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Responsabilidade civil do

proprietário por dano


causado por acidente em
veículo automotor
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Publicado por Direito Diário há 5 anos

O transporte sempre teve especial


relevância na humanidade. Tanto é dessa
forma, que em muitos Estados transportar
bens ou pessoas era atividade essencial
não incumbida aos particulares. Ora, o
veículo automotor dá especial relevo às
querelas relativas aos transportes, no
passo que é o meio urbano grande
utilização e vinculado a inúmeros
sinistros.

Os acidentes de trânsito eventualmente


geram responsabilização para diversas
pessoas, como deveres jurídicos
decorrentes de obrigações que surgem por
imposição legal. Dessa forma, quem causa
dano no trânsito acaba por ter o dever de
indenizar, mas convém fazer o
questionamento: até que ponto incidirá a
responsabilidade do proprietário por
danos causados em veículos de via
terrestre?

Nem sempre o condutor do veículo é o


proprietário. Por outro lado, o
proprietário tem deveres com o bem e com
a própria sociedade ao deixar outrem
guiar seu automóvel. A escolha do
condutor, portanto é questão fundamental
para fixar a responsabilidade civil, bem
como a culpa ou não dele pela realização
do acidente.

A responsabilidade civil, com o dever de


indenizar parte de três pressupostos
essenciais e indispensáveis para existir.
Assim, os pressupostos para a
responsabilização civil são: a existência de
dano, nexo causal e culpa. Gonçalves
(2012, p.51) inclui a ação ou a omissão
como pressupostos, dizendo que os
pressupostos são: a ação ou omissão,
entendida como a presença de conduta
que enseje dano, culpa ou dolo do agente,
dando-se pela responsabilidade subjetiva,
relação de causalidade, como sendo a
relação causa e efeito entre a ação e o dano
e o dano propriamente dito.

A ação ou omissão, cumpre dizer, que


pode ser própria ou de terceiro. Na
realidade esse pressuposto é para afastar
fatos jurídicos em sentido amplo.

Entende-se por dano como a perda


patrimonial ou ético-afetiva, o que se
estende pelo dano material, como perda
patrimonial propriamente dita, dano
moral, quanto há ferimento ao patrimônio
ético da dignidade protegida
constitucionalmente, seja este a dor, o
sofrimento íntimo, a honra, a imagem ou
outra garantia da pessoa humana que não
o patrimônio e o dano estético, que é
aquele decorrente propriamente da
imagem visível e da aparência em relação
aos outros.

Já por nexo causal, entende-se como


aquele vínculo subjetivo e jurídico que
existe entre o causador do dano e o
sofredor do evento. Para explicar o nexo
causal, Ayrão (2010, p.15) explica que há
diversas teorias sobre o tema.

O autor elenca 3 (três) teorias úteis para


compreender o nexo causal:

1) A teoria da condição sine qua non, seja


esta aquela que diz que se dá o nexo causal
quando a conduta é imprescindível para a
ocorrência do evento danoso; a implicação
dessa teoria no ponto de vista prático é a
redução ao infinito do nexo causal, pois
toda conduta seria reflexo inevitável de
outra. Por exemplo: Se há uma batida em
veículo automotor, foi indispensável o
condutor, mas foi indispensável também
que ele tenha comprado um veículo, que
também foi produzido por uma fábrica,
assim o fabricante também foi
indispensável e isso seguiria em uma linha
infinita.

2) A teoria da Causalidade adequada, é


aquela na qual este vínculo se perfaz como
o desdobramento de uma conduta, sendo
este desdobramento extraordinário da
realidade comum; a consequência dessa
teoria é a não vinculação de pessoas com
condutas relevantes para a ocorrência do
fato, confundindo com a existência de
culpa.

3) A teoria da Necessidade da Causa,


sendo esta aquela que diz: “Segundo essa
subteoria, o evento causador do dano – ou
eventos, pois poderá ser mais de um – é
aquele que, numa cadeia de eventos,
puder ser considerado como
imprescindível, necessário, para a
deflagração do dano” (p-18). A
consideração que se faz nessa é que o
vínculo se dá com a analise conjunta da
imprescindibilidade da conduta e da
extraordinariedade do evento.

Assim, a teoria adotada atualmente é a da


necessidade da causa, sendo aquela na
qual a conduta é imprescindível para a
ocorrência do dano, mas sendo também
reflexo extraordinário do ato do agente.
Dessa forma, culpa e nexo causal ganham
aproximação lógica dentro desse sistema,
mesmo mantendo-se institutos de direito
diferentes.

Por fim, cumpre salientar que a


responsabilidade civil, em regra, tida por
subjetiva, depende da existência dos
elementos de dolo ou culpa (culpa latu
sensu). Por dolo entende-se pela conduta
voluntária visando o fim de causar o
evento e por culpa como a conduta
realizada com imperícia, falta de
conhecimento técnico, imprudência,
atitude com excessos, sem os devidos
cuidados e negligência, conduta que
inobserva o mínimo necessário para se ter
segurança.

Assim, para se perquirir se houve


responsabilidade civil ou não, faz-se
necessário averiguar se ocorreu o
suprimento dos três pressupostos acima
descritos, senão vejamos. No caso do
acidente causado pelo condutor e a
responsabilidade do proprietário, separa-
se:

1) O dano – quando um acidente causar


dano, seja este perda patrimonial ou dano
de outra ordem, poderá ser indenizável.
No caso de acidentes em via terrestre é
comum a existência de dano material,
pelos prejuízos causados pelo sinistro,
dano moral, por exemplo com a morte ou
lesão grave de algum dos envolvidos e
mesmo danos estéticos, por comumente
deixar lesões que desfiguram e tornam a
imagem exposta de maneira negativa. Há
quem defenda que dano estético decorre
do dano moral, mas a jurisprudência
adota como elemento distinto.

2) O nexo causal – o nexo causal do


motorista é fácil notar, pois ele é quem se
encontra com a relação direta com o bem e
com o sinistro. A do proprietário merece
destaque posterior

3) A conduta culposa – A conduta culposa


dá-se quando o condutor deixa de tomar
os cuidados adequados, por exemplo:
dirige embriagado ou desrespeita as
normas de trânsito. A do proprietário
seguirá os comentários abaixo.

Geralmente se entende o nexo causal do


proprietário em razão da conduta de
entregar o veículo à pessoa não idônea ou
imprudente para dirigir. Há de se tomar
cuidado, pois facilmente, por essa ideia, se
cairia na redução ao infinito, descrita por
Ayrão (2010). Portanto, para fixar o nexo
causal, segundo as teorias modernas, faz-
se imprescindível conciliar também a
questão da conduta culposa do
proprietário.

Para tal, entende-se que há o dever


inerente de ser proprietário do veículo em
escolher bem os condutores. A má escolha
enseja responsabilidade, comumente
chamada culpa em eligendo, ou culpa na
escolha. GONÇALVES (2012, p.52) define
culpa em eligendo como culpa na escolha
do representante, já culpa em vigilando
como falha nos deveres de fiscalização.
Ambas tem proximidade e são os termos
usados para fixar a responsabilidade do
proprietário.

Existindo a culpa na escolha, isso


implicará inevitavelmente em nexo, que
por consequência fixará a
responsabilidade civil do proprietário.
Assim, a ocorrência do evento pressupõe a
culpa do proprietário na escolha, que só
pode ser afastada com a comprovação de
alguma excludente, sejam estas a culpa
exclusiva da vítima ou ausência de culpa
latu sensu.

Analisando frente à realidade


constitucional brasileira, é esperado para a
responsabilização civil o suprimento
também dos pressupostos da boa-fé
objetiva, consagrados constitucionalmente
com as condutas que respeitam a
dignidade humana. Dessa forma, com o
fenômeno da constitucionalização do
direito civil, os questionamentos acerca da
manutenção ou não de uma obrigação
devem estar adequados ao ordenamento
(Tepedino, 2004). Portanto, a
responsabilização do proprietário pode
não ser vista como absoluta tal qual
discutido na doutrina brasileira.

O assunto da responsabilidade do
proprietário mostra que a escolha do
condutor é fundamental, mas que o
proprietário pode se esquivar quando
demonstrar que tomou todas as
precauções na escolha do condutor. Nesse
sentido, Azevedo (2008, p. 64), diz:

Em contrapartida, só é possível ao réu


produzir prova de força maior ou culpa
da vítima, no intuito de se escusar da
responsabilidade pelo dano.
Entretanto, há julgado do Superior
Tribunal de Justiça no sentido de que “o
proprietário do veículo se exonera da
responsabilidade pelo dano se provar
que tudo fez para impedir a ocorrência
do fato.

Seguindo nessa ordem, cabe analisar a


jurisprudência acerca do tema.

O Supremo Tribunal Federal não tem


muitos julgados recentes com a matéria,
pois ela se afasta da discussão
constitucional, merecendo destaque o
julgado:

RESPONSABILIDADE CIVIL.
ACIDENTE DE TRÂNSITO.
REPARAÇÃO DE DANOS. II – E
RESPONSÁVEL AQUELE CUJO NOME
FIGURA COMO PROPRIETARIO DO
VEÍCULO NO REGISTRO DE TITULOS
E DOCUMENTOS, AINDA QUE
PRATICADO POR OUTREM A QUEM
FOI VENDIDO O AUTO MOTOR
CAUSADOR DO ACIDENTE, EM
CONFORMIDADE COM O QUE
DISPOEM OS ARTS. 135 DO CÓDIGO
CIVIL, C.C. O 129 N 7, DA LEI DOS
REGISTROS PUBLICOS (LEI N
6.015/73). APLICAÇÃO DA SÚMULA N
489. PRECEDENTES DO S.T.F. (RE NS.
64.111, RTJ 47/760; E 61.578, RTJ
40/133). III – RECURSO
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E
PROVIDO. (RE 89775, Relator (a): Min.
THOMPSON FLORES, Primeira
Turma, julgado em 08/04/1980, DJ
09-05-1980 PP-03231 EMENT VOL-
01170-02 PP-00360)

Notório que não é razoável basear estudo


por julgado do Supremo Tribunal Federal
de 1980, anterior ao código civil atual
(2002) e mesmo em momento anterior a
realidade constitucional prevista. Por
outro lado o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) tem relevância no tema pela
pertinência temática: a jurisprudência
dominante no STJ, com julgado de 2015,
faz manter a presunção de culpa do
proprietário da escolha:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE
DE FILHO CAUSADA POR ACIDENTE
DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DO PROPRIETÁRIO DO
VEÍCULO PELOS DANOS CAUSADOS
PELO CONDUTOR. PRECEDENTES.
PRETENSÃO DE QUE SEJA FORMADA
NOVA CONVICÇÃO ACERCA DOS
FATOS DA CAUSA A PARTIR DO
REEXAME DAS PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. ENUNCIADO N. 7
DA SÚMULA DO STJ. AUSÊNCIA DE
ARGUMENTOS APTOS A INFIRMAR
OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO.

Segundo a jurisprudência do STJ, o


proprietário do veículo responde
solidariamente pelos danos decorrentes de
acidente de trânsito causado por culpa do
condutor, pouco importando que ele não
seja seu empregado ou preposto, ou que o
transporte seja oneroso ou gratuito.

Assentada pela Corte de origem a


premissa fática de que um dos
demandados é o proprietário do
automóvel, o qual confiou o bem ao
condutor que culposamente deu causa ao
evento danoso, a responsabilidade
solidária daquele tem que ser reconhecida.

Modificar essa conclusão implicaria rever


o quadro fático delineado no acórdão
recorrido, o que é vedado pelo enunciado
n. 7 da Súmula do STJ.

A qualificação jurídica dos fatos ou a


fundamentação desenvolvida pelo
demandante na petição inicial não vincula
o órgão jurisdicional, já que os limites
objetivos do processo são fixados a partir
do pedido, de acordo com a pacífica
jurisprudência do STJ.

Precedentes

Se o agravante não traz argumentos


aptos a infirmar os fundamentos da
decisão agravada, deve-se negar
provimento ao agravo regimental.

Agravo regimental a que se nega


provimento.

(AgRg no AREsp 692.148/SP, Rel.


Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em
18/06/2015, DJe 26/06/2015)

Esse entendimento já é balizado por


outros anteriores, conforme se nota nos
julgados do STJ – AgRg no AREsp:
234868 SE 2012/0201643-9, Relator:
Ministro ARI PARGENDLER, Data de
Julgamento: 02/05/2013, T1 –
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJe 08/05/2013 e no – REsp: 1044527
MG 2008/0058520 Relatora Ministra
NANCY.

Da mesma forma há registro no Tribunal


de Justiça do Estado do Ceará, conforme o
Julgado:

PROCESSO CIVIL. CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL EM FACE DE DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO APELO. AÇÃO
INDENIZATÓRIA.
RESPONSABILIDADE CIVIL.
ACIDENTE DE TRÂNSITO.
MOTORISTA DO CAMINHÃO QUE
OCASIONOU O ACIDENTE COLIDIU
COM MOTOCICLISTA. FATO
INCONTROVERSO.
RESPONSABILIDADE DO
PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. DEVER
DE INDENIZAR CONFIGURADO.
INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 186 E 927
DO CÓDIGO CIVIL/2002.
PRECEDENTES. AGRAVO
CONHECIDO MAS NÃO PROVIDO.

1. Trata-se, na origem, de ação


indenizatória movida em decorrência
de acidente de trânsito, ocasionado por
motorista de caminhão (preposto do
promovido), que acarretou diversas
lesões à vítima.

2. É fato incontroverso a ocorrência do


sinistro, bem como a culpa do
motorista do caminhão (preposto do
promovido), mediante análise via
prova pericial realizada, prova esta
que acarreta a rejeição da tese recursal
acerca da culpa exclusiva da vítima
para ocorrência do acidente. Inexistem
nos autos quaisquer indícios que
imputem culpa da vítima para
ocorrência do fato.

3. Embora o recurso indique a ausência


de responsabilidade civil, bem como a
não comprovação do nexo de
causalidade que obstaria o dever
indenizatório, não prospera a tese pois
trata-se de defesa genérica, não
impugna especificamente os
argumentos autorais, nem refuta os
fatos analisados. Assim, a mera
alegação de inexistência de
responsabilidade civil não é suficiente
para rejeição do pleito autoral. Atraiu
para si o ônus da prova, e diante da
não comprovação das alegações,
acarretou a incidência do artigo 333,
inciso II do Código de Processo Civil.
Precedentes.

4. Assim, pela aplicação dos artigos


186; 927 e 932, inciso III, todos do
Código Civil/2002, verifica-se que a
parte promovida deve ser
responsabilizada, diante da conduta
ilícita do preposto (responsabilidade
objetiva decorrente da culpa in
eligendo).

5. Diante do exposto, não há razões


para afastar o entendimento
anteriormente adotado em decisão
monocrática, mormente porque
também amparado em vasta
jurisprudência, devendo, pois, ser
mantida a decisão proferida
anteriormente.

6. Agravo Regimental conhecido e não


provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e
discutidos os presentes autos de Agravo
Regimental, autuados sob o nº
0023584-47.2006.8.06.0001/50000.,
em que são partes as pessoas acima
indicadas, ACORDAM os
Desembargadores da 5ª Câmara Cível
deste Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, em julgamento de sessão, por
unanimidade de votos, em CONHECER
do recurso,Fale
para NEGAR-LHE
agora com um
PROVIMENTO,advogadomantendo
online incólume a

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