Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AFETIVO
DISCUSSION ON CIVIL RESPONSIBILITY FOR AFFECTIVE ABANDONMENT
Resumo
Abstract
This article seeks to address the possibility of civil liability arising from emotional
abandonment. Controversial, this theme raises many discussions among jurists, and
even in the jurisprudence of Brazilian courts. For this, an analysis was made about the
civil liability institute and its species, namely, objective and subjective responsibility; on
Family Law, encompassing the concepts of family power and affection; and divergent
jurisprudence on the subject was presented. The objectives of the work were: to
address the issue of civil liability and its nuances, to discuss Family Law, especially
with regard to family power and affection, and to present different judgments on the
subject. The work was carried out with the type of exploratory research, with a method
bibliographic, using books, documents and archives in general. It is concluded with this
work that the indemnification is applicable in the cases of damages resulting from the
* Advogado civilista e de Família. Pós-Graduando em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Estácio de
Sá. Bacharel em Direito pela Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns. E-mail: jonathanjuvencio@gmail.com.
affective abandonment, although there is no article that expressly addresses this, since
the evasive attitude of the parents who do so directly leads, in many cases, to
psychological sequelae in children, putting at risk not only this one, but the whole
society.
Introdução
2
A responsabilidade civil
É possível perceber que para a lei, todo aquele que de alguma forma viole
direito e cause danos a outrem, comete o ato ilícito, mesmo que este dano seja apenas
moral ou psicológico. Entender esse ponto será de vital importância para entendermos
os pontos abordados neste artigo.
Texto crucial para o entendimento da obrigatoriedade de indenizar
proveniente de ato ilícito é a redação do art. 927 do mesmo diploma cível, que diz que
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.” Assim sendo, fica demonstrada a legalidade da obrigatoriedade de
indenizar nos casos de cometimento de ato ilícito contra outrem.
3
A responsabilidade civil pode se dividir em duas classificações. Há a que
chamamos de responsabilidade subjetiva, e a que chamamos responsabilidade
objetiva. A subjetiva exige que a culpa do agente causador seja provada. Há de existir,
então, a conduta, o dano, o nexo de causalidade, e a culpa do agente. Conforme
ensina Gagliano (2019, p. 58):
4
Existe também a responsabilização indireta também conhecida como
responsabilidade por fato de terceiros, como ensina Rodrigues (2002, p. 17):
A responsabilidade por ato de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita
a responder por dano causado a outrem não por ato próprio, mas por ato de
alguém que está, de um modo ou de outro, sob a sujeição daquele. Assim, o
pai responde pelos atos dos filhos menores que estiverem em seu poder ou
em sua companhia; o patrão responde por atos de seus empregados, e assim
por diante.
5
que só é passível de indenização a ação que efetivamente gera dano a outrem. Na
lição de Diniz (2011, p. 107-108):
Vale ressaltar, como visto, que o dano não precisa necessariamente ser
imediato. Basta a posterior comprovação de que o dano não existiria sem a ação do
agente, para se caracterizar o nexo. Em caso de excludente de nexo de causalidade,
quais sejam, o caso fortuito e a força maior; a culpa exclusiva da vítima; ou o fato de
terceiro, não há que se falar em dever de indenizar, já que a ação do agente não foi
ilícita.
Por fim, analisemos a culpa, que é requisito para a responsabilização
subjetiva. Como já dito, na responsabilidade objetiva, basta que sejam cumpridos os
requisitos anteriores. Mas por se tratar da exceção, é necessário que se entenda como
essa aferição acontece na responsabilização subjetiva.
Existem duas conceituações para a culpa. No sentido estrito, refere-se à ação
involuntária do agente, que acaba gerando um dano, mesmo sem a intenção para tal.
No sentido amplo, temos que culpa, além do já narrado no sentido estrito, engloba
também o dolo, que é a intenção de causar o dano, conforme ensina Diniz (2003, p.
42):
6
O simples fato de agir, seja com negligência, imprudência ou imperícia, já caracteriza
a responsabilidade.
A lei traz um mecanismo para mensurar o quantum de culpa existe na
ação/omissão do agente, a fim de mensurar também a indenização devida. Diz o
parágrafo único do artigo 944 do Código Civil que “se houver excessiva desproporção
entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente a
indenização”. É importante ressaltar, porém, que essa análise só é aplicável no caso
de responsabilização subjetiva, já que não há de se falar em gravidade da culpa nos
casos de responsabilização objetiva.
Para o estudo da responsabilidade civil por abandono afetivo, e em outras
matérias do Direito de Família, se usa a responsabilidade subjetiva.
7
relações entre pais e filhos, mas também entre união e separação de casais e
companheiros, tutela e curatela, entre outros temas.
Claro que não só pela legislação infraconstitucional é regido o Direito de
Família. A própria Carta Magna traz em seu bojo diversos artigos que implicam
diretamente neste ramo, como por exemplo o art. 226, que trata sobre a proteção da
entidade familiar pelo Estado, explicitando o conceito do que pode ser considerado
família para o Direito.
Um dos estudos do Direito de Família, é o que chamamos de Poder Familiar,
que antes do advento do Novo Código Civil era chamado de Pátrio Poder.
Conceituando esse instituto, nas palavras de Rodrigues (apud Azevedo, 2019, p. 407),
Além de ser munus público, porque é função imposta por norma de ordem
pública, é irrenunciável, e intransmissível (indelegável, inalienável ou
indisponível) não podendo sofrer limitação voluntária em seu exercício, como
vimos. O poder familiar apresenta outro caráter importante de sua natureza
8
jurídica, sendo também imprescritível, porque pode ser exercido a qualquer
tempo. É conveniente notar que no antigo pátrio poder e no atual poder
familiar, a transformação romana não se refletiu na designação dessa
atribuição dos pais. Continua a ser chamada de poder familiar, para fugir da
ideia machista de pátrio poder (poder do pai), mas não se despojou do sentido
vocabular de poder, que, sendo exercido in pietate, transforma-se em dever
familiar, melhor ainda em direito-dever dos pais.
Nota-se que, embora o termo usado na legislação seja “Poder Familiar”, o seu
exercício se constitui em um verdadeiro dever, já que naturalmente os pais devem ser
responsáveis por seus filhos até que estes sejam plenamente capazes. Embora seja
uma discussão relativamente nova, hoje já existe muitos escritos doutrinários
interligando o tema da responsabilidade civil com o Direito de Família, principalmente
quanto à questão do abandono afetivo.
Felizmente, o Direito vem mudando e se aperfeiçoando, e hoje o vínculo
afetivo é considerado mais forte do que o vínculo meramente legal ou natural.
Relações se estabelecem e se fortificam através do afeto, e são tão ou mais firmes
que as biologicamente previstas. Exemplo claro disso é a união estável, onde o afeto
existente cria uma família, equiparada ao casamento, mesmo sem o registro formal;
ou ainda, os filhos adotivos, que mesmo não tendo sidos biologicamente concebidos,
são equiparados a estes pela lei.
O professor Assumpção (2004, p. 53) ensina que
(...) o afeto está presente nas relações familiares, tanto na relação entre
homem e mulher (plano horizontal) como na relação paterno filial (plano
vertical, como, por exemplo, a existente entre o padrasto e enteado), todos
unidos pelo sentimento, na felicidade e no prazer de estarem juntos.
9
Entendimentos jurisprudenciais
10
o ordenamento jurídico, com a determinação da perda do poder familiar,
a mais grave pena civil a ser imputada a um pai, já se encarrega da
função punitiva e, principalmente, dissuasória, mostrando
eficientemente aos indivíduos que o Direito e a sociedade não se
compadecem com a conduta do abandono, com o que cai por terra a
justificativa mais pungente dos que defendem a indenização pelo
abandono moral. Por outro lado, é preciso levar em conta que, muitas vezes,
aquele que fica com a guarda isolada da criança transfere a ela os
sentimentos de ódio e vingança nutridos contra o ex-companheiro, sem
olvidar ainda a questão de que a indenização pode não atender exatamente
o sofrimento do menor, mas também a ambição financeira daquele que foi
preterido no relacionamento amoroso. [...] Ainda outro questionamento deve
ser enfrentado. O pai, após condenado a indenizar o filho por não lhe ter
atendido às necessidades de afeto, encontrará ambiente para reconstruir o
relacionamento ou, ao contrário, se verá definitivamente afastado daquele
pela barreira erguida durante o processo litigioso? Quem sabe admitindo a
indenização por abandono moral não estaremos enterrando em definitivo a
possibilidade de um pai, seja no presente, seja perto da velhice, buscar o
amparo do amor dos filhos. [...] Por certo um litígio entre as partes reduziria
drasticamente a esperança do filho de se ver acolhido, ainda que tardiamente,
pelo amor paterno. O deferimento do pedido, não atenderia, ainda, o
objetivo de reparação financeira, porquanto o amparo nesse sentido já
é providenciado com a pensão alimentícia, nem mesmo alcançaria efeito
punitivo e dissuasório, porquanto já obtidos com outros meios
previstos na legislação civil, conforme acima esclarecido. Desta feita,
como escapa ao arbítrio do Judiciário obrigar alguém a amar, ou a
manter um relacionamento afetivo, nenhuma finalidade positiva seria
alcançada com a indenização pleiteada. Nesse contexto, inexistindo a
possibilidade de reparação a que alude o art. 159 do Código Civil de 1916,
não há como reconhecer o abandono afetivo como dano passível de
indenização. Diante do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento
para afastar a possibilidade de indenização nos casos de abandono moral.
(Grifos nossos)
11
para que o pai continue longe dos seus filhos, pois este já não exerce o seu poder
familiar.
Mais um trecho que, ao nosso ver, merece correção: o magistrado cita que o
pagamento de pensão alimentícia já indeniza o filho pelos danos causados pela falta
de afeto do genitor. Na opinião do ministro, então, estaria reduzido todo o dever de
cuidado e afeto de pai para filho à mera obrigação de não deixar o descendente morrer
de fome? Nos parece pouco arrazoado e nada humanista pensamentos como este.
Por outro lado, felizmente, existem diversos julgados que entendem que sim,
é possível a reparação por abandono afetivo. Nos últimos anos, decisões nesse
sentido tem se tornado mais frequentes, como por exemplo este julgamento do STJ,
que até hoje é citado como um dos mais contundentes em defesa da possibilidade da
responsabilização pelo abandono afetivo. Vejamos:
14
Conclusão
15
familiar, juntamente com as jurisprudências apresentadas, espera-se que o leitor
tenha material suficiente para formar sua opinião sobre a temática.
Referências
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: direito de família – 2. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 21.
ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 17.
ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 4.v. São Paulo: Saraiva,
2002.
STJ. REsp 1.159.242/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado
em 24/04/2012, DJ 10/05/2012. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/865731390/recurso-especial-resp-
1159242-sp-2009-0193701-9/inteiro-teor-865731399?ref=serp>. Acesso em: 16 out
2020.
16