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DIREITO PENAL

Teoria –Direito Penal (Parte Geral) XVII


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TEORIA – DIREITO PENAL (PARTE GERAL) XVII

As aulas anteriores sobre a parte geral do Direito Penal abordaram:

• Os institutos relacionados ao iter criminis, desde a tentativa até o crime impossível, pas­
sando por desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior;
• As excludentes de ilicitude: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumpri­
mento de um dever legal, exercício regular de um direito e consentimento do ofendido;
• Culpabilidade e suas dirimentes (que a excluem); e
• Concurso de pessoas e concurso de crimes.

A aula atual tratará de:

• Dolo e culpa; e
• Teoria do erro, incluindo o erro de tipo, o erro de proibição – lembrando que o erro de
proibição inevitável exclui a culpabilidade –, o erro na execução, aberratio criminis e
erro sobre a pessoa.

Os temas abordados nessas aulas são relevantes não apenas para a parte geral e as
questões discursivas, mas também para as matérias de defesa da parte da peça prática.

Dolo e Culpa

Sabe-se que não há crime se não houver nem dolo nem culpa; a conduta humana penal­
mente relevante será necessariamente dolosa ou culposa.
Para fins de exemplo, considere que uma pessoa, motorista exemplar, está conduzindo
seu veículo automotor seguindo todas as regras de trânsito, dentro do limite de velocidade
e sem ter ingerido bebida alcoólica ou outra substância capaz de alterar sua capacidade
psicomotora. Entretanto, ele se depara no caminho com uma pessoa que no momento opor­
tuno se atira na frente de seu carro com o intuito de acabar com a própria vida, não havendo
tempo para ele frear e evitar isso. Nesse caso, o motorista não agiu com dolo, pois não teve
a intenção de matar nem assumiu o risco de matar. Também não agiu com culpa, que é a
inobservância de um dever objetivo de cuidado; assim, uma conduta culposa é uma con­
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duta descuidada, destituída de cautelas, o que não foi o caso do motorista do exemplo. Por
isso, como não há nem dolo nem culpa, não há homicídio nesse caso, e sim suicídio; não há
crime, sendo esse um fato atípico. O primeiro elemento do crime é o fato típico e o primeiro
elemento desse fato típico é a conduta humana penalmente relevante, que consiste em uma
ação ou uma omissão dolosa ou culposa, ausentes no exemplo dado.

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O art. 18, parágrafo único, do Código Penal (Decreto-Lei n. 2.848/40), prevê a chamada
regra da excepcionalidade do crime culposo, segundo a qual só há crime na modalidade cul­
posa se a lei assim dispuser expressamente, algo excepcional, pois na maioria dos casos a
lei não faz previsão expressa, punindo assim apenas a modalidade dolosa.

CP. Art. 18. (…)


Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)

Nos crimes contra a vida, por ex., o único que tem modalidade culposa é o homicídio. Não
existe modalidade culposa para induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, para infanticí­
dio ou para aborto.
Por ex., uma mulher que ainda não sabe que está grávida ingeriu uma substância que
ela sabia ter como efeito colateral provocar o abortamento, causando-o de fato, porém sem
saber. Nessa situação não há crime porque a lei não prevê modalidade culposa para o crime
de aborto, sendo esse, portanto, um fato atípico por ausência de previsão legal.
Também não há modalidade culposa para os crimes contra a honra, tais como calúnia,
difamação e injúria. Os crimes contra a liberdade individual, como constrangimento ilegal (art.
146), ameaça (art. 147), sequestro e cárcere privado (art. 148), redução à condição análoga
à de escravo (art. 149), tráfico de pessoas (art. 149-A) e crime de perseguição (art. 147-A)
existem apenas na modalidade dolosa.
Dos crimes contra o patrimônio, o único que tem modalidade culposa é a receptação;
os crimes de furto, roubo, estelionato, apropriação indébita, extorsão, extorsão mediante
sequestro, apropriação indébita previdenciária e dano têm apenas modalidade dolosa.
Nenhum dos crimes sexuais – estupro, estupro de vulnerável, relação sexual mediante
fraude, assédio sexual e importunação sexual – tem modalidade culposa, assim como os
crimes contra a fé pública – moeda falsa, falsidade ideológica, falsificação de documento
público ou particular, uso de documento falso e atestado médico falso.
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Dentre os crimes contra a administração pública praticados por funcionário público, apenas
o peculato tem modalidade culposa; os demais existem apenas na modalidade dolosa.

Teorias sobre o Dolo

Algumas teorias tentam explicar o dolo e no Brasil três têm relevância, embora uma delas
(a da representação) não tenha sido acolhida aqui:
a) Teoria da Vontade – Para essa teoria, dolo é a vontade consciente de produzir o resul­
tado; ou seja, o dolo é o binômio consciência (elemento intelectivo) + vontade (elemento
volitivo). Em outras palavras, a pessoa sabe o que está fazendo e tem vontade de fazer. Na
primeira metade do século XX se entendia que essa era uma consciência do fato sendo pra­

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ticado (consciência fática) e da ilicitude (consciência jurídica), o chamado dolo normativo ou


colorido. Todavia, desde o finalismo o entendimento é outro, tendo sido adotado o chamado
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dolo natural ou acromático, sem consciência da ilicitude da conduta. Essa teoria foi acolhida
no Brasil com o nome de dolo direto (adotado pela doutrina, não no Código Penal);
b) Teoria do Assentimento – Também chamada de teoria do consentimento, foi acolhida
com o nome dolo eventual e aparece no art. 18, I, do CP, traduzido como “assumir o risco
de produzir o resultado”. Essa expressão na verdade designa a indiferença ao resultado, ou
seja, o sujeito sabe que o resultado pode ocorrer e se mostra indiferente a isso, como se dis­
sesse: “Der no que der, não deixo de agir” (expressão doutrinária); e
c) Teoria da Representação – Segundo essa teoria, não acolhida no Código Penal brasi­
leiro, para que haja dolo basta que o sujeito tenha previsto o resultado (ou seja, tenha feito
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uma representação mental, tenha imaginado). Contudo, no Brasil existe a figura da culpa
consciente, na qual também há uma previsão de resultado, mas o sujeito não fica indiferente
a ele, e sim acredita piamente que ele não ocorrerá. Um exemplo de culpa consciente é o
excesso de confiança; a pessoa sabe que, se errar, produzirá o resultado, mas acredita tanto
em suas habilidades que acredita que não errará, de modo que ela age, erra e produz o resul­
tado; isso não é dolo e sim culpa consciente. Outro exemplo, muito citado pela doutrina, é o
do atirador de facas no espetáculo circense, que precisa atingir o alvo sem atingir a pessoa à
frente; ele sabe que, se errar, a atingirá, tanto que está se aprimorando ao máximo para não
errar. Ele está atirando essas facas porque tem a convicção de que não erra, não porque é
indiferente ao resultado (dolo eventual); quando ele errar, será um caso de culpa consciente,
não de dolo, pois ele previu o resultado e acreditava piamente que não aconteceria. Se o
Brasil tivesse adotado a teoria da representação, isso seria dolo.

Modalidades de Dolo

Doutrinariamente, há dois tipos de dolo, que ainda se subdividem:


a) Dolo direto:
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• 1º grau – É a vontade consciente de produzir o resultado, o binômio consciência + von­


tade; o sujeito pratica a conduta sabendo o que está fazendo e querendo o resultado;
ANOTAÇÕES

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• 2º grau – Ocorre quando o sujeito pratica a conduta sem querer o resultado, mas
também não se pode dizer que ele apenas assume o risco de produzi-lo; ele pratica a
conduta e tem a certeza de que o resultado é inevitável.

Ex.1: O sujeito quer matar uma mulher e a persegue durante meses; quando a encontra,
ela está notadamente grávida. Ele não deseja matar o bebê, apenas a gestante; fazendo
isso, ele sabe que também matará o bebê e assim o faz. Em relação ao homicídio, tem-se
dolo direto de 1º grau (vontade consciente de produzir o resultado); em relação ao crime de
aborto, tem-se dolo direto de 2º grau (ele praticou a conduta sem querer o resultado, mas
sabendo ser inevitável).
Ex.2: Um sujeito coloca uma bomba em um carro para matar o motorista, mesmo sabendo
que ele dará carona a um amigo, matando assim os dois. Em relação ao motorista, tem-se
dolo direto de 1º grau; em relação ao amigo que estava no banco do carona, tem-se dolo
direto de 2º grau.

Obs.: Há quem fale em dolo direto de 3º grau, quando o sujeito pratica a conduta tendo
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dois resultados inevitáveis, mas isso não é acolhido pela doutrina majoritária. Um
exemplo é quando a pessoa quer matar o motorista e sabe que ele está levando no
banco do carona uma mulher grávida; em relação ao homicídio da mulher seria dolo
direto de 2º grau e em relação ao aborto seria dolo direto de 3º grau. Entretanto, a
doutrina majoritária rechaça essa possibilidade, havendo assim dois casos de dolo
direto de 2º grau.

b) Dolo indireto:

• Eventual; e
• Alternativo.

Obs.: Estão expressos no art. 18 do Código Penal apenas o dolo direto de 1º grau e o
dolo eventual.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Fábio Roque.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu­
siva deste material.

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