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Respostas perguntas teóricas do 2º semestre de Direito Penal

 Caracterize os conceitos de crime de perigo, crime de dano, crime formal, e crime material.

O tipo-objetivo faz a descrição externo objetiva da situação ilícita e o legislador descreve a situação objetiva através
de 3 elementos: o agente, a conduta e o bem jurídico.
Os crimes formais e materiais têm em conta a conduta do agente, nos crimes formais, vasta a conduta para haver
crime consumado (na invasão do domicílio o crime consuma-se se alguém entrar sem autorização na casa de outra
pessoa). Nos crimes materiais, a consumação depende da verificação de um resultado que é autónomo, apesar de
ser uma consequência da conduta (para termos um homicídio não basta a conduta homicida, é necessária a morte
efetiva da pessoa).
Os crimes de perigo e de dano têm em conta o bem jurídico. Nos crimes de perigo o legislador não exige a efetiva
lesão do bem jurídico para a consumação do crime, basta que o agente o coloque em perigo, dada a importância do
bem jurídico em causa, antecipando a tutela penal, que não pune só a lesão do bem (por exemplo, a condução sob
efeito de álcool é crime, a partir de 1,2 g/l de álcool no sangue, mesmo que não se verifique um acidente). Os crimes
de dano, que correspondem à maioria dos crimes, são aqueles em que, para se considerarem consumados, exige-se
que haja a lesão do bem jurídico (por exemplo, para haver um homicídio é necessário a morte. Podem ser crimes de
perigo abstrato ou concreto, havendo ainda quem considere categorias intermédias, como o crime abstrato-
concreto

 Distinga entre inimputabilidade e inexigibilidade

A imputabilidade é o conjunto de características pessoais que o agente deve ter para que, sobre ele, possa incidir a
censura penal. A inimputabilidade (arts. 19º e 20º), manifesta-se nas diferenças endógenas do concreto agente,
sendo que o legislador adotou o paradigma normativo. Por força de qualidades pessoais do agente, sobre ele não
pode recair um juízo de censura (incapacidade de culpa). Pode resultar da idade ou de anomalia psíquica.
Por outro lado, a inexigibilidade respeita aos fatores exógenos do agente, constituindo uma causa de exclusão de
ilicitude. Há situações excecionais em que o Direito Penal não pode exigir que o agente se abstenha de praticar atos
ilícitos, ou de lesionar ou colocar em perigo determinados bens jurídicos. Pode-se manifestar, nomeadamente,
através da legítima defesa, do estado de necessidade, do conflito de deveres ou do erro sobre a ilicitude ou sobre as
proibições.

 Distinga entre omissão “pura” e omissão “impura”

A omissão pura/própria é a que está descrita expressamente na lei (na descrição do tipo legal de crime, descreve-se
uma omissão). A previsão especial refere expressamente a omissão como uma forma de integração tópica,
descrevendo os pressupostos fácticos de onde deriva o dever jurídico de atuar ou referindo aquele dever e tornando
o agente garante do seu cumprimento. Não trazem problemas de certeza e segurança (art. 200º CP, por exemplo).
São aqueles cujo tipo objetivo de ilícito se esgota na não realização da ação imposta pela lei.
A omissão impura/imprópria é aquela em que a descrição típica (o elemento gramatical) apenas alude a uma
conduta por ação, e, por isso não estão descritas na lei como crime. No entanto a sua tipicidade resulta da cláusula
geral de equiparação da omissão à ação, legalmente prevista e punível na parte geral (art. 10º). Entende-se que, em
alguns casos, a omissão tem um desvalor análogo ao desvalor da ação, devendo-se interpretar estas normas no
sentido de abrangerem os comportamentos ativo e omissivo (por exemplo, art. 131º). São aqueles em que o agente
assume a posição de garante da não produção de um resultado típico. O legislador não descreve expressamente a
omissão, mas esta está prevista na lei, se assim não fosse estaríamos perante uma violação do princípio da
legalidade, o que não se verifica, porque no art. 10´se definem critérios e requisitos dessa equiparação, essenciais
para a certeza e segurança jurídicas.

 Diga o que entende por negligência na aceitação ou assunção

A negligência na aceitação/assunção consiste na assunção de tarefas/aceitação de responsabilidades para as quais o


agente não está preparado, porque não tem as condições pessoais, os conhecimentos ou treino necessários ao
correto desempenho de uma determinada atividade com uma natureza perigosa. O agente, no momento da
verificação do facto, não tinha culpa, não podendo ser punido, porque a culpa pressupõe a possibilidade de agir
diferentemente. Porém, será punido, porque de acordo com o dever objetivo de cuidado, as pessoas não devem
adotar condutas para as quais não estejam habilitadas. Logo, o momento da punição retroage ao momento em que
inicia a conduta, em que já há desvalor da ação, dado que já está a violar o dever objetivo de cuidado, sendo que o
resultado mais não é do que a concretização do desvalor da ação.
Esta negligência deve ser reportada ao momento em que o agente assumiu/aceitou o desempenho, sabendo, ou
sendo-lhe cognoscível, que para tanto lhe faltavam os pressupostos anímicos e/ou corporais necessários. É uma
concretização das ideias gerais do dever objetivo de cuidado, mantendo-se o fundamento material da negligência,
que é a violação do dever objetivo de cuidado.

 Diga o que entende por actio libera in causa e distinga-a da hipótese do art. 295º

O art. 20º, nº4 do CP prevê a actio libera in causa: o agente coloca-se culposamente na situação de inimputabilidade,
e por isso se diz que a ação é livre na causa. Por exemplo, quando alguém consome estupefacientes, ou ingere
bebidas alcoólicas de forma a criar artificialmente uma condição de inimputabilidade durante a prática do crime.
Sendo assim, temos uma situação de preordenação: para usufruir da causa de exclusão de culpa e não ser punido, o
agente coloca-se culposamente numa situação de inimputabilidade.
A verdade é que quando praticou o crime não estava livre, mas foi livre na causa da inimputabilidade, pelo que a
inimputabilidade não releva, e será punido como se fosse plenamente imputável no momento da prática do crime.
Este regime é distinto do que acontece no art. 295º do CP, devido ao elemento da preordenação. Nos casos
previstos neste artigo, o agente colocou-as na situação de inimputabilidade negligente ou dolosamente, mas sem
preordenação. Este é um crime de perigo, o que se pune é o próprio estado de embriaguez ou intoxicação, dado que
estas substâncias podem limitar ou eliminar certas inibições, o que leva a pessoa a cometer crimes. Só se vai punir o
perigo quando se concretiza num crime (condição objetiva da punibilidade).
Sendo assim, o crime do art. 295º é um crime autónomo (o agente vai ser punido pela embriaguez e pela
intoxicação), enquanto que no crime do art. 20º, nº4, o agente vai antes ser punido pelo crime que praticou como se
o tivesse feito em estado de imputabilidade), sendo mais censurável, uma vez que foi preordenado.

 Qual o significado do princípio da confiança no âmbito da negligência?

O princípio da confiança traduz-se na ideia de que as pessoas, no quotidiano, têm de prever as consequências dos
seus atos, de modo a absterem-se daqueles que possam levar à colocação em perigo ou lesão de bens jurídicos,
devem, portanto, atuar de acordo conforme ao dever objetivo de cuidado. No entanto, nessa previsão devem
também partir do pressuposto de que os outros membros da comunidade atuam de acordo com o dever objetivo de
cuidado, não sendo imposto às pessoas a obrigação de prever ou evitar comportamentos dolosos/negligentes dos
outros.
Constitui um dos elementos da delimitação do dever objetivo de cuidado, sendo este o fundamento material do
ilícito negligente.
Existem, contudo, duas exceções ao princípio da confiança: por um lado, quando, atendendo às circunstâncias do
caso concreto, for evidente que as outras pessoas vão atuar contra o Direito, praticando comportamentos
negligentes/dolosos (por exemplo, quando alguém leva menores ou inimputáveis para um museu com peças de
valor incalculável); por outro lado, nos serviços estruturados e hierarquizados, com funções de controlo e
fiscalização sobre os estagiários, por exemplo. Ainda assim, o resultado só se imputa quando for o desvalor da ação
inerente à conduta.

 Distinga entre omissão pura e impura, reportando-se ao regime do chamado dever de garante no direito
português

A omissão pura/própria é a que está descrita expressamente na lei (na descrição do tipo legal de crime, descreve-se
uma omissão). A previsão especial refere expressamente a omissão como uma forma de integração tópica,
descrevendo os pressupostos fácticos de onde deriva o dever jurídico de atuar ou referindo aquele dever e tornando
o agente garante do seu cumprimento. Não trazem problemas de certeza e segurança (art. 200º CP, por exemplo).
São aqueles cujo tipo objetivo de ilícito se esgota na não realização da ação imposta pela lei.
A omissão impura/imprópria é aquela em que a descrição típica (o elemento gramatical) apenas alude a uma
conduta por ação, e, por isso não estão descritas na lei como crime. No entanto a sua tipicidade resulta da cláusula
geral de equiparação da omissão à ação, legalmente prevista e punível na parte geral (art. 10º). São aqueles em que
o agente assume a posição de garante da não produção de um resultado típico. O legislador não descreve
expressamente a omissão, mas esta está prevista na lei, se assim não fosse estaríamos perante uma violação do
princípio da legalidade, o que não se verifica, porque no art. 10º se definem critérios e requisitos dessa equiparação,
essenciais para a certeza e segurança jurídicas. O problema do dever de garante só se coloca nas omissões impuras.
No que diz respeito aos requisitos previstos no art. 10º, comecemos pelo nº1: este vem exigir que, para poder haver
a equiparação entre a omissão e a ação, o crime seja de resultado, e resultado aqui não se prende com o resultado
naturalístico da ação, mas antes com um resultado material, com o bem jurídico. Sendo assim, restringe-se a punição
da omissão impura aos crimes de dano, dela se excluindo todos os crimes de perigo, embora a doutrina tenha
considerado que faz sentido estender-se esta expressão aos crimes de perigo concreto.
Para além disso, o agente tem de estar em condições de atuar, numa posição fáctica que lhe permita intervir de
modo adequado, adotando uma conduta idónea a salvar um bem jurídico, e impõe-se ainda a justificação da
incriminação da omissão, uma vez que, tendo em consideração o caráter subsidiário do Direito penal, e a sua
intervenção em ultima ratio, deve-se exigir apenas o mínimo para a convivência comunitária.
O nº2 estabelece a necessidade de o concreto agente estar investido do particular dever jurídico que obriga a agir,
dever esse denominado de dever de garante. De acordo com a Teoria das Funções de Kaufmann, as omissões
impuras poder-se-iam dividir em dois grupos: por um lado o dever de proteger bens jurídicos em perigo (bens
jurídicos carecidos de amparo contra perigos que venham de fora, que fundamentam a proteção de um bem jurídico
em perigo carecido de tutela) e o dever de controlar fontes de perigo (lícitas, mas que têm de ser controladas de
modo a evitar a lesão de bens jurídicos alheios), tais como situações de ingerência, de senhorio ou domínio, de
controlar atividades de terceiros e ainda de monopólio.
(COMPLETA COM AS DEFINIÇÕES DOS APONTAMENTOS).

 Distinga entre “erro sobre as proibições” e “erro sobre a ilicitude”

O erro sobre as proibições (previsto no art. 16º, nº1, 2ª parte), diz respeito a ilícitos que contendem com aspetos
técnicos/especializados, que escapam ao conhecimento do homem comum, ou que estão sempre em mutação e por
isso não são passíveis de interiorização através dos processos vulgares de socialização. Quanto muito pode-se
censurar o facto de não se ter informado devidamente, o que exprimirá apenas leviandade e negligência. Este está
subordinado ao regime geral do erro sobre as circunstâncias de facto, excluindo-se o dolo, podendo o agente apenas
ser punido a título de negligência caso se verifiquem os requisitos materiais e formais (art. 13º) para a sua punição.
Pode-se qualificar este como um erro intelectual.
Diferentemente, o erro sobre a ilicitude contende com os valores ilícitos integrados na comunidade, sendo o agente
unido a título de dolo, nos termos do art. 17º. A ignorância de normas que estão estabilizadas revela a indiferença
perante os valores jurídico-criminais. Pode-se qualificar como um erro de valoração
Em ambos os casos há a prática de um ilícito, a diferença prende-se aqui com os valores em causa.

 Negligência consciente e inconsciente

Em ambos os casos, fundamento material da negligência reside na violação do dever objetivo de cuidado.
Na negligência consciente (prevista no art. 15º, alínea a)), o agente representa o caráter perigoso do ato, só que, por
descuido e leviandade, não pondera corretamente e acredita que, embora seja possível verificar-se aquele perigo,
tudo correrá bem, acredita que o resultado não chegará a produzir-se.
Por sua vez, na negligência inconsciente, prevista no art. 15º, alínea b), o agente não representa sequer o caráter
perigoso do ato, por leviandade ou descuido, não pondera o circunstancialismo em que atua e, ao contrário do
homem médio, não se abstém da conduta, pois não tem consciência da perigosidade do ato. Em ambas as espécies
de negligência há uma violação do dever objetivo de cuidado, mas por força diversa.
Posto isto, esta diferença não implica qualquer graduação ou hierarquização geral, no sentido de se dizer que uma é
SEMPRE mais grave do que a outra. Irá depender do caso, por isso, não se deve fazer qualquer tipo de graduação
geral, devendo o grau de censurabilidade ser determinado no caso concreto. Para além disso, é importante referir,
que a punição da negligência é excecional nos termos do art. 13º.

 Distinga crimes comuns e crimes específicos

O tipo-objetivo (tipos de tipicidade de Eduardo Correia) descreve a situação ilícita de forma externo-objetiva,
prevendo três elementos que descrevem a situação objetiva: o agente, a conduta e o bem jurídico.
Quanto ao agente, isto é, quem pratica o crime, por via de regra, os crimes podem ser praticados por qualquer
pessoa, são os chamados crimes comuns.
No entanto, existem certos crimes em que o legislador restringe a sua prática a determinada categoria de pessoas,
falando-se aqui dos crimes específicos ou especiais. Nestes casos, só uma certa categoria de pessoa pode praticar o
crime, seja, por exemplo, em virtude de uma relação profissional ou de uma relação familiar. Nesta categoria podem
haver delitos específicos puros/próprios, nos quais a qualidade do agente é o fundamento da incriminação (por
exemplo, a corrupção praticada por funcionários públicos), ou ainda os delitos específicos impuros/impróprios em
que a qualidade do agente é apenas uma circunstância modificativa, agravante ou atenuante, ou seja, a conduta
preenche um crime comum, mas será agravado ou atenuado por uma qualidade do agente (por exemplo, o
parricídio).

 Caracterize o regime da chamada tentativa inidónea ou impossível

Consiste em atos que, devido às circunstâncias fácticas, jamais poderão conduzir à consumação. O legislador previu-
a no art. 23º, nº3, sendo esta punida como tentativa sempre que essa inidoneidade não seja evidente à luz do
critério do homem médio. Os atos de execução abrangem uma idoneidade ex ante, em que cabem todos os casos
que representam uma tentativa possível ou não impossível, cabendo aqui todos os atos cuja inidoneidade não seja
manifesta.
Será manifesta a inidoneidade na tentativa supersticiosa ou irreal (por exemplo, o vodoo, ou envenenar com açúcar).
Nos casos de inaptidão do meio (como por exemplo, situações em que alguém é envenenado mais é imune, ou
alguém leva um tiro, mas tem um colete à prova de balas) ou do objeto essencial à consumação do crime (por
exemplo, matar um morto), já não estamos perante uma situação de inidoneidade manifesta, e, por isso, serão
puníveis. É punível, porque o agente pôs em marcha um comportamento que envolve um perigo próximo para bens
jurídicos e só por situações exteriores estranhas à sua vontade não o consumou.

 Distinga dolo eventual de negligência consciente:

A diferença entre estes baseia-se no elemento volitivo. O elemento intelectual é o mesmo, na medida em que em
ambos os casos o agente vê o crime como uma consequência secundária e apenas possível da conduta. A diferença
está no plano subjetivo, dado que é o elemento de conformação que distingue o dolo eventual da negligência
consciente, pois no dolo eventual o agente sabe que o resultado pode acontecer eventualmente e conforma-se com
isso. Esta distinção está expressamente prevista no art. 14º, nº3 do CP, que define dolo. O artigo 15º do CP, confirma
que o elemento intelectual da negligencia é o mesmo do dolo eventual. É no sentido desta não conformação que
reside a demarcação do critério decisivo da fronteira entre dolo eventual e negligencia consciente.

 Aluda aos elementos estruturantes do tipo objetivo e à contraposição entre crimes de ano e crimes de
perigo
O tipo objetivo descreve a situação ilícita de forma externo-objetiva, descrevendo a situação objetiva através de três
elementos: o agente (quem pratica o crime), a conduta (a ação humana e voluntária, penalmente relevante) e o bem
jurídico (objeto de proteção da norma de determinação). Quanto ao bem jurídico distinguem-se crimes de perigo de
crimes de dano.
No que diz respeito aos crimes de perigo, não se exige a efetiva lesão do bem jurídico para a consumação do crime,
basta que o agente o coloque em perigo, dada a sua importância, antecipando-se a tutela penal, que não pune só a
lesão do bem, mas também a sua colocação em perigo (por exemplo a condução sob o efeito do álcool).
Já nos crimes de dano, a sua consumação implica a efetiva lesão do bem jurídico (por exemplo, só há homicídio
quando alguém efetivamente mata outrem). Os crimes de perigo podem ser: crimes de perigo abstrato (perigo
presumido), em alguns setores da vida o legislador proíbe certas condutas pelos riscos que comportam,
considerando a conduta sempre perigosa independentemente de o bem jurídico concreto ter estado de facto em
perigo ou não; crimes de perigo concreto, nos quais se exige prova de que houve efetivamente perigo, e caso não se
prove aplica-se o princípio in dubio pro reo.
Há ainda alguns autores que consideram categorias intermédias, como o crime-abstrato concreto, para o qual se
admite prova em contrário.

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