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Caderno da AV 1 de Administrativo III

- Responsabilidade Civil do Estado:

1. Considerações Gerais:

Diz respeito a como a pessoa jurídica estatal vai se responsabilizar civilmente pelos danos que
seus representantes (agentes públicos) provoquem a terceiros (administrados).

A Responsabilidade Civil do Estado apresenta correspondência em um capítulo da Constituição


Federal de 1988, não existindo um diploma específico sobre o tema.

É um tema de ordem jurisprudencial e doutrinária, justamente por conta da carência de


dispositivos legais aprofundados, e que evolui significativamente com o passar do tempo. Causa
falta de segurança jurídica porque as grandes Cortes divergente em seus entendimentos, mas dá
uma dinamicidade e atualização ao tema.

O Estado pode provar danos aos particulares no exercício de suas atividades, ensejando na sua
Responsabilização Civil (é uma Responsabilidade Civil Extracontratual, ou seja, não é ligada a
uma relação obrigacional, como o contrato). A Responsabilidade Civil Contratual é aquela
oriunda do descumprimento de cláusulas contratuais. A Responsabilidade Extracontratual é a
responsabilidade que surge do direito, do ordenamento, das regras do direito e não de um
contrato.

A prescrição para pleitear a Responsabilidade Civil Extracontratual é de 3 anos.

O ilícito não é pressuposto da Responsabilidade Civil. Dessa forma, a prática de ilícitos pode
gerar somente danos a serem reparados, não imputando uma Responsabilização Civil do Estado.

Não se cogita a não responsabilização do Estado por danos gerados a terceiros por terceiros.

A Responsabilidade Extracontratual do Estado é a obrigação que tem o Estado de indenizar os


danos lesivos a terceiros, causados por seus agentes públicos, em comportamentos lícitos e
ilícitos, comissivos ou omissivos.

Exemplo > obras públicas são lícitas, mas podem provocar danos e o
estado vai responder, mesmo que não haja ilicitude.

O Dano Lesivo é o dano moral e/ou patrimonial. Uma ação de um agente público pode causar
nas duas esferas e o Estado, na hora de se responsabilizar, vai se responsabilizar por ambas.

2. Evolução da Responsabilidade do Estado:

A Teoria do Risco é a mais aceita em nosso ordenamento jurídico. Vejamos a evolução histórica:

a. Irresponsabilidade do Estado: Principalmente nos regimes absolutistas, o


Estado não se responsabilizava por danos que pudesse causar a terceiros, de
modo a não se falar em uma Responsabilidade Civil do Estado. A figura do Rei
se confundia com a figura do Estado. O monarca possuía incontestável poder e
autoridade sobre seus súditos e a sua vontade prevalecia contra tudo e contra
todos. Tinha a ideia de que o rei não errava, logo, o Estado também não.

b. Responsabilidade com Culpa Civil do Estado: Com a consolidação dos regimes


democráticos, final do século XVIII, surge uma teoria com os ideais civilistas,
lastreando-se na culpa civil, personalizada na figura do agente causador do
dano. Quando o sujeito demonstrasse que o agente causador do dano agiu com
vontade de causar o dano ou por negligência, imprudência ou imperícia, o
Estado era responsabilizado civilmente. Ou seja, cai por terra a ideia de que o
Estado nunca erra, a Responsabilização Civil se dá com a com a identificação
do sujeito causador do dano + comprovação da culpa ampla (qualificação da
sua conduta). Precisava de (i) comportamento, (ii) culpa, (iii) dano e (iv) nexo
causal.

c. Teoria da Culpa Administrativa/Culpa do Serviço: Direito Administrativo se


consolida como uma ciência autônoma no século XIX. O Brasil incorpora uma
teoria publicista (França). Aqui, há uma Responsabilidade Subjetiva, não sendo
mais uma culpa civil, mas sim uma culpa administrativa (culpa do serviço/falha
do serviço. Denominada de “Culpa Anônima” pela doutrina). A grande
evolução é a desvinculação da culpa do Estado com a culpa do agente, ou seja,
o Estado passa a se responsabilizar. A vítima comprovava a culpa
administrativa através da: (i) Não Prestação do Serviço, (ii) Mau
Funcionamento do Serviço ou (iii) Atraso no Funcionamento do Serviço. Há
uma desnecessidade de se personificar o agente causador do dano (servidor
público) e de demonstrar imprudência, imperícia ou negligência.

Exemplo 1 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do


derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Ninguém da prefeitura
apareceu. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – não
funcionamento.
Exemplo 2 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do
derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Meia hora depois da
notificação, agentes da prefeitura estavam isolando a área. A área foi
liberada ainda com óleo na pista, em quantidade suficiente para ainda
gerar colisões e danos. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – mau
funcionamento.
Exemplo 3 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do
derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Os primeiros agentes só
começaram a chegar duas horas depois, razão pela qual danos
significativos aconteceram. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado –
funcionamento atrasado.
d. Teoria do Risco (Caso Agnes Blanco de 1873): É a Responsabilização Objetiva
do Estado. Não se discute culpa do Estado (agente público), restando a (i)
conduta, o (ii) dano e o (iii) nexo de causalidade como pressupostos da
responsabilidade. Consolida-se a ideia de a atividade administrativa, por si só,
gera risco. O caso Agnes Blanco foi o motivo para começarmos a
responsabilizar o Estado, pois ela foi atropelada por um vagão de empresa
pública na França. Este caso se tornou um Leading case. A doutrina divide esta
teoria em Teoria do Risco Integral e Teoria do Risco Administrativo.
i. Teoria do Risco Integral: Não admite que o Estado se exima da
responsabilidade por alegar causas de exclusão da responsabilidade
(fato exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito ou força
maior...). Porém, é usada para danos nucleares e atentados terroristas.
ii. Teoria do Risco Administrativo: Admite as excludentes de
responsabilidade por parte do Estado, se coadunando com a sistemática
da responsabilidade civil atual. É a mais aceita pelo ordenamento
brasileiro.

A Responsabilidade do Estado Brasileiro é a objetiva.

e. Teoria do Estado como Garantidor dos Direitos Fundamentais: Mesmo que o


Estado não provoque um dano, ele pode ser responsabilizado pela inércia no
que tange às garantias e aos direitos fundamentais. Entretanto, a garantia de
direito fundamentais é muito abstrata, não havendo como o Estado se
responsabilizar ao não concretizar todos os direitos fundamentais dos cidadãos.

3. Responsabilidade do Estado Brasileiro:

Teoria do Risco foi recepcionada pela Constituição Federal de 1946, dando início à
Responsabilidade Objetiva. institui a responsabilidade objetiva, mas assegura ao Estado o
direito de reaver do seu agente o que pagou, nos casos de dolo ou culpa – responsabilidade
subjetiva.

Este tipo de responsabilidade ainda é vigente na Constituição de 1988. Vejamos:

A doutrina e jurisprudência consolidam este assunto. A menção ao dolo e à culpa só é feita no


final do artigo, a fim de que o Estado possa se valer desse argumento para exercer o direito de
regresso contra o causador do dano (agente público).

Outrossim, as prestadoras de serviço público só se responsabilizam se houver relação de


fornecedor-usuário.
Exemplo > Quando há interrupções abruptas do serviço de energia
elétrica e se provoca danos, danificado um eletrodoméstico ou a placa de
um computador. O cidadão tem o direito de cobrar da empresa privada o
ressarcimento do dano. A COELBA geralmente paga sem intervenção
judicial, mas exigindo o laudo que comprove o nexo de causalidade entre
a queda de energia e o dano.

Exemplo > Agora, se um carro oficial da Coelba bate no carro de um


cidadão, aqui não se está estabelecendo uma relação entre usuário e
fornecedor. Porque o sujeito dono do carro não está na condição de
usuário naquele momento, então vai gerar uma reponsabilidade subjetiva
e vai se discutir culpa. Se fosse o carro da PM ou uma ambulância, não
haveria discussão e a responsabilidade seria objetiva.

Este artigo (37, parágrafo 6, CF) disciplina duas relações jurídicas de responsabilidade: O
Estado-Vítima (responsabilidade objetiva) e o Agente-Estado (responsabilidade subjetiva) –
Estado só consegue responsabilizar o agente caso comprove que este agiu com dolo/culpa.

A jurisprudência modificou-se com o RE 591874 do STF, em que uma concessionária que


realizava transportes públicos interestaduais, seu motorista, perdeu a direção do veículo e
atropelou um ciclista, pessoas em um ponto de ônibus e pedestres. Antigamente, se entendia
haver duas responsabilidades, (i) em relação aos usuários – objetiva - e (ii) em relação aos não
usuários - subjetiva -, porém, como os danos foram ocasionados pelo menos fato, se entendeu
que ambas as responsabilidades seriam objetivas. Dessa forma, consolidou-se o entendimento
que a Responsabilidade Civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
público é objetiva em relação a terceiros usuários e não usuários do serviço (art. 37, par. 6 da
CF/88).

O agente público, ao causar dano ao cidadão, deverá estar no pleno exercício das suas funções
para que o estado se responsabilize.

Exemplo > Um policial, de folga, em um estádio de futebol, que atira


contra um civil responde pessoalmente pelos danos que ele provocou, não
cabendo a responsabilidade do Estado.

Dessa forma, a Constituição criou duas relações de Responsabilidade, sendo (i) o Estado perante
as vítimas da sociedade (responsabilidade objetiva) e (ii) do agente perante o Estado
(responsabilidade subjetiva, pois o Estado vai ter que provar que o agente produziu o dano ou
agiu com imprudência, imperícia ou negligência).

a. Responsabilidade por Ação/Atos Comissivos:

A vítima precisa comprovar o (i) comportamento estatal (comissivo ou omissivo), o (ii) dano e o
(iii) nexo de causalidade. Não é necessário a demonstração de culpa do agente causador do
dano. A doutrina entende que somente a conduta comissiva do Estado gera responsabilidade
objetiva.

A ilicitude não é pressuposta da responsabilidade civil, o Estado pode ser responsabilizado por
causar danos a civis através da prática de atos lícitos também.
Exemplo > Ainda que tenha obedecido a todas as regras de segurança em
uma obra pública, é possível que o Estado gere danos a terceiros, como a
desvalorização imobiliária.
Exemplo > Você está andando na via pública e cai em sua cabeça um
pedaço de concreto,

Obs: No caso de o Estado ser culpado, mas ocorreu por culpa ou dolo da empresa privada, o
Estado vai reaver através de uma ação regressiva com essa empresa.

Obs: Sobre obra pública executada por terceiros, uma vez concluída, a responsabilidade será
sempre do Estado, podendo exercer o direito de regressos nos casos que se caracterizam culpa
de terceiro.

Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal.

Se o Estado causar o dano (ato comissivo) ele será objetivamente responsável, não sendo
necessário dolo ou culpa.

Exemplo > quando um policial bate em um preso, é uma ilicitude; obras públicas que causem
dano a um terceiro, lícito. O elemento ilicitude é irrelevante na responsabilidade civil.

b. Responsabilidade por Omissão:

Quando o Estado se omitir, entende-se atualmente que a sua responsabilidade é subjetiva,


lastreada na Teoria do Risco da Culpa Administrativa/Culpa Anônima (falha de serviço:
funcionou mal, atrasado ou não funcionou). O Estado tem a obrigação de cumprir algo e não
cumpriu. Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um comportamento omissivo do
estado, mesmo assim o Estado vai ser responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem
que mostrar que o serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja,
provando a culpa administrativa.

A omissão que gera responsabilidade do Estado é aquela omissão relevante/qualificada com


dano qualificado.

Exemplo > Omissão do Estado diante de assaltos sucessivos durante a


noite em um mesmo bairro.

Exemplo > podar árvores, tampar bueiros, falta de vacinas.

Exemplo > Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um


comportamento omissivo do estado, mesmo assim o Estado vai ser
responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem que mostrar que o
serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja,
provando a culpa administrativa.
Exemplo > Pneu soltou e quebrou a suspensão do carro. Isso gera a
responsabilidade estatal? Não, porque até teve omissão, mas não teve
culpa da administração, porque o Estado não é segurador universal.
Agora, veja que se notificaram a prefeitura várias vezes para tapar o
buraco, aí sim pode configurar a culpa administrativa, pois verifica-se
que o poder público se omitiu mesmo, foi avisado, mas não agiu.

Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal.

Exemplo > As pessoas que dirigem alcoolizadas e causam danos a outros


veículos, como regra, arcam com tal prejuízo. Na visão de um segurador
universal, o Estado permitiu que pessoas dirijam bêbados ao se omitir na
fiscalização do trânsito - não é razoável.

Entretanto:

Exemplo > Cidadão bêbado no volante foi parado em uma blitz, policial
não apreendeu o veículo e o sujeito continuou a dirigir embriagado, se
envolvendo em um acidente. Nessas circunstâncias, ao passar na blitz do
Estado embriagado, há uma omissão qualificada/relevante, se tornando
mais plausível se sustentar a responsabilidade do Estado.

Para Guilherme Castro, a omissão pode ser genérica ou específica:

i. Omissão Genérica: Gera Responsabilidade Subjetiva e a vítima deverá


comprovar a culpa administrativa (falha de serviço: funcionou mal,
atrasado ou não funcionou). Quando o Estado deveria agir, mas não o
faz. Esta omissão precisa ser relevante e qualificada.

Exemplo > acidentes ocorram reiteradamente em virtude de motoristas


dirigindo alcoolizados em determinado bairro é mais fácil sustentar a
responsabilidade do Estado.

Exemplo > A prefeitura tem a obrigação de tapar buracos, cortar árvore e


o Estado não faz, isso é omissão genérica.

1. Aqui, não estamos falando da culpa do agente causador (Teoria


Civilista), mas sim da culpa administrativa (Teoria Publicista).
2. A periodicidade e a duração da omissão é um parâmetro
objetivo, sendo habitual ou por um longo período.

ii. Omissão Específica (admitido pela doutrina e jurisprudência): Gera


Responsabilidade Objetiva. É associada a não observância de
determinado dever de tutela assumido pelo Estado de agir ou não agir e
o negligência.
Exemplo > dever de tutela do Estado para com a integridade física dos
presos, dos pacientes e dos alunos em penitenciárias, hospitais públicos e
escolas públicas.

Exemplo > O Estado tem que garantir educação a crianças


(responsabilidade genérica), se algo acontece com uma criança dentro de
uma escola (responsabilidade específica), o Estado se responsabiliza.

Exemplo > Se um rival do paciente (criminoso) entra no hospital e o


mata, o Estado responde objetivamente em virtude de uma omissão
específica. O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de
segurança, contribuindo de forma determinante e específica para
homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela
conduta omissiva.

Exemplo > A Transalvador, ao rebocar um veículo, veio a causar danos ao


veículo do proprietário, há uma omissão específica pois o Estado assume
o dever de tutela.

Esta omissão, seja ela genérica ou específica, precisa ser relevante.

Resuminho: Conforme doutrina, a omissão genérica se configura na inação do Estado quando


deixa de cumprir suas obrigações gerais, acarretando na sua responsabilidade subjetiva e a
omissão específica ocorre quando há um descumprimento a um dever específico de tutela,
gerando uma responsabilidade objetiva.

c. Responsabilidade Objetiva:

O ordenamento brasileiro adota a Teoria do Risco Administrativo. Entretanto, será lastreada na


Teoria do Risco Integral estes dois casos a seguir:

i. Danos Nucleares: A União responde, independente de culpa, pelos


danos nucleares, por comportamentos comissivos ou omissivos.
Prevista no art. 21, XXIII, d da CF/88.

ii. Danos Provocados por Atentados Terroristas (Lei n. 10.744/2003): Não


é possível alegar causas de excludente de responsabilidade do Estado
por danos provocados por atentados terroristas causados à população. A
União SEMPRE responderá.
Obs: O dano para ser indenizável precisa ser jurídico, real e específico, ou seja, quando houver
lesão a direito. Pode-se até ter uma conduta, um dano e um nexo, mas se o dano não for jurídico,
não haverá o dever de indenizar.

Exemplo > A alteração do local do campus de uma universidade pode


gerar danos a um restaurante devido à queda das receitas, mas isso não
gera o dever de indenizar.

4. Excludentes de Responsabilidade do Estado:

Caso haja causa exclusiva, o Estado não responderá em relação ao evento danoso. Por outro
lado, na hipótese de culpa concorrente, haverá apenas uma mitigação ou redução na
responsabilidade do Estado.

A Doutrina e jurisprudência apontam quatro espécies de causas de excludentes que o Estado


pode se valer para ser isento de responsabilidade:

a. Culpa Exclusiva da Vítima: O dano não foi provocado por um comportamento


estatal, mas por um comportamento da própria vítima.

Exemplo > Se o cidadão dirige na contramão ou no sinal vermelho e


colide com um veículo pertencente à Administração Pública, não haverá
responsabilidade estatal.
Exemplo > Caso ambos tivessem concorrido para o evento danoso,
haverá apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade estatal
(cada um responderá de acordo com o seu quinhão).

b. Fato de Terceiros: Um terceiro é o responsável direto e responderá pelo dano


causado à vítima.

Exemplo > Assalto. Entretanto, no caso concreto em que há uma falta de


segurança em um bairro que sofre periodicamente com assaltos, pode-se
lastrear a responsabilidade do Estado por omissão.

Exemplo > Uma pessoa oferece um alimento contendo substância


entorpecente e a outra aceita, vindo a dormir no ônibus. Enquanto
dormia, o ofertante furtou a bolsa do passageiro. A vítima não faz jus,
consoante o STJ, à indenização pela concessionária.

c. Caso Fortuito: Somente pautado no fortuito EXTERNO, ou seja, circunstância


alheia à atividade-fim do Estado.

Exemplo > A guerra é comportamento humano e que pode gerar danos à


população. O Estado não pode alegar guerra para excluir a sua
responsabilidade.
Exemplo > Greve.

d. Força Maior: Origem da natureza.


Exemplo > O Estado, durante a pandemia da Covid-19, esteve amparado
para restringir a liberdade das pessoas e dos estabelecimentos, a fim de
salvaguardar a saúde da coletividade e evitar uma crise ainda maior.
Exemplo > Tsunami.

e. Concausas: São causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência


das excludentes de sua responsabilidade.

Exemplo > Durante uma chuva muito forte (200mm em 1h de chuva –


força maior), um volume de água se acumulou em uma única rua da
cidade, vindo a causar danos a veículos. Se naquela rua os bueiros
estiverem entupidos, provando os moradores esse fato, por meio de
fotografias ou notificações prévias à prefeitura acerca da situação, por
exemplo, é possível a configuração de uma causa paralela atribuída ao
Estado que culmina na sua responsabilidade.

Exemplo > Poça d'água na estação do metrô e o indivíduo ia se matar,


mas morreu antes por cair na poça.

Resuminho: As concausas são causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência
das excludentes de sua responsabilidade. Dessa forma, uma vez ocorrendo, mesmo que haja
também causa das causas de excludentes, a responsabilidade do Estado será mantida, pois elas
desqualificam as casas de excludentes de responsabilidade.

5. Direito de Regresso:

a. Pressupostos:

O art. 37, § 6º da CF permite o ente administrativo cobrar ao agente causador do dano aquilo
que se pagou à vítima do dano. Há de se apresentar culpa ampla + efetivo pagamento dos
prejuízos da vítima. Precisa haver vontade de cometer o crime.

Este artigo possui dois pressupostos: dolo/culpa do agente causador do dano + configuração do
efetivo prejuízo (Estado precisa REALMENTE pagar a vítima).

b. Impossibilidade de Acionar Diretamente o Causador do Dano:

Não possui dispositivos legais, é contemplado pela doutrina e jurisprudência. Em 2006, o STF
consolidou entendimento de que a vítima do dano não deve acionar o agente causador do dano ,
deve acionar o Estado. Dessa forma, predomina a impossibilidade de a vítima acionar
DIRETAMENTE o causador do dano (agente público).
Resuminho: Atualmente, o entendimento predominante é de que a CF/88 estabelece dupla
garantia: aos administrados e aos agentes públicos, que só responderão pelos seus atos, nos
casos de dolo ou culpa e, exclusivamente, perante o Estado.

c. Impossibilidade de Denunciação da Lide:

Possui consolidação na doutrina e jurisprudência. Não é possível a vítima acionar


DIRETAMENTE o causador do dano. Porém, aquele magistrado que a permite, estará
amparado nos princípios da proporcionalidade, razoabilidade, celeridade e duração razoável do
processo.

d. Prazo de Prescrição:

O direito de regresso inerente ao Estado é IMPRESCRITÍVEL (art. 37, parágrafo 5 da CF)

e. Obrigatoriedade na Propositura:

É um poder-dever da Administração. Não se pode exercer o direito ou renunciar contra


determinado servidor em razão da afinidade, amizade ou inimizade. Princípio da
indisponibilidade do interesse público.

6. Responsabilidade do Estado por Atos Legislativos:

O Poder Legislativo é autônomo para exercer as suas funções típicas de legislar e fiscalizar. Se
determinada lei é declarada inconstitucional pelo controle concentrado de constitucionalidade
(STF/TJ) e o agente público causar danos a terceiros, o Estado será responsabilizado.

Exemplo > Lei estadual que obriga a trocar de redes telefônicas faz com
que muitas pessoas tenham que arcar com o ônus financeiro. Depois essa
lei foi declarada inconstitucional. A vítima pode cobrar os valores pagos.

7. Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais:

Como regra, o Estado não se responsabiliza por atos judiciais.


Em primeiro plano, entretanto, o Estado se responsabilizará objetivamente caso condene um
inocente por erro judiciário ou quando o sujeito ficar preso para além do tempo fixado na
sentença (art. 5, LXXV da CF).

Essa responsabilidade, no entanto, só alcança a esfera penal e não se aplica às prisões


provisórias, as quais visam a salvaguardar as investigações.

Se o juiz fraudar um processo cível, caberá à vítima buscar responsabilizar o juiz pessoalmente
mediante a comprovação de dolo/culpa – não o Estado.

8. Artigos importantes para a prova:

(Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso
além do tempo fixado na sentença.

Art. 21. Compete à União:

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio


estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

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