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1 - Apontamentos básicos sobre a responsabilidade civil

1.1 - Conceito (Pág. 1/17)


O Código Civil de 2002 conceitua o instituto da responsabilidade civil em seu
art. 927, caput, de forma muito didática. Como no caput delimita a
responsabilidade apenas aos praticantes de ato ilícito, amplia sua conceituação
por meio do parágrafo único do mesmo dispositivo.

O artigo 927 dispõe que alguém, que através da prática do ato ilícito causa
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

O parágrafo único deste dispositivo completa o conceito preceituando que


também haverá obrigação de reparar o dano, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Nestes casos a reparação
independe de culpa.

Em poucas palavras, é a obrigação que alguém assume de responder por uma


lesão causada a outrem.
Portanto, se o dano não for proveniente do ato ilícito, será de alguns dos casos
taxados pela legislação ou da atividade desenvolvida pelo causador do mesmo
que assume o risco de exercê-la.

A reparação do dano é o intuito maior deste instituto e para que isso aconteça
se estabelece uma relação obrigacional em que o gerador do dano se
responsabiliza em reparar a lesão causada à vítima.
1.2 - A introdução da responsabilidade civil do Brasil

Em meio ao exacerbado liberalismo - ideologia que vigorava à época - o


Código Civil de 1916 trouxe a responsabilidade civil fundada na culpa,
seguindo o Código Napoleão.

A questão, até então, não era regulada ordenadamente no Direito Brasileiro.


Não havia, nas Ordenações do Reino, distinção entre reparação, pena e multa.
Em 1830, o Código Criminal do Império, consagrou algumas questões
atinentes à responsabilidade civil, mas nada mais. Logo após, em 1912, foi
promulgado o Decreto Legislativo nº 2.681 que regulava a responsabilidade
nas estradas de ferro. Este foi de relevante importância para a solução do
problema da responsabilidade contratual.

Com o Código Civil de 1916, o princípio geral da teoria da culpa


(responsabilidade subjetiva) foi consagrado no Brasil, admitindo-se, também,
algumas situações especiais de responsabilidade sem culpa (responsabilidade
objetiva).
A Constituição da República de 1988 consagrou a responsabilidade civil
quando dispôs explicitamente no art. 50, incisos V e X, o direito de resposta e
indenização na ocorrência de dano material, moral e à imagem.
O Código Civil de 2002, por sua vez, não trouxe modificações no âmbito da
responsabilidade civil no que diz respeito à ocorrência de culpa ou não.
1.3 - Responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual
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A responsabilidade civil baseia-se sempre na máxima de que aquele que causa
dano a outrem deve repará-lo. No entanto, a obrigação de reparar o dano pode
provir de fontes distintas. A obrigação preexistente, o contrato e o ato unilateral
de vontade são considerados fontes de obrigações de indenizar.

Assim, se a obrigação de indenizar o dano nasce de um contrato, a


responsabilidade civil é contratual. E, caso a obrigação de indenizar o dano
advenha de um ato ilícito ou ato unilateral de vontade, a responsabilidade civil
estabelecida é a extracontratual.
Esta distinção fica devidamente demonstrada pela legislação vigente, que
oferece responsabilidades diversas para cada caso - aplicando a teoria
dualista.
Assim, como conseqüência à infração ao dever contratual, o devedor responde
por perdas e danos, mais juros, atualização monetária e honorários
advocatícios (CC, art. 389). E, como conseqüência da prática de um ato ilícito,
o causador do prejuízo fica obrigado a reparar o dano (CC, art. 186).
Cada fonte de obrigação será definida separadamente, mas de forma sucinta,
para melhor entendimento e diferenciação da responsabilidade contratual e
extracontratual.

O Código Civil assim define o ato ilícito: "Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito."(CC, art. 186)
Acresce, ainda, a este dispositivo uma nova modalidade de ato ilícito,
constante no art. 187 "Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes." (CC, art. 187).

Depreende-se dos dispositivos mencionados, que o ato ilícito (comportamento


voluntário, antijurídico que causa dano a outrem) possui três requisitos
coexistentes: a culpa do agente, o dano e o nexo de causalidade entre o dano
e a culpa.
O primeiro é a prática de uma ação eivada de culpa, seja ela comissiva ou
omissiva, lícita ou ilícita e sempre voluntária. Se ilícita, o fundamento encontra-
se na culpa, que deve ser provada para que se caracterize a responsabilidade.
Se lícita, o fundamento encontra-se no risco assumido pelo agente.
Para a maioria dos doutrinadores, a culpa do agente, como elemento do ato
ilícito, abrange o dolo e a culpa em sentido estrito (atos ou condutas eivados de
negligência, imprudência ou imperícia).

Trata-se o segundo requisito da existência de um dano, moral ou patrimonial,


mas que lese o bem jurídico.
Por último, deve ocorrer o nexo de causalidade entre uma e outro, devendo o
prejuízo ter advindo do ato praticado.
A segunda fonte de obrigação é o ato unilateral de vontade. Os atos unilaterais
de vontade são atos lícitos, praticados unilateralmente por alguém e que têm
como principal efeito obrigar um agente. Constituem atos unilaterais de
vontade: a promessa de recompensa, a gestão de negócios e o pagamento
indevido (Fiúza).
Por fim, o contrato figura como mais uma fonte de obrigação que, descumprida,
gera o dever de indenizar. O contrato corresponde um acordo de vontades
entre duas ou mais pessoas de Direito Privado que possuem o intuito de
constituir, modificar, extinguir entre elas uma relação jurídica de caráter
patrimonial. Para isso, o agente deve ser capaz, o objeto deve ser lícito,
determinado e possível, bem como a forma deve estar prescrita ou não
proibida.

1.4 - Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva

O que diferencia a responsabilidade civil subjetiva da responsabilidade civil


objetiva é o elemento da culpa. A noção fundamental da responsabilidade civil
subjetiva é a obrigação de reparar o dano causado pela culpa do agente.

Ocorre que, por imposição legal, certas pessoas que se encontram frente a
determinadas situações são responsabilizadas, independente de terem agido
com culpa. A responsabilização independente da culpa é a característica
marcante da responsabilidade objetiva.
A responsabilidade subjetiva transforma o ato ilícito em fundamento para a
reparação do dano. O ato ilícito tem na imputabilidade do agente o pressuposto
que gera o dever de indenizar. O agente responde pelo seu ato voluntário, seja
este por ação ou omissão. A imputabilidade do agente significa a capacidade
de entender e de querer no momento em que for cometido o ato danoso.

Ainda, se o evento danoso resulta de um fato involuntário (caso fortuito ou de


força maior) ou fato que envolva escusa de responsabilidade, não há que se
falar em responsabilidade.
A responsabilidade objetiva, por sua vez é imposta por dispositivo legal ou
quando o agente assume o risco de sua atividade. A responsabilidade objetiva
encontra-se presente no Código Civil de 2002, por exemplo, nos casos de
responsabilidade por fatos de terceiros e responsabilidade pelo fato das coisas.

Presente está a responsabilidade civil no Código Civil, na parte geral com a


responsabilidade civil direta e na parte especial com a responsabilidade civil
indireta.

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