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Existem dois tipos de teorias que pretendem dar resposta à questão dos fins das penas: Teorias
Absolutas/ético-retributivas e as Teorias Relativas/Preventivas. Dentro destas últimas, inserem-se
a prevenção geral e a prevenção especial: ambas defendem que a pena não é um fim em si
mesmo, é um meio, que se justifica á luz da defesa social. No entanto, segundo a doutrina da
prevenção especial a defesa social não deve operar sobre a generalidade, não como meio de
intimidar futuros criminosos, mas atuando sobre o concreto delinquente, ou seja, sobre aquele
que já praticou um crime e que mostra reincidência, avaliando a sua perigosidade. Desta forma, a
prevenção especial pode assumir três modalidades: intimidação individual, incapacitação e
prevenção especial positiva. Na intimidação individual aplica-se uma pena para que o criminoso
não volte a cometer um crime, procurando-se a dureza da pena e não apenas a sua aparência. Já a
incapacitação prevê sanções que procuram retirar ao criminoso, a possibilidade fática de voltar a
cometer crimes. Trata-se de uma restrição à liberdade pois procura restringir a esfera de ação do
criminoso. Por exemplo, a máxima incapacitação é a pena de morte, mas, num outro exemplo, no
caso da pedofilia, temos como sanção a impossibilidade de ser tutor. Estas duas vertentes
(intimidação individual e incapacitação) são duas vertentes que atuam sobre o delinquente por
fora, designando-se de prevenção especial negativa. Por outro lado, a prevenção especial positiva
relaciona-se com a vertente da reintegração social ou reinserção social. Nesta modalidade da
prevenção especial o que está em causa não é impor o medo ou limitações exteriores, mas
aproveitar a aplicação da pena, dando as condições para que no futuro, o criminoso possa viver em
liberdade sem a necessidade de cometer crimes, sendo certo que esta ressocialização tem de
passar pelo principio da voluntariedade.
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implica forçosamente culpa, mas a culpa não implica forçosamente pena.
Em suma, a reafirmação contrafáctica da norma leva a que se satisfaçam os fins das penas e, assim,
se logre uma resposta adequada ao problema da criminalidade, que culmina na consideração
unilateral do principio da culpa.
3. Refira-se aos traços fundamentais da teoria da prevenção geral negativa ou de
intimidação.
Existem dois tipos de teorias que pretendem dar resposta à questão dos fins das penas: Teorias
Absolutas/ético-retributivas e as Teorias Relativas/Preventivas. Dentro destas últimas, inserem-se
a prevenção geral e a prevenção especial: ambas defendem que a pena não é um fim em si
mesmo, é um meio, que se justifica á luz da defesa nacional. No entanto, a prevenção geral
negativa, pretende intimidar a coletividade, ao invés de atuar sobre o concreto delinquente
(prevenção especial), pois o crime constitui um mau exemplo que pode levar outros a praticar
crimes. Assim, a solução passaria por aplicar uma pena severa, em ordem a que potenciais
criminosos vissem a pena aplica e com o medo não praticassem o crime. O crime é pressuposto da
sanção, mas já não é medida, visto que a pena não pretende ser a justa paga, pretende defender a
comunidade, logo, a medida da sanção ser-nos-á dada pela necessidade de prevenção geral.
Feurbach elaborou a Teoria da Coação Psicológica, entendendo que o Homem age por
sentimentos de dor e prazer, assim, se se quer afastar o Homem da prática do crime tem de se
aplicar uma pena que provoque um desprazer maior. Assim, admite-se que em determinadas
conjunturas sociais, se aplique sanções que vão além do que seria proporcional relativamente ao
crime, com o intuito de defender a sociedade. Vislumbra-se uma instrumentalização do
condenado, porque serve de ferramenta de intimidação geral.
A teoria da prevenção geral de intimidação pode conduzir a um “Direito Penal do Terror”,
demasiado severo, em que a crimes poucos graves se podem aplicar sanções demasiado pesadas,
transformando o delinquente num mero instrumento da necessidade de prevenção, pondo em
causa a dignidade humana. Pode ainda conduzir a efeitos contraditórios, podendo criar
movimentos de solidariedade para com o criminoso contra brutalidade da sanção. Parte do
pressuposto que o efeito da prevenção geral se vai buscar à dureza da sanção, mas tal não é
verdade, tem de ser complementado com a eficácia das instâncias formais de controlo. Há o
fenómeno da habituação social, ou seja, no curto prazo, o aumento das penas pode levar à sua
prevenção, reduzindo-se a prática de crimes, mas no médio-longo prazo volta à situação original,
porque se deu a habituação daquela pena. Assim, acaba por ter um efeito perverso, porque uma
sociedade que se habitua à violência, mesmo do Estado, é mais criminológica. Por fim, a prevenção
geral deixa de fora os delinquentes que são mais perigosos, porque os imputáveis com
tendência/habito/delinquentes especialmente perigosos não se deixam intimidar como o homem
comum, precisam de medidas mais enérgicas.
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A prevenção geral negativa, pretende intimidar a coletividade, ao invés de atuar sobre o concreto
delinquente (prevenção especial), pois o crime constitui um mau exemplo que pode levar outros a
praticar crimes. Assim, a solução passaria por aplicar uma pena severa, em ordem a que potenciais
criminosos vissem a pena aplica e com o medo não praticassem o crime. O crime é pressuposto da
sanção, mas já não é medida, visto que a pena não pretende ser a justa paga, pretende defender a
comunidade, logo, a medida da sanção ser-nos-á dada pela necessidade de prevenção geral.
Já a doutrina da prevenção geral positiva parte da ideia de atribuir à pena um efeito sobre a
generalidade da comunidade, mas por oposição à prevenção negativa, o objetivo primeiro é a
reafirmação contrafática da norma para restaurar a confiança da sociedade no Direito. Logo, a
sanção tem de ser conforme ao Direito e, por isso, tem de ser justa. Assim, a pena nunca pode
ultrapassar a medida da proporcionalidade da culpa, servindo de limite ao sancionamento. Desta
forma, não há pena sem culpa e a pena não pode ultrapassar a gravidade da culpa, mas pode
haver culpa sem pena, nos termos do artigo 74º (instituto da dispensa de pena). Portanto, a culpa
é o limite, mas não é o fundamento, devendo haver uma relação unilateral, em que a pena implica
forçosamente culpa, mas a culpa não implica forçosamente pena.
5. Relacione a teoria «ético-retributiva» dos fins das penas com a concepção «bilateral» do
princípio da culpa.
Existem dois tipos de teorias que pretendem dar resposta à questão dos fins das penas: Teorias
Absolutas/ético-retributivas e as Teorias Relativas/Preventivas. Dentro destas últimas, inserem-se
a prevenção geral e a prevenção especial.
No âmbito da teoria ético-retributiva, a pena é um fim em si mesmo, que surge como um
imperativo de justiça. Assim, a sanção é a justa paga pelo ato danoso para a sociedade, é uma
retribuição e não uma forma de defesa social, portanto, não se pretende prevenir crimes futuros,
mas reprovar os que já foram cometidos. Efetivamente, o crime é pressuposto e medida da
sanção, portanto, deve existir uma proporcionalidade axiológica entre o crime e o sofrimento que
a pena deve refletir. A gravidade do crime é determinada pelos conteúdos de ilícito (desvalor
objetivo da conduta) e de culpa (valor subjetivo do ato). Deste modo, a pena implica culpa e a
culpa implica pena, logo, a culpa é limite e fundamento da pena, traduzindo-se, assim o
entendimento bilateral do princípio da culpa. Este entendimento contrapõe-se ao conceito
unívoco deste princípio, com consagração legal no artigo 74ºCP (instituto de dispensa de pena) .
Neste contexto (afirmado na teoria da prevenção geral positiva) a culpa é o limite, mas não é o
fundamento, devendo haver uma relação unilateral, em que a pena implica forçosamente culpa,
mas a culpa não implica forçosamente pena.
A diferença entre ilícito e culpa não tem a ver com a diferença do substrato a valorar, mas com os
critérios de valoração. O ilícito pessoal exprime um desvalor da ação pessoal-objetivo, ou seja, um
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conteúdo pessoal-objetivo de contrariedade a uma norma de determinação (antinormatividade),
traduzindo-se numa objetivação de uma subjetividade (o que o distingue do ilícito pessoal
objetivo). No plano do ilícito pessoal estabelece-se um critério pessoal-objetivo, dotado de um
sentido humano em geral, como se tivesse sido praticado pelo homem médio, esquecendo as
características/particulares qualidades do particular agente. Já no plano da culpa, o substrato que
se valora é o mesmo, ou seja, valora-se uma conduta praticada com conhecimento e vontade da
sua realização. No entanto, a diferença é que se reconduz a conduta às qualidades pessoais do
concreto individuo, assim, assume-se a conduta no seu conteúdo pessoal-subjetivo de
antinormatividade, isto é, atende-se ao especifico desvalor que a conduta reveste quando
praticada por uma concreta pessoa. Desta forma, a dicotomia objetividade/subjetividade faz
sentido no critério valorativo, em que que o critério objetivo diz respeito à ilicitude, porque é
aferido em relação ao Homem médio, e o subjetivo diz respeito à culpa, porque é aferida em
relação ao concreto agente.
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consequência da conduta, é espaço-temporalmente autónomo em relação a ele (para termos um
homicídio não basta a conduta homicida, é necessária a morte efetiva da pessoa).
Os crimes de perigo e de dano inserem-se na tipificação de crimes tendo em conta o bem jurídico.
No caso dos crimes de perigo, o legislador não exige para a consumação do crime que haja a
efetiva lesão do bem jurídico, basta que o agente o coloque em perigo, dada a importância do bem
jurídico em causa, antecipando a tutela penal, (ex: condução sob efeito de álcool). A ordem
jurídica antecipa a tutela, punindo não só a lesão, mas também a simples colocação em perigo do
bem jurídico. Por outro lado, os crimes de dano correspondem à maioria dos crimes, em que para
a sua consumação é necessário verificar-se a efetiva lesão do bem jurídico (ex: para haver
homicídio é necessário a morte.) Dentro dos crimes de perigo, podemos ter crimes de perigo
abstrato, que constituem crimes de perigo presumido, ou seja, há certos setores da vida que pelos
riscos que comportam, o legislador proíbe certas condutas, atendendo a um critério estatístico,
considerando que a conduta é sempre perigosa, independentemente de em concreto ter havido
uma situação concreta de perigo para um bem jurídico (ex: condução sob efeito de álcool numa
estrada vazia); crimes de perigo concreto, em que se exige a prova efetiva do perigo, é elemento
do tipo, assim, se não se provar que houve perigo, aplicamos o principio in dúbio pro reo. Há ainda
quem considere que existem categoriais intermédias, como o crime abstrato-concreto, em que se
admite a prova em contrário de que houve perigo, invertendo o ónus da prova, cumprindo ao
arguido provar que não houve perigo para atenuar a rigidez que está implicada nos crimes de
perigo abstrato. Deste modo, no âmbito desta categoria, em princípio, os agentes são puníveis, a
menos que o arguido prove que não houve perigo.
14. Aluda aos «elementos estruturantes» do tipo objectivo e à contraposição entre crimes de
dano e crimes de perigo.
O tipo-objetivo contempla a descrição externo-objetiva da situação ilícita, sendo que o legislador
para descrever a situação objetiva joga com 3 elementos essenciais: o agente, a conduta e o bem
jurídico. Quanto ao agente, por via de regra, os crimes podem ser praticados por qualquer pessoa,
são os chamados crimes comuns, mas existem certos crimes em que o legislador restringe-os a
determinada categoria de pessoas, os crimes especiais ou específicos. Relativamente á conduta, é
nesta sede que cabe determinar quais as ações penalmente relevantes ou a função negativa de
excluir da tipicidade comportamentos jurídico-penalmente irrelevantes. Aqui se contém a
exigência geral de que se trata de comportamentos humanos, o que exclui a capacidade de ação
das coisas inanimadas e dos animais. Exige-se que o comportamento seja voluntário, isto é,
presidido por uma vontade, o que exclui os atos reflexos, o impulso sob forças irresistíveis e
sonhos ou pensamentos. Quanto ao bem jurídico, este elemento sintetiza, no essencial, o próprio
sentido da ilicitude, pois é o objeto de proteção da norma de determinação. Relativamente a este
elemento, distinguem-se crimes de perigo de crimes de dano. No caso dos crimes de perigo, o
legislador não exige para a consumação do crime que haja a efetiva lesão do bem jurídico, basta
que o agente o coloque em perigo, dada a importância do bem jurídico em causa, antecipando a
tutela penal, (ex: condução sob efeito de álcool). A ordem jurídica antecipa a tutela, punindo não
só a lesão, mas também a simples colocação em perigo do bem jurídico. Por outro lado, os crimes
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de dano correspondem à maioria dos crimes, em que para a sua consumação é necessário
verificar-se a efetiva lesão do bem jurídico (ex: para haver homicídio é necessário a morte.) Dentro
dos crimes de perigo, podemos ter crimes de perigo abstrato, que constituem crimes de perigo
presumido, ou seja, há certos setores da vida que pelos riscos que comportam, o legislador proíbe
certas condutas, atendendo a um critério estatístico, considerando que a conduta é sempre
perigosa, independentemente de em concreto ter havido uma situação concreta de perigo para
um bem jurídico (ex: condução sob efeito de álcool numa estrada vazia); crimes de perigo
concreto, em que se exige a prova efetiva do perigo, é elemento do tipo, assim, se não se provar
que houve perigo, aplicamos o principio in dúbio pro reo. Há ainda quem considere que existem
categoriais intermédias, como o crime abstrato-concreto, em que se admite a prova em contrário
de que houve perigo, invertendo o ónus da prova, cumprindo ao arguido provar que não houve
perigo para atenuar a rigidez que está implicada nos crimes de perigo abstrato. Deste modo, no
âmbito desta categoria, em princípio, os agentes são puníveis, a menos que o arguido prove que
não houve perigo.
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10. Distinga entre erro sobre as proibições e erro sobre a ilicitude.
Tanto no erro sobre as proibições como no erro da ilicitude o agente tem conhecimento exato
sobre os circunstancialismos do facto em que ele atuou, tanto num caso como no outro julga que a
conduta é lícita. Efetivamente, o agente pratica um ato proibido convencido que é permitido e
realiza uma conduta ilícita convencido que é lícita. Analisando as consequências jurídicas do artigo
16º (erro sobre as circunstâncias do facto) e analisando-as com as do artigo 17º (erro sobre a
ilicitude), diríamos que são dispares. O erro sobre as proibições está subordinado ao mesmo
regime geral do erro sobre as circunstâncias de facto. Deste modo, exclui o dolo e o agente só será
punido por negligência, se se verificarem os requisitos formal e material para a punição da
negligencia. Por outro lado, se analisarmos o artigo 17º, verifica-se que o agente que atuar em erro
a ilicitude quando censurada é punido a titulo de dolo e as consequências são muito diferentes
uma vez que a punição do dolo é mais severa do que a da negligencia e porque o dolo é sempre
punido e a negligencia é só excecionalmente (artigo 13º CP).
Assim, concluímos que quer no erro sobre as proibições quer no erro sobre a ilicitude, o agente
tem um exato conhecimento da realidade fáctica e apenas erra na proibição, sendo certo que a
diferenciação destas duas figuras tem a ver com a natureza da proibição.
No caso do erro sobre a pessoa, o agente é projeta um crime conhecendo a realidade fáctica, só
que, porque erra, vem a praticar um crime diferente do que o que havia projetado, assim,
confunde a pessoa ou o objeto a atingir. Ex: A quer matar B, vê alguém parecido e dispara. Não era
B, era C. Desta forma, há que averiguar se existe identidade típica entre o crime projetado e o
crime consumado. Quando há identidade típica, o agente é punido pelo crime consumado a título
de dolo (segundo o prof) e pelo crime projetado por tentativa. Quando não há identidade típica, o
crime projetado é punido por tentativa e o crime consumado por negligência. Por outro lado, no
erro na execução, o agente tem um projeto criminoso, mas vem a praticar um diverso, porque tem
uma execução defeituosa, sendo que, tal como acontece no erro sobre a pessoa, o objeto da ação
é diferente do objeto projetado. A distinção destaca-se no facto de no erro sobre o objeto, a
execução ser defeituosa, ou seja, por exemplo, A quer matar B, mas acerta em C porque estava
vento e a bala desviou-se. Aqui, A não confundiu B com C, mas executou mal o plano. No caso do
erro na execução, quer haja identidade típica ou não, o agente é sempre punido de modo
concursal entre crime projetado por tentativa e crime consumado por negligência.
12. Distinga erro sobre o processo causal e erro na execução (aberratio ictus).
O erro sobre o processo causal e o erro na execução enquadram-se na matéria atinente ao
elemento intelectual do dolo. Ambos são casos especiais do erro sobre a factualidade típica,
porque o agente nestes casos conhece bem a realidade fática, mas não basta conhecer os puros
elementos fácticos, o agente tem de representar e de querer o concreto processo que vai
conduzir à lesão ou colocação em perigo do bem jurídico. No caso do erro da execução, há uma
execução defeituosa “aberratio ictus”. O agente tem um projeto criminoso, mas vem a praticar
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um diverso, porque o executa defeituosamente, sendo que o objeto da ação é diferente do
objeto projetado. Neste caso, quer haja identidade típica ou não, o agente é sempre punido de
modo concursal entre crime projetado por tentativa e crime consumado por negligência. No erro
sobre o processo causal, o agente produz o resultado que queria no objeto que queria, só que
através de um processo causal distinto do projetado. Para a solução deste caso, a doutrina
maioritária estabelece que se o erro couber no perigo típico da própria conduta (se for ainda uma
concretização do perigo típico da conduta) é punido por crime doloso consumado. Se não couber
no perigo típico da própria conduta é punido por tentativa.
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Muitos autores falam do caráter fragmentário da tutela penal, o que significa que o Direito Penal
não tem a pretensão de regular toda a vida comunitária, nem regular na íntegra um setor social,
nem pretende tutelar um bem jurídico de todas as suas infrações, só as infrações mais graves (que
tenham dignidade penal e necessidade de pena). Por outro lado, distribui-se por todos os setores
de intervenção social, devendo o Direito Penal intervir apenas quando for necessário e estiver em
causa valores essenciais.