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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARAÍSO- UniFAP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


DIREITO OBRIGACIONAL E RESPONSABILIDADE CIVIL
TRABALHO DISCENTE EFETIVO 4
ORIENTADOR WESLEY GOMES MONTEIRO

JAKSON LEANDRO BATISTA MUNIZ

FICHAMENTO DESCRITIVO: AS FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

JUAZEIRO DO NORTE/CE
2021
JAKSON LEANDRO BATISTA MUNIZ

FICHAMENTO DESCRITIVO: AS FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Fichamento descritivo avaliativo da disciplina de direito
obrigacional e responsabilidade civil, com ênfase nas
funções da responsabilidade civil.

Orientador Wesley Gomes Monteiro

JUAZEIRO DO NORTE/CE
2021
1. A MULTIFUNCIONALIDADE DA RESPONSABILIDADE CIVIL

 O setor da responsabilidade civil há uma pluralidade de funções, sem


qualquer prioridade hierárquica de uma sobre outra.
 Três funções para a responsabilidade civil:
1. Função Reparatória: a clássica função de transferência dos danos do
patrimônio do lesante ao lesado como forma de reequilíbrio
patrimonial;
2. Função Punitiva: sanção consistente na aplicação de uma pena civil
ao ofensor como forma de desestímulo de comportamentos
reprováveis;
3. Função Precaucional: possui o objetivo de inibir atividades
potencialmente danosas.
Observação: há uma Função Preventiva subjacente às três anteriores,
porém considera-se a prevenção um princípio do direito de danos e não
propriamente uma quarta função. A prevenção detém inegável
plasticidade e abertura semântica, consistindo em uma necessária
consequência da incidência das três funções anteriores. Isso não impede
que se manifeste com autonomia, aliás, é objetivo primordial da
responsabilidade civil contemporânea.
2. A FUNÇÃO REPARATÓRIA

 A responsabilidade civil assumiu uma conotação de neutralidade e


objetividade.
 O ressarcimento se converte na consequência negativa (sanção) do
acertamento da responsabilidade.
 A ideia da lesão está no centro da responsabilidade civil e a sua
função, consequentemente, é o restabelecimento do equilíbrio
econômico-jurídico desfeito por ocasião do fato danoso.
 O fundamento reparatório da responsabilidade civil, remete às razões
jurídicas pelas quais alguém será responsabilizado por um dano,
patrimonial ou extrapatrimonial.
 Nos confins da função reparatória, é o escólio de Mazzamuto, faz-se
habitualmente recurso a três formas de tutela:
1. Restitutória – voltam-se a reconstituir as condições em que se
encontrava o titular do interesse antes da violação, como
exigência de uma repristinação ao status quo ante. Por objetivar
a restauração de uma situação atingida por uma lesão,
apresenta uma vocação de satisfação in natura;
2. Ressarcitória – objetiva compensar o lesado pelo prejuízo
econômico sofrido. Esta tutela poderá possuir caráter subsidiário
em relação à restitutória, onde está não seja viável, ou mesmo
se colocar em relação de complementaridade, quando a
restauração da situação originária não elimine por completo o
desequilíbrio econômico sofrido pela vítima;
3. Satisfativa – a tutela civil pode não se voltar à restauração de
uma dada estrutura de interesses – seja pela via restitutória ou
ressarcitória –, mas sobremaneira à satisfação in natura de uma
posição subjetiva que restou não atuada, ou defeituosamente
atuada (v. g. uma prestação negocial). Neste caso a tutela é
satisfativa, uma resposta solidarista ao modelo liberal-
individualista da incoercibilidade das obrigações de fazer.
 O ressarcimento, assume a finalidade de neutralizar as consequências
do ilícito.
 A responsabilidade permite imputar um fato danoso a um sujeito.
“O sábio não se senta para lamentar-se, mas se põe alegremente em sua tarefa de consertar o dano
feito.” - William Shakespeare
3. A FUNÇÃO PUNITIVA

 A principal função da responsabilidade civil é a de “organização”: produzir


uma coordenação satisfatória das ações sociais, baseada não no sentido de
um comando central, mas de uma série de decisões descentralizadas de
vários agentes.
 As regras de responsabilidade civil teriam um efeito redistributivo.
 Uma espécie de taxa sobre determinada atividade, importando em custos
eventuais que seriam transferidos do potencial lesante para o mercado
(sujeitos diversos).
 Regras de distribuição entre vários sujeitos do custo de uma atividade
induzem a um regulamento espontâneo das atividades econômicas.
 Recurso ao contrato de seguro, valorizando-se o objetivo de compensar o
lesado, sem qualquer preocupação de se individuar e culpar o responsável.
 A responsabilidade civil assume uma função basicamente reparatória, perde
ela a sua inerente capacidade de desestimular condutas ilícitas e de dissuadir
potenciais agentes à adoção de medidas de redução de riscos, pois o dado
da culpa do ofensor é irrelevante para fins de fixação de responsabilidade e
atribuição do quantum ressarcitório.
 A culpa deixa de ser o único critério de seleção de interesses merecedores de
tutela compensatória, sendo agora um fator a mais de responsabilidade, a par
de outros de natureza objetiva, como a garantia, a equidade, o abuso do
direito e, sobremaneira, o risco.
 Não se volta o olhar do civilista para a punição do ofensor, mas para a tutela
da vítima do dano injusto.
 Para a avaliação de tais aspectos periféricos nada melhor do que o direito
penal – consistindo a sua função em prevenir e punir condutas ilícitas –, ou o
recurso ao direito administrativo sancionatório.
 Ao se abolir qualquer discussão sobre a ilicitude do ato, ou a valoração da
culpa do ofensor, em prol de um critério pautado exclusivamente no nexo
causal entre a atividade do agente e o dano, a responsabilidade civil se exime
de uma função de desestímulo de comportamentos nocivos e prevenção de
ilícitos, pois a diligência do potencial causador do dano – ou o seu esforço na
redução das margens de risco – não terá qualquer impacto seja na afirmação
da obrigação de indenizar seja no montante da compensação.
“Pois as leis são como as teias de aranha; as simples mosquinhas e as pequenas borboletas
se prendem nelas; os grandes trovões malfazejos as rompem e passam através delas.” -
François Rabelais
4. A FUNÇÃO PRECAUCIONAL

 Risco e incerteza são grandezas muito próximas, que se aproximam através


do chamado “princípio da precaução”.
 A diluição dos nexos de causalidade entre evento potencialmente lesivo e o
dano leva o decisor político a antecipar o momento da prevenção para um
limiar temporal muito anterior à possibilidade de ocorrência da lesão.
 Na antecipação da atuação preventiva que se joga a autonomização da
precaução como princípio – um momento em que não há certezas, em que
inexistem consensos na comunidade científica, em que pairam dúvidas sobre
a inocuidade de um produto ou de uma atividade e, ainda assim, se dita uma
restrição ou mesmo uma interdição.
 O momento da intuição do risco prefere ao momento da certeza do perigo.
 A responsabilidade civil tradicional é moldada a solucionar problemas
intersubjetivos, reativamente a um post factum, trata-se de uma noção
curativa-retroativa, que lida com um dano já ocorrido.
 No contexto da sociedade pós-moderna, atua em complexos aspectos como
a proteção do futuro em uma perspectiva de responsabilização proativa hábil
a lidar com potenciais danos marcados pela difusidade, transtemporalidade e
efeitos transfronteiriços.
 O princípio da precaução ingressa quando há o confronto entre o
ordenamento jurídico e as atividades danosas cujas consequências não são
passíveis de compensação ou de securitização.
 O apelo ao princípio da precaução também determina uma flexibilização do
nexo causal.
 Pelas teorias acolhidas no direito pátrio, a responsabilidade demanda que o
fato (comissivo ou omissivo) do agente seja a causa adequada (ou
necessária) à produção do dano.
 A partir do momento em que se aplica a causalidade concorrente e a
consequente responsabilização coletiva da pluralidade de agentes envolvidos,
o direito assume uma postura precaucional, mesmo em detrimento de uma
causalidade natural, substituída por uma causalidade jurídica.
 Considera-se legítimo que a precaução – dentro de parâmetros objetivos de
razoabilidade – possa gerar determinadas sanções em face do empreendedor
que exercite atividade ou crie produtos hábeis potencialmente a causar
futuros danos.
“Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de
amanhã, E assim será possível; mas hoje não...” - Fernando Pessoa

5. A PREVENÇÃO COMO CERNE DA RESPONSABILIDADE CIVIL


CONTEMPORÂNEA

 Conforme o tempo e o lugar, a responsabilidade civil absorve quatro funções


fundamentais (sendo as duas primeiras pacíficas na civil law):
1. A função de reagir ao ilícito danoso, com a finalidade de reparar o
sujeito atingido pela lesão;
2. A função de repristinar o lesado ao status quo ante, ou seja, estado ao
qual o lesado se encontrava antes de suportar a ofensa;
3. A função de reafirmar o poder sancionatório (ou punitivo) do Estado;
4. A função de desestímulo para qualquer pessoa que pretenda
desenvolver atividade capaz de causar efeitos prejudiciais a terceiros.
 A tripartição funcional da responsabilidade civil em reparatória, punitiva e
precaucional, abstemo-nos de conferir a qualquer uma delas, com
exclusividade, a qualificação de “função preventiva”.
 A prevenção lato sensu é um dos quatro princípios regentes da
responsabilidade civil e inafastável consequência da aplicação de qualquer
uma das três funções estudadas.
 A prevenção reside em todos os confins da responsabilidade e não apenas
simboliza um mero refrão: “mais vale prevenir do que remediar”.
 As quatro funções são perfeitamente compatíveis e não excludentes.
 Hoje a responsabilidade civil significa compreender as exigências econômicas
e sociais de um determinado ambiente.
 Responsabilizar já significou punir, reprimir, culpar; com o advento da teoria
do risco, “responsabilizar” se converteu em reparação de danos.
 Na contemporaneidade, some-se à finalidade compensatória a ideia de
responsabilidade como prevenção de ilícitos.
“O sagrado é aquilo pelo qual podemos nos sacrificar”, Luc Ferry.
6. REFERÊNCIA

 As Funções da Responsabilidade Civil - Curso de Direito Civil 3 - Cristiano


Chaves e Nelson Rosenvald e Felipe Braga Netto- IV As Funções da
Responsabilidade Civil.

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