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Casos Práticos Resolvidos Teoria Geral do Direito Civil

Caso Prático 1 Abuso de Direito Alencar e sua esposa, Bonifácia, intentaram uma
ação declarativa comum, com processo sumário, contra a Tintasim, LDA, na qual
peticionaram a condenação da respetiva empresa:
1- No reconhecimento do direito de propriedade dos autores sobre a fração sita da
Rua Direita, lote 443 000 Coimbra;
2- Na declaração de nulidade do inerente contrato de arrendamento urbano para
fins de comércio de tintas, celebrado, verbalmente, a 8 de Novembro de 2006, entre
Alencar e Tintasim, LDA, com uma duração de 11 meses;
3- Na entrega aos autores da referida fração;
4- Pagamento aos autores da quantia de 50 mil euros, por força de ocupação
abusiva da fração. Na ação, os autores, alegaram, ainda, que são proprietários legítimos
da fração autónoma em causa e que Alencar, sem conhecimento de sua esposa, terá
dado de arrendamento, à Tintasim, LDA, a referida fração, efetuando a cobrança de uma
mera renda mensal de 1500€, para fins específicos de instalação de empresa e de
comércio de tintas. Para além disso, afirmaram, semelhantemente, que o contrato supra
indicado é formalmente nulo, por não haver sido celebrado em escrito, em
conformidade com o artigo 1069ºCC, introduzindo na redação dada pela Lei nº6/2006,
de 27 de Fevereiro, e é anulável em virtude de estar desprovido do consentimento da
autora, Bonifácia, a qual só teve conhecimento do sucedido no mês de Agosto do ano de
2007. Citada, a ré, Tintasim, LDA, contestou, defendendo que a autora teve
conhecimento do contrato de arrendamento celebrado de entre o autor e a ré e deu o
consentimento efetivo quanto à ocupação da segunda respetiva fração. Em acréscimo,
invoca que os autores ao peticionarem a falta de forma do contrato incorreram num
abuso de direito por “venire contra factum próprio”, pelo que, dessa feita, não se lhes
assiste qualquer direito de invocar a anulabilidade e a nulidade do contrato em causa.
A Tintasim, LDA, em reconvenção, alegou que, na sequência da celebração do dito
contrato, iniciou a sua atividade comercial na respetiva fração a 8 de Novembro do ano
de 2006, onde, de mais a mais, despendeu a modesta quantia de 25 mil euros, em
materiais e logística, imperiosos para o desenvolvimento da respetiva atividade
comercial, e que, à parte desse aspeto, terá, ao longo do tempo, estabelecido a sua
clientela e que, por esse mesmo motivo, deverá de beneficiar do direito a indemnização
no valor de 10 mil euros, a título de danos patrimoniais causados. Por outro lado, uma
vez que foram realizadas na fração, benfeitorias no valor de 15 mil euros, peticionou, na
circunstância de vir a ser declarada a nulidade do contrato por falta de forma, a
condenação dos autores a pagarem-lhe as respetivas quantias, afora a condenação dos
mesmos como litigantes de má-fé. a) Partindo do pressuposto de que: 1- O contrato de
arrendamento não terá sido celebrado por escrito, por força de um pedido levado a cabo
por Tintasim, LDA, em virtude de questões próprias da empresa, aliadas a preciosismos
administrativos, e que tal formalismo seria rectificado a breve trecho, quando Alencar e
Bonifácia tivessem disponibilidade; 2- Em audiência de julgamento na 1ª Instância, foi
dada razão aos autores da petição; Os Réus formulam, hoje, dia 18 de Setembro de
2007, recurso de apelação para o Tribunal da Relação de Coimbra. Quid júris?

Tendo em atenção o artigo 1069º CC, que exige a forma escrita para o contrato de
arrendamento urbano, e considerando a redação da Lei nº6/2006, de 27 de Fevereiro,
podemos afirmar efetivamente a inobservância da forma legalmente exigida. Segundo o
artigo 220ºCC, o contrato de arrendamento urbano pode, à partida, ser sujeito ao regime
da nulidade. A questão que aqui se coloca, está intimamente relacionada com o fato de
estarmos perante um uso abusivo ou não de um direito por parte de Alencar e Bonifácia.
Atentemos então no artigo 334ºCC. Segundo este, um comportamento é tido como
abusivo em face de um direito que é reconhecido a um sujeito pelo ordenamento
jurídico, quando o seu exercício “exceda manifestamente os limites impostos pela boa-
fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico do direito”. Claramente, que,
neste artigo, teremos de averiguar uma atuação conforme aos ditames da boa-fé
objetivamente entendida. Falamos então de um padrão-tipo comportamento que impõe a
um sujeito a adoção de uma determinada atuação enquanto um Homem normal, honesto
e bom pai de família e leal Falamos então de um tutela por parte da ordem jurídica, em
face das expetativas jurídicas que possam ter sido criadas na esfera da empresa
Tintasim, LDA.
Sabemos que a ordem jurídica nunca poderá deixar de tutelar a confiança legítima
baseada na conduta do senhor Alencar. Falamos então de pressupostos de uma
convivência pacífica e legítima em toda uma interatividade dos seres humanos. As
regras de forma, têm, na maior parte dos casos, fins de certeza e segurança jurídicas.
Sendo a nulidade o regime mais gravoso da invalidade de um negócio jurídico, podemos
dizer que nem toda uma atuação é impeditiva do direito que Alencar e Bonifácia tem em
arguir o contrato de arrendamento urbano como nulo. Em conformidade com o disposto
no artigo 286ºCC, a nulidade é de conhecimento oficioso. Portanto, a empresa Tintasim,
Lda., sabia, perfeitamente, que o tribunal poderia declarar a invalidade total do contrato
de arrendamento em questão. A ré não agiu de uma forma procedente, e não tomou as
precauções devidas e exigíveis em face do caso. Podemos de certa forma dizer, que, o
comportamento de Alencar e Bonifácia, frustrou as expetativas jurídicas, da empresa em
questão. Contudo, estamos perante um acontecimento futuro e incerto. Logo, considera
não estarmos perante um uso abusivo de um direito. Seria, então, declarada, em sede de
recurso, a nulidade do contrato de arrendamento urbano. No nº1 do artigo 289ºCC,
percebemos que a declaração da nulidade tem efeitos retroativos, devendo ser restituído
tudo o que haja sido prestado. Alencar e Bonifácia, poderão receber uma quantia de 50
mil euros por ter havido uma ocupação abusiva da fração sita da Rua Direita, lote 443
000 Coimbra. O Tribunal da Relação, reconhecer-lhes-á o direito de propriedade.
Contudo, devemos proteger os interesses das partes em causa. A empresa havia gastado
uma quantia avultada para a sua instalação. Pode, então, ser imputada, na esfera do
autores da petição, o dever/obrigação de estes procederem a um pagamento pelas
“benfeitorias” que a empresa haja feita na fração. Alencar e Bonifácia, terão de pagar 25
mil euros. Falamos então de um pagamento pelo valor corresponde aos materiais e a
toda uma logística da empresa. Não, devemos, contudo, assumir, uma indemnização
pela perda da clientela, na medida em que existir efetivamente um uso ilegítimo de
propriedade alheia.

Caso Prático 2 Abuso de Direito Na quinta de que é proprietária e onde tem residência
permanente desde o ano de 1998, Fernanda abriu, em Janeiro do ano de 2000, uma
parede, para a construção de um varandim. Porém, tal parede virava para um terreno,
que estava devoluto e do qual Marquês é proprietário. Este, que na ocasião, deu o seu
consentimento à abertura da referida parede, tem agora a intenção de construir uma casa
para pássaros no seu terreno. Pretende, dessa feita, com base no artigo 1360º, nº2, que
Fernanda tape aquela abertura. Quid juris?
Sabemos que Fernanda goza do direito de propriedade, cujo conteúdo se encontra
defino no âmbito do artigo 1305ºCC. Fernanda, pode, então, e considerando a
capacidade de exercício do direito que lhe é reconhecido, usar, fruir e dispor da sua
residência na quinta, na qual permanece desde o ano de 1998. Contudo, temos de ter em
atenção uma violação do nº2 do artigo 1360ºCC, complementado com o nº1. Segundo
esta norma, Fernanda, não podia construir uma varanda que deite diretamente sobre o
prédio do vizinho, sem deixar um intervalo de pelo menos um metro e meio de
distância. No caso em concreto, não temos nenhuma informação da distância, mas
presumimos que esta não cumpre o requisito legalmente exigido. Houve, efetivamente,
um incumprimento do preceito legalmente estipulado. Mas temos de analisar a situação
e verificar se estamos perante uma situação abusiva do direito de propriedade. Ora, o
abuso de direito, encontra-se regulado no artigo 334º CC. Este só pode ser assentido,
quando estamos perante uma situação de contraditoriedade manifesta para com os
ditames da boa-fé, para com os bons costumes e para com as finalidades sociais e
económicas do direito. Em relação ao caso de Fernanda, temos de ter em atenção as
expetativas jurídicas fundadas pelo consentimento obtido do seu vizinho Marquês. Ao
dar o seu consentimento, Marquês está a transmitir a Fernanda uma confiança
objetivamente justificada, e por isso essa será imputável na sua própria esfera. No
momento em que manifestou o seu consentimento, podemos afirmar que ambas as
partes demonstraram como que um esforço comum tendente para alcançar um acordo
final, em relação a permissão da construção ou não da varanda. Estamos perante uma
expetativa forte. Aqui, toda uma evolução futura da situação, terá de tender para uma
permissão da construção da varanda. O Direito tutela o resultado desta situação. Mesmo
que não haja uma concretização desta, assegurar-se-á o direito a Fernanda de ser
indemnizada pelos prejuízos que possam ter sido causados. Na situação de Fernanda,
podemos afirmar da não existência de um uso ilegítimo do direito de propriedade que o
ordenamento reconhece na sua esfera jurídica. Não considero ter havido um
comportamento contrário ao princípio da Boa- Fé. O direito de Anita, ainda que ilícito,
deve poder ser exercido sem frustrar as expetativas criadas pelo seu titular. Podemos,
nesta fase da resolução do problema, dizer, que Marquês agiu, “Venire contra factum
proprium”, criando na esfera de Fernanda uma confiança legítima, que a levava ao
exercício de uma posição jurídico- subjetiva de vantagem. Coloca-se e m causa o
princípio da tutela da confiança. Segundo este, o direito de Fernanda de construir a
parede deveria ser efetivado, sem qualquer frustração das suas expetativas. Tendo
consentido, Marquês criou expetativas a Fernanda e frustrou-as. Estamos perante uma
conduta eticamente reprovável.
Estas são tuteladas pelo Direito porque fortes. A inflação da sua atitude inicial constitui
uma contraditoriedade para com o princípio da boa-fé. Não houve nenhuma violação
dos costumes imprescindíveis para uma boa convivência em sociedade e, por outro lado,
não há nenhuma contraditoriedade para com o fim social e económico do direito de
propriedade. Fernanda, ao construir a varanda, não a pretendia usar para espiar “a casa
de pássaros do seu vizinho”. Logo, o direito que seria exercido não é feito em abuso.
Falamos de uma consequência mais adequada para o caso concreto. Fernanda pode
construir a Varanda.

Caso Prático 3 Interpretação da declaração negocial Alexandre, residente em


Coimbra, após ter terminado a licenciatura em Direito, decidiu frequentar o curso na
Faculdade de Direito da Universidade Nova em Lisboa, de preparação para o ingresso
no Centro de Estudos Judiciários, pelo que tomou de arrendamento a Bettencourt um
apartamento sito em Cascais, mais concretamente em Caxias. No respetivo contrato
ficou escrito que Alexandre arrendaria o rés-do-chão, mas, enquanto ele atribuiu a esta
expressão o sentido corrente de andar térreo, Bettencourt, como qualquer pessoa de
Cascais, conferiu-lhe o significado de 1º andar. Poderá Alexandre exigir que o contrato
valha em relação ao andar térreo, ou terá sido arrendado, realmente, o referido 1ºandar,
como entende Bettencourt? Quid júris?

Estamos perante um contrato de arrendamento urbano celebrado de entre Bettencourt


para com Alexandre. No contrato, ficou escrito que Alexandre arrendaria o rés-do-chão.
Falamos, então, de uma declaração negocial expressa feita pelo declarante, como
apreendemos do nº1 do artigo 217º CC. Em causa, está a interpretação da declaração
emitida para com o Bettencourt. Utilizemos, para uma solução do caso concreto, os
artigos referentes à interpretação da declaração negocial, constantes dos artigos 236º e
seguintes do CC. O nº1 deste mesmo artigo, consagra uma proteção para com o
Homem- declaratário. Este, para além de ser um homem normal, encontra-se na posição
de um real declaratário. Ora, Bettencourt, poderia deduzir do comportamento de
Alexandre, e do texto que constitui todo um articulado do contrato de arrendamento,
que este sujeito procederia a um arrendamento do rés-do-chão, tal como seria
apreendido por um habitante de Cascais Não existe uma prevalência do sentido objetivo
da declaração negocial, pelo que, enquanto intérprete, utilizo todo um conjunto de
regras e princípios da teoria hermenêutica negocial, não necessitando de pesquisar a
efetiva vontade do declarante. Remeto-me, à busca de um sentido cognoscível e
apreendido da exteriorização da declaração, utilizando para tal, um conjunto de
elementos subjetivos.
Podemos ter em consideração o elemento subjetivo, na medida em que Alexandre,
deveria contar com esta interpretação possível, que é aquela feita na zona de Cascais.
Portanto, devia ter ponderado a palavra utilizado para com Bettencourt. Nada nos diz no
caso concreto que Bettencourt tinha conhecimento do outro sentido que poderia ser
atribuído à declaração de Alexandre. Alexandre não se encontrava na posição de real
declaratário. Logo, somente foi arrendado o 1º andar, tal como era o entendimento do
sujeito Alexandre. O rés-do-chão, ainda é propriedade do senhorio.

Caso Prático 4 Valor do Silêncio como Meio Declarativo A editora Edirevistas, S.A,
enviou uma carta a todos os seus assinantes da “populus”, a fim de informá-los que, a
partir do ano de 2005, essa mesma revista passaria a ser distribuída em conjunto com
outra, a “vita”, pelo que a assinatura anual iria ficar encarecida em 20€. Nesse
documento, a empresa comunicava que, para maior comodidade dos clientes,
consideraria renovadas as assinaturas, mesmo já sujeitas a novos preços, caso não
recebesse uma resposta negativa no prazo de 3 meses. Imagine que alguns clientes, que
não objetaram no prazo fixado, se recusam, agora a pagar a assinatura da revista, tendo,
porém, recebido todos os exemplares semanais, no decorrer dos 3 meses que haviam
passado. Quid Juris?

Estamos perante uma situação de silêncio de uma resposta à comunicação que havia
sido efetuada pela Editora Edirevistas, S.A., ao enviar uma carta com todas as
informações que considerava pertinentes para o caso concreto. Sabemos de ante mão
que a declaração negocial é constituída por dois elementos: um externo, que consiste na
declaração propriamente dita, consumada pela adoção de um comportamento
declarativo; e um elemento externo, que consiste na vontade manifestada, coincidente
com um elemento objetivo da própria declaração. Esta pode ser expressa ou tácita,
possuindo estas o mesmo valor. Na declaração tácita podemos ter como fato
concludente uma declaração expressa, desde que cumpridos os requisitos legalmente
estipulados. Estou no âmbito do artigo 217ºCC. Contudo, não podemos equiparar uma
situação de silêncio com uma declaração tácita. O silêncio não é uma das modalidades
de manifestação de uma declaração negocial. Este pode valer como declaração, quando
e somente lhe seja reconhecido valor jurídico em lei, uso ou convenção. O valor do
silêncio “como meio declarativo”, encontra-se regulado no artigo 218ºCC.

Enquanto numa declaração tácita existe um comportamento declarativo voluntário, que


é valorado pelo ordenamento jurídico. Perante o silêncio, existe uma grande inércia.
Como diz o professor: “Quem cala, nem consente, nem discorda”. Há uma ausência de
uma vontade manifestada, ainda que possa haver um conteúdo volitivo. Em função do
caso concreto, nada nos dita que deva ser atribuído valor jurídico à convenção. Não
estamos perante um uso e não foi convencionado nada de entre as partes. Nada no caso
nos indica que, legalmente, passado o prazo de 3 meses, haja um consentimento tácito
por parte dos destinatários, ou seja, por parte dos leitores. Portanto, os leitores não terão
que pagar à Editora quaisquer revistas.
Caso Prático 5 Forma da Declaração Negocial Valentim doou um terreno à
Associação Desportiva da sua terra, para que ali fosse construído um pavilhão
gimnodesportivo. Todavia, e apesar das insistências para que o negócio fosse
formalizado por escritura pública, Valentim recusou-se sempre a outorgá-la, pelo facto
de se tratar de um “homem de palavra”. Na sequência desta doação, Valentim foi
homenageado publicamente pelo seu ato, ao passo que a Associação encetou diligências
no sentido de adquirir materiais para a construção do já mencionado gimnodesportivo.
Sucede que Valentim, veio a falecer sem que tivesse sido celebrada qualquer escritura
pública. João, seu único herdeiro, pretende reaver o terreno. Poderá fazê-lo? Justifique a
sua posição enquanto jurista não prático. Quid Juris?

A questão aqui em causa está relacionada com formalismo negocial. A exigência legal
de forma que uma determinada declaração negocial terá de revestir prende-se: com a
necessidade que as partes têm de refletir antes que possam vir a praticar atos
considerados como graves; com uma maior segurança jurídica do negócio, ao permitir
uma intervenção de terceiros; facilita o meio de prova da doação de Valentim para com
a Associação Desportiva da sua terra. Em algumas destas situações, a lei tem o
propósito inconfessado, dificultar a concretização dos negócios em causa, porque lhe
pode ser desfavorável, não chegando, no entanto, ao ponto de os proibir. Uma exigência
formal, em conformidade com o constante no texto legislativo, prende-se com a
necessidade de maior certeza e segurança jurídicas. O nosso CC consagra o princípio da
liberdade de forma ao nível do artigo 219º. Este não vincula as partes a uma forma, mas
também não proíbe que estas por livre vontade (forma voluntária) ou por acordo (forma
convencional), decidam uma outra modalidade de forma. Contudo, esta não parece ser a
situação da doação de Valentim. Sabemos, que a doação do terreno para a construção do
gimnodesportivo deveria revestir a forma mais solene, tal como se encontra consagrado
em Lei. Esta, teria de ter sido feita por escritura pública, como era a pretensão das
pessoas que residiam na terra de Valentim. Analisemos o artigo 220º CC, que versa
sobre a inobservância da forma legalmente exigida para com uma doação. Este dita, que
a inobservância da forma legalmente exigida, poderá determinar a nulidade do caso
concreto. No entanto, e analisando o disposto no artigo 221ºCC (âmbito da forma legal),
chegamos à conclusão de que, João, herdeiro de Valentim, não poderia arguir a nulidade
da doação. Segundo o nº1, as estipulações verbais de Valentim, feitas antes da escritura
pública, que nunca se veio a consumar, podem excluir a invalidade do negócio
unilateral. O autor, ao afirmar, que, era um “Homem de palavra” perante os demais
habitantes da sua aldeia, valida o negócio que à partida, estaria sujeito a escritura
pública. Afastamos a nulidade do negócio em questão, porque uma razão determinante,
faz com que a forma não seja aplicável, i.e., a morte do Sr. Valentim, e por outro lado,
sabemos que este havia manifestado uma vontade, publicamente, no sentido de querer
oferecer o terreno à população da sua terra para construção de um gimnodesportivo.
João, não poderá reaver o terreno.

Caso Prático 6 Vícios da vontade António, agricultor, vendeu a Branca um terreno por
um valor baixíssimo, dada a proximidade com uma E.T.A.R., que existia já há 20 anos.
Todavia, pouco tempo depois do negócio, António tomou conhecimento de que o
presidente da Câmara da sua localidade teria dado ordens, dias antes, para colocar em
prática um projeto que havia enunciado na sua campanha e que consistia no
encerramento e demolição da referida E.T.A.R. e, subsequente, construção, no mesmo
sítio, de um importante lanço de autoestrada, facto que iria valorizar em muito todos os
terrenos circundantes. Em função desta nova situação, António sente-se prejudicado
com a venda e pretende anular o negócio. Estará António em condições de recuperar o
referido terreno? António emitiu uma declaração negocial de forma expressa a Branca
nº1 do artigo 217ºCC. Esta, dependia de forma especial, pelo que subsumimos ao caso o
a escritura pública do artigos 874º e 875ºCC. Temos de verificar da perfeição desta
declaração negocial emitida. Ora, a declaração negocial emitida por António, foi livre e
bem exteriorizada. Não foi, contudo, bem esclarecida.

Estamos perante uma inexata representação da realidade, um conhecimento lacunoso e


insuficiente e uma ignorância de vicissitudes de facto como as da demolição da
E.T.A.R, e a construção de um importante lanço de autoestrada que poder-se-ão
constituir como relevantes para o Direito. Tal fato remete-nos imediatamente para o
regime do erro-vício. Este parece não ter sido qualificado por qualquer atuação dolosa
de Branca, pelo que afastamos de imediato os artigos 253º e 254º CC. Nada, no caso,
nos faz crer que Branca empregou qualquer sugestão ou artifício com intuito de induzir
ou manter em erro António. Então aplicamos o regime do erro-vício simples,
consagrado ao nível dos artigos 251º e 252º CC. Ora, António não estava certamente em
erro sobre a pessoa de Branca, ou suas qualidades, nem possui um conhecimento
lacunoso sobre as caraterísticas do seu terreno. Afastamos então o regime do artigo
251ºCC. Creio estarmos perante uma representação incorreta do quadro circunstancial
das pates, quando estas tomaram a decisão de contratar. Aplicamos então o regime
constante do nº2 do artigo 252ºCC, sobre a base do negócio. Para a aplicação deste
artigo, tem de existir uma concretização de alguns pressupostos, de entre os quais à que
destacar: ---o fato de o erro ser bilateral, enquanto comum a António e a Branca; ---os
elementos sobre os quais recai o erro têm de efetivamente de ser relevantes; ---e o erro
refere-se efetivamente às circunstâncias e pressupostos aquando da decisão das partes
em contratar. No caso de Branca e António, temos reunidos todos os pressupostos para
aplicarmos o regime da base do negócio, constante do nº2 do artigo 252ºCC. Estamos
perante um desvio anormal e manifesto das circunstâncias em que as partes tomaram a
decisão de contratar. Temos de verificar da concretização dos requisitos do artigo
437ºCC para podermos proceder ou não a uma modificação ou resolução do negócio.
Em face do desvio anormal e manifesto, a sua manutenção em vigor e a exigência da
sua manutenção e cumprimento, pode ser contrária a princípios da boa-fé objetivamente
entendida. Contudo, o desvio e a perturbação da sua justiça interna e do seu fim estão
incluídos nos riscos dos próprios contratos. Os negócios aleatórios nunca devem ser
afastados do artigo 252ºCC, determinando-se, então, a anulabilidade do contrato de
compra e venda celebrado de entre António e Branca, porque assumimos os riscos do
próprio contrato. Portanto, tendo em conta a essencialidade e a cognoscibilidade do
erro, podemos arguir a anulabilidade do artigo 287ºCC. António, poderá, no prazo de 1
ano, requerer a anulação do negócio, tal como o que consta no nº1 do regime desta
invalidade do negócio. Os efeitos desta invocação terão de ser conformes ao constante
no artigo 289ºCC. Devemos assumir uma repristinação “Exceptio non adimpleti
contratus”.
Ou será feita uma entrega do terreno por parte de Branca a António, ou então ser-lhe-á
imputada na sua esfera o dever de pagar o valor correspondente. Estou no âmbito do nº1
do artigo 289ºCC.

Caso Prático 7 Vícios da vontade Anacleto, engenheiro agrónomo, recém-licenciado,


resolveu mudar de domicílio de Lisboa para o Alentejo. Após ter efetuado a compra do
imóvel, resolveu passar por um dos cafés situados na cidade de Beja, a fim de averiguar
da existência de algum terreno de cultivo que estivesse para venda. Desta diligência
aconteceu, encontrar Bernardo, seu amigo de faculdade, também engenheiro agrónomo,
que morava numa aldeia próxima e que possuía um terreno junto à nova casa de
Anacleto, que pretendia vender. Em função disto, Anacleto desloca-se em pessoa ao
terreno e, convencido de que este reunia as condições fundamentais para a prática de
atividades agrícolas e florícolas que desejava, efetua o contrato de compra e venda com
Bernardo. Este, bastante contente com o negócio, até lhe disse: “ Tenho a certeza que
serás bem-sucedido nas tuas plantações com este terreno que eu te vendi”. Volvido um
mês, o comprador reparou que o terreno não possuía o volume de água que ele previa
que tivesse. Na verdade, a nascente era algo afastada e, periodicamente, o terreno
chegava mesmo a ficar desprovido de água, pelo que, numa ou noutra situação, o seu
tipo de cultivo estaria comprometido, facto que levou Anacleto a dizer à sua esposa que
se fosse agora não havia consumado a dita compra. Em função disto, Anacleto pretende
saber se poderá anular o negócio. Quid Juris?

Anacleto emite uma declaração negocial expressa nos termos do artigo 217ºCC. Nada
no caso nos faz crer que estejamos perante uma situação de incumprimento de forma
especial prevista nos artigos 874º e 875ºCC para o negócio de compra e venda. Não
aplicamos o previsto no artigo 220ºCC. Temos verificar da perfeição da declaração
negocial que haja sido emitida por Anacleto. Ora esta foi livre e bem exteriorizada, mas
não foi esclarecida. Tal remete- nos imediatamente para o regime do erro-vício. Este
não foi qualificado por dolo, na medida em que nada no caso nos indica que Bernardo
tenha utilizado artifícios para induzir ou manter em erro Anacleto, i.e.., mesmo que este
tenha a noção das imperfeições do terreno, sem nada ter dito ao comprador, que por sua
vez era seu grande amigo de faculdade. Creio estarmos perante um erro sobre o objeto
previsto no artigo 251ºCC. Anacleto, possuía, um conhecimento lacunoso e insuficiente
e uma ignorância de vicissitudes de fato protegidas pelo Direito.
Para a validade da pretensão anulatória por erro em face das caraterísticas do terreno
agrícola, temos de recorrer ao artigo 247ºCC. Ora são requisitos para a anulação do
negócio de compra e venda em causa: -A essencialidade do elemento sobre o qual
recaiu o erro, ou seja, tem de existir uma prova de que as partes, ou pelo menos uma
delas, não teria concluído o negócio da mesma forma; -A cognoscibilidade, pela pessoa
do declaratário desse mesmo elemento fundamental no negócio. Ora, creio estarem
reunidos os pressupostos para que Anacleto possa arguir a anulabilidade do negócio, no
prazo de 1 ano, a partir do momento em que tomou conhecimento de que o terreno
agrícola não possuía as caraterísticas desejadas, em conformidade com o disposto no
nº1 do artigo 287ºCC. As consequências destes estarão dispostas no artigo 289º. Creio
que no caso em concreto, a restituição em espécie não é possível, devendo haver a
colocação das partes na posição em que se encontravam antes de o negócio ter sido
consumado. Anacleto entrega o terreno a Bernardo e Bernardo, por sua vez, entrega o
valor correspondente deste àquele sujeito que estava em erro no momento do acordo.
Como alternativa à anulabilidade, podemos admitir, quando tal seja a pretensão das
partes, a redução e a conversão, nos seus diferentes regimes dos artigos 292º e 203ºCC.
Caso Prático 8 Vícios da Vontade Em Dezembro de 2003, Fonseca declarou, por
escrito particular, a venda a Gertrudes de um imóvel sito em Vilamoura, no Algarve. O
negócio foi realizado com o objetivo de evitar a execução da moradia por Pedro, credor
de Fonseca, não existindo, na realidade, qualquer declaração negocial. Em Março do
ano de 2004, Gertrudes, cumprindo as exigências legais necessárias, doou o referido
imóvel a Inocêncio, tendo este completo desconhecimento de tudo o passara
anteriormente. -Partindo do pressuposto que todos os atos referidos foram contemplados
com registo, admita que Pedro, credor de Fonseca, pretende, em Novembro do ano de
2004, fazer com que o imóvel retorne, efetivamente à sua titularidade, para que o possa
executar. Terá êxito? No mês de Dezembro do ano de 2003, Fonseca vende o imóvel a
Gertrudes por escrito particular. Esta podia ser feita por um documento particular
autenticado, ao abrigo do artigo 875ºCC. Tendo em consideração os critérios
interpretativos do artigo 236º do CC, chegamos à conclusão de que existe uma
divergência de entre a vontade real para com a vontade que haja sido declarada por
Fonseca.
Sabemos que esta divergência é intencional, e que foi fundada em um acordo prévio de
entre Fonseca e Gertrudes. Estamos então perante uma simulação regulada nos artigos
240º e segs. do CC. Analisando a situação que nos é descrita no caso, sabemos que
estão perante um “colorem habet, substanciam nullam”. Fonseca havia declarado nesse
mês a celebração de um negócio de compra e venda do imóvel sito em Vilamoura,
quando na verdade não pretendia celebrar qualquer negócio. Estamos perante uma
simulação absoluta. De realçar o facto de esta também poder ser qualificada como
pessoal, porque respeita a uma interposição física de pessoas, e é efetivamente
fraudulenta, na medida em que as partes acordaram a celebração do negócio com intuito
de enganar e prejudicar o credor Pedro. Este acordo simulatório pode ser confirmado ao
nível do nº1 do artigo 240ºCC. De acordo com o nº2 do mesmo, sabemos que todo o
negócio simulado pode ser sujeito ao regime da nulidade constante do artigo 286º CC.
À partida, podemos pensar que Pedro, pode arguir a nulidade do artigo por mim referido
anteriormente. Afinal, de acordo com este artigo a nulidade pode ser invocada a
qualquer tempo, sem qualquer limitação de prazo, e por qualquer interessado. Devemos
interpretar extensivamente o preceito contido no nº1 do artigo 242ºCC, como forma de
podermos considerar o credor Pedro como parte interessado em arguir a nulidade, para
que lhe seja reconhecido o direito de crédito. Contudo, sabemos que houve uma doação
de Gertrudes para com Inocêncio. Esta doação cumpriu as exigências de forma
estipuladas no texto legislativo, constantes do artigo 947ºCC. Portanto, há que averiguar
se podemos opor a nulidade desta simulação para com Inocêncio, enquanto terceiro na
relação jurídica simulada que tinha existido de entre Fonseca e Gertrudes. Atuando de
acordo com os ditames da boa-fé objetivamente entendida, sabemos que a nulidade da
simulação não poderá efetivamente ser oponível a Inocêncio. Este estava em ignorância
acerca das vicissitudes simulatórias que constituíram uma situação fáctica, que na
maioria dos casos merecerá tutela do Direito. Apreendemos toda uma esta solução no
artigo 243ºCC. O credor não pode contudo ficar prejudicado. Pode haver aqui lugar a
uma indemnização por eventuais danos que possam ter sido causados.
Caso Prático 9 Vícios da Vontade Em Maio de 2002, Amanda vendeu simuladamente,
por escrito particular, o seu bólide Ferrari a Larissa, ocultando uma doação relativa ao
mesmo móvel. Dois meses depois, Lari, como os amigos lhe chamavam, vendeu,
cumprindo todas as formalidades do registo, o dito automóvel a Vasquez, que tinha total
conhecimento do ato simulatório e dissimulado. a) Em Fevereiro de 2003, Amanda,
pretendendo reaver o seu carro, vem invocar a sua simulação. Será bem-sucedida na sua
pretensão? Utilizando os critérios interpretativos dos artigos 236º e seguintes do CC,
facilmente nos apercebemos que existe uma divergência de entre a vontade real para
com a vontade declarada por Amanda. Estamos perante um vício na exteriorização da
vontade. Para além desta divergência, sabemos que a latência da doação para com um
“negócio de compra e venda” foi intencional. Houve um acordo de entre Lari e
Amanda. Estamos então perante uma simulação relativa (“colarem habet, substantiam
vero alteram), na medida em que as partes fundaram um acordo com um determinado
conteúdo no sentido da produção de certos efeitos jurídicos, quando na realidade
queriam um outro com forma e mesmo conteúdo distinto. De referir que estamos
perante um animus decipiendi, na medida em que as partes estavam a enganar terceiros,
sem intuito de causar efeitos nefastos na esfera destes. Esta simulação é, portanto,
inocente. De acordo com o artigo 240º CC, nº2, todo o negócio simulado pode estar
sujeito ao regime da nulidade constante do artigo 286ºCC. No entanto, esta nulidade
pode ser invocada à partida por Amanda, enquanto simuladora, ao abrigo do nº1 do
artigo 242ºCC. Contudo, a nulidade do negócio simulado não impende sobre a validade
do negócio latente/dissimulado, como conseguimos perceber em conformidade com o
disposto no nº1 do artigo 241ºCC. De notar, e em conformidade com o nº2 deste artigo
que, esta validade estaria dependente da observância da forma legalmente exigida para a
doação, constante do artigo 947ºCC. No entanto, sabemos que a nulidade do negócio
simulado pode então ser oponível a Vasquez, enquanto adquirente do bem móvel em
má-fé. Falamos de um terceiro de má-fé, tal como apreendemos no âmbito do nº3 do
artigo 243ºCC. Recorrendo ao artigo 237ºCC, sabemos que perante negócios onerosos
deverá prevalecer o sentido menos gravoso para o disponente. Amanda, pode então
invocar então a nulidade do negócio simulado, como forma de readquirir o direito de
propriedade sobre um bem imóvel consagrado ao nível do artigo 1305ºCC.
Esta forma de invalidação do negócio jurídico bilateral, pode ser arguida por Amanda
sem dependência de prazo porque a nulidade é um direito potestativo que não caduca.
Os efeitos da arguição desta nulidade são retroativos, em conformidade com o disposto
no nº1 do artigo 289ºCC. b) E se não tivesse havido doação, desconhecendo Vasquez a
simulação? Quid Juris?

Se não tivesse havido doação estaríamos perante uma simulação absoluta (“colorem
habet, substatiam vero nullam”), pelo que a nulidade não poderia ser à partida arguida
nos termos do artigo 291, nº1ºCC. Contudo, esta não seria oponível a terceiro de Boa-fé,
como apreendemos por uma conjugação dos critérios do artigo 243º, nº1 e do artigo
291ºCC. O credor beneficiaria do direito a reaver a quantia monetária que lhe era
devida, e nestes mesmos termos, tendo em consideração o princípio da segurança e
certeza jurídicas, deverá haver lugar a indemnização na esfera jurídica do sujeito
VASQUEZ.

Caso Prático 10 Dolo e Responsabilidade Pré-contratual Em Outubro de 2001,


Carlitos compra a Lara um imóvel sito nos arredores de Évora. Todavia, tal decisão foi
repentina e especialmente motivada pelo facto do irmão de Lara, Joaquim, que por sua
vez era amigo de Carlitos, ter forjado e entregue a este toda uma série de documentos e
brochuras que atestavam que o local do imóvel seria despoluído e seguro e que viria a
ser construído, em breve, bem próximo a ele, um novo centro comercial, circunstância
que viria valorizar toda a área. Consciente disto, Lara, por conselho de Joaquim, exigiu
um preço mais elevado pela compra do imóvel. Por sua vez, Carlitos, em Dezembro de
2001, doou esse imóvel à sua sobrinha Ester como prenda de casamento. A sua
sobrinha, logo se apressou, dias depois da doação, a efetuar o respetivo registo da
aquisição. Em Janeiro de 2002, Carlitos descobre que todos aqueles documentos, que
lhe haviam sido mostrados por Joaquim, entretanto falecido por doença prolongada,
eram falsos e, portanto, não só o lugar apresentava elevados índices de poluição e era
desprovido de segurança, como também, e para piorar a situação, nenhum centro
comercial iria ser construído. Por tudo isto, Carlitos pretende recuperar o dinheiro do
imóvel, facto que encontra a oposição do seu novo proprietário, Ester. Quid Juris?
Atentemos na declaração emitida por Carlitos ao comprar a casa a Lara. Percebemos,
que, esta foi livre e bem exteriorizada, mas não foi efetivamente esclarecida. Estamos
perante um erro na representação da realidade, o que nos remete para uma solução do
caso concreto com recurso ao regime do “erro-vício”.
Este foi, certamente, qualificado por uma atuação dolosa de Joaquim, irmão de Lara.
Estamos perante um “donus malus”, consagrado ao nível do nº1 do artigo 253º CC.
Joaquim demonstrou claramente, que, utilizou documentos e brochuras forjadas, com
intuito de induzir e manter em erro Carlitos. Verificamos, então, a existência de um dolo
ilícito. Este, não foi provocado por Lara, mas sim por um terceiro da declaração
negocial. Remetemos então a solução do caso para o nº2 do artigo 254ºCC, que estipula
quais os requisitos da anulabilidade do negócio de compra e venda do imóvel nos
arredores de Évora. Em face da situação concreta, Joaquim não é considerado, de um
ponto de vista jurídico, como benificiário do negócio, mas será considerado como
terceiro em face da declaração negocial de Carlitos. A declaração só será anulável, se o
destinatário (Lara) tinha ou devia conhecer da atuação dolosa de seu irmão. Estamos na
1ºparte do nº2 do artigo 254ºCC, o que acontece na situação fática. Lara sabia dos
pressupostos, que haviam feito o irmão dizer-lhe para inflacionar o preço do imóvel. O
negócio pode então ser anulado por Carlitos, porque Lara tinha conhecimento da
atuação dolosa (nº1, do artigo 254º CC). De realçar, o facto de existir ainda uma
responsabilidade pré-contratual ou negocial de Joaquim e Lara, na medida em que os
seus comportamentos antes da conclusão do negócio foram um atentado contra os
ditames da boa-fé (honest agree). Aplicamos então o artigo 227ºCC. Carlitos pode
invocar a anulabilidade do negócio em questão até Janeiro de 2003. Esta legitimidade da
invocação da invalidade total do contrato compra e venda decorre do nº1 do artigo
287ºCC. Segundo o nº1 do artigo 289º CC, existe um dever de repristinação imputado
na esfera de Lara e de Carlitos. Ou seja, as partes devem ser colocadas na posição em
que se encontravam antes da celebração do contrato de compra do imóvel junto da
cidade de Évora. Tendo em atenção a exceptio non adimpleti contratus, ou também tido
como princípio do cumprimento simultâneo, deverá Lara entregar o valor
correspondente do imóvel pago por Joaquim. Ester, sobrinha de Carlitos deverá,
conforme com uma interpretação a contrariu do nº2 do artigo 291ºCC, entregar o imóvel
a seu tio, para que este o devolva a Lara.
Caso Prático 11 Representação Ana, emigrante em Luxemburgo, conferiu a Beatriz,
sua amiga, os necessários poderes para que esta desse de arrendamento o seu
apartamento sito na Guarda. Beatriz, como não encontrou interessados que quisessem
arrendar o imóvel, decidiu vendê-lo a Castro por um preço magnífico, valorizando-o,
assim, em muito. a) Ana, que acaba de regressar a Portugal para as habituais férias de
Verão, pretende saber se tem de entregar a Castro as chaves do apartamento. b)
Suponha, ainda, que Ana pretende comprar uma villa (casa de campo) e atribui a Beatriz
totais poderes para o efeito. Esta, porém, desrespeita a sua vontade e compra-lhe um
imóvel localizado em plenas Amoreiras, Lisboa. Quid juris?

Estamos no âmbito de matérias da representação constantes nos artigos 258º e seguintes


do CC. Para averiguarmos de toda uma legitimidade da atuação de Lara, teremos de
verificar da concretização dos requisitos para a existência e para a eficácia
representativa. Ora em relação à existência, sabemos que Lara tem poderes para atuar
em nome de Ana (contemplatio dominis). Sabemos que a atribuição dos poderes seria
feita pela procuração enquanto meio voluntário para a atribuição de poderes
representativos, contante do artigo 262ºCC. Sabemos que esta procuração, teria
efetivamente de revestir a forma exigida para o contrato de arrendamento, i.e., escritura
pública (artigo 1069ºCC), tal como percebemos no nº2 do artigo referenciado
anteriormente. Lara, não tinha então poderes para atuar em nome de Ana, em
conformidade com o disposto no artigo 263ºCC. De notar, que para os requisitos de
existência fossem verificados no caso em apreço, devemos portanto considerar que toda
uma atuação de Lara não diria respeito somente a um conteúdo volitivo-decisório de
Ana, mas também a toda uma vontade da própria representante/procuradora. Contudo,
em relação à eficácia, verificamos uma não concretização dos requisitos. Estamos
perante uma situação de falta de poderes de representação, tal como contatamos no
artigo 268ºCC. Ana, emitiu a procuração a Lara, para que esta última procedesse à
celebração de um contrato de arrendamento de um imóvel sito na cidade da Guarda, e
não para que esta celebrasse um contrato de compra e venda ao abrigo do artigo
874ºCC. Sabemos que esta situação de falta de poderes de representação traduzir-se-á
necessariamente em uma ineficácia do negócio de compra e venda, ao abrigo do nº1 do
artigo 268ºCC. Por outro lado, sabemos que em relação a estes negócios não existe
nenhuma caraterística intrínseca que sujeite estes negócios a uma invalidade por
nulidade ou anulabilidade. Tal acontece porque os atos praticados nem vinculam o
representante, Lara, que praticou atos como se não fossem para si, nem a representada,
Ana, que não atribuiu poderes à sua procuradora para vender o imóvel. Dada a
impossibilidade de eficácia do negócio de compra e venda, não se produzirão efeitos
imediatos na esfera jurídica de Ana, tal como seria inicialmente de presumi por uma
leitura do artigo 258ºCC. Ana, não terá, nestes termos de entregar a Chave a Castro.
Tendo em consideração a hipótese da alínea b) do caso prático, resolveria a hipótese de
acordo com uma situação de abuso de representação constante do artigo 269ºCC. Lara,
agiu dentro do âmbito formal da procuração que lhe havia sido emitida, tal como
percecionamos de uma conjugação dos artigos 262º e 263ºCC. Contudo, toda uma
atuação contraria substancialmente as finalidades dos poderes representativos que lhe
que lhe haviam sido conferidos por Ana. Esta última, pretendia a aquisição de uma caso
de campo e não de um imóvel sob a forma de apartamento em plena cidade de Lisboa.
Nada no caso concreto nos faz pensar que o vendedor do imóvel em plena Amoreiras
sabia ou devia ter conhecimento do abuso de representação, pelo que o ato será sujeito a
um desvalor por ineficácia pelo ordenamento jurídico no qual estamos inseridos. Mais
uma vez este ato poderia ser ratificado, se Ana viesse a gostar do apartamento, como
percebemos por uma remissão expressa do artigo 269º para o artigo 268ºCC. A
possibilidade da ratificação de Ana tornaria um ato, à partida ineficaz como eficaz,
tendo em consideração o princípio do aproveitamento dos atos jurídicos que emana de
toda uma jurisprudência civilista. De realçar o facto de este ato não deter caraterísticas
intrínsecas que determinem uma invalidação por nulidade (286º) ou anulabilidade
(287º) cujos efeitos contariam do artigo 289ºCC. ---Casos do Manual de hipóteses
práticas de Fernando Torrão Caso nº 69-Forma das declarações negociais Sabemos que
no dia anterior à compra por parte de Bastos do imóvel de Antunes, as partes
convencionaram o pagamento do imóvel em 12 prestações mensais. Estamos no âmbito
do artigo 223º CC. As partes comprometeram-se a respeitar a respeitar os preceitos da
forma que havia sido convencionada.

Segundo o nº1 pode constituir-se uma presunção legal, da qual extraímos a ilação de
que as partes não se queriam vincular, se não pelo que havia sido estipulado na própria
convenção. O imóvel estava sujeito a uma observância de escritura pública, tal como
consta na própria lei. Contudo, sabemos, que na escritura pública, não existe nenhuma
referência ao modo de pagamento. Teremos de extrair qual será o modo de pagamento
do imóvel, em função do âmbito da forma legal constante do artigo 221º CC. Neste,
ficamos a perceber que a nulidade das estipulações verbais acessórias anteriores ao
documento que era legalmente exigido, não pode ser arguida. Conseguimos provar que
o pagamento a prestações correspondia a vontade efetiva de Bastos, enquanto autor da
declaração negocial. A convenção acordada no dia anterior à escritura do imóvel,
também se assume como uma razão determinante de forma suficiente para que Bastos
possa proceder a um pagamento do imóvel com recurso a prestações. Estamos no
âmbito do nº1 do artigo 221º CC. O pagamento será, então, efetuado de uma forma
prestacionada. Caso nº64-Interpretação da declaração negocial Estamos perante um
contrato unilateral (negócio jurídico bilateral), celebrado de entre Alberto para com
Baptista. Segundo o conteúdo do mesmo, Baptista ficava vinculado a fornecer todos os
meses, pelo período de 1 ano, 500 grades de uma conhecida marca de cerveja. Para o
mesmo, as partes utilizaram uma forma especial para a declaração: uma convenção.
Nesta, estipularam uma renovação do contrato, se afim 11 meses, nenhum dos
contraentes o denunciasse, haveria uma renovação automática do mesmo. O âmbito
desta, encontra-se regulado ao nível do artigo 223ºCC. Presumimos, então, que as partes
quiseram ficar vinculadas, conforme percebemos no nº1. Em função de uma leitura do
seu nº2, e tendo a convenção sido estipulada pelas partes no momento da conclusão do
contrato, podemos que a convenção teve como principal objetivo uma consolidação do
acordo de entre as partes. Há fundamento para admitir, que as partes, se quiseram
vincular desde que terminaram as hipotéticas negociações. O cerne da problemática em
causa, está relacionado com o silêncio enquanto meio declarativo. Ora, não podemos
confundir o silêncio com uma declaração negocial. Sabemos que uma declaração
negocial pode ser expressa ou tácita, segundo o nº1 do artigo 217º CC. Estas têm o
mesmo valor, podendo uma declaração tácita ter como facto concludente uma
declaração expressa, embora tendo que respeitar os trâmites legalmente definidos. A
declaração tem como elemento externo a declaração propriamente dita, que consiste na
tomada de um deve exprimir uma componente volitiva, coincidente com o sentido
objetivo da declaração negocial. Nunca devemos assumir o silêncio como uma
modalidade de uma declaração negocial. Ao silêncio pode ser-lhe somente reconhecido
um valor declarativo em situações restritas, tais como aquelas dispostas no artigo
218ºCC, i.e., quando tal conste de lei, uso ou convenção. No silêncio não existe um
comportamento declarativo, cujo sentido é reconhecido pelo ordenamento jurídico, tal
como acontece na declaração tácita. O silêncio, há uma inércia, uma ausência de
vontade manifestado. No caso, o silêncio só seria valorado se traduzia uma denúncia por
parte de um dos contraentes. Como o professor disse em aula: “quem cala, nem
consente, nem discorda”. Por essa mesma razão, passado um ano, Baptista não podia
deixar de fornecer cerveja a Alberto. Tal como consta da convenção, a renovação do
contrato não dependeria de um consentimento favorável de ambas as partes. Neste caso,
o consentimento manifestar-se-ia por omissão. Baptista, será então obrigado a fornecer
todos os meses, 500 grades de uma conhecida marca de cerveja, a Alberto, durante mais
período de 10 meses, na medida em que 1 já havia passado. Contudo, na próxima
entrega, Baptista, terá a obrigação de fornecer 1000 grades da conhecida marca, como
forma de cumprimento de aquilo que era devido no mês anterior. No caso de não
conseguir cumprir, cabe lugar a responsabilidade civil, por incumprimento do conteúdo
contratual. Caso nº70- Efeitos das declarações negociais A questão em causa está
relacionada com a eficácia da declaração negocial. Inicialmente, António envia carta,
com uma proposta de venda do bem automóvel a Belmiro, por um preço de 10.000€. No
dia 2 de Maio, tendo conhecimento do interesse demonstrado por outros amigos,
António, envia a Belmiro um fax, do qual constava ma reserva para a venda do
automóvel, caso surja uma proposta de valor superior àquele que constava da carta por
si inicialmente enviada. Estamos perante duas declarações negociais expressas ao abrigo
do nº1 do artigo 217 CC. Estas dispensam de qualquer atividade interpretativa, porque o
seu conteúdo é facilmente apreensível por Belmiro. A Lei consagra no artigo 219ºCC, o
princípio da liberdade de forma. As partes não estão vinculadas a seguirem nenhuns
trâmites formais para a validade da declaração negocial emitida. Analisemos, a situação,
e verifiquemos da possibilidade de António poder vender ou não o automóvel a Carlos
por um preço de 15.000€. A declaração negocial emitida por António no dia 2 de Maio,
produziu efeitos desde esse dia, porque foi a data da receção do fax, em conformidade
com o nº1 do artigo 224ºCC. Esta perceção está relacionada com uma necessidade de
maior segurança e certeza jurídicas, promovendo os interesses de ambas as partes.
Belmiro aceita a proposta de António (declaração negocial expressa segundo o artigo
217ºCC). Esta só, passou a produzir os efeitos pretendidos por Belmiro no dia 11 de
Maio, data da receção da carta por António. Mais uma vez, estamos no âmbito do nº1do
artigo 224ºCC. António podia, então, vender o automóvel a Carlos por um preço de
15.000€. Caso nº66- Dolo A declaração negocial emitida por Diogo foi livre e bem
exteriorizada, mas não foi esclarecida, o que rapidamente nos remete para o regime do
“erro vício”. Estamos perante um erro na representação da realidade, causado
intencionalmente pela pessoa privntada José, como é percecionado pelo Direito Civil.
Este erro é, então, qualificado por dolo, na medida em que José utilizou a declaração de
dívida, única e exclusivamente com o intuito de induzir ou manter em erro o Diogo.
Estamos perante um “donus malus”, enquanto ilicitude do ato doloso, consagrada ao
nível do nº1 do artigo 253ºCC. O erro do declarante foi provocado pelo “declaratário”,
considerando José como destinatário do autógrafo dado por Diogo. Por remissão do nº1
do artigo 253º para o artigo 254º, nº1, percebemos que a declaração é anulada nos
termos do artigo 287ºCC. Diogo, pode arguir a anulabilidade da declaração de dívida
dentro do prazo de 1 ano, a partir do momento em que tomou conhecimento do erro
causado pelo declaratário. Estou no âmbito do nº1 do artigo 287ºCC. Neste caso não se
torna necessário o recurso ao artigo 289º para determinação de um dever de
repristinação das partes envolvidas. No caso nada nos indica, que Diogo haja procedido
ao pagamento das obrigações de pagamento imputadas esfera de José. Caso 68-
Declarações Negociais e Erro Vício Álvaro, ao telefonar a Bento, está a emitir uma
declaração negocial expressa, ao abrigo do nº1 do artigo 217ºCC. De notar, que uma
declaração negocial expressa não dispensa toda uma atividade interpretativa dos artigos
236º e segs. do CC. Esta não estava sujeita à observância de forma legalmente prevista,
e por isso aplicamos aqui o princípio da liberdade de forma consagrado ao nível do
artigo 219ºCC. A eficácia desta declaração negocial somente poderia ser tida em
consideração a partir do momento em que Bento tomasse conhecimento da proposta de
compra do famoso quadro. Estamos no âmbito do nº1 do artigo 224ºCC. Cinco dias
volvidos, Bento envia a Álvaro uma encomenda com o quadro. Estamos perante uma
declaração tácita, da qual se extrai uma aceitação de uma proposta. Assume o mesmo
valor que uma declaração expressa e não está também ela sujeita à observância da forma
legalmente exigida, pelo que não necessitamos de ter aqui em consideração o disposto
no nº2 do artigo 217º. Mais uma vez, remetemos esta para o princípio da liberdade de
forma consagrado no artigo 219ºCC. De notar que a declaração tácita corresponde a
uma que se deduz a partir de comportamento, como o da entrega do quadro
supostamente pretendido, e que as suas finalidades são definidas e estipuladas por uma
autorregulamentação de outra expressa. Falamos de um ato concludente procura definir,
estipular e consagrar uma declaração aferida de um comportamento tomado por um
sujeito. Houve então um acordo de entre as partes e uma consumação do negócio, tal
como apreendemos no âmbito do artigo 232ºCC e 234ºCC. Afinal, as declarações
negociais emitidas são convergentes e fundam expetativas jurídicas na esfera das partes.
Falamos de uma confiança objetivamente justificado, imputável ao outro, de um esforço
comum no sentido de alcançar um acordo final de entre as partes, e há uma coerência de
entre os comportamentos tomados pelo sujeito em fases anteriores a esta convergência
negocial. Analisemos agora a invalidade do negócio em função da declaração negocial
emitida por Álvaro. Sabemos que esta foi livre e bem exteriorizada. Contudo, não foi
esclarecida. Tal, remete-nos imediatamente para o regime do erro vício. Este não foi
qualificado por dolo, na medida em que nada no caso nos indica que Bento soubesse do
“desvalor” do quadro e que tenha empregue qualquer sugestão ou artifício de induzir ou
manter em erro António. Afastamos então uma resolução da hipótese pela utilização do
regime dos artigos 253º e 254ºCC. A solução encontrar-se-á por uma aplicação do
regime do erro vício simples dos artigos 251º e 252ºCC. O vício que inquinou a
declaração negocial emitida pelo declarante traduziu-se em uma representação da
realidade sem qualquer exatidão, num conhecimento lacunosos e insuficiente ou até
mesmo em uma ignorância de vicissitudes de facto relevantes para o Direito. De facto,
Álvaro desconhecia que o quadro desejado não tinha o valor pretendido. O erro pode
incidir sobre:  Objeto do negócio;
 Pessoa do declaratário;
 Sobre as circunstâncias e pressupostos errados em que as partes assentaram no
momento em que acordaram (base do negócio);
 Outros motivos determinantes da vontade. Neste caso, considero estarmos perante um
erro sobre o objeto do negócio, na medida em que o sujeito tinha um conhecimento
errado sobre as caraterísticas do quadro. Aplicamos o regime do artigo 251ºCC.

Para a anulabilidade do negócio, temos de verificar da concretização dos requisitos


constantes do artigo 247ºCC:  Essencialidade, para o declarante, do elemento sobre o
qual incidiu o erro, i.e., o declarante Álvaro não teria concluído o negócio se soubesse
do real valor do quadro;  Cognoscibilidade pela pessoa do declaratário acerca do
elemento sobre o qual incidiu o erro. Deveria Bento saber do valor do quadro?
Enquanto proprietário Bento, até poderia não saber, mas o ordenamento imputa-lhe o
dever jurídico de conhecer as caraterísticas do bem que será transacionado no negócio
de compra e venda no qual este sujeito assume uma posição de vendedor no comércio
jurídico a este adjacente. O sujeito em apreço não pode afirmar que não celebrou o
negócio como havíamos constatado em uma fase anterior desta resposta. Pode sim,
enquanto parte interessada, invocar a anulabilidade do negócio que havia celebrado com
Bento nos termos do nº1 do artigo 287ºCC. Esta invocação está sujeita ao prazo de um
ano a partir do momento em que tomou conhecimento do desvalor do quadro. Os efeitos
desta anulabilidade do negócio constam do artigo 289ºCC. No nº1 deste sabemos que a
anulação enquanto modalidade para a invalidade de um negócio jurídico. Consagra toda
uma retroatividade dos efeitos produzidos pelo negócio inválido. Terá de existir uma
repristinação, devendo então existir uma retoma do objeto negocial, dado que não tinha
havido uma entrega do preço consubstanciada enquanto dever ao abrigo do artigo 879º,
alínea c). Falamos então de uma concretização do princípio do cumprimento simultâneo
ou da “exceptio non adimpeti contratus”, segundo o qual as partes devem ser colocadas
na posição em que se encontravam antes da celebração do negócio. Dizer ainda, que o
momento da restituição deverá cumprir os trâmites estipulados no artigo 290ºCC.
Passado esse prazo, o direito de invocação da anulabilidade caduca nos termos dos
artigos 238º e segs do CC. Caso 97- Erro na formação da vontade 1. António toma de
arrendamento para um fim-de-semana, a casa a Bruno na cidade de Vila do Conde, com
intuito de poder assistir a uma prova de automóveis clássicos. António emitiu uma
declaração negocial que assumiu a forma expressa, como conseguimos perceber no nº1
do artigo 217ºCC. Como nada nos é dito no caso, apreendemos ter sido observada a
forma legalmente exigida, do artigo 1069ºCC. Não aplicamos, então, a inobservância de
forma legal do artigo 220º CC, com intuito de invalidarmos o negócio jurídico
temporário em causa.

Atentemos em uma verificação da declaração negocial que foi emitida por António.
Ora, esta foi livre e bem comunicada. Não foi, contudo, esclarecida. Tal remete-nos,
necessariamente, para o regime do erro vício. Este erro não foi qualificado por dolo, na
medida em que nada do que nos é descrito no caso, nos indica que tenha havido uma
atuação dolosa, por parte de Bruno, empregando qualquer sugestão ou artifício com
intuito de manter ou induzir em erro António sobre a realização ou não das provas de
carros clássicos. Afastamos então o regime geral de uma atuação dolosa constante do
artigo 253ºCC. Vamos então ao regime do erro-vício. Sabemos que não houve um
inexata representação da realidade, que se consubstancia-se em um conhecimento
lacunoso e insuficiente da realidade da prova de automóveis em questão. Havia como
que uma espécie de ignorância sobre vicissitudes de fato, que serão certamente
protegidas pelo Direito. A falsa representação da realidade não nos remete para um
desconhecimento das caraterísticas em relação ao objeto ou à pessoa do declaratário.
Por essa mesma razão, afastamos o regime do artigo 251ºCC. Não está em causa uma
invalidade do negócio. Este, foi consumado sem qualquer vício. Está em causa sim uma
alteração superveniente que altera completamente o quadro circunstancial em que as
partes haviam acordado. Aplicamos imediatamente o artigo 437ºCC. Para o caso,
teremos de ter em consideração uma “alteração fundamental das circunstâncias”. As
partes não estavam em erro no momento em que contrataram. Houve, única e
simplesmente, uma alteração do quadro circunstancial. Logo, terá António direito a uma
resolução do contrato, não ficando a dever nada à pessoa privada Bruno. 2. Na
suposição de que no dia anterior já teria havido um cancelamento das provas de
automóveis, Creio estarmos perante um erro sobre a base do negócio. Houve um desvio
anormal e manifesto do quadro circunstancial em que as partes assentaram no momento
em que acordaram. O erro é comum a ambas as partes, os elementos sobre os quais
recaiu o erro também são efetivamente relevantes, e por outro lado, falamos dos
pressupostos e circunstâncias em que as partes assentaram no momento em que
acordaram. Quer António, quer Bruno, estavam “certos” da realização da prova no
referido fim-de- semana. Aplicamos então o nº2 do artigo 252º CC. Este remete-nos
para o artigo 437º CC, como forma de averiguação da concretização dos requisitos que
determinam a modificação e a resolução como uma alternativa à anulabilidade. São
estes:
 O fato de o quadro fundamental em vigor, e a exigência da sua extensão e
cumprimento colocar em causa os princípios da boa-fé objetivamente entendida;
 O desvio e a perturbação interna do seu fim e do seu escopo, não podem estar
incluídos nos riscos do próprio contrato;
Tal como o Professor Pedro Pais Vasconcelos afirma, devemos considerar que todos os
contratos têm um risco próprio, pelo que tornar-se-á necessário discernir sobre a
distribuição dos riscos pelas partes e, por outro lado, como deveria recair o negócio em
face da desconformidade para com a realidade. Os negócios aleatórios tendem todos
para a anulabilidade e por isso devemos interpretar restritivamente a nota remissiva do
nº2 do artigo 252ºCC. Por isso, devemos interpretar restritivamente o artigo 252ºCC, no
sentido de o negócio tender para ser anulável, no prazo de 1 ano a partir do momento
em que António toma conhecimento da não realização de provas automóveis clássicas.
Estou no âmbito do nº1 do artigo 287ºCC. De acordo com o nº2 deste artigo, António
pode invocar a anulabilidade sem que tenha procedido a um pagamento, tanto por via de
ação como por via de exceção. Falamos de uma anulabilidade na pendência do negócio.
De acordo com o nº1 do artigo 289ºCC, devemos então colocar as partes na situação em
que se encontravam antes da celebração do contrato de arrendamento. Contudo, esta não
é a situação do caso concreto, na medida em nada no caso nos indica que o pagamento
havia sido efetuado. Caso nº 77- Declaraçõesefeitos, Representação e Condição 10 de
Outubro- procuração 11 de Outubro- Bruno envia a carta a Cotilde 12 de Outubro-
convenção- venda da jóia por um preço de 20, ooo€ 16 de Outubro- resposta de Cotilde
sem reação de Bruno 18 de Outubro- volta a enviar uma resposta, aceitando a compra
por um preço de 12, 000€ 19 de Outubro- mireille aceita a compra por um preço
elevado 20 de Outubro, bruno recebe a venda por 10, 000€ Alzira, outorga uma
procuração a Bruno nos termos do nº1 do artigo 262ºCC. A validade desta depende da
observância da forma legalmente estipulada para o contrato de compra e venda nos
termos do artigo 875ºCC. Bruno, passa então a poder praticar atos em nome de Alzira
(artigo 263ºCC), produzindo efeitos imediatos na esfera da representada. Estes efeitos
são deduzidos de uma interpretação literal do constante no artigo 258ºCC. Para tal,
teriam de ser cumpridos os requisitos de existência de poderes representativos: o
Contemplatio Dominis----autorização prévia pelo representado; o O ato que constituiu a
decisão no âmbito da representação não somente deverá exprimir a vontade de Alzira,
mas deve extrair-se deste também um conteúdo volitivo-decisório do procurador. Em
relação à eficácia, Bruno tem legitimidade originária para praticar atos em nome de
outrem. Bruno emite uma declaração negocial expressa a Clotilde nos termos do nº1 do
artigo 217ºCC. Clotilde podia exigir a prova de poderes a Bruno conforme o artigo
260ºCC. A capacidade de Bruno enquanto procurador consta do artigo 263ºCC,
devendo clarificar a um terceiro a sua posição, enquanto representante de Alzira.
Contudo, no dia 12, Alzira convenciona com Mireille um prazo de 10 dias, para a
obtenção da resposta à proposta da venda da joia por um preço de 10, 000€, dado esta
última ser abastada. Estamos no âmbito do artigo 223ºCC. Passa estes 10 dias o prazo
caduca nos termos dos artigos 328º e segs. CC. No entanto, não o podia fazer na medida
em que não tinha havido uma extinção da procuração. Teria de revogar este meio
voluntário de atribuição de poderes representativos ao abrigo do artigo 265ºCC.
Portanto, esta declaração negocial é ferida de ineficácia, na medida em que toda uma
atuação de Pedro foi feita dentro dos poderes formais que lhe haviam sido conferidos
por Alzira. Por esse mesmo motivo, não estamos perante uma situação de falta de
poderes de representação nos termos do artigo 268ºCC, na medida em que Bruno podia
efetivamente vender a joia. Não estamos perante um abuso de representação, constante
do artigo 269ºCC, na medida em que a venda do objeto por 10, 000€ ou por 12, 000€,
não contraria substancialmente o fim pretendido por Alzira ao fazer uso da procuração.
Esta última, só estipulou um limite inferior de 10, 000 €.

Sabemos de ante mão que o silêncio não tem qualquer valor declarativo, como
percebemos ao nível do artigo 218ºCC. Bruno, ao nada dizer, nem discordava, nem
consentia no sentido da aceitação da proposta de venda da jóia por um preço de 10,
000€. Tal aceção, poderá ser acepcionada por não ter havido uma estipulação de prazo
em convenção, aquando da missão da declaração de Bruno no dia 11 de Outubro.
Entretanto, Clotilde, agindo improcedentemente, envia um fax a Bruno, aceitando
comprar a jóia, mas desta vez, demonstrando-se disponível por pagar esta por 12, 000€.
A questão a ser solucionada prende-se com estipulação de qual será a declaração
negocial que produz efetivamente efeitos em função do caso em apreço. Esta
problemática está regulada nos termos do artigo 224ºCC. Segundo o seu nº1, esta
produz efeitos a partir do momento em que é cognoscível do seu destinatário. No dia 20,
Clotilde recebe a carta de Bruno, da qual se extrai uma aceitação da venda do bem por
um preço de 10, 000€. Para efeitos de resolução do caso prático, tendemos a considerar
o facto de na esfera de Clotilde ser imputada a obrigação de pagar o preço.
Cumulativamente, Bruno teria de entregar o referido objeto de joelheira. Há, portanto,
uma transferência do direito de propriedade, constante do artigo 1305ºCC. Estas
obrigações subsumidas para o caso, são uma consequência do negócio de compra e
venda estipuladas no artigo 879ºCC. No entanto, o caso não termina aqui! Sabemos que
uma solução em casos duvidosos como estes, traduzir-se-á em ser aquela que contribui
para um equilíbrio das prestações. Terá Alzira direito a receber 20, 000€ de Mireille?
Não devia o ordenamento proteger a terceira? Neste caso, esta hipótese nunca seria
viável. O sujeito Alzira não agiu com a diligência devida, na medida em que devia levar
o conhecimento desta situação a Meirelle por meios idóneos. Podemos ainda falar aqui
de uma responsabilidade pré-contratual, na medida em que Alzira não atuou
procedentemente, no sentido de evitar danos na esfera de outrem, ou de provocar o
menos possível estes. Caso nº79- Condição/Termo 1. Esta cláusula corresponde a um
termo. Falamos de uma cláusula acessória típica dos negócios jurídicos nos termos da
qual a produção de efeitos jurídicos fica dependente, na sua existência e exercibilidade,
de um fato futuro, mas certo. No caso em apreço, sabemos perfeitamente que a
verificação da condição está dependente da conclusão do 1º ciclo de estudos no ensino
superior por parte de Bruna. I. Amadeu vende o automóvel a Xavier; II. Este, por sua
vez, faz uma venda a Heitor; III. Bruna conclui a licenciatura em Economia; IV. Heitor
afirma desconhecer da condição.

Sabemos que esta condição resolutiva ocorreu passados 3 ano. Contudo, dois negócios
de compra e venda ocorreram durante a pendência do termo. Esta, corresponde ao
período temporal que respeita à fase desde a consumação do negócio de compra e venda
até à verificação efetiva do termo. Estou no âmbito do artigo 272ºCC. Durante a
pendência do termo somente atos conservatórios podem ser praticados. Estes, procuram
salvaguardar a existência de um direito, evitando, com as diligências necessárias, a sua
deterioração ou perecimento. Aplicamos então as necessárias adaptações das normas
referentes à condição por nota remissiva do artigo 278ºCC. Portanto, Amadeu não
possui qualquer legitimidade para vender o automóvel a Xavier. A razão deverá ser
dada no caso concreto a Bruna. Terminando esta o curso do ensino superior, o carro
passa a ser seu pertence. Logo, Amadeu deverá indemnizar não somente Xavier, mas
também Heitor. Podemos falar aqui de uma responsabilidade pré-contratual de Xavier
nos termos do artigo 227º CC. Amadeu, não agiu em conformidade com os princípios
da boa-fé objetivamente entendida. Não prestou a informação devida, e não agiu da
forma mesmo danosa para com aquele que pretendia adquirir o bem móvel. O negócio
será sujeito, ainda num plano cumulativo, ao regime da anulabilidade nos termos do
artigo 287ºCC. Classificação da cláusulas:  “se Carlos, filho de António, regressar do
Canadá durante os próximos 3 anos, fica Bento obrigado a devolver a António o pomar
de laranjeiras”. Estamos perante uma condição, na medida em que existe uma sujeição
da produção de efeitos jurídicos a um acontecimento futuro e incerto. Esta é possível
por suscetível de ser observada material, e naturalmente. Deverá ainda ser lícita. Esta é
suspensiva. Pelo regresso de António, ser-lhe-á imputado na sua esfera jurídica o dever
de devolução do pomar de Laranjeiras a Bento.  “a presente venda só produzirá
efeitos, se, até ao fim de 3 meses após a presente escritura, Duarte assumir as funções de
Diretor financeiro da empresa X”- Estamos perante um Termo, na medida em que
estamos perante uma cláusula acessória típica pela qual o fato de Duarte poder vir a
desempenhar funções de Diretor financeiro da empresa x, ficam subordinados, na sua
existência e exercibilidade, a uma acontecimento futuro mas certo.
“o imóvel só passaria a pertencer ao donatário se este aceitasse trabalhar na empresa X
até ao fim do presente ano”. Estamos perante um acontecimento futuro e incerto. Não
sabemos se haverá ou não uma aceitação do posto de trabalho na empresa. Logo,
falamos de uma condição suspensiva, na medida em que o imóvel só poderia pertencer
ao donatário se aceitasse trabalhar na referida empresa no caso até ao fim do ano. Se tal
não acontecesse, o imóvel não pertencia ao donatário. Caso nº 65- Termo e Coação
Neste caso estamos perante uma declaração negocial emitida de Carlos de Américo para
com Beatriz nos termos do artigo 217ºCC. Estamos perante uma doação, que tem de
observar a forma legalmente estipulada no âmbito do artigo 947ºCC. Este negócio
jurídico bilateral, porque pressupõe uma declaração receptícia, deve foi sujeito a uma
condição suspensiva. Nada no caso nos faz crer que esta condição seja ilícita ou
impossível, pelo que não a sujeitaremos ao regime da nulidade nos termos do artigo
286ºCC. Estamos perante um vício na fase da formação da vontade. Houve uma
completa restrição da liberdade de Beatriz, sendo esta reduzida a uma autómata. A
declaração não produziria, nos termos do artigo 246ºCC, quaisquer efeitos jurídicos,
sendo sujeita ao regime mais gravoso de invalidade de um ato jurídico. Quando a
condição é provocada por aquele a quem aproveita, tem-se por não verificada, nos
termos da segunda parte do nº2 do artigo 275ºCC.

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