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O professor Luís Manuel Lopes do Nascimento ensina que a responsabilidade civil o conjunto de
factos que dão origem à obrigação de indemnizar os danos sofridos por outrem. A
responsabilidade civil consiste, por isso, numa fonte de obrigações baseada no princípio do
ressarcimento dos danos1. Nesses termos, ao falar sobre a responsabilidade civil das sociedades
empresarias, quer se de antemão debruçar, sobre a obrigação que as sociedades empresarias tem
de indemnizar a outrem pelos danos causados.
O professor António Menezes Cordeiro, adianta que estas formulas e remissões não são
satisfatórios, quer porque revelam uma área em que a doutrina da personalidade colectiva esta
ainda incompleta. Todavia, se forem bem interpretadas, podem colocar o direito civil dentro dos
parâmetros da responsabilidade civil das pessoas colectivas3.
Savigny apud António Menezes Cordeiro pessoas colectivas eram insuscetíveis de incorrer em
responsabilidade civil. Mesmo ultrapassando a ideia da ficção e da não aplicabilidade da
analogia de normas e realidades facciosas, quedavam dificuldades de fundamentação: a
responsabilidade depois de atormentada evolução, teria de se basear sempre na culpa; ora a
pessoa colectiva não poderia ter culpa. Alem disso, foi levantado um segundo obstáculo: sendo a
pessoa colectiva incapaz, ela teria de se fazer representar. E os poderes de representação não se
alargariam a actos ilícitos.
1
Do NASCIMENTO. Luís Manuel Lopes. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: Introdução; Da constituição das
obrigações. Volume I. 2005/2006. Pag. 84
2
Codigo comercial (Decreto-Lei n.º 1/2022 de 25 de Maio)
3
CORDEIRO. Antonio Menezes. MANUAL DE DIREITO DAS SOCIEDADES. VOL. I. 2ª edição. Almedina.
2007. Pag. 351
O primeiro avanço consistiria em estabelecer a responsabilidade civil das pessoas colectivas.
Procedeu-se em duas fases: a da responsabilidade contratual e a da responsabilidade delitual ou
aquiliana. Quanto a contratual, fácil foi demonstrar que a pessoa colectiva poderia não cumprir
as suas obrigações, seria mesmo injusto, inibila-la, nesse ponto da responsabilidade, uma vez que
isso iria provocar grave desigualdade nos meios económico-sociais. No tocante a aquiliana, a
dificuldade era maior, procedeu-se então, a utilização do esquema da responsabilidade do
comitente. Ora, a responsabilidade do comitente consta do artigo 500, do código civil. Cumpre
reter o seu teor:
3.O comitente que satisfizer a indemnização temo direito de exigir do comissário o reembolso
de tudo quanto haja pago, excepto se houver também culpa da sua parte; neste caso será
aplicável o disposto no n.º 2 do artigo 497.º.
Passe-se, pois a outra fase, na qual a sociedade empresarial responde directamente pelos actos
ilícitos dos titulares dos seus órgãos, desde que tenham agido nessa qualidade.
A solução da responsabilidade directa da sociedade empresarial pelos actos dos seus órgãos foi
defendida por Manuel Andrade em termos cuidadosos e convenientes. Um tanto, na mesma linha
Ferrer Correia, no seu anteprojecto-artigo 7, distinguiu a responsabilidade da pessoa colectiva
pelos actos e omissões, dos seus agentes e mandatários, que seguia os membros da
responsabilidade dos comitentes. Infelizmente, esta contraposição perdeu-se nas revisões
ministeriais. O artigo 165, uniformizava, sob a imputação ao comitente, os actos ou omissões dos
agentes ou mandatários. Deu assim, azo as confusões subsequentes, com uma agravante,
contagiou as próprias sociedades, como se alcança do artigo 998, numero 1 do código civil.
Hoje a possibilidade de submeter as sociedades as diversas sanções esta adquirida. Ora, perante
ao teor literal dos artigos 165 e 1998, numero 1 do código civil, fala em quem legalmente a
represente. A doutrina tem sido levada a pensar nos efeitos da responsabilidade civil aquiliana a
pessoa coletiva é um comitente, sendo como titular do seu órgão um comissario, de modo a
aplicar o artigo 500. Concretizam-se óbices jurídico-científicos e practicos, acima referidos. Há
que procurar uma solução alternativa fácil, de resto, uma vez que beneficiamos da doutrina de
Manuel de Andrade e dos outros países que se viram na situação de fazer evoluir o seu
pensamento, na matéria.
A pessoa colectiva é uma pessoa. Logo, ela pode integrar de modo directo, aquele que com dolo
ou mera culpa… referido no artigo 483 do código civil. A culpa- um juízo de censura, é lhe
directamente aplicável, nada tem a ver, na concepção actual, com situações de índole
psicológico.
O artigo 165 do código civil, não tem a ver com a responsabilidade das pessoas colectivas por
actos dos seus órgãos, antes seus representantes (voluntários ou legais, portanto, nos termos da
lei) eventualmente constituídos para determinados efeitos, dos seus agentes e dos seus
mandatários. E aí já fara sentido pelar para a imputação ao comitente.
O código civil, dá-nos ainda um argumento sistemático, que depõe no mesmo sentido. O artigo
164, numero 1 fala em obrigações e responsabilidade dos titulares dos órgãos das pessoas
colectivas, expressão correcta dentro do prisma da representação orgânica. Assim quando no
artigo 165 refere os representantes das pessoas colectivas, não pode querer dizer os mesmos
titulares dos órgãos, será uma realidade diferente e, designadamente, os representantes
voluntários expressamente escolhidos para a conclusão de um contrato ou para qualquer outro
efeito. Apenas as pessoas colectivas publicas, num preceito cuja a constitucionalidade e
discutível, a responsabilidade teria de se efectivar com intervenção do esquema da comissão,
dado o teor do artigo 501.