Você está na página 1de 23

 Quanto ao sujeito ativo

Os crimes se classificam, quanto ao sujeito ativo, em comuns, próprios e de


mão própria:

Crime comum: é aquele que não exige nenhuma qualidade específica do


sujeito ativo para sua prática.

São exemplos os delitos de homicídio, de furto e de estupro.

Crime próprio: é aquele que exige determinada qualidade do sujeito ativo


para sua prática. A doutrina admite a autoria mediata, a coautoria e a
participação nos crimes próprios.

São exemplos o peculato, no qual se exige a qualidade de funcionário


público (crime funcional); o auto aborto, que só pode ser praticado pela
própria grávida; e o delito de entrega de filho menor a pessoa inidônea, o
qual só pode ser praticado pelos genitores.

Crime de mão própria: é aquele que somente pode ser praticado pela
própria pessoa, por si mesma. Só se admite a participação em crime de mão
própria, ressalvado o caso de perícia assinada por dois profissionais, caso
em que a doutrina entende excepcionalmente cabível a coautoria. Também
denominado de delito de conduta infungível.

São exemplos o falso testemunho e a falsa perícia.

 Quanto à necessidade de resultado naturalístico para sua


consumação

Este critério leva em conta a necessidade de resultado naturalístico para a


consumação, distinguindo os delitos em materiais, formais e de mera
conduta.
1
Crime material: é aquele que prevê um resultado naturalístico como
necessário para sua consumação. São exemplos o delito de aborto e o crime
de dano. Há quem o chame de crime de resultado.

Crime formal: é aquele que descreve um resultado naturalístico, cuja


ocorrência é prescindível para a consumação do delito. Também
denominado de delito de tipo incongruente. É o caso da extorsão mediante
sequestro e o do descaminho.

Crime de mera conduta: é aquele cujo resultado naturalístico não pode


ocorrer, porque sequer há a sua descrição. Podemos tomar como exemplo o
crime de ato obsceno, assim como o de violação de domicílio.

 Quanto à necessidade de lesão ao bem jurídico para sua


consumação

Se tomada como critério a necessidade ou não de efetiva lesão ao bem


jurídico, temos a classificação dos delitos em crimes de dano e crimes de
perigo. Esta forma de classificação toma como base o resultado jurídico
do delito.

Crime de dano: é aquele em que se exige, para sua configuração, a efetiva


ocorrência de lesão ou de dano ao bem jurídico protegido pela norma
penal.

São exemplos o crime de dano, o crime de vilipêndio a cadáver, o próprio


crime de dano e o infanticídio.

Crime de perigo: é aquele que, para que se considere consumado, exige


apenas que o bem seja exposto a perigo. Portanto, a efetiva ocorrência de
dano ao bem jurídico protegido pela lei penal é desnecessária para que o
crime se consume.

2
São exemplos os crimes de perigo de contágio venéreo, de omissão de
socorro e de tráfico ilícito de entorpecentes.

Os crimes de perigo podem ser subdivididos em:

 De perigo concreto: é o crime de perigo cuja configuração requer a


demonstração de que o bem jurídico efetivamente foi posto em
perigo. É exemplo o crime de incêndio, em que o perigo deve ser
demonstrado.
 De perigo abstrato (ou puro): é o crime de perigo em que a sua
consumação não depende da demonstração de que tenha colocado o
bem jurídico em risco. O risco é presumido, de forma absoluta, pela
lei. É o caso do crime de associação criminosa e crime de posse
irregular de munição de uso permitido ou restrito, dos artigos 12 e 14
da Lei 10.826/2003.
 De perigo abstrato de “perigosidade” ou periculosidade
real: cuida-se de denominação nova trazida por alguns
doutrinadores. Seria o crime de perigo em que deve ser demonstrado
o risco, mas não a pessoa certa e determinada. Não é uma
denominação utilizada pela maioria da doutrina, que só distingue os
crimes de perigo, quanto à demonstração do risco, em concretos e
abstratos. Este Professor entende que esta classificação em nada se
diferencia como a seguinte, de crimes de potencial perigo. Para
muitos doutrinadores, seria uma mistura indevida de categorias,
relacionando o perigo comum ao perigo concreto. Seria exemplo o
crime de embriaguez ao volante, em que bastaria a demonstração de
perigo ao tráfego de pessoas e veículos, sem necessidade de se
comprovar que determinada pessoa foi colocada em risco.

3
 De perigo individual: é o delito que causa perigo a uma pessoa ou a
um grupo determinado de pessoas. Pode-se apontar como exemplo o
delito de perigo de contágio de moléstia grave.
 De perigo comum ou coletivo: é aquele cujo perigo de dano atinge
um número indeterminado de pessoas. Temos como exemplos o
crime de fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de
explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante (artigo 253 do CP) e o de
incêndio (artigo 250 do CP).
 De perigo atual: é aquele cujo perigo causado é contemporâneo à
conduta do agente. O crime de desabamento ou desmoronamento do
artigo 256 do CP tende a ser de perigo atual, pois o desabamento de
um prédio, no momento em que ocorre, já coloca em perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem.
 De perigo iminente: é aquele cujo perigo está prestes a acontecer. O
abandono de incapaz, do artigo 133 do CP, na prática, pode se
mostrar um crime de perigo iminente, já que, ainda que a pessoa sob
cuidado não fique em perigo imediatamente, pode ficar depois de
algum tempo sem cuidado.
 De Perigo futuro ou mediato: é aquele que produz um risco futuro.
Os exemplos são a associação criminosa ou o porte de munição de
uso permitido.

Na Alemanha, há a denominação de crimes de aptidão, de perigo hipotético


ou de crime de perigo abstrato-concreto. Referida teoria buscaria trazer
uma nova classificação entre os quatro tipos de delitos acima
descritos. Crimes de aptidão seriam aqueles em que o perigo seria parte
do tipo, e não uma fundamentação da própria incriminação. Por isso,
seriam diferentes dos crimes de perigo abstrato. Além disso, não exigiriam
a demonstração de um perigo concreto, razão pela qual se diferenciariam

4
dos crimes de perigo concreto. Referidos delitos seriam assim denominados
por exigirem a aptidão da produção do resultado, ou seja, a potencialidade
de causar o dano ao bem jurídico. Exigir-se-ia, assim, a idoneidade para a
produção do resultado, sem exigir sua comprovação caso a caso, mas a
demonstração de que, pelo que ordinariamente acontece, a conduta era
idônea para colocar o bem jurídico em risco.

 Quanto à forma da conduta

Leva em conta a forma da conduta, se positiva ou negativa, separando os


crimes em comissivos e omissivos.

Crime comissivo: é aquele que é praticado por um comportamento


positivo do agente, isto é, um fazer. São comissivos os crimes de furto e de
infanticídio.

Crime omissivo: é aquele que é praticado por meio de um comportamento


negativo, uma abstenção, um não fazer.

Os crimes omissivos se subdividem em:

 Omissivos próprios: é aquele previsto em um tipo mandamental,


ou seja, um tipo que já descreve um comportamento negativo no seu
núcleo. O dever jurídico de agir, naquela situação, decorre do próprio
tipo penal, que é chamado, então, de mandamental, por tornar
criminosa uma abstenção (ou omissão) em determinadas
circunstâncias. O agente, no caso, não tem o dever de evitar um
resultado, mas simplesmente o dever de agir para não incorrer na
prática do crime. Exemplo é o crime de omissão de socorro.

 Omissivos impróprios: também chamado de comissivo por


omissão, é aquele cujo dever jurídico de agir decorre de uma

5
cláusula geral, que, no Código Penal Brasileiro, está previsto em seu
artigo 13, parágrafo segundo. O dever jurídico abrange determinadas
situações jurídicas e se refere a qualquer crime comissivo. O sujeito
tem o dever de evitar o resultado naturalístico. Por isso, tais delitos
são chamados comissivos por omissão. A doutrina aponta que só
abrange crimes materiais, já que o agente deve ter o dever de evitar o
resultado.

São crimes naturalmente comissivos (praticados por um comportamento


positivo, uma ação), como é o caso do homicídio, mas que podem ser
praticados por uma conduta omissiva, no caso de o sujeito ter o dever
jurídico de agir previsto na cláusula geral.

Os crimes omissivos impróprios possuem as seguintes modalidades:

 Por dever legal: aquele que tenha por lei obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância. É o caso dos pais em relação aos filhos
menores. Se deixarem de alimentá-los, podem responder pelo
homicídio, um delito, no caso, omissivo impróprio.
 Por dever de garantidor: é o sujeito que, de outra forma, assumiu a
responsabilidade de impedir o resultado. É o salva-vidas de um
clube, que, por vínculo de trabalho, se obriga a salvar uma criança
que se afoga e pode responder pelo resultado morte, caso se abstenha
de agir.
 Por ingerência na norma: é aquele que, com seu comportamento
anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. O sujeito que pôs
fogo na mata, que se alastrou e não avisa os seus empregados rurais,
que podem ser atingidos pelo fogo, responderá por sua abstenção, no
caso de sofrerem lesão corporal.

6
 Omissivos por comissão: parte da doutrina entende existir uma
terceira modalidade de delito omissivo, o omissivo por comissão.
Cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há uma ação, um
comportamento comissivo, que provoca a omissão. Daí decorre a sua
denominação (omissivo por comissão), de modo que temos um delito
naturalmente omissivo, mas que é praticado em razão da conduta
positiva de outrem.

Crime de conduta mista: é aquele cujo tipo prevê uma ação, seguida de
uma omissão, sendo que ambos os comportamentos são
necessários para a sua configuração. Haveria, portanto, uma mistura entre
o crime comissivo e o omissivo. O exemplo é o crime de apropriação de
coisa achada, do artigo 169, inciso II, do CP. O tipo penal é o seguinte:
“quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, [conduta comissiva] deixando de restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no
prazo de quinze dias [conduta omissiva].”

Crime de esquecimento ou de “olvido”: é o crime omissivo culposo, sem


representação. Em outras palavras, é o crime omissivo praticado com culpa
inconsciente, aquela em que o agente sequer prevê o resultado, apesar de
previsível.

 Quanto ao tempo da consumação

Considera o momento em que o crime se consuma: se de forma imediata;


se há o prolongamento no tempo desta fase do iter criminis; se, ainda que
imediata, a consumação produz efeitos permanentes; ou, por fim, se há um
prazo temporal para sua consumação.

7
Crime instantâneo: é aquele que se consuma imediatamente, em um
instante definido. Podemos exemplificar com o furto.

Crime permanente: é aquele cuja consumação se protrai no tempo, isto é,


se prolonga. A fase da consumação persiste enquanto desejar o agente. O
sujeito ativo do delito consegue prolongar no tempo a fase de consumação
do delito. É o caso da extorsão mediante sequestro.

Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele que se consuma


imediatamente, em um momento determinado no tempo, mas cujos efeitos
se prolongam no tempo. É uma subespécie do crime instantâneo. São
exemplos o aborto e o crime de parcelamento ilegal de solo.

Crime a prazo: é aquele que depende de determinado prazo para sua


consumação, como o de apropriação de coisa achada (artigo 162, inciso II,
do CP) e o de lesão corporal de natureza grave com resultado de
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias (artigo
129, § 1º, inciso I, do CP).

Roxin, que não utiliza a classificação de crime instantâneo de efeitos


permanentes, traz uma outra categoria, a dos delitos de estado. Seriam
crimes que se consumam com o resultado, mas não precisam de atuação do
autor para manutenção do estado criado pela conduta típica, mesmo que ele
se beneficie de tal estado. Exemplo seria o da bigamia, delito em que o
sujeito não precisa renovar os atos para se manter casado de forma ilícita.
O homicídio seria outro exemplo.

 Quanto à unicidade ou não do tipo penal

Este critério classificatório se fundamenta no fato de o tipo penal ser


único ou se ele resulta da fusão de mais de um tipo penal:

8
Crime simples: é aquele que é formado por um único tipo penal, não
resultando da reunião de outros tipos. Exemplos: infanticídio e furto.

Crime complexo: é aquele cujo tipo é resultante da junção ou fusão de


outros tipos penais, como o roubo, que decorre do constrangimento ilegal,
da ameaça ou do crime relativo à violência e do furto. Temos, ainda, o
latrocínio, resultante da soma do furto e do homicídio. Por fim, podemos
exemplificar com a extorsão mediante sequestro, delito no qual se fundem
os tipos penais da extorsão e do sequestro.

 Quanto à dependência de outro crime para existir

Considera a relação entre os delitos, se há ou não a dependência de outra


infração para a sua configuração:

Crime principal: é aquele que existe independentemente da ocorrência de


outro delito. Se não possui ligação com outro delito, pode ser chamado de
independente. Exemplos: furto, homicídio e estupro.

Crime acessório: é aquele cuja ocorrência depende de um crime anterior.


Exemplos: receptação, lavagem de capitais e favorecimento real. No caso
de lavagem de dinheiro, o próprio agente pode ter cometido o crime
anterior, pois se admite a punição da chamada autolavagem.

Há ainda outra classificação:

De fusão, de conexão ou de anexação: os delitos de fusão são aqueles que


se relacionam a outro delito cometido anteriormente por terceiro, como o
favorecimento pessoal, o favorecimento real e a receptação. É denominação
utilizada por Eugenio Zaffaroni e Nilo Batista. Entendo que não se
confunde exatamente com o crime acessório, já que os autores definem
essa denominação como o crime praticado por terceiro. No caso da

9
lavagem de dinheiro, é punível a autolavagem (crime acessório e delito
principal praticados pelo mesmo agente).

 Quanto à forma de utilização do princípio da consunção

Cuida-se de classificação que simplesmente diferencia as modalidades de


aplicação do princípio da consunção ou da absorção, um dos incidentes
no chamado concurso aparente de normas:

Crime progressivo: é aquele em que o agente, para atingir o seu objetivo,


precisa praticar um crime menos grave que é o caminho para a prática de
outro. Cuida-se de condutas necessárias para a prática do crime desejado.
É o caso do homicida que se utiliza de uma faca para a execução do crime.
Ele pratica várias lesões corporais para se atingir o homicídio, respondendo
apenas por este último crime (norma consuntiva). Para o entendimento
atual do STJ, não se deve adotar a regra de o mais grave absorver o menos
grave, mas de o crime-fim absorver o crime-meio.

Progressão criminosa: é aquele em que há modificação do elemento


subjetivo do agente, que passa pela realização de dois ou mais tipos
penais, ocorrendo a absorção pelo crime-fim. É o caso do sujeito que vai
até a casa da ex-namorada para lhe dar uns socos e, lá chegando, resolve
matá-la. Neste caso, há uma modificação do dolo, sendo que a prática das
lesões corporais, previstas na norma consunta, era o objetivo inicial do
agente. Ele, então, o modifica e, buscando a morte da vítima, torna sua
conduta, que inicialmente pretendia, mero meio de execução de um
resultado mais gravoso, a morte da vítima. A consequência é que o crime
de homicídio absorve o crime-meio, o de lesões corporais.

 Quanto ao número de atos exigidos para sua consumação

10
Este critério leva em conta a realização de um só ato ou de uma
pluralidade de atos, pelo sujeito ativo, para a configuração do crime. O
critério, mais tecnicamente, é de fracionamento ou não da conduta, não se
aplicando uma diferenciação puramente mecânica:

Crime unissubsistente: é aquele que se realiza com um único ato, como o


desacato ou a injúria, ambos praticados verbalmente. A conduta não pode
ser fracionada. A doutrina majoritária não admite tentativa deste tipo
de crime. É o caso da injúria verbal e, para parte da doutrina, o do crime do
artigo 178 do CP.

Crime plurissubsistente: é aquele cuja prática exige mais de uma conduta


para sua configuração. Em outras palavras, a conduta do agente pode ser
fracionada, possibilitando a interrupção da execução, por circunstâncias
alheias à vontade do agente, e, com isso, a punição do conatus (modalidade
tentada do crime). É o caso do homicídio, da extorsão mediante sequestro
e do estelionato.

 Quanto à necessidade de mais de um sujeito ativo

Classificam-se os crimes quanto à necessidade ou não de mais de um


sujeito ativo para sua configuração:

Crime unissubjetivo, monossubjetivo ou de concurso eventual: é aquele


que pode ser praticado por apenas um indivíduo. A doutrina aponta que
este tipo de delito é que torna importante o estudo do concurso de pessoas,
por não ser necessária a pluralidade de agentes para a própria configuração
do delito.

Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário: é aquele cuja


realização típica exige mais de um agente.

11
O crime plurissubjetivo se subdivide em: Crime plurissubjetivo de
condutas convergentes ou bilaterais: as condutas dos agentes devem se
direcionar uma em direção à outra. Exemplo é o delito de bigamia.

 Crime plurissubjetivo de condutas paralelas: as condutas dos


indivíduos devem atuar paralelamente, possibilitando a prática
delitiva. É o caso da associação criminosa.
 Crime plurissubjetivo de condutas contrapostas – as condutas dos
agentes devem ir de encontro umas às outras, ou seja, se
contraporem. É assim classificado o crime de rixa.

 Quanto à exigência de forma específica para sua prática

É o critério de a lei penal prever ou não uma forma determinada para a


prática da infração penal, sendo que só se configurará o delito se o sujeito
ativo agir daquele modo específico para a realização típica:

Crime de forma livre: é aquele que não prevê uma forma específica de
realização do núcleo do tipo, como o furto e o homicídio.

Crime de forma vinculada: é aquele que tem forma ou formas de


realização do núcleo do tipo especificamente previstas em lei. É o caso do
curandeirismo, que possui algumas formas previstas nos incisos do artigo
284 em que o núcleo do tipo pode ser realizado.

 Quanto ao lugar

Há a classificação dos crimes para denominar aqueles cujo iter


criminis perpassam mais de um local, abrangendo ou não mais de uma
soberania:

12
Crime à distância ou de espaço máximo: é a infração penal cujo iter
criminis (caminho do crime, com suas fases de cogitação, preparação,
execução, consumação e, ao final, eventual exaurimento) abrange mais de
um país. Ou seja, é aquela infração penal que, em seu desenvolvimento,
percorre mais de um território soberano. Referido tipo de crime torna
importante o estudo do local do crime que, segundo o Código Penal, deve
ser compreendido sob a ótica da teoria da ubiquidade.

Crime plurilocal: é aquele que percorre, em sua prática, mais de um lugar,


mas dentro do mesmo território soberano. Sua importância se volta ao
processo penal, especialmente para determinação da competência ratione
loci, ou seja, a territorial.

 Quanto aos vestígios

De maior interesse para o Direito Processual Penal, há a classificação dos


crimes quanto a deixarem ou não vestígios:

Crime de fato transeunte (delicta facti transeuntis): é aquele que não


deixa vestígios, tornando desnecessária a realização do exame de corpo de
delito. É o caso da injúria verbal e do ato obsceno.

Crime de fato permanente (delicta facti permanentis): é aquele que deixa


vestígios, tornando necessária a realização do exame de corpo de delito.
Classificam-se assim o delito de estupro, de falsidade de documento
público e o de lesão corporal.

 Quanto à condição objetiva de punibilidade

Classificação de acordo com a necessidade ou não de condição objetiva


de punibilidade:

13
Crime condicionado: é aquele que depende de uma condição objetiva de
punibilidade, como no caso dos crimes tributários do artigo 1º da Lei
8.137/90 (dependem da constituição definitiva do crédito tributário) e dos
crimes falimentares (dependem da sentença que decrete a falência, conceda
a recuperação judicial ou homologue o plano de recuperação extrajudicial).

Crime incondicionado: é aquele que não possui condições objetiva de


punibilidade para sua configuração e consumação. De ordinário, é o que
ocorre com o roubo e o descaminho.

 Quanto à natureza dos crimes militares

Os crimes militares podem ser de dois tipos, os próprios e os impróprios:

Crime militar próprio: é aquele que só possui tipificação no âmbito


militar, como é o caso de deserção, previsto no artigo 187 do Código Penal
Militar. Se um civil praticar referida conduta, haverá fato penalmente
atípico. A condenação anterior por crime militar próprio não configura a
reincidência, nos termos do artigo 64, II, do Código Penal.

Crime militar impróprio: é aquele que está previsto na legislação penal


militar, mas possui tipificação também como crime não militar. Se um
cidadão civil praticar a conduta, há crime; se o agente for militar, há crime
previsto na legislação especial. São exemplos o furto e o homicídio.

 Quanto ao sujeito passivo

No tocante ao sujeito passivo, alguns delitos possuem algumas


peculiaridades e, por isso, possuem nomenclatura específica:

14
Crime vago: é aquele que possui sujeito passivo imediato um ente sem
personalidade jurídica, como a coletividade. É o crime de ato obsceno e o
de casa de prostituição.

Crime de dupla subjetividade passiva: é aquele que possui mais de um


sujeito passivo imediato. É o caso do aborto sem consentimento da gestante
(artigo 125 do CP) e de violação de correspondência (artigo 151 do CP).

 Quanto ao número de bens jurídicos atingidos

Apesar de se tratar de classificação menos frequente na doutrina


criminalista, podemos dividir as infrações penais, ainda, no tocante ao
número de bens jurídicos ofendidos com a realização típica. Seriam as
espécies de crime, segundo tal critério:

Crime mono-ofensivo: é aquele que atinge apenas um bem jurídico, como


furto, que ofende o patrimônio.

Crime pluriofensivo: é aquele que viola a mais de um bem jurídico.


Podemos exemplificar com o latrocínio, que atinge o patrimônio e a vida.

 Quanto a elementos subjetivos impróprios:

Claus Roxin traz, em sua obra, uma subdivisão dos delitos em razão do seu
elemento subjetivo, preconizada por Mezger. Como o tema tem sido
cobrado em concursos, é interessante compreender essa classificação:

Crimes de intenção: o tipo penal exige um elemento subjetivo que


ultrapasse, transcenda o tipo objetivo, para a sua configuração. Para alguns
autores, são os crimes que exigem elemento subjetivo especial do tipo. No
caso do furto, exige-se a intenção de apropriação para além da mera
subtração. Pode ser subdividido em duas classes de crimes:

15
 De tendência interna transcendente de resultado cortado
(separado): Segundo Roxin, o segundo resultado posterior deve ser
produzido como consequência da ação típica, sem uma conduta
adicional do sujeito ativo. Ele exemplifica com o crime de
envenenamento, previsto na lei alemã, com resultado adicional de
dano à saúde pública. É o caso de o resultado naturalístico, apesar de
ser a intenção do agente (elemento subjetivo especial do tipo),
depender da conduta de um terceiro. Classifica-se assim o delito de
extorsão mediante sequestro.
 De tendência interna transcendente mutilado (atrofiado) de dois
atos: o agente pratica a conduta para um resultado posterior, que não
é necessário ser obtido para sua configuração. O resultado
naturalístico, não exigido para a configuração do delito, depende da
vontade do agente, por meio de uma ação posterior. Pode-se
apontar o exemplo da moeda falsa, já que o tipo não exige que seja
colocada no mercado para que o agente efetivamente se beneficie.

Crimes de tendência, também chamados de delitos de tendência


interna peculiar ou intensificada: o delito possui um elemento subjetivo
que é inerente a um elemento típico ou determina a classe do crime,
segundo Roxin. De forma mais simples, a doutrina os conceitua como
aqueles cuja intenção do agente determina se o fato é típico ou atípico. É o
caso da injúria, em que se exige a intenção e, mais ainda, o animus
injuriandi, ou seja, que a intenção seja de ofender. O crime não se
configura se a ideia foi fazer uma piada, por exemplo, ou uma crítica
literária. Roxin exemplifica com os crimes sexuais. Podemos pensar: o que
diferencia uma consulta séria de um ginecologista ou um urologista e um
crime contra a dignidade sexual pode ser a intenção do agente ao tocar o
paciente.

16
Crimes de expressão: são os crimes cuja conduta expressam um processo
interno ocorrido na mente do autor. O agente recebe uma informação e a
interpreta, processa, praticando então a conduta típica. Roxin usa o
exemplo do falso testemunho, em que o agente tem ciência de
determinados fatos e, então, depõe de forma diversa. O crime não está na
contradição entre o que o agente disse e a realidade (concepção objetiva),
pois o agente pode ter percebido a realidade de forma diversa, mas entre a
sua convicção íntima e sua manifestação ou entre o seu conhecimento dos
fato e sua atitude de calar-se (concepção subjetiva).

 Quanto ao tratamento diferenciado da tentativa:

Há alguns crimes que possuem um tratamento diferenciado quanto à


tentativa e consumação:

Crimes que só admitem a forma tentada: são os de lesa-pátria. Estão


previstos na Lei de Segurança Nacional, sendo exemplo o seu artigo 11. O
próprio núcleo do tipo é “tentar desmembrar”, de modo que só a conduta
tentada é punida.

Crimes de atentado ou de empreendimento: é aquele em que o


legislador equipara a forma tentada à forma consumada do delito, prevendo
a mesma pena para ambas as modalidades. É exemplo o artigo 352 do CP,
bem como o do artigo 309 do Código Eleitoral.

 Quanto ao Núcleo do Tipo:

É possível, ainda, classificar o delito quanto ao número de núcleos do tipo


e a necessidade ou não se sua realização cumulativa para a sua
configuração:

17
Crime de ação simples: é o crime que possui apenas um núcleo do tipo,
consistente no verbo principal que descreve a conduta típica. É o caso do
homicídio.

Crime de ação múltipla, de ação plurinuclear, de conteúdo variado ou


tipo misto: é o crime que possui mais de um núcleo do tipo, podendo ser
dividido em alternativo ou cumulativo:

Crime de tipo misto alternativo: é o crime que possui mais de um núcleo


do tipo, sendo que a prática de apenas um deles é suficiente para a sua
consumação e a prática de mais de um deles, no mesmo contexto, configura
crime único. É o caso do artigo 33, caput, da Lei 11.343/06.

Crime de tipo misto cumulativo: é o crime que possui mais de um núcleo


do tipo, sendo que as condutas não são fungíveis entre si. Estão no mesmo
tipo penal por opção do legislador, mas poderiam estar em tipos penais
diversos. A prática de cada um deles configura um delito diverso. É o caso
do crime do artigo 242 do CP. Também se exemplifica com o atentado
contra a liberdade de trabalho e boicotagem violenta, previsto no artigo 198
do CP.

 Quanto à pena prevista

Em razão de benefícios previstos em lei para determinadas faixas de pena


previstas para os delitos, há a seguinte classificação:

Infrações penais de menor potencial ofensivo: é a infração penal de


competência dos Juizados Especiais Estaduais e Federais (salvo regras de
conexão), com pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com
multa. Para tais delitos, são cabíveis a transação penal e a suspensão
condicional do processo.

18
Infrações penais de médio potencial ofensivo: é a infração penal com
pena máxima superior a 2 anos, mas cuja pena mínima seja igual ou
inferior a um ano. Para tais delitos, é cabível a suspensão condicional do
processo, razão pela qual a doutrina criou referida classificação.

Infrações penais de maior potencial ofensivo: é a infração penal com


pena máxima superior a 2 anos e pena mínima superior a um ano. Em
outras palavras, são os crimes para os quais não são cabíveis a transação
penal nem a suspensão condicional do processo.

 Outras classificações

Neste tópico, seguem outras classificações efetuadas pela doutrina:

Crime subsidiário: um crime é subsidiário em relação a outro quando


descreve um grau menor de violação do bem jurídico. A análise, este
caso, é feita em concreto, relação de minus e de plus, ou seja, de maior ou
menor intensidade. Neste caso, havendo conflito aparente de normas, é
levada em conta a análise do fato.

O crime pode ser expressamente subsidiário, como ocorre com o artigo 132
do Código Penal, que prevê o crime de perigo para a vida ou a saúde de
outrem.

Crime multitudinário: é aquele cometido por uma reunião de pessoas, no


clima de tumulto ou histeria coletiva, que torna os limites éticos dos
indivíduos, temporariamente, menos rígidos. São, por exemplo, os casos de
linchamentos de pessoas acusadas da prática de um crime que causa
comoção na comunidade.

19
Crime de opinião (ou de palavra): é o crime que se configura com o
abuso da liberdade de expressão ou de pensamento, como o caso da
difamação.

É diferente do crime de expressão, analisado acima, que a conduta delitiva


deriva da expressão pelo autor, mas após o uso de sua atividade intelectual.
O exemplo é o falso testemunho.

Crime habitual: é o crime que exige uma reiteração de atos para sua
consumação, sendo que a doutrina aponta ser necessária a demonstração do
estilo de vida do agente. São exemplos o rufianismo e a casa de
prostituição.

Crime profissional: é o crime habitual, realizado com intuito de lucro,


para parte da doutrina. Para outra parcela, é o crime cometido por meio da
profissão lícita do agente, como meio para realizar uma conduta criminosa.

Crime mercenário: é o crime cometido com intuito de lucro.

Crime gratuito: é aquele cometido sem motivo, o que não se confunde


com o motivo fútil (STJ, HC 369163/SP, Rel. Min. Joel IlanPaciornik, 5ª
Turma, DJe 06/03/2017).

Crime de ímpeto: é aquele cometido no calor da emoção, sem


premeditação. É o que ocorre no caso de homicídio cometido sob o
domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.

Crime funcional: é o que é cometido pelo funcionário público. Se


for funcional próprio, só pode ser cometido pelo funcionário público,
como a prevaricação. Por sua vez, o funcional impróprio consiste em
conduta tipificada tanto para o particular (exemplo: apropriação indébita)

20
quanto para o funcionário público, de forma especial (por exemplo:
peculato-apropriação).

Crime de ação violenta: é aquele praticado com emprego de força física


ou com grave ameaça. Os exemplos podem ser o estupro e o crime de lesão
corporal.

Crime de ação astuciosa: é o crime praticado por meio de astúcia, de uma


fraude ou um engodo. É o caso do estelionato.

Crime de circulação: é o crime praticado na condução de veículo


automotor.

Crime internacional ou mundial: é o crime que o Brasil se obrigou a


reprimir no Direito Internacional, por meio de tratado ou convenção, como
o tráfico internacional de entorpecentes e o tráfico internacional de pessoas
para fins de exploração sexual. Entretanto, há quem utilize para se referir
aos crimes de lesa-humanidade, de competência do Tribunal Penal
Internacional. É usado, ainda, por alguns, para definir o crime à distância.

Crime obstáculo: é o que se antecipa para determinar a punição do que


seriam atos meramente preparatórios, trazendo punição autônoma.
Exemplos são os crimes de associação criminosa e de petrechos para
falsificação de moeda. Para Zaffaroni e Batista, cuida-se de previsão de
constitucionalidade duvidosa, por violação do princípio da lesividade e por
falta de legitimidade baseada em evitar o risco ao bem jurídico tutelado. O
STJ já usou o termo “tipo penal preventivo” para um crime obstáculo, o de
porte de arma de fogo.

Crime remetido: é o delito cuja definição faz remissão ou referência a


outro tipo penal. É o caso do crime de uso de documento falso:

21
Uso de documento falso

Art. 304 – Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a


que se referem os arts. 297 a 302:

Pena – a cominada à falsificação ou à alteração.

Não confundam com norma penal em branco, que pede complemento do


tipo penal por outra norma, e não por outro tipo penal.

Delito de acumulação: são crimes em que, ainda que a ofensa ao bem


jurídico possa ser ínfima naquele caso, a soma de várias condutas torna o
bem jurídico lesado e, assim, justifica a sua punição. Blanco Cordero,
jurista espanhol, cita a classificação, mencionando seu uso por Silva
Sanchez, para justificar a punição de pequenas quantias submetidas à
lavagem de dinheiro, caso se defenda que o bem jurídico protegido é a
ordem econômica. Ainda que a lavagem de R$ 10.000,00 não ofenda a
ordem econômica, o conjunto de todo o valor “lavado” tem a capacidade de
ofender o bem jurídico. Pode-se usar, ainda, em delitos ambientais, em que
condutas somadas levam à perda da qualidade do ambiente apto a nos
proporcionar sadia qualidade de vida.

Existe crime eleitoral, que se traduz em infração contra o processo


eleitoral e que coincide com a competência geral da Justiça Eleitoral
(independentemente de regras de conexão ou continência). Alguns autores
falam, assim, em crimes federais e crimes estaduais. Apesar de se tratar
de nomenclatura usual, há quem defenda sua impropriedade, já que haveria,
no Brasil, crimes de competência da Justiça Federal e os de competência
da Justiça Estadual, em razão de, como regra, a competência para legislar
sobre direito penal ser apenas da União. É diferente o sistema dos EUA, em

22
que a União legisla sobre os crimes federais, enquanto os Estados
promulgam suas leis com os crimes estaduais.

23

Você também pode gostar