pessoa humana.
Atenção!
Universalismo x Relativismo cultural
A concepção universal dos direitos humanos delineada pela Declaração Universal de 1948 e reafir-
mada pela Declaração de Viena de 1993 sofreu e ainda sofre fortes resistências dos adeptos do movimento
do relativismo cultural.

5
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Para os relativistas, a noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, eco-
nômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade. Segundo os relativistas, cada
cultura possui o seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que estão relacionados às
específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Nesse sentido, acreditam os que se
filiam ao relativismo cultural que o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal, tornando-
se necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas por cada sociedade, bem como seu
peculiar sistema moral.
No olhar relativista, há o primado do coletivismo. Isto é, o ponto de partida é a coletividade, e o
indivíduo é percebido como parte integrante da sociedade. Já na ótica universalista, há o primado do indi-
vidualismo. O ponto de partida é o indivíduo, sua liberdade e autonomia (a dignidade humana como ele-
mento individualista), para que, então, se avance na percepção dos grupos e das coletividade s.
Transnacionalidade: não importa o local em que esteja o ser humano, os direitos humanos têm o
viés internacional, porém, como estão ligados ao direito internacional público, há questões ligadas aos limi-
tes da soberania dos Estados que provocam um debate sobre os efeitos e a eficácia da transnacionalidade
dos direitos humanos.
Indivisibilidade: os Direitos Humanos não são fracionados; implicam unicidade, assegurando não
ser possível se reconhecer apenas alguns direitos humanos (atenção aos direitos sociais e aos direitos
difusos e coletivos).
Interdependência: muitas vezes, para o exercício de um direito humano, passa-se obrigatoria-
mente pelo anterior de outra geração/dimensão.
Indisponibilidade (irrenunciabilidade): o ser humano não pode abrir mão, dispor de um direito
humano, por ser inerente a ele, nem os Estados podem suprimi-los, a partir do momento que os reconhece.
Por este motivo, a autorização de seu titular (pessoa humana) não justifica ou convalida qualquer violação
do conteúdo protetivo dos direitos humanos.
Imprescritibilidade: um direito humano não prescreve por decurso de prazo, ou seja, não se es-
gotam com o passar do tempo e podem ser vindicados a qualquer tempo. Há exceções e limitações expres-
samente impostas por tratados internacionais que preveem procedimentos perante cortes ou instâncias
internacionais.
Complementaridade: os direitos humanos devem ser interpretados em conjunto, não havendo hi-
erarquia entre eles.
Inter-relacionalidade: os direitos humanos e os sistemas de proteção se inter-relacionam,

6
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

possibilitando às pessoas escolher entre o mecanismo de proteção global ou regional, não havendo hierar-
quia entre eles.
Inviolabilidade: esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa ou autoridade.
Vedação do retrocesso ou do regresso: uma vez estabelecidos os direitos humanos, não se ad-
mite o retrocesso visando sua limitação ou diminuição. Os direitos humanos devem sempre agregar algo
de novo e melhor ao ser humano, não podendo o Estado proteger menos do que já protegia anteriormente.
Deste modo, os Estados estão proibidos de retroceder em matéria de proteção dos direitos humanos.
Prevalência da norma mais benéfica: na solução de um caso concreto deve prevalecer a norma
mais benéfica para a vítima da violação dos direitos humanos.
1.1.2. Da interpretação conforme os direitos humanos
Todas as normas (internas e internacionais) presentes em determinado Estado e que atingem de
uma ou outra forma os indivíduos sujeitos à jurisdição estatal devem ser interpretadas em conformidade
com esses direitos, pois os direitos humanos são o núcleo-chave do direito pós-moderno (MAZZUOLI,
2014).
Portanto, todas as normas em vigor no Estado, sejam internas ou internacionais, devem ser inter-
pretadas “CONFORME” os direitos humanos, sem qualquer exceção. A interpretação conforme os direitos
humanos deve seguir, prioritariamente, o entendimento da jurisprudência dos tribunais internacionais de
acordo com a organização de sistemas de direitos humanos a qual o Estado está vinculado.

1.2. Categorias e dimensões dos direitos humanos


A classificação dos direitos humanos quanto à sua natureza restou fragmentada em dois campos
que os próprios tratados internacionais criaram: a existência de direitos civis e políticos, por um lado, e de
direitos econômicos, sociais e culturais, por outro.
Direitos civis e políticos: em regra, são direitos relacionados à vida, liberdade e participação polí-
tica dos cidadãos. Também, em regra, exigem uma atitude negativa dos Estados, que não podem coibir a
liberdade nem proibir a manifestação política de seus nacionais.
Mas, em alguns momentos, impõe aos Estados certos deveres positivos, como a promoção de
eleições periódicas pelos Estados (art. 25 do PIDCP; Decreto n o 592/1992).
Direitos econômicos, sociais e culturais: são os denominados direitos sociais, como o direito a
alimentação, saúde, educação e habitação, que, por sua vez, obrigam os Estados a exercerem prestações
positivas, isto é, deverão proporcionar aos cidadãos serviços e bens públicos destinados ao cumprimento
de condições materiais suficientes de existência.

7
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Há também prestações negativas, como a não interferência no direito à sindicalização (art. 8 o do


PIDESC; Decreto no 591/1992).
Apesar de hoje termos diversos autores estabelecendo 4 a, 5a e até 6a dimensões ou gerações de
direitos humanos, a classificação mais cobrada e utilizada é a que apresenta as três dimensões clássicas
baseada no ideal da Revolução Francesa.

*Para todos verem: quadro.

1a Geração ou Dimensão
• Direito das Liberdades Vida, Liberdades (religiosa, de locomoção, de manifestação etc.),
• Direitos Civis e Políticos Propriedade, Direitos Políticos, etc.
• Direitos de Defesa ou Negativos

2a Geração ou Dimensão
• Direito das Igualdades Educação, Saúde, Trabalho, Previdência Social, Assistência Social,
• Direitos Sociais e Econômicos etc.
• Direitos Positivos e/ou Prestacionais

3a Geração ou Dimensão
• Direito da Fraternidade
Meio Ambiente, Paz, Proteção de Coletividades Vulneráveis, etc.
• Direitos de Solidariedade e Coletivos
• Direitos Transindividuais e/ou Difusos

1.3. Evolução histórica e precedentes da internacionalização dos Direitos


Humanos
Os Direitos Humanos são fruto de uma evolução histórica, ou seja, foram sendo conquistados ao
logo do tempo e da História. Podemos destacar o Cilindro de Ciro na Idade Antiga, em 539 a.C.: os exércitos
de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade da Babilônia. Mas foram as suas
ações posteriores que marcaram um avanço muito importante para o Homem. Ciro libertou os escravos,
declarou que todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade
racial. Estes e outros decretos foram registados num cilindro de argila na língua arcádica em escrita cunei-
forme. É considerado pela ONU uma das primeiras declarações de direitos.
A evolução histórica apresenta-nos a Carta Magna (1215), que foi possivelmente a influência inicial
mais significativa no amplo processo histórico que conduziu o constitucionalismo ocidental hoje conhecido.
A Magna Carta é um documento de 1215 que limitou o poder dos monarcas da Inglaterra. Com este docu-
mento, os monarcas tiveram que renunciar a certos direitos, respeitar determinados procedimentos legais,
bem como reconhecer que a vontade do rei estaria sujeita à lei. Impediu, assim, o exercício do poder abso-
luto pelos monarcas e é amplamente visto como um dos documentos legais mais importantes no

8
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

desenvolvimento da democracia moderna. A Magna Carta consagra, entre outros, o direito de todos os
cidadãos livres possuírem e herdarem propriedade e serem protegidos de impostos excessivos; o direito
das viúvas que possuíam propriedade de decidir não voltar a casar; o estabelecimento dos princípios pro-
cessuais e a igualdade perante a lei e o direito da igreja de estar livre da interferência do governo. Contém
ainda provisões que proíbem o suborno e a má conduta oficial.
A Magna Carta de 1215 é um elemento importante, mas podemos destacar as Petições de Direito
da Inglaterra no século XVII, a revolução burguesa na França e a independência americana como outros
marcos históricos importantes dos direitos humanos na História, pois até o processo de internacionalização
dos direitos humanos, muitos países foram contribuindo um pouco para o desenvolvimento histórico dos
direitos das pessoas.
1.3.1. Dos precedentes da internacionalização dos Direitos Humanos
Os direitos humanos são fruto de uma afirmação histórica da proteção dos direitos das pessoas ao
longo do tempo, contudo, a doutrina baseada nas lições da Profa. Flávia Piovesan estabeleceu três ele-
mentos como os precedentes da internacionalização dos direitos humanos: o Direito Humanitário, a cria-
ção da Liga das Nações e o surgimento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919.
1.3.1.1. A Liga das Nações Unidas
Foi uma organização internacional criada em abril de 1919, quando a Conferência de Paz de Paris
adotou seu pacto fundador, posteriormente inscrito em todos os tratados de paz. Ainda durante a Primeira
Guerra Mundial, a ideia de criar um organismo destinado à preservação da paz e à resolução dos conflitos
internacionais por meio da mediação e do arbitramento já havia sido defendida por alguns estadistas, es-
pecialmente o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. Contudo, a recusa do Congresso norte-
americano em ratificar o Tratado de Versalhes acabou impedindo que os Estados Unidos se tornassem
membro do novo organismo.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os países vencedores reuniram-se em Versa-
lhes, no subúrbio de Paris, na França, em janeiro de 1919, para firmar um tratado de paz, o Tratado de
Versalhes. Um dos pontos do tratado era a criação de um organismo internacional que tivesse como finali-
dade assegurar a paz num mundo traumatizado pelas dimensões do conflito que se encerrara. Em 15-11-
1920, teve lugar em Genebra, na Suíça, a Primeira Assembleia Geral da Liga das Nações. Os objetivos da
organização eram impedir as guerras e assegurar a paz, com a implementação de ações diplomáticas, de
diálogos e negociações para a solução dos litígios. Porém, infelizmente, não conseguiu impedir a Segunda
Guerra.
Desse modo, diante do fracasso de não ter conseguido coibir a ocorrência da Segunda Guerra

9
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Mundial, em abril de 1946, o organismo se autodissolveu, transferindo as responsabilidades que ainda


mantinha para a recém-criada Organização das Nações Unidas, a ONU.
1.3.1.2. A Organização Internacional do Trabalho
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919 como parte do Tratado de Versa-
lhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Sua constituição converteu-se na Parte XIII do Tratado de
Versalhes (1919). Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente
pode estar baseada na justiça social. É a única das agências do Sistema das Nações Unidas com uma
estrutura tripartite, composta de representantes de governos e de organizações de empregadores e de tra-
balhadores. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (con-
venções e recomendações).
As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu
ordenamento jurídico. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT, participando da Conferência
Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião. Na primeira Conferência Internacional do Trabalho,
realizada em 1919, a OIT adotou seis convenções. Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão e da
Segunda Guerra Mundial, a OIT adotou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A
Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal
dos Direitos Humanos (DUDH).
Em junho de 1998 (86 a sessão), foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos
Fundamentais do Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal da obrigação de
respeitar, promover e tornar realidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT, ainda
que não tenham sido ratificadas pelos Estados-membros.
Atualmente, a OIT estabeleceu um patamar mínimo de proteção dos trabalhadores e conseguiu
identificar os sujeitos de proteção, tais como crianças, gestantes e idosos.
1.3.1.3. A tutela internacional da pessoa humana e seus três eixos de proteção
Direito Internacional dos Direitos Humanos: proteção do ser humano em todos os aspectos,
englobando direitos civis e políticos, direitos sociais, econômicos, culturais e os direitos transindividuais.
Direito Internacional dos Refugiados: age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local
de residência, concessão do refúgio até seu eventual término.
Direito Internacional Humanitário: foca na proteção do ser humano na situação específica dos
conflitos armados (internacionais ou não internacionais – guerras civis).
O Direito Internacional Humanitário é também conhecido como o direito internacional da guerra,
pois precede a própria formação do direito internacional dos direitos humanos. Surge com a iniciativa do

10
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

suíço Henri Dunant, que, após presenciar o massacre e a desumana situação de feridos na Batalha de
Solferino (1859), ocorrida em solo italiano, decide criar a Cruz Vermelha e iniciar uma campanha internaci-
onal para a proteção dos militares feridos e doentes.
As regras que regulam o direito humanitário estão previstas nas Convenções de Genebra realizadas
para regularem o direito humanitário.
1.3.1.4. Princípios de direito internacional humanitário
Princípio da humanidade: de acordo com este princípio, a dignidade humana deve ser preservada
por mais precária e gravosa que seja a situação.
Princípio da necessidade: os bens civis devem ser respeitados e não podem ser alvo de ataques
e retaliações.
Princípio da proporcionalidade: as partes devem utilizar de seus recursos bélicos de forma pro-
porcional a superar e vencer a parte adversa, rejeitando-se um malefício superior aos ganhos militares
pretendidos.
Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV): principal entidade responsável pelo monitora-
mento do cumprimento do direito internacional humanitário pelos Estados. Em realidade, uma orga-
nização independente e não governamental cujo status e prerrogativas são reconhecidos nas próprias Con-
venções de Genebra. O CICV visa defender e amparar as vítimas de guerras e catástrofes naturais, além
de auxiliar no contato com familiares e na busca por desaparecidos.
Embora não prevejam um órgão internacional voltado para a aplicação de sanções, os tratados que
compõem o direito internacional humanitário podem ser invocados perante a Corte Internacional de Justiça
(CIJ) e o Tribunal Penal Internacional (TPI).
Desse modo, o desenvolvimento do direito internacional humanitário é considerado um dos prece-
dentes históricos para a internacionalização dos direitos humanos.

2. Sistemas de Direitos Humanos: Internacionalização dos


Direitos Humanos, ONU e Carta Internacional dos Direitos
Humanos

Os Direitos Humanos, após a criação da ONU e com a consequente internacionalização da proteção


dos direitos das pessoas em todo o mundo, podem ser divididos e identificados por sistemas: Sistema
Universal ou Global de Direitos Humanos ligado à ONU, Sistemas Regionais de Direitos Humanos (Europa,
América e África) e Sistemas Nacionais de Proteção aos Direitos Humanos, que se efetivam com a

11
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

constitucionalização das normas internacionais que protegem os direitos das pessoas.


É importante destacar que os Direitos Humanos estão regulados nos documentos internacionais, e
quando esses direitos presentes nesses documentos são colocados em constituições, há uma mudança de
nomenclatura, passando-se a chamar direitos fundamentais.
Quanto aos sistemas, temos: Sistema Universal, organizado em uma estrutura principal de quatro
documentos: Carta da ONU (1945), Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e Pactos Internaci-
onais (1966); a Declaração Universal, somada a esses pactos, forma o que chamamos de Carta Internaci-
onal de Direitos Humanos (International Bill of Rights); Sistemas Regionais, são três: europeu, americano
e africano.
Para cada sistema regional temos um documento de referência: europeu – Convenção Europeia de
Direitos Humanos (1950); americano – Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969); e africano –
Carta Africana de Direitos Humanos e carta dos povos (1981); e o sistema nacional, formado, no caso do
Brasil, pela Constituição Federal de 1988 e seu amplo rol de direitos e garantias fundamentais.
Sistemas de Direitos Humanos
*Para todos verem: quadro.

SISTEMA UNIVERSAL (ONU) SISTEMAS REGIONAIS SISTEMA NACIONAL


1945 – Carta das Nações
Europeu – Convenção Europeia de
1948 – Declaração Universal de
Direitos Humanos (1950) Constituições Nacionais
Direitos Humanos (DUDH)
Americano – Carta da OEA (1948) e (Proteção de Direitos Fundamentais)
1966 – Pacto Internacional dos
a Convenção Americana sobre No Brasil, a proteção de direitos
Direitos Civis e Políticos (PIDCP)
Direitos Humanos (1969) fundamentais consta na Constituição
1966 – Pacto Internacional dos
Africano – Carta Africana de Direitos Federal de 1988
Direitos Econômicos, Sociais e
Humanos e carta dos povos (1981)
Culturais (PIDESC)

2.1. Organização das Nações Unidas (ONU)


A ONU foi um nome concebido pelo então Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, uti-
lizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas de 12-1-1942, quando os representantes de 26
países assumiram o compromisso de que seus governos continuariam a lutar contra as potências do Eixo.
A Carta das Nações Unidas foi elaborada pelos representantes de 50 países presentes à Conferência sobre
Organização Internacional, que se reuniu em São Francisco, de 25-4 a 26-6-1945.
A Polônia não teve representante na conferência, mas assinou a declaração posteriormente e se
tornou o 51o país fundador das Nações Unidas. Entretanto, as Nações Unidas começaram a existir oficial-
mente em 24-10-1945, após a ratificação da Carta pela China, pelos Estados Unidos, pela França, pelo
Reino Unido e pela ex-União Soviética, bem como pela maioria dos signatários. Por isso, no dia 24 de

12
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

outubro é comemorado, em todo o mundo, o “Dia das Nações Unidas”.


A ONU é fruto da incompetência do órgão anterior, denominado Sociedade das Nações (ou Liga
das Nações). A ONU surge depois da Segunda Guerra Mundial, em 26-6-1945, após o término da Confe-
rência de São Francisco. Os propósitos da ONU são basicamente manter a paz e a segurança internacio-
nais. A ONU tem 51 países como membros fundadores, incluindo o Brasil, e, atualmente, 193 países-mem-
bros, sendo o Sudão do Sul o último país a se integrar.
Trata-se de uma organização internacional intergovernamental, de vocação mundial, cujo objetivo
inicial é evitar conflitos ou guerras mundiais e promover a paz. A criação da ONU, com suas agências e
órgãos especializados, iniciou uma nova ordem mundial, criando novas condutas e padrões internacionais.
As Nações Unidas são formadas por uma estrutura básica organizada em seis órgãos centrais:
Assembleia Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Secretariado, Conselho de Tu-
tela e Corte Internacional de Justiça.
Destaco o Conselho de Segurança como um dos órgãos centrais da ONU, formado por 15 membros,
sendo cinco permanentes e dez temporários. Os membros permanentes são Estados Unidos, China, Rús-
sia, França e Inglaterra, e os demais são eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de dois anos. A
grande função do Conselho de Segurança é ser o órgão responsável na ONU pela manutenção da paz e
respeito aos princípios da organização.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é um tribunal internacional, um órgão judicial ligado à ONU,
com competência para julgar conflitos internacionais que envolvam os países signatários das Nações Uni-
das e qualquer outro país que se submeta à jurisdição da Corte. A CIJ pode julgar, por exemplo, conflitos
internacionais que envolvam a demarcação e estipulação de limites territoriais entre dois países.
As Nações Unidas são regidas por uma série de propósitos e princípios básicos aceitos por todos
os países-membros da Organização. E entre os propósitos básicos estão manter a paz e a segurança in-
ternacionais e realizar a cooperação internacional para resolver os problemas mundiais de caráter econô-
mico, social, cultural e humanitário, promovendo o respeito aos direitos humanos e às liberdades funda-
mentais.
2.2. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
A DUDH é o primeiro documento universal elaborado pela ONU. É composta de um preâmbulo e
trinta artigos.
Trata-se de uma recomendação do Conselho Econômico e Social da ONU, feita pela Comissão de
Direitos Humanos à Assembleia Geral da ONU, que efetuou uma resolução recomendando o texto aos seus
membros. No entanto, o seu alcance é de norma jus cogens (norma imperativa aceita por todas as nações).

13
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Segundo prevê o art. 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, norma jus cogens é “uma
norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da
qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internaci-
onal geral da mesma natureza”.
Foi adotada e proclamada pela Res. no 217-A da III Assembleia Geral, em 10-12-1948, demons-
trando claramente que não se constitui em uma fonte jurídica de Direito Internacional advinda de um Acordo
Internacional.
Ao final, é importante destacar a presença de normas de direitos humanos de 1 a e 2a dimensões na
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).
Em resumo, a base do Sistema da ONU de Direitos Humanos é:

*Para todos verem: quadro.

SISTEMA UNIVERSAL (ONU)


1945 – Carta das Nações
1948 – Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH)
1966 – Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP)
1966 – Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)

Observação!
Existem muitos outros tratados de direitos humanos ligados ao sistema internacional da ONU, con-
tudo, a Carta Internacional de Direitos Humanos é formada por estes três grandes documentos que são a
declaração e os dois pactos.
2.3. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)
Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (PIDCP) (1966) – Res. no 2.200-A da XXI As-
sembleia Geral da ONU, em 16-12-1966. Entrou em vigor em 23-3-1976. O Brasil aderiu ao Pacto em 24-
1-1992, tendo o Dec. no 592, de 6-7-1992, promulgado o pacto na íntegra.
O PIDCP disciplina a autodeterminação dos povos e a livre disposição de seus recursos naturais e
riquezas; o compromisso dos Estados de implementar os direitos previstos; os direitos e deveres propria-
mente ditos; os mecanismos de supervisão, cujo destaque é o Comitê de Direitos Humanos; as regras de
integração com os dispositivos da Carta da ONU e as normas referentes a ratificação e entrada em vigor.
O PIDCP possui 53 artigos divididos em seis partes.
Destaco os principais direitos constantes no Pacto: direito à vida com a limitação da possibili-
dade de casos de aplicação da pena de morte; direito de não ser submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante; direito a não ser submetido a escravidão e servidão; direito de não ser preso

14
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

apenas por não cumprir obrigação contratual, proibindo qualquer tipo de prisão civil; direito a não ser con-
denado por atos ou omissões não definidos como crime e de não ser submetido a pena mais grave do que
a aplicável na época da realização do delito, direitos esses que consagram o princípio da legalidade e da
irretroatividade do direito penal nas situações que possam prejudicar o réu; direito de as pessoas terem
reconhecida a sua personalidade jurídica em qualquer lugar; direito a vida privada, com ninguém podendo
realizar ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, na família, no domicílio ou na correspondên-
cia de uma pessoa, bem como a proibição de ofensas ilegais a honra e reputação de uma pessoa; e direito
à liberdade de pensamento, consciência e religião.
Ainda no tocante ao PIDCP, no ano de 2009, o Brasil ratificou os dois protocolos facultativos ao
Pacto Internacional dos Direitos Civis. O primeiro reconhece a competência do Comitê de Direitos Humanos
da ONU para receber e apurar denúncias de violações de direitos humanos, destacando que esse órgão
convencional foi criado desde o início do Pacto, em 1966. O segundo protocolo tem como objetivo abolir a
adoção da pena de morte e foi adotado pela ONU em 1989.
Portanto, o Brasil é signatário do Protocolo Facultativo ao PIDCP para abolir a pena de morte, po-
rém, esse protocolo, em seu art. 2 o, item 1, estabeleceu que a proibição da pena de morte não aceitaria
exceções, salvo a reserva formulada no momento da ratificação ou adesão que preveja a aplicação da pena
em tempo de guerra em virtude de condenação por infração penal de natureza militar de gravidade extrema
cometida em tempo de guerra; essa exceção prevista no tratado é a mesma que o Brasil segue no art. 5 o,
XLVII, a, da CF/1988. O Brasil assinou a reserva no momento da ratificação do tratado e, assim, manteve
a possibilidade de aplicação de pena de morte citada na Constituição Federal.
2.4. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966)
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) foi adotado pela
Res. no 2.200-A da XXI Assembleia Geral da ONU. Internacionalmente, entrou em vigor em 3-1-1976, e o
Brasil aderiu ao Pacto em 24-1-1992, com o Dec. no 591/1992, promulgando o pacto na íntegra.
O pacto social é considerado um marco, por ter assegurado destaque aos direitos econômicos,
sociais e culturais, vencendo a resistência de vários Estados e mesmo da doutrina, que viam os direitos
sociais, em sentido amplo, como meras recomendações ou exortações.
O Pacto, no art. 2o, item 1, obriga os países a uma implementação progressiva dos direitos soci-
ais, de maneira que os direitos sejam estabelecidos “pouco a pouco” de acordo com as possibilidades
financeiras de cada Estado. Desse modo, os direitos previstos no PIDESC são obrigatórios, bem como,
após sua implementação, estão protegidos pela proibição do retrocesso.
O PIDESC possui 31 artigos divididos em cinco partes. Destaco os principais direitos protegidos

15
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

pelo tratado: direito ao trabalho; proteção aos trabalhadores; direito de participação e organização sindical;
direito à previdência social e ao seguro social; proteção a família, mulher, crianças e adolescentes; direito
à educação; direito à saúde; proteção à cultura; direito ao desenvolvimento da ciência.
Em maio de 2013, entrou em vigor o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Econô-
micos, Sociais e Culturais. Com esse protocolo, as vítimas de violações de direitos econômicos, sociais e
culturais tutelados pelo pacto que não encontrarem soluções em seus próprios Estados podem dispor de
um mecanismo para apresentar suas queixas e denúncias na ONU, no órgão convencional chamado de
Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais ligado ao PIDESC. Entretanto, o Brasil ainda não integra
a lista de países que ratificaram esse protocolo, portanto, o comitê não poderia receber nenhuma denúncia
contra o Brasil, pois o protocolo ainda não foi assinado pelo nosso país.
Resumindo:

*Para todos verem: esquema.

Carta das
Nações
(ONU)
Base para
existência da
Carta

Pacto
Internacional Carta Declaração
dos Direitos Internacional Universal de
Econômicos, Direitos
Sociais e de Direitos Humanos
Culturais
(PIDCESC)
Humanos (DUDH)

Pacto
Internacional
dos Direitos
Civis e
Políticos
(PIDCP)

16
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

3. Direitos Humanos Internacional: Tratados Internacionais


Diversos de Proteção das Pessoas

3.1. Convenção sobre eliminação de todas as formas de discriminação contra a


mulher
A convenção foi incorporada pelo Brasil pelo Decreto n o 4.377/2002. O documento é um dos trata-
dos internacionais do sistema global/universal de direitos humanos e busca condenar a discriminação con-
tra a mulher e buscar meios para a eliminação de todas as formas de discriminações contra ela.
A convenção possui um protocolo facultativo (Decreto n o 4.316/2002), que permite a apresentação
de denúncias sobre violação dos direitos por ela consagrados.
3.2. Convenção sobre a proteção de migrantes trabalhadores e suas famílias
Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos
Membros das suas Famílias, adotada pela ONU em dezembro de 1990 e em vigor desde julho de 2003,
não foi ratificada pelo Brasil até o presente momento, e por este motivo não se aplica no Brasil.
3.3. Regras mínimas da ONU para o tratamento de prisioneiros
São regras estabelecidas por meio de resoluções e outras formas normativas internacionais ligadas
à Assembleia Geral da ONU. Constituem-se em normas denominadas no direito internacional de soft law,
pois não se configuram em tratados ou convenções internacionais. Entre os elementos centrais apresenta-
dos nas regras temos a necessidade de proteger os direitos humanos/fundamentais da pessoa presa que
não estão entre os efeitos da pena de privação da liberdade, pois a punição ao condenado é a privação d a
liberdade e os elementos que dela decorrem, contudo, o condenado permanece sujeito dos demais direitos
que protegem a sua dignidade como pessoa humana.
3.4. Convenção para proteção contra desaparecimento forçado
Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento
Forçado (Decreto no 8.767/2016)

Artigo 1
1. Nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado.
2. Nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de guerra, ins-
tabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, poderá ser invocada
como justificativa para o desaparecimento forçado.

Qual o conceito de desaparecimento forçado?

17
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Artigo 2
Para os efeitos desta Convenção, entende-se por “desaparecimento forçado” a prisão, a
detenção, o sequestro ou qualquer outra forma de privação de liberdade que seja perpe-
trada por agentes do Estado ou por pessoas ou grupos de pessoas agindo com a autori-
zação, apoio ou aquiescência do Estado, e a subsequente recusa em admitir a privação
de liberdade ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida, privando-
a assim da proteção da lei.

Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas

Artigo I
Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a:
a. não praticar, nem permitir, nem tolerar o desaparecimento forçado de pessoas, nem
mesmo em estado de emergência, exceção ou suspensão de garantias individuais;
b. punir, no âmbito de sua jurisdição, os autores, cúmplices e encobridores do delito do
desaparecimento forçado de pessoas, bem como da tentativa de prática dele;
c. cooperar entre si a fim de contribuir para a prevenção, punição e erradicação do desa-
parecimento forçado de pessoas; e
d. tomar as medidas de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de qualquer outra
natureza que sejam necessárias para cumprir os compromissos assumidos nesta Conven-
ção.

Não há nenhuma exceção para a possibilidade de legalização do desaparecimento forçado:

Artigo X
Em nenhum caso poderão ser invocadas circunstâncias excepcionais, tais como estado
de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergên-
cia pública, para justificar o desaparecimento forçado de pessoas. Nesses casos, será
mantido o direito a procedimentos ou recursos judiciais rápidos e eficazes, como meio de
determinar o paradeiro das pessoas privadas de liberdade ou seu estado de saúde, ou de
identificar a autoridade que ordenou a privação de liberdade ou a tornou efetiva.
Na tramitação desses procedimentos ou recursos e de conformidade com o direito interno
respectivo, as autoridades judiciárias competentes terão livre e imediato acesso a todo
centro de detenção e a cada uma de suas dependências, bem como a todo lugar onde
houver motivo para crer que se possa encontrar a pessoa desaparecida, inclusive lugares
sujeitos à jurisdição militar.

3.5. Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura


A convenção entende por tortura: todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa
penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação,
castigo pessoal, medida preventiva, pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura
a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir
sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.
Não serão considerados tortura pela convenção: as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que
sejam unicamente consequência de medidas legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a reali-
zação dos atos ou aplicação dos métodos mencionados como tortura no conceito anterior.
Quem serão responsáveis pelo delito de tortura?
a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua comissão ou

18
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam.
b) As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se refere a alínea
anterior, ordenem sua comissão, instiguem ou induzam a ela, comentam-no diretamente ou nela sejam
cúmplices.
Atenção!
O fato de haver agido por ordens superiores não eximirá o agente da responsabilidade penal cor-
respondente.
Artigo 10
Nenhuma declaração que se comprove haver sido obtida mediante tortura poderá ser ad-
mitida como prova num processo, salvo em processo instaurado conta a pessoa ou pes-
soas acusadas de havê-la obtido mediante atos de tortura unicamente como prova de que,
por esse meio, o acusado obteve tal declaração.
Artigo 11
Os Estados Partes tomarão as medidas necessárias para conceder a extradição de toda
pessoa acusada de delito de tortura ou condenada por esse delito, de conformidade com
suas legislações nacionais sobre extradição e suas obrigações internacionais nessa ma-
téria.

3.6. Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (Decreto


no 30.822/1952)

ARTIGO I
As Partes Contratantes confirmam que o genocídio quer cometido em tempo de paz ou
em tempo de guerra, é um crime contra o Direito Internacional, que elas se comprometem
a prevenir e a punir.
ARTIGO II
Na presente Convenção entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos
com a intenção de destruir no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou reli-
gioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condição de existência capazes de ocasionar-lhe
a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio de grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

3.7. Convenções da OIT sobre Direitos Humanos


3.7.1. Convenção 169 da OIT (Decreto no 10.088/2019 – Anexo LXXII)

A convenção aplica-se aos povos indígenas e tribais, mas quem são estes povos?

Artigo 1o
1. A presente convenção aplica-se:
a) aos povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e econô-
micas os distingam de outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos, total
ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por legislação especial;
b) aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem

19
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

de populações que habitavam o país ou uma região geográfica pertencente ao país na


época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras estatais
e que, seja qual for sua situação jurídica, conservam todas as suas próprias instituições
sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas.
2. A consciência de sua identidade indígena ou tribal deverá ser considerada como critério
fundamental para determinar os grupos aos que se aplicam as disposições da presente
Convenção.
3. A utilização do termo “povos” na presente Convenção não deverá ser interpretada no
sentido de ter implicação alguma no que se refere aos direitos que possam ser conferidos
a esse termo no direito internacional.

Do respeito aos direitos humanos dos povos indígenas e tribais

Artigo 3º
1. Os povos indígenas e tribais deverão gozar plenamente dos direitos humanos e liber-
dades fundamentais, sem obstáculos nem discriminação. As disposições desta Conven-
ção serão aplicadas sem discriminação aos homens e mulheres desses povos.
2. Não deverá ser empregada nenhuma forma de força ou de coerção que viole os direitos
humanos e as liberdades fundamentais dos povos interessados, inclusive os direitos con-
tidos na presente Convenção.

Da necessidade de ouvir as populações indígenas sobre os assuntos envolvendo as suas terras

Artigo 15
1. Os direitos dos povos interessados aos recursos naturais existentes nas suas terras
deverão ser especialmente protegidos. Esses direitos abrangem o direito desses povos a
participarem da utilização, administração e conservação dos recursos mencionados.
2. Em caso de pertencer ao Estado a propriedade dos minérios ou dos recursos do sub-
solo, ou de ter direitos sobre outros recursos, existentes nas terras, os governos deverão
estabelecer ou manter procedimentos com vistas a consultar os povos interessados, a fim
de se determinar se os interesses desses povos seriam prejudicados, e em que medida,
antes de se empreender ou autorizar qualquer programa de prospecção ou exploração
dos recursos existentes nas suas terras. Os povos interessados deverão participar sempre
que for possível dos benefícios que essas atividades produzam, e receber indenização
equitativa por qualquer dano que possam sofrer como resultado dessas atividades.

4. Sistemas Regionais de Direitos Humanos

4.1. Organização dos Estados Americanos (OEA)


A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo. A sua ori-
gem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro
de 1889 a abril de 1890. Essa reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Ame-
ricanas e começou a se organizar uma rede de disposições e instituições, dando início ao que ficaria co-
nhecido como “Sistema Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional.
A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia, da Carta da OEA, que
entrou em vigor em dezembro de 1951. Posteriormente, a Carta foi emendada pelo Protocolo de

20
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

Buenos Aires, assinado em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de 1970; pelo Protocolo de Car-
tagena das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em 1988; pelo Protocolo de Manágua, assinado
em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de 1996; e pelo Protocolo de Washington, assinado em 1992 e
que entrou em vigor em setembro de 1997.
A organização foi criada para alcançar nos Estados-membros, como estipula o art. 1 o da Carta:
“uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender
sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”. Para atingir seus objetivos mais importantes,
a OEA baseia-se em seus principais pilares, que são a democracia, os direitos humanos, a segurança e o
desenvolvimento.
4.2. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica – PSJCR) (1969)
4.2.1. Dos direitos
Adotada por ocasião da Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em 22-
11-1969.
O Brasil só aderiu à Convenção em 9-7-1992 e a ratificou em 25-9-1992, tendo-a promulgado o
Dec. no 678/1992. O PSJCR entrou em vigor internacional em 18-7-1978. O Brasil, ao depositar a carta de
adesão, fez ressalvas quanto à atuação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos dentro do terri-
tório brasileiro.
O texto do PSJCR possui uma série de “Deveres dos Estados e direitos protegidos”. Há um desta-
que para os direitos civis e políticos, por influência do PIDCP, que, inclusive, deixou os direitos econômicos,
sociais e culturais em segundo plano. Para fiscalizar a aplicação e o cumprimento do extenso rol de direitos,
há os chamados “meios de proteção”, ou seja, órgãos específicos para tal missão: a Comissão Interameri-
cana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Convenção Americana trata essencialmente dos direitos civis e políticos, sendo semelhante ao
PIDCP de 1966. Pode ser analisada em duas partes: a primeira (arts. 1 o a 32 da Convenção) estabelece
direitos civis e políticos acolhidos no sistema interamericano; a segunda parte da Convenção Americana
(arts. 33 a 73) trata dos meios de proteção desses direitos pelos seguintes órgãos competentes: Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH).
Vamos analisar alguns direitos e temas importantes para conseguirmos compreender melhor a im-
portância dos direitos tutelados do Pacto de São José da Costa Rica, pois esse tema é um dos mais exigidos
no Exame de Ordem na prova de Direitos Humanos.

21
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

4.2.1.1. Do Direito à vida


Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e,
em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
4.2.1.2. Da pena de morte
Nos países em que não foi abolida a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente. A pena de morte não estenderá sua
aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente. Não se pode restabelecer a pena de morte nos
Estados que a tenham abolido. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem
a delitos comuns conexos com delitos políticos. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
momento da perpetração do delito, for menor de 18 anos ou maior de 70, nem a mulher em estado de
gravidez.
4.2.1.3. Da proibição da escravidão e da servidão
A Convenção Americana não proibiu que pessoas reclusas trabalhem, só exige que o trabalho não
ofenda a dignidade da pessoa humana. O pacto estabelece, inclusive, que não constituem trabalhos força-
dos ou obrigatórios os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de
sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente.
4.2.1.4. Direito à liberdade pessoal
O pacto proibiu a prisão por dívidas e admitiu apenas uma exceção à proibição, ao estabelecer que
a proibição não limitava os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadim-
plemento de obrigação alimentar.
Atenção a essa proibição, que se configura em um dos fundamentos da interpretação do STF que
levou à edição da Súmula Vinculante no 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito”.
4.2.1.5. Direito à propriedade privada
Toda pessoa tem direito ao uso e ao gozo de seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao
interesse social.
4.2.1.6. Direito de circulação e de residência
Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado tem o direito de nele livremente
circular e de nele residir, em conformidade com as disposições legais.
4.2.1.7. Da expulsão ou retirada compulsória de pessoas de um país
Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional nem ser privado do direito de
nele entrar, ou seja, a expulsão não se aplica aos nacionais do Estado expulsor. O estrangeiro que se

22
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

encontre legalmente no território de um Estado-parte na presente Convenção só poderá dele ser expulso
em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser
expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal
esteja em risco de violação em virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas
opiniões políticas. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
4.2.1.8. Tutela ao asilo político
Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de persegui-
ção por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo com a legislação de cada
Estado e com as convenções internacionais.
4.2.2. Meios de proteção
São competentes para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos
assumidos pelos Estados-partes nessa convenção:
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão;

b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte.

4.2.2.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos


A Comissão é um órgão criado pela OEA que, além das funções que já tinha desde a sua criação,
recebeu funções pelo Pacto de São José da Costa Rica, entre elas a função principal de promover a obser-
vância e a defesa dos direitos humanos, bem como de realizar o juízo de admissibilidade dos casos que
poderão chegar até a Corte.
Quem tem competência para acessar a comissão?
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas ou entidade não governamental legalmente reconhecida em
um ou mais Estados-membros da Organização pode apresentar à Comissão petições que contenham de-
núncias ou queixas de violação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos por um Estado-parte.
A Comissão e as medidas cautelares
Em situações de gravidade e urgência, a Comissão poderá, por iniciativa própria ou a pedido da
parte, solicitar que um Estado adote medidas cautelares para prevenir danos irreparáveis às pessoas que
se encontrem sob sua jurisdição, independentemente de qualquer petição ou caso pendente.
Atenção!
A Comissão comparecerá a todos os casos perante a Corte.
A comissão realiza o juízo de admissibilidade dos casos que não consegue solucionar ou de modo
conciliatório ou por meio de recomendações que sejam seguidas pelos Estados, enviando esses casos para o

23
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, desde que o país denunciado se submeta à jurisdição
da Corte.

4.2.2.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Corte é o órgão judicial do Pacto de São José da Costa Rica que busca resolver os casos de
ofensas realizadas por países aos direitos tutelados na convenção, podendo ser chamada de órgão con-
vencional da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, pois foi criada pelo pacto. Somente os Esta-
dos-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte.
Da competência
A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso, relativo à interpretação e à aplicação
das disposições da Convenção Americana, que lhe seja submetido, desde que os Estados-partes, no caso,
tenham reconhecido ou reconheçam a competência da Corte.
Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis
às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que
considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento,
poderá atuar a pedido da Comissão.
Da competência consultiva da Corte
Os Estados-membros da organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação da Conven-
ção Americana sobre Direitos Humanos ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos huma-
nos nos Estados americanos.
Da decisão da Corte
A sentença da Corte deve ser fundamentada, e será definitiva e inapelável. Os Estados-partes da
Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes. E a parte
da sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo pro-
cesso interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

5. Sistema Nacional de Direitos Humanos: Constituição e


Leis Protetivas dos Direitos Humanos

5.1. Direitos humanos na Constituição Federal


Os Direitos Humanos são princípios das relações internacionais da República Federativa do Brasil,
estando prevista a sua prevalência no art. 4 o, II, da CF/1988.

24
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

A Constituição Federal trouxe a possibilidade de se deslocar a competência de um processo que


esteja na Justiça Estadual para a Justiça Federal quando o tema for a proteção de Direitos Humanos, es-
tabelecendo o Incidente de Deslocamento de Competência (IDC), que ocorre por meio de uma solicitação
do Procurador-Geral da República (PGR) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) nas hipóteses de grave
violação de direitos humanos, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte. O IDC poderá ser solicitado em
qualquer fase do inquérito ou do processo penal.
5.1.1. Incorporação dos tratados internacionais de Direitos Humanos ao Direito brasileiro.
Posição hierárquica
No art. 5o, § 3o, da CF/1988, temos a possibilidade de os tratados de direitos humanos serem incor-
porados à legislação brasileira com força de emenda constitucional, desde que tenham sido aprovados por
votação em dois turnos, nas duas Casas do Congresso e pelo quórum mínimo de três quintos dos membros
de cada Casa em cada uma das votações.
Com base na previsão do § 3o do art. 5o da CF/1988, temos tratados de direitos humanos com força
de emenda ou com força de norma supralegal.
5.2. Direito a indenização e erro judiciário
Segundo a Constituição Federal, o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como
o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. Portanto, há direito de reparação de dano, de dano
judiciário.
5.3. Direito do idoso (Lei no 10.741/2003)
Os idosos são aquelas pessoas com 60 anos ou mais, conforme definiu o Estatuto do Idoso (Lei n o
10.741/2003).
Atenção!
Atenção às idades!
A partir de 65 anos, há concessão do Benefício Assistencial previsto na Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS) aos idosos que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por
sua família, assegurando a eles o benefício mensal de um salário-mínimo.
Aos maiores de 65 anos, fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos
e semiurbanos.
Prioridade especial aos idosos com mais de 80 anos.

25
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

*Para todos verem: quadro.

PRIORIDADE ESPECIAL AOS IDOSOS MAIORES DE 80 ANOS


Atendimento prioritário Prioridade na tramitação dos pro-
Atendimento de saúde
(art. 3º, § 1º, da Lei nº cessos judiciais e administrativos
(art. 15 da Lei nº 10.741/2003)
10.741/2003) (art. 71 da Lei nº 10.741/2003)

5.4. Direito das pessoas com deficiência (Lei no 13.146/2015)


Uma das grandes novidades na proteção das pessoas com deficiência (PCD), com repercussão,
inclusive, em normas do direito civil, é a presunção de sua capacidade plena, estabelecida tanto pela Con-
venção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência quanto pela Lei n o 13.146/2015 (Estatuto da PCD).
Desse modo, essas normas retiram qualquer menção à incapacidade civil da pessoa originada somente
pelo fato de ela ter algum tipo de deficiência.
As normas que estabelecem políticas públicas para a educação brasileira de pessoas com defici-
ência, constantes nos arts. 28 e 30 da Lei n o 13.146/2015, devem ser implementadas nos ensinos funda-
mental e médio pelo Poder Público e pela iniciativa privada, sendo vedada pelas instituições particulares a
cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no
cumprimento dessas determinações.
O direito das pessoas com deficiência está em 3 dos 4 tratados de direitos humanos incorporados
com força de emenda constitucional, conforme prevê o art. 5 o, § 3o, da CF/1988, que são os seguintes:
1) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção de Nova York), incorpo-
rado pelo Dec. no 6.949/2009);
2) Protocolo Facultativo da Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência, incorporado
pelo Dec. no 6.949/09;
3) Tratado de Marraqueche (Dec. n o 9.522/2018), para facilitar o acesso a obras publicadas às pes-
soas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso;
4) Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância, Dec. no 10.932/22
5.5. Direitos da igualdade racial
O Estatuto da Igualdade Racial, instituído pela Lei n o 12.288/2010, prevê diversas normas direcio-
nadas à proteção da população negra no Brasil. Estabelece o conceito de população negra, para efeitos da
legislação, o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça
usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição
análoga.

26
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

As ações afirmativas, que são os programas e as medidas especiais adotados pelo Estado e pela
iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportuni-
dades, podem ser exemplificadas pelas políticas de cotas e reservas de vagas para a população negra que
existem para acesso ao ensino universitário, técnico e tecnológico federal, bem como para o serviço público
quando da realização de concursos públicos.
Outro exemplo de ação afirmativa é a obrigatoriedade do estudo da história geral da África e da
história da população negra no Brasil nos estabelecimentos de ensinos fundamental e médio, públicos e
privados, que foi estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e, em seguida, reiterada
pelo Estatuto da Igualdade Racial como ação afirmativa nacional.
As ações afirmativas são instrumentos utilizados para a implementação da igualdade material (igual-
dade de oportunidades), inclusive já analisadas pelo STF, que as declarou totalmente constitucionais em
duas oportunidades: ADPF no 186 (rel. Min. Ricardo Lewandowski – Tribunal Pleno – j. 26-4-2012 – acórdão
eletrônico DJe-205 – divulg 17-10-2014 – public 20-10-2014) e ADC no 41 (rel. Min. Roberto Barroso –
Tribunal Pleno – j. 8-6-2017 – processo eletrônico DJe-180 – divulg 16-08-2017 – public 17-08-2017).
Já quanto aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras,
a Constituição Federal determinou o reconhecimento da propriedade definitiva, devendo o Estado emitir os
títulos respectivos de propriedade. Essa propriedade reconhecida será registrada mediante outorga de título
coletivo e pró-indiviso às comunidades com obrigatória inserção de cláusula de inalienabilidade, imprescri-
tibilidade e de impenhorabilidade.
Atenção!
O STF, no julgamento da ADI no 3239/DF (rel. orig. Min. Cezar Peluso – red. p/ o ac. Min. Rosa
Weber – j. 8-2-2018 – Info 890), reconheceu a constitucionalidade do Dec. n o 4.887/2003, que regulamenta
o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupa-
das por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT).
Para auxiliar na busca da igualdade racial e na luta de combate ao racismo no Brasil, tivemos a
incorporação, com força de emenda constitucional, de um quarto tratado internacional, que é a Convenção
Interamericana de contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, no De-
creto no 10.932/2022.
5.6. Programas Nacionais de Direitos Humanos (PNDH)
O PNDH está na sua 3a edição.
O que é o PNDH-3?

27
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

O Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, instituído pelo Decreto n o 7.037, de 21-12-
2009, e atualizado pelo Decreto n o 7.177, de 12-5-2010, é produto de uma construção democrática e parti-
cipativa, incorporando resoluções da 11a Conferência Nacional de Direitos Humanos, além de propostas
aprovadas em mais de 50 conferências temáticas, promovidas desde 2003, em áreas como segurança
alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adoles-
centes, pessoas com deficiência, idosos, meio ambiente etc.
O PNDH-3 concebe a efetivação dos direitos humanos como uma política de Estado, centrada na
dignidade da pessoa humana e na criação de oportunidades para que todos e todas possam desenvolver
seu potencial de forma livre, autônoma e plena. Parte, portanto, de princípios essenciais à consolidação da
democracia no Brasil: diálogo permanente entre Estado e sociedade civil; transparência em todas as áreas
e esferas de governo; primazia dos Direitos Humanos nas políticas internas e nas relações internacionais;
caráter laico do Estado; fortalecimento do pacto federativo; universalidade, indivisibilidade e interdependên-
cia dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; opção clara pelo desenvolvi-
mento sustentável; respeito à diversidade; combate às desigualdades; erradicação da fome e da extrema
pobreza.
5.7. Direito dos índios
A Constituição brasileira reconhece os índios, a sua organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições, bem como os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, terras essas
que são de propriedade da União e da posse dos indígenas.
As terras, tradicionalmente, ocupadas pelos índios são as que eles habitam e utilizam para suas
atividades produtivas, imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar
e necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. Essas terras
destinam-se à posse permanente e ao usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes. É importante destacar que, mesmo as terras não sendo da propriedade dos indígenas, elas são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
5.8. Direito LGBTQIA+
A proteção da dignidade da pessoa humana estabelece a defesa das pessoas contra a discrimina-
ção originada na orientação sexual e a discriminação de gênero. Há poucas regras internacionais e nacio-
nais de proteção à população LGBTQIA+. O STF estabeleceu a aplicação da lei do racismo para os crimes
de homofobia e transfobia (ADO n o 26 e MI no 4733).
5.9. Liberdade de expressão e pensamento
A liberdade de expressão e pensamento veda o anonimato na nossa Constituição Federal e não

28
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

habilita o sujeito do direito humano a poder dizer o que bem entende sem sofrer as consequências. Por
isso, a Constituição Federal prevê a possibilidade de reparação de danos e direito de resposta.

6. Direito dos Refugiados e Asilados

6.1. Direito Internacional dos Refugiados


O direito internacional dos refugiados também decorre da “Convenção de Genebra”, que, a não ser
pelo nome, não se identifica com aquelas relacionadas ao direito internacional humanitário.
O principal instrumento do direito internacional dos refugiados é a Convenção das Nações Unidas
sobre o Estatuto dos Refugiados, adotada em 28-7-1951 e com vigência a partir de 22-4-1954.
Essa Convenção definia o que se compreendia como refugiado e ao mesmo tempo estipulava regras
para a sua proteção e a concessão de asilo político pelos Estados-membros. Contudo, ela possuía uma
grave limitação de tempo, pois somente se aplicava aos refugiados em relação a eventos ocorridos antes de
1o-1-1951. A esse condicionamento denominou-se “reserva temporal”. Após um período de discussões in-
ternacionais, foi elaborado o Protocolo relativo ao Estatuto dos Refugiados, que entrou em vigor em outubro
de 1967. Com esse protocolo, deixaram de existir limitações geográficas e temporais para o reconhecimento
do status de refugiado1 a determinadas categorias de pessoas, buscando-se agora conferir efetiva proteção
a todos aqueles que se deslocam em razão de uma crise política.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi criado em 1949 e é
órgão integrante do Sistema da ONU responsável por garantir e assegurar aos refugiados a observância
dos seus direitos e por monitorar e acompanhar os movimentos de refugiados no globo.
No Brasil, o direito dos refugiados foi regulamentado pela Lei n o 9.474/1997, que também criou o
Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão colegiado vinculado ao Ministério da Justiça.
Vamos estudar em conjunto para distinguirmos os institutos do refúgio e do asilo político.
6.1.1. Refúgio
As pessoas que poderão estar sujeitas à condição de refugiados são aquelas que estão fora de seu
país de origem em razão de fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião,
nacionalidade, pertencimento a determinado grupo social ou opinião política, como também em razão de

1 Refugiado é todo o indivíduo que está fora de seu país de origem em razão de fundados temores de perseguição relacionados a questões de
raça, religião, nacionalidade, pertencimento a determinado grupo social ou opinião política, como também em razão de grave e generalizada
violação de direitos humanos e conflitos armados.

29
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados.


O refúgio aplica-se, de um modo coletivo, a todas as pessoas que se enquadrarem nas condições
mencionadas anteriormente, sendo possível, por esse motivo, estender-se a condição de refugiado para os
ascendentes, descendentes e cônjuge da pessoa já refugiada. É possível também estender a condição
para outros parentes do refugiado que se encontrem em território nacional, que não sejam os citados ante-
riormente, mas esses parentes deverão demonstrar dependência econômica do refugiado.
6.1.2. Asilo político
Constitui ato discricionário do Estado. Pode ser diplomático ou territorial, sendo concedido no Brasil
para proteger a pessoa estrangeira que se encontre perseguida em um Estado por suas crenças, opiniões
e filiação política ou por atos que possam ser considerados delitos políticos.
Asilo diplomático, quando solicitado no exterior em locais de missão diplomática, navios de guerra
e acampamentos ou aeronaves militares brasileiras, consiste na proteção ofertada pelo Estado brasileiro e
na condução do asilado estritamente até o território nacional, em consonância com o disposto na Conven-
ção Internacional sobre Asilo Diplomático.
Asilo territorial, quando solicitado em qualquer ponto do território nacional, é garantido perante uni-
dade da Polícia Federal ou representação regional do Ministério das Relações Exteriores. O ingresso irre-
gular no território nacional não constituirá impedimento para a solicitação de asilo territorial.
Compete ao Presidente da República decidir sobre o pedido de asilo político e sobre a revogação
de sua concessão, consultado o Ministro de Estado das Relações Exteriores.

7. Tribunal Penal Internacional (TPI) – Estatuto De Roma

O Tribunal Penal Internacional é um tribunal que julga pessoas que cometeram um dos delitos pre-
vistos no Estatuto de Roma, senão vejamos: crime de genocídio, crime de guerra, crime contra a humani-
dade e crime de agressão. O Brasil submete-se à jurisdição do TPI, pois é signatário do Estatuto de Roma
e já incorporou o tratado à legislação brasileira, bem como o tribunal tem jurisdição complementar aqui no
Brasil.

8. Tratado de Marraqueche

O Decreto no 9.522/2018 estabelece e incorporou o Tratado de Marraqueche para facilitar o acesso


a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao

30
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

texto impresso.
Conceito de “exemplar em formato acessível” significa a reprodução de uma obra de maneira ou
forma alternativa que dê aos beneficiários acesso a ela, inclusive para permitir que a pessoa tenha acesso
de maneira tão prática e cômoda como uma pessoa sem deficiência visual ou sem outras dificuldades de
acesso ao texto impresso. O exemplar em formato acessível é utilizado exclusivamente por beneficiários e
deve respeitar a integridade da obra original, levando em consideração as alterações necessárias para
tornar a obra acessível no formato alternativo e as necessidades de acessibilidade dos beneficiários.

9. Lei de Migração (Lei no 13.445/2017)

A lei estabelece como princípio da política migratória brasileira: universalidade, indivisibilidade e


interdependência dos direitos humanos; acolhida humanitária; garantia do direito à reunião familiar. A lei
estabelece um tratamento digno para todos os estrangeiros em nosso país.

31
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direitos Humanos

32

Você também pode gostar