• A palavra responsabilidade tem sua origem na raiz latina
spondeo, pela qual se vinculava o devedor, solenemente, nos contratos verbais do direito romano.
• Dentre as várias acepções existentes, algumas fundadas na
doutrina do livre-arbítrio, outras em motivações psicológicas, destaca-se a noção de responsabilidade como aspecto da realidade social. • Toda atividade que acarreta prejuízo traz em seu bojo, como fato social, o problema da responsabilidade.
• Destina-se ela a restaurar o equilíbrio moral e
patrimonial provocado pelo autor do dano.
• Exatamente o interesse em restabelecer a harmonia e o
equilíbrio violados pelo dano constitui a fonte geradora da responsabilidade civil. • Pode-se afirmar, portanto, que responsabilidade exprime ideia de restauração de equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano.
• Sendo múltiplas as atividades humanas, inúmeras são
também as espécies de responsabilidade, que abrangem todos os ramos do direito e extravasam os limites da vida jurídica, para se ligar a todos os domínios da vida social. • Coloca-se, assim, o responsável na situação de quem, por ter violado determinada norma, vê-se exposto às consequências não desejadas decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a restaurar o statu quo ante. DISTINÇÃO ENTRE OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE
• OBRIGAÇÃO é o vínculo jurídico que confere ao credor
(sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação.
• Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito
e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. • A obrigação nasce de diversas fontes e deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não ocorre e sobrevém o inadimplemento, surge a RESPONSABILIDADE.
• Não se confundem, pois, obrigação e responsabilidade.
Esta só surge se o devedor não cumpre espontaneamente a primeira. A responsabilidade é, pois, a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional. Obrigação “é sempre um dever jurídico originário.
Responsabilidade é um dever jurídico sucessivo,
consequente à violação do primeiro.
• Se alguém se compromete a prestar serviços
profissionais a outrem, assume uma obrigação, um dever jurídico originário.
• Se não cumprir a obrigação (deixar de prestar os
serviços), violará o dever jurídico originário, surgindo daí a responsabilidade, o dever de compor o prejuízo causado pelo não cumprimento da obrigação. DEVER JURÍDICO ORIGINÁRIO E SUCESSIVO
• Todo aquele que violar direito e causar dano a outrem
comete ato ilícito (CC, art. 186).
• Complementa este artigo o disposto no art. 927, que diz:
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”.
• A RESPONSABILIDADE CIVIL tem, pois, como um de seus
pressupostos, a violação do dever jurídico e o dano. Há um dever jurídico originário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo ou secundário, que é o de indenizar o prejuízo. • Responsabilidade civil é, assim, um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário.
• Destarte, toda conduta humana que, violando dever jurídico
originário, causa prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil. POSICIONAMENTO NA TEORIA GERAL DO DIREITO
• A RESPONSABILIDADE CIVIL decorre de uma conduta
voluntária violadora de um dever jurídico, isto é, da prática de um ato jurídico, que pode ser lícito ou ilícito.
• ATO JURÍDICO é espécie de fato jurídico.
• FATO JURÍDICO, em sentido amplo, é todo acontecimento da vida que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do DIREITO.
• Os que não têm repercussão no mundo jurídico são apenas
“fatos”, dos quais não se ocupa o direito, por não serem “fatos jurídicos”. • Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em:
fatos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito);
fatos humanos (atos jurídicos em sentido amplo).
• Os primeiros decorrem da natureza e os segundos da
atividade humana.
• Os FATOS NATURAIS, por sua vez, dividem-se:
ordinários (nascimento, morte, maioridade, decurso do
tempo); extraordinários (terremoto, raio, tempestade e outros fatos que se enquadram na categoria do fortuito ou força maior). • Os FATOS HUMANOS dividem-se em lícitos e ilícitos.
Lícitos são os atos humanos a que a lei defere os efeitos
almejados pelo agente. Praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários, queridos pelo agente. Ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas impostos por esse ordenamento. Em vez de direitos, criam deveres. Hoje se admite que os atos ilícitos integram a categoria dos atos jurídicos, pelos efeitos que produzem (geram a obrigação de reparar o prejuízo – CC, arts. 186 e 927). • Os ATOS LÍCITOS dividem-se em: ato jurídico em sentido estrito (ou meramente lícito), negócio jurídico e ato-fato jurídico.
• ATO ILÍCITO é o praticado com infração ao dever legal de
não violar direito e não lesar a outrem. Tal dever é imposto a todos no art. 186 do Código Civil, que prescreve: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”. Também o comete quem abusa de seu direito (art. 187). • ATO ILÍCITO é, portanto, fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado (CC, art. 927).
• É praticado com infração a um dever de conduta, por meio
de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem. • O Código Civil de 2002 aperfeiçoou o conceito de ATO ILÍCITO, ao dizer que o pratica quem “violar direito e causar dano a outrem” (art. 186), substituindo o “ou” (“violar direito ou causar dano a outrem”), que constava do art. 159 do diploma anterior.
• Com efeito, mesmo que haja violação de um dever jurídico e
que tenha havido culpa, e até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha VERIFICADO PREJUÍZO. CULPA E RESPONSABILIDADE
• O legislador pátrio valeu da noção de ato ilícito como
causa da responsabilidade civil.
• Assim, o art. 186 do Código Civil brasileiro define o que se
entende por comportamento culposo do agente causador do dano: “ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência.”.
• Em consequência, fica o agente obrigado a reparar o dano.
• A imprevidência do agente, que dá origem ao resultado lesivo, pode apresentar-se sob as seguintes formas: imprudência, negligência ou imperícia.
• O termo “negligência”, usado no art. 186, é amplo e
abrange a ideia de imperícia, pois possui um sentido lato de omissão ao cumprimento de um dever. A conduta imprudente consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias, com pressa e arrojo, e implica sempre pequena consideração pelos interesses alheios.
A negligência é a falta de atenção, a ausência de reflexão
necessária, uma espécie de preguiça psíquica, em virtude da qual deixa o agente de prever o resultado que podia e devia ser previsto.
A imperícia consiste sobretudo na inaptidão técnica, na
ausência de conhecimentos para a prática de um ato, ou omissão de providência que se fazia necessária; é, em suma, a culpa profissional. IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE
Pressupõe o art. 186 do Código Civil o elemento
imputabilidade, ou seja, a existência, no agente, da livre- determinação de vontade.
Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a
reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento.
Em outras palavras, aquele que não pode querer e entender
não incorre em culpa e, ipso facto, não pratica ato ilícito.