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CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRIME

1 – QUANTO AO TIPO DE AGENTE – SUJEITO ATIVO

a) Crimes gerais ou comuns – São aqueles cuja norma típica abre com o termo
“Quem”, o que significa que sobre o qual não se exige qualquer qualidade no
agente.

São aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa, qualquer pessoa pode
ser agente ou autor do crime tipificado.

Ex: art.º 131.º (homicídio), 135.º (incitamento á ajuda ao suicídio, etc.

b) Crimes específicos – São os crimes que só podem ser cometidos pelo agente
que revista uma certa qualidade, nomeadamente qualquer dever jurídico ou
qualquer situação juridicamente definida. Em geral, trata-se de um agente que
está subordinado a certos deveres funcionais.
São aqueles que pressupõem como autores dos crimes apenas as pessoas que
têm uma qualidade exigida pelo próprio tipo.

EX: art.º 386.º - Conceito de funcionário

Os crimes específicos dividem-se em:

a) Crimes específicos em sentido próprio – Quando o crime só pode ter lugar em


razão da qualidade que o agente preencha. A própria ilicitude do facto depende
da verificação dessa qualidade do agente.
É um crime que só pode ser praticado por aquelas pessoas e mais nenhumas.
Não existe responsabilidade jurídico-penal paralela para quem não tenha essas
qualidades pressupostas pelo tipo na pessoa do seu agente.
EX: Art.º 370.º - Prevaricação de advogado ou solicitador. O crime só existe,
porque quem o pratica é advogado ou solicitador.
Art.º 369.º Denegação de justiça. Também aqui se exige a qualidade de
funcionário na pessoa do agente. Este crime não é um crime comum agravado
pela qualidade do agente. É um crime que só existe porque é praticado por
quem tem esta qualidade, não pode ser praticado por quem não tem esta
qualidade.
b) O crime específico em sentido impróprio – Neste crime a ilicitude não
depende da qualidade do agente, mas apenas o grau da ilicitude depende da
qualidade do agente.
Ex: o art.º 375 – Crime de peculato.
são aqueles que exigindo embora essas qualidades específicas do agente, têm
paralelo para o comum das pessoas em termos de responsabilização jurídico-
penal.
Qualquer pessoa pode praticar um furto, não sendo praticado apenas por um
funcionário, contudo, se o agente tiver a qualidade de funcionário e praticar um
furto, não pratica um crime de furto, mas sim de peculato.

É um crime comum, transformado em crime específico porque quem o pratica não


é uma pessoa comum, mas sim um funcionário.

2 – SEGUNDO A RELAÇÃO CAUSAL ENTRE A CONDUTA (O


COMPORTAMENTO) E UM CERTO EVENTO

a) Crimes materiais ou de resultado - são aqueles que segundo o tipo da lei,


pressupõem a verificação de um certo resultado para se poder dizer que se
consumou esse crime.
Ou seja, são aqueles em que para o preenchimento do tipo descrito na lei se
exige a ocorrência de determinada consequência material da conduta assumida
(v.g. o homicídio, em que não basta dar o tiro ou golpe de navalhada, sendo
ainda necessário que a morte ocorra);
Ex: art.º 131.º - Tem que haver o resultado “morte”

Os crimes de resultado ou materiais

são aqueles que exigem necessariamente um resultado. Este conceito opõe-se assim ao
conceito de crime formal analisado anteriormente. O crime material é aquele cuja
descrição legal se refere ao resultado e exige que o mesmo se produza para a
consumação do delito. Exemplo: Aborto (Art. 140.º CP). Pela leitura deste preceito
resulta claro que para o crime de aborto ser consumado é necessário que a mulher
efetivamente aborte.
Assim, é indispensável para a consumação do crime material a ocorrência do
resultado prevista na lei penal. Deste modo é compreensível que este tipo de crimes
inclua também as omissões impuras (art. 10.º CP) uma vez que estas pressupõem a
concretização de determinado resultado.

b) Crimes formais ou de mera atividade – Aqui o crime não tem um resultado.


Consuma-se com o simples comportamento, independentemente da verificação
de um resultado.
São aqueles em que a consumação ocorre com a simples ação ou omissão, não
se descrevendo no respetivo tipo qualquer resultado material dessa ação ou
omissão.

Os crimes formais ou de mera atividade

São aqueles em que a mera conduta típica consuma imediatamente o crime; Crime
formal é deste modo aquele que se considera consumado independente do resultado
naturalístico, isto é, não exige para a consumação o resultado pretendido pelo agente
ou autor.

No crime formal o tipo (descrição do crime feita pela lei penal) menciona o
comportamento e o resultado, mas não exige a produção deste último para a sua
consumação.

Os crimes formais são pois aqueles em relação aos quais a lei descreve uma ação e um
resultado, mas a redação do dispositivo legal deixa claro que o crime consuma-se no
momento da ação, sendo o resultado mero exaurimento do delito.

Exemplo: O art.º 223.º do CP descreve o crime de extorsão: constranger outra pessoa


por meio de violência ou de ameaça de mal importante (ação) com o fim de obter
enriquecimento ilícito (resultado). O crime por ser formal, consuma-se no exato
momento em que a vítima é constrangida com o fim. A obtenção do enriquecimento é
irrelevante para a consumação do crime. Outro exemplo é o crime de rapto previsto no
art.º 161.º do CP.

(ex. violação de domicílio – art. 190.º - Quando o agente se introduz na habitação de


outrem sem o seu consentimento, já está a consumar o tipo legal de crime. A própria
conduta do agente consome o tipo legal.

3 – SEGUNDO A RELAÇÃO ENTRE O PRÓPRIO COMPORTAMENTO E O BEM


JURÍDICO QUE É PROTEGIDO PELA NORMA TÍPICA.

a) Crimes de lesão ou crime de dano - são aqueles em que se verifica a efetiva


lesão do respetivo objeto jurídico, ou seja, do interesse penalmente protegido,
traduzida na destruição ou diminuição desse bem.
Exige-se um dano ou uma lesão efetiva no bem jurídico tutelado pela norma.
Ex. Art.º 131.º - homicídio - Uma vez ocorrido a morte, há uma lesão do bem
jurídico vida, art.º 203 - furto, etc)
b) Crime de perigo são os crimes em que apenas se verifica o risco (o perigo) de
produção dessa lesão. Há aqui como que uma antecipação jurídica de bens para
momentos anteriores à sua efetiva lesão, em que o legislador acautela, punindo,
não a agressão a esses bens, mas, mais cedo ainda, o risco que certas condutas
podem acarretar para tal agressão. Por perigo, como refere o Prof. CAVALEIRO
DE FERREIRA, entende-se a capacidade ou a “potência de um fenómeno para
ocasionar a perda ou a diminuição de um bem, o sacrifício ou restrição de um interesse ”,
sendo, portanto, “o dano provável”.
Ou seja, a descrição típica não exige a lesão efetiva dos bens jurídicos tutelados
pela incriminação, mas tão só a sua colocação em perigo, ou seja, a ameaça de
lesão desses bens tutelados.
Há que distinguir entre:

c) Crime de perigo abstrato ou presumido - são os que têm como resultado de


conduta a possibilidade de um perigo de lesão de um bem jurídico (e não de
um dano efetivo), mas em que o perigo não carece de ser demonstrado ou
provado, já que é presumido por lei (ex. omissão de auxílio – art. 200.º) OBS:
Segundo o Prof. CAVALEIRO DE FERREIRA “o perigo abstrato não é elemento do
crime, é mero motivo de incriminação e verifica-se, por exemplo, nas contravenções”,
em que não é necessário que sejam “causa de perigo real”, visto que são puníveis
por serem contrárias “a normas que pretendem prevenir perigos, mesmo que não
tenha lugar a criação efetiva do perigo”;

 Quando esse perigo é presumido pela lei. Considera-se preenchido o tipo de


crime independentemente da existência de efetivo perigo. Apenas porque o
agente adotou certo comportamento que é presumivelmente perigoso. Art.º
272.º - Incêndio. O simples facto de colocar fogo, pressupõe um perigo efetivo,
sendo esse perigo presumido pela lei. O simples facto de ter certo
comportamento leva a lei a resumir que existe perigo.

d) Crimes de perigo concreto - São aqueles em que no caso concreto existe uma
situação de perigo real provocada pela ação do agente e não apenas um risco
meramente abstrato de que o perigo se concretize;
A lei exige expressamente a verificação do perigo
Ex. art.º 138 – O crime de exposição ou abandono

e) Crimes de omissão imprópria ou comissivos - por omissão são crimes de


resultado que apenas podem ser cometidos por determinadas pessoas, a que se
chamam garantes, e que por força da lei têm não só a obrigação de impedir o
resultado como o de vigilância em relação a alguém (ex. o caso da mãe que
deixa de alimentar o filho, causando-lhe assim a morte).

f) Crimes próprios de omissão ou omissivos próprios - são os crimes de mera


atividade ou conduta em que a lei pune a simples omissão, independentemente
da ocorrência de qualquer resultado material (ex. o crime de omissão de auxílio
– art. 200.º);

g) Crimes próprios ou de mão própria - São todos aqueles em que o tipo exige
a execução corporal do crime pela própria pessoa do agente e não se
transmitem as qualidades exigidas no tipo (ver art. 28.º - ilicitude na
comparticipação), Ex: o incesto – art. 164.º, n.º 2, (violação) e 177.º, n.º 1, a –
agravação pelo resultado do crime sexuais); o perjúrio – Falsas declarações –
art. 359.º, etc... As qualidades do agente podem ser:

 qualidades profissionais – o funcionário, médico, comerciante, advogado,


solicitador, perito, técnico, etc;

 qualidades que resultam da prática de atos que vinculam a deveres especiais –


testemunha, declarante, etc;

 qualidades derivadas da prática de crimes – habitualidade, profissionalismo,


etc;

 relações familiares – ascendente, descendente, cônjuge, etc....;

 relações de trabalho, de dependência hierárquica, de guarda, educação ou


proteção;

 relações com certas pessoas que fundamentam um dever jurídico de


pessoalmente evitar resultados danosos contidos em tipos legais de crimes.

 Os crimes cometidos por meio de ação são os chamados crimes comissivos.


 Omissão será a abstenção de atuar, isto é, o não fazer. Com a omissão viola-se a
norma jurídica, não fazendo o que a lei manda. Os crimes cometidos por
omissão, são os chamados crimes omissivos.
 Antes de passarmos para a distinção entre crimes formais ou de mera atividade
e os crimes de resultado ou materiais importa perdermos algum tempo com o
conceito de omissões. Podemos classificar ou distinguir as omissões em
omissões puras e omissões impuras, também designadas por alguns autores de
omissões próprias e omissões impróprias, respetivamente.
 Dentro das omissões puras, tem-se a responsabilidade jurídico-penal do agente,
não porque ele tenha atuado, mas precisamente porque omitiu uma conduta
que lhe era exigível por lei.
 Nos casos de omissões puras o agente incorre em responsabilidade jurídico-
penal por ter violado uma norma preceptiva, uma norma que impõe a adoção
de uma determinada conduta que é omitida. Exemplo: Art. 200.º CP. (omissão de
auxílio)
 No âmbito das omissões impuras tem-se uma situação diferente. Aqui o agente
é responsabilizado por um determinado resultado que tem lugar não por sua
ação, não porque ele tenha diretamente adotado uma conduta típica descrita na
lei, mas precisamente porque dá origem a um resultado por uma inatividade
sua, violando desta forma uma norma ou um preceito de natureza proibitiva.
 Na omissão imprópria (impuras) o agente é responsabilizado por um crime,
porque sobre ele pendia um dever jurídico que pessoalmente o obrigava a evitar
a produção do resultado. É este dever jurídico que pende sobre o agente que
pessoalmente o obriga a evitar a produção do resultado lesivo, ou típico,
podendo resultar principalmente de três fontes:
 -         Diretamente da lei;
 -         Indiretamente da lei ou do contrato;
 -         De situações de ingerência (intervenção).
 Nas omissões impuras o agente dá origem a um determinado resultado através
da sua passividade; existe, portanto, a violação de uma norma proibitiva
mediante um comportamento omissivo.
 A base legal da construção das omissões impuras encontra-se no art. 10.º do CP,
que equipara a ação à omissão, dai fazer sentido falar-se em homicídio por
omissão, não obstante o art.º 131.º do CP estar consagrada normalmente para
crimes comissivos.
 Exemplo:
 O bombeiro tem o dever de agir, respondendo pelo resultado se não atuar; uma
mãe tem o dever de cuidar da filha; caso presencie o companheiro a abusar
sexualmente da mesma e nada fizer, responde pelo resultado praticado pelo
companheiro, uma vez que tem o dever de proteção.
 Portanto, pode afirmar-se que:
 - Os crimes de omissão pura são os que consistem diretamente, pelo próprio
tipo legal, na violação de um comando; são os denominados “crimes de mera
omissão”, ou seja, são aqueles que pressupõem uma conduta negativa, o “non facere”.
 - Os crimes de omissão impura não consistem na violação direta de um
comando legal, mas sim no levar a cabo, por remissão, a um resultado previsto
num tipo que está desenhado em termos de ação. são aqueles em que há uma
violação de um dever legal de atuar, isto é, o agente não atua de acordo com a
exigência legal de determinada conduta.

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