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ERROS NO DIREITO PENAL

Material produzido pelo Prof. Davi Dunck

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ERRO DE TIPO (ESSENCIAL)

Erro sobre os elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o


dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Erro determinado por terceiro

Art. 20, §2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

1. CONCEITO: Erro de tipo é a falsa percepção da realidade sobre os


elementos constitutivos do tipo penal (é o chamado “erro de tipo essencial”).

2. ESPÉCIES: O erro de tipo pode ser escusável ou inescusável:

a) escusável (desculpável, inevitável, invencível): é o erro que não deriva de


culpa.

b) inescusável (indesculpável, evitável, vencível): é o erro que deriva de


culpa (imprudência, negligência ou imperícia).

3. EFEITOS: O erro de tipo sempre exclui o dolo:

- Erro de tipo escusável (desculpável, inevitável, invencível): o agente


não atua com culpa – exclui o dolo e a culpa.

- Erro de tipo evitável (indesculpável, evitável, vencível): o agente atua


com culpa – exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
previsto em lei.

- ATENÇÃO: Como o erro de tipo sempre exclui o dolo (escusável ou


inescusável), Zaffaroni denomina o erro de tipo de “cara negativa do
dolo”.
- ATENÇÃO: É perfeitamente possível a incidência do erro de tipo nos crimes
omissivos impróprios (ao sujeito que tem o dever de agir para evitar o
resultado).

4. ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO: Segundo o art. 20, §2º, responde


pelo crime o terceiro que determina o erro. O erro provocado pode ser
doloso ou culposo.

5. DISCRIMINANTES PUTATIVAS

Descriminantes putativas

Art. 20, §1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.

Conceito: A descriminante putativa é uma excludente da ilicitude que


existe apenas na imaginação do autor, mas não no mundo concreto.

- Erro relativo aos pressupostos fáticos de uma descriminante.

- Natureza jurídica: discriminante putativa por erro de proibição (teoria


extremada da culpabilidade), ou discriminante putativa por erro de tipo
– erro de tipo permissivo – (teoria limitada da culpabilidade).

- ATENÇÃO: Apesar de não haver consenso entre os doutrinadores,


considerando-se que o CP – item 17 da Exposição de Motivos do CP
– acolheu a teoria limitada da culpabilidade, muitos concursos
inclinam-se pela posição de que o erro relativo aos pressupostos fáticos
configura-se como erro de tipo permissivo. Em relação aos concursos
(sobre esse tema em específico), é importante analisar o perfil da
respectiva banca examinadora.
ERRO DE TIPO (ACIDENTAL)

Erro sobre a pessoa

Art. 20, §3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades
da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Erro na execução (aberratio ictus)

Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o


agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser
também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.

Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)

Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente
responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre
também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

1. CONCEITO: Erro de tipo ACIDENTAL é aquele que recai sobre dados


diversos dos elementos constitutivos do tipo penal, isto é, sobre as
circunstâncias e fatores irrelevantes da figura típica. São espécies do erro
acidental:

1 – Erro sobre a pessoa;

2 – Erro sobre o objeto;

3 – Erro quanto às qualificadoras;

4 – Erro sobre o nexo causal;

5 – Erro na execução;

6 – Resultado diverso do pretendido.


1º - ERRO SOBRE A PESSOA (error in persona)

a) Conceito: É aquele em que o agente confunde a pessoa desejada, atingindo

pessoa diversa.

b) Consequências: O CP adotou a teoria da equivalência, já que o agente

deve ser punido como se tivesse atingido a pessoa pretendida – vítima virtual –,

e não aquela que efetivamente atingiu – vítima real.

2º - ERRO SOBRE O OBJETO

a) Conceito: É aquele em que o agente acredita que sua conduta recai sobre
determinado objeto, mas na realidade atinge coisa diversa.

b) Consequências: Esse erro é irrelevante para fins penais, pois não influencia
na tipicidade penal, contudo, excecionalmente, a depender do caso em concreto,
pode acarretar no princípio da insignificância.

3º - ERRO QUANTO ÀS QUALIFICADORAS

a) Conceito: É aquele em que o erro recai sobre uma qualificadora do crime.

b) Consequências: Esse erro exclui apenas a qualificadora, mas não afasta o

dolo e culpa em relação ao tipo penal fundamental, ou seja, o agente responderá

pelo crime em sua modalidade básica.

4º - ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (aberratio causae)


a) Conceito: É aquele em que o erro recai sobre a causa do crime (ou seja, o

resultado pretendido pelo agente ocorreu por um acontecimento diverso daquele

que ele imaginou).

b) Consequências: Esse erro é irrelevante para fins penais, pois, de qualquer


forma, o agente alcançou o resultado pretendido.

A corrente que prevalece é no sentido de que o agente deve ser punido


com base no nexo ocorrido (contudo, é sempre importante observar o
perfil da banca examinadora, que a depender do concurso pode exigir
uma posição mais favorável ao réu em relação às consequência do erro
sobre o nexo causal).

5º - ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus)

a) Conceito: É a aberração no ataque, isto é, é aquele em que o agente erra


o seu alvo (por acidente ou erro no uso dos meios de execução), atingindo
pessoa diversa.

b) Consequências: O CP adotou a teoria da equivalência, já que o agente

deve ser punido como se tivesse atingido a pessoa pretendida – vítima virtual –,

e não aquela que efetivamente atingiu – vítima real.

DIFERENÇAS: As diferenças entre o erro sobre a pessoa e o erro na execução


são nítidas:

- No ERRO SOBRE A PESSOA: o agente confunde a pessoa que queria


atingir;

- No ERRO NA EXECUÇÃO: o agente erra o seu alvo em relação à pessoa


que queria atingir;
c) ESPÉCIES: O erro na execução apresenta duas espécies:

- Com unidade simples (com resultado único): apenas uma única


pessoa á atingida (a vítima virtual não é atingida).

- Com unidade complexa (com resultado duplo): além de atingir a


pessoa desejada, atinge também pessoa (s) diversa (s). Neste caso,
aplica-se a regra do art. 70 do CP (concurso formal próprio – o Juiz
aplica a pena do crime mais grave aumentada de 1/6 a 1/2).

- ATENÇÃO: Se houver dolo eventual em relação às demais pessoas


atingidas, não há se falar em erro na execução, aplicando-se a regra do
concurso formal impróprio (somam-se as penas de todos os crimes).

6º - RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis)

a) Conceito: É aquele em que o agente deseja praticar um crime específico,

mas por erro na execução acaba praticando outro crime (resultado diverso

do pretendido).

DIFERENÇAS: As diferenças entre o aberractio ictus e o aberratio


criminis são nítidas:

- No ABERRATIO ICTUS: o erro na execução envolve PESSOA x


PESSOA.

- No ABERRATIO CRIMINIS: o erro na execução envolve CRIME x


CRIME.
c) ESPÉCIES: O resultado diverso do pretendido apresenta duas
espécies:

- Com unidade simples (com resultado único): o agente atinge apenas


um único bem jurídico diverso do pretendido (o agente responde por
culpa, se o fato é previsto como crime culposo).

- Com unidade complexa (com resultado duplo): o agente atinge o


bem jurídico desejado e também outro bem jurídico diverso,
culposamente (neste caso, aplica-se a regra do art. 70 do CP – concurso
formal próprio – o Juiz aplica a pena do crime mais grave aumentado
de 1/6 a 1/2).

- ATENÇÃO: Se o resultado previsto como CRIME CULPOSO for menos


grave ou se o crime não admitir a modalidade culposa a regra prevista
no art. 74 do CP deve ser afastada.
01. O erro sobre elementos do tipo, previsto no
artigo 20 do Código Penal:

a) exclui o dolo, mas permite a punição por crime


culposo, se previsto em lei.

b) sempre isenta o agente de pena.

c) não isenta o agente de pena, mas esta será


diminuída de um sexto a um terço.

d) se inevitável, isenta o agente de pena; se


evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a
um terço.
02. Durante uma festa rave, Bernardo, 19 anos, conhece Maria,
e, na mesma noite, eles vão para um hotel e mantém relações
sexuais. No dia seguinte, Bernardo é surpreendido pela chegada
de policiais militares no hotel, que realizam sua prisão em
flagrante, informando que Maria tinha apenas 13 anos. Bernardo,
então, é encaminhado para a Delegacia, apesar de esclarecer que
acreditava que Maria era maior de idade, devido a seu porte
físico e pelo fato de que era proibida a entrada de menores de 18
anos na festa. Diante da situação narrada, Bernardo agiu em:

a) erro de tipo, tornando a conduta atípica.

b) erro de tipo, afastando o dolo, mas permitindo a punição pelo


crime de estupro de vulnerável culposo.

c) erro de proibição, afastando a culpabilidade do agente pela


ausência de potencial conhecimento da ilicitude.

d) erro sobre a pessoa, tornando a conduta atípica.


03. Flavio, pretendendo matar seu pai Leonel, de 59 anos, realiza
disparos de arma de fogo contra homem que estava na varanda da
residência do genitor, causando a morte deste. Flavio, então, deixa o
local satisfeito, por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem
a descobrir que matara um amigo de seu pai, Vitor, de 70 anos, que, de
costas, era com ele parecido. Nesse caso hipotético, a Flavio poderá ser
imputada a prática do crime de homicídio doloso, com erro:

a) sobre a pessoa, considerando a agravante de crime contra ascendente,


mas não a causa de aumento em razão da idade da vítima;

b) sobre a pessoa, considerando a causa de aumento em razão da idade da


vítima, mas não a agravante de crime contra ascendente;

c) de execução, considerando a agravante de crime contra ascendente,


mas não a causa de aumento em razão da idade da vítima;

d) de execução, considerando a agravante de crime contra ascendente e a


causa de aumento em razão da idade da vítima;

e) de execução, considerando a causa de aumento da idade da vítima, mas


não a agravante de crime contra ascendente.
04. Durante discussão acontecida na Câmara Municipal de uma
cidadezinha do interior, o vereador “A” dispara um tiro contra o
vereador “B” com a intenção de matá-lo, porém causa-lhe apenas
lesão corporal. Ocorre que o mesmo projétil que atravessou o
ombro de “B”, atingiu o tórax do presidente da Câmara “C”,
causando-lhe a morte, resultado não pretendido por “A”. É
correto afirmar que, nesse caso hipotético, houve:

a) aberratio ictus, aplicando-se a regra do concurso formal próprio.

b) aberratio criminis, aplicando-se a regra do concurso formal


imperfeito.

c) erro na execução, aplicando-se a regra do concurso formal


impróprio.

d) erro in personae, aplicando-se a regra do concurso formal


perfeito.
05. Vitalina quer matar o marido Aderbal, envenenado. Coloca veneno
no café com leite que acabou de preparar para ele. Enquanto aguardava
o marido chegar na cozinha, para tomar a bebida, distraiu-se e não
percebeu que a filha Ritinha entrou no local e tomou a bebida, preparada
para o pai. Ritinha, socorrida pela mãe, morre a caminho do hospital.
Nessa hipótese, considerando o Código Penal e a doutrina, assinale a
alternativa correta.

a) Vitalina deverá responder por homicídio culposo, já que não teve a


intenção de matar a filha.

b) Na hipótese de Vitalina vir a ser condenada, o juiz sentenciante poderá


aplicar a ela o perdão judicial.

c) Vitalina deverá responder por homicídio doloso, restando configurada


situação denominada de aberratio ictus por acidente.

d) Vitalina não responderá por homicídio, em razão de ter havido aberratio


ictus.

e) Vitalina responderá por homicídio doloso, restando configurada


situação de aberratio ictus por erro no uso dos meios de execução.
06. Após uma discussão em um bar, Pedro decide matar
Roberto. Para tanto, dirige-se até sua residência onde
arma-se de um revólver. Ato contínuo, retorna ao
estabelecimento e efetua um disparo em direção a
Roberto. Contudo, erra o alvo, atingindo Antonio,
balconista que ali trabalhava, ferindo-o levemente no
ombro. Diante do caso hipotético, Pedro praticou, em
tese, o(s) crime(s) de:

a) lesão corporal leve.

b) lesão corporal culposa.

c) homicídio tentado e lesão corporal leve.

d) lesão corporal culposa e tentativa de homicídio.

e) homicídio na forma tentada.

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