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DISCUSSÃO SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ABANDONO

AFETIVO
DISCUSSION ON CIVIL RESPONSIBILITY FOR AFFECTIVE ABANDONMENT

Jonathan Juvencio de Souza*

Resumo

O presente artigo busca tratar sobre a possibilidade de responsabilização civil


decorrente do abandono afetivo. Polêmico, essa temática suscita muitas discussões
entre os juristas, e até mesmo na jurisprudência dos tribunais brasileiros. Para isso,
fez-se uma análise sobre o instituto da responsabilidade civil e suas espécies, quais
sejam, a responsabilidade objetiva e a subjetiva; sobre o Direito de Família,
englobando os conceitos de poder familiar e do afeto; e apresentadas jurisprudências
divergentes sobre o assunto. Os objetivos do trabalho foram: abordar a temática da
responsabilidade civil e suas nuances, discutir o Direito de Família, principalmente no
que tange ao poder familiar e ao afeto, e apresentar diferentes julgados sobre o tema.
O trabalho foi realizado com o tipo de pesquisa exploratória, com método
bibliográfico, utilizando-se de livros, documentos e arquivos em geral. Conclui-se com
este trabalho que é cabível a indenização nos casos de danos decorrentes do
abandono afetivo, embora não exista artigo que trate expressamente disso, já que a
atitude evasiva dos genitores que assim agem acarretam diretamente, em muitos
casos, em sequelas psicológicas nos filhos, colocando em risco assim não só este,
mas toda a sociedade.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil; Abandono Afetivo; Direito de Família.

Abstract

This article seeks to address the possibility of civil liability arising from emotional
abandonment. Controversial, this theme raises many discussions among jurists, and
even in the jurisprudence of Brazilian courts. For this, an analysis was made about the
civil liability institute and its species, namely, objective and subjective responsibility; on
Family Law, encompassing the concepts of family power and affection; and divergent
jurisprudence on the subject was presented. The objectives of the work were: to
address the issue of civil liability and its nuances, to discuss Family Law, especially
with regard to family power and affection, and to present different judgments on the
subject. The work was carried out with the type of exploratory research, with a method
bibliographic, using books, documents and archives in general. It is concluded with this
work that the indemnification is applicable in the cases of damages resulting from the

* Advogado civilista e de Família. Pós-Graduando em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Estácio de
Sá. Bacharel em Direito pela Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns. E-mail: jonathanjuvencio@gmail.com.
affective abandonment, although there is no article that expressly addresses this, since
the evasive attitude of the parents who do so directly leads, in many cases, to
psychological sequelae in children, putting at risk not only this one, but the whole
society.

Keywords: Civil Liability; Affective Abandonment; Family right.

Introdução

O presente artigo busca tratar sobre a possibilidade de responsabilização civil


decorrente do abandono afetivo. Polêmico, essa temática suscita muitas discussões
entre os juristas, e até mesmo na jurisprudência dos tribunais brasileiros.
Como o título bem exemplifica, o intuito deste trabalho é fazer a provocação
quanto a possibilidade de alguém ser responsabilizado civilmente por abandonar
afetivamente os filhos.
Busca-se responder ao seguinte questionamento: É justa e proporcional a
obrigatoriedade da responsabilização civil do genitor que abandona um filho
afetivamente?
Os objetivos do trabalho são: abordar a temática da responsabilidade civil e
suas nuances, discutir o Direito de Família, principalmente no que tange ao poder
familiar e ao afeto, e apresentar diferentes julgados sobre o tema. Por fim, pretende-
se responder à questão formulada anteriormente, sobre a possibilidade ou não da
responsabilização civil por abandono afetivo.
A escolha da temática se deu pela afinidade do autor com o Direito de Família,
e também por o questionamento proposto ser recorrente, não se tendo ainda uma
posição completamente pacificada no ordenamento jurídico pátrio. Embora exista uma
tendência jurisprudencial majoritária atualmente, existe ainda muitas discussões e
opiniões divergentes sobre o assunto. O autor não pretende esgotar a temática, mas
sim apenas suscitar a discussão sobre ela, com novos argumentos e exposições.
O trabalho foi realizado com o tipo de pesquisa exploratória, com método
bibliográfico, utilizando-se de livros, documentos e arquivos em geral, buscando-se
tomar conhecimento sobre o tema em estudo, e sobre a sua relação hoje com o mundo
jurídico e, ainda, a sua relevância no âmbito social.

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A responsabilidade civil

Inicialmente, convém relembrarmos alguns conceitos sobre a


responsabilidade civil, e como ela é tratada dentro do ordenamento brasileiro.
Poderíamos conceituar a responsabilidade como sendo o dever que alguém tem de
suportar as consequências dos seus atos. De acordo com Gagliano (2019, p. 51):

[...] a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de


alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica
preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às
consequências do seu ato (obrigação de reparar). Trazendo esse conceito
para o âmbito do Direito Privado, e seguindo essa mesma linha de raciocínio,
diríamos que a responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse
eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de uma
compensação pecuniária à vítima, caso não
possa repor in natura o estado anterior de coisas.

Como visto, para se caracterizar a responsabilidade civil, há de existir uma


ação/omissão do agente, o que chamamos de ato ilícito. O Código Civil traz
expressamente a previsão de punição a quem comete ato ilícito, bem como trata sobre
o que assim se considera:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

É possível perceber que para a lei, todo aquele que de alguma forma viole
direito e cause danos a outrem, comete o ato ilícito, mesmo que este dano seja apenas
moral ou psicológico. Entender esse ponto será de vital importância para entendermos
os pontos abordados neste artigo.
Texto crucial para o entendimento da obrigatoriedade de indenizar
proveniente de ato ilícito é a redação do art. 927 do mesmo diploma cível, que diz que
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.” Assim sendo, fica demonstrada a legalidade da obrigatoriedade de
indenizar nos casos de cometimento de ato ilícito contra outrem.

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A responsabilidade civil pode se dividir em duas classificações. Há a que
chamamos de responsabilidade subjetiva, e a que chamamos responsabilidade
objetiva. A subjetiva exige que a culpa do agente causador seja provada. Há de existir,
então, a conduta, o dano, o nexo de causalidade, e a culpa do agente. Conforme
ensina Gagliano (2019, p. 58):

[...] o sistema material civil brasileiro abraçou originalmente a teoria


subjetivista, conforme se infere de uma simples leitura do art. 186 do Código
Civil de 2002, que fixa a regra geral da responsabilidade civil. As teorias
objetivas, por sua vez, não foram de todo abandonadas, havendo diversas
disposições esparsas que as contemplam.

Como visto, a responsabilidade subjetiva é a regra geral no nosso


ordenamento jurídico.
A responsabilidade objetiva possui os mesmos pressupostos da
responsabilidade subjetiva, com exceção da culpa, e é utilizada em situações
específicas, previstas em lei, ou em situações excepcionais, como diz o parágrafo
único do art. 927 do Código Civil:

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.

Somente se considera possível a responsabilização objetiva em casos


especificados expressamente na lei, como por exemplo nas ações com base no
Código de Defesa do Consumidor, em atos de agentes públicos, os atos ocorridos
dentro de relação de vínculo empregatício, entre outros.
É importante analisarmos cada requisito da responsabilidade civil, iniciando
pela conduta do agente, que é a ação ou omissão que gerou o dano a alguém.
Importante salientar que no caso da conduta comissiva, somente serão puníveis as
omissões quando havia o dever jurídico de agir, e o agente não o fez. Para surgir o
dever da reparação, essa conduta deve ser culposa, aqui entendida em sentido amplo,
tanto quanto culpa, sem intenção, quanto como dolo, onde de fato existe a prévia
intenção de causar o dano. A exceção é a responsabilidade objetiva, onde basta
apenas o ato ilícito, pouco importando se a ação foi culposa ou dolosa.

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Existe também a responsabilização indireta também conhecida como
responsabilidade por fato de terceiros, como ensina Rodrigues (2002, p. 17):

A responsabilidade por ato de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita
a responder por dano causado a outrem não por ato próprio, mas por ato de
alguém que está, de um modo ou de outro, sob a sujeição daquele. Assim, o
pai responde pelos atos dos filhos menores que estiverem em seu poder ou
em sua companhia; o patrão responde por atos de seus empregados, e assim
por diante.

Ou seja, haverá a responsabilização indireta quando não é o agente que


causa o dano, mas é diretamente responsável por este, pelo dever de cuidado
existente na relação entre o responsável e o agente causador do dano.
O dano pode ser caracterizado como o prejuízo causado à vítima pela ação
do agente. É uma lesão a um bem jurídico tutelado. Para haver indenização, deve
existir um dano. A simples ação do agente não gera dever de indenizar, se não se
demonstrar claramente o dano que nasceu da ação. O dano pode ser classificado
como material ou moral. É material quando gera uma redução patrimonial na vítima,
ou quando o bem lesado pode se mensurar financeiramente. Já o dano moral é devido
quando o bem jurídico lesado não possui valor financeiro, como por exemplo a honra,
o caráter, entre outros.
O professor Gonçalves (2017, p.337) ensina que

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima, integralmente. Se


possível, restaurando o status quo ante, isto é, devolvendo-a ao estado em
que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito. Todavia, como na
maioria dos casos se torna impossível tal desiderato, busca-se uma
compensação em forma de pagamento de uma indenização monetária.

Desta forma, a função da indenização é consertar o estado natural das coisas


como eram antes do evento danoso que gerou o dano. Esta indenização é possível
mesmo quando o dano não se possa mensurar financeiramente. Para isso, o judiciário
fará uma análise de um valor justo para compensar a vítima pelos danos causados,
buscando um equilíbrio entre o caráter pedagógico e punitivo do quantum
indenizatório.
O Nexo Causal diz respeito a relação entre a conduta do agente, com o dano
sofrido pela vítima. É um requisito indispensável da responsabilidade civil, uma vez

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que só é passível de indenização a ação que efetivamente gera dano a outrem. Na
lição de Diniz (2011, p. 107-108):

O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de modo que o


fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua
consequência previsível. Tal nexo representa, portanto, uma relação
necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu, de tal sorte que
esta é considerada como sua causa. Todavia, não será necessário que o
dano resulte apenas imediatamente do fato que o produziu. Bastará que se
verifique que o dano não ocorreria se o fato não tivesse acontecido. Este
poderá não ser a culpa imediata, mas, se for condição para a produção do
dano, o agente responderá pela consequência.

Vale ressaltar, como visto, que o dano não precisa necessariamente ser
imediato. Basta a posterior comprovação de que o dano não existiria sem a ação do
agente, para se caracterizar o nexo. Em caso de excludente de nexo de causalidade,
quais sejam, o caso fortuito e a força maior; a culpa exclusiva da vítima; ou o fato de
terceiro, não há que se falar em dever de indenizar, já que a ação do agente não foi
ilícita.
Por fim, analisemos a culpa, que é requisito para a responsabilização
subjetiva. Como já dito, na responsabilidade objetiva, basta que sejam cumpridos os
requisitos anteriores. Mas por se tratar da exceção, é necessário que se entenda como
essa aferição acontece na responsabilização subjetiva.
Existem duas conceituações para a culpa. No sentido estrito, refere-se à ação
involuntária do agente, que acaba gerando um dano, mesmo sem a intenção para tal.
No sentido amplo, temos que culpa, além do já narrado no sentido estrito, engloba
também o dolo, que é a intenção de causar o dano, conforme ensina Diniz (2003, p.
42):

A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a


alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou
cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e
a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, pela imprudência e
pela negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não
se reclama que o ato danoso tenha sido realmente querido pelo agente, pois
ele não deixará de ser responsável pelo fato de não se ter apercebido do seu
ato nem medido as suas consequências.

Como visto, não é admissível que alguém tente se esquivar de sua


responsabilidade, alegando que não agiu com a intenção de causar dano a alguém.

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O simples fato de agir, seja com negligência, imprudência ou imperícia, já caracteriza
a responsabilidade.
A lei traz um mecanismo para mensurar o quantum de culpa existe na
ação/omissão do agente, a fim de mensurar também a indenização devida. Diz o
parágrafo único do artigo 944 do Código Civil que “se houver excessiva desproporção
entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente a
indenização”. É importante ressaltar, porém, que essa análise só é aplicável no caso
de responsabilização subjetiva, já que não há de se falar em gravidade da culpa nos
casos de responsabilização objetiva.
Para o estudo da responsabilidade civil por abandono afetivo, e em outras
matérias do Direito de Família, se usa a responsabilidade subjetiva.

O Direito de Família e suas nuances

Para entendermos melhor a possibilidade de responsabilização civil pelo


abandono afetivo, é necessária uma rápida introdução sobre o Direito de Família. O
estudo desse ramo do Direito é indispensável, já que é dele que provém as normas
que regulam as formas de filiação, admitindo por exemplo, a filiação afetiva; o dever
dos pais para com os filhos; e, inclusive, a análise do afeto entre pais e filhos, objeto
central deste artigo.
Vários autores concordam que é difícil a missão de conceituar esse ramo do
direito, haja vista a imensa gama de relações tratadas por ele. A fim de ilustração,
Azevedo (2019, p. 25) conceitua direito de família como sendo

[...] um complexo de normas jurídicas, morais e, às vezes, religiosas, que


orientam esse ramo do Direito Civil, sensível aos fatores locais, que
disciplinam as relações entre seus membros, influenciando, tanto no prisma
material como imaterial, relacionando-se entre si, com seus filhos e cuidando
de seu patrimônio.

Através dessa conceituação, podemos entender o quão amplo é o estudo do


Direito de Família, sendo influenciado por inúmeros fatores, e tratando não só das

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relações entre pais e filhos, mas também entre união e separação de casais e
companheiros, tutela e curatela, entre outros temas.
Claro que não só pela legislação infraconstitucional é regido o Direito de
Família. A própria Carta Magna traz em seu bojo diversos artigos que implicam
diretamente neste ramo, como por exemplo o art. 226, que trata sobre a proteção da
entidade familiar pelo Estado, explicitando o conceito do que pode ser considerado
família para o Direito.
Um dos estudos do Direito de Família, é o que chamamos de Poder Familiar,
que antes do advento do Novo Código Civil era chamado de Pátrio Poder.
Conceituando esse instituto, nas palavras de Rodrigues (apud Azevedo, 2019, p. 407),

“O poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em


relação à pessoa e aos bens dos filhos não emancipados, tendo em vista a
proteção destes. [...] O fato de a lei impor deveres aos pais, com o fito de
proteger aos filhos, realça o caráter de munus público do poder familiar.”

Como podemos perceber, o Estado tem especial atenção ao Direito de


Família, embora isso não o faça perder o status de Direito Privado. Garantir a proteção
dos filhos incapazes é o objetivo maior da regulação estatal, evitando danos àqueles
que não têm plena capacidade de se defender judicialmente contra os danos
causados pelos próprios genitores.
Esta atenção é compreensível, pois como ensina o professor Gonçalves
(2016, p. 408):

O ente humano necessita, durante sua infância, de quem o crie e eduque,


ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha a
regência de sua pessoa e seus bens. As pessoas naturalmente indicadas
para o exercício dessa missão são os pais. A eles confere a lei, em
princípio, esse ministério, organizando-o no intuito do poder familiar.

Ou seja, compete naturalmente aos pais garantir que os filhos recebam


durante a sua formação todos os cuidados necessários para que se desenvolvam em
segurança e com saúde, seja física ou mental.
Azevedo (2019, p. 408), lecionando sobre o poder familiar, diz que

Além de ser munus público, porque é função imposta por norma de ordem
pública, é irrenunciável, e intransmissível (indelegável, inalienável ou
indisponível) não podendo sofrer limitação voluntária em seu exercício, como
vimos. O poder familiar apresenta outro caráter importante de sua natureza
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jurídica, sendo também imprescritível, porque pode ser exercido a qualquer
tempo. É conveniente notar que no antigo pátrio poder e no atual poder
familiar, a transformação romana não se refletiu na designação dessa
atribuição dos pais. Continua a ser chamada de poder familiar, para fugir da
ideia machista de pátrio poder (poder do pai), mas não se despojou do sentido
vocabular de poder, que, sendo exercido in pietate, transforma-se em dever
familiar, melhor ainda em direito-dever dos pais.

Nota-se que, embora o termo usado na legislação seja “Poder Familiar”, o seu
exercício se constitui em um verdadeiro dever, já que naturalmente os pais devem ser
responsáveis por seus filhos até que estes sejam plenamente capazes. Embora seja
uma discussão relativamente nova, hoje já existe muitos escritos doutrinários
interligando o tema da responsabilidade civil com o Direito de Família, principalmente
quanto à questão do abandono afetivo.
Felizmente, o Direito vem mudando e se aperfeiçoando, e hoje o vínculo
afetivo é considerado mais forte do que o vínculo meramente legal ou natural.
Relações se estabelecem e se fortificam através do afeto, e são tão ou mais firmes
que as biologicamente previstas. Exemplo claro disso é a união estável, onde o afeto
existente cria uma família, equiparada ao casamento, mesmo sem o registro formal;
ou ainda, os filhos adotivos, que mesmo não tendo sidos biologicamente concebidos,
são equiparados a estes pela lei.
O professor Assumpção (2004, p. 53) ensina que
(...) o afeto está presente nas relações familiares, tanto na relação entre
homem e mulher (plano horizontal) como na relação paterno filial (plano
vertical, como, por exemplo, a existente entre o padrasto e enteado), todos
unidos pelo sentimento, na felicidade e no prazer de estarem juntos.

Assim, entendemos que o afeto está intimamente ligado à própria instituição


familiar. Umas das características mais fortes para se denominar uma família hoje é o
afeto, e não somente o caráter de procriação ou patrimonial. Tratamos anteriormente
sobre o poder/dever familiar, então podemos com certeza incluir no rol dos deveres
dos pais o cuidado e o afeto, já que estes se revelam essenciais para a formação do
caráter e da personalidade da sua prole, podendo a sua ausência desencadear graves
e irreversíveis danos psíquicos nos filhos, já que o adulto do futuro é construído
principalmente na infância, através dos estímulos familiares de proteção e cuidado.
Pretendemos com este trabalho, mesclar essas duas realidades que
estudamos anteriormente, a responsabilidade civil e a necessidade do dever de afeto
e cuidado, inerente às famílias.

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Entendimentos jurisprudenciais

Questões relativas à responsabilidade civil pelo abandono afetivo têm sido


enfrentadas por diversas vezes pelo poder judiciário nos últimos anos. Decisões
contrárias e a favor dessa possibilidade têm sido constantes na nossa jurisprudência.
Alguns desses julgados decidiram sobre a impossibilidade da
responsabilização, sob o argumento que não se pode exigir o afeto, por teoricamente
não se tratar de um dever jurídico. Como exemplo disso, vejamos o seguinte julgado:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO.


DANOS MORAIS. IMPOSSIBILIDADE.
1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não
rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de
1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 757.411/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Quarta Turma,
julgado em 29/11/2005, DJ 27/03/2006)

Apesar da curta ementa, este julgamento trouxe um extenso voto do ministro


relator, onde ele explicita o que o motivou a votar pela impossibilidade da
responsabilização por abandono afetivo. Vale lermos alguns trechos desse voto:

A questão da indenização por abandono moral é nova no Direito Brasileiro.


[...] Cumpre ressaltar que a representante do Ministério Público que teve
atuação no caso entendeu que "não cabe ao Judiciário condenar alguém
ao pagamento de indenização por desamor", salientando não poder ser a
questão resolvida com base na reparação financeira. O Juízo da 31ª Vara
Cível do Foro Central de São Paulo-SP, a seu turno, condenou um pai a
indenizar sua filha, reconhecendo que, conquanto fuja à razoabilidade que
um filho ingresse com ação contra seu pai, por não ter dele recebido afeto, "a
paternidade não gera apenas deveres de assistência material, e que além da
guarda, portanto independentemente dela, existe um dever, a cargo do pai,
de ter o filho em sua companhia". [...] Os que defendem a inclusão do
abandono moral como dano indenizável reconhecem ser impossível compelir
alguém a amar, mas afirmam que "a indenização conferida nesse contexto
não tem a finalidade de compelir o pai ao cumprimento de seus deveres, mas
atende duas relevantes funções, além da compensatória: a punitiva e a
dissuasória. (Indenização por Abandono Afetivo, Luiz Felipe Brasil Santos, in
ADV - Seleções Jurídicas, fevereiro de 2005). [...] No caso de abandono ou
do descumprimento injustificado do dever de sustento, guarda e
educação dos filhos, porém, a legislação prevê como punição a perda
do poder familiar, antigo pátrio-poder, tanto no Estatuto da Criança e do
Adolescente, art. 24, quanto no Código Civil, art. 1638, inciso II. Assim,

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o ordenamento jurídico, com a determinação da perda do poder familiar,
a mais grave pena civil a ser imputada a um pai, já se encarrega da
função punitiva e, principalmente, dissuasória, mostrando
eficientemente aos indivíduos que o Direito e a sociedade não se
compadecem com a conduta do abandono, com o que cai por terra a
justificativa mais pungente dos que defendem a indenização pelo
abandono moral. Por outro lado, é preciso levar em conta que, muitas vezes,
aquele que fica com a guarda isolada da criança transfere a ela os
sentimentos de ódio e vingança nutridos contra o ex-companheiro, sem
olvidar ainda a questão de que a indenização pode não atender exatamente
o sofrimento do menor, mas também a ambição financeira daquele que foi
preterido no relacionamento amoroso. [...] Ainda outro questionamento deve
ser enfrentado. O pai, após condenado a indenizar o filho por não lhe ter
atendido às necessidades de afeto, encontrará ambiente para reconstruir o
relacionamento ou, ao contrário, se verá definitivamente afastado daquele
pela barreira erguida durante o processo litigioso? Quem sabe admitindo a
indenização por abandono moral não estaremos enterrando em definitivo a
possibilidade de um pai, seja no presente, seja perto da velhice, buscar o
amparo do amor dos filhos. [...] Por certo um litígio entre as partes reduziria
drasticamente a esperança do filho de se ver acolhido, ainda que tardiamente,
pelo amor paterno. O deferimento do pedido, não atenderia, ainda, o
objetivo de reparação financeira, porquanto o amparo nesse sentido já
é providenciado com a pensão alimentícia, nem mesmo alcançaria efeito
punitivo e dissuasório, porquanto já obtidos com outros meios
previstos na legislação civil, conforme acima esclarecido. Desta feita,
como escapa ao arbítrio do Judiciário obrigar alguém a amar, ou a
manter um relacionamento afetivo, nenhuma finalidade positiva seria
alcançada com a indenização pleiteada. Nesse contexto, inexistindo a
possibilidade de reparação a que alude o art. 159 do Código Civil de 1916,
não há como reconhecer o abandono afetivo como dano passível de
indenização. Diante do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento
para afastar a possibilidade de indenização nos casos de abandono moral.
(Grifos nossos)

Data vênia, precisamos discordar incisivamente de completamente todas as


argumentações trazidas pelo relator neste voto. Os pontos destacados mostram que
a interpretação do magistrado foi deveras incoerente com a realidade, já que em
momento nenhum os filhos abandonados afetivamente buscam através de uma ação
judicial punir a falta de amor, não é disso que se trata. Ao decorrer deste artigo,
deixamos claro que o dano é cabível quando se mostra que houve um dano causado
à vítima. Se a falta de afeto comprovadamente trouxe danos ao menor, é devida a
reparação por esse dano, e não somente pela falta de afeto.
Chama atenção a intenção do magistrado em punir o pai com a perda do
poder familiar, justificando que essa medida é bastante para a punição do genitor.
Ora, temos novamente que discordar. Se um pai está sendo processado exatamente
por agir a todo tempo como se filho não possuísse, como será considerada punitiva a
perda do poder familiar? Essa hipótese soa mais como um salvo conduto, um prêmio,

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para que o pai continue longe dos seus filhos, pois este já não exerce o seu poder
familiar.
Mais um trecho que, ao nosso ver, merece correção: o magistrado cita que o
pagamento de pensão alimentícia já indeniza o filho pelos danos causados pela falta
de afeto do genitor. Na opinião do ministro, então, estaria reduzido todo o dever de
cuidado e afeto de pai para filho à mera obrigação de não deixar o descendente morrer
de fome? Nos parece pouco arrazoado e nada humanista pensamentos como este.
Por outro lado, felizmente, existem diversos julgados que entendem que sim,
é possível a reparação por abandono afetivo. Nos últimos anos, decisões nesse
sentido tem se tornado mais frequentes, como por exemplo este julgamento do STJ,
que até hoje é citado como um dos mais contundentes em defesa da possibilidade da
responsabilização pelo abandono afetivo. Vejamos:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no
Direito de Família.
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da
CF/88.
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida
implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de
omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente
tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia – de
cuidado – importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono
psicológico.
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno
cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo
mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei,
garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social.
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou,
ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática
– não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial.
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é
possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada
pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1.159.242/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma,
julgado em 24/04/2012, DJ 10/05/2012)

Como se vê, para a ministra relatora Nancy Andrighi, a aplicação da


responsabilidade civil dentro de processos do Direito de Família é plenamente
possível, e a comprovação de que o cuidado com os filhos foi negligenciado e gerou
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danos é bastante para se pleitear reparação civil. Como no julgado anterior, o voto da
ministra traz relevantes contribuições para a discussão do tema. Vejamos os trechos
abaixo:

Sintetiza-se a lide em determinar se o abandono afetivo da recorrida,


levado a efeito pelo seu pai, ao se omitir da prática de fração dos deveres
inerentes à paternidade, constitui elemento suficiente para caracterizar dano
moral compensável. [...] Outro aspecto que merece apreciação preliminar, diz
respeito à perda do poder familiar (art. 1638, II, do CC-02), que foi apontada
como a única punição possível de ser imposta aos pais que descuram do
múnus a eles atribuído, de dirigirem a criação e educação de seus filhos (art.
1634, II, do CC-02). Nota-se, contudo, que a perda do pátrio poder não
suprime, nem afasta, a possibilidade de indenizações ou
compensações, porque tem como objetivo primário resguardar a
integridade do menor, ofertando-lhe, por outros meios, a criação e
educação negada pelos genitores, e nunca compensar os prejuízos
advindos do malcuidado recebido pelos filhos. [...]
À luz desses parâmetros, há muito se cristalizou a obrigação legal dos
genitores ou adotantes, quanto à manutenção material da prole, outorgando-
se tanta relevância para essa responsabilidade, a ponto de, como meio de
coerção, impor-se a prisão civil para os que a descumprem, sem justa causa.
[...] Sob esse aspecto, calha lançar luz sobre a crescente percepção do
cuidado como valor jurídico apreciável e sua repercussão no âmbito da
responsabilidade civil, pois, constituindo-se o cuidado fator curial à
formação da personalidade do infante, deve ele ser alçado a um patamar
de relevância que mostre o impacto que tem na higidez psicológica do
futuro adulto. Nessa linha de pensamento, é possível se afirmar que tanto
pela concepção, quanto pela adoção, os pais assumem obrigações jurídicas
em relação à sua prole, que vão além daquelas chamadas necessarium vitae.
A ideia subjacente é a de que o ser humano precisa, além do básico
para a sua manutenção – alimento, abrigo e saúde –, também de outros
elementos, normalmente imateriais, igualmente necessários para uma
adequada formação – educação, lazer, regras de conduta, etc.
[...] Colhe-se tanto da manifestação da autora quanto do próprio senso
comum que o desvelo e atenção à prole não podem mais ser tratadas como
acessórios no processo de criação, porque, há muito, deixou de ser
intuitivo que o cuidado, vislumbrado em suas diversas manifestações
psicológicas, não é apenas uma fator importante, mas essencial à
criação e formação de um adulto que tenha integridade física e
psicológica e seja capaz de conviver, em sociedade, respeitando seus
limites, buscando seus direitos, exercendo plenamente sua cidadania. [...]
Vê-se hoje nas normas constitucionais a máxima amplitude possível e, em
paralelo, a cristalização do entendimento, no âmbito científico, do que já era
empiricamente percebido: o cuidado é fundamental para a formação do
menor e do adolescente; [...] não se discute mais a mensuração do intangível
– o amor – mas, sim, a verificação do cumprimento, descumprimento, ou
parcial cumprimento, de uma obrigação legal: cuidar. [...] Alçando-se, no
entanto, o cuidado à categoria de obrigação legal, supera-se o grande
empeço sempre declinado quando se discute o abandono afetivo – a
impossibilidade de se obrigar a amar. Aqui não se fala ou se discute o amar
e, sim, a imposição biológica e legal de cuidar, que é dever jurídico,
corolário da liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos. [...]
Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever. A comprovação que essa
imposição legal foi descumprida implica, por certo, a ocorrência de
ilicitude civil, sob a forma de omissão, pois na hipótese o non facere que
atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação,
educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição
13
legal. [...] Estabelecida a assertiva de que a negligência em relação ao
objetivo dever de cuidado é ilícito civil, importa, para a caracterização do
dever de indenizar, estabelecer a existência de dano e do necessário nexo
causal. Forma simples de verificar a ocorrência desses elementos é a
existência de laudo formulado por especialista, que aponte a existência de
uma determinada patologia psicológica e a vincule, no todo ou em parte, ao
descuidado por parte de um dos pais. Porém, não se deve limitar a
possibilidade de compensação por dano moral a situações símeis aos
exemplos, porquanto inúmeras outras circunstâncias dão azo à
compensação, como bem exemplificam os fatos declinados pelo
Tribunal de origem. [...] Dessarte, impende considerar existente o dano moral,
pela concomitante existência da tróica que a ele conduz: negligência, dano e
nexo. (grifos nossos)

Quantos ensinamentos podemos tirar desse voto. Destaca-se a “resposta” ao


julgado anteriormente citado, sobre a perda do Poder Familiar como sendo o remédio
suficiente para coibir o abandono afetivo, o que claramente não se traduz na realidade,
como já explicitado. Outro destaque é a afirmação de que o cuidado não é só
preferível, mas sim necessário para o bom desenvolvimento físico e mental de
qualquer criança.
À época do julgado, foi muito repercutida a frase da ministra, onde diz que
“Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever”, deixando claro que em processos dessa
natureza, não se trata de uma obrigação de amar, ou de punição/exigência disso. É
notório que o amar, o gostar, é algo íntimo, pessoal de cada um. Porém, deixa-se claro
que, a partir do momento em que se gerou uma vida, se deve ter zelo e cuidado para
com ela, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, buscando evitar
que danos, sejam psicológicos ou não, surjam durante o crescimento da criança.
Por fim, merece destaque o trecho grifado que defende a não obrigatoriedade
de laudo médico/psicológico para caracterizar o dano pelo abandono afetivo. Outras
circunstâncias podem ser suficientes para se caracterizar o dano, e seu nexo de
causalidade. Claro que elementos de prova robustos, como um documento assinado
por alguém da área da saúde, auxiliarão na comprovação do nexo, porém, não se
pode negar pedidos dessa natureza pelo simples fato de não haver tal comprovação
médica.
Hoje, o entendimento jurisprudencial majoritário defende a possibilidade da
responsabilização por abandono afetivo, desde que cumpridos todos os requisitos
para a responsabilização, a saber: a ação, o dano, o nexo de causalidade, e a culpa
do agente.

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Conclusão

Este artigo analisou a possibilidade de responsabilização civil decorrente do


abandono afetivo. Para isso, fez-se uma análise sobre o instituto da responsabilidade
civil e suas espécies, quais sejam, a responsabilidade objetiva e a subjetiva; sobre o
Direito de Família, englobando os conceitos de poder familiar e do afeto; e
apresentadas jurisprudências divergentes sobre o assunto, a fim de dar ao leitor a
possibilidade de formar seu próprio entendimento, baseado no material citado, sem
com isso deixar o autor de defender a sua opinião quanto a possibilidade de
responsabilização.
Os objetivos deste trabalho foram alcançados, uma vez que se propunham a
refletir sobre os temas citados acima. De maneira geral, a elaboração deste trabalho
foi de enorme valia para o autor, uma vez que esclareceu e aprofundou a discussão
sobre temática ainda considerada polêmica no meio acadêmico e jurídico. Ademais,
é importante e prazeroso poder dar uma pequena parcela de contribuição na
discussão do tema, auxiliando assim diversas famílias e operadores do Direito que
são colocados frente a frente a situações como as narradas neste artigo. Vale salientar
que não se busca de forma alguma esgotar o debate sobre o tema, mas apenas
acrescentar às discussões com o ponto de vista aqui retratado.
De fato, durante a construção desse trabalho, chegou-se à conclusão de que
sim, é cabível a indenização nos casos de danos decorrentes do abandono afetivo,
embora não exista norma na lei que defenda essa possibilidade expressamente. A
atitude evasiva dos genitores que assim agem, acarreta diretamente, em muitos
casos, sequelas psicológicas nos filhos, colocando em risco assim não só este, mas
toda a sociedade. Ressalte-se que em momento nenhum se está penalizando a falta
de amor ou de afeto, já que na nossa legislação, isso realmente não é possível. Trata-
se de amenizar o sofrimento dos filhos que cresceram com suas perspectivas de futuro
abaladas pela ausência importantíssima do pleno apoio familiar.
Por fim, apresentado o entendimento jurisprudencial majoritário, que defende
a possibilidade da aplicação de indenização por dano moral nos casos de abandono
afetivo, concluiu-se este artigo. Através da análise dos conceitos de afeto e poder

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familiar, juntamente com as jurisprudências apresentadas, espera-se que o leitor
tenha material suficiente para formar sua opinião sobre a temática.

Referências

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Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 17. ed. – São Paulo: Saraiva
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm >. Acesso em:
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DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 21.
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