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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ

GABRIEL HENRIQUE DE CASTRO

PRESSUPOSTOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA


RESPONSABILIDADE CIVIL

ARAXÁ
2023
1 REPONSABILIDADE CIVIL

O desenvolvimento das civilizações ao longo do tempo impulsionou a evolução


das interações humanas, resultando em uma sociedade atualmente caracterizada pela paz
e organização. No entanto, apesar da esperada convivência civilizada, a base da ordem
social é assegurada pelo estado democrático de direito e pelas normas que regulamentam
a sociedade, em total consonância com o estado.
Conforme descreve Venosa (2009), “a responsabilidade, em sentido amplo, encerra
a noção em virtude da qual se atribui a um sujeito o dever de assumir as consequências de
um evento ou de uma ação” (p.4). Nesse contexto, o Código Civil brasileiro introduziu o
conceito da Responsabilidade Civil, que estabelece e regula a atribuição de
responsabilidade entre indivíduos em situações conflitantes. Este conceito engloba a figura
de um agente causador, uma vítima do dano e um evento que deu origem a tal dano. No
entanto, nem sempre a responsabilidade surge decorrente de uma ação, mas sim, sobre o ato
de imputar alguem a responsabilidade, que circunstancialmente a lei estabeleceu que
naquele situação, deva ser imputado.
Conforme estabelecido pelo Artigo 927 do Código Civil, a Responsabilidade Civil é
expressamente definida: "Aquele que, por ato ilícito, causa dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo". Essa disposição implica na presença de requisitos essenciais para a configuração
do dever de indenizar, que incluem ação ou omissão voluntária, relação de causalidade,
dano e culpa. Entretanto, é importante ressaltar que, diante de circunstâncias particulares, o
dever de indenizar pode ser atribuído ao agente mesmo na ausência do elemento culpa. O
Código Civil contempla situações em que a culpa se torna irrelevante, impondo a
responsabilidade independentemente desse aspecto.
Com base nisso, este trabalho busca analisar alguns fundamentos da
Responsabilidade Civil, incluindo ação e omissão diante de atos ilícitos, a culpa e dolo do
agente e a relação de causalidade e dano. Além disso, serão abordados os elementos
cruciais para a caracterização da Responsabilidade Civil.

2 AÇÃO E OMISSÃO DO AGENTE NO CONTEXTO DA RESPONSABILIDADE


CIVIL

Em nosso ordenamento jurídico, um pressuposto essencial para a responsabilização


por danos é a comprovação de um ato ilícito que resulte em prejuízo. Conforme
estabelecido pelo artigo 186 do Código Civil, um ato ilícito envolve uma ação ou omissão
voluntária, negligente ou imprudente que viole direitos alheios e cause danos, incluindo
danos de natureza estritamente moral. Nesse contexto, a ação ou omissão constitui o núcleo
do ato ilícito e, quando resulta em dano, torna-se passível de responsabilidade.
A ação ou omissão, como comportamento humano fundamental, é a base da
responsabilidade civil. É quando um indivíduo age em contraposição às normas legais ou
deixa de agir quando tal conduta é devida, resultando em prejuízo a terceiros, seja ele
material ou moral. Para ilustrar esse conceito, consideremos um motorista que,
desrespeitando um sinal vermelho, atropela um pedestre que atravessava a faixa. O pedestre
sofre uma fratura na perna devido a esse atropelamento. Nesse caso, o motorista agiu em
desacordo com as regras de trânsito, causando danos a outra pessoa.
De forma similar, imaginemos um proprietário de um apartamento disponível para
aluguel. Durante uma reforma, o proprietário identifica rachaduras na estrutura da sacada e
recebe um alerta sobre os riscos de queda, conforme avaliação de um especialista. Apesar
disso, ele decide alugar o apartamento sem realizar os reparos necessários na sacada.
Quando o locatário utiliza a sacada, esta cede, resultando em várias lesões. Nesse contexto,
a omissão do proprietário, apesar do conhecimento dos riscos, culminou em um dano ao
locatário.
Um aspecto crucial é reconhecer que a responsabilidade pode decorrer tanto de
ações inadequadas quanto da omissão de ações devidas. Ambas podem resultar no dever de
indenizar. No entanto, em certas circunstâncias, o dever de indenizar pode surgir
independentemente da existência de culpa, dando origem ao conceito de responsabilidade
objetiva. Isso ocorre quando a lei estabelece situações em que a responsabilidade é
imputada a alguém, mesmo que o agente não tenha qualquer culpa pelo dano,
diferentemente do que ocorre na responsabilidade subjetiva, na qual todos os requisitos
essenciais mencionados anteriormente são analisados para determinar a obrigação de
indenizar.

3 A RELEVÂNCIA DA CULPA OU DOLO DO AGENTE NA IMPUTAÇÃO DA


RESPONSABILIDADE

Segundo José de Aguiar Dias, o conceito de culpa é definido como:

A falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por


parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não
objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das
consequências eventuais de sua atitude." (DIAS, 1979, p. 136)
A Responsabilidade Civil moderna passou por alterações em relação à culpa.
Anteriormente, a culpa era considerada apenas quando decorrente de ação ou omissão do
agente. Contudo, essa abordagem, conhecida como teoria da culpabilidade, tornou-se
insuficiente, já que algumas circunstâncias geravam danos sem culpa do agente. Nesse
contexto, desenvolveu-se a teoria do risco, que também considera a responsabilidade objetiva,
conforme mencionado anteriormente.
Dolo e culpa são conceitos de grande relevância no âmbito penal, mas
apresentam implicações distintas no Direito Civil. Segundo Visintini (1999), há uma notável
diferença entre aquele que busca intencionalmente um resultado (dolo) e aquele que obtém
um resultado devido à negligência, imprudência ou imperícia (culpa). Entretanto, no contexto
de indenização, as consequências são uniformes. Na Responsabilidade Civil, o enfoque recai
sobre o resultado da ação ilícita que resultou em dano, sendo indiferente se a ação ocorreu por
dolo ou culpa. Portanto, independentemente da intenção deliberada ou negligência envolvida,
a ênfase reside na ocorrência do dano, o que leva à criação do dever de indenizar.
A doutrina tradicional categoriza a culpa em três graus, a saber: grave, leve e
levíssima, como menciona Venosa (2008), as ações consideradas graves são aquelas que
demonstram negligência grosseira, com resultados plenamente possíveis e previsíveis. As
leves dizem respeito a comportamentos que se ajustam ao padrão de um indivíduo comum,
evitando transgressões. As levíssimas abrangem situações que exigem um nível extraordinário
de cuidado e atenção. Embora, em geral, a intensidade da culpa não seja considerada, mas sim
a extensão do dano para fins de determinar a indenização, há exceções em casos concretos nos
quais a relevância da culpa precede a fixação da indenização.

4 RELAÇÃO ENTRE O NEXO CAUSAL E O DANO

Um pressuposto essencial da responsabilidade civil é a existência de relação de


causalidade entre a conduta e o dano, conhecido como nexo causal. É indispensável que
esse elemento esteja presente para que surja o dever de indenizar. O nexo causal, conforme
explica Venosa (20098, p.xx), "é o liame que conecta a conduta do agente ao dano. Através
da análise da relação causal, é possível determinar quem foi o responsável pela ocorrência
do dano". Nessa seara, cabe ressaltar que o caso fortuito e força maior, e a culpa exclusiva
da vitima, são excludentes da relação de causalidade.
Diante do exposto, torna-se necessário analisar a identificação do nexo causal e até
que ponto essa análise se estende, visto que todas as pessoas e eventos estão, de alguma
forma, interconectados em algum momento, ainda que de maneira indireta. Considerando a
possibilidade de existência de uma causa principal ou múltiplas causas, diretas ou indiretas,
a doutrina se baseia no âmbito do Código Penal para adotar, no âmbito do Direito Civil, a
teoria da equivalência das condições, conforme previsto no artigo 13 da lei penal: "O
resultado, do qual depende a existência do crime, é imputável apenas àquele que contribuiu
para sua ocorrência. Considera-se contribuição a ação ou omissão na qual o resultado não
teria ocorrido." Entretanto, conforme observado por Venosa, essa teoria abre a
possibilidade de inserção de terceiros no fluxo do nexo causal, permitindo uma regressão
quase infinita.
Em contraponto, a doutrina menciona a teoria da causalidade adequada, reproduzida
do Código Civil de 1916, sendo considerado o efeito direto e imediato da causa,
delimitando o fluxo da causalidade. Ainda assim, Caio Mario da Silva Pereira (1999)
aponta que o importante é estabelecer que houve a violação de direito alheio e um dano, e
que existe um nexo causal, ainda que presumido, entre um e outro.

5 CONCLUSÃO

Em suma, este trabalho analisou os elementos centrais da Responsabilidade Civil,


destacando a importância da ação, omissão, dolo, culpa e nexo causal na atribuição de
responsabilidade por danos. Demonstrou-se que a legislação estabelece parâmetros claros
para a reparação de prejuízos causados por atos ilícitos, equilibrando as relações sociais e
jurídicas. A compreensão desses princípios é fundamental para uma convivência justa e
organizada na sociedade contemporânea.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Nº 2848, de 7 de


dezembro de 1940.

BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União, Rio de
Janeiro, 11 jan. 2002.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito das sucessões. 8. Ed. São Paulo: Atlas,
2008. v. 7.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Responsabilidade Civil. 9. Ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999.

VISINTINI, Giovanna. Trattato breve dela responsabilità civile. 2. Ed. Milão: Cedam, 1999.

DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. 2 v.

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