Você está na página 1de 29

DIREITO DA RESPONSABILIDADE (TEÓRICA)

19/09/2022
Datas dos pontos escritos: 1º 04/11/2022; 2º 09/12/2022
Responsabilidade civil: é uma das fontes do direito das obrigações, ou seja, são os factos que
dão origem à obrigação. A noção de obrigação está presente no Art.397º do CC. A
responsabilidade civil é um conjunto dos factos que dá origem há obrigação de indemnizar os
danos causados a outrem. É uma fonte das obrigações que assenta no princípio do
ressarcimento dos danos, e esta é a principal função da responsabilidade civil, ressarcir um
dano.
Tipos de Responsabilidade: Responsabilidade extracontratual, extra obrigacional ou delitual e
a Responsabilidade obrigacional ou contratual.
- Responsabilidade obrigacional: resulta do incumprimento de uma obrigação emergente de
um contrato, de um negócio jurídico unilateral ou da própria lei. O seu regime encontra-se
previsto nos Arts.798º e ss. Inclui não só a obrigação de indemnizar pela dita obrigação
principal que é violada, mas também pela violação dos deveres acessórios de conduta. Por
exemplo, o princípio da boa-fé (Art.762/2º).
- Responsabilidade extracontratual: o que dá origem há obrigação de indemnizar é a violação
de deveres genéricos de respeito ou abstenção. Fala-se da violação de direitos absolutos (por
exemplo, o direito á vida, direito á propriedade, etc.) mas também da violação das chamadas
normas de proteção de interesses alheios, isto é, são regras jurídicas que existem no nosso
ordenamento jurídico, mas as quais não correspondem direitos subjetivos para os lesados (por
exemplo, o código da estrada, as regras de consumo, etc.). Protegem interesses não
individuais de A, B ou C, mas interesses das coletividades, da comunidade em geral.
- 3 subtipos da Responsabilidade extracontratual: temos a Responsabilidade subjetiva ou por
culpa, a Responsabilidade pelo risco e a Responsabilidade por factos lícitos.
- Responsabilidade subjetiva: esta responsabilidade também é designada por responsabilidade
por factos ilícitos. É a regra geral e esta prevista no Art.483/1º. Pressupõe o preenchimento de
5 pressupostos: a existência de um facto voluntário, facto este que pode ser por ação ou por
omissão; a ilicitude, que corresponde em termos genéricos há violação de uma regra jurídica; a
culpa, que corresponde ao juízo de censura ou de desvalor do comportamento do agente; o
nexo de causalidade, que corresponde á imputação do resultado do dano ao facto e por fim o
dano e a existência do dano de um prejuízo causado por alguém é o pressuposto da existência
da responsabilidade civil, sem dano não há responsabilidade.
Estes pressupostos não se verificam em todos os subtipos da responsabilidade extracontratual,
só se verificam cumulativamente na responsabilidade por factos ilícitos. Na responsabilidade
pelo risco e na responsabilidade por factos lícitos prescinde-se obviamente da ilicitude e da
culpa. Independentemente da não verificação destes pressupostos há obrigação de indemnizar
porque existe um dano.
A responsabilidade subjetiva, por culpa ou por factos ilícitos, desempenha 3 funções distintas.
A primeira que é comum a todos os tipos de responsabilidade. A função reparadora de
ressarcimento do dano. Desempenha também uma função preventiva na medida em que se
pretende que o agente sabendo que vai estar obrigado á reparação do dano em alternativa
por comportamentos conformes á ordem jurídica e desempenha também uma função
punitiva, ao contrário das demais responsabilidades. Punitiva porque, a medida da
indemnização vai depender da existência e do grau da culpa. Exemplos: Art.494º (regra
excecional face á regra geral do direito penal). Na responsabilidade civil, por princípio, é
indiferente se o agente atua por dolo ou por negligência. Porquê? O objetivo da
responsabilidade é o ressarcimento do dano. No Art.494º o legislador estipulou que, de acordo
com os critérios de equidade, o montante da indemnização pode ser inferior ao montante do
dano causado tendo-se em consideração as circunstâncias em que ocorreu o facto danoso, a
existência de apenas negligência ou mera culpa por parte do agente e a situação económica do
agente e do lesado. Outras situações que é relevante a culpa do agente, temos o Art.497/2º e
o Art.507/2º. Contemplam os casos de pluralidade passiva e em que nas relações internas os
vários agentes respondem na medida das culpas respetivas. Um terceiro caso que ilustra
exatamente esta função punitiva, está relacionado com o Art.570º que prevê o concurso de
culpas entre agente e lesado. Isto significa que, havendo culpa do lesado vai haver uma
ponderação no cálculo da indemnização, podendo até não haver lugar a indemnização
(Art.570/1º). No Art.570/2º, o legislador excluiu mesmo a indemnização nos casos em que há
culpa do lesado que se afere nos termos do Art.572º e em que o agente responde ou com
culpa presumida ou pelo risco, ou seja, são aquelas situações (excecionais) em que o grau da
culpa determina o montante da indemnização.
- Responsabilidade pelo risco ou objetiva: é uma responsabilidade excecional nos termos do
Art.483/2º. O que significa que, só há responsabilidade sem culpa nos casos expressamente
previstos na lei. Se encontram nos Arts.499º e ss e em alguma legislação avulsa. Refiro o caso
da responsabilidade do comitente, aos danos causados por animais, aos danos causados por
veículos, aos danos causados por instalações de energia elétrica ou gás. Havendo mais casos
de responsabilidade objetiva em legislação avulsa como é o caso da responsabilidade do
produtor, da responsabilidade ambiental, etc. Este tipo de responsabilidade tem apenas uma
função preventiva e reparadora do dano, deixando de haver função punitiva. Como se
prescinde da culpa já não há função punitiva. No caso da importação, é feita de acordo com
critérios objetivos de distribuição do risco. Todas estas atividades/ situações, são situações que
apresentam, em princípio, um risco para a sociedade/ comunidade. Logo, faz sentido que
quem tira os frutos da utilização destes bens também assumem os riscos que eles causam,
independentemente, da existência de culpa ou não. Por exemplo, o facto de termos um
animal, independentemente de o cão ser agressivo ou não o ser, se uma pessoa vai a passear o
cão na rua e ele morde alguém, temos de reparar o dano causado mesmo que não haja
qualquer tipo de censurabilidade do comportamento.
- Responsabilidade por factos lícitos ou pelo sacrifício do direito de outrem: aqui neste tipo de
responsabilidade a única função é a reparação do dano. Como exemplos temos o Art.339/2º,
o Art.1322º, o Art.1348/2º, o Art.1349/1 e 2º. São situações em que o comportamento do
agente é lícito, não é censurável, mas ainda assim pode causar danos a terceiros. Sendo essa as
situações têm de ser reparadas por quem lhes deu origem.
Distinção entre Responsabilidade extracontratual e a Responsabilidade contratual.
Existem vários critérios que distinguem uma da outra. A responsabilidade extracontratual
encontra-se prevista no Art.483º e s. A terminologia utilizada para os sujeitos é a de agente ou
lesante contra o lesado. Na responsabilidade contratual a terminologia é a de devedor e
credor. O devedor é o agente ou lesante da responsabilidade extracontratual e o credor é o
lesado, é aquele que tem o direito á satisfação de uma obrigação. A responsabilidade
extracontratual pressupõe a violação de direitos absolutos (eficácia erga omnes, tem de ser
respeitados por todos) ou de normas de proteção de interesses alheios, enquanto a
responsabilidade contratual nasce na violação de direitos relativos ou de direitos crédito
(eficácia interpartes). Na responsabilidade extracontratual não existe uma relação prévia
obrigacional entre as partes, a responsabilidade resulta essencialmente da violação de direitos
previstos na lei, enquanto na responsabilidade obrigacional é pressuposto a existência de uma
relação obrigacional entre as partes (um negócio jurídico unilateral).
Questão prática: nos casos práticos a regra geral é a responsabilidade contratual. Isto significa
que, existindo uma relação previa entre as partes é a responsabilidade contratual que se
aplica. Isto porque estamos no âmbito do direito das obrigações em que predomina o princípio
da autonomia da vontade das partes. Portanto, pressupõe-se que, se as partes têm autonomia
para conformar a sua vontade também deve ser de acordo com este princípio da autonomia
daquilo que acordaram que devem resolver os conflitos emergentes da violação dessa relação
obrigacional. Num caso prático a primeira coisa que se deve ver é: existe ou não existe uma
relação jurídica obrigacional prévia das partes. Se existe temos de resolver a hipótese nos
termos da responsabilidade contratual. Se não existe teremos de aplicar a responsabilidade
extracontratual. Uma pessoa atropela outra, existe alguma relação obrigacional entre as
partes? Não existe. Uma pessoa celebra um contrato de compra e venda e destrói o quadro
para não haver a entrega da coisa, existe ou não uma relação obrigacional entre as partes?
Existe. Logo, não podemos ir pela responsabilidade por factos ilícitos pela destruição do
quadro. Temos de ir pela violação de um contrato de compra e venda que foi celebrado entre
as partes. Obviamente que há situações que dão origem ao mesmo tipo de responsabilidade.
Exemplo, compro 1kg de carne para jantar. A carne está em mau estado. Apanho uma
intoxicação alimentar. Fui para o hospital. Gastei dinheiro com o tratamento, médico e
internamento. Existe ou não uma relação jurídica obrigacional? Existe. Há um contrato de
compra e venda de um bem defeituoso. Há ou não a violação de direitos absolutos? Sim,
violação há integridade física das pessoas. Isto é uma situação que pode ser tratada por ambas
as responsabilidades. Qual se aplica? A contratual na medida em que estamos no âmbito do
direito das obrigações e no princípio da autonomia da vontade das partes. A responsabilidade
contratual é a mais vantajosa para o lesado credor.
Outro critério é a questão da imputabilidade. Quem é que responsável civilmente na
responsabilidade extracontratual? Art.488/2º. Os maiores de 7 anos. São imputáveis os
maiores de 7 anos, ou seja, respondem por factos danosos. Tem obrigação de indemnizar os
maiores de 7 anos. Para além do menor responder presume-se a culpa dos obrigados á
vigilância (os pais, o professor, a empregada, etc.) - Art.491º. O que determina a
imputabilidade? Considera-se que, a partir de 7 anos o individuo já tem capacidade para
querer e entender. Distinguir o bem do mal. Na responsabilidade contratual, a capacidade de
exercício adquire-se com a maioridade, maior de 18 anos- Art.122º e ss. Não é esta a regra que
se segue na responsabilidade penal ou criminal em que se considera que são imputáveis os
maiores de 16 anos. Estão excluídas obviamente, independentemente da idade, aquelas
situações em que transitoriamente o agente não estava em condições de querer ou entender.
Por exemplo, uma doença súbita, um desmaio, uma situação de coação, etc., ou seja, não
haverá lugar a responsabilidade. Não estão incluídas nestas situações aqueles casos em que as
pessoas culposamente se colocaram numa situação de falta de discernimento, por exemplo a
injeção de bebidas alcoólicas, de drogas. Quem pratica atos sob influencia de estupefacientes
ou de álcool, ainda que esteja transitoriamente inimputável, responde na mesma.

23/09/2022
No âmbito da responsabilidade civil temos vários pressupostos que têm de ser preenchidos.
Os pressupostos são aqueles, seja para a responsabilidade extraobrigacional e para a
obrigacional, verificando-se de maneira diferente de acordo com os vários subtipos de
responsabilidade.
- Por exemplo, o facto voluntário na responsabilidade extraobrigacional, a regra geral é uma
ação e na responsabilidade obrigacional é, regra geral, uma omissão.
- A ilicitude, na responsabilidade extraobrigacional, normalmente, é a violação de direitos
absolutos e na obrigacional é a violação de direitos de crédito ou relativos.
- A culpa, em termos genéricos, na obrigacional incumbe ao lesado a prova da culpa e na
extraobrigacional presume-se a culpa do devedor.
- O nexo de causalidade, a regra é o Art.563º. Teoria de causalidade adequada. Determinado
comportamento tem de estar apto á produção de um determinado resultado. O facto tem de
ser adequado ao resultado.
- O dano pode ser patrimonial, não patrimonial, real, material, etc.
NOTA: Estes pressupostos, sobretudo na responsabilidade extraobrigacional não se verificam
da mesma maneira.
Continuação da distinção entre a responsabilidade extraobrigacional e responsabilidade
obrigacional.
- A responsabilidade obrigacional começa pelo regime do não cumprimento. Este não
cumprimento pode ser: não imputável, ou seja, não culposo, dando origem aquilo que se
chama impossibilidade previsto no Art.790º e ss. Depois temos o imputável ou culposo que
tem direito a ser indemnizado. Na impossibilidade não há responsabilidade nem
indemnização. Na imutabilidade há responsabilidade e indemnização (Art.798º e ss).
- Quanto há terminologia ela é diferente. Na extracontratual usamos a terminologia agente ou
lesante contra o lesado. Na contratual utilizamos a terminologia credor, que corresponde ao
lesado, contra o devedor, que corresponde ao agente.
- Em relação á ilicitude, na responsabilidade extracontratual a regra é que a ilicitude se
consubstancia na violação de direitos absolutos (eficácia erga omnes) ou nas chamadas
normas de proteção de interesses alheios. Na contratual, a ilicitude se consubstancia na
violação de direitos emergentes de relações jurídicas obrigacionais, também designados por
direitos de crédito ou relativos (eficácia interpartes).
- Em relação á imputabilidade, vem prevista no Art.488/2º e são consideráveis imputáveis
(presume-se que tem capacidade para quererem entender os maiores de 7 anos- presunção
ilidível). Há situações de inimputabilidade transitória que são aceitáveis, aceitáveis na medida
em que levam á exclusão da responsabilidade por factos ilícitos, mas só se não forem estados
ditos culposos, se o agente se colocou culposamente num determinado estado porque ingeriu
álcool, droga, etc., essa inimputabilidade não é relevante para a determinação da
responsabilidade.

- Questão da culpa, a regra na responsabilidade extraobrigacional é nos termos do Art.487/1º


que a prova da culpa incumbe ao lesado. Há situações excecionais, situações estas que
representam determinados riscos para a sociedade e casos em que o legislador entendeu que
a prova da culpa era de tal forma difícil que acabaria por redondear numa ausência da
responsabilidade. Assim foram previstas algumas presunções de culpa- Art.491º (determina a
presunção da culpa dos obrigados á vigilância de incapazes), Art.492º (proprietários de bens
imóveis), Art.493º (nº1 presume-se a culpa dos obrigados á vigilância de animais e coisas
móveis e imóveis, nunca se aplica aos proprietários, os proprietários respondem pelo risco;
nº2 presunção de culpa das atividades perigosas, por exemplo a pirotecnia), Art.503/3º
(relativo a danos causados por veículos quando estes são conduzidos por terceiros e não pelo
proprietário, estabelece a presunção de culpa do comissário, o comissário é aquele que está
encarregado de exercer uma tarefa ou determinada atividade por conta de alguém). Portanto,
a presunção de culpa na responsabilidade extracontratual é a exceção sendo a prova da culpa
por parte do lesado. Na responsabilidade contratual a regra é a presunção de culpa do
devedor, ou seja, sempre que há um incumprimento incumbe ao devedor que não teve culpa
nesse incumprimento. Se comprovar que não teve culpa caímos no âmbito da impossibilidade.
Se não conseguir provar caímos no âmbito da responsabilidade contratual e ao lugar da
respetiva indemnização.
- A regra da prescrição, na responsabilidade extracontratual é de 3 anos (Art.498º). 3 anos a
contar da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete e é o mesmo
prazo para o direito de regresso no caso da pluralidade passiva. Pluralidade passiva, isto é,
aquelas situações em que há vários agentes, vários lesantes. Na responsabilidade contratual, a
regra geral são os 20 anos do Art.309º. Nos casos de pluralidade passiva, a regra da
responsabilidade extracontratual é a solidariedade e isso resulta do Art.497/2º, que se insere
no âmbito da responsabilidade por factos ilícitos e resulta também do Art.507/2º que se insere
no âmbito da responsabilidade pelo risco, ou seja, havendo uma pluralidade de responsáveis o
lesado pode exigir a totalidade da indemnização a um deles. Daqui a resulta que o responsável
demandado irá ter direito de regresso sobre os demais, na medida da culpa de cada um deles.
Pode haver vários responsáveis e pode haver culpas diferentes de cada um deles. Essa prova
da medida da culpa de cada um deles tem de ser invocada e defendida por cada um dos
responsáveis. Na responsabilidade contratual, a regra é a da conjunção que resulta do Art.513º
á contrariu. A regra é a da conjunção salvo disposição em contrário ou acordo em convenção
entre as partes. Cada um só responde pela sua cota parte da dívida.
- Em relação aos atos de terceiro, a responsabilidade extracontratual tem o Art.500º que
regula estes casos, mas que tem um regime bem mais restritivo do que a contratual. Este
Art.500º titula-se como responsabilidade do comitente (comitente é aquele que encarrega
alguém de uma determinada tarefa, esse alguém é o comissário), mas só haverá lugar a
responsabilidade do comitente se tiverem preenchidos 3 requisitos:
1. Existência de uma relação de comissão- ex. contrato de trabalho. Esta relação de comissão
pressupõe que o comissário atua sobre as ordens/ instruções do comitente. Outro exemplo de
uma relação de comissão é o facto de um pai encarregar o próprio filho de uma determinada
tarefa.
2. O comissário tem de praticar um facto danoso no exercício de funções. O facto danoso tem
de ser pratico por causa do exercício.
3. Tem de haver obrigação de indemnizar por parte do comissário.
- Estes requisitos são dispensáveis na responsabilidade contratual, visto que tem um regime
mais abrangente (Art.800º).
- Na responsabilidade extracontratual há possibilidade de recurso há equidade, na fixação da
indemnização (Art.494º). Essa possibilidade não existe na contratual.
- Por fim, a responsabilidade extracontratual consoante o tipo em que nos enquadramos pode
desempenhar uma função de reparação do dano, função preventiva do dano e função punitiva
do agente. Ao contrário do que acontece na responsabilidade contratual em que, a sua única
função é reparar ou ressarcir o dano.
- Em termos genéricos, o regime da responsabilidade contratual é mais vantajoso para o
lesado/ credor. O mesmo facto pode dar origem aos dois tipos de responsabilidade. Por
exemplo, a pessoa que vendeu uma carne estragada e provocou uma intoxicação alimentar.
Quando temos os dois tipos de responsabilidade privilegiamos a responsabilidade contratual,
na medida em que estamos no âmbito do direito das obrigações onde opera a autonomia da
vontade das partes (a autodeterminação das partes). Depois porque é também o regime mais
favorável em termos de prova, o prazo da prescrição e, por fim, é a posição adotada pela
jurisprudência/ doutrina em obediência á teoria da absorção. A responsabilidade contratual
absorve a responsabilidade extracontratual.

26/09/2022
Não houve aula

07/10/2022
Responsabilidade extracontratual por factos ilícitos: 483º/1 CC
Pressupostos:
1. Facto voluntário – conduta do agente;
2. Ilicitude – traduz-se no facto de esse comportamento ser contrário à lei, ou seja, na
violação de um dever que é imposto pela ordem jurídica;
3. Culpa – corresponde à imputação do facto ao agente. Pode ser analisada em várias
perspetivas e a mais importante será a censurabilidade do agente;
4. Dano – sem dano não há responsabilidade ao contrário da responsabilidade penal em
que a tentativa pode ser punida;
5. Nexo de causalidade – entre o comportamento do agente, ou seja, o facto e o dano.

1. Facto Voluntário:
Ser voluntário não tem a ver com a intenção. Corresponde a um comportamento
objetivamente dominável ou controlável pela vontade de um ser humano, que é
considerado responsável. É irrelevante a intenção e também a capacidade de exercício,
porque é-se responsável a partir dos 7 anos.
A existência do facto voluntário pressupõe a capacidade de querer e entender a
que se refere o art.º 488º/1 CC. O agente tem de estar em condições de poder escolher
adotar um comportamento diferente. Basta existir uma conduta que possa ser imputada a
um ser humano em virtude de este se encontrar em controlo da sua vontade.
Incluem-se aqui atos em que não existe representação mental, atos praticados por
distração, falta de autodomínio, imperícia ou falta de capacidade motora. Também se
incluem alguns atos de incapazes – 489º/1 e 2 prevê a indemnização por parte dos
inimputáveis.
Não são considerados factos voluntários os danos causados por factos exteriores
como terramotos, raios, tufões, etc., ou seja, excluem-se os atos resultantes de causa de
força maior ou atuações irresistíveis de circunstâncias furtuitas, ou, ainda, causas naturais.
Só não são considerados factos voluntários aqueles que não são possíveis de antever e
combater. Não são considerados factos voluntárias aquelas situações em relação às quais
o agente não está consciente ou não pode exercer o domínio da sua vontade – doença
súbita, se encontra sob coação física.
O facto voluntário pode ser positivo ou negativo. Na responsabilidade por factos
ilícitos a regra é o facto voluntário positivo ao contrário da responsabilidade contratual em
que a regra...
O facto positivo – 483º/1 CC – corresponde à violação de um direito subjetivo
absoluto, ou seja, da violação de um dever geral de abstenção ou de não ingerência na
esfera jurídica de outrem. As omissões, isto é, os factos negativos pressupõem a
conjugação do art.º 483º/1 e do 486º CC e é mais difícil imputar o facto ao agente porque
estas só são relevantes quando existe o dever especial de praticar o ato, ou de adotar o
comportamento, resultante da lei - dever de vigilância dos pais: 491º, 492º e 493º ou de
negócio jurídico.

2. Ilicitude:
Adoção de comportamentos contrários à lei – 483º/1 CC - traduz-se num juízo de
desvalor ou reprovação do comportamento do agente a menos que este tenha atuado
com dolo. Consubstancia-se na violação de direitos absolutos ou na violação de normas de
proteção de interesses alheios. A estas causa de ilicitude acresce o abuso de direito (art.º
334º CC), a colisão de direitos, a ofensa do crédito ou do bom nome (484º CC) e os
conselhos, recomendações ou informações.
A violação de direitos – 483º/1 – absolutos em contraposição com os direitos de
crédito que só têm proteção a nível da responsabilidade contratual. Dentro destes direitos
absolutos mais concretamente os direitos pessoais, como o direito à vida, direito à
integridade física e moral, direito à saúde, à propriedade. Incluímos aqui também os
direitos de personalidade, como direito ao nome, à imagem, à intimidade da vida privada,
etc. Para além dos direitos pessoais fazem parte do leque dos direitos absolutos, os
direitos reais, de propriedade industrial e os direitos de autor, da mesma forma que os
direitos pessoais de gozo, como o arrendamento (1037º/2), o comodato, a parceria
pecuária. Ainda se incluem direitos familiares de natureza patrimonial, como é o caso do
direito dos cônjuges à meação dos bens comuns (art.º 1691º ?)
A segunda causa será a violação de normas de proteção de interesses alheios, que
não são individuais dos indivíduos, mas sim, valores como a paz, a segurança, a circulação
rodoviária. Estas normas correspondem a normas que são dirigidas à proteção de
interesses particulares, embora não atribuam verdadeiros direitos subjetivos por não
preverem para os indivíduos o aproveitamento de um bem em exclusividade (segurança,
paz, circulação rodoviária).
Num caso em que o agente vai em excesso de velocidade temos
Para que se verifique esta ilicitude exige-se que alguém tenha desrespeitado
determinada imposição ou norma legal, cujo fim consista na tutela de interesses
particulares (diferente de interesses individuais) e que o dano se verifique no círculo de
interesses que a norma visa tutelar – há determinadas regras para o fabrico de certos
produtos alimentares, havendo duas fábricas de queijo vizinhas, se um dos indivíduos
violar uma dessas regras tornando o produto impróprio para consumo é responsabilizado
apenas pelo dano causado aos consumidores, mas não pelo dano causado ao concorrente
por não ter conseguido vender queijo nesses meses, ou seja, é necessário que se
preencham estes requisitos.

Temos Causas Especiais de Ilicitude:


- Abuso de direito – 334º CC – o comportamento do agente não é contrário à lei,
nem viola nenhuma regra jurídica, pelo que o que se censura é o exercício abusivo do
direito de que é titular. Estamos perante uma situação de abuso de direito, considerando
este exercício ilegítimo, quando o seu titular excede manifestamente os limites impostos
pela boa-fé, pelos bons costumes (conceções morais ou sociais dominantes na
coletividade) ou pelo fim social ou económico desse direito – o proprietário de um pomar
pode acautelar a sua produção, mas não pode eletrificar a vedação do pomar ao ponto de
causar a morte a alguém, nem tão pouco afastar os eventuais perigos com caçadeira.
Também se inclui aqui o “venire contra factum proprium” – quando é o próprio
comportamento do agente que induz o lesado em erro levando-o a tomar uma
determinada conduta em função do agente

- Não cedência em caso de conflito/colisão de direitos – 335º CC – se os direitos


forem iguais, cada um dos seus titulares tem de se abster dos comportamentos que
impliquem para os outros titulares a impossibilidade de exercerem os seus direitos
(compropriedade – 1406º/1). Se os direitos não forem iguais – 335º/2 – o titular do direito
inferior deve ceder perante o titular do direito superior (direito do locatário ao gozo da
coisa – 1031º/b) – e o direito do proprietário, no mesmo contrato, a nela fazer obras).
Tanto no nº1, como no nº2, se não houver cedência não haverá lugar a responsabilidade
civil.

10/10/2022
Art 483º CC
Art 484º CC ofensa ao crédito e ao bom nome: em relação ao crédito, quando determinado
comportamento afeta o crédito e diminui a confiança na capacidade ou a vontade da pessoa
para cumprir a sua obrigação; em relação ao bom nome, a consequência será a afetação da
reputação da pessoa e do seu prestigio quer em termos pessoais quer em termos profissionais;
Não bastam meras alusões ou rumores, tem de haver a imputação de um facto ao agente;
Abrange a difusão de noticias ou factos em relação a alguém sejam verdadeiros ou falsos;

Posição defendida:
A difusão de factos falso deve ser proibida, logo da asas à responsabilidade civil. Quanto à
divulgação de factos verdadeiros só deve ser admitida se tiver por objetivo servir o interesse
legitimo.

Art 485º responsabilidade por conselhos, recomendações, informações : adoção de um


determinado comportamento, na informação não existe qualquer proposta de conduta. Em
suma, quem recebe o conselhos, recomendações, informações é que deve aferir da vericidade
dos mesmo. O nº1 estabelece-se a regra geral, consideramos irrelevantes ainda com
negligencia, conselhos, recomendações, informações não dão, regra geral, lugar a
responsabilidade civil, mesmo que sejam prestado de forma negligência;
Nº2 preve situações em que pode haver lugar a responsabilidade civil:
1ª quem o presta assume a responsabilidade, 2ª quando existe o dever jurídico de dar o
conselhos, recomendações, informações e se procedeu com negligencia ou ate com intenção
de causar prejuízo, 3ª quando o procedimento do agente constitui facto punível

Causas de exclusão da Ilicitude

Ao consagrar causas de exclusão de ilicitude, há comportamento que em teoria são ilícitos em


relação aos quais pode haver exclusão de responsabilidade civil:
Causas de Exclusão de Ilicitude Gerais:
Cumprimento de um dever - quando há conflitos de deveres (deve se dar a primazia ao dever
de natureza superior), o conflito de dever não pode ter origem num comportamento do
agente; dever de obediência hierárquica (só é relevante o de direito público, o desrespeito
pela ordem corresponde a um crime, art 271º CRP, o funcionário tem de provar a divergência
da ordem dada, deve reclamar ou solicitar a ordem por escrito);
Exercício de um direito - art 304º (abuso do direito, deve ser entendido de forma restrita, ex
direito à caça, nestas situações não são obrigados a indemnizar pelos animais selvagens que
caçam mas são obrigados a indemnizar por todos os danos que causem a pessoas ou aos bens
dos proprietários) e 305º (colisão de direitos);
Causas de Ilicitude Especiais:
Ação direta (336º): pretende-se restabelecer um direito que já foi violado, aqui a ação ja
passou;
Legitima defesa (337º), a ação tem de ser no momento;
Estado de necessidade (339º)
Consentimento do lesado (340º)

As primeiras estão relacionadas com o direito à defesa e à resistência, art 21º CRP, no fundo
são meios de autotutela, o que é excecional porque são as autoridades policiais que deve
assegurar a defesa dos cidadãos.
Recurso à força, não pode ser utilizada para a defesa dos interesses alheios.
Nao se pode exceder o estritamente necessária para evitar o juízo;
Verificando-se os pressupostos a ação direta é considerada licita não havendo lugar a
indemnização.
Art 338º o erro dos pressupostos da ação direta;
Caso o erro seja desculpável pode não haver também lugar à responsabilidade;

- Ofensa ao crédito e ao bom nome – 484º CC – em relaçã o ao crédito estamos


perante uma ofensa quando determinado comportamento afeta o crédito e diminui a
capacidade ou a vontade da pessoa para cumprir a sua obrigaçã o. Afeta a confiança.
Em relaçã o ao bom nome, a consequência é a afetaçã o da reputaçã o da pessoa e do seu
prestígio quer em termos pessoais quer em termos profissionais. Implica algumas
questõ es: nã o bastam meras alusõ es ou rumores, tem de haver a imputaçã o de um
facto ao agente; esta disposiçã o abrange a difusã o de notícias ou factos em relaçã o a
alguém sejam verdadeiros ou falsos. A questã o que no fundo se coloca é saber se pode
haver lugar a responsabilidade pela difusã o ou factos em relaçã o a alguém
independentemente da sua veracidade ou nã o.
1ª posiçã o – Pessoa Jorge – só haverá responsabilidade civil se os factos forem
falsos. Se forem verdadeiros
2ª posiçã o – Antunes Varela e Meneses Cordeiro – defendem que haverá lugar
à responsabilidade civil, mesmo que os factos sejam verdadeiros, desde que se prove o
dano;
3º posiçã o – Almeida Costa – defende a irrelevâ ncia da veracidade ou falsidade
do facto, mas defende também que se a difusã o de quaisquer, corresponder a
interesses legítimos, deve excluir-se a responsabilidade se os mesmos forem
verdadeiros;
4ª posiçã o – Ribeiro Faria – defende que a divulgaçã o de fcatos verdadeiros só
deve dar origem a responsabilidade civil se houver dolo, a intençã o de causar o dano a
alguém.
A nossa posiçã o é que a difusã o de factos falsos deve ser proíbida, pelo que
deve dar origem a responsabilidade civil e indemnizaçã o. A divulgaçã o de factos
verdadeiros só deve admitida se tiver como objetivo servir um interesse legítimo

- Proteção em caso de Conselhos, Recomendações e Informações– 485º CC –


nos primeiros dois há a adoçã o de um determinado comportamento. Na informaçã o
nã o existe qualquer proposta de conduta. A conclusã o que se retira desta disposiçã o é
que quem recebe o conselho, recomendaçã o e informaçã o é que deve aferir da
veracidade dos mesmos.
O nº 1 estabelece a regra geral, considerando irrelevantes, ainda que com
negligência, ou seja, conselhos, recomendaçõ es ou informaçõ es nã o dã o lugar a
responsabilidade civil, mesmo que sejam dados sem ter conhecimento do que está em
causa.
O nº2 prevê determinadas situaçõ es em que pode haver lugar a
responsabilidade civil:
- Quando quem os presta assume a responsabilidade dos danos que daí advenham;
- Quando existe o dever jurídico de dar o conselho, recomendaçã o ou informaçã o e se
procedeu com neglicência ou até com intençã o de causar prejuízo (médico, advogado);
- Quando o procedimento do agente constitui facto punível.

Causas Justificativas ou de Exclusão da Ilicitude:


O legislador estabeleceu a ilicitude como um dos pressupostos da responsabilidade
civil por factos ilícitos, no entanto ao consagrar causas de exclusã o de ilicitude significa
que há comportamento que em teoria sã o ilícitos, mas que em relaçã o aos quais pode
nã o haver lugar a
Dois tipos:
1. Gerais:
a) Cumprimento de um Dever - o primeiro coloca-se essencialmente quando há
conflitos de deveres (deve ser dada primazia ao dever de natureza superior); o
conflito de deveres nã o pode ter tido origem num comportamento do agente.
O dever de obediência hierá rquica – só é relevante o de direito pú blico.
Exceçõ es:
Em primeiro lugar o dever de obediência cessa se a prá tica ou o respeito pela
ordem corresponde a um crime – 271º/2 e 3 CRP – o nº 2 defende que o
funcioná rio ou inferior hierá rquico tem que mostrar e fazê-lo de forma que
possa provar mais tarde, a divergência com a ordem que foi dado, para esse
efeito deve reclamar ou solicitar a ordem por escrito.

b) Exercício de um Direito – art.º 334º e 335º CC – abuso de direito e colisã o de


direitos. O exercício de direito deve ser entendido de forma restrita (direito à
caça, que podem utilizar determinados mó veis rú sticos – nã o sã o obrigados a
indemnizar pelos animais selvagens que caçam, mas sã o obrigados a
indemnizar os outros danos que causem a pessoas ou a bens dos proprietá rios.

2. Especiais: as três primeiras baseiam-se no direito à defesa e à resistência – 237º e


21º CRP. No fundo sã o meios de autotutela, que é excecional porque devem ser as
autoridades competentes a tutelar a situaçã o.
a) Ação direta – 336º CC – recurso à força para assegurar o direito já violado do
pró prio, nã o pode ser utilizada na defesa de interesses alheios ao contrá rio da
legítima defesa e do estado de necessidade. O que se pretende aqui é
restabelecer um direito que já foi violado.
Requisitos: impossibilidade recorrer em tempo ú til ao termos coercivos
normais sob pena de se perder o direito; nã o se pode exceder o estritamente
necessá rio para acautelar o direito; nã o podem ser sacrificados interesses
superiores à quele que se pretende recuperar. Verificando-se estes
pressupostos, a açã o é considerada lícita, nã o havendo lugar a indemnizaçã o. O
art.º 338º prevê o erro sobre os pressupostos da açã o direta. Se o erro for
desculpá vel ...
b) Legítima defesa – 337º CC;
c) Estado de Necessidade – 339º CC;
d) Consentimento do lesado – 340º CC.

14/10/2022
AÇÃO DIRETA:
A açã o direta é para tutelar direitos pessoais (estado de necessidade e a legítima
defesa podem tutelar direitos alheios) – é necessá rio quando é impossível em tempo ú til
recorrer aos meios coercivos normais, nomeadamente as autoridades policiais.
Na açã o direta o agente tem de ser titular de um direito. O recurso à força tem de
ser absolutamente indispensá vel dada a impossibilidade de recorrer em tempo ú til ao
meios estaduais, nã o se pode exceder os estritamente necessá rio para a assegurar o
direito – na legítima defesa é admissível o excesso a da legítima defesa desde que
justificada pelo medo ou ?
Na açã o direta estamos a reagir contra a violaçã o anterior de um direito – mais
ataque que defesa. Nã o podem ser sacrificados interesses superiores ao que o agente visa
assegurar. Verificados estes requisitos, o facto é considerado lícito nã o havendo a
obrigaçã o de indemnizar – art.º 336º CC e 338º (situaçã o de açã o direta potativa). A açã o
direta potativa é quando o agente está convencido de que se verificam os requisitos e os
mesmos nã o se verificam – há erro sobre os pressupostos da açã o direta. O primeiro
requisito de ser titular de um direito pró prio (exemplo de um guarda-chuva igual ao do
agente). É desculpá vel mediante o critério do homem médio – art.º 487º CC.

LEGÍTIMA DEFESA: art.º 337º CC


Pretende-se afastar uma agressã o atual e ilícita da pessoa ou do patrimó nio do
pró prio agente ou de terceiro.
Requisitos: ofensa da pessoa ou dos bens de alguém em virtude de uma açã o de
outrem. Pressupõ e-se a existência da açã o – nã o pode ser utilizada no caso da omissã o –
essa açã o tem de ser atual e ilícita, mesmo que nã o seja culposa (atual no sentido de ser
iminente, que nã o era previsível, nem espectá vel, nem prová vel). Tem de haver
impossibilidade de naquele momento recorrer aos meios coercivos normais e tem de
haver proporcionalidade entre o prejuízo que se causa e o que se pretende evitar - nã o
podemos matar ninguém para defender um direito de propriedade - de modo a que nã o se
provoque um dano manifestamente superior ao que se pretende afastar (o dano pode ser
superior ao que pretendemos afastar, nã o pode é ser muito superior – manifestamente).
Verificados estes requisitos nã o há a obrigaçã o de indemnizar.
Nã o pode haver legítima defesa de legítima defesa – A agride B, B defende-se e
manda-lhe um soco. A, para se defender, manda outro soco a B.
Pode haver legítima defesa do pró prio – alguém que se vai matar numa ponte e uma pessoa
ao evitar que essa se atire parte-lhe um braço – o agente está a defender o terceiro de si
pró prio.
Tal como a açã o direta pode haver erro sobre os pressupostos – art.º 338º CC – se
for desculpá vel (critério do homem médio) o ato é considerá vel lícito.
Se o erro nã o for considerado desculpá vel, a atuaçã o é considerada ilícita e há
lugar a indemnizaçã o.
Excesso – pode resultar da propriedade do meio utilizado (se uma pessoa está
numa luta e um deles saca de uma arma branca - nã o há igualdade de meios, logo é
excessiva a legítima defesa; ou alguém de 1,5 m a lutar com um anã o). Verificados os
requisitos de excesso, ainda assim o facto pode ser considerado lícito, se resultar de
perturbaçã o ou medo.
Sã o circunstâ ncias que perturbam o agente e que o impedem de querer e entender aquilo
que quer fazer – 487º CC.

ESTADO DE NECESSIDADE: art.º 339º CC


Quando se verificam os requisitos, dá origem a responsabilidade por factos lícitos –
339º/1 CC – “coisa alheia” pode abranger o corpo humano. Para haver lugar ao estado de
necessidade, o dano que se pretende evitar tem de ser manifestamente superior, porque o
bem que está a ser lesado é o bem de terceiro que nada tem a ver com a situaçã o – nem de
que quem provoca a ameaça nem de quem se está a defender (criança que atravessa a rua,
alguém para nã o a atropelar desvia-se e bate num carro estacionado – o lesado é o dono do
carro estacionado, que nada tem a ver com a situaçã o).
Quem atua em estado de necessidade, em princípio, pratica um ato lícito. No
entanto, é lícito, mas há a necessidade de indemnizar – porque quem sofre o dano é um
terceiro que nada tem a ver com a fonte do perigo. Em perigo é o agente que tem de
indemnizar, se a situaçã o do perigo for exclusivamente culpa sua, mas no 339º/2 está
prevista a possibilidade de a indemnizaçã o ser repartida ou partilhada de acordo com
critérios de equidade nã o só com o agente, mas de todos aqueles que tiram proveito da
situaçã o.

Três exemplos de estado de necessidade:


- A, para não atropelar C, bate no carro estacionado de B – temos estado de
necessidade, porque B é um terceiro, enquadra-se no 339º CC;
- A, para não atropelar C, bate no veículo de C – art.º 340º CC - Consentimento
Presumido do Lesado: presume-se que C prefere que lhe estraguem o carro a fim de nã o
ser atropelado;
- A, para não atropelar C, bate no seu segundo veículo que está estacionado à porta
de casa – gestã o de negó cios do art.º 464º CC.

CONSENTIMENTO DO LESADO: art.º 340º CC


Nã o pode haver consentimento se estivermos perante atos contrá rios a uma
proibiçã o legal ou aos bons costumes (mesmo que haja consentimento nã o se pode vender
ó rgã os humanos).
O consentimento pode ser expresso ou tá cito – é expresso quando consentimos um
exame médico por exemplo; é tá cito na participaçã o de provas desportivas, por exemplo –
é necessá rio que sejam respeitadas as regras do jogo e que o ato lesivo nã o seja
considerado doloso – 340º/1 CC.
Ainda podemos ter o consentimento presumido – 340º/3 CC – quando uma pessoa nã o
está em condiçõ es de o prestar – em caso de acidente por exemplo.

17/10/2022
Ver bem a resolução dos casos da joana
Caso Prático nº1
No dia de Carnaval, Jorge participava, com os amigos, num jogo de futebol. No decurso do
jogo, Jorge acabou por fraturar um dedo da mão em virtude de uma disputa da bola com
Nuno.
Toldado pela dor, Jorge pega na “bandeirola de canto” e intenta agredir Nuno. Tiago, para
evitar a agressão, envolve-se num confronto físico com Jorge, acabando por lhe fraturar uma
perna. Quando Jorge jazia inanimado no chão, Tiago, completamente descontrolado,
continuava a bater-lhe com um pau. Eis que, para socorrer o marido, Sofia atinge Tiago com
um disparo de uma pistola.
1º Partimos sempre do Art.483º. Identificar os pressupostos (dano, nexo de causalidade,
culpa, ilicitude, facto voluntário).
1º momento: “No dia de Carnaval, Jorge participava, com os amigos, num jogo de futebol. No
decurso do jogo, Jorge acabou por fraturar um dedo da mão em virtude de uma disputa da
bola com Nuno.” Existe um facto voluntário (agressão). Em termos genéricos, o
comportamento é ilícito (violação de um direito absoluto- violação da integração física). Temos
de ver se opera alguma causa de exclusão da ilicitude, se operar falha o pressuposto, e não há
lugar a responsabilidade civil. No caso sub judice, temos uma causa de exclusão da ilicitude
(Art340º) - consentimento do lesado de uma forma tácita (participação de atividades
desportivas). Consentimento tácito – causa de exclusão da ilicitude. Temos de ver os
pressupostos. Não há lugar a responsabilidade por parte do Nuno- Art.340º. Como opera uma
causa de exclusão não há responsabilidade civil, visto que os pressupostos têm de ser
cumulativos.
2º momento: “Toldado pela dor, Jorge pega na “bandeirola de canto” e intenta agredir Nuno.
Tiago, para evitar a agressão, envolve-se num confronto físico com Jorge, acabando por lhe
fraturar uma perna.” Existe um facto voluntário (agressão). Quanto á ilicitude temos a mesma
situação. Violação de um direito absoluto (Art.70º). Opera alguma causa de exclusão? Opera a
legitimidade de defesa de terceiro (Art.337º) - comportamento defensivo/reativo, que
pressupõe que se esteja a rebater uma ação ilícita (ação de Jorge) e atual (iminente que está a
acontecer naquele momento); critérios da proporcionalidade e equiparação dos interesses em
causa – não pode ser manifestamente superior – critério do Homem Médio (art.º 487º CC –
juízo de prognose póstuma). Para além disso não pode ser possível recorrer em tempo útil aos
meios coercivos estatais/normais (polícia). Legitima defesa pode ser própria ou de terceiro,
neste caso temos de terceiro. Não haveria lugar a responsabilidade civil. Eventualmente, podia
suscitar um excesso de legitima defesa.
3º momento: “Quando Jorge jazia inanimado no chão, Tiago, completamente descontrolado,
continuava a bater-lhe com um pau.” Num terceiro momento – 483º/1 em relaçã o ao Jorge
– temos uma açã o (agressã o aos pontapés); temos ilicitude – violaçã o da integridade física
do Jorge. Nã o opera nenhuma causa de exclusã o de ilicitude (falha a existência da defesa
de uma açã o); é uma açã o dolosa; nexo de causalidade – 563º CC – os danos resultam da
açã o; os danos podem ser patrimoniais (562º CC) ou nã o patrimoniais (496º CC). Aqui há
lugar a responsabilidade civil, logo há lugar a indemnizaçã o.

4º momento: “Eis que, para socorrer o marido, Sofia atinge Tiago com um disparo de uma
pistola.” Aqui o que nos interessa é o facto de utilizar a pistola. Estamos sempre no âmbito do
Art.483/1º. Analisar os 5 pressupostos cumulativos. Facto voluntário (tiro com uma pistola).
Ilicitude (violação de um direito absoluto, ofensa á integridade física – 70º). Opera causa de
exclusão de terceiro, legitima defesa de terceiro. Temos um comportamento de reação, Sofia
atua em defesa do marido. É atual. Não uma proporcionalidade de meios. Impossibilidade de
recorrer aos meios coercivas normais. Por isso, operaria uma causa de exclusão de ilicitude. Há
aqui uma legitima defesa excessiva. Há excesso (337/2º). O excesso pode ser desculpável se
for causado por medo ou perturbação.
a) Jorge quer ser indemnizado por Nuno e Tiago. Quid Iuri?

b) Tiago quer ser indemnizado por Jorge e Sofia. Quid Iuri?

Caso Prático nº2


Certo dia furtaram a Jorge um relógio de coleção que, ao que ele sabia, era o único existente
em Portugal. Uma semana depois, Jorge viajava no metro quando reparou num passageiro que
tinha no pulso um relógio igual ao seu. De imediato dirigiu-se a esse passageiro, gritando e
gesticulando, exigindo-lhe a entrega do relógio. O passageiro, Peter, de nacionalidade
irlandesa, assustado, pensando que estava a ser vítima de um assalto, começou a fugir. Jorge
foi no seu encalço até que o agarrou tentando tirar-lhe o relógio. Peter reagiu tendo desferido
um pontapé a Jorge que, em consequência, ficou com uma costela fraturada. Sabendo-se que
o relógio que Peter tinha era seu e que os dois intervenientes na situação sofreram danos, será
que têm direito a indemnização?
Fazer o esquema do dano, agente e lesado.
Resolução: Não responsabilidade sem dano.
1º momento: Responsabilidade extracontratual. Resultado do furto. Art.483º - pressupostos.
Facto voluntário (furto do relógio). Ilicitude (violação de um direito absoluto - direito de
propriedade Art.1305). Culpa (Art.487º e ss), temos um comportamento doloso. Não importa
se o agente atua com dolo ou negligencia desde que pague. Temos um nexo de causalidade
(Art.563º), e temos um dano, essencialmente, patrimonial (Art.562º e ss).
2º momento: Responsabilidade extracontratual. agente (Jorge), lesado (Peter), dano (eventual
relógio). Art.483º. Facto voluntário (agressão- Art.70º). Ilicitude (violação da integridade física).
Causa de exclusão da ilicitude – Ação direta (Art.336º) - requisitos da ação direta (Art.335º e
337º). Temos determinados pressupostos. Pressupostos preenchidos. a reação de Jorge é
proporcional, se não houvesse possibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos
normais. O problema é saber se o relógio era de Jorge ou não? Não é do Jorge. Estamos
perante ao erro sobre os pressupostos da ação direta (Art.338º). Estamos perante a uma ação
direta, há erro sobre os pressupostos (Art.338º) – titularidade do relógio. Como existe um erro
sobre os pressupostos pode ser considerado desculpável, se for desculpável não haverá lugar a
indemnização.
3º momento: lesado (Jorge), agente (Peter), dano. O Jorge agride Peter e este para se
defender parte-lhe uma costela – art.º 483º/1 – existe facto voluntário (ação de agressão);
ilicitude (temos uma agressão que põe em causa a integridade física). No entanto, temos uma
causa de exclusão de ilicitude porque estamos perante legítima defesa – tem de ser uma ação
atual e ilícita (se considerarmos a agressão de Jorge lícita ou desculpável, o Peter não tem
legítima defesa, mas se for considerada ilícita ou não desculpável, o Peter está em legítima
defesa) desta forma a indemnização varia consoante a qualificação da agressão de Jorge como
lícita ou ilícita.

21/10/2022

Pressuposto da Culpa

A responsabilidade civil por factos ilícitos também é designada por responsabilidade subjetiva,
porque assenta na culpa e é a regra, nos termos do artigo 483º/1 do CC só existe
responsabilidade sem culpa nos casos previstos no termos do artigo 483º/2 do CC. A culpa
pode ser analisada em vários aspetos. Temos pelo menos 7 pontos distintos para referir a
prepósito da culpa.

1) Na imputação do facto ao lesado:

Aquilo que representa enquanto pressupostos da responsabilidade por factos ilícitos. Os


termos em que se processa esta imputação encontra se prevista no artigo 488º do CC. Neste
artigo nº1 vimos onde é que se traduz esta imputação.
É na capacidade de querer e entender – no momento, em que, o facto ocorreu estava
incapacidade de querer e entender. A contrário significa que tem capacidade de responder
civilmente quem tem capacidade para querer e entender – elemento volitivo (relativo à
vontade ao querer) e o elemento cognitivo (relativo ao discernimento\entender).
Em bom rigor, é o nº2 que nos diz quem é imputável, ou seja, este artigo do 488º do CC define
a culpa pela negativa, quem é que não é imputável e nos a partir daqui deduzimos quem é
imputável.
No termos do artigo 488º/2 presume-se inimputável os menores de 7 anos e os maiores são
considerados imputáveis.
Atenção: Presunção ilidível – admite prova em contrato. Significa que pode haver menores de
7 anos que são considerados imputáveis e pode haver menores de 7 anos que são
considerados inimputáveis – tudo depende do caso concreto
Regressando ao artigo 488º/1 do CC, o legislador previu determinadas situações em que
independentemente da idade (maiores de 7 anos) ainda assim não respondem,
inimputabilidade transitória.
Ou seja, quem em determinado momento não está capacitado para querer e entender.

Por exemplo:
São aquelas situações em que a uma pessoa tem uma doença súbita, como um ataque
cardíaco. Não serão relevantes estas situações se o agente se colocou culposamente nela.
Imaginemos, deixar adormecer, o estar sob efeito de álcool, estupefacientes, medicamentos
que incapacitam – há muita medicação em que as bulas dizem que ingerir aquele
medicamento não pode conduzir.
Apesar da inimputabilidade, o legislador previu a possibilidade dos inimputáveis poderem
responder, artigo 489º/1 CC.
Prevê se esta situação por questões de equidade, parte-se do princípio de que só haverá
indemnização por pessoa não imputável desde que não seja possível obter a indemnização
do obrigado à vigilância do não imputável. – Isto é um pressuposto.
Esta indemnização não pode colocar em causa a subsistência do inimputável tem de restar
meios financeiros para que possa subsistir.
O artigo 489º/1 é uma regra subsidiária em relação ao artigo 491º. Só haveria indemnização
por não imputável se não for possível obter a indemnização daquele que está obrigado à
vigilância. Quanto aos obrigados à vigilância, a posição destes, a culpa, deve se aferir nos
termos do artigo 491º do CC.

2) A culpa corresponde a um juízo de censura:

Nesse pressuposto afere-se em função do critério do artigo 487º/2 do CC.


A culpa é apreciada pela diligência de um bom pai de família (pessoa que não é nem
demasiado cuidadosa nem demasiado diligente, portanto é um padrão médio do ser humano
com características semelhantes).
Temos de avaliar o ser humano com características semelhantes – idade, ambiente, formação
etc.
Temos de arranjar um padrão dentro dos profissionais da área – por exemplo: não podemos
averiguar a culpa do advogado utilizando os critérios dos médicos.
Fazemos a aferição da culpa em abstrato – não interessa a diligencia da pessoa no caso
concreto e da diligencia habitual da pessoa, apenas a utilização do critério de aferição da
culpa em concreto. Que é o critério da gestão de negócios, aqui não se exige ao gestor maior
cuidado do que aquele que teria com a sua própria vida, aqui é um padrão médio e não tem a
ver com as características do individuo.
Afere-se a culpa em abstrato de acordo com a figura do homem médio. Isto, claramente ao
contrário do que se passa na responsabilidade contratual – em que se presume a culpa.
Para ilusão da presunção o critério é o mesmo da pessoa média, artigo 799º/2 que remete
para o artigo 487º/2 do CC.

3) Regra da prova da culpa – artigo 487º/1 do CC:

A prova da culpa incumpre ao lesado, ressalvando as situações em que há presunção legal de


culpa. Nos termos do artigo 350º/2, quem tem a seu fazer a presunção legal já não precisa de
provar o facto a que ela conduz.
E neste âmbito quais são as presunções que o legislador prevê?
Artigo 491º do CC responsabilidade das pessoas obrigadas a vigilância de outrem.
E o regime é: aqueles que se encontram obrigados a vigilância de outrem e, estes outrem são
os incapazes naturais, ou seja, os menores de 18 anos.
É obrigado a indemnizar pelos danos que causarem a terceiros.
Atenção: Este artigo só pode ser utilizado para danos causados a terceiros e não para os danos
que os próprios incapazes sofrem.
E este artigo deve ser lido em conjunto com o artigo 488º/2 que nos diz que são imputáveis os
maiores de 7 anos.
O que significa?
Que numa situação em que alguém de idade compreendida entre os 7 e 18 anos, que é
considerado responsável, responde conjuntamente com o obrigado à vigilância que serão os
pais ou o tutor de acordo com a lei, ou quem tiver sido contratado para esse efeito por
negócio jurídico, como por exemplo uma ama, funcionário, professor, etc.
- Respondem o menor e o obrigado à vigilância solidariamente – se o obrigado à vigilância não
tiver meios, responde só o menor imputável.
- Se o menor for inimputável, ou seja, menor de 7 anos à partida responde só o obrigado à
vigilância, a menos que este também não tenha meios, caso em que poderemos ver se é
possível aplicar o artigo 489º do CC.
Atenção: ser incapaz como é referido no artigo 491º não significa ser irresponsável. Não
confundir os conceitos de capacidade com inimputabilidade, só são inimputáveis os menores
de 7 anos. Logo, aqueles que estão compreendidos entre os 7 e os 18 respondem de qualquer
maneira, só não tem presunção de culpa contra si.
Se for uma criança órfã – terá de ser a instituição, o tutor.
Terá de ser a instituição e o órfão, porque o órfão só não responde se for menor de 7 anos.
O conceito de inimputabilidade não coincide com o conceito de capacidade – são
responsáveis os maiores de 7 anos, a única questão que se coloca é que entre os 7 anos e os
18 anos juntamente com os menores responder os obrigados à vigilância.
Pode ser um menor e ser herdeiro de uma grande fortuna e até ter mais que o obrigado à
vigilância.
Quando há responsabilidade solidária o regime é que o lesado\credor da indemnização vai
pedir o dinheiro a quem tem mais capacidade para pagar e não a quem tem dinheiro. Depois
temos o direito de regresso que será entre os restantes devedores.

O artigo 491º não termina aqui….


“As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por virtude da
incapacidade natural destas, são responsáveis pelos danos que elas causem a terceiro, salvo se
mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância”, faz ilusão de presunção, ou seja, se
mostrarem que cumpriram devidamente já não respondem como culpa presumida, logo o
lesado tem de provar a culpa do obrigado à vigilância.
“ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido” – relevância negativa da
causa virtual.

4) Artigo 492º do CC que também estabelece uma


presunção de culpa:

Dos proprietários ou possuidores do edifício, ou dos obrigados dos edifícios, ou obras ou dos
obrigados à sua conservação, pelos danos causados por esses edifícios ou obras resultantes de
vícios de construção ou defeitos de conservação.
Obviamente, que pode ilidir a presunção também aqui, tal como no artigo 491º está presente
a relevância negativa da causa virtual – mesmo com a diligência devida não se teriam evitado
os danos

5) Artigo 493º do CC:

Tem de ser lido autonomamente em relação ao nº1 e 2, afirmamos tal coisa porque o artigo
491º e 492º, o nº2, vem acrescentar algo ao regime do 491º, aqui não são situações diferente.
O artigo 493º/1 determina a responsabilidade de quem tem em seu poder coisa móvel ou
imóvel com o dever de a vigiar e são consideradas coisas móveis ou imóveis os elevadores, as
armas, as autoestradas, as árvores, obviamente que árvores e auto estradas e os elevadores
quando instalados são coisas moveis.
E então respondem pelos danos causados por estas com presunção de culpa.
Da mesma forma os que tiverem a seu cargo a vigilância de animais.
Atenção: O artigo 493º do CC não se aplica aos proprietários de animais. Os proprietários de
animais respondem com culpa pelo artigo 483º/1, mas tem de ser provada a sua culpa.
Em que situações é que o proprietário responde subjetivamente?
Se tiver um animal perigoso, há regras que se imputam.
Tem de ter um curso, uma série de requisitos nessas situações respondem com culpa provada,
porque primeiro estamos a falar de danos causados a pessoa, violação da integridade e
violação das normas de proteção.
Quando temos uma legislação que diz qualquer proprietário de animais considerados perigoso
para ser detentor de animal não pode ter registo criminal, tem de fazer formação, levar à rua
de açaime etc.- violação de regras de interesses alheios.
Proprietários ou respondem pelo artigo 483º e tem de provar a culpa ou respondem pelo
risco artigo 502º do CC. Os proprietários nunca respondem pelo 493º do CC.

Quem responde por presunção é o tratador dos animais de circo, fulano da loja que o tem
para dar banho e que o deixa fugir e durante a fuga o animal causa danos, o amigo que fica
com o animal, etc.
Artigo 493º/1 ou se ilude a presunção ou não sendo possível ilidir a presunção (os danos
teriam igualmente presumido ainda que não houvesse culpa sua), a relevância negativa da
causa virtual

6) O artigo 493º/2 tem redação distinta, aplica-se às


atividades perigosas:

Quem causa dano a outrem no exercício da atividade, perigosa pela sua natureza ou meios
utilizados é obrigado a repara los.
O que são atividades perigosas?
Condução de veículos não é perigoso – aqui é aplicável ou o artigo 483º ou sem culpa o artigo
503º.
Só é aplicável o artigo 493º/2 à condução de veículos o que se refere as provas desportivas.
Aí sim, há presunção de culpa, também há no transporte de substâncias perigosas, produtos
inflamáveis – em determinadas atividades como a pirotecnia, manuseamento substâncias
perigosas etc.
Nota: No artigo 493º/2, já não existe a relevância negativa da causa virtual. Dificulta-se a
ilusão da presunção, porque o artigo 493º/2, ao conteúdo do artigo 493º/2 chamamos de
presunção diabólica – culpa diabólica é quase impossível ilidir esta presunção. Uma coisa é
provar que não teve culpa outra é provar que utilizou todas as providências exigidas. Pelo
estado da ciência que está em evolução não sabemos se estamos a utilizar todas as
providencias ou não – pode existir qualquer coisa que não temos conhecimento à data de
hoje. Este artigo aproxima-se a uma responsabilidade objetiva é quase impossível ilidir esta
presunção.
O facto de não ser possível ilidir a presunção, não significa primeiro que seja logo considerado
responsável porque ainda tem de estar preenchidos os 5 requisitos (dano, nexo de causalidade
etc). Podemos ter uma atuação culposa, mas não haver dano.

Estas presunções pelo facto de existir isto não significa que a culpa é inatacável, a presunção
pode ser ilidida a única coisa que resulta da presunção é a inversão do ónus da prova, ao invés
de ter de ser o lesado a fazer a prova, é o agente dizer que não atuou culposamente. Ou seja,
que não atuou com negligencia ou com dolo.

7) Artigo 503º/3 do CC:

Estabelece uma presunção de culpa por quem conduz por conta de outrem, os ditos
comissários.
Por exemplo: O conduto do autocarro, o funcionário da empresa, o motorista, etc…
Porque se entende que sendo motoristas profissionais:

(i) Estão mais qualificados para a condução


(ii) Conduzindo veículos que não lhe pertencem podem ter a
tentação de ser menos cuidadosos.
Relevância negativa da causa virtual

A existência de uma causa virtual que leva ao resultado faz com que não seja dada relevância
ao facto danoso, ou seja, a causa de existência de causa virtual exclui a causa virtual.
A culpa tem de ser analisada em vários prismas: imputação, prova da culpa, questão do juízo
de censura, graduação da culpa.

 Imputabilidade:

De acordo com a lei há uma presunção de inimputabilidade para os menores de 7 anos. Os


menores de 7 anos não respondem civilmente. E os maiores de 7 anos? Os maiores
respondem civilmente. Porém não podemos ir logo para a responsabilidade dos maiores à
vigilância.
Sabemos que os maiores de 7 anos e maiores de 18 não têm capacidade financeira para
ressarcir o dano que causa. Ou seja, respondem estes mais os obrigados à vigilância, que são
os que resultam do artigo 491º com base na lei, os obrigados legalmente ou por via do
negócio jurídico ou contrato.
Respondem solidariamente nos termos do artigo 497º/1 do CC.
Há outras presunções:

• Artigo 491º
• Artigo 492º
• Artigo 493º/1 – coisas moveis e imoveis
• Artigo 493º/2- atividades perigosas
• Artigo 503º/3- quem conduz por conta de outrem

Há também no CC outra presunção de culpa – responsabilidade contratual artigo 799º/1.


Nos artigos:
 491
 492
 493º/1

Por exemplo:
Imaginemos que, alguém tem um cão, o cão ladra toda a noite, os vizinhos já andam de cabeça
perdida. O senhor A é proprietário do cão e o B é o vizinho da direita. O Sr. B dá um tiro ao cão
e este morre, durante a madrugada. O Sr C vizinho da esquerda ontem à hora de almoço
envenena o cão. Aqui temos o tiro, e do outro o veneno. O cão morria de qualquer forma, o
tiro é a causa real e o veneno é a causa virtual.
Causa Virtual porquê?
Não aconteceu efetivamente matar (quem o matou foi o tiro), isto não se aplica tal e qual na
responsabilidade civil.
Em responsabilidade civil só são relevantes para efeitos de exclusão da responsabilidade as
causas virtuais resultantes de factos ou acontecimentos naturais (tsunami, diluvio,
tempestade, etc.). Ou seja, o que interessa na responsabilidade civil é o ressarcimento do
dano e a identificação do responsável, não podemos transferir\deslocar a responsabilidade de
uma pessoa para outra.

Por exemplo:
Vamos ter uma hipótese, o senhor A para poupar tempo atravessou o campo de B com o trator
e destrói a colheita de milho. Nesse mesmo dia houve uma queda de granizo e todo o milho
daquela zona ficou excluída.
Aqui esta causa virtual é relevante.

Porquê?
O milho de B ficava destruído de qualquer maneira, quer passeasse ou não com o trator.

Por exemplo:
A mesma coisa se o A chegar a casa e deu um toque no carro do vizinho e naquele dia houve
uma inundação. Passa a ser irrelevante o toque que deu porque a causa virtual vai excluir a
causa real.
A causa virtual ocorre, mas ocorre depois causando ainda mais danos, mais do que causa
virtual.
Por isso mesmo é que se diz, e os artigos acabam da mesma maneira, as presunções:
 Ou o agente prova que não teve culpa;
 Ou prova que os danos se teriam produzido ainda que
tivesse cumprido com a sua parte.

Por exemplo:
Fulano empresta a máquina da relva e o outro, que é super desleixado, deixou a máquina da
relva à chuva. A máquina estrago, mas no dia seguinte houve uma tempestade que destrói
tudo que as pessoas tinham no jardim, não há relevância negativa da causa virtual.
Porque apenas há nos casos previstos na lei, ou seja, não podemos generalizar:

 Artigo 491º
 Artigo 492º
 Artigo 493º/1

Temos de ver se encaixa num destes artigos caso contrário não podemos aplicar. Nos termos
do artigo 11º do CC não pode haver aplicação analógica em regras excecionais – as
presunções são regras excecionais.
No artigo 487º/1 – o lesado tem de provar salvo se a lei dispuser em sentido contrário.
Ocorre sempre depois, é aquela situação que efetivamente não provocou o dano, mas que
provocaria independentemente de ele já ter sido provocado antes.
A causa virtual não afasta a presunção, o agente tem de provar 2 coisas:

 Fez o que estava obrigado;


 Independentemente da sua atuação o dano verificava-
se de qualquer maneira – o ter atuado ou não era irrelevante.
Apenas CAUSAS NATURAIS – não podemos deslocalizar a responsabilidade de A para B.
Não são quaisquer causas naturais, consoante o artigo 505º há exclusão na responsabilidade
resultante de causas naturais, só as causas naturais que não são previsíveis nem possível
combater.

Por exemplo:
Vamos a sair de casa e dizemos que vai chover e nós dizemos que apenas chove às duas ou às
15h da tarde. Se sabemos que está a chover não vamos deixar coisas que se estragam à chuva,
pode não ser doloso, mas é negligente.
As causas naturais só são importantes se forem imprevisíveis e irresistíveis (não é possível
fazer nada contra elas).

Graduação da culpa

A graduação da culpa não é relevante em termos de responsabilidade civil, o princípio é o do


ressarcimento do dano e, por isso é indiferente se o agente atua com dolo (intenção) ou se o
agente atua apenas com negligencia ou mera culpa (desleixo, falta de cuidado, falta de
perícia, falta de qualificação para fazer determinada tarefa) não há definição estanque.
Há determinadas situações em que a graduação da culpa é relevante, como no artigo 494º,
que prevê que excecionalmente a indemnização pode ser inferior ao dano causado.
Ora, isto viola claramente o princípio do ressarcimento do dano, a regra é que se causa regra e
que se causa dano de 1000€ tem de pagar 1 0000€.
Diferente seria nos danos não patrimoniais- aferimos o valor da indemnização pela
diminuição do património do agente depois da ocorrência do dano.
Isto por questões de equidade, m que circunstâncias?

 Imprescindível mera culpa ou negligencia, ter tidas as


 circunstâncias em que ocorreu o facto danoso
 tem de ser ponderadas quer a capacidade financeira
do agente quer capacidade financeira do lesado.

Ou seja, para se aplicar o artigo 494º do CC, tem de concluir-se que o lesado tem uma
condição financeira mais confortável que a do agente.
É aplicável o artigo 570º, concurso de culpas:

1) Temos culpa do agente –aferida nos termos 433º/1 e


2;
2) Culpa do lesado que é aferida pelo artigo 572º do CC-
que nos diz que quem tem de provar a culpa do lesado é o agente (artigo
572º do CC)

Quando há concurso de culpas distinguimos dois tipos de situações:

 Artigo 570º/1 do CC;


 Artigo 570º/2 do CC.

Artigo 570º/1 do CC:

O lesado está a responder por factos ilícitos, mas mais do que isto está a responder por factos
ilícitos com culpa provada, ou seja, artigo 483º/1 + 487º/1 do CC.
E o que é que ocorre nestes casos?
De acordo com o artigo 570º/1, o juiz pode fazer uma avaliação da situação e pode diminuir a
indemnização ou até a excluir.
Ou seja, é daqueles casos que causa dano de 1000€ pode pagar 300€ ou 500€ ou nada.

Artigo 570º/2 do CC:

Aplicamos nas situações em que o agente responde com culpa presumida, ou seja, aqui o
lesado responde por factos ilícitos com culpa presumida.
Ou seja, artigo 491º ,492º, 493º/1 e 2 e 503º/3.
Nestes casos não há responsabilidade, está excluída a obrigação de indemnizar
O tratamento é diferente, não podemos aplicar o artigo 570º/1 ou o 2. No nº1 faz se uma
ponderação (pode levar a uma diminuição ou exclusão) e no nº2 está excluída a obrigação de
indemnizar.

Porquê?
A culpa presumida do agente é absorvida pela culpa provada do lesado, se tivermos 2 pessoas
a responderem na mesma situação:

1) Culpa provada
2) Outra por culpa presumida

A culpa provada de um, absorve a culpa presumida da outra.


Ou seja, se fizéssemos uma graduação, em temos de responsabilidade temos: culpa provada
vai absorver a culpa presumida
E isto porque, nós sabemos que a culpa presumida não é uma verdadeira culpa, é só a
inversão do ónus da prova (não temos dúvidas que o agente atuou com culpa, porque a sua
culpa tem de ser provada).
Pode não ser possível ilidir a presunção, mas não podemos dizer 100% seguro de que o agente
tem culpa.
Risco – ausência total de culpa
Há ausência total de culapa- imaginemos uma situação onde há uma pluralidade de
responsáveis e há pessoas a responder a vários títulos a última instância quem tem culpa
provada paga tudo.

Duas outras situações em que é relevante o grau da culpa:

 Pluralidade de responsáveis:
Em matéria de responsabilidade civil, o legislador prévio na pluralidade de
responsáveis, o regime da solidariedade (artigo 513º ao contrário).

Significa que o lesado pode dentro dos vários responsáveis pedir a qualquer um deles a
totalidade da indemnização (claro que irá pedir aquele que tiver uma comodidade financeira
maior).
Quais são os artigos que tratam desta matéria?
- Artigo 497º - factos ilícitos
- Artigo 507º - risco embora com uma redação infeliz
Em comum nestes artigos, estabelece a regra da solidariedade no nº1 de cada um deles.

Já o nº2 de cada uma das disposições fala do direito de regresso.


Em que medida é feita o direito de regresso?
Na medida das respetivas culpas, se entender que um contribui 60% para determinado dano e
o outro 20% - o direito de regresso será feito nessa perspetiva.
O direito de regresso é feito “na medida das respetivas culpas e consequências que delas
advierem”.
Se não for possível provar que a participação de cada um deles foi diferente presume-se em
partes iguais.
A quem incumbe?
A quem pagou tudo e quer receber o resto, se não conseguir fazer provar da culpa de cada um
deles – pelo menos a repartição do número dos responsáveis, imaginemos 50%.
 O tipo de culpa que o agente utilizou:

São situações de responsabilidade contratual – artigo 815º e 814º.


Isto quer dizer que em caso de mora do credor há inversão do risco. O risco passa a correr não
por conta do devedor, mas por conta do credor que não recebeu a prestação quando devia.
Se houver deterioração da coisa a partir do momento em que o credor entrou em mora, o
risco corre por conta dele e já não por conta do devedor que é regra geral.

Você também pode gostar