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INTRODUÇÃO
O escopo deste trabalho é apresentar a evolução histórica da responsabilidade civil do
Estado, o atual posicionamento do ordenamento jurídico brasileiro e a Constituição Federal de
1988 quanto ao tema, a questão dos danos decorrentes de omissão da Administração,
responsabilidade estatal por atos lícitos e as excludentes da responsabilidade estatal.
A responsabilidade civil do Estado está prevista no ordenamento jurídico brasileiro
desde a Constituição de 1946, tendo passado por diversas fases para se chegar ao que hoje
entendemos como a obrigação de reparar economicamente os danos causados aos
administrados por atos ilícitos ou até mesmo lícitos, recompensar prejuízos causados tanto no
âmbito patrimonial quanto moral.
Previsto no art. 37, § 6º da Constituição Federal de 1988, a responsabilidade civil do
Estado independe de comprovação de culpa, conforme será abordado em momento oportuno.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Entretanto constatou-se que o Estado é representado pelos dos seus órgãos e age
através dos seus funcionários. Pela Teoria do Órgão “O Estado é concebido como um
organismo vivo, integrado por um conjunto de órgãos que realizam as suas funções”
(CAVALIERI, 2010, p. 240).
As vontades destes órgãos que correspondem às funções estatais não são dos agentes
humanos que atuam e sim do próprio Estado e o dano causado ao particular imputa-se à
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pessoa jurídica da organização a qual faz parte o funcionário causador do dano (CAVALIERI,
2010).
Em razão desta evolução, a culpa deixou de ser individual e passou a ser anônima ou
impessoal, relacionado à falta ou má execução do serviço público. E esta deixaria de ser
responsabilidade objetiva para ser subjetiva, no entendimento do doutrinador Cavalieri Filho,
apud Oswaldo Aranha. Neste caso de não funcionamento do serviço, caberia à vitima
demonstrar a falta ou má prestação para verificar-se a culpa do Estado, exceto nos inúmeros
casos que admitem presunção de culpa pela dificuldade de demonstrar que os serviços foram
operados abaixo dos devidos padrões. Neste segundo caso, caberá ao Estado demonstrar o
correto funcionamento do serviço.
Por fim, com base nos princípios da equidade e da igualdade de ônus e encargos
sociais, chegou-se a conclusão da responsabilidade objetiva do Estado, desta forma, o Estado
responde em razão do dano causado ao administrado, tendo em vista o nexo de causalidade
entre a atividade e o dano sofrido, independente de culpa.
Com a inclusão das pessoas jurídicas de Direito Privado, tem sido questionado o papel
delas e do Estado diante do evento danoso decorrente da prestação de um serviço público. No
tocante às concessionárias e permissionárias, não resta dúvida sobre sua responsabilidade
direta e objetiva. No entanto, a polêmica se dá em relação à participação do Estado.
Na mesma linha, defende o renomado civilista que nos casos de bala perdida,
independe se a bala partiu da arma do agente ou de terceiros, pois foi em razão do serviço
público e da atuação desastrosa que determinou o ato ilícito.
Autores como Oswaldo Aranha e Yussef Said Cahali, citados por Gonçalves (2010),
têm se posicionado na inclusão de ambos no polo passivo, nem apenas a menção só do Estado
ou do funcionário. Importa salientar que no caso do funcionário, é necessário perquirir a
culpa, portanto, há responsabilidade subjetiva. Para o Supremo Tribunal Federal, em regra a
vítima deveria pleitear em face do Estado para que este viesse a cobrar do funcionário, mas
ressalta que nada impede a propositura contra o agente, desde que comprovada a culpa.
O prazo prescricional para esta ação, previsto no art. 206 §3º do Código Civil é de 03
(três) anos. No entanto, se a mesma responsabilidade do Estado estiver sendo objeto de
processo criminal, o lapso temporal começará a correr do trânsito em julgado da sentença
penal, conforme preleciona o art. 200 do Código Civil de 2002.
A denunciação da lide cabível a este tipo de responsabilidade está prevista no art. 70,
III do CPC que determina: “Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: III - àquele que
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estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que
perder a demanda”.
Parte da doutrina, considerada restritiva e encabeçada por Greco Filho, não tem
admitido a possibilidade de sua aplicação na ação contra o Estado em que se incluiria o agente
como denunciado. O argumento é que nesta intervenção de terceiros, uma vez resolvida a lide
principal, a responsabilidade do denunciado se torna automática, não cabendo mais se
perquirir dolo ou culpa. Não haveria, deste modo, possibilidade de sua aplicação em todos os
casos de direito de regresso por lei ou contrato.
Carlos Roberto Gonçalves (2010) lembra as lições de Yussef Cahali, que defende que
a denunciação do funcionário seria como a confissão da reponsabilidade pelo Estado, cabendo
a ele simplesmente adimplir a obrigação. Todavia, o Superior Tribunal de Justiça tem se
posicionado favoravelmente à denunciação da lide neste caso, desde que não seja prejudicial à
celeridade e economia processual.
EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
Com relação ao caso fortuito e força maior, entende Cahali, citado por Gonçalves
(2010), que seus efeitos são diferentes. Para o autor, a força maior é, dentre os dois, o único
capaz de excluir a responsabilidade, pois se trata de fator externo, enquanto o caso fortuito
decorre de um fator interno, ou seja, decorrente do próprio serviço e, portanto, não teria o
mesmo condão. Já Cavalieri Filho (2010) proclama a diferença do caso fortuito interno para o
externo, que se identifica com a diferenciação entre caso fortuito e força maior.
A indenização também será atenuada caso haja concorrência de causas, de modo que o
dever ressarcitório estatal se limitará á sua contribuição no evento danoso, mas não tem o
condão de afastar a responsabilidade.
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A doutrina diverge se o art. 37 §6º da CF/88 abrangeria tanto os atos comissivos como
os omissivos. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, citado por Gonçalves (2010), nos casos
omissivos, a responsabilidade seria subjetiva, uma vez que a omissão é condição
(oportunidade) para o evento danoso e não causa (fato gerador) e, portanto, não havendo
ligação direta, será necessário perquirir a culpa.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS