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MATERIAL DE APOIO –

Magistratura

Responsabilidade Civil

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Sumário

1. Conceito e considerações iniciais............................................................................................3

2. A teoria do risco e teoria da culpa..........................................................................................4

3. Elementos da responsabilidade civil........................................................................................5

4. Tipos de responsabilidade civil..................................................................................................8

5. A reponsabilidade civil no Código Civil/2002.....................................................................9

6. Jurisprudência correlata...............................................................................................................11

Conclusão................................................................................................................................................12

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................17

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Responsabilidade civil

O tema Responsabilidade civil é bastante recorrente nos

certames de Magistratura. Por esse motivo, preparamos o material a

seguir contendo o conceito desse instituto e suas determinações. Confira!

1. Conceito e considerações iniciais

A responsabilidade civil, enquanto instituto, faz parte do Direito obrigacional,

visto que está intrinsecamente relacionada à obrigação, gerada para o autor, de

reparar o dano gerado a outrem após um ato praticado. Com isto, entende-se que

todo aquele que infringir um bem jurídico por meio de um ato (seja ele lícito ou

ilícito) terá a obrigação de reparar o dano causado – isto se dá pela criação de um

dever jurídico sucessivo de reparar danos, que surge em decorrência do dever

jurídico originário de não gerar danos a outrem.

O termo “responsabilidade” origina-se do latim “respondere”, que apresenta

a ideia de que o indivíduo, se causador de um dano por meio de uma ação ou

omissão, tem a obrigação de assumir as consequências e responder por elas.

Segundo Carlos Alberto Bittar, a reparação do dano seria capaz de renovar o

equilíbrio previamente existente, visto que a parte prejudicada restauraria seu

estado anterior.

De Plácido e Silva também discorre sobre a responsabilidade civil:

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Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato,
seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a
prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são
impostas. Onde quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não
fazer alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou
penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação
ou o cumprimento da obrigação ou da sanção (SILVA, 2010, p. 642).

É importante salientar que a responsabilidade civil está intrinsecamente

relacionada aos conceitos de encargo, obrigação e também de contraprestação,

tanto pelo seu sentido jurídico como pelo etimológico. Contudo, apesar de

intimamente ligadas, a obrigação e a responsabilidade são institutos distintos:

enquanto a obrigação é dever jurídico originário, a responsabilidade caracteriza-se

como dever jurídico sucessivo e decorrente à violação de um direito.

Desse modo, pode-se entender que aquele que pratica um ato ou omite-se

de fazer algo que deveria, deve sujeitar-se às consequências geradas. Além disso,

é importante destacar que o dano gerador da responsabilidade não é apenas

voltado aos aspectos materiais, mas também envolve as questões morais.

2. A teoria do risco e a teoria da culpa

Ultimamente, a conhecida Teoria do Risco vem recebendo destaque em meio

às discussões jurídicas em vigor. Segundo ela, a responsabilidade seria entendida

de acordo com o viés objetivo: prevalece a ideia do exercício da atividade perigosa

como base da responsabilidade civil, ou seja, a prática de alguma tarefa capaz de

oferecer riscos, é assumida pelo agente, devendo ele ser responsável pelo

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ressarcimento de terceiros que venham a se prejudicar com a atividade.

Historicamente, a responsabilidade civil objetiva fundamenta-se no princípio

da equidade, o qual é adotado desde a época do Direito Romano. Segundo ele,

“ubi emolumentum, ibi ônus; ubi commoda, ibi incommoda”, ou seja, quem aufere

os lucros (cômodos) deve suportar os riscos (incômodos). Hodiernamente, a teoria

da responsabilidade objetiva divide-se em duas facetas, a teoria do dano objetivo

e a teoria do risco.

Enquanto a teoria do risco (de caráter objetivo) considera irrelevante se a ação

do agente é ou não dotada de negligência ou imprudência – considerando apenas

a obrigação de reparar devido à atividade praticada pelo agente -, a teoria da culpa

(de viés subjetivo) leva em consideração não só a conduta do agente, mas também

se ele agiu ou não com prudência e/ou diligência.

3. Elementos da responsabilidade civil

São 3 os elementos ou requisitos para configurar uma conduta que gere dano

ou prejuízo a outrem: culpa, nexo de causalidade e dano. Além disso, tem-se

também a ação ou omissão, isto é, o fator gerador da responsabilidade civil (que

é, por alguns doutrinadores, considerada como 4º requisito da responsabilidade

civil).

 Culpa

Rui Stoco descreve a culpa no ordenamento jurídico da seguinte maneira:

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Quando existe a intenção deliberada de ofender o direito, ou de ocasionar

prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento do mal e o

direto propósito de o praticar. Se não houvesse esse intento deliberado,

proposital, mas o prejuízo veio a surgir, por imprudência ou negligencia,

existe a culpa (stricto sensu) (STOCO, 2007, p. 133).

É importante salientar que, no âmbito da responsabilidade civil, é irrelevante

a diferenciação entre o dolo e a culpa strictu sensu. Isto se dá porque o enfoque

principal desse instituto não é a punição do agente, mas a indenização/reparação

da vítima – desse modo, mais importa a extensão do dano que o nível de culpa do

agente.

Tal raciocínio é encontrado no Código Civil/2002 nos artigos 944 e 945, os

quais dispõem:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da

culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso,

a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa

em confronto com a do autor do dano.

 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade caracteriza-se como a relação de causa e efeito

existente entre o ato e o resultado gerado por ele. A fim de que se determine a

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responsabilidade civil do agente, é indispensável que o dano tenha sido ocasionado

pela conduta do agente, havendo entre as duas uma relação de evidente causa e

efeito. Ou seja, não é suficiente que tenha se praticado um ato ou que um dano

seja gerado, sendo necessários que ambos relacionem-se entre si.

Este elemento, portanto, é o enleio entre a causa e o efeito, configurando-

se como elemento imaterial da responsabilidade civil. Segundo Sérgio Cavalieri

Filho, “o conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais. É o

vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado”. O

nexo de causalidade enlaça dois tipos de responsabilidade, sendo elas a subjetiva

(culpa) e objetiva (conduta).

 Dano

Rui Stoco trata do dano na responsabilidade civil:

O dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilização do


agente, seja essa obrigação originada de ato ilícito ou de inadimplemento
contratual, independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva
ou subjetiva (STOCO, 2007, p. 128).

Maria Helena Diniz, por sua vez, dispõe que “o dano pode ser definido como

a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma

pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial

ou moral” (DINIZ, 2006).

Como já visto, o dano enquanto requisito basilar da responsabilidade civil

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pode ser tanto de caráter material como moral/imaterial. O dano material

caracteriza-se como dano gerado a um bem jurídico de valor econômico, agressão

diretamente à vítima (acarretando em despesas médicas) ou prejuízo a um bem

que integra seu patrimônio. Desse modo, entende-se que o dano material é

associado ao prejuízo a um patrimônio, bem de valor, à própria vítima ou a um

bem palpável.

Por outro lado, o dano imaterial não está relacionado ao patrimônio da

vítima, mas sim aos seus direitos de personalidade – isto é, à imagem, liberdade,

honra, dentre outros dispostos no artigo 5º da Constituição Federal. Diz respeito,

portanto, à lesão de cunho moral, não pecuniário, uma vez que recai sobre a honra,

imagem e reputação da vítima, e não sobre seus bens ou sob seu patrimônio.

4. Tipos de responsabilidade civil

Em relação à culpa, a responsabilidade civil pode-se dividir em subjetiva e

objetiva, sendo a de caráter subjetivo gerada por uma conduta culposa lato sensu

(o que abarca a culpa stricto sensu e também o dolo). A responsabilidade civil

objetiva, por outro lado, destitui-se da culpa, sendo pautada na teoria do risco.

Sérgio Cavalieri discorreu sobre o assunto:

Todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o
causou independente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o
problema na relação de nexo de causalidade, dispensável qualquer juízo
de valor sobre a culpa (CAVALIERI FILHO, 2008, p. 137).

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É interessante destacar, ainda, que o Código Civil brasileiro de 1916 era

bastante subjetivista, enquanto o CC/2002 trouxe as novas concepções da

responsabilidade – ainda que não abandonando por completo a responsabilidade

subjetiva, seu viés é pautado na responsabilidade objetiva.

5. A responsabilidade civil no Código Civil/2002

O Código Civil dispôs em vários dos seus artigos acerca da responsabilidade

civil e suas particularidades no Título IX. O art. 927 é o primeiro a tratar diretamente

dos casos de reparação civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente


de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

O art. 186 descreve os atos ilícitos aos quais o artigo 927 refere-se, como

pode ser visto:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

O artigo 932, por sua vez, dispõe acerca de alguns casos específicos que

acarretam responsabilidade civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em


sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas


mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e


prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se


albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,


até a concorrente quantia.

6. Jurisprudência correlata

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A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária,
condicional, mitigada e equitativa

Resumo do julgado

Direito civil. Responsabilidade civil por fato de outrem - pais pelos atos praticados
pelos filhos menores. Ato ilícito cometido por menor. Responsabilidade civil
mitigada e subsidiária do incapaz pelos seus atos (cc, art. 928). Litisconsórcio
necessário. Inocorrência.
REsp 1436401/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 02/02/2017, DJe 16/03/2017.

O companheiro que, com seu comportamento, assume o risco de transmissão


do vírus HIV à parceira, deve pagar indenização pelos danos morais e materiais
a ela causados

Resumo do julgado

Recurso especial. Responsabilidade civil. Aids. Relação de família.


Transmissão do vírus hiv. Companheiro que infectou a parceira na constância da
união estável. Caracterização da culpa. Ocorrência.
Indenização por danos materiais e danos morais. Cabimento.
REsp 1760943/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 19/03/2019, DJe 06/05/2019.

 Conclusão

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Percebe-se, então, que a responsabilidade civil está

intrinsecamente relacionada à obrigação, gerada para o autor, de

reparar o dano gerado a outrem após um ato praticado. Assim sendo, pode-se

entender que aquele que pratica um ato ou omite-se de fazer algo que deveria,

deve sujeitar-se às consequências geradas. É importante destacar, também, que o

dano gerador da responsabilidade não é apenas voltado aos aspectos materiais,

mas também às questões morais.

REFERÊNCIAS
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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A responsabilidade civil do incapaz pela

reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa. Buscador

Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:

https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9ac5a6d86e892

4182271bd820acbce0e. Acesso em: 15 mai. 2020

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O companheiro que, com seu comportamento,

assume o risco de transmissão do vírus HIV à parceira, deve pagar indenização

pelos danos morais e materiais a ela causados. Buscador Dizer o Direito, Manaus.

Disponível em:

https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7f8dfc182100b7

2f5e7cb91f63f9c8db. Acesso em: 15 mai. 2020

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São

Paulo: Atlas, 2010.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 19

ed. São Paulo: Saraiva, 2005. VII.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil.

2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 3.

13
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3. ed. rev. e atual. São Paulo:

Saraiva, 2008. v. IV.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico conciso. 1 ed. Rio de Janeiro. Forense,

2008.

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