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Como vimos, para se estabelecer responsabilidade civil, é

preciso estabelecer que a conduta do agente foi causa do


resultado danoso.

Com efeito, o dano só pode gerar a obrigação de indenizar


quando for possível estabelecer com certeza absoluta quem
foi o agente causador do dano.

Nas palavras de Agostinho Alvim:

“O dano só pode gerar responsabilidade quando seja possível


estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor, ou, como diz
SAVATIER, um dano só produz responsabilidade, quando ele tem por
causa uma falta cometida ou um risco legalmente sancionado.”
O elemento constitutivo da responsabilidade civil, portanto, que
permite alcançarmos essa certeza absoluta é o nexo causal. Ele é o
elemento referencial entre a conduta e o resultado; o liame que
une a conduta do agente ao dano. Nesse sentido, ninguém pode
responder por algo que não fez.

No entanto, excepcionalmente, existem algumas situações em que


o indivíduo responde pelo fato de terceiro. Em outras palavras, é
possível a imputação da responsabilidade sem que aquele que foi
obrigado a indenizar tenha praticado a conduta causadora do dano.

Essas situações são:

 RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM;


 RESPONSABILIDADE POR FATO DOS ANIMAIS; E
 RESPONSABILIDADE POR FATO DA COISA.
RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM

A lei institui casos em que a pessoa responde sem ter causado


dano. O art. 932 do Código Civil estabelece situações em que o
indivíduo responde pelos atos danosos de outra pessoa.

Art. 932. São TAMBÉM responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até
a concorrente quantia.
RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM

Enuncia o art. 933 do CC que a responsabilidade das pessoas


acima elencadas independe de culpa, tendo sido adotada a
teoria do risco.

Assim, as pessoas arroladas, ainda que não haja culpa de sua


parte (responsabilidade objetiva), responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.

Mas para que essas pessoas respondam, é necessário provar a


culpa daqueles pelos quais são responsáveis. Por isso a
responsabilidade é denominada de objetiva indireta ou objetiva
impura. (Álvaro Villaça Azevedo apud Flávio Tartuce).
RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM

ESCLARECENDO:

“Para que os pais respondam objetivamente, é preciso


comprovar a culpa dos filhos; para que os tutores ou
curadores respondam, é preciso comprovar a culpa dos
tutelados ou curatelados; para que os empregadores
respondam, é preciso comprovar a culpa dos
empregados; e assim sucessivamente.”
RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM

Desse modo é fundamental repetir que NÃO se pode mais falar em


culpa presumida (culpa in vigilando ou culpa in eligendo) nesses
casos, mas em responsabilidade sem culpa, de natureza objetiva.

Os casos de presunção relativa de culpa foram banidos do ordenamento jurídico


brasileiro, diante de um importante salto evolutivo. Vale ainda lembrar que deve ser
tida como cancelada a Súmula 341 do STF, pela qual seria presumida a culpa do
empregador por ato de seu empregado. Na verdade, a responsabilidade do
empregador por ato do seu empregado, que causa dano a terceiro, independe de culpa
(responsabilidade objetiva – arts. 932, III e 933 do CC).

V Jornada de Direito Civil

Enunciado 451 - A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se


na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando
superado o modelo de culpa presumida.
OS PAIS, PELOS FILHOS MENORES QUE ESTIVEREM SOB SUA
AUTORIDADE E EM SUA COMPANHIA E O TUTOR E O
CURADOR, PELOS PUPILOS E CURATELADOS, QUE SE
ACHAREM NAS MESMAS CONDIÇÕES;

Partindo de uma interpretação literal, o STJ, no REsp 540459-


RS, afastou a responsabilidade do pai que não detinha a
guarda e não estava na companhia do menor.

A ponderação crítica que fazem Pablo, Giselda Hironaka e


Maria Berenice Dias é no sentido de que se o dever de educar
cabe a ambos, a responsabilidade também. Tartuce e Gustavo
Tepedino discordam desses autores e concordam com o
julgado do STJ.
A responsabilidade civil dos pais que estiverem separados por atos
do filho divide-se em duas correntes:

1. Para primeira corrente, apoiada no STJ, o genitor no exercício do


poder familiar que não possui a guarda de filho menor responde
civilmente pelos danos causados por este, salvo se provar que não
teve culpa. Vigora uma presunção de culpa contra o genitor, mesmo
sob o ambiente do CC/02.

Nesse sentido, o STJ, apoiando-se tanto no CC/16 quanto no CC/02,


afastou a responsabilidade de pai no caso de filho menor que, sob a
guarda da mãe, tomou arma comprada por esta há poucos dias e
desferiu tiros em terceiros.
2. Para a segunda corrente, segundo o CC/02, a responsabilidade dos
pais é objetiva, de modo que é irrelevante a discussão de culpa.
Ambos os pais no exercício do poder familiar devem responder
solidariamente pelos atos de seus filhos menores, mesmo se
separados, ressalvado o direito de regresso contra o genitor que
tiver culpa exclusiva pelo fato.

É a orientação repousada no enunciado nº 449 das Jornadas de


Direito Civil: "Considerando que a responsabilidade dos pais pelos
atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por
culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder
familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos,
ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em
caso de culpa exclusiva de um dos genitores."
Obs.: Vale lembrar que a doutrina e a jurisprudência (RT
494/92) têm entendido que na emancipação voluntária, os
pais não se isentam de responsabilidade.

A lei que rege a responsabilidade civil é a lei do tempo do ato


ilícito (tempus regit actum): se foi à época do Código Civil/16,
este se aplica.

Na vigência daquele código, os menores relativamente


incapazes (de 16 a 21 anos) eram equiparados aos capazes
(respondiam sozinhos ou em solidariedade com os pais).

Já o absolutamente incapaz era inimputável e só os pais


respondiam.
Veja que, ao dispor, no caput do art. 932, que “são também
responsáveis [...]”, o CC de 2002, homenageando a vítima,
entendeu que o incapaz também poderá ter
responsabilidade, ainda que subsidiária.

O Código de 2002, em seu art. 928, passou a admitir


expressamente a responsabilidade do incapaz (mesmo
absolutamente incapaz), ainda que em caráter subsidiário.

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as


pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo
ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que


deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o
incapaz ou as pessoas que dele dependem.
PERGUNTA-SE:

TERÃO OS PAIS AÇÃO REGRESSIVA CONTRA OS FILHOS?

NÃO.

Não cabe ação regressiva, nos termos do art. 934, se a


pessoa por quem a indenização foi paga for descendente,
absoluta ou relativamente incapaz, da pessoa que pagou.

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por


outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem
pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu,
absoluta ou relativamente incapaz.
VEJA QUE O INCAPAZ SERÁ RESPONSÁVEL PELOS PREJUÍZOS
CAUSADOS:

•Se os seus responsáveis não tiverem obrigação de


fazê-lo Ex.: medida sócio-educativa do ECA,
conforme enunciado 40 da I Jornada de Direito
Civil.

•Se seus responsáveis não dispuserem de meios


suficientes.

O parágrafo único do art. 928 traz norma diretamente


relacionada com o ESTATUTO DO PATRIMÔNIO MÍNIMO e com
o princípio da dignidade da pessoa humana.
Ressarcimento de danos - Pichação de muros de
escola municipal - Ato infracional praticado por
menores - Ação proposta em face de incapazes -
Inobservância das condições do art. 928, do Código
Civil - As consequências civis dos atos danosos
praticados pelo incapaz devem ser imputadas
primeiramente aos pais - Extinção do processo sem
resolução do mérito.

(TJSP Ap. Cível – 9071934-50.2009. Rel. Des. Ferraz de


Arruda. 13ª Câmara de Direito Público. DJ.
09/06/2010).
O EMPREGADOR OU COMITENTE, POR SEUS EMPREGADOS,
SERVIÇAIS E PREPOSTOS, NO EXERCÍCIO DO TRABALHO QUE
LHES COMPETIR, OU EM RAZÃO DELE

A Teoria que explica a responsabilidade do empregador pelo ato do empregado


é a Teoria da Substituição (entende-se que o empregado substitui o
empregador na conduta, e o empregador substitui o empregado no pagamento
à vítima).

Superando a súmula 341 do STF (“é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato
culposo do empregado ou preposto”), o novo CC-02 estabelece ser objetiva a
responsabilidade do empregador ou comitente por ato do preposto ou empregado: não cabe a
alegação de ausência de culpa na escolha de seu funcionário.

Todavia, é possível a discussão da culpa na relação externa com a vítima, como


em um acidente de trânsito (por exemplo, alegando que o empregado não teve
culpa).

A lei diz que o empregador responde pelo empregado que atue em razão ou no
exercício da função. Para a caracterização dessa responsabilidade, não há
sequer necessidade de prova do vínculo de emprego.
"DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DO HOSPITAL POR ERRO MÉDICO E POR DEFEITO NO
SERVIÇO. SÚMULA 7 DO STJ. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 334 E 335 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. REDIMENSIONAMENTO DO VALOR
FIXADO PARA PENSÃO. SÚMULA 7 DO STJ. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TERMO
INICIAL DE INCIDÊNCIA DA CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DA DECISÃO QUE FIXOU O
VALOR DA INDENIZAÇÃO.
1. A responsabilidade das sociedades empresárias hospitalares por dano causado ao
paciente-consumidor pode ser assim sintetizada: (i) as obrigações assumidas diretamente
pelo complexo hospitalar limitam-se ao fornecimento de recursos materiais e humanos
auxiliares adequados à prestação dos serviços médicos e à supervisão do paciente, hipótese
em que a responsabilidade objetiva da instituição (por ato próprio) exsurge somente em
decorrência de defeito no serviço prestado (art. 14, caput, do CDC); (ii) os atos técnicos
praticados pelos médicos sem vínculo de emprego ou subordinação com o hospital são
imputados ao profissional pessoalmente, eximindo-se a entidade hospitalar de qualquer
responsabilidade (art. 14, § 4, do CDC), se não concorreu para a ocorrência do dano; (iii)
quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde
vinculados de alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar
e o profissional responsável, apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o hospital é
responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela
vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta
(arts. 932 e 933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência do paciente,
determinar a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC). (REsp nº 1.145.728⁄MG, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p⁄ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 28⁄6⁄2011, DJe 8⁄9⁄2011 - grifou-se).
Súmula nº 492 do Supremo Tribunal Federal:
"A empresa locadora de veículos responde, civil e
solidariamente com o locatário, pelos danos por este
causados a terceiro, no uso do carro locado.".

Crítica: Solidariedade se presume? (Álvaro Villaça Azevedo)

Art. 265 do Código Civil


 OS DONOS DE HOTÉIS, HOSPEDARIAS, CASAS OU
ESTABELECIMENTOS ONDE SE ALBERGUE POR DINHEIRO,
MESMO PARA FINS DE EDUCAÇÃO, PELOS SEUS HÓSPEDES,
MORADORES E EDUCANDOS

José de Aguiar Dias justifica a responsabilidade dos donos de hotéis e


congêneres no dever de segurança, e Cavalieri Filho complementa
lembrando que, por se tratar de relação de consumo, essa
responsabilidade é objetiva.

O inciso IV abrange também os donos de escola, que são responsáveis


somente por atos dos educandos menores, vez que os maiores de idade
já têm responsabilidade jurídica própria.

Se porventura o ato for causado por educando menor, o dono da escola


indeniza e, em regra, não cabe ação regressiva contra os pais da
criança, vez que eles transferiram a guarda provisória à escola, a qual,
por seu turno, falhou em seu dever de zelo.
Obs.: no caso de escolas públicas, a responsabilidade é do
Estado.

Outro assunto a se considerar é a possível responsabilidade


civil dos donos de escolas por omissão pelos danos sofridos
pelo educando em caso de bullying (tema em moda nos
concursos públicos).

Bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de


violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados
por um indivíduo (bully ou "valentão") ou grupo de indivíduos com
o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de
indivíduos) incapaz(es) de se defender.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. VIOLENCIA
ESCOLAR. “BULLYNG”. ESTABELECIMENTO DE ENSINO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO. DANO MORAL CONFIGURADO. DESPROVIMENTO
DOS RECURSOS. I – Palavra inglesa que significa usar o poder
ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, “Bullying” é
um termo utilizado para descrever atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetidos; II – Os fatos relatados e
provados fogem da normalidade e não podem ser tratados
como simples desentendimentos entre alunos. III – Trata-se
de relação de consumo e a responsabilidade da ré,
como prestadora de serviços educacionais é
objetiva, bastando a simples comprovação do nexo
causal e do dano; IV – Recursos – agravo retido e apelação
aos quais se nega provimento. TJRJ - Julgamento: 02/02/2011.
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL DANOS MORAIS
HUMILHAÇÃO POR PARTE DE PROFESSOR E COLEGAS
BULLYING. I - Menor que veio a ser jogado em lixeira por
professor que objetivava impor ordem na sala de aula. Ação
desproporcional que deu ensejo a zombarias e piadas por
parte dos demais colegas Configuração do chamado bulying
Reparação por danos morais cabíveis. II - Adequação do valor
arbitrado na condenação Redução à quantia de R$ 7.500,00
(sete mil e quinhentos reais). Sentença reformada em parte.
Recurso parcialmente provido. Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo. 0169350-45.2007.8.26.0000 Apelação Relator(a):
Nogueira Diefenthaler. Comarca: Ribeirão Preto. Órgão
julgador: 5ª Câmara de Direito Público.
 OS QUE GRATUITAMENTE HOUVEREM PARTICIPADO NOS
PRODUTOS DO CRIME, ATÉ A CONCORRENTE QUANTIA

O inciso V trata de todos aqueles que se beneficiarem,


participando gratuitamente do produto do crime.

Exemplo: receptador.

OBS. O dispositivo não se refere aos co-autores, porque estes


estão incluídos no art. 942 e respondem solidariamente. O
artigo diz respeito as pessoas que inocentemente acabam
auferindo proveito da prática de um determinado crime.
A responsabilidade por fato de animais vem
regulada no art. 936 do Código Civil, que estabelece
que o dono ou detentor do animal ressarcirá o dano
por este causado.

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal


ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
O dispositivo em exame não atribui a responsabilidade
exclusivamente ao dono do animal porque, pode ele
ter transferido juridicamente a guarda do animal a
outrem, como no caso de locação, comodato etc., ou
tê-la perdido em razão de furto ou roubo.

Por isso o Código atribui também responsabilidade ao


detentor do animal, isto é, àquele que, embora não
sendo o dono, tinha o efetivo controle dele, o poder de
direção, podendo, assim, guardá-la com o cuidado
necessário e preciso para que ele não cause dano a
outrem.
Responsabilidade objetiva ou culpa presumida?

- No CC/16 no art. 1527 tratava de culpa presumida in


custodiendo, porque o dispositivo permitia ao dono ou
detentor do animal eximir sua responsabilidade
provando que o guardava com cuidado preciso.

-Já no CC/02 a responsabilidade é objetiva – e a


responsabilidade só poderá ser afastada se o dono ou
detentor do animal provar o fato exclusivo da vítima
ou força maior. A responsabilidade objetiva se
apresenta tão forte que ultrapassa os limites da teoria
do risco criado ou risco proveito.
RESPONSABILIDADE CIVIL. ANIMAL. LESÕES CORPORAIS. O dono do
animal é civilmente responsável pela reparação dos danos provocados
por ele (CC, art. 936), salvo se provar a culpa da vítima ou motivo de
força maior. Caso em que o cachorro bravo e de porte morde a perna de
quem passa na carona de motocicleta, em passagem de acesso à moradia
de terceiro, enseja dever de indenizar os danos materiais pela vítima da
lesão corporal. Recurso desprovido. Unânime. (TJ-RS - Recurso Cível:
71000605717 RS, Relator: João Pedro Cavalli Junior, Data de Julgamento:
02/12/2004, Primeira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia)

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL E MATERIAL CAUSA DO POR


ATAQUE DE CÃO. De acordo com o art. 1.527 do CC de 1916, então
vigente, o dono do animal responde pelo dano por este causado.
Responsabilidade presumida, cabendo aos autores provar, apenas, o
dano, o ato do animal e a relação de causalidade. Ao dono do cão
compete demonstrar a existência de causa excludente da
responsabilidade, no caso, inexistente (TJRS, AC n.70006268213, de
Porto Alegre, rel. Des. Leo Lima, j. Em 2-10-2003).
APROFUNDANDO O TEMA:

Um cão de raça violenta, está na posse de preposto do


dono (v.g., adestrador, treinador ou personal dog). O
ultimo se distrai e o cachorro ataca um terceiro. De
quem será a responsabilidade?

ATENÇÃO!
A responsabilidade do preposto é objetiva por fato do
animal (Art. 936), enquanto a do dono é objetiva
indireta, desde que comprovada a culpa do seu
preposto (arts. 932, III e 933 do CC).
“Ação de indenização. Danos materiais e morais.
Acidente do trabalho. Ferimentos produzidos por
animal (macaco) fugitivo ao ser capturado por
empregado de zoológico. Culpa do empregador pelo
evento danoso ocorrido devidamente demonstrada.
Demais elementos que compõem a responsabilidade
também positivados nos autos. Dano moral
reconhecido, incluído o estético. Dever de indenizar
proclamado. Dano material, porém, inexistente.
Indenização a título de danos morais majorada” (TJRS,
Processo: 700006938252. Data: 12.05.2004...)
A tese da RC objetiva por fato do animal é reforçada
pela incidência do CDC, isto por que é possível sua
aplicação a casos de serviço de lazer, como circos,
hotéis que disponibilizam cavalos para passeio,
parques de diversões, rodeios, entre outros.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS CAUSADOS A VIATURA POLICIAL QUE
TRAFEGAVA EM RODOVIA MANTIDA POR CONCESSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO DE
ANIMAL NA PISTA. RELAÇÃO CONSUMERISTA. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
CONCESSIONÁRIA. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. PRECEDENTES. INEXISTÊNCIA DE EXCLUDENTE DE
RESPONSABILIZAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. (STJ)
RESPONSABILIDADE CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL.
ALEGAÇÃO DE OMISSÃO DO JULGADO. ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
ESPETÁCULO CIRCENSE – MORTE DE CRIANÇA EM DECORRÊNCIA DE ATAQUE DE
LEÕES – CIRCO INSTALADO EM ÁREA UTILIZADA COMO ESTACIONAMENTO DE
SHOPPING CENTER. LEGITIMIDADE PASSIVA DAS LOCADORAS. DESENVOLVIMENTO
DE ATIVIDADE DE ENTRETENIMENTO COM O FIM DE ATRAIR UM MAIOR NÚMERO
DE CONSUMIDORES. RESPONSABILIDADE. DEFEITO DO SERVIÇO (VÍCIO DE
QUALIDADE POR INSEGURANÇA). DANO MORAL. VALOR EXORBITANTE. REDUÇÃO.
MULTA. ART. 538 DO CPC. AFASTAMENTO. (...) 2- Está presente a legitimidade passiva
das litisconsortes, pois o acórdão recorrido afirmou que o circo foi apenas mais um
serviço que o condomínio do shopping, juntamente com as sociedades empresárias
rés, integrantes de um mesmo grupo societário, colocaram à disposição daqueles que
frequentam o local, com o único objetivo de angariar clientes potencialmente
consumidores e elevar os lucros. Incidência da Súmula 7⁄STJ. 3- No caso em
julgamento – trágico acidente ocorrido durante apresentação do Circo VostoK,
instalado em estacionamento de shopping center, quando menor de idade foi morto
após ataque por leões -, o art. 17 do Código de Defesa do Consumidor estende o
conceito de consumidor àqueles que sofrem a consequência de acidente de consumo.
Houve vício de qualidade na prestação do serviço, por insegurança, conforme
asseverado pelo acórdão recorrido. 4- Ademais, o Código Civil admite a
responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua natureza,
representa risco para outrem, como exatamente no caso em apreço. (...)
O Código Civil estabelece duas situações
expressas de responsabilidade pelo fato
da coisa.

A primeira, prevista no art. 937,


determina que o dono do edifício ou
construção responde pelos danos
oriundos de sua ruína.

A segunda situação, prevista no art. 938,


estabelece que aquele que habitar prédio
responde pelo dano proveniente das
coisas que dele caírem.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELA RUÍNA DA
COISA OU CONSTRUÇÃO

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos


danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta
de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

“o proprietário é sempre o responsável pela reparação do dano


causado a terceiro pela ruína do edifício ou construção de seu
domínio, sendo indiferente saber se a culpa pelo ocorrido é do
seu antecessor na propriedade, do construtor do prédio ou do
inquilino que o habitava. Ele é o réu da ação de ressarcimento.”
SÍLVIO RODRIGUES
-A ruína do prédio pode causar dano para o proprietário do
edifício, para seu ocupante (locatário, comodatário, posseiro) e,
ainda para terceiros (vizinhos e transeuntes).

-No caso do proprietário a indenização não poderá ser pleiteada


com base no dispositivo em exame. A ação deverá ser proposta
em face do construtor do prédio com fundamento no art. 618.

"Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou


outras construções consideráveis, o empreiteiro de
materiais e execução responderá, durante o prazo
irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do
trabalho, assim em razão dos materiais, como do
solo.“
- Se estiver configurada uma relação de consumo – e quase
sempre estará, porque o construtor é um prestador de serviço
quando constrói – a indenização poderá ser pleiteada com base
nos artigos 12 e 14 do CDC.

- Tratando-se de vizinhos, poderão pleitear a indenização com


base no direito de vizinhança – artigos 1277 e 1299 CC/02.

"Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio


tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à
segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam,
provocadas pela utilização de propriedade vizinha.“

"Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as


construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e
os regulamentos administrativos.”
RESPONSABILIDADE DO DONO DO EDIFÍCIO

- A jurisprudência tem interpretado a expressão “ruína” com


bastante elasticidade, abrangendo revestimentos que se
desprendem das paredes dos edifícios, telhas que caem do teto,
vidros que se soltam das janelas etc. – o que importa dizer que
a ruína pode ser total ou parcial.

- De acordo com o art. 937 CC/02, só proprietário é o


responsável pelos danos resultantes da ruína do edifício. O
máximo que a jurisprudência tem admitido, já que não acarreta
prejuízo algum a vítima – antes, pelo contrário, maior garantia
no recebimento da indenização -, é a condenação solidária do
empreiteiro ou construtor, se ingressou no processo como,
litisconsórcio.
CASO PALACE II
Responsabilidade do incorporador/construtor. Defeitos da obra. Solidariedade passiva
entre o incorporador e o construtor. Incidência do Código do Consumidor.
Desconsideração da personalidade jurídica. Incorporador, consoante definição legal, é
não somente o que compromissa ou efetiva a venda de frações ideais de terrenos
objetivando a vinculação de tais frações a unidades autônomas, como também, e
principalmente,o construtor e o proprietário do terreno destinado ao
empreendimento. Essa vinculação legal entre todos os que participam da
incorporação decorre do fato de ser a edificação o seu objeto final, de sorte que
quando o incorporador celebra, posteriormente, contrato de empreitada com o
construtor, esta', na realidade, se fazendo substituir por este. E quem se faz substituir
e' responsável, solidariamente com o substituído, pelos danos que este vier a causar.
Em face do conceito claro e objetivo constante do art. 3., par. 1. do Código do
Consumidor, o incorporador e' um fornecedor de produtos, pois quando vende e
constrói unidades imobiliárias assume uma obrigação de dar coisa certa, e isso e' a
própria essência do conceito de produtos. E quando essa obrigação e' assumida com
alguém que se coloca no ultimo elo do ciclo produtivo, alguém que adquire essa
unidade para dela fazer a sua residência e da sua família, esta' fechada a relação de
consumo, tornando-se impositiva a disciplina do CDC, cujas normas são de ordem
publica.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR QUEDA OU
LANÇAMENTO DE COISAS

Enuncia o Código Civil que aquele que habitar uma casa ou parte
dela responde pelos danos provenientes das coisas que dela
caírem ou forem lançadas (sólidas ou líquidas) em lugar indevido
(art. 938). Trata-se de responsabilidade civil por defenestramento
ou por effusis et dejectis.

-Coisas que não são parte do prédio, que não integram a


construção, como vasos de plantas derrubados pelo vento e
outros objetos. Exemplo: O letreiro luminoso instalado na fachada
de um banco caiu sobre uma pessoa que passava na calçada,
ferindo-a gravemente.
•Responsabilidade do habitante

-É relevante destacar que o art. 938 fala em


morador do prédio, aquele que habita, como o
responsável pelo dano decorrente de coisa dele
caída ou lançada em lugar indevido.

- O artigo não falou em dono e nem em detentor.


Por quê? Por causa da teoria da guarda. Aquele
que habita o prédio é o guardião das coisas que
guarnecem, e cabe ao guardião o dever de
segurança por todas essas coisas.
A responsabilidade pelo effusum et deiectum é de
caráter objetivo de acordo com o Código Civil. Dessa
forma, o habitante responde independentemente de
culpa pelo dano causado por queda ou arremesso de
coisa em local indevido.

Questão complexa acerca do dispositivo legal diz


respeito a objeto lançado de condomínio edilício
quando não for possível identificar o apartamento de
onde a coisa caiu. Para Caio Mário Pereira da Silva é
imprescindível determinar qual a unidade autônoma. A
crítica a essa posição é que em inúmeros casos (ou
quase todos) será impossível para a vítima produzir essa
prova.
Por outro lado, para José de Aguiar Dias, a
solução é a responsabilidade solidária de todos
os moradores.

Admite, porém, a exclusão dos moradores da ala


oposta àquela em que o fato ocorreu. Essa é a
posição que a jurisprudência vem adotando,
fundada na ideia de causalidade alternativa.
RESPONSABILIDADE CIVIL. OBJETOS LANÇADOS DA JANELA DE
EDIFÍCIOS.A REPARAÇÃO DOS DANOS É RESPONSABILIDADE DO
CONDOMÍNIO. A impossibilidade de identificação do exato ponto de
onde parte aconduta lesiva, impõe ao condomínio arcar com a
responsabilidadereparatória por danos causados à terceiros.
Inteligência do art. 1.529, do Código Civil Brasileiro. Recurso não
conhecido. (STJ - REsp: 64682 RJ 1995/0020731-1, Relator: Ministro
BUENO DE SOUZA, Data de Julgamento: 10/11/1998, T4 - QUARTA
TURMA, Data de Publicação: DJ 29/03/1999 p. 180)

RECURSO ESPECIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL - DIREITO DE


VIZINHANÇA - LEGITIMIDADE PASSIVA - CONDOMÍNIO - PRESCRIÇAO -
JULGAMENTO ALÉM DO PEDIDO - MULTA COMINATÓRIA - FIXAÇAO
EM SALÁRIOS MÍNIMOS - SENTENÇA - CONDIÇAO. 1. Na
impossibilidade de identificar o causador, o condomínio responde
pelos danos resultantes de objetos lançados sobre prédio vizinho .
(REsp 246830/SP - Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros -
Órgão Julgador: Terceira Turma - Data do Julgamento: 22/02/2005)
Dúvidas surgem quanto à responsabilização dos
condôminos que estão do lado oposto de onde caiu a
coisa.

Flavio Tartuce e Silvio de Salvo Venosa entendem que


todo o condomínio deve ser responsabilizado, não
interessando de onde exatamente caiu o objeto.

Para justificar este posicionamento, os doutrinadores


falam em PULVERIZAÇÃO DOS DANOS NA SOCIEDADE,
ensinando que “assim, quando o dano é praticado por
um membro não identificado de um grupo, todos os
seus integrantes devem ser chamados para a
reparação”

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