Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE DIREITO
NAMPULA
2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
AUGUSTA ANTÓNIO
BEMVINDA MÁRIO
ROSÁRIO QUINTANA
NAMPULA
2023
Lista de abreviaturas
Al.- Alínea
Art.º.- Artigo
Ed.- Edição
N.º- Número
Vol.- Volume
P- Página
Segs.- Seguintes
Introdução
Objectivo Geral:
Objectivos Específicos:
Estamos com efeito no domínio das fontes das obrigações, visto que daqueles factos
nasce um vínculo creditório- a obrigação de reparar os danos, ou seja, a obrigação de
indemnização. E como fonte autónoma deverá considerar-se, do mesmo modo, a
violação de uma obrigação, uma vez também então o agente, ou seja o devedor, fica
constituindo em responsabilidade, devendo indemnizar os prejuízos sofridos pelo
credor?
1
PINTO, Carlos Alberto da Mota, Monteiro, António Pinto, Pinto, Paulo Mota. Teoria Geral do Direito
Civil, 4ᵃ ed.2ᵃ reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012. P.128.
2
CONSTANTINO, Gilberto Bogaio, Lições Elementares de Teoria Geral do Direito Civil, Escolar
Editora, Maputo, 2021. P.38-39.
compreender, além dessa prestação, a indemnização pelos danos resultantes de atraso
(indemnização moratória). Ou a prestação se impossibilita ou perde interesse para o
credor, sempre por facto imputável ao devedor, e aprestação primitiva é substituída pura
e simplesmente pela indemnização (que neste caso diz-se compensatória). Em qualquer
das hipóteses, não temos diante de nós uma obrigação anterior, ampliada com o dever
de indemnizar ou consubstanciada nele. Esse dever é apenas um elemento que acresce
ao conteúdo da obrigação ou em que este se transmuda.3
Trata-se de acto que a lei consente por considerar justificado em atenção a natureza do
interesse que visa satisfazer. Mas desse acto resulta prejuízo para outrem. E a lei
considera de justiça que o titular daquele interesse, podendo embora realizar o acto, não
deixe contudo de indemnizar o terceiro pelos danos que lhe cause. Pensemos no estado
de necessidade (art. 339 do CC). É lícita acção de quem destruir ou danificar coisa
alheia com o fim de remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer
do agente, quer do terceiro.
3
TELLES, Inocêncio Galvão, Direitos das Obrigações, 7.ᵃ ed. Reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra,
2010. P. 214
d) Temos assim, em resumo, três categorias de responsabilidade extracontratual:
Responsabilidade por acto ilícito;
Responsabilidade por acto lícito;
Responsabilidade pelo risco.4
4
TELLES, Inocêncio Galvão, Direitos das Obrigações, 7.ᵃ ed. Reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra,
2010. P. 215 segs.
5
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, Direito das Obrigações, vol. I, Almedina, Coimbra, 2000. P.254
segs.
6
VARELA, João de Matos Antunes, Das Obrigações em Geral, vol. I 10.ᵃ Ed., Almedina, Coimbra, 2012.
P.527
Efectivamente, tratando-se de uma situação de responsabilidade civil subjectiva, esta
nunca poderia ser estabelecida sem existir um comportamento dominado ou dominável
pela vontade, que possa ser imputado a um ser humano e visto como expressão da
conduta de um sujeito responsável. Não se exige, porém, que o comportamento do
agente seja intencional ou sequer que consista numa actuação, bastando que exista uma
conduta que lhe possa ser imputada em virtude de estar sob controlo da sua vontade.
Não são, por isso, factos voluntários, por estarem fora do controle da sua vontade, os
acontecimentos do mundo exterior causadores de danos (queda de raios, tremores de
terra, ciclones). Mas mesmo fenómenos respeitantes ao agente podem não constituir
factos voluntários sempre que ao agente falte a consciência ou não possa exercer
domínio sobre a sua vontade. Não envolve, por isso, responsabilidade civil, a situação
de o agente de o agente destruir um vaso de porcelana precioso, porque cai sobre ele
em consequência de uma síncope cardíaca, ou foi submetido a coacção física (vis
absoluta) para esse efeito. Se existir algum domínio da vontade já pode, porém, haver
responsabilidade como na hipótese da descrição do vaso ter resultado de um gesto
brusco do agente.7
Via de regra, a conduta do agente constitui um facto positivo ou acção, que viola um
dever jurídico de não intromissão na esfera jurídica de outra pessoa, titular do
correspondente direito absoluto (por exemplo, injúria, ofensa corporal, apropriação ou
danificação de uma coisa alheia). Mas também um facto negativo ou omissão pode
ocasionar danos.
A nossa lei civil toma posição no art. 486 do CC. Nele se declara que «as simples
omissões dão lugar à obrigação de reparar os donos, quando, independentemente dos
outros requisitos legais, havia, por força da lei ou de negócio jurídico, o dever de
praticar o acto omitido».
Esta norma reclama cuidada atenção. Propendemos para uma compreensão ampla da
demasiado restrita, as omissões tão-só geram responsabilidade civil, desde que, além
dos restantes requisitos legais- se verifique um requisito especifico: que existe o dever
jurídico da prática do acto omitido. Entre aqueles requisitos gerais, conta-se o nexo de
causalidade, isto é, que o acto omitido tivesse seguramente ou com a maior
probabilidade obstado ao dano (art. 563 do CC).8
7
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P. 255
8
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das Obrigações, 9ᵃ ed., Almedina, Coimbra, p-511
O facto voluntário do agente pode revestir duas formas: a acção (art. 483 do CC) e a
omissão (art. 486 do CC). Tratando-se de uma acção, a imputação da conduta ao agente
apresenta-se como simples. Já no caso da omissão essa imputação ao agente exige algo
mais: a sua oneração com um dever especifico de praticar o acto omitivo.
Efectivamente, se existir um dever genérico de não levar os direitos alheios, já não
existe um correspondente de dever genérico de evitar ocorrência de danos para outrem,
uma vez que a sua instituição multiplicaria exponencialmente as ingerência na esfera
jurídica alheia.
2.1.2. A ilicitude
o facto voluntário que lesa interesses alheios só obriga a reparação havendo ilicitude-
consiste na infracção de um dever jurídico.
A matéria de violação dos direitos de créditos não se encontra aqui contemplada, pois,
como sabemos, o legislador ocupou-se dela em lugar à parte como decorre do art. 798
seguintes. Insiste-se, porém, na proximidade de regimes da responsabilidade contratual
e da extracontratual.
9
Idem p-506
deveres impostos por lei que vise a defesa de interesses particulares, sem se confira,
correspectivamente, quaisquer direitos subjectivos.
Para além da previsão geral da responsabilidade civil subjectiva no art. 483 do CC,
estendida a omissão pelo art. 486, encontram-se dispersas pelo Código diversas
previsões delituais que permitem estabelecer tipos delituais específicos, para além das
categorias gerais de ilicitude. Entre ele salienta-se nomeadamente o abuso de direito
(art. 334), a não cedência reciproca em caso de conflitos de direitos (art. 335), a ofensa
do crédito e do bom nome (art. 484 do CC) e a prestação de conselho, recomendações e
informações (art. 485 do CC).10
Trata-se daquelas circunstâncias que, por tirarem ao facto que ocasionou o dano da
ilicitude, excluem a responsabilidade civil. O próprio n.°1 do art. 483 do CC pressupõe
a possibilidade de violação lícita de direitos de outrem ou de normas dirigidas a proteger
interesses alheios, o que corresponde à intervenção de uma causa justificativa.
Existem, desde logo, duas causas gerais, sem disciplina expressa na lei civil, que
afastam a ilicitude: o regular exercício de um direito e o cumprimento de um dever
jurídico. Ao lado destas, encontram-se certas causas especiais justificativas do facto,
que se consagra a propósito do exercício e tutela dos direitos (arts. 334 e segs.): a acção
directa, a legítima defesa, o estado de necessidade e o consentimento do lesado.11
2.2.3. A culpa
A ideia de culpa está no cerne da imputação delitual, isto é, mandar que alguém, através
de uma indemnização, suporte os danos primeiros ocorridos numa esfera jurídica alheia.
A culpa permite, na verdade, dar dois passos:
10
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P-264
11
COSTA, Mário Júlio de Almeida, ob. Cit. P- 522
12
CORDEIRO, António Menezes, Tratado de Direito das Obrigações VII, Almedina, Coimbra, 2014. P-
459
Nexo de imputação do facto ao lesante (culpa). Para que o facto ilícito gere
responsabilidade é necessário que o autor tenha agido com culpa. Não basta reconhecer
que ele procedeu objectivamente mal. É preciso, nos termos do art. 483 do CC, que a
violação ilícita tenha sido praticada com dolo ou mera culpa.
Agir com culpa significa actuar em termos de a conduta do agente merecer a reprovação
ou censura do direito. E a conduta do lesante é reprovável quando, pela sua capacidade
e em face das circunstâncias concretas da situação, se concluir que ele podia e devia ter
agido de outro modo.13
Ao prever que o agente tenha actuado ´´com dolo ou mera culpa´´ (n.°1 do art. 483 do
CC) a lei exige ainda a culpa como pressuposto normal da responsabilidade civil,
considerando excepcional os casos de responsabilidade sem culpa (n.°2 do art. 483).14
A responsabilidade civil assenta na culpa, ou seja, ela exige a culpa do agente. A culpa
consiste no facto de o agente se ter posto em contradição com a ordem jurídica sendo-
lhe esta sua conduta imputável por ser censurável. A obrigação de indemnizar funda-se
na responsabilidade pessoal pelos seus próprios actos e pelos prejuízos daí resultante.
Pelo que a lei tem em vista a responsabilidade da pessoa individualmente defendida. É
com base desta ideia que foi concedido o princípio geral do n.°1 do art. 483, que
consagra a doutrina da responsabilidade subjectiva, cabendo neste contexto ao lado a
prova da culpa ao abrigo do n.º 1 do art. 483.
13
VARELA, João de Matos Antunes, ob. Cit. P-562
14
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P-278
15
CONSTANTINO, Gilberto Bogaio, ob. Cit. P.41
2.2.3.1. A inimputabilidade como pressuposto da culpa e o regime da
inimputabilidade dos inimputáveis
No entanto, para que o agente possa ser efectivamente censurado pelo seu
comportamento é sempre necessário que ele conhece ou devesse conhecer o desvalor do
seu comportamento e que tivesse podido escolher a sua conduta. Daí que se considere
existir falta de imputabilidade quando o agente não tem necessária capacidade para
entender a valorização negativa do seu comportamento ou de falta da possibilidade de o
determinar livremente. Sendo a imputabilidade pressuposto do juízo de culpa,
naturalmente que o agente fique isento de responsabilidade se praticar o facto em estado
de inimputabilidade (art. 488, n.°1), o que a lei presume que se verifica sempre que o
agente seja menor de sete anos ou interdito por anomalia psíquica (art.488, n.°).
Conforme resulta do n.° 1 do art. 488, a falta de imputabilidade não exclui, no entanto, a
responsabilidade, sempre que, sendo transitória, seja devida de um facto culposo do
agente. A lei admite ainda no n.°1 do art.489 do CC7+ a possibilidade de, por motivos
de equidade, responsabilizar total ou parcialmente o inimputável pelos danos que este
causar, desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem
incumbe a sua vigilância, estabelecendo ainda que a fixação da indemnização não pode
privar o inimputável dos alimentos necessários conforme o seu estado e condição, nem
dos meios indispensáveis para cumprir os seus deveres de alimentos.16
2.2.4. O dano
a) Definição de dano
16
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P.-278
sentido simultaneamente fáctico e normativo, ou seja, como a frustração de uma
utilidade que era objecto de tutela jurídica.17
Além do facto e do dano, exige-se que entre os dois elementos exista uma ligação: que o
facto constitua a causa do dano. Este último pressuposto da responsabilidade civil é
ainda enunciado no n.°1 do art. 483 do CC, que proclama o agente adstrito a indemnizar
«pelos danos resultantes da violação». Não há que ressarcir todos e quaisquer danos que
sobrevenham ao facto ilícito, mas tão-só os que ele tenha na realidade ocasionado, os
que possam considerar-se pelo mesmo produzidos como se pode depreender do art.563
do CC. O nexo de causalidade entre o facto e o dano desempenha, consequentemente, a
17
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P-294
18
COSTA, Mário Júlio de Almeida, ob. Cit. P- 542 ss
19
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P-296
dupla função de pressuposto da responsabilidade civil e de medida da obrigação de
indemnizar.20
A responsabilidade pelo risco não se funda na razão do agente causador de danos, ter
cometido um facto ilícito, mas na ideia que o agente é obrigado a indemnizar por
virtude dos riscos respeitantes e resultantes da sua actividade, actividade essa que o
Estado não quer ver proibida, por ser socialmente útil e que, por isso mesmo, é lícita
todavia com cujo riscos também não quer ou não pode suportar.
20
COSTA, Mário Júlio de Almeida, ob. Cit. P- 554 ss
21
Idem pág.- 561
22
CONSTANTINO, Gilberto Bogaio, ob. Cit. P-41
casual entre o facto e o dano que resultou para o lesado. A sua demonstração,
obviamente, torna-se também necessária nesta forma de responsabilidade.23
Uma outra causa da responsabilidade pelo risco, diz respeito aos danos causados pelas
instalações de energia eléctrica ou do gás nos termos do art.º. 509 do CC.
23
COSTA, Mário Júlio de Almeida, ob. Cit. P- 562 ss
24
CONSTANTINO, Gilberto Bogaio, ob. Cit. P. 43
25
LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, ob. Cit. P. 322-323
26
Idem p. 328 e segs.
4. A responsabilidade civil extracontratual por factos lícitos
27
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das Obrigações, 9ᵃ ed., Almedina, Coimbra, p. 602-603
Conclusão
Referências Bibliográficas
Legislação:
Doutrina: