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ARTIGOS

Erro de tipo e erro de proibição


O erro de tipo atua no âmbito do fato típico do crime, agindo sobre o
dolo e a culpa, enquanto que o erro de proibição atua na culpabilidade,
excluindo ou não a Potencial Consciência da Ilicitude.

  Por Gabriel Bohrer de Abreu

DIREITO PENAL | 09/DEZ/2012

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Antes de tudo, é importante lembrar que para algum fato ser considerado criminoso, é
necessário o preenchimento do trinômio nalista da Teoria do Crime, sendo eles: Fato
Típico, Antijuridicidade ou Ilicitude, e Culpabilidade. Sem esses pressupostos
completos, não há que se falar em crime cometido. Assim, é importante entender
aonde os erros incidem, ou seja, em qual requisito do crime que os erros estão sob o
manto escusável ou não.

O erro de tipo, que pode ser classi cado em essencial ou acidental, incide sobre o fato
típico, excluindo o dolo, em algumas circunstâncias. Por outro lado, o erro de
proibição, que pode ser direto ou indireto, não exclui o dolo, pois incide na
culpabilidade, terceiro requisito para a existência do crime. Ainda, dentro da
culpabilidade, age em torno da Potencial Consciência da Ilicitude, que pode ou não
excluir a reprovação da conduta (culpabilidade) por parte do agente.

O erro de tipo essencial atua nos elementos constitutivos do tipo, ou seja, o Art. 121 do
Código Penal a rma que homicídio é “Matar alguém”. Portanto, se alguém mata uma
pessoa durante uma caçada achando que era um animal, pode-se dizer que substituiu
“alguém” do tipo penal por “animal”, causando um erro sob os elementos que
constituem o crime (surge o “Matar animal”). O agente agiu com dolo, pois queria
matar, mas não “alguém” e sim um “animal”. Dessa feita, deve ser analisado se o erro
cometido pelo autor era evitável ou inevitável, circunstâncias estas que irão de nir a
punição ou não do infrator.

Assim, o erro essencial pode ser classi cado em


INEVITÁVEL/INVENCÍVEL/ESCUSÁVEL (cuidar essa última nomenclatura) ou
EVITÁVEL/VENCÍVEL/INESCUSÁVEL(da mesma forma atenção nesta classi cação). O
primeiro signi ca que o erro não poderia ser evitado. De uma ou de outra maneira, o
crime seria cometido. Nessa situação, exclui-se o dolo E culpa. Já por outro lado, na
segunda hipótese, o erro aconteceu, mas poderia ser evitado pelo agente. Aqui, exclui o
dolo, MAS incide a forma culposa, se prevista em lei.

Ainda, o erro de tipo pode ser de nido como acidental, que difere do essencial, pois
neste caso NÃO exclui o dolo, uma vez que o agente atua com vontade e consciência.
Exemplo típico é o agente que furta uma televisão de 32 polegadas, quando visava
subtrair outra de 42 polegadas. É evidente que ele atuou dolosamente, mas incorreu em
erro sobre o objeto (error in objeto). Nesta esteira, o erro acidental pode ser classi cado
em erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa, aberratio ictus, aberratio criminis ou delicti, e
aberratio causae (denominados crimes aberrantes). Far-se-á uma análise sucinta sobre
estes crimes.

Erro sobre o objeto já foi citado, quando o agente acha que está furtando um objeto e na
verdade está levando outro. O erro sobre a pessoa acontece quando o agente, ao ver
uma pessoa parada na esquina, supõe ser seu desafeto e dispara contra ele, ceifando lhe
a vida. Nessa situação, o agente incorreu em erro sobre a pessoa, pois supôs que aquela
pessoa era quem imaginava (vítima visada ou virtual). Responderá como tivesse
atingido seu alvo real, e não quem efetivamente matou. Nessa hipótese, trata-se do
exemplo clássico dos gêmeos, que confundem a percepção do atirador.

Já no aberratio ictus, o erro ocorre em relação aos meios de execução, ou seja, a pessoa
sabe exatamente que ali na esquina está parada o seu desafeto, mas por “defeito de
pontaria”, erra o alvo visado pelo agente e atinge terceira pessoa. Aqui, as
consequências são as mesmas do erro sobre a pessoa, isto é, responde como crime
consumado contra a vítima virtual (desejada) e não a que faleceu.

Ainda na constância dos erros, aberratio criminis signi ca erro na execução,


igualmente, mas em relação a bens jurídicos distintos. Em outras palavras: “A” quer
matar “B” e dispara contra ela. Os disparos atingem tão somente um veículo atrás de
“B”. Nessa situação, o agente responde pelo crime subsidiário se for expresso na forma
culposa, além da tentativa de homicídio. Perceba que a diferença aqui se baseia em bens
jurídicos tutelados distintos: homicídio (a vida) e dano (patrimônio). No caso relatado,
como dano não admite a forma culposa, não será púnico pela prática deste crime.

Por m, aberratio causae, dividido em sentido estrito (1 ato) e dolo geral (2 atos), há
erro sobre o nexo causal utilizado pelo autor para atingir determinada nalidade.
Assim, exempli cando, se “A” joga “B” da ponte, objetivando uma morte por
afogamento, mas este morre por colisão em um pilar da ponte, falecendo por
traumatismo craniano (exemplo em sentido estrito). A causa da morte não foi
afogamento, mas o choque que a vítima teve com a parte física da ponte. Aqui,
conforme doutrina majoritária, o agente responde por crime único doloso consumado.
É o nítido caso de resultado não cogitado pelo agente por erro sobre o nexo de
causalidade.

Em suma: o erro de tipo divide-se em ERRO DE TIPO ESSENCIAL e ERRO DE TIPO


ACIDENTAL. O primeiro pode ou não excluir o dolo e a culpa, depende se o fato era
evitável ou não. O segundo não exclui o dolo, e divide-se em erro sobre o objeto, erro
sobre a pessoa, erros na execução (aberratio ictus e aberratio criminis) e erro sobre o
nexo causal (aberratio causae e dolo geral).

Por outro lado, o erro de proibição em nada possui semelhança com o erro de tipo, pois
a proibição atinge a culpabilidade (em especial a Potencial Consciência da Ilicitude), ou
seja, o caráter ilícito da conduta. Em verdade, como ensina com maestria Cristiano
Rodrigues, o erro de proibição não se confunde com desconhecimento da lei, pois esta
signi ca não ter conhecimento dos artigos, leis, entre outros, enquanto aquela
signi ca uma noção comum sobre o permitido e o proibido. Exemplo: todos sabem que
fraudar impostos é contra a lei, mas nem todos sabem qual lei trata do assunto.

Destarte, o erro de proibição divide-se, igualmente, em dois aspectos: inevitável e


evitável. O primeiro exclui a culpabilidade do agente, isentando-o de pena, enquanto
no segundo o agente responde dolosamente e tem o condão de atenuar a pena, em
virtude da possibilidade do agente conhecer a proibição. Em outras palavras, no erro de
proibição, o agente sabe perfeitamente o que faz e qual a sua conduta, mas acredita
estar agindo licitamente. O erro de proibição pode se dividir em direto ou indireto (de
permissão), sendo que na primeira o agente atua com desconhecimento da situação
proibitiva. Exemplo: corta um pedaço de árvore para fazer chá e é penalizado por crime
ambiental. No segundo caso, a situação fática direciona o agente a acreditar que agirá
legalmente. Aqui, a regra é proibição, porém o agente crê que atua nas hipóteses
permissivas. Exemplo: da janela do apartamento visualiza um ladrão furtando o som de
seu veículo. Acreditando agir em legítima defesa, desfere um tiro pelas costas do
criminoso. Na primeira situação, o desconhecimento é direto, enquanto na segunda a
situação levou o agente a crer na sua conduta lícita.

EM RESUMO: O erro de tipo atua no âmbito do fato típico do crime, agindo sobre o dolo
e a culpa, enquanto que o erro de proibição atua na culpabilidade, excluindo ou não a
Potencial Consciência da Ilicitude.

Existem diversos outros aspectos relacionados ao tema, precipuamente comparações a


outras espécies de situações normativas elencadas pela doutrina. Porém, acredito que
os aspectos relevantes que, costumeiramente, costumam aparecer em certames foram
abordados acima. 

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