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RESPONSABILIDADE CIVIL

SUBJETIVA

Prof. Wesley Monteiro


A CULPA NA RESPONSABILIDADE CIVIL

A culpa não é definida e nem


conceituada na legislação pátria. A regra
geral do Código Civil Brasileiro para
caracterizar o ato ilícito, contida no artigo
186, estabelece que este somente se
materializará se o comportamento for
culposo. Neste artigo está presente a
culpa lato sensu, que abrande tanto a
dolo quanto a culpa em sentido estrito.
A CULPA NA RESPONSABILIDADE CIVIL

Por dolo entende-se, em síntese, a conduta intencional, na qual o


agente atua conscientemente de forma que deseja que ocorra o
resultado antijurídico ou assume o risco de produzi-lo.

Já na culpa stricto sensu não existe a intenção de lesar. A conduta é


voluntária, já o resultado alcançado não. O agente não deseja o
resultado, mas acaba por atingi-lo ao agir sem o dever de cuidado. A
inobservância do dever de cuidado revela-se pela imprudência,
negligência ou imperícia.
A CULPA NA RESPONSABILIDADE CIVIL

A exigência da culpa como pressuposto da


responsabilidade civil representou, inegavelmente, um
grande avanço na história da civilização, na medida em
que se abandonou o objetivismo típico das sociedades
antigas, onde a resposta ao mal causado era difusa,
passando-se a se exigir um elemento subjetivo que
pudesse viabilizar a imputação psicológica do dano ao
seu agente.

A despeito da falta de consenso, muitos doutrinadores


apontam que foi por meio da Lex Aquilia que o
conceito de culpa incorporou-se definitivamente à
responsabilidade extracontratual (ou aquiliana) do
Direito Romano.
A CULPA NA RESPONSABILIDADE CIVIL

Foi, então, com base na interpretação e aplicação cada vez mais


extensiva da Lex Aquilia pelos jurisconsultos que o Código
Napoleônico adotou uma teoria geral de responsabilidade civil fundada
na culpa. Essa teoria foi posteriormente adotada por quase todos os
ordenamentos jurídicos. No Brasil não foi diferente.

Na vigência do Código Civil de 1916, estabeleceu-se como regra a


responsabilidade civil subjetiva. Ou seja, só era possível imputar
responsabilidade a alguém caso o ato tivesse sido cometido
culposamente. A responsabilidade objetiva, portanto, era exceção só
admitida quando prevista em lei.
O QUE É CULPA

Segundo STOLZE,

A culpa (em sentido amplo) deriva da inobservância de um dever


de conduta, previamente imposto pela ordem jurídica, em
atenção à paz social. Se esta violação é proposital, atuou o
agente com dolo; se decorreu de negligência, imprudência ou
imperícia, a sua atuação é apenas culposa, em sentido estrito.
ART. 186 DO CÓDIGO CIVIL
a) negligência — é a falta de observância do dever de cuidado, por omissão. Tal
ocorre, por exemplo, quando o motorista causa grave acidente por não haver
consertado a sua lanterna traseira, por desídia;

b) imprudência — esta se caracteriza quando o agente culpado resolve enfrentar


desnecessariamente o perigo. O sujeito, pois, atua contra as regras básicas de cautela.
Caso do indivíduo que manda o seu filho menor alimentar um cão de guarda, expondo-o
ao perigo;

c) imperícia — esta forma de exteriorização da culpa decorre da falta de aptidão ou


habilidade específica para a realização de uma atividade técnica ou científica. É o que
acontece quando há o erro médico em uma cirurgia em que não se empregou
corretamente a técnica de incisão ou quando o advogado deixa de interpor recurso que
possibilitaria, segundo jurisprudência dominante, acolhimento da pretensão do seu
cliente.
ELEMENTOS DA CULPA
voluntariedade do comportamento do agente - a atuação do sujeito
causador do dano deve ser voluntária, para que se possa reconhecer a
culpabilidade;

Previsibilidade - só se pode apontar a culpa se o prejuízo causado, vedado


pelo direito, era previsível. Escapando-se do campo da previsibilidade,
ingressamos na seara do fortuito que, inclusive, pode interferir no nexo de
causalidade, eximindo o agente da obrigação de indenizar;

violação de um dever de cuidado - a culpa implica a violação de um dever


de cuidado. Se esta inobservância é intencional, como visto, temos o dolo.
CLASSIFICAÇÃO DA CULPA
CLASSIFICAÇÃO PELA GRAVIDADE DA CULPA
GRAVE – intenção dolosa ou negligência imprópria da pessoa comum (“culpa
lata dolo aequiparatur”).

LEVE – falta evitável com atenção ordinária. É a falta de diligência média que
um homem normal observa em sua conduta;

LEVÍSSIMA – falta evitável com atenção extraordinária. Trata-se da falta


cometida por força de uma conduta que escaparia ao padrão médio, mas que
um diligentíssimo pater familias, especialmente cuidadoso e atento, guardaria.

Não obstante os diferentes graus, aquele que age com culpa (mesmo que levíssima)
está obrigado a reparar (in lege Aquilia et levissima culpa venit).
Nesse sentido, SÍLVIO RODRIGUES:

“Tal distinção se apresenta irrelevante em


matéria de responsabilidade
extracontratual, onde a necessidade de
reparar advém de culpa do agente (de
qualquer grau), mas onde o elemento
predominante é o alcance do prejuízo
experimentado pela vítima”
RELATIVAMENTE AOS MODOS DE SUA APRECIAÇÃO

CULPA IN CONCRETO

Seria examinada no caso sob julgamento, considerando


as circunstâncias fáticas apresentadas;

CULPA IN ABSTRACTO

Aquela que contempla o homem médio, segundo a noção


de bonus pater familias dos romanos.
EM FUNÇÃO DA NATUREZA DO DEVER VIOLADO
A culpa pode ser contratual e extracontratual ou aquiliana.

CONTRATUAL - o dever se funda num contrato, consoante o


CC, como p. ex. : se o locatário que deve servir-se da coisa
alugada para os usos convencionados não cumprir com tal
obrigação;

EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA - quando o dever for


originário de violação de preceito geral de direito, o qual
manda respeitar a pessoa e os bens alheios, como p. ex.: o
proprietário de um automóvel que, imprudentemente, o
empresta a um sobrinho menor, sem carteira de habilitação,
que ocasiona um acidente.
QUANTO AO CONTEÚDO DA CONDUTA CULPOSA

a culpa in committendo ou in faciendo quando o agente


pratica um ato positivo, isto é, com imprudência.

 Mas se ele cometer uma abstenção, ou seja, for negligente, a


culpa será in omittendo , como p. ex.: um professor de natação
que, por estar distraído, não socorre o aluno, deixando-o morrer
afogado.

Contudo, a omissão só poderá ser considerada causa jurídica


do dano se houver existência do dever de praticar o ato não
cumprido e certeza ou grande probabilidade do fato omitido ter
impedido a produção do evento danoso.
QUANTO AO CONTEÚDO DA CONDUTA CULPOSA

Já a culpa in eligendo advém da má


escolha daquele em quem se confia a
prática de um ato ou o adimplemento da
obrigação, como p. ex.: admitir ou manter
a seu serviço empregado não habilitado
legalmente ou sem aptidões requeridas.

Esta modalidade estava prevista no art.


1521, inc. III do CC de 1916 e na Súmula
341 do STF.
Responsabilidade civil. Cirurgia. Queimadura causada na paciente por bisturi elétrico.
Médico-chefe. Culpa ‘in eligendo’ e ‘in vigilando’. Relação de preposição.
Dependendo das circunstâncias de cada caso concreto, o médico-chefe pode vir a
responder por fato danoso causado ao paciente pelo terceiro que esteja
diretamente sob suas ordens. Hipótese em que o cirurgião-chefe não somente
escolheu o auxiliar, a quem se imputa o ato de acionar o pedal do bisturi, como
ainda deixou de vigiar o procedimento cabível em relação àquele equipamento.
Para o reconhecimento do vínculo de preposição, não é preciso que exista um contrato
típico de trabalho; é suficiente a relação de dependência ou que alguém preste serviços
sob o comando de outrem. Recurso especial não conhecido” (Resp 200831/RJ, Rel. Min.
Barros Monteiro, DJ, 20-8-2001).
QUANTO AO CONTEÚDO DA CONDUTA CULPOSA

A culpa in vigilando é aquela que decorre da falta de


atenção com o procedimento de outrem, cujo ato ilícito o
responsável deve pagar, como p. ex.: a ausência de
fiscalização do patrão, quer relativamente aos seus
empregados, quer à coisa.

É a hipótese de empresa de transportes que permite a saída


de ônibus sem freios, o qual origina acidentes.
“Ementa: Responsabilidade civil — Fuga e desaparecimento do paciente
de clínica psiquiátrica — Culpa dos responsáveis pelo estabelecimento
— Dano moral — Indenização devida. Incide em culpa in vigilando
prepostos de estabelecimento manicomial que permitem a fuga de
interno, ante a facilidade decorrente da ausência de obstáculos
físicos e número insuficiente de vigilantes. Cabível é a indenização
por dano moral aos familiares da vítima, alienada mental, que foge e
desaparece. Recurso adesivo dos autores conhecido e desprovido, e
provimento parcial do recurso da ré. Decisão: Negar provimento ao
recurso adesivo dos autores e dar parcial provimento ao recurso da ré.
Unânime”
QUANTO AO CONTEÚDO DA CONDUTA CULPOSA

E, por fim, a culpa in custodiendo é aquela que advém da


falta de cautela ou atenção em relação a uma pessoa, animal
ou objeto, sob os cuidados do agente.
“Ementa: Responsabilidade civil. Disparo de arma de fogo por menor, que
atinge a região frontal da cabeça da vítima, causando-lhe a cegueira
irreversível. Obrigação de indenizar a cargo das pessoas sob a qual
estava a guarda da menor, autora do disparo, por incidirem em culpa
‘in vigilando’, ‘in custodiendo’ relativamente à arma, que permanecia
à mostra em um cômodo da casa de propriedade dos réus,
respectivamente mãe e tio da causadora do evento danoso. Fixação
dos lucros cessantes em valor compatível com as perspectivas dos
rendimentos que auferiria a vítima, em vista da idade e do grau de
instrução que atingiu quando do evento. Recurso provido em parte” (Ap.
Cível n. 590013702, 2.ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, Rel. Des. Arnaldo Rizzardo, j. 20-6-1990).
QUANTO AO CONTEÚDO DA CONDUTA CULPOSA

Importante notar, finalmente, a existência ainda da


denominada culpa in contrahendo, aquela em que incorre o
agente na fase anterior à elaboração de um contrato (fase de
puntuação ou de negociações preliminares).

Trata-se, pois, de uma modalidade de culpa derivada de um


comportamento danoso da parte que, negando-se a celebrar o
contrato esperado, prejudica o legítimo interesse da outra, em
detrimento da regra ética de BOA-FÉ OBJETIVA.
RESPONSABILIDADE
CIVIL
OBJETIVA
DA CULPA AO RISCO
Por influência do Direito francês, o Código Civil de Beviláqua calcou a
responsabilidade civil na ideia de culpa, consoante se depreende da simples
leitura do seu art. 159: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência,
ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a
reparar o dano”.

As hipóteses de responsabilidade objetiva, por sua vez, ficariam relegadas


a isolados pontos da lei codificada, a exemplo da regra prevista em seu art.
1.529, que impunha a obrigação de indenizar, sem indagação de culpa, àquele
que habitar uma casa ou parte dela, pelas coisas que dela caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.
“Os proveitos e vantagens do mundo tecnológico são postos num dos
pratos da balança. No outro, a necessidade de o vitimado em benefício
de todos poder responsabilizar alguém, em que pese o coletivo da culpa.
O desafio é como equilibrá-los. Nessas circunstâncias, fala-se em
responsabilidade objetiva e elabora-se a teoria do risco, dando-se
ênfase à mera relação de causalidade, abstraindo-se, inclusive, tanto da
ilicitude do ato quanto da existência de culpa.”

CALMON DE PASSOS
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA COMO
SOCIEDADE DE RISCO

 TECNOLOGIA é a maior
característica da sociedade
contemporânea ocidental.
 A tecnologia está presente em todos
os setores da vida social.
 É uma exigência cada vez maior em
todos os setores da vida social.
 Tecnologia aumenta as
possibilidades de risco.
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TENDÊNCIA OBJETIVISTA
GUSTAVO TEPEDINO

“Com efeito, os princípios de SOLIDARIEDADE SOCIAL e da JUSTIÇA


DISTRIBUTIVA, capitulados no art. 3.º, incisos I e III, da Constituição, segundo os
quais se constituem em objetivos fundamentais da República a construção de
uma sociedade livre, justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza e da
marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais, não podem
deixar de moldar os novos contornos da responsabilidade civil. Do ponto de vista
legislativo e interpretativo, retiram da esfera meramente individual e subjetiva o
dever de REPARTIÇÃO DOS RISCOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA E DA
AUTONOMIA PRIVADA, cada vez mais exacerbados na era da tecnologia.
Impõem, como linha de tendência, o caminho da intensificação dos critérios
objetivos de reparação e do desenvolvimento de novos mecanismos de seguro
social”
TENDÊNCIA OBJETIVISTA
Leis especiais consagraram a nova teoria, admitindo a
responsabilização do agente causador do dano, independentemente da
prova de dolo ou culpa:

•Decreto n. 2.681, de 1912 (responsabilidade das estradas


de ferro por danos causados aos proprietários
marginais);
•A legislação de acidente do trabalho (Lei n. 5.316/67, o
Decreto n. 61.784/67, Lei n. 8.213/91);
•Leis n. 6.194/74 e 8.441/92 (seguro obrigatório de
acidentes de veículos — DPVAT);
•Lei n. 6.938/81 (referente a danos causados no meio
ambiente);
•Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90).
DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Fundamentado em princípios constitucionais.


Princípio da dignidade da pessoa humana é o
principal.
Aproximação do Direito Público e do Direito Privado.
Atuação ampliada dos juízes na interpretação e
aplicação da lei.

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RC OBJETIVA NO CC/2002
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Qual seria, pois, o âmbito de incidência dessa norma?


Quem estaria aí compreendido?
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Teoria do Risco

CARLOS GONÇALVES pontifica:

“... a admissão da responsabilidade sem culpa pelo


exercício de atividade que, por sua natureza, representa
risco para os direitos de outrem, da forma genérica como
está no texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação
dos casos de dano indenizável.”

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Teoria do Risco
Por essa teoria, compreende-se que
se alguém exerce uma atividade
criadora de perigos especiais, deve
responder pelos danos que
ocasione a terceiros. A
responsabilidade, portanto, surge
em virtude da potencialidade de
danos da atividade exercida.

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Teoria do Risco
(I) Risco-proveito: responsável é aquele que tira proveito da atividade danoso,
com base no princípio de quem aufere o bônus, deve suportar o ônus.
(II) Risco profissional: o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato
prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi
desenvolvida especificamente para justificar a reparação dos acidentes de
trabalho.
(III) Risco excepcional: a reparação é devida sempre que o dano é
consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da
vítima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça.
(IV) Risco criado: aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um
perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver
adotado todas as medidas idôneas a evitá-lo. 32
Risco –proveito
“A teoria do risco não se justifica desde que não haja
proveito para o agente causador do dano, porquanto, se o
proveito é a razão de ser a justificativa de arcar o agente
com os riscos, na sua ausência deixa de ter fundamento a
teoria.” (ALVINO LIMA)

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Risco –proveito?
Anderson Schreiber:

Diante do exposto, a conclusão mais razoável parece ser a de que a cláusula


geral de responsabilidade objetiva dirige-se simplesmente às atividades
perigosas, ou seja, às atividades que apresentam grau de risco elevado
seja porque se centram sobre bens intrinsecamente danosos (como material
radioativo, explosivo, armas de fogo etc), seja porque empregam métodos de
alto potencial lesivo (como o controle de recursos hídricos, manipulação de
energia nuclear etc.). Irrelevante, para a incidência do dispositivo, que a
atividade de risco se organize ou não sob forma empresarial ou que se tenha
revertido em proveito de qualquer espécie para o responsável.
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(...) Cinge-se a controvérsia a verificar se, nas hipóteses de locação de cofre bancário, há
responsabilidade da instituição financeira pelos bens alegadamente depositados (dinheiro e joias),
mesmo na hipótese de roubo.
(...) Ocorre que, conforme a jurisprudência desta Corte Superior, no caso de assalto de cofres
bancários, o banco tem responsabilidade objetiva, decorrente do risco empresarial, devendo indenizar
o valor correspondente aos bens reclamados.
Isso porque, embora não se trate propriamente de um contrato de depósito, tendo em vista que o
Banco não tem conhecimento sobre o conteúdo do cofre locado, o negócio jurídico entabulado entre as
partes, nesses casos, também não se trata de um mero contrato de locação, tendo a instituição
financeira o dever de zelar pelo que está no interior do cofre.
Com efeito, aquele que celebra um contrato com um Banco visando à utilização de seus cofres de
segurança, para custódia de determinados bens, tem a legítima expectativa de que referidos bens, em
regra de grande valor pecuniário ou sentimental, estarão em maior segurança do que se estivessem
em seu próprio poder.
É ínsita a esse tipo de contrato, portanto, a obrigação do Banco, que cobra por esse serviço de locação
de cofres, proporcionar segurança e incolumidade do conteúdo do cofre. Trata-se do risco da atividade
empresarial
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma. Recurso especial n. 1286180/BA. Rel. Min.
Nancy Andrighi, julg. 03 nov. 2011) 35
(...) Cinge-se a controvérsia a verificar se há responsabilidade objetiva da concessionária de
energia elétrica pelo acidente fatal ocorrido com o marido e pai dos autores.
(...) Ou seja, é fato que, após a reforma realizada no imóvel pelos recorridos MARLY
SOARES DE ANDRADE HIDALGO E OUTROS, a rede elétrica deixou de respeitar a
distância mínima do imóvel exigida pela legislação.
Contudo, o Tribunal de origem entendeu que a ELETROPAULO não pode ser
responsabilizada pelo acidente se não foi avisada sobre a reforma no imóvel, fato que
excluiria sua culpa pelo ocorrido. Entretanto, mesmo antes da entrada em vigor do Código
Civil de 2002, já se reconhecia a responsabilidade objetiva da empresa concessionária de
energia elétrica, em virtude do risco da atividade, com fundamento no art. 37, §6º, da CF/88.
(...) O risco da atividade de fornecimento de energia elétrica é altíssimo sendo necessária a
manutenção e fiscalização rotineira das instalações, exatamente para que os acidentes,
como aquele que vitimou o marido e pai dos recorrentes, sejam evitados
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n. REsp 1095575/SP. Rel. Min.
Nancy Andrighi, julg. 03 nov. 2011)

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De acordo com a GOOGLE, tendo o próprio TJ/MG reconhecido que o site não teve participação na criação do perfil
onde foram veiculadas as mensagens ofensivas, era incabível a sua condenação, vez que “as normas constantes nos
arts. 186 e 927 do CC impõem o dever de indenizar ao causador do ato ilícito” (fl. 345, e-STJ). O TJ/MG, por sua vez,
fundamenta o dever de indenizar da GOOGLE na falha do serviço prestado pelo site, “advinda da inexistência de
mecanismo de controle efetivo e eficaz do conteúdo das mensagens postadas pelos usuários” (fl. 320, e-STJ).

(...) Tampouco se pode falar em risco da atividade como meio transverso para a responsabilização do provedor por
danos decorrentes do conteúdo de mensagens inseridas em seu site por usuários. Há de se ter cautela na interpretação
do art. 927, parágrafo único, do CC/02.

No julgamento do REsp 1.067.738/GO, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, minha relatoria p/ acórdão, DJe de
25.06.2009, tive a oportunidade de

enfrentar o tema, tendo me manifestado no sentido de que “a natureza da atividade é que irá determinar sua maior
propensão à ocorrência de acidentes. O risco que dá margem à responsabilidade objetiva não é aquele habitual,
inerente a qualquer atividade. Exige-se a exposição a um risco excepcional, próprio de atividades com elevado potencial
ofensivo”. Transpondo a regra para o universo virtual, não se pode considerar o dano moral um risco inerente à atividade
dos provedores de conteúdo. A esse respeito Erica Brandini Barbagalo anota que as atividades desenvolvidas pelos
provedores de serviços na internet não são “de risco por sua própria natureza, não implicam riscos para direitos de
terceiros maior que os riscos de qualquer atividade comercial” (Aspectos da responsabilidade civil dos provedores de
serviços da internet. In Ronaldo Lemos e Ivo Waisberg, Conflitos sobre nomes de domínio. São Paulo: RT, 2003, p. 361).

Ademais, o controle editorial prévio do conteúdo das informações se equipara à quebra do sigilo da correspondência e
das comunicações, vedada pelo art. 5º, XII, da CF/88.

(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma. Recurso especial REsp 1186616/MG. Rel. Min. Nancy Andrighi,
julg. 23 ago. 2011).
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