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DIREITO PENAL

Culpa e Preterdolo
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CULPA E PRETERDOLO

Elementos da culpa:

a. Comportamento humano voluntário


b. Violação do dever de cuidado objetivo (negligência, imprudência e imperícia)
c. Resultado naturalístico involuntário
d. Nexo entre a conduta e o resultado
e. Tipicidade
f. Previsibilidade objetiva

c. Resultado naturalístico involuntário

Só há crime culposo se houver um resultado naturalístico involuntário.


Resultado naturalístico é quando ocorre uma mudança no mundo exterior.
Há duas formas de resultado: resultado jurídico, quando uma conduta ofende um bem
jurídico, um tipo penal, e o resultado naturalístico, quando há uma mudança no mundo exte-
rior, no mundo dos fatos.
Nem todos os crimes possuem um resultado naturalístico, por exemplo, o crime de viola-
ção de domicílio, crime de mera conduta, assim como o porte ilegal de arma de fogo.
O resultado naturalístico está presente nos crimes materiais, que se consumam quando
produz o resultado naturalístico, e os crimes formais, em que a produção do resultado natura-
lístico é dispensável, com o caso da Súmula 96/STJ que trata do crime de extorsão. A extor-
são se consuma independente da obtenção de vantagem.
Assim, para que haja crime culposo é necessário o resultado naturalístico, a mudança no
mundo exterior. Ocorre o resultado naturalístico e se comprova a culpa, ou não ocorre resul-
tado naturalístico, não havendo crime algum.

• É necessário a ocorrência de um resultado naturalístico, caso contrário, a conduta cul-


posa será penalmente irrelevante.
• Em regra, os crimes culposos são crimes materiais (consumam-se com a produção do
resultado naturalístico)
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• Uma rara exceção é o crime do artigo 38, Lei 11.343/06 – “prescrever (...) culposa-
mente, drogas, sem que delas necessite o paciente”. Crime culposo formal.
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d. Nexo entre a conduta e o resultado:

Só há crime culposo se houver nexo causal entre conduta e resultado.

e. Tipicidade

Só há crime culposo se houver expressa previsão legal. Ainda que o resultado advenha
de uma conduta culposa, não se pode imputar crime ao agente.

Art. 18, Parágrafo único - “Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”

Culposamente, só se pode punir o agente se houver previsão expressa em lei na moda-


lidade culposa.
Caráter excepcional do crime culposo: a lei deve prever expressamente a possibilidade
da modalidade culposa.
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f. Previsibilidade objetiva

Elemento que mais cai em prova.


Só a responsabilização por crime culposo se houver a previsibilidade objetiva.
Previsibilidade objetiva: só existe a possibilidade de responsabilização por crime culposo
se o resultado gerado era possível de se prever.
A previsibilidade objetiva não está expressamente prevista em lei, mas é um elemento da
culpabilidade, sendo importante para diferenciar a culpa consciente da culpa inconsciente.

• Resume-se à possibilidade do homem médio (de inteligência mediana) ser capaz de


prever que sua conduta pode resultar em ilícito.
• Alguns doutrinadores defendem a previsibilidade subjetiva, isto é, que deveria ser
levado em conta a possibilidade do agente prever o resultado, mas este entendimento
não é amplamente aceito. Para quem defende este entendimento, não há a possibili-
dade de punir por culpa inconsciente.
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Para o Direito Penal Brasileiro, é possível a punição tanto pela culpa consciente, quanto
pela culpa inconsciente.

ESPÉCIES DE CULPA

Culpa consciente (com previsão, ex lascívia)


O agente prevê o resultado e realiza a conduta porque acredita sinceramente que ele
não ocorrerá.
Verdadeiramente acredita-se que o resultado não irá ocorrer. Não se responde por dolo,
mas por culpa.
No caso concreto é difícil verificar se houve ou não dolo eventual ou culpa consciente.
Exemplo: caso da Boate Kiss, em que para a maioria dos doutrinadores houve uma culpa
consciente, mas o tribunal do júri compreendeu que houve dolo eventual. O entendimento do
tribunal do júri é soberano e deve ser respeitado.

• Como distinguir a culpa consciente do dolo eventual?


– Culpa consciente – o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que não
irá produzi-lo. Confia em sua habilidade para evitar o resultado.
– Dolo eventual – o agente prevê o resultado, acredita que não irá produzi-lo, mas não
se importa se ele vier a ocorrer, assumindo o risco da sua consciência.
– Essa análise será feita com base nas circunstâncias do fato. Não se pode presumir
dolo ou culpa, deve-se analisar o fato.
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Culpa consciente Dolo eventual


O agente prevê a possibilidade do resultado ocorrer O agente prevê a possibilidade do resultado ocorrer
Acredita que o resultado não vai ocorrer Não se importa com a ocorrência do resultado
Agente responde na modalidade culposa Agente responde na modalidade dolosa

Culpa inconsciente (sem previsão, ex ignorantia)

Na culpa consciente, o agente prevê o resultado porque ele era previsível, havia previsibi-
lidade objetiva (qualquer pessoa poderia prever) e previsibilidade do agente no caso concreto.
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Para a culpa inconsciente, o agente NÃO prevê o resultado, o qual era objetivamente
previsível (homem médio). Ou seja, no lugar do agente, qualquer pessoa teria previsto a pos-
sibilidade de ocorrência do resultado naturalístico.
Responderá pela modalidade culposa, assim como na culpa consciente.
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Assim como na culpa consciente, na culpa inconsciente tem de haver a previsibilidade
objetiva, caso contrário, não há punição pelo resultado involuntário, apenas pela conduta
realizada.
Culpa presumida (in re ipsa)
Assim como não tem dolo presumido, não há culpa presumida.
Abolida do direito penal brasileiro. Consistia numa forma de responsabilização objetiva,
pois presumia a culpa do agente. A culpa deve ser provada para que o agente seja punido.

O direito penal brasileiro admite a compensação de culpas?

Compensação de culpas: quando há uma concorrência de culpas, mas ninguém res-


ponde por nada, cada um arcando com os próprios prejuízos.
Não é possível na esfera penal, sendo possível na esfera cível. Cada agente será respon-
sável pelo resultado produzido. Ex.: dois veículos que furam o sinal vermelho e geram lesões
um contra o outro.

O direito penal brasileiro admite a concorrência de culpas?

Sim. Neste caso, apesar de não haver concurso de pessoas (ausência de vínculo subje-
tivo), ambos respondem pelo delito culposo. Ex.: dois veículos que furam o sinal vermelho e,
do acidente, atingem um pedestre que vem a morrer.

ATENÇÃO

a culpa exclusiva da vítima afasta a incidência da modalidade culposa, uma vez que a pes-
soa agia de maneira correta. A vítima é quem causou a si própria o resultado.
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CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO

Agravação pelo resultado

Art. 19 - “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente.”

A agravação do resultado é a modalidade mais falada e importante: crime preterdoloso,


há dolo na conduta, mas culpa no resultado, dolo no antecedente e culpa no consequente.
No crime preterdoloso há dolo na prática da conduta, mas, por culpa, gera-se um crime
mais grave do que o desejado. É uma mescla do dolo e da culpa. Exemplo mais clássico:
lesão corporal seguida de morte.
Não se admite a tentativa em crimes preterdoloso, uma vez que o resultado é involuntário.
Há 4 tipos de crimes agravados pelo resultado.
Todo crime agravado pelo resultado é crime único, mas complexo, pois resulta da fusão
de dois ou mais tipos penais.
O crime preterdoloso é apenas uma espécie de crime qualificado pelo resultado.
1. Dolo na conduta antecedente e dolo no resultado agravador (dolo no antece-
dente e dolo no consequente). Ex.: latrocínio, cuja morte foi causada dolosamente.
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2. Dolo na conduta antecedente e culpa no resultado agravador (crime preterdo-
loso). Ex.: latrocínio, cuja morte, proveniente da violência, foi causada culposamente.
3. Culpa na conduta antecedente e culpa no resultado agravador (culpa no antece-
dente e culpa no consequente). Ex.: crimes culposos de perigo comum (explosão, incên-
dio) – art. 258, CP “... no caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se
de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada
de um terço”
4. Culpa na conduta antecedente e dolo no resultado agravador (culpa no antece-
dente e dolo no consequente). Ex.: Art. 303, Par. 1º, CTB – agente causa culposamente
acidente de trânsito que fere a vítima e, dolosamente, deixa de prestar socorro.
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Crime preterdoloso

Ocorre o crime preterdoloso quando o agente gera resultado distinto de seu intento. O
agente, por meio de um comportamento doloso, pratica uma conduta visando determinada
finalidade, mas alcança outra mais grave e involuntária.
Por esta razão, pode-se dizer que no crime preterdoloso há dolo na conduta e culpa no
resultado.
Ou, ainda, dolo no antecedente e culpa no consequente.

ATENÇÃO
1. Trata-se de uma figura híbrida – há, no mesmo contexto fático, o concurso de dolo e cul-
pa. Não se trata de um terceiro elemento subjetivo, há apenas dois elementos subjetivos,
culpa a dolo. O preterdolo é a fusão de dolo e culpa.
2. Não é cabível a tentativa nos crimes preterdolosos!!

O agente que pratica crime preterdoloso, após ter uma sentença condenatória tran-
sitada em julgado, deve ser tratado como reincidente em crime doloso ou culposo?

Apesar de haver uma pequena divergência, a ampla doutrina entende que deve ser tra-
tado como reincidente em crime doloso, uma vez que, apesar do resultado culposo, o agente
agiu com dolo na conduta.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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