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Responsabilidade Civil

Grau A: 1 ou 2 semanas depois.

Grau B: cumulativo.

Bibliografia:

Aguiar Dias – Da responsabilidade civil (2 volumes).

Sérgio Cavalieri Filho – Programa de responsabilidade civil.

Paulo Sanseverino – Princípio da reparação integral: indenização do código civil.

Neminem Laedere: “não lesar ninguém” (é o dever absoluto de todos nós). É um dever de
cuidado que devemos ter.

Art. 944:A indenização mede-se pela extensão do dano. Indenizam-se somente os danos, nada
mais que isso. Caso seja pedido a mais, há enriquecimento ilícito em desfavor da vítima.

1. Conceito:
Art. 927, CC – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Dever/obrigação de indenizar. Para que haja responsabilidade civil é necessário que
haja a violação do princípio do neminem laedere.Baseado nesse princípio, temos o Princípio da
Incolumidade das Esferas Jurídicas Alheias, significa dizer que não se pode lesar os bens de
outrem sem autorização do titular, mesmo que não haja valor econômico (como por exemplo, a
honra e a moral).
Somente o titular do patrimônio pode autorizar a lesão de seu patrimônio sem que haja
responsabilidade civil. Esse é o meu dever absoluto, não lesar e não invadir as esferas
jurídicas alheias.
Para que haja responsabilidade civil, é preciso que haja a violação do direito, rompendo
com o equilíbrio econômico jurídico a vítima.
Violação a direito = dano.
Princípio Restitutio in Integrum (restituir integralmente à vítima): restituir a coisa o mais
próximo do seu status quo ante.
Duas espécies de reparação: natural (a mais correta, restituir a coisa integralmente) e
pecuniária (restituição em dinheiro – art. 947, CC: Se o devedor não puder cumprir a prestação
na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.).
A responsabilidade civil tem natureza indenitária e compensatória, a fim de amenizar o
dano sofrido. Outro caráter do dano moral é o punitivo, que nem sempre tem, mas deveria ter,
pois vira função da responsabilidade civil. Por isso, é possível que haja função punitiva da
responsabilidade, a fim de fazer que o agressor não cometa novos danos. Essa função,
quando bem aplicada, vai de encontro com a função preventiva que a responsabilidade tem,
pois, dependendo do caso, há uma repercussão social.
Ainda, há uma função de precaução (risco do desenvolvimento), para aquele que
desenvolve um produto e tem que assumir o risco que irá causar para as pessoas, mesmo que
não saiba quais danos poderão ocorrer. Não é uma presunção de dano, pois tem que haver o
dano e o nexo causal sobre aquele produto específico (Ex: caso da Talidomida nos anos 60).
Responsabilidade sob dano realizado por outrem: Art. 932, incisos I (pais pelos filhos
menores), II (tutores pelos pupilos) e III (empregador por seus empregados).
Responsabilidade pelo fato das coisas:
a) Animadas (art. 936, CC: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.).
b) Inanimadas (ruína de prédio, art. 937: “O dono de edifício ou construção responde
pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.”, e lançar objeto que são lançados pelas janelas, art.
938: “Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.”).
2. Evolução histórica:
2.1. Fase da Vingança Privada:
Ocorreu no início da civilização, em que a vítima possuía o direito de retaliar o
causador do dano. É a fase do olho por olho e dente por dente, pois vigorava a Lei
de Talião.
2.2. Fase da Composição Voluntária:
Nessa fase, não há Estado na relação, pois a relação é entre o causador do dano e
a vítima. A vítima que escolhia o bem ou o objeto que ela queria em troca pelo
dano causado (“poena”), assim, caso fosse entregue o bem requerido, não haveria
retaliação.
2.3. Fase da Composição Tarifada:
É o Estado que determina o valor que a vítima deve receber. Nessa fase, os
romanos começam a separar os delitos públicos dos privados, o que mais tarde
virou o Direito Penal e o Direito Civil.
2.4. Fase Lex Aquilia:
In Lege Aquilia et lemissine culpe venit: Basta uma culpa, ainda que levíssima,
para surgir o dever de indenizar.
2.5. Código Civil Francês – Teoria Subjetiva:
Art. 1382: é a regra geral que nos baseamos. O elemento base é a culpa (“faute”),
visto que não há responsabilidade sem a falha do agente. Esse elemento é
extremamente importante, pois se não fosse provado que a culpa era do agente, a
vítima não era indenizada. Essa teoria é chamada de subjetiva porque analisa a
conduta do sujeito causador do dano.
Art. 1384: “fait” – desenvolve-se a teoria do risco, que significa dizer que não
precisa a falha do homem, mas que a responsabilidade pode surgir somente com o
fato do dano. Assim, dispensa-se por completo a análise da conduta do causador
do dano. A responsabilidade se satisfaz somente com a atividade do agente que
poderia causar dano com alguém (quem desenvolve uma atividade que gera lucro
para si, adquire a responsabilidade pelo risco). Essa teoria é muito usada para os
casos dos danos causados aos empregados por culpa do empregador, os quais
são difíceis de serem provados pelos empregados.

2.6. Código Civil Brasileiro:


CC/1916: Não traz artigos sobre o risco, a teoria aplicada é totalmente subjetivista.
A regra geral da responsabilidade foi baseada somente na culpa (art. 159,
CC/1916).
CC/2002: A regra geral ainda é baseada na culpa, pois o novo art. 186, CC/2002,
possui a mesma redação que o art. 159, CC/1916. Contudo, praticamente todas as
responsabilizações foram transformadas em risco, mas se não for possível aplicar
o risco, se aplica a regra geral da culpa. Apesar disso, a teoria da culpa é muito
pouco aplicada.
3. Responsabilidade Moral e Jurídica:
A diferença entre a responsabilidade moral e jurídica está baseada no prejuízo, ou seja,
para que haja responsabilidade moral não precisa ocorrer o prejuízo efetivo, basta um simples
pensamento ruim que já pode incidir uma responsabilidade moral, mas não jurídica.
Para que haja a responsabilidade jurídica, não basta que haja somente um
pensamento, deve haver um dano, um prejuízo efetivo (não pode ser somente tentativa). Esse
dano pode refletir na esfera penal e/ou na esfera civil. Dentro da responsabilidade jurídica, o
causador do dano por responder penal, civil e administrativamente, dependendo do caso.
4. Responsabilidade Penal e Civil:
Para que haja responsabilidade penal, deve haver uma violação de delito público e a
ação é pública, isto é, interposta pelo Estado. Já a responsabilidade civil, deve haver violação
de direito privado, em que a vítima que irá buscar o seu direito de indenizar.
A responsabilidade civil pode passar da pessoa que causou o dano (responsabilidade
dos pais, dos tutores e empregadores), já a penal, não passa da pessoa do agente.
Inimputáveis: não sofrem as consequências da pena criminal, porém, na
responsabilidade civil, poderão responder nos termos do art. 928, CC (O incapaz responde
pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-
lo ou não dispuserem de meios suficientes.). O próprio incapaz pode responder pelos seus atos
e com seu patrimônio.
Além disso, a responsabilidade penal é totalmente voltada ao agente causador do
dano, já a responsabilidade civil leva em consideração o dano que a vítima sofreu.
5. Eficácia Civil da Sentença Penal:
Art. 935, CC: A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas
questões se acharem decididas no juízo criminal.
De regra, a responsabilidade civil é independente da criminal. Porém, há uma exceção
trazida pelo Código, que diz respeito a existência do fato e a autoria, que produzirão eficácia no
juízo cível.
Sentença Penal Condenatória: produz eficácia no cível, não se discute mais a
existência do fato e da autoria, pois é considerada um título executivo extrajudicial (art. 515,
inciso VI, CPC).
Actio civilis delicto (ação de indenizar):
a) An debeatur (é o fato que deve ser provado como dano).
b) Quantum debeatur (quanto será apurado como indenização).

Art. 91, I, CP: Quando há sentença penal condenatória, de regra, deve-se interpor
liquidação de sentença por procedimento comum na esfera cível, pois já há o fato provado do
dano ocorrido e não pode ser execução de título extrajudicial porque não há liquidez para
executar diretamente.
Todo o valor que constar na sentença penal, será um valor mínimo fixado pelo juízo
criminal, não impedindo que se busque mais valores na esfera cível (art. 387, inciso IV, CPP).
Lembrar que quem não foi réu em ação penal, não será réu em ação de execução ou
liquidação de sentença, porque a sentença penal não passa da pessoa do agente. Ex:
empregado que, dirigindo o carro da empresa, causa a morte de uma pessoa que estava em
sua companhia no carro. Em ação penal, o empregado foi condenado pelo crime. Essa
sentença penal condenatória somente tem eficácia em relação ao empregado, não pela
empresa, razão pela qual será necessário interpor ação indenizatória contra a empresa para
apurar a reponsabilidade da empregadora.

Art. 315, CPC: Quando há uma ação penal e uma cível discutindo a existência do fato e
da autoria, poderá se sobrestar a ação cível até o resultado da ação penal. A jurisprudência do
TJ entende que o Juiz decide se irá suspender ou não a ação.
Se durante o processo cível, sair a perícia criminal em favor da vítima ou a sentença
condenatória, poderá realizar prova emprestada no juízo cível.

Sentença Penal Absolutória:


a) Sentença que absolveu o agente por inexistência do fato delituoso ou negativa de
autoria: produz eficácia do juízo cível e impede a actio civilis delicto (ação de
indenização). Nesse caso, o agente não pode ser condenado por um dano que
está comprovado que ele não causou.
b) Sentença por insuficiência de prova:não impede a ação de indenização desde que
faça prova no juízo cível.
c) Sentença absolutória pelas excludentes:
Faz coisa julgada no juízo cível, não impedindo a ação, mas não se discute mais a
matéria no cível (art. 65, CPP). Os atos lícitos apresentados no art. 188, CC, excluem o dever
de indenizar quando comprovada a legítima defesa, estado de necessidade e exercício regular
do direito (entendimento jurisprudencial).
Art. 188, II + 929 + 930, CC: se a pessoa lesada não foi culpada do perigo que foi
gerado por meio do estado de necessidade, cabe indenização à vítima (ou seja, a sentença
absolutória não produz efeito). Assim, essa ação não impede a ação de indenização, mesmo
que o agente tenha sido absolvido por estado de necessidade. Ex: o caminhão B tenta realizar
uma ultrapassagem, quase colidindo com o caminhão A, o qual em estado de necessidade
acaba por jogar o caminhão para o acostamento e atropelar uma menina que estava no
acostamento aguardando para atravessar a rua. Desse modo, a menina pode pleitear
indenização contra o caminhão A, pois não foi a culpada pelo perigo que ocorreu.
A legitimidade passiva da ação de indenização será o caminhão A, que terá direito
de ação regressiva contra o caminhão B. Cabe denunciação à lide, mas é facultativo pelas
regras do CPC.
d) Falta da culpabilidade:No que diz respeito à sentença absolutória por falta de
culpa, ela vai produzir eficácia e impedirá a ação indenizatória se a teoria aplicada
for subjetiva (baseada na culpa – sem culpa, não há reparação). Porém, se for
fundamentada no risco, bastando o dano e o nexo causal, essa sentença
absolutória não produzirá eficácia, isto é, não impedirá a ação de indenização.
e) Prescrição: não impede a ação de indenização, pois há a própria prescrição cível
(3 anos, de regra – art. 206, § 3º, inciso V, CC). Impede a contagem do prazo
prescricional se o fato deva ser apurado no juízo criminal, começando a contar a
partir da sentença definitiva (art. 200, CC – de regra, impede a contagem do
prazo). Enquanto ainda não tiver ação criminal, corre o prazo. Quando a ação
criminal é interposta, suspende o prazo até o trânsito em julgado da sentença.
f) Extinção da punibilidade pela morte: não impede que a vítima interponha ação de
indenização contra os herdeiros, nos limites da herança (art. 943, CC).
g) Absolvição pelo Tribunal do Júri:considerando que a absolvição não é
fundamentada, não impede a ação de indenização.

Fontes geradoras do dever de indenizar


1. Ato Ilícito (art. 186 e 187, CC):Extracontratual/Aquiliana/Delitual
O ato ilícito é um ato contrário a direito, mas não quer dizer que não seja jurídico.
O ato nos termos do art. 186 é composto pela conduta humana + dolosa ou culposa + violar
direito (ilicitude) + nexo causal + dano (é a regra geral), por isso, é preciso que ocorra vários
fatos para que seja transformado em um fato jurídico (fenômeno da jurisdicização), indo para a
sua espécie de ato ilícito. O elemento cerne do ato ilícito é a ilicitude e gera somente deveres
para quem pratica, isto é, o dever de indenizar.
Quando se interpõe a ação de indenização nos termos do art. 186, CC, deve-se
provar a culpa, o dano e o nexo causal. Quando for fundamentar na culpa, a teoria utilizada
será a teoria subjetiva, assim, utilizando-se o preceito previsto no art. 927.
O suporte fático possui dois elementos: eventos da natureza (fatos) e conduta
humana (atos). A conduta humana pode ser avolitiva e volitiva (precisa ter capacidade).
Os atos ilícitos não estão autorizados a transitar pelo plano da validade, somente
os atos que tem a vontade como elemento cerne. Do plano da existência, eles diretamente vão
para o plano da eficácia para produzir o seu efeito (dever de indenizar).
O CC/2002 trouxe também uma outra espécie de ato ilícito disposto no art. 187
(que é diferente do art. 186), chamado de abuso de direito (l’abus du dnoit). Nesse caso, é
quando o indivíduo exerce o seu direito de forma abusiva, cometendo ato ilícito (seria o
contrário do que dispõe o art. 188, inciso I, CC). Sempre que tivermos uma situação que é
ilícita por meio de abuso de direito, deve-se fundamentar no art. 187 + 927, CC.
Suporte fático:
1º) Titular de um direito a ser exercido;
2º) Exercer o direito nos limites impostos pelo ordenamento jurídico
3º) Em vez de exercer regularmente, a pessoa excede os fins sociais, econômicos,
a boa-fé ou os bons costumes.
A diferença entre o art. 186 e 187: quando a lei menciona o excesso de agir, ela
dispensa o elemento culpa, isto é, o excesso é apurado de forma objetiva (“o ordenamento
jurídico permitiria essa conduta?”). Exclui-se o elemento subjetivo se a pessoa tinha a intenção
ou não de realizar o abuso do direito, basta somente que a conduta seja um abuso de direito,
utilizando-se a teoria objetiva.

2. Descumprimento Contratual ou Inexecução Contratual: Natureza contratual.


É o momento em que surge a relação jurídica antes do dano. Esse vínculo é o
contrato existente, válido e eficaz, pois se o contrato tiver problemas com a validade, não
produzirá efeito nenhum. Desse contrato, surge inúmeros deveres, pois se uma das partes
descumpre com esse dever e causa danos à outra parte, fica obrigado a indenizar.
A fonte do dever de indenizar é o descumprimento/inadimplemento contratual.
Esse descumprimento que deve causar o dano (nexo causal). Só o fato de existir o contrato
não quer dizer que o dever de indenizar será derivado do descumprimento contratual, deve-se
analisar a conduta do causador do dano.
Ex: de regra, todas as responsabilidades dos profissionais liberais. Contrato de
transporte, de depósito (estacionamento), de trabalho (falta de segurança ao empregado) e etc.

3. Boa-fé objetiva (Extracontratual, contratual e pré/pós contratual):


Culpa “in contrahendo” = foi transformada na violação da boa-fé objetiva.
Contato social: normas de conduta = deveres laterais, anexos e secundários.
Fidelidade, transparência, informação, dever de prestação de contas, segurança/proteção e
etc. Desse contato social, surgem deveres que se não observados podem causar danos
contratuais.
Há confiança na fase pré-contratual, se for quebrada, haverá dever de indenizar.
O que acontece na fase pré-contratual macula o resto do contrato.
Art. 422, CC: menciona a boa-fé objetiva na fase de conclusão (no momento da
celebração) e execução dos contratos. Enunciados do Conselho da Justiça: embora o art. 422
mencione a conclusão e execução do contrato, a boa-fé deve ser analisada na fase pré e pós
contratual.

4. Ato Lícito (Extracontratual):


Art. 188, II + 929: ainda que a pessoa aja em estado de necessidade, não se
exclui o dever de indenizar, somente se retira a ilicitude do fato, tornando-se lícito. Se a vítima
não for culpada do perigo, cabe indenização.
Legitimidade passiva: art. 930, CC: No caso do inciso II do art. 188, se o perigo
ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.
Teoria do dano injusto: a vítima sofreu o dano de forma imerecida, por isso o mais
correto é indenizar a vítima, por mais que não fique claro que o causador do dano tenha
cometido ato ilícito. Por mais que o causador do dano seja absolvido na esfera criminal, é
possível que seja condenado na esfera cível, porque o fato dele ter sido absolvido só
transforma o ato ilícito em lícito.
Quando se fala de ato lícito, não se fala em culpa, pois a culpa é elemento do ato
ilícito. O ato lícito é uma conduta perfeita, praticável e negligente.

1. Queda de marquise: ato ilícito, art. 186. A fonte mesmo será o art. 937.
2. Mulher trancada na porta do ônibus: descumprimento contratual, porque a
obrigação do transportador é levar em segurança o passageiro. Nesse caso,
também da para cumular a boa-fé.
3. Acidente de trânsito: ato ilícito, art. 186.
4. Passageiros feridos: descumprimento contratual + boa-fé objetiva. O contrato de
transporte que foi descumprido.
5. Cirurgia estética: descumprimento contratual (obrigação de resultado).
6. Noiva abandonada no altar, tenta cometer suicídio: violação da boa-fé objetiva.
7. Obra entregue pela construtora: descumprimento contratual. A obra foi entregue
mas a construção está irregular, paredes rachando, vazamento de água e etc.
8. Abordagem policial violenta: ato ilícito, abuso de direito, art. 187. Ocorre quando
a polícia age abusando do exercício regular do direito.
9. Corpo estranho dentro do paciente: descumprimento contratual. Obrigação de
meio do médico. Se o médico agir com culpa, é negligência e não imperícia. Se
por acaso for um médico que atendeu o paciente de forma emergencial, em
hospital público, não é descumprimento contratual porque não há contrato. Para
haver descumprimento tem que ser serviço particular ou por meio de plano de
saúde.
10. Lançar objeto pelas janelas: ato ilícito, art. 186. A fonte correta seria do art. 938.
11. Pessoa barrada na porta giratória do banco: abuso de direito do art. 187 –
excesso dos fins econômicos e fins sociais.
12. Caminhão, transitando corretamente, para evitar a colisão com um animal,
desvia e atinge uma casa: ato lícito (estado de necessidade).
13. Acidente causado por animal: as empresas privadas que cobram pedágios nas
estradas podem ser responsabilizadas por colisões com animais ocorridas
nessas estradas. Ato ilícito art. 186. A fonte correta seria a do art. 936.
14. Agredido por seguranças em boate: abuso de direito, art. 187.
15. Procedimento estético: erro médico, descumprimento contratual. + boa-fé
objetiva.
16. Acidente de trânsito: ato ilícito, art. 186.
17. Acusação de empregado sem provas: abuso de direito, art. 187.
18. Queda de elevador em condomínio: ato ilícito, art. 186. Se fosse o condomínio
contra a empresa de elevadores, alegando que teria feito todas as
manutenções, seria descumprimento contratual.
19. Acidente em parque de diversão: descumprimento contratual, pois há contrato
de consumo quando se entra no parque. Também é possível trabalhar a boa-fé
objetiva.
20. Atropelamento: ato ilícito, art. 186.

Elementos/Pressupostos do dever de indenizar (é retirado do art. 186, mas se


estende a qualquer espécie de responsabilidade civil).

“Aquele que, que por ação ou omissão, dolosa ou culposamente, violar direito ou causar
dano.”

1. Imputabilidade:
Não se confunde com o nexo causal, mas também é chamado de nexo de
imputação. Imputar a responsabilidade é chamar alguém a responder. “Imputar é atribuir
alguém capacidade para responder pelo dano causado por fato próprio ou pelo fato de outrem
ou pelo fato das coisas.”
Responsabilidade Direta ou Por Fato Próprio: quando o agente assume o risco e
age com culpa, atribuindo responsabilidade para ele mesmo.
Responsabilidade Indireta ou Complexa: pelo fato de outrem (responsabilidade
dos pais, tutores, empregadores pelo ato de seus empregados – art. 932, I, II e III) e pelo fato
das coisas (animadas e inanimadas – as coisas produzem algo mas se irá responsabilizar o
dono da coisa).
Nexos de imputação: garantia, culpa, risco e quebra da confiança (violação da boa-
fé objetiva).
A imputabilidade não tem relação com a inimputabilidade dos incapazes, significa
dizer que podemos imputar responsabilidade também aos incapazes. Com a vinda do
CC/2002, surgiu a redação do art. 928, trazendo a possibilidade de responsabilizar os
incapazes, abrangendo todo e qualquer menor, seja absolutamente seja relativamente incapaz.
O CC/2002 rompeu definitivamente com a teoria da irresponsabilidade.
Os incapazes serão responsabilizados, SE:
a) Os responsáveis não tiverem obrigação de responder: trata-se de uma
obrigação subsidiária entre os incapazes e os pais. Não se pode mais escolher
contra quem se quer interpor a ação de indenização, só pode chegar no menor
se os pais não tiverem obrigação.
b) Ou não dispuserem de meios suficientes: nesse caso, os pais têm obrigação,
mas não tem patrimônio suficiente, oportunidade em que poderá se chegar no
incapaz.
c) Equitativa: quando o parágrafo único do art. 928 menciona que “esta
indenização deverá ser equitativa”, significa dizer que não será completa, pois
não será o mesmo valor que o responsável legal pagaria. Por isso,
aresponsabilidade do incapaz é subsidiária e mitigada, porque não é
completa. Além disso, o valor da indenização não pode privar do necessário
para o incapaz e nem das pessoas que dele dependem.
Em que pese haja divergência no Código Civil disposto no art. 942, parágrafo único,
a responsabilidade dos incapazes continua sendo subsidiária (art. 928). A responsabilidade só
será solidária em outros casos, como por exemplo, interpor ação contra o proprietário e o
motorista do carro ou as situações do art. 932, inciso III.
Pelo art. 928 a responsabilidade dos incapazes é subsidiária em relação aos seus
representantes legais (pais, tutores e curadores – art. 932, I e II). Frente a essa redação, o
parágrafo único do art. 942 não tem aplicação para os representantes legais e os incapazes,
isto é, a obrigação deles não é solidária. O art. 928 afasta a aplicação do parágrafo único do
art. 942 pelo princípio da tutela dos incapazes, a proteção recairá no incapaz e não vítima.

2. Conduta humana: da forma que o agente age, conduta por ação ou omissão.
É forma como exteriorizamos a nossa conduta, ou agimos (agir comissivo = culpa in
committendo) ou omitimos (ação omissiva = culpa in omittendo).No caso da omissão, o dano
tem que decorrer do não fazer.
O CC refere que a conduta deve ser voluntária, ou seja, que a pessoa teve a
consciência de sua ação ou omissão. Quando se age com dolo, significa dizer que a pessoa
tem a intenção de causar o dano e quer o resultado. A culpa também é um ato voluntário,
porém não quer o resultado (não intencional).
Dolo é o ato intencional, propositado e deliberado. Na culpa stricto sensu é preciso
provar um dos seus elementos: negligência, imprudência ou imperícia. A culpa não é tão grave
quanto o dolo, mas ela é considerada um “erro de conduta”.
A culpa no sentido lato sensu engloba o dolo e a culpa stricto sensu. Quando se
utilizarmos da expressão “culpa” é a lato sensu, pois dentro da lato sensu existe a conduta
dolosa e culposa stricto sensu.

3. Culpa (lato sensu):Dolosa ou culposa. A culpa vai se exteriorizar por meio de três
condutas: negligência, imprudência e imperícia.
A culpa é um elemento não essencial, já o dano e o nexo causal são
elementos essenciais.
A negligência é a conduta omissiva, pois o agente deixa de fazer. Ex: o médico que
deixa objetos estranhos dentro do paciente, médico que não atende o paciente quando é
possível, o síndico que não tira o botijão de gás que estava vazando e etc.
Já a imprudência, a pessoa age, mas sem os cuidados necessários, acaba causando o
dano. A pessoa age de forma afoita ou açodada. Ex: o médico que estava com pressa quando
foi realizar a cirurgia, não espera o anestesista e aplica a anestesia de forma incorreta, excesso
de velocidade, atravessar o sinal vermelho, pedestre e que não atravessa na faixa de
segurança e etc.
A imperícia ocorre quando não se observa as normas técnicas na realização de uma
atividade que de regra é profissional, mas não necessariamente. Também pode estar ligada na
questão da inexperiência de médicos residentes que não utilizam os equipamentos
corretamente. Ex: médico que atinge um órgão diferente do objeto da cirurgia.

4. Dano: violação/lesão a direito.


“Dano é lesão ao interesse juridicamente protegido.” Antes de ser moral, estético ou
patrimonial, o dano é lesão a direito.
Art. 944, CC: Princípio da restituição integral (“Restitutio in Integrum”): A
indenização mede-se pela extensão dos danos. Dependendo, repor integralmente é dar a
vítima uma vida digna, pois tem casos em que o dano é irreversível. O limite da indenização é
a dignidade da pessoa humana, pois a responsabilidade não tem só função indenitária, mas
também função de punição e restituição.
Dentro do princípio da restituição integral existem vários sistemas:
a) Tipicidade: quando toda a matéria da reparação de danos vem da lei, está
especificado na lei. Não há a possibilidade da doutrina e da jurisprudência criar
novos danos, pois é a lei que determina. É o sistema do Direito Romano.
b) Semi-tipicidade: um pouco a lei traz as espécies de dano e o resto deixa a
critério da jurisprudência e da doutrina. É o sistema alemão e português.
c) Atipicidade: a lei não traz as espécies do dano e deixa totalmente aberto,
permite que a doutrina e a jurisprudência façam a construção desses danos. É o
sistema francês, italiano e brasileiro.
Danos reparáveis (aceitos na jurisprudência): materiais/patrimoniais,
imateriais/extrapatrimoniais/moral, estético (tetium genus) e perda de uma chance (oriunda do
direito francês) e direito existencial (oriundo do direito italiano).
Requisitos que os danos precisam cumprir para que seja o dano elemento da
responsabilidade civil a ponto de ensejar o direito de indenizar:
1) Certeza: o dano tem que ser certo no sentido de que ele tenha que ter ocorrido.
Certeza no sentido de que não se indenizam suposições. “Não se indenizam
danos hipotéticos.” Ainda que indenizamos chances perdidas, são chances
viáveis e que tenham grande probabilidade de certeza (é diferente de não ter a
certeza).
Ex: podia ter morrido, podia ter se ferido...
2) Atualidade: está muito ligado a certeza, porque o dano atual é aquele que já foi
produzido quando da propositura da ação.
Mas existem exceções:o direito brasileiro indeniza danos futuros desde que seja
possível, no presente, apurá-los. É certo no sentido de que vão ocorrer em um
futuro próximo. Ex: lucros cessantes (aquilo que deixou de ganhar).
3) Direto/imediato: como regra geral, o dano tem que ser direto, ou seja, aquele
que atinge diretamente a vítima. Aquela que sofre os efeitos imediatos do dano.
Existem exceções: dano indireto, mediato, reflexo ou ricochete (dommage par
ricochet). Não é uma espécie de dano, é a forma como o dano atinge a vítima.
O dano por ricochete pode ser de forma material e moral. Ex: atropelamento de
uma menina – atinge de forma indireta o pai, a mãe, a avó...
4) Subsistência: o dano não deve ser banalizado, deve ser algo grave e sério.É o
dano que tem uma certa durabilidade. A subsistência do dano é muito
importante para se estabelecer o valor do dano, porque é levado em conta a
durabilidade do dano.
5) Injusto: a vítima não contribuiu com a conduta do dano, é o dano imerecido.
Esse é o elemento que define se a vítima vai receber integralmente o valor do
dano.
Espécies de dano:

DANO MATERIAL:
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos
devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente
deixou de lucrar.
Englobam as perdas e danos que, por sua vez, são os danos emergentes (aquilo
que ele já gastou), pois é a diminuição imediata do patrimônio da vítima. Os danos emergentes
precisam de comprovação (recibos e comprovantes), pois não se presumem
Já os lucros cessantes são aqueles que ele deixou de lucrar, não é o que ele
gastou. Ex: motorista de uber que ficou com o carro parado na oficina por 120 dias. Os lucros
que ele não ganhou por não trabalhar nesse período.
Apensão é espécie de dano material da subespécie lucros cessantes, pois se pede
quando a vítima não consegue mais desempenhar a sua atividade laborativa e não irá mais
lucrar.

Pensão Alimentícia:
É necessário que se analise se a vítima morreu ou ficou incapaz.

Em caso de morte: art. 948, CC: Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste,
sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima,
seu funeral e o luto da família;II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os
devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.
Pagamento das despesas com funeral da vítima e luto da família. No caso do inciso II, os
alimentos devidos são presumidos aos filhos menores e à viúva. Além disso, se tiver outros
familiares a quem o morto devia alimentos, deve ficar comprovado a dependência.

Quanto pedir? 2/3 do salário da vítima.Nos casos de morte, é SEMPRE 2/3 do


salário. Mesmo se a vítima estiver desempregada, a família tem direito à pensão (a
jurisprudência entende que mesmo que a vítima estava desempregada, teria a possibilidade de
arrumar um emprego, sendo estabelecido por 2/3 do salário mínimo).

Até quando pedir? Levar em conta a duração provável de vida da vítima.Essa


construção é jurisprudencial.A idade médica de expectativa de vida do brasileiro já
estabelecida é de 65 anos, mas é possível reverter essa situação para 70 anos.
Ex: vítima morreu com 30 anos de idade e deixou viúva de 25 anos e deixou 2
filhos, 2 e 10 anos. Pela regra, todos tem direito à pensão alimentícia e os três são credores.
Pedido básico para fazer na prova: 1º pedido: 2/3 do salário até que o morto vier a
completar 65 anos (mas também pode pedir 70 anos em face do entendimento do STJ). 2º
pedido: 2/3 do salário da vítima sendo que 1/3 para a viúva até a idade em que o morto vier a
completar 65/70 anos e 1/3 até a idade que os beneficiários completarem 25 anos, idade
presumida do término do ensino universitário. Após completados os 25 anos dos beneficiários,
tem direito de acrescer para a viúva.
Pode acontecer que a idade do morto se aproxima da idade “final” dele. Ex: morto
com 60 anos. Para a viúva é possível pedir mais 8 a 10 anos de sobrevida, se a viúva também
tiver mais ou menos a mesma idade, mas para os beneficiários tem que pedir até os 25 anos
deles, idade presumida do término do ensino universitário. Caso a viúva seja doente e esteja
em uma cama, pede-se 2/3 do salário e pensão vitalícia.
Os tribunais construíram o entendimento de que a morte de filho menor em se
tratando de família pobre, parcos recursos ou humilde, de que é possível pleitear alimentos
aos pais, já que ele seria arrimo ou o esteio da família. Significa dizer que a criança pobre
sempre ajudaria a família pobre.
Ex: criança falecida com 8 anos de idade. 2/3 do salário mínimo nacional dos 14 aos
25 anos (significava uma presunção de que a criança constituiria sua família com 25 anos).
Quando uma criança morre com menos de 14 anos, o termo inicial de contagem da pensão
sempre será 14 anos. Se for maior de 14 anos, o termo inicial será a idade do morto.
Todavia, nas últimas decisões do Tribunal: 2/3 do salário mínimo dos 14 aos
25 anos e 1/3 do salário mínimo dos 25 aos 65 anos.

Em caso de a vítima não morrer, mas ficar incapacitada:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele
sofreu.

A incapacidade tratada é para exercer a profissão que exercia no momento do


dano. Essa incapacidade tem que ficar clara e bem provada no processo. A incapacidade pode
ser total, ocorre quando não se pode desenvolver aquela atividade e qualquer outra, ou parcial,
sendo necessário o percentual da incapacidade.
É através do percentual que é possível ver o quanto deverá ser pedido.
Pedido incapacidade total: salário integral e vitalício.
Pedido incapacidade parcial: percentual da incapacidade sobre o salário da vítima e
se não recebia nada, do salário mínimo, até o pronto reestabelecimento. O pedido de redução
ou cessação da pensão por reestabelecimento deve ser pedido nos autos, pois não é
presumido (igual a dos alimentos).

Questões:
1. Descumprimento contatual e a espécie de responsabilidade é a contratual (art. 949 e
950).
Danos materiais que poderão ser pleiteados: danos emergentes de R$ 52.000,00 +
2.800,00, conforme recibos. Lucros cessantes (engloba tudo que ela necessitará) em
face da cirurgia que ela necessita no valor de R$4.000,00 e deixou de lucrar por não
trabalhar por 30 dias + pensão vitalícia pela redução da capacidade laboral no valor
de 80% sobre o salário.
2. A espécie de responsabilidade é contratual (contrato de transporte). Legitimidade
ativa: mãe (porque Fernanda sustentava a mãe) e filho de 14 anos e para cobrar os
danos materiais, Mário André.
Pensão: 1/3 do salário para a mãe até que Fernanda complete 70 anos e 1/3 do
salário para o filho até que ele complete 25 anos.
A sentença penal absolutória não produz eficácia, pois porque a teoria utilizada
como fundamento é a teoria objetiva do risco.
Danos a serem pleiteados: para a mãe e para o filho somente a pensão. Para o
empregador, danos emergentes.
3. Súmula 145, STJ: No transporte desinteressado, de simples cortesia, o
transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado
quando incorrer em dolo ou culpa grave.
Nesse caso, é necessário provar dano, nexo e culpa grave de acordo com a Súmula.
Fonte: ato ilícito, art. 186.
Danos materiais que poderão ser pleiteados: pagamento de todas as despesas do
enterro + pensão de 1/3 de salário para a viúva até Maiquel completar 70 anos e 1/3
de salário para o filho até que ele complete 25 anos.
4. O foco da questão é o atropelamento do menor dentro do estacionamento do banco.
O contrato de depósito só poderia ser utilizado em caso de pedir ressarcimento do
carro pelo furto, porém, a indenização versa sobre o atropelamento do filho, então
não tem relação ao contrato.
Fonte: ato ilícito, art. 186. Extracontratual.
Danos materiais: perda de filho menor de família humilde. Há a possibilidade de
pleitear alimentos para os pais, pois menor de 14 anos. Pedir as despesas do
enterro, se comprovado que a mãe pagou, e pensão de 2/3 do salário mínimo dos 14
até que ele viesse a completar 25 anos e 1/3 do salário mínimo dos 25 até que ele
viesse completar 65 anos (aqui não pode ser 70 anos).

Os alimentos que decorrem do ilícito têm semelhanças e diferenças com os alimentos do


direito de família. A primeira semelhança é o binômio necessidade e possibilidade, a segunda é
que não prescreve o direito de pedir alimentos (pode reaver a qualquer tempo) e é o direito de
família que define quem são os credores que terão direito à pensão. É possível pedir a prisão
dos nossos devedores que não pagam pensão.
Art. 139, IV, CPC: anteriormente, o Superior não permitia o pedido de prisão para o não
pagamento dos alimentos. Atualmente, o TJRS já decidiu que é possível pedir a prisão.
Pesquisa de jurisprudência do TJRS:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO.
PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE ALIMENTOS FIXADOS POR ATO ILÍCITO.
PRISÃO CIVIL. POSSIBILIDADE PROCESSAR A EXECUÇÃO DE ALIMENTO POR ATO
ILÍCITO SOB PENA DE PRISÃO CIVIL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 5º, LXVII,DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DOS ARTIGOS 139, IV E 528 DO CPC. PRECEDENTES
DESTE ORGÃO FRACIONADO. DECISÃO DESCONSTITUÍDA. APELO PROVIDO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70079434635, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Katia Elenise Oliveira da Silva, Julgado em 07/11/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. ATO ILÍCITO. Possibilidade, sob a
égide do Código de Processo Civil de 2015, de determinar a prisão civil do executado por
débitos alimentares decorrentes de atoilícito. Precedente desta Câmara Cível. Inteligência do
artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal e dos artigos 139, IV e 528 do CPC. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70076942838, Décima
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Maria Rodrigues de Freitas
Iserhard, Julgado em 27/06/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO C/C PEDIDO DE ALIMENTOS.
CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA PELO RITO DA PRISÃO CIVIL DO
DEVEDOR. IMPOSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. DIREITO FUNDADO EM ATO
ILÍCITO.Não se admite a prisão civil do devedor de alimentos originados em ação indenizatória
por ato ilícito, sendo hipótese coercitiva restrita apenas ao inadimplemento de obrigações
alimentares estabelecidas no âmbito do Direito de Família. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70077854057, Décima Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em
18/09/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. ATO ILÍCITO. Conforme entendimento
jurisprudencial deste Colegiado, o procedimento executivo do art. 528 do NCPC, que prevê
pena de prisão em caso de inadimplemento, não seaplica aos casos em que o pensionamento
se originou de ato ilícito. Agravo de instrumento desprovido. (Agravo de Instrumento Nº
70077791762, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto
Guaspari Sudbrack, Julgado em 16/08/2018)

Sempre que o Juiz determinar a condenação ao pagamento de alimentos, deverá ser


determinada a constituição de capital ou de renda, conforme previa o art. 475, q, do CPC/73.
Depois, surgiu a súmula 313, STJ, que determinou essa obrigação ao Juiz e trazendo a
possibilidade fidejussória. O novo CPC, no art. 533, modifica esse entendimento, passando
para o exequente (autor da ação) requer a constituição de capital.
É uma garantia que o devedor deve prestar nos autos para assegurar o cumprimento do
pagamento da pensão alimentícia. É somente para a pensão.
Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao
executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento
do valor mensal da pensão.

§ 1º O capital a que se refere o caput , representado por imóveis ou por direitos reais
sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em
banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do executado, além
de constituir-se em patrimônio de afetação.

§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha


de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do
executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.

§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer,


conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.

§ 4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.

§ 5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o


desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.

Além disso, o novo CPC trouxe essa garantia e irá se constituir no patrimônio de
afetação. É possível também realizar essa garantia em desconto na folha de pagamento,
desde que a pessoa jurídica que o devedor trabalha tenha capacidade para tanto e a
requerimento do devedor.
A viúva que recebe alimentos do ilícito, se ela se casar novamente, por si só ela não
perde os alimentos.
É possível penhorar o único bem de família para pagamento dos alimentos, tal como
ocorre no direito de família. O devedor não pode opor a exceção de impenhorabilidade do bem
de família.

DANO MORAL
1) Conceito e aplicabilidade:
Súmula 491, STF: É indenizável a morte de filho menor ainda que não exerça
trabalho remunerado. A súmula não fala no dano moral, mas o que se discutia naquela época
era o dano moral da perda de um filho menor (a dor da mãe). Após a matéria sumulada, o
Supremo reconhece a corrente positivista.
O dano moral teve dois grandes obstáculos para superar: irreparabilidade e
inacumulatividade. Naquela época, não se podia cumular dano moral e dano material, mas
atualmente pode.
A CF trouxe, em seu art. 5º, a possibilidade de indenizar pelo dano moral, porque na
época em que a CF entrou em vigor já havia pacificamente da jurisprudência, mas ainda
existiam juízes que decidiam pela corrente negativista. Por isso, a CF pôs fim na corrente
negativista, com a possibilidade de indenização por dano moral.
Súmula 37, STJ: pode cumular dano material e dano moral.

Como indenizar a dor?


O primeiro conceito do dano moral era a “dor” ou o sofrimento como base para o
dano moral, porém esse conceito foi muito criticado pela doutrina porque esses sentimentos
são consequências do dano moral, mas não a fonte dele.
Depois, veio o conceito negativo, referindo que o dano moral “não tem” valor
econômico, para separá-lo do direito material.
Então, a doutrina se reposiciona e dá o conceito mais correto e atual: positivo. É a
lesão e a violação a um direito personalíssimo. É a lesão a dignidade da pessoa humana.
Embora existe ainda na jurisprudência a referência da dor, é incorreto dizer que o conceito de
dano moral é o sofrimento, pois é a lesão/violação do direito personalíssimo.
Direitos personalíssimos:
a) Direito ou proteção à vida, à liberdade e à integridade psicofísica (art. 13 a 15,
CC). A perda de um parente é a violação psicofísica.
b) Direito ou proteção ao nome (prenome, sobrenome e pseudônimo quando é
mais forte que o prenome).
c) Direito e proteção à honra (art. 20, CC): a doutrina dividiu a honra em duas:
honra subjetiva e honra objetiva. A subjetiva é o nosso psiquismo e como nós
nos enxergamos. Somente a pessoa física ou natural podem sofrer os efeitos
dessa violação (dor, sofrimento, vexame, humilhação etc.). Já a honra objetiva é
o exterior da pessoa, é como a sociedade nos vê. Por isso é preciso ter um bom
nome e uma boa fama.
Essa divisão da honra foi criada para aceitar que a pessoa jurídica tenha direito
a dano moral. A doutrina e a jurisprudência defendem que ela terá direito
sempre que violada a sua honra objetiva (Súmula 227, STJ). Atentar para as
pessoas jurídicas de direito público (municípios, estados, igreja...).
d) Direito ou proteção à vida privada ou à intimidade (família, trabalho e amigos).
Basta a invasão de algum desses direitos que já caracteriza o dano moral.

2) Prova:
De regra os danos são comprovados por meio de recibos. Contudo o dano moral de
regra é presumido na expressão “dano moral in re ipsa”, a qual é uma teoria que inverte o ônus
probatório. O fato deve ser provado (a forma que se deu o acidente, quem fez, quem teve
culpa...), mas o dano é presumido. Depois de provado o fato, a outra parte deve provar que
não ocorreu o dano.
3) Legitimidade Ativa:
De regra, a vítima direta tem legitimidade ativa para requerer indenização.
Também tem legitimidade ativa as vítimas indiretas (vítimas de dano por ricochete):
quem sofre dano por ricochete, pleiteia um direito próprio (“júri próprio”) que surge via reflexo
do dano sofrido pela vítima direta. Não existe o limite ao número de pessoas legitimadas a
pleitear dano moral por ricochete. Cabe ao juiz examinar caso a caso.
Aos parentes mais próximos, existe a presunção que o dano moral é in re ipsa, tais
como pais, filhos e irmãos. Aos parentes mais remotos, nada impede que pleiteiem, mas não
há presunção, deverão provar o vínculo que está ligado à vítima direta.
O dano moral por ricochete não é uma espécie de dano, é a forma como o dano
chega na pessoa. Pode refletir materialmente ou moralmente.

4) Arbitramento ou Fixação:
Quando o juiz arbitra, ele deve levar em conta o caráter dúplice do dano moral:
compensar a vítima e punir o ofensor, equilibrando os dois a fim de desestimular que o
causador do dano cometa novamente o mesmo dano.
Ele deve analisar: quem era a vítima, qual sua situação econômica, qual a
gravidade da lesão (extensão do dano), durabilidade, quanto pode servir para compensá-la.
Depois o juiz deve analisar o caráter punitivo: quem era o causador do dano, qual sua situação
socioeconômica, qual a gravidade da conduta dele.
Princípio da razoabilidade e proporcionalidade: o juiz deve aplicar valor razoável, a
fim de não enriquecer a vítima, mas não muito ínfimo a ponto de banalizar o dano moral.
O STJ criou o método bifásico para chegar ao valor do dano moral: exige duas
análises acerca do caso:
a) Análise geral no sentido de quantos tribunais tem fixado para aquela situação
específica.
b) Análise concreto: exame aprofundado do caso concreto.
Esse método bifásico evita o tabelamento do dano moral. Na inicial, é necessário
informar o valor na ação de forma quantificada (art. 292, V, CPC).

5) Transmissibilidade por direito hereditário:


Não confundir:
a) Pessoa já falecida e sofre dano moral – quem terá legitimidade ativa para proteger o
nome, privacidade e intimidade do morto:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida
prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau (primos).
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Atenção: no que diz respeito só a honra e imagem, os parentes colaterais não têm
legitimidade para pleitear dano moral, somente no que diz respeito a intimidade, nome, corpo e
privacidade. Quando misturar a honra e a intimidade, por exemplo, usa-se a regra geral do art.
12. Quando especificamente se usar a honra e a imagem, tem que usar a exceção do art. 20.

b) Dano moral por ricochete: é o dano moral dos parentes, não do morto, é jure
próprio. A pessoa indiretamente atingida está pleiteando dano próprio.

c) Pessoa viva, sofre dano moral em vida e morre em seguida: jus hereditatis.
Quem pode pleitear os danos que o morto tinha?
1ª hipótese - morte durante a tramitação do processo de indenização: nesse
caso, os herdeiros continuam o processo e substituem o falecido na ação. Atualmente, chama-
se sucessão processual e não substituição processual (art. 110, CPC e art. 943, CC).
2ª hipótese - morto não tinha ajuizado ainda a ação indenizatória e faleceu
antes: nesse caso, os herdeiros têm o direito de exigir o dano moral sofrido em vida pelo
falecido, transmitindo-se aos herdeiros, com prazo prescricional. Essa matéria ainda é muito
discutida no STJ, pois há divergência entre as Turmas.

DANO ESTÉTICO
O dano estético fazia parte do dano moral, mas atualmente é um terceiro gênero de
dano (tertium genus). É a lesão ao aspecto exterior da pessoa (afear/enfear), causa uma
alteração morfológica na vítima, mas para o pior.
Conceito: não é somente aleijão, mas qualquer marca que implique no afeamento
da vítima permanente ou pelo menos de uma duração longa, por causa da subsistência do
dano.
Elementos para configurar o dano estético:
1) Modificação ou transformação para o pior;
2) Lesão permanente ou de efeito prolongado ou duradouro;
3) Atinge a aparência externa da vítima.

Art. 949, CC: No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença,
além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Sempre que tivermos um dano estética, sempre se tem um dano moral, por isso
podem ser cumulados (Súmula 387, STJ). Como o dano estético é a violação integridade
psicofísica ou da dignidade da vítima, também é dano moral.
Pode ser delitual ou contratual, possui grande dificuldade de avaliação e os
Tribunais decidem por repetir o valor do dano moral para o dano estético.

A PERDA DE UMA CHANCE


(La perte d’une chance)
É um fato hipotético que migra para o campo da certeza (benefício final), pois é algo
que está próximo a ser alcançado. O que se indeniza na perda de uma chance é a grande
probabilidade de certeza.
É o dano que corta a possibilidade da vítima de adquirir algo financeiro, tendo
grande relação com os danos emergentes.
A perda de uma chance de vida ou de sobrevida:é o erro grotesco de
diagnóstico. Ocorre quando o médico da o diagnóstico errado da doença e evita que a vítima
possa providenciar o tratamento ou da cura da doença. Tendo em vista que é muito difícil
quantificar a perda de uma chance, usa-se o valor dado a título de dano moral, mas não pode
confundi-los.
Ex: advogado que perde o recurso e a cliente perde a chance de reaver o seu
direito (entendimento atual do STJ: além da perda do prazo, é preciso provar que havia
chances de alterar a decisão), que não comparece em audiência importante e prejudica a
parte, que deixa a ação prescrever ou decair e etc.

Dano existencial:
Quando se pede perda de uma chance, não se pede dano existencial, ambos
possuem as mesmas características e é pedido na Justiça do Trabalho. O dano existencial é
do direito italiano, enquanto a perda de uma chance é francesa.
Primeiramente, chamava-se de dano biológico, o que depois transformou-se em
dano existencial (lesão na atividade não econômica, alterando sua rotina, cotidiano-externo).
“Ter de agir de outra forma.”
O elemento principal é que a vítima não pode fazer mais o que fazia antes, mas não
é uma escolha e sim um fato que a vítima não pôde evitar. É uma limitação quantitativa e
qualitativa que a pessoa sofre em seu cotidiano, pois é um sacrifício de não poder mais fazer
certas atividades (uma renúncia forçada).
Tese jurídica prevalecente – TRT4: não configura dano existencial, passível de
indenização, por si só, a prática de jornada de trabalho excessiva. Divisão dos danos na
Justiça do Trabalho: danos materiais, danos extrapatrimoniais (dano moral e/ou dano
existencial) e dano estético.

5. Nexo causal: “causar”.


O único elemento que pode se abstrair é a culpa, dependendo da teoria, mas o
dano e o nexo causal nunca podem ser abstraídos, pois são elementos extremamente
importantes. É um elemento imprescindível.
É a ligação entre a conduta do agente e o resultado final (dano). A regra é que a
conduta do agente deve causar direta e imediatamente o dano, caracterizando o nexo.
Pode existir uma causa que rompa com o nexo causal, e quando romper, existem
as excludentes da conduta do agente:
a) O fato exclusivo da vítima, oportunidade em que a vítima deu causa ao dano e
rompe com o nexo causal.
b) O fato concorrente, quando ambos concorreram para o fato danoso (pode ter
indenização, mas não total).
c) Caso furtuito e força maior, quando reunir dois elementos: imprevisibilidade e
inevitabilidade.
O nexo também é chamado de nexo de causalidade ou etiológico. O nexo é fato,
não é jurídico, por isso é necessário prova como ocorreu. Na realidade, é o nexo causal que vai
indicar quem é o réu da ação indenizatória.
Quando há responsabilidade solidária entre os causadores do dano, o nexo causal
é chamado de plúrimo (todos participaram ou falharam).

TEORIAS QUE FUNDAMENTAM A RESPONSABILIDADE CIVIL

Teoria Subjetiva ou da Culpa: (“faute”)


Analisa-se o comportamento do agente causador do dano, isto é, a
responsabilidade nasce da falha no comportamento do agente. O que importa não
propriamente a vítima ou o dano causado, mas sim a culpa do agente.
Como regra geral, a responsabilidade civil ainda exige culpa em sentido lato sensu,
prevista no art. 186, CC. Para caracterizar a responsabilidade: conduta humana + culpa
(provada pela vítima) + nexo causal + dano. Faltando um desses elementos, pela teoria
subjetiva, a ação é julgada improcedente.
Todos os profissionais que possuem pacientes, caem na teoria subjetiva e deve
provar a culpa:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência,
imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou
inabilitá-lo para o trabalho.
Pode acontecer que, em alguns casos da teoria subjetiva, ocorre presunção de
culpa pelo fato ocorrido e só é necessário provar dano e nexo causal. Não confundir com a
teoria objetiva, porque aqui a culpa é provável e na teoria objetiva não tem culpa.

Teoria Objetiva ou do Risco:(“fait”)


Teoria baseada não mais na falha do agente, mas no fato danoso. Quem exerce
uma atividade perigosa e aufere lucros dessa atividade, deve assumir os riscos que ela deve
causar a terceiros. Por isso, essa teoria fecha muito bem com os acidentes de trabalho.
Antes do CC/2002, a culpa era a regra e a teoria objetiva era a exceção, pois estava
prevista em somente algumas leis específicas.
A presunção de culpa não existe na teoria objetiva, pois na teoria do risco só se
prova dano + nexo causal e a culpa é dispensada por completo. É uma teoria que prescinde da
culpa.
Algumas subteorias para aplicar a teoria objetiva:
a) Risco-proveito: atividade perigosa que gera lucro assume os riscos decorrentes
dela.
b) Risco-criado: basta que exponha alguém em perigo para assumir os riscos
decorrentes daquela atividade, não precisa necessariamente auferir lucro.
c) Risco administrativo.
d) Riscointegral: sem defesa para o agente.
e) Risco empreendimento.
f) Risco do desenvolvimento.

CC/2002:
Culpa (teoria subjetiva): arts 186 e 951, CC.
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência,
imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou
inabilitá-lo para o trabalho.

Risco (teoria objetiva): arts 187, 931 (risco do desenvolvimento), 933


(responsabilidade pelo fato de outrem), 936-938, 927, § único, CC.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados
pelos produtos postos em circulação.
Art. 927. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Cláusula geral: é uma técnica legislativa através da qual o legislador transfere ao
Juiz o dever de criar o direito no caso concreto. Segundo Miguel Reale, o Código Civil vem
“recheados de cláusulas gerais” cujo objetivo é fazer com o que o Código “nunca envelheça” na
medida em que o julgador poderá moldá-lo de acordo com as necessidades sociais e aplicá-lo
ao caso concreto. É por essa razão que o Código traz propositadamente termos vagos,
imprecisos, confusos até, para permitir essa mobilidade ao Juiz.
O Código Civil trouxe a cláusula geral do risco permitindo que o Juiz possa aplicar a
teoria objetiva no caso concreto, desde que não tenha nenhuma lei prevendo expressamente
ou outra teoria.
A cláusula geral não permite que o Juiz aja de forma arbitrária, a fim de evitar
“decisionismos jurídicos”, pois sempre o dispositivo da lei vai trazer alguns elementos que o
julgador, ao aplicar a cláusula geral, deverá fundamentá-la utilizando-se desses elementos (é
uma decisão fundamentada).

A cláusula geral pode ser aplicada quando se tratar de uma atividade,


normalmente desenvolvida pelo autor do dano, que implicarem risco para outrem.
Quando o Juiz se deparar com uma situação assim, não havendo dispositivo legal
para aplicar, deve analisar se pode aplicar o risco. Caso ainda não consiga aplicar o risco,
aplica a regra geral da culpa (teoria subjetivista). Mesmo que o CC tenha objetivado quase
todas as relações, a culpa ainda é a regra geral.

Atividade = serviço. É o isco proveito (tem que auferir lucro dessa atividade
desenvolvida – entendimento do Cavalieri) ou risco criado (não precisa auferir lucro na
atividade – entendimento de Alvino Lima).
Normalidade = frequência ou regularidade.
Risco = expor a outra pessoa em risco, isto é, perigosa.
Casos que não eram disciplinados ficando a cargo da cláusula geral:
1) Acidente de trabalho;
2) Atropelamento;
Ex: Uber que atropela alguém – é uma atividade/serviço desenvolvida para
auferir lucros, tem normalidade e é perigosa, por isso, assume o risco dos
danos ocorridos. Quem conduz a coisa perigosa, deve zelar pelo cuidado e
arcar com as consequências dos danos causados.
3) Profissionais liberais.

O acidente do trabalho passou a ser competência da Justiça do Trabalho e os


profissionais liberais possuem norma disciplinada no art. 14, § 4º, CDC (§ 4° A
responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de
culpa.), somente faltando aplicação legislativa para o atropelamento.
Só pode aplicar o risco quando não tiver nenhuma lei disciplinando aquela matéria
e, ainda assim, quando for aplicar a cláusula geral, é necessário verificar o enquadramento
correto.

Espécie de responsabilidade civil, teoria e base legal:


1. Profissionais liberais: De regra, é contratual. Aplica-se o art. 14, §4º, CDC, e a
teoria é subjetiva. Culpa provada pela vítima.
2. Das escolas privadas (danos nos alunos): Prestação de serviço e dever de
vigilância dos alunos. Se a escola não prestou um bom serviço (um aluno se
machuca na escola, por exemplo), a fundamentação utilizada é o art. 14, CDC.
A escola também se responsabiliza pelos alunos que causam danos a terceiros
e, nesse caso, não é CDC, é responsabilidade pelo fato de outrem.
A professora que causa dano a aluno, a responsabilidade é a do empregador
sobre o ato de seus empregados.
3. Do dano do imóvel, pela queda da marquise: De acordo com a jurisprudência, a
teoria aplicada é a do risco, pois o dono do imóvel responde pelo risco da queda
da marquise. Apesar da redação do art. 937 referir a culpa, a jurisprudência já
consolidou entendimento no risco.
4. Dos transportadores de pessoas e de coisas: Contratual. Teoria objetiva, art.
734, CC. Levar em segurança as pessoas e as coisas.
5. Do Juiz: Extracontratual. Teoria Subjetiva, art. 143, CPC. É necessário
comprovar dolo e fraude.
6. Na relação de consumo: Contratual. Teoria objetiva, art. 14, CDC.
7. Do dono do animal: Art. 936, CC. Extracontratual. Teoria objetiva.
8. Na carona ou transporte desinteressado: Extracontratual. Teoria subjetiva,
Súmula 145, STJ. Dolo ou culpa grave devem ser provados pela vítima.
9. No acidente de trânsito – carro x carro: Extracontratual. Teoria subjetiva, art.
186, CC e art. 29, I, CTB.
10. Atropelamento – carro x pessoa: Extracontratual. A regra é presunção de culpa,
mas ainda há a possibilidade de aplicar a cláusula geral do risco nos casos de
risco criado. Já nos casos de risco proveito, já é aplicada a teoria objetiva.
11. Dos pais, por ato dos filhos menores: Teoria objetiva, art. 932, I, e art. 933, CC.
Extracontratual pelo fato de outrem.
12. Do advogado: Contratual. Teoria subjetiva, art. 32 do Estatuto da OAB.
13. Dos provedores de internet:
Conteúdo: Extracontratual. Teoria subjetiva, pois é necessário provar que houve
negligência do provedor em não retirar o conteúdo impróprio. Art. 19 e 21.
Serviço: Contratual. Teoria objetiva, art. 14, CDC.
14. Dos notários e registradores: Teoria subjetiva, art. 22, da Lei nº 8.935/94 + art.
2º, Lei nº 13.286/16 (que alterou a lei).
15. Dos profissionais médicos: Contratual. Teoria subjetiva, art. 951, CC.
16. Dos hotéis (furto):
Se o cliente se machuca ou furta bagagens no hotel – Contratual, má prestação
de serviço. Art. 14, CDC + art. 932, IV, CC.
Empregado do hotel que causa danos – Fato de outrem, extracontratual e art.
932, III, CC + art. 933.

DUAS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL (diferenças entre elas):


a) Extracontratual ou Aquiliana ou Delitual:
Nasce da violação daquele dever jurídico de não lesar (princípio do neminem
laedere) e, portanto, a fonte geradora é o ato ilícito (art. 186, 187 e 927).
Como regra geral, a doutrina refere que o ônus da prova é da vítima, do autor da
ação.
A capacidade do causador do dano é irrelevante, pouco importa se ele tinha ou não
capacidade de causar aquele dano.
Contagem dos juros e correção monetária: quando se tratar de responsabilidade
extracontratual, o Juiz fixa os juros em 1% ao mês a contar do fato danoso (Súmula 54, STJ
+ Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde
que o praticou.).
A pretensão prescreve em 3 anos (art. 206, § 3º, V, CC). Contra os relativamente
incapazes corre prescrição, contra os absolutamente não corre.

Divisão das modalidades da responsabilidade extracontratual:


1) Direta = pelo fato próprio: o causador do dano que responde pelo o que
causou.
2) Indireta = pelo fato de outrem ou pelo fato das coisas: A lei atribui capacidade
para alguém responder por um dano que não cometeu, mas responde pelo outro (garante).
Pelo fato de outrem – art. 932:
I – Pais pelos seus filhos menores: são responsáveis porque decorre do poder
familiar e dentre os deveres, um deles é a guarda. Quem tem guarda, tem o dever de
vigilância. O incapaz pode responder junto de forma subsidiária e mitigada.
De regra, é o poder familiar que decorre da guarda, mas excepcionalmente quem
detém a guarda também responde. Se os pais estão separados de fato, os dois respondem
pelo dano, não importando quem tem a guarda fática.
No que tange à emancipação, existem três tipos: voluntária/outorgada/expressa,
dada por vontade dos pais por meio de instrumento público, judicial, dada por sentença do Juiz,
legal/tácita, dada por casamento ou colação de grau. O menor emancipado de forma
voluntária e judicial responde solidariamente com seus pais pelos danos que causar (é a
única hipótese em que há solidariedade na responsabilidade dos menores). Na emancipação
legal, os pais estão isentos da responsabilidade.
Não é a dependência econômica que determina a responsabilidade dos pais e sim o
poder família.
A regra é, todo aquele que pagar uma indenização em nome de outrem, tem direito
de reaver dele aquilo que dispendeu (ação de regresso). Mas a lei traz no art. 934 a exceção:
salvo se for descendente e incapaz. Se a filha paga indenização decorrente de ato da mãe
curatela, tem direito de regresso, porque contra ascendente não se encaixa na exceção.
II – Tutores e curadores pelos seus pupilos e curatelados:Os tutores e
curadores respondem pelo fato danoso cometido pelos seus tutelados e curatelas, que se
acharem nas mesmas condições de pais, mas no sentido de guarda e não de poder familiar.
Por isso, os tutores e curadores respondem e os incapazes de forma subsidiária (assim como
os menores). Caso o pupilo for emancipado, extingue a responsabilidade do tutor porque
perdeu a guarda.

III – O empregador pelo ato de seus empregados:


É presumida a culpa do patrão pelo ato culposo do empregado (presunção de culpa
in eligendo). O empregador assume os riscos pelos atos de seus empregados.
É preciso provar cinco elementos (precisam estar cumulados):
1º) A vítima deverá provar relação de subordinação ou de dependência ou de
preposição. Essa relação de subordinação não precisa surgir de um contrato de trabalho
formal, basta provar que aquela pessoa estava agindo por supervisão de outrem (não precisa
nem estar sendo remunerada).
2º) Normalidade do trabalho: preciso provar que aquela pessoa que causou o dano,
causou no horário compatível com o trabalho ou por ocasião do trabalho. Pode ser um horário
atípico, não previsto em contrato, como por exemplo um plantão, mas tem que estar em
ocasião do trabalho.
3º) Culpa do empregado no acidente: o risco é do empregador, mas se o
empregado tiver culpa (dano e nexo causal).
O empregador que paga tem direito de regresso, salvo se for descendente ou
incapaz (dificilmente vai ser). A responsabilidade dele é solidária, então a vítima que escolhe
contra quem quer interpor a ação (contra o empregado, contra o empregador ou contra os
dois).

Pelo fato das coisas:


Coisas animadas: os donos respondem pelos seus animais e também pelos danos
causados a outros animais.
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
Há possibilidade do dono do animal não responder pelos danos causados por ele
quando o animal está em clínica veterinária. Quem transfere a guarda, transfere o dever de
vigilância.
Coisas inanimadas:
Ruína de prédio: é tudo que se desprega da construção, como por exemplo, uma
lâmpada que cai em cima de alguém, queda de marquise, ruína de casa, queda de placa,
queda de muro, queda de arquibancada etc.
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de
sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
Embora a redação do Código Civil dê a entender que é culpa, é risco pela
construção jurisprudencial.
Objetos lançados pela janela: objetos que são jogados ou caem pela janela.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Atenção: quem habita o imóvel é o que responde pelo objeto lançado pela janela,
não o proprietário, diferentemente da ruína.

b) Contratual (dentro dessa espécie existe pré e pós):


Viola-se o contrato, inobservância dos deveres contratuais, é o inadimplemento ou
inexecução. A fonte é o descumprimento contratual (arts. 389 e ss).
A doutrina refere que, como regra geral, o ônus da prova é do réu, ele deve provar
porque não cumpriu o contrato.
A capacidade pode ser um fator extremamente importante, porque a falta de
capacidade pode tornar nulo o negócio jurídico, quando praticado por absolutamente incapaz,
por exemplo.
Contagem dos juros e correção monetária: fixado em 1% ao mês, a contagem dos
juros se da a partir da citação do réu (Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação
inicial.)
De acordo com o entendimento do Supremo, prescreve em 10 anos
(responsabilidade contra o médico). Quando for contrato com base no CDC, prescreve em 5
anos (responsabilidade contra o hospital).

Quando for identificada que a responsabilidade é contratual, é necessário fazer a


pergunta: qual é a obrigação que decorre do contrato?
Obrigação de meio: quando a pessoa tem que usar de todos os meios
necessários. A obrigação se da por cumprida se ele usou dos meios que tinha ao seu dispor,
independentemente do resultado. Ex: obrigação do advogado, obrigação do médico (de regra),
cirurgião reparador.
Desse modo, sempre que a obrigação for de meio, a teoria somente pode ser a
subjetiva com culpa provada pela vítima. Tem que provar que o profissional foi negligente,
imprudente ou imperito no momento de agir.
Obrigação de resultado: a pessoa só cumpre a obrigação se atingir o resultado,
ele fica vinculado a obtenção do fim. A teoria será a objetiva.

Responsabilidade no contrato de transporte:


É obrigação de resultado, pois tem o dever de transportar pessoas e coisas e levar
em segurança até o seu destino. Ex: contrato de transporte, contrato de depósito,
Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a
transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas.

Responsabilidade médica:
Em se tratando da responsabilidade médica, existe uma exceção: existem
atividades estéticas, como por exemplo a cirurgia plástica estética, cosmetológica e
embelezadora, que respondem pelo resultado, pois criou a expectativa da vítima e assume o
resultado. Ainda, nessa hipótese entra o dermatologista, o dentista que faz um procedimento
estético, implante dentário, anestesista, laboratorista, radiologista, etc.
Atenção para os profissionais liberais que possuem proteção da teoria subjetiva por
meio de CDC, nesse caso, não tem como ser risco.
Então, o médico que faz cirurgia plástica estética e dá errado: tem que provar dano
e nexo causal porque a culpa está presumida.A teoria é subjetiva com presunção de culpa
e não a objetiva.
O principal dever do médico não pode faltar com a informação, erro grosseiro de
diagnóstico, violar o consentimento do paciente e entre outros.

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