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Responsabilidade Civil
Não apenas os contratos são fontes de obrigações na esfera negocial reconhecida e
regulamentada pelo Direito; também são fontes de obrigações os atos ilícitos e
abusivos de direito.
Quanto à licitude, a hipótese se revela mais simples: serão ilícitos civilmente aqueles
atos vedados pelo ordenamento jurídico, vale dizer, não apenas aqueles que são
expressamente tipificados em nossa legislação (como, por exemplo, os ilícitos
criminais), como também aqueles outros que, mesmo não estando expressamente
descritos como atos típicos, antijurídicos e culpáveis com base no direito público,
ultrapassam a licitude na conduta em sede de direito privado.
Um acidente que cause um dano ao veículo de alguém não será necessariamente
tipificado como crime, porém o fato de ser imputável a uma determinada conduta do
autor, somado ao prejuízo sofrido pela vítima, farão incidir a obrigação de indenizar ou
de reparar o prejuízo – e essa é a essência própria da responsabilidade civil.
temos que a responsabilidade civil forma-se a partir da integração dos seguintes elementos,
que lhe são essenciais:
Ato ilícito praticado pelo dano sofrido pelo patrimônio da hipótese de incidência da obrigação de reparar os
autor vítima prejuízos patrimoniais
= responsabilidade civil
Para a configuração do ato ilícito civil não é necessário que esse ato também seja,
por exemplo, um ato criminalmente censurável (ou seja: um crime); tampouco será
necessário que o agente (aquele que pratica o ato) o faça com intenção de causar
prejuízo à vítima (hipótese de dolo); basta que tenha agido com negligência,
imprudência ou imperícia (portanto com culpa) para que a responsabilidade civil se
configure.
A segunda hipótese, do ato abusivo ou praticado com abuso de direito, pode num
primeiro momento ser considerada mais complexa dada a aparente subjetividade de
seu conceito; todavia, é de aplicação corriqueira no Direito. Age com abuso de
direito aquele que, mesmo praticando um ato que, a priori, é lícito, extrapola a
utilidade que este lhe teria, causando um prejuízo a outrem. Não deve haver direitos
potestativos em sociedade; o indivíduo não pode, sob pena da subversão das normas
de boa convivência, praticar os atos – mesmo aqueles considerados lícitos – até uma
extensão em que o benefício que venha a deles obter seja menor que o prejuízo que
sua prática eventualmente cause a terceiros, porque assim admitindo o Direito
estaria contrariando a própria lógica da civilidade nas relações sociais.
Ex: claro dessa regra é a definição da legítima defesa enquanto excludente de
ilicitude. Somente poderá ser considerado ato de legítima defesa para fins de
exclusão da ilicitude aquele praticado estritamente no limite do necessário para
repelir a agressão injusta ou para remover o perigo que ameaça o agente.
Extrapolar esse limite de utilidade, que é a margem da licitude na sua conduta,
significa agir criminosamente, praticar um ato ilícito, porque, mesmo que em
hipótese no início a sua atuação não poderia ser criminalizada, perdeu esse caráter
no exato momento em que o perigo cessa porque, aí, o agente não estava mais
agindo para defender-se, mas sim para agredir.
Ex: Exemplo clássico disso vemos quase diariamente na mídia nacional e
internacional. Imaginemos um cidadão que, ameaçado por um assaltante armado,
saca sua própria arma e dispara contra ele. Não estará praticando um ato ilícito (em
tese, evidentemente) exclusivamente enquanto age para evitar uma ameaça à sua
incolumidade física ou à sua vida (que é razoável supor ameaçadas pela arma do
assaltante); todavia, na hipótese de o agressor cair, desarmado, ao primeiro disparo,
aquele que se defendia não pode continuar disparando. No momento em que deixou
de haver perigo à sua vida ou à sua saúde cessou a excludente da ilicitude. Se o
agente prosseguir disparando, sem ser ameaçado (ou cessada a ameaça), estará
praticando um crime, que pode mesmo ser de homicídio.
A natureza jurídica da norma penal leva à natureza da constituição do ato ilícito que
a vulnera. O ato ilícito da responsabilidade criminal é o crime, que, como já vimos
anteriormente, será o ato típico, antijurídico e reprovável – portanto, é considerado
restritivamente, somente se configura naquelas hipóteses previstas na norma penal
e, portanto, é inteiramente diverso do ato ilícito civil, que possui natureza inerente
ao direito privado.
Portanto, se o agente comete uma lesão corporal, praticou contra a sua vítima um
ato ilícito criminal e também necessariamente um ato ilícito civil. Inobstante isso, a
responsabilidade civil independe da criminal e a propositura de uma das ações (a
ação penal ou a ação de indenização) não implica necessária ou obrigatoriamente a
propositura da outra – mesmo com a propositura da ação penal e a posterior
condenação do agente, a vítima não estará obrigada a propor a ação civil decorrente
do mesmo ato.
claro que o ato ilícito civil não pode ser considerado necessariamente um
crime, porque, como já vimos, a interpretação que se opera para a sua
verificação é inteiramente distinta da que se realiza em sede criminal, dada a
própria disparidade entre as naturezas dos atos e dos procedimentos que
apuram as responsabilidades.
Da mesma forma se dá com outras modalidades obrigacionais, como também,
por exemplo, a hipótese de incidência da responsabilidade tributária, também
de direito público e em que uma das partes, necessariamente, será o Estado
representado por alguma de suas esferas de Poder Público (Federal, Estadual
ou Municipal).