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Classificação dos Crimes no Direito

Penal: resumo completo


Segue um estudo com as principais formas de classificação dos crimes


utilizadas pela doutrina e pela jurisprudência. É um assunto essencial para o
Direito Penal, tanto para a aplicação dos institutos dessa disciplina quanto para
a sua própria compreensão.

O conhecimento sobre a classificação dos delitos permite a compreensão dos


tipos penais e a atribuição, a cada um deles, de várias características que
determinam, por exemplo, o momento da consumação e a possibilidade ou não
de punição da forma tentada.

É importante ressalvar que os critérios e as denominações utilizados para


classificar as infrações penais podem variar entre os doutrinadores.
Estudaremos os mais utilizados e consagrados pela jurisprudência, além de
mais cobrados pelas bancas de concursos.

Atualização do conteúdo realizada em 11/09/2022.

Vamos lá!

 Quanto ao sujeito ativo

Os crimes se classificam, quanto ao sujeito ativo, em comuns, próprios e de


mão própria:

Crime comum: é aquele que não exige nenhuma qualidade específica do


sujeito ativo para sua prática.

São exemplos os delitos de homicídio, de furto e de estupro.

Crime próprio: é aquele que exige determinada qualidade do sujeito ativo para
sua prática. A doutrina admite a autoria mediata, a coautoria e a participação
nos crimes próprios.

São exemplos o peculato, no qual se exige a qualidade de funcionário público


(crime funcional); o autoaborto, que só pode ser praticado pela própria grávida;
e o delito de entrega de filho menor a pessoa inidônea, o qual só pode ser
praticado pelos genitores.

Crime de mão própria: é aquele que somente pode ser praticado pela própria
pessoa, por si mesma. Só se admite a participação em crime de mão própria,
ressalvado o caso de perícia assinada por dois profissionais, caso em que a
doutrina entende excepcionalmente cabível a coautoria. Também denominado
de delito de conduta infungível.
São exemplos o falso testemunho e a falsa perícia.

 Quanto à necessidade de resultado naturalístico para sua


consumação

Este critério leva em conta a necessidade de resultado naturalístico para a


consumação, distinguindo os delitos em materiais, formais e de mera conduta.

Crime material: é aquele que prevê um resultado naturalístico como


necessário para sua consumação. São exemplos o delito de aborto e o crime
de dano. Há quem o chame de crime de resultado.

Crime formal: é aquele que descreve um resultado naturalístico, cuja


ocorrência é prescindível para a consumação do delito. Também denominado
de delito de tipo incongruente. É o caso da extorsão mediante sequestro e o do
descaminho.

Crime de mera conduta: é aquele cujo resultado naturalístico não pode


ocorrer, porque sequer há a sua descrição. Podemos tomar como exemplo o
crime de ato obsceno, assim como o de violação de domicílio.

 Quanto à necessidade de lesão ao bem jurídico para sua


consumação

Se tomada como critério a necessidade ou não de efetiva lesão ao bem


jurídico, temos a classificação dos delitos em crimes de dano e crimes de
perigo. Esta forma de classificação toma como base o resultado jurídico do
delito.

Crime de dano: é aquele em que se exige, para sua configuração, a efetiva


ocorrência de lesão ou de dano ao bem jurídico protegido pela norma penal.

São exemplos o crime de dano, o crime de vilipêndio a cadáver, o próprio crime


de dano e o infanticídio.

Crime de perigo: é aquele que, para que se considere consumado, exige


apenas que o bem seja exposto a perigo. Portanto, a efetiva ocorrência de
dano ao bem jurídico protegido pela lei penal é desnecessária para que o crime
se consume.

São exemplos os crimes de perigo de contágio venéreo, de omissão de socorro


e de tráfico ilícito de entorpecentes.

Os crimes de perigo podem ser subdivididos em:

 De perigo concreto: é o crime de perigo cuja configuração requer a


demonstração de que o bem jurídico efetivamente foi posto em perigo. É
exemplo o crime de incêndio, em que o perigo deve ser demonstrado.
 De perigo abstrato (ou puro):é o crime de perigo em que a sua
consumação não depende da demonstração de que tenha colocado o
bem jurídico em risco. O risco é presumido, de forma absoluta, pela lei.
É o caso do crime de associação criminosa e crime de posse irregular
de munição de uso permitido ou restrito, dos artigos 12 e 14 da Lei
10.826/2003[1].
 De perigo abstrato de “perigosidade” ou periculosidade real: cuida-
se de denominação nova trazida por alguns doutrinadores. Seria o crime
de perigo em que deve ser demonstrado o risco, mas não a pessoa
certa e determinada. Não é uma denominação utilizada pela maioria da
doutrina, que só distingue os crimes de perigo, quanto à demonstração
do risco, em concretos e abstratos. Este Professor entende que esta
classificação em nada se diferencia como a seguinte, de crimes de
potencial perigo. Para muitos doutrinadores, seria uma mistura indevida
de categorias, relacionando o perigo comum ao perigo concreto. Seria
exemplo o crime de embriaguez ao volante, em que bastaria a
demonstração de perigo ao tráfego de pessoas e veículos, sem
necessidade de se comprovar que determinada pessoa foi colocada em
risco.
 De perigo individual: é o delito que causa perigo a uma pessoa ou a
um grupo determinado de pessoas. Pode-se apontar como exemplo o
delito de perigo de contágio de moléstia grave.
 De perigo comum ou coletivo: é aquele cujo perigo de dano atinge um
número indeterminado de pessoas. Temos como exemplos o crime de
fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou
gás tóxico, ou asfixiante (artigo 253 do CP) e o de incêndio (artigo 250
do CP).
 De perigo atual: é aquele cujo perigo causado é contemporâneo à
conduta do agente. O crime de desabamento ou desmoronamento do
artigo 256 do CP tende a ser de perigo atual, pois o desabamento de um
prédio, no momento em que ocorre, já coloca em perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem.
 De perigo iminente: é aquele cujo perigo está prestes a acontecer. O
abandono de incapaz, do artigo 133 do CP, na prática, pode se mostrar
um crime de perigo iminente, já que, ainda que a pessoa sob cuidado
não fique em perigo imediatamente, pode ficar depois de algum tempo
sem cuidado.
 De Perigo futuro ou mediato: é aquele que produz um risco futuro. Os
exemplos são a associação criminosa ou o porte de munição de uso
permitido.

A doutrina mais consagrada se preocupa em classificar os crimes de perigo do


seguinte modo, sem misturar os critérios:

 Crime de perigo abstrato;


 Crime de perigo concreto;
 Crime de perigo individual;
 Crime de perigo comum.

A maioria da doutrina não aceita, portanto, a classificação de “crime abstrato de


perigosidade real”.
Na Alemanha, há a denominação de crimes de aptidão, de perigo hipotético ou
de crime de perigo abstrato-concreto. Referida teoria buscaria trazer uma nova
classificação entre os quatro tipos de delitos acima descritos. Crimes de
aptidão[2] seriam aqueles em que o perigo seria parte do tipo, e não uma
fundamentação da própria incriminação. Por isso, seriam diferentes dos crimes
de perigo abstrato. Além disso, não exigiriam a demonstração de um perigo
concreto, razão pela qual se diferenciariam dos crimes de perigo concreto.
Referidos delitos seriam assim denominados por exigirem a aptidão da
produção do resultado, ou seja, a potencialidade de causar o dano ao bem
jurídico. Exigir-se-ia, assim, a idoneidade para a produção do resultado, sem
exigir sua comprovação caso a caso, mas a demonstração de que, pelo que
ordinariamente acontece, a conduta era idônea para colocar o bem jurídico em
risco.

 Quanto à forma da conduta

Leva em conta a forma da conduta, se positiva ou negativa, separando os


crimes em comissivos e omissivos.

Crime comissivo: é aquele que é praticado por um comportamento positivo do


agente, isto é, um fazer. São comissivos os crimes de furto e de infanticídio.

Crime omissivo: é aquele que é praticado por meio de um comportamento


negativo, uma abstenção, um não fazer.

Os crimes omissivos se subdividem em:

 Omissivos próprios: é aquele previsto em um tipo mandamental, ou


seja, um tipo que já descreve um comportamento negativo no seu
núcleo. O dever jurídico de agir, naquela situação, decorre do próprio
tipo penal, que é chamado, então, de mandamental, por tornar criminosa
uma abstenção (ou omissão) em determinadas circunstâncias. O
agente, no caso, não tem o dever de evitar um resultado, mas
simplesmente o dever de agir para não incorrer na prática do crime.

Exemplo é o crime de omissão de socorro (“Deixar de prestar assistência,


quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”),
em que a própria descrição do tipo penal é um não fazer (deixar de prestar
assistência ou não pedir o socorro da autoridade pública). É também do caso
dos crimes do artigo 168-A, caput, e do artigo 359-F, ambos do CP.

 Omissivos impróprios: também chamado de comissivo por omissão,


é aquele cujo dever jurídico de agir decorre de uma cláusula geral, que,
no Código Penal Brasileiro, está previsto em seu artigo 13, parágrafo
segundo. O dever jurídico abrange determinadas situações jurídicas e se
refere a qualquer crime comissivo. O sujeito tem o dever de evitar o
resultado naturalístico. Por isso, tais delitos são chamados comissivos
por omissão. A doutrina aponta que só abrange crimes materiais, já que
o agente deve ter o dever de evitar o resultado.

São crimes naturalmente comissivos (praticados por um comportamento


positivo, uma ação), como é o caso do homicídio, mas que podem ser
praticados por uma conduta omissiva, no caso de o sujeito ter o dever jurídico
de agir previsto na cláusula geral.

Os crimes omissivos impróprios possuem as seguintes modalidades:

 Por dever legal: aquele que tenha por lei obrigação de cuidado, proteção
ou vigilância. É o caso dos pais em relação aos filhos menores. Se
deixarem de alimentá-los, podem responder pelo homicídio, um delito,
no caso, omissivo impróprio.
 Por dever de garantidor: é o sujeito que, de outra forma, assumiu a
responsabilidade de impedir o resultado. É o salva-vidas de um clube,
que, por vínculo de trabalho, se obriga a salvar uma criança que se
afoga e pode responder pelo resultado morte, caso se abstenha de agir.
 Por ingerência na norma: é aquele que, com seu comportamento
anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. O sujeito que pôs fogo
na mata, que se alastrou e não avisa os seus empregados rurais, que
podem ser atingidos pelo fogo, responderá por sua abstenção, no caso
de sofrerem lesão corporal.

 Omissivos por comissão: parte da doutrina entende existir uma


terceira modalidade de delito omissivo, o omissivo por comissão[3].
Cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há uma ação, um
comportamento comissivo, que provoca a omissão. Daí decorre a sua
denominação (omissivo por comissão), de modo que temos um delito
naturalmente omissivo, mas que é praticado em razão da conduta
positiva de outrem.

Crime de conduta mista: é aquele cujo tipo prevê uma ação, seguida de
uma omissão, sendo que ambos os comportamentos são
necessários para a sua configuração. Haveria, portanto, uma mistura entre o
crime comissivo e o omissivo. O exemplo é o crime de apropriação de coisa
achada, do artigo 162, inciso II, do CP. O tipo penal é o seguinte:
“quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, [conduta comissiva] deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze
dias [conduta omissiva].”

Crime de esquecimento ou de “olvido”: é o crime omissivo culposo, sem


representação[4]. Em outras palavras, é o crime omissivo praticado com culpa
inconsciente, aquela em que o agente sequer prevê o resultado, apesar de
previsível. Imaginem um pai que não cuida do filho de tão distraído que está
em seus vícios. Ele sequer se lembra de que o filho está com ele, pois era o fim
de semana em que ele cuidaria da criança. Deixa o som alto, e a criança, sem
supervisão, sofre uma queda, grita por socorro e ele não ajuda, razão pela qual
ela falece. Ele agiu com culpa inconsciente, pois sequer previu o resultado, em
um crime omissivo. Os autores usam como exemplo os casos de alguém que
esquece a válvula do gás aberta ou que não faz um sinal de trânsito que era
necessário.

 Quanto ao tempo da consumação

Considera o momento em que o crime se consuma: se de forma imediata; se


há o prolongamento no tempo desta fase do iter criminis; se, ainda que
imediata, a consumação produz efeitos permanentes; ou, por fim, se há um
prazo temporal para sua consumação.

Crime instantâneo: é aquele que se consuma imediatamente, em um instante


definido. Podemos exemplificar com o furto.

Crime permanente: é aquele cuja consumação se protrai no tempo, isto é, se


prolonga. A fase da consumação persiste enquanto desejar o agente. O
sujeito ativo do delito consegue prolongar no tempo a fase de consumação do
delito. É o caso da extorsão mediante sequestro.

Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele que se consuma


imediatamente, em um momento determinado no tempo, mas cujos efeitos se
prolongam no tempo. É uma subespécie do crime instantâneo. São exemplos o
aborto e o crime de parcelamento ilegal de solo[5].

Crime a prazo: é aquele que depende de determinado prazo para sua


consumação, como o de apropriação de coisa achada (artigo 162, inciso II, do
CP) e o de lesão corporal de natureza grave com resultado de incapacidade
para as ocupações habituais, por mais de trinta dias (artigo 129, § 1º, inciso I,
do CP).

Roxin, que não trata de crime instantâneo de efeitos permanentes, traz uma
outra categoria, a dos delitos de estado. Seriam crimes que se consumam
com o resultado, mas não precisam de atuação do autor para manutenção do
estado criado pela conduta típica, mesmo que ele se beneficie de tal estado.
Exemplo seria o da bigamia, delito em que o sujeito não precisa renovar os
atos para se manter casado de forma ilícita. O homicídio seria outro exemplo[6].

 Quanto à unicidade ou não do tipo penal

Este critério classificatório se fundamenta no fato de o tipo penal ser único


ou se ele resulta da fusão de mais de um tipo penal:

Crime simples: é aquele que é formado por um único tipo penal, não
resultando da reunião de outros tipos. Exemplos: infanticídio e furto.

Crime complexo: é aquele cujo tipo é resultante da junção ou fusão de outros


tipos penais, como o roubo, que decorre do constrangimento ilegal, da ameaça
ou do crime relativo à violência e do furto. Temos, ainda, o latrocínio, resultante
da soma do furto e do homicídio. Por fim, podemos exemplificar com a extorsão
mediante sequestro, delito no qual se fundem os tipos penais da extorsão e do
sequestro.

 Quanto à dependência de outro crime para existir

Considera a relação entre os delitos, se há ou não a dependência de outra


infração para a sua configuração:

Crime principal: é aquele que existe independentemente da ocorrência de


outro delito. Se não possui ligação com outro delito, pode ser chamado de
independente. Exemplos: furto, homicídio e estupro.

Crime acessório: é aquele cuja ocorrência depende de um crime anterior.


Exemplos: receptação, lavagem de capitais e favorecimento real. No caso de
lavagem de dinheiro, o próprio agente pode ter cometido o crime anterior, pois
se admite a punição da chamada autolavagem.

Há ainda outra classificação:

De fusão, de conexão ou de anexação: os delitos de fusão são aqueles que


se relacionam a outro delito cometido anteriormente por terceiro, como o
favorecimento pessoal, o favorecimento real e a receptação. É denominação
utilizada por Eugenio Zaffaroni e Nilo Batista[7]. Entendo que não se confunde
exatamente com o crime acessório, já que os autores definem essa
denominação como o crime praticado por terceiro. No caso da lavagem de
dinheiro, é punível a autolavagem (crime acessório e delito principal praticados
pelo mesmo agente).

 Quanto à forma de utilização do princípio da consunção

Cuida-se de classificação que simplesmente diferencia as modalidades de


aplicação do princípio da consunção ou da absorção, um dos incidentes no
chamado concurso aparente de normas:

Crime progressivo: é aquele em que o agente, para atingir o seu objetivo,


precisa praticar um crime menos grave que é o caminho para a prática de
outro. Cuida-se de condutas necessárias para a prática do crime desejado. É
o caso do homicida que se utiliza de uma faca para a execução do crime. Ele
pratica várias lesões corporais para se atingir o homicídio, respondendo
apenas por este último crime (norma consuntiva). Para o entendimento atual do
STJ, não se deve adotar a regra de o mais grave absorver o menos grave, mas
de o crime-fim absorver o crime-meio.

Progressão criminosa: é aquele em que há modificação do elemento


subjetivo do agente, que passa pela realização de dois ou mais tipos penais,
ocorrendo a absorção pelo crime-fim. É o caso do sujeito que vai até a casa da
ex-namorada para lhe dar uns socos e, lá chegando, resolve matá-la. Neste
caso, há uma modificação do dolo, sendo que a prática das lesões corporais,
previstas na norma consunta, era o objetivo inicial do agente. Ele, então, o
modifica e, buscando a morte da vítima, torna sua conduta, que inicialmente
pretendia, mero meio de execução de um resultado mais gravoso, a morte da
vítima. A consequência é que o crime de homicídio absorve o crime-meio, o de
lesões corporais.

 Quanto ao número de atos exigidos para sua consumação

Este critério leva em conta a realização de um só ato ou de uma pluralidade


de atos, pelo sujeito ativo, para a configuração do crime. O critério, mais
tecnicamente, é de fracionamento ou não da conduta, não se aplicando uma
diferenciação puramente mecânica:

Crime unissubsistente: é aquele que se realiza com um único ato, como o


desacato ou a injúria, ambos praticados verbalmente. A conduta não pode ser
fracionada. A doutrina majoritária não admite tentativa deste tipo de
crime[8]. É o caso da injúria verbal e, para parte da doutrina, o do crime do
artigo 178 do CP.

Crime plurissubsistente: é aquele cuja prática exige mais de uma conduta


para sua configuração. Em outras palavras, a conduta do agente pode ser
fracionada, possibilitando a interrupção da execução, por circunstâncias alheias
à vontade do agente, e, com isso, a punição do conatus (modalidade tentada
do crime). É o caso do homicídio, da extorsão mediante sequestro e do
estelionato.

 Quanto à necessidade de mais de um sujeito ativo

Classificam-se os crimes quanto à necessidade ou não de mais de um


sujeito ativo para sua configuração:

Crime unissubjetivo, monossubjetivo ou de concurso eventual: é aquele


que pode ser praticado por apenas um indivíduo. A doutrina aponta que este
tipo de delito é que torna importante o estudo do concurso de pessoas, por não
ser necessária a pluralidade de agentes para a própria configuração do delito.

Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário: é aquele cuja realização


típica exige mais de um agente.

O crime plurissubjetivo se subdivide em[9]:

 Crime plurissubjetivo de condutas convergentes ou bilaterais: as


condutas dos agentes devem se direcionar uma em direção à outra.
Exemplo é o delito de bigamia.
 Crime plurissubjetivo de condutas paralelas: as condutas dos
indivíduos devem atuar paralelamente, possibilitando a prática delitiva. É
o caso da associação criminosa.
 Crime plurissubjetivo de condutas contrapostas – as condutas dos
agentes devem ir de encontro umas às outras, ou seja, se contraporem.
É assim classificado o crime de rixa.

 Quanto à exigência de forma específica para sua prática


É o critério de a lei penal prever ou não uma forma determinada para a
prática da infração penal, sendo que só se configurará o delito se o sujeito
ativo agir daquele modo específico para a realização típica:

Crime de forma livre: é aquele que não prevê uma forma específica de
realização do núcleo do tipo, como o furto e o homicídio.

Crime de forma vinculada: é aquele que tem forma ou formas de realização


do núcleo do tipo especificamente previstas em lei. É o caso do curandeirismo,
que possui algumas formas previstas nos incisos do artigo 284 em que o
núcleo do tipo pode ser realizado:

Curandeirismo

Art. 284 – Exercer o curandeirismo:

I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer


substância;

II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III – fazendo diagnósticos:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único – Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica


também sujeito à multa.

É também o caso do crime de redução à condição análoga à de escravo.

 Quanto ao lugar

Há a classificação dos crimes para denominar aqueles cujo iter


criminis perpassam mais de um local, abrangendo ou não mais de uma
soberania:

Crime à distância ou de espaço máximo: é a infração penal cujo iter


criminis (caminho do crime, com suas fases de cogitação, preparação,
execução, consumação e, ao final, eventual exaurimento) abrange mais de um
país. Ou seja, é aquela infração penal que, em seu desenvolvimento, percorre
mais de um território soberano. Referido tipo de crime torna importante o
estudo do local do crime que, segundo o Código Penal, deve ser compreendido
sob a ótica da teoria da ubiquidade.

Crime plurilocal: é aquele que percorre, em sua prática, mais de um lugar,


mas dentro do mesmo território soberano. Sua importância se volta ao
processo penal, especialmente para determinação da competência ratione loci,
ou seja, a territorial.
Há quem fale, ainda, em crime em trânsito, conceituando-o como aquele que
passa pelo território de mais de um país, sem atingir bens jurídicos de todos
eles[10]. Seria o caso de uma mala de dinheiro recebida como suborno no Peru,
que passa pelo Brasil para ser objeto de lavagem de capitais no Uruguai. Não
parece uma classificação necessária, considerando que a que possui
relevância prática é a dos crimes à distância, dada a necessidade de definir se
a lei brasileira é aplicável.

 Quanto aos vestígios

De maior interesse para o Direito Processual Penal, há a classificação dos


crimes quanto a deixarem ou não vestígios:

Crime de fato transeunte (delicta facti transeuntis): é aquele que não deixa
vestígios, tornando desnecessária a realização do exame de corpo de delito. É
o caso da injúria verbal e do ato obsceno.

Crime de fato permanente (delicta facti permanentis): é aquele que deixa


vestígios, tornando necessária a realização do exame de corpo de delito.
Classificam-se assim o delito de estupro, de falsidade de documento público e
o de lesão corporal.

 Quanto à condição objetiva de punibilidade

Classificação de acordo com a necessidade ou não de condição objetiva de


punibilidade:

Crime condicionado: é aquele que depende de uma condição objetiva de


punibilidade, como no caso dos crimes tributários do artigo 1º da Lei 8.137/90
(dependem da constituição definitiva do crédito tributário) e dos crimes
falimentares (dependem da sentença que decrete a falência, conceda a
recuperação judicial ou homologue o plano de recuperação extrajudicial).

Crime incondicionado: é aquele que não possui condições objetiva de


punibilidade para sua configuração e consumação. De ordinário, é o que ocorre
com o roubo e o descaminho.

 Quanto à natureza dos crimes militares

Os crimes militares podem ser de dois tipos, os próprios e os impróprios:

Crime militar próprio: é aquele que só possui tipificação no âmbito militar,


como é o caso de deserção, previsto no artigo 187 do Código Penal Militar. Se
um civil praticar referida conduta, haverá fato penalmente atípico. A
condenação anterior por crime militar próprio não configura a reincidência, nos
termos do artigo 64, II, do Código Penal.

Crime militar impróprio: é aquele que está previsto na legislação penal militar,
mas possui tipificação também como crime não militar. Se um cidadão civil
praticar a conduta, há crime; se o agente for militar, há crime previsto na
legislação especial. São exemplos o furto e o homicídio.

 Quanto ao sujeito passivo

No tocante ao sujeito passivo, alguns delitos possuem algumas peculiaridades


e, por isso, possuem nomenclatura específica:

Crime vago: é aquele que possui sujeito passivo imediato um ente sem
personalidade jurídica, como a coletividade. É o crime de ato obsceno e o de
casa de prostituição.

Crime de dupla subjetividade passiva: é aquele que possui mais de um


sujeito passivo imediato. É o caso do aborto sem consentimento da gestante
(artigo 125 do CP) e de violação de correspondência (artigo 151 do CP).

 Quanto ao número de bens jurídicos atingidos

Apesar de se tratar de classificação menos frequente na doutrina criminalista,


podemos dividir as infrações penais, ainda, no tocante ao número de bens
jurídicos ofendidos com a realização típica. Seriam as espécies de crime,
segundo tal critério:

Crime mono-ofensivo: é aquele que atinge apenas um bem jurídico, como


furto, que ofende o patrimônio.

Crime pluriofensivo: é aquele que viola a mais de um bem jurídico. Podemos


exemplificar com o latrocínio, que atinge o patrimônio e a vida.

 Quanto a elementos subjetivos impróprios:

Claus Roxin traz, em sua obra[11], uma subdivisão dos delitos em razão do seu
elemento subjetivo, preconizada por Mezger. Como o tema tem sido cobrado
em concursos, é interessante compreender essa classificação:

Crimes de intenção: o tipo penal exige um elemento subjetivo que ultrapasse,


transcenda o tipo objetivo, para a sua configuração. Para alguns autores, são
os crimes que exigem elemento subjetivo especial do tipo. No caso do furto,
exige-se a intenção de apropriação para além da mera subtração. Pode ser
subdividido em duas classes de crimes:

 De tendência interna transcendente de resultado cortado


(separado): Segundo Roxin, o segundo resultado posterior deve ser
produzido como consequência da ação típica, sem uma conduta
adicional do sujeito ativo. Ele exemplifica com o crime de
envenenamento, previsto na lei alemã, com resultado adicional de dano
à saúde pública. É o caso de o resultado naturalístico, apesar de ser a
intenção do agente (elemento subjetivo especial do tipo), depender da
conduta de um terceiro. Classifica-se assim o delito de extorsão
mediante sequestro.
 De tendência interna transcendente mutilado (atrofiado) de dois
atos: o agente pratica a conduta para um resultado posterior, que não é
necessário ser obtido para sua configuração. O resultado naturalístico,
não exigido para a configuração do delito, depende da vontade do
agente, por meio de uma ação posterior. Pode-se apontar o exemplo
da moeda falsa, já que o tipo não exige que seja colocada no mercado
para que o agente efetivamente se beneficie[12].

Crimes de tendência, também chamados de delitos de interna peculiar ou


intensificada: o delito possui um elemento subjetivo que é inerente a um
elemento típico ou determina a classe do crime, segundo Roxin[13]. De forma
mais simples, a doutrina os conceitua como aqueles cuja intenção do agente
determina se o fato é típico ou atípico. É o caso da injúria, em que se exige a
intenção e, mais ainda, o animus injuriandi, ou seja, que a intenção seja de
ofender. O crime não se configura se a ideia foi fazer uma piada, por exemplo,
ou uma crítica literária. Roxin exemplifica com os crimes sexuais. Podemos
pensar: o que diferencia uma consulta séria de um ginecologista ou um
urologista e um crime contra a dignidade sexual pode ser a intenção do agente
ao tocar o paciente.

Crimes de expressão: são os crimes cuja conduta expressam um processo


interno ocorrido na mente do autor. O agente recebe uma informação e a
interpreta, processa, praticando então a conduta típica. Roxin usa o exemplo
do falso testemunho, em que o agente tem ciência de determinados fatos e,
então, depõe de forma diversa. O crime não está na contradição entre o que o
agente disse e a realidade (concepção objetiva), pois o agente pode ter
percebido a realidade de forma diversa, mas entre a sua convicção íntima e
sua manifestação ou entre o seu conhecimento dos fato e sua atitude de calar-
se (concepção subjetiva).

 Quanto ao tratamento diferenciado da tentativa:

Há alguns crimes que possuem um tratamento diferenciado quanto à


tentativa e consumação:

Crimes que só admitem a forma tentada: são os de lesa-pátria. É o caso do


crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito está previsto no
artigo 359-L do Código:

Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à


violência.

O próprio núcleo do tipo é “tentar abolir”, de modo que só a conduta tentada é


punida.
Crimes de atentado ou de empreendimento: é aquele em que o legislador
equipara a forma tentada à forma consumada do delito, prevendo a mesma
pena para ambas as modalidades. É exemplo o artigo 352 do CP, bem como o
do artigo 309 do Código Eleitoral:

Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:

Pena – reclusão até três anos.

 Quanto ao Núcleo do Tipo:

É possível, ainda, classificar o delito quanto ao número de núcleos do tipo e


a necessidade ou não se sua realização cumulativa para a sua
configuração:

Crime de ação simples: é o crime que possui apenas um núcleo do tipo,


consistente no verbo principal que descreve a conduta típica. É o caso do
homicídio:

Art. 121. Matar alguém:

Pena – reclusão, de seis a vinte anos.

Crime de ação múltipla, de ação plurinuclear, de conteúdo variado ou tipo


misto[14]: é o crime que possui mais de um núcleo do tipo, podendo ser dividido
em alternativo ou cumulativo:

 Crime de tipo misto alternativo: é o crime que possui mais de um


núcleo do tipo, sendo que a prática de apenas um deles é suficiente
para a sua consumação e a prática de mais de um deles, no mesmo
contexto, configura crime único. É o caso do artigo 33, caput, da Lei
11.343/06:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:

Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500


(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

 Crime de tipo misto cumulativo: é o crime que possui mais de um


núcleo do tipo, sendo que as condutas não são fungíveis entre si. Estão
no mesmo tipo penal por opção do legislador, mas poderiam estar em
tipos penais diversos. A prática de cada um deles configura um delito
diverso. É o caso do crime do artigo 242 do CP. Também se exemplifica
com o atentado contra a liberdade de trabalho e boicotagem violenta,
previsto no artigo 198 do CP:

Art. 198 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a


celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de
outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:

Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente


à violência.

 Quanto à pena prevista

Em razão de benefícios previstos em lei para determinadas faixas de pena


previstas para os delitos, há a seguinte classificação:

Infrações penais de menor potencial ofensivo: é a infração penal de


competência dos Juizados Especiais Estaduais e Federais (salvo regras de
conexão), com pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com
multa. Para tais delitos, são cabíveis a transação penal e a suspensão
condicional do processo.

Infrações penais de médio potencial ofensivo: é a infração penal com pena


máxima superior a 2 anos, mas cuja pena mínima seja igual ou inferior a um
ano. Para tais delitos, é cabível a suspensão condicional do processo, razão
pela qual a doutrina criou referida classificação.

Infrações penais de maior potencial ofensivo: é a infração penal com pena


máxima superior a 2 anos e pena mínima superior a um ano. Em outras
palavras, são os crimes para os quais não são cabíveis a transação penal nem
a suspensão condicional do processo.

 Quanto à relação entre comportamento típico e efetiva lesão ao


bem jurídico: delitos de posse e de pertencimento

Há uma classificação acadêmica que se refere a uma estrutura peculiar do tipo


penal, especialmente em se considerando a distância das condutas tipificadas
em relação à efetiva lesão do bem jurídico tutelado. Mencionam-se, nesse
contexto, os delitos de posse e os delitos de pertencimento ou de status.
Seriam, em última análise, crimes de crime abstrato, com algumas
especificidades[15].

Delitos de status ou de pertencimento: são as infrações penais por meio das


quais se pune um status do agente, como pertencer a uma associação
criminosa, uma milícia privada, a uma organização criminosa ou a uma
organização terrorista. Não haveria uma descrição de conduta no tipo, bastaria
esse pertencimento. O fundamento da punição seria uma disposição
inequívoca de praticar infrações penais.

Delitos de posse: crimes cujos tipos preveem condutas de exercício de


domínio real e efetivo de um objeto pelo sujeito ativo, ou seja, basta que tenha
esse poder efetivo sobre o objeto para se justificar a punição. O que se critica é
que seria um adiantamento da lesão, pois bastaria o domínio do objeto pelo
agente para que sua conduta seja típica, possibilitando a sua punição, caso
presentes os demais elementos do delito.

Esses crimes poderiam ser agrupados nos seguintes casos:

 Crimes que descrevem como típica uma posse que é perigosa por
si só, mas cuja lesão ao bem jurídico exige outra conduta do
agente: pode ser o enquadramento da posse ilegal de armas, desde
que o haja crianças em casa e elas possam ter acesso aos objetos.
Também seria o caso de manter substâncias radioativas de forma
insegura, bastando que alguém, de forma descuidada, tenha contato
com o material para um resultado lesivo, a exemplo do triste desastre
com Césio-137 em Goiânia.

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