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PEDRO HENRIQUE DA SILVA DE LIMA1

A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO §1º DO ARTIGO 223-G


DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO.

GUAÍBA, RS

2022

1Bacharel em Direito pela Universidade Luterana do Brasil – Guaíba/RS, advogado inscrito na OAB/RS
125.731, pós-graduando em Direito do Trabalho e Previdenciário e pós-graduando em Direito
Administrativo e Gestão Pública
RESUMO

O legislador com objetivos de promover a segurança jurídica, apontando a criação de novos


empregos e reforço dos direitos existentes, aprovou a Lei nº13.467/17, conhecida como
Reforma Trabalhista. Contudo, o conteúdo da legislação supra, não atingiu o objetivo proposto,
trazendo insegurança jurídica em suas disposições. No que concerne a relevância dos danos
extrapatrimoniais no âmbito do direito do trabalho, sendo interesse da maioria da população
brasileira, serve de parâmetro para a justificação do presente estudo. Portanto, o presente estudo
a partir de sua aplicação prática com revisões bibliográficas, doutrinas e jurisprudência,
apresentaram além da discussão teórica, sua relevância social e repercussão da aplicação na
espécie. A partir do estudo produzido, passou-se a análise da inconstitucionalidade do §1º, do
artigo 223-G, da CLT, seguindo os ditames da Constituição Federal, responsabilidade civil e
direito positivo.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil; Dano Extrapatrimonial; Reforma Trabalhista; e


Inconstitucionalidade.
ABSTRACT

The legislator, with the objective of promoting legal security, enabling the creation of new jobs
and strengthening existing rights, approved Law nº 13.467 / 17, known as the Labor Reform.
However, the content of the above legislation did not reach the proposed objective, bringing
legal uncertainty in its provisions. Not that it refers to a survey of off-balance sheet damage in
the scope of labor law, being the interest of the majority of the Brazilian population, it serves
as a parameter to justify the present study. Therefore, the present study from its practical
application with bibliographical reviews, doctrines and jurisprudence, separation beyond the
theoretical discussion, its social complementarity and repercussion of the application in the
species. From the study produced, there was an analysis of the unconstitutionality of §1 of
article 223-G of the CLT, following the dictates of the Federal Constitution, civil liability and
positive law.

Keywords: Civil Liability; Off-balance sheet damage; Labor Reform; and Unconstitutionality.
4

INTRODUÇÃO

Embora a Consolidação das Leis do Trabalho, conhecida como voltada aos direitos do
empregado, com o advento da Lei nº13.467/17, qual foi denominada reforma trabalhista, o
legislador produziu entendimento focado na flexibilidade comum da norma, principalmente
objetivando os direitos inerentes ao empregador.
As alterações trazidas pela norma, especificamente quanto ao dano extrapatrimonial,
couberam produção dos novos artigos 223-A a 223-G, que trouxeram novas determinações
acerca da configuração do dano.
Dentre os artigos trazidos à nova legislação, a tarifação do quantum do dano
extrapatrimonial, talvez o mais discutido, se deu presente a partir do §1º, do artigo 223-G.
Partindo dessa premissa, considerando o ordenamento jurídico pátrio, bem como os
preceitos constitucionais, o presente estudo pretende expor o dano extrapatrimonial, bem como
analisar sua constitucionalidade e trazer o entendimento doutrinário e jurisprudencial.
O estudo de caso objeto desta pesquisa, se deu basicamente através da promulgação da
Lei nº13.467/17, especificamente com relação ao §1º do artigo 223-G, qual determinou o valor
do dano extrapatrimonial a ser aplicado em demandas trabalhistas, utilizando como base o
salário do empregado.
Diante da presente discussão acerca da constitucionalidade do referido artigo, a busca
dos entendimentos se deu a partir de revisões bibliográficas cumulado de doutrinas,
jurisprudência e artigos científicos. Partindo das decisões judiciais, é trazido ainda a sua
aplicação direta no processo de trabalho, com decisões judiciais terminativas que trouxeram
relevância a ordem social.
Ademais, o estudo em doutrinas especifica o assunto como um todo, trazendo enorme
conhecimento e saber da área, através dos exemplos práticos e entendimento doutrinário, para
verificar os autores que defendem a constitucionalidade da norma, bem como aqueles que
alegam sua inconstitucionalidade.
A evolução traz consigo a mudança, o que ocasiona no desenvolvimento e na mudança
de cenários que envolvam diretrizes sociais. Por consequência, o legislador no intuito de
promover a referida evolução, entendeu através da Lei nº13.467/17, que seria necessário a
padronização do dano extrapatrimonial de acordo com o salário percebido pelo empregado.
Para fins de trazer ao leitor, esclarecimentos acerca do tema tratado, esta obra se dividiu
em quatro partes, sendo: Responsabilidade Civil; Responsabilidade Civil na Justiça do
5

Trabalho; Do Dano Extrapatrimonial; e Da Análise da (In) Constitucionalidade das Alterações


trazidas pela inserção do art.223-G, §1º, da CLT.
A primeira parte, teve enfoque na responsabilidade civil, trazendo sua conceituação,
seus elementos figurativos e suas classificações, com relação direta à conduta humana, nexo de
causalidade e dano.
Na segunda parte, foi trazida a relação da responsabilidade civil incluída ao âmbito
trabalhista, trazendo a demonstração de sua competência e a aplicação subsidiária do direito
civil no caso.
A terceira parte traduz o entendimento de dano extrapatrimonial, definindo sua
conceituação e atributos secundários, antes e depois do advento da Lei nº13.467/17.
Em alusão a última parte, foi feita a análise de constitucionalidade das inserções trazidas
pela reforma trabalhista, precisamente com relação a chegada do §1º, do artigo 223-G, com
relação a sua tarifação e a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº6050.
6

1 RESPONSABILIDADE CIVIL

Como se sabe, o direito positivo traz consigo as regras necessárias para que a
convivência social seja possível, através da conduta humana. Para que haja o mínimo de
respaldo com relação a essas regras, todos aqueles que desrespeitam ou acabam por infringir,
são punidos, desde que causem danos aos direitos sociais tutelados.
Podemos definir que no direito, a responsabilidade é um dever jurídico sucessivo às
consequências jurídicas de um certo fato, podendo estas variarem.
A seguir será abordado o conceito do presente instituto, bem como os elementos
caracterizadores da responsabilidade civil e o dever de reparação.

1.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O conceito de responsabilidade civil, se forma a partir da conceituação do ato ilícito e


do abuso de poder, relacionados ao panorama de não acarretar prejuízo a outrem, em virtude de
ato de ação ou omissão.
Portanto, é possível atribuir a responsabilidade civil como contraprestação a dano
causado, na medida avençada pela extensão do ato de omissão ou ação ocasionado pelo ofensor
do direito.
Importante destacar, que para a avença da responsabilidade civil, é necessária que haja
conexões entre o responsável e o ofendido, através dos atributos inerentes a conduta, dano e
nexo de causalidade.
É cediço, portanto, que todo aquele que causar dano a outrem através de ato ilícito, nos
termos do art. 186 do Código Civil, resta caracterizado sua ação sobre o instituto. Neste
diapasão, é importante frisar que a responsabilidade civil, segundo Carlos Roberto Gonçalves
é: “um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um
dever jurídico originário.”(GONÇALVES, 2012, p.25)2
Portanto, se trata de conceito inerente ao direito privado, na qual o individuo que
comete o ato ilícito, fica incumbido de reparar o dano, sendo a ligação entre ambos, a
responsabilidade civil. Dessa forma, a violação da esfera jurídica do direito tutelado,

2 Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, volume 4, 7. ed., p25.


7

pertencente a outrem, traz o dever de uma forma de reparação, sendo no panorama material ou
moral.
Segundo Gonçalves:

Quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de que resulte dano, deve suportar as
consequências do seu procedimento. Trata‐se de uma regra elementar de equilíbrio
social, na qual se resume, em verdade, o problema da responsabilidade. Vê‐se,
portanto, que a responsabilidade é um fenômeno social (LYRA, 199, p.30). O dano,
ou prejuízo, que acarreta a responsabilidade, não é apenas o material. O direito não
deve deixar sem proteção as vítimas de ofensas morais3

É cediço que o Estado como ente garantidor dos direitos tutelados pertencentes a
sociedade como um todo, deve trazer proteção aos indivíduos que sejam lesados por atos ilícitos
praticados por outrem.
Portanto, o instituto da responsabilidade civil é indispensável para que seja possível
conviver em sociedade, com o intuito não apenas de reparar o dano ao lesado, mas também
observando o caráter punitivo, trazendo ao autor da lesão, punição sobre o cometimento do ato
ilícito. Nos próximos capítulos, será possível observar a responsabilidade civil no âmbito
trabalhista.

1.2 ELEMENTOS QUE FIGURAM A RESPONSABILIDADE CIVIL

Para que seja figurada a responsabilidade civil, é necessário que seja observado
elementos caracterizadores. É importante frisar que é necessário um fato que gere dano, quando
este dano for gerado, é necessário haver a designação da responsabilidade a partir do fato
gerador, a quem tenha cometido, sendo permeado ao sujeito que cometeu o dano.
Entretanto, a responsabilidade civil necessariamente vincula outros requisitos para a
adequação de sua configuração, bem como identificador do sujeito causador do dano.
Portanto, a ação é o fato gerador da responsabilidade civil, desde que seja causado por
alguém e traga prejuízo a outrem, de forma patrimonial ou extrapatrimonial, material ou moral.
Os elementos caraterizadores podem ainda serem encontrados no artigo 186 do Código
Civil, sendo a conduta humana de forma positiva ou negativa; o dano ou prejuízo; e o nexo de
causalidade.

1.2.1 Nexo de causalidade

3 Gonçalves, Carlos R. Responsabilidade Civil. Editora Saraiva, 2019. p 44.


8

Se trata de elemento essencial para configuração da responsabilidade civil, pelo fato


de trazer a relação de causa e efeito entre a conduta, o agente causador, o ofendido e o dano,
sendo nas palavras de Gonçalves: “No sistema da responsabilidade subjetiva, deve haver nexo
de causalidade entre o dano indenizável e o ato ilícito praticado pelo agente.”4
Ora, sem a observância da conduta do agente e do vínculo ao ofendido não é possível
a caracterização da responsabilidade civil, e, não como evidenciar dano a ser reparado, visto
que a não verificação desses elementos poderia ocasionar em grande insegurança jurídica.
Portanto o nexo causal sempre deve ser trazido em primazia ao caso concreto, após a
configuração do dano, em razão da impossibilidade de atribuir a alguém a responsabilidade,
evidenciando a ligação lógica entre o agente causador e o ofendido, bem como a forma de dano
ocasionada, qual será preceituado no próximo tópico.

1.2.2 Dano

O dano diante da responsabilidade civil, é o evento que pode embasar a designação ao


agente, juntamente com o nexo de causalidade, sendo oriundo do ato do ofensor.
Se pode afirmar que o dano é o resultado da ação ocasionada pelo agente, em prejuízo
do ofendido, sendo ele no mundo material ou psicológico, estendendo-se até o âmbito físico,
dividido entre dano moral, material e estético.
Nas palavras de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho: “O dano patrimonial traduz
lesão aos bens e direitos economicamente apreciáveis do seu titular. Assim ocorre quando
sofremos um dano em nossa casa ou em nosso veículo.”5
Seguindo o mesmo ditame, Humberto Theodoro Júnior, preceitua dano moral como:

Pode-se afirmar que são danos morais os ocorridos na esfera da subjetividade, ou no


plano valorativo da pessoa na sociedade, alcançando os aspectos mais íntimos da
personalidade humana (“o da intimidade e da consideração pessoal”), ou o da própria
valoração da pessoa no meio em que vive e atua (“o da reputação ou da consideração
social”). Derivam, portanto, de “práticas atentatórias à personalidade humana”.
Traduzem-se em “um sentimento de pesar íntimo da pessoa ofendida” capaz de gerar
“alterações psíquicas” ou “prejuízo à parte social ou afetiva do patrimônio moral” do
ofendido.6

4 GONÇALVES, 2019, p. 101


5 GAGLIANO, Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona Filho. Novo curso de direito civil – Responsabilidade
Civil – vol. 3. – 19. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p. 27.
6 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano moral – 8. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense,

2016, p.1
9

Portanto, é possível verificar que no conceito patrimonial, o dano se refere diretamente


à lesão de bens pertencentes ao ofendido, que podem ser estimados através de valor venal.
Contudo dano moral, pode ser conceituado como patrimônio que não pode ser estimado de
forma monetária, ou seja, é o dano que fere diretamente os ditames intangíveis do ofendido,
sendo psicologicamente, moralmente e com reflexo perante a sociedade, devendo ser verificada
a conduta, que será conceituado no próximo tópico.

1.2.3 Conduta

Partindo para a manifestação do agente, em razão da intenção de praticar o ato ou não,


este se vincula ao dano ocasionado e à ofensa praticada, derivando da prática do agente.
Nas palavras de Maria Helena Diniz a conduta “vem a ser o ato humano, comissivo ou
omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de
terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de
satisfazer os direitos do lesado.”7
Se pode afirmar que a conduta deve possuir a emanação da vontade, de forma
controlável, porém, deve ficar claro que o reflexo da voluntariedade do ato não se liga somente
ao dolo, mas sim, a consciência do ocorrido, se tratando de responsabilidade subjetiva.
Segundo Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho:

Em outras palavras, a voluntariedade, que é pedra de toque da noção de conduta


humana ou ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade civil, não traduz
necessariamente a intenção de causar o dano, mas sim, e tão somente, a consciência
daquilo que se está fazendo. E tal ocorre não apenas quando estamos diante de uma
situação de responsabilidade subjetiva (calcada na noção de culpa), mas também de
responsabilidade objetiva (calcada na ideia de risco), porque em ambas as hipóteses o
agente causador do dano deve agir voluntariamente, ou seja, de acordo com a sua livre
capacidade de autodeterminação. Nessa consciência, entenda-se o conhecimento dos
atos materiais que se está praticando, não se exigindo, necessariamente, a consciência
subjetiva da ilicitude do ato.

Portanto, partindo destes entendimentos, é evidente que a ilicitude não acompanha


somente a ação humana, necessitando de análise sobre todos os aspectos vinculados à conduta
danosa. Entretanto a questão subjetiva do dano é presente com relação aos atos antijurídicos,
mesmo praticados por inimputáveis, podendo se estender ao agente punível pelos atributos
próprios, ligados a ofensa.

7DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 26. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 56.
10

1.3 CLASSIFICAÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil pode ser considerada como punição pecuniária do dano


causado ao ofendido, em razão da manifestação da ação humana, ou da ofensa qual possa ter
participação do ofensor.
Para ensejo da classificação da responsabilidade civil, será visto nas classificações o
instituto em espécies, sendo: subjetiva, objetiva, contratual, extracontratual e extrapatrimonial.

1.3.1 Subjetiva e Objetiva

Tanto a responsabilidade civil objetiva quanto subjetiva, possuem papel quanto aos
deveres de indenização e reparação do dano causado, sendo distintas no que tange a existência
de culpa do ofensor.
Nesse contexto, se pode configurar a responsabilidade subjetiva como aquela qual o
dano foi causado unicamente por culpa do ofensor, ou seja, com sua ação direta no ato ilícito
praticado.
O Código Civil, no caput do art. 927, abrange que na ocorrência do ato ilícito, o
ofensor está obrigado a repará-lo, com base nos artigos 186 e 187 do mesmo diploma legal.
Partindo do seguimento acima, se pode caracterizar a intenção do legislador em dar base a
responsabilidade civil subjetiva.
Já a responsabilidade civil objetiva, é o dano gerado pelo risco da atividade ilícita,
qual, embora juridicamente legal, acarreta perigo a outrem.
Nas palavras de Gonçalves:

A classificação corrente e tradicional, pois, denomina objetiva a responsabilidade que


independe de culpa. Esta pode ou não existir, mas será sempre irrelevante para a
configuração do dever de indenizar. Indispensável será a relação de causalidade entre
a ação e o dano, uma vez que, mesmo no caso de responsabilidade objetiva, não se
pode acusar quem não tenha dado causa ao evento. Nessa classificação, os casos de
culpa presumida são considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva, pois se
fundam ainda na culpa, mesmo que presumida.

Portanto, em síntese, se pode dizer que o ordenamento jurídico pátrio recebe a


aplicabilidade da responsabilidade civil subjetiva e objetiva, sendo a objetiva estabelecida pelo
elemento da culpa.

1.3.2 Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual


11

A responsabilidade civil contratual se refere ao cumprimento ou descumprimento de


negócio jurídico, principalmente na geração de prejuízo a outrem, com previsão direta no artigo
389 do Código Civil, qual define a condenação em perdas e danos pelo descumprimento de
obrigações.
Ou seja, ela se figura no ato de descumprimento do negócio jurídico bilateral ou
unilateral, podendo ser considerado ato ilícito contratual. Ademais, ela se decorre da própria
vontade dos contratantes em firmarem entre si, instrumento jurídico.
Não obstante ressaltar que a natureza da responsabilidade civil contratual, é vinculada
diretamente ao dever de resultado do instrumento gerador do pacto, sendo que a ausência de
cumprimento acarreta diretamente em presunção da culpa.
Nas palavras de Paulo Lôbo:

A responsabilidade contratual, como espécie do gênero responsabilidade negocial


(pois há responsabilidades decorrentes de outros negócios jurídicos não contratuais),
constitui uma sanção, entre outras, para o inadimplemento da obrigação pelo devedor.
A responsabilidade contratual trata da violação de uma obrigação preexistente,
entendida em seu sentido técnico8

Portanto, cumpre salientar que a responsabilidade civil contratual está estritamente


ligada ao instrumento jurídico firmado, sendo evidente no momento em que a obrigação passa
a ser descumprida, ou deixa de ser feita.
Ainda nesse sentido, com relação a responsabilidade civil extracontratual, esta se
diferencia da responsabilidade contratual, através de três elementos, sendo a relação jurídica
entre as partes; o ônus da prova quanto à conduta do agente causador; e a capacidade jurídica
elencada.
Visto isso, a responsabilidade extracontratual, qual, também denomina-se aquiliana,
não necessita da existência de um contrato que traga tal vinculo as partes, sendo ela vinculada
de forma indireta exposta ao artigo 186, do Código Civil.
Ainda nas palavras de Paulo Lôbo,

Por seu turno, na responsabilidade extracontratual a originária conduta devida,


consistente na obrigação de não fazer (não lesar o outro), de cunho não patrimonial,

8LÔBO, Paulo. Direito civil: volume 3: contratos. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p.
21(Livro digital).
12

transforma-se em outra obrigação, a de reparar, com seu patrimônio, o dano sofrido


pela vítima.9

Em alusão ao referido ônus probatório, na responsabilidade extracontratual, o ônus é


do ofendido, qual deve comprovar que o fato ocorreu pela culpa do agente, trazendo como
exceção, os casos de responsabilidade objetiva, que garantem o fato independente de culpa do
agente.
Trazendo o elemento da capacidade jurídica, é consabido que existem limitações nos
casos de responsabilidade civil contratual, visto que os artigos 104, inciso I, e 166, inciso I,
ambos do Código Civil, trazem que os agentes pactuantes por instrumento contratual devem ser
plenamente capazes, podendo não produzir efeitos obrigacionais entre as partes.
Já na responsabilidade extracontratual, o ato ilícito pode ser promovido por agente
incapaz, ocasionando no ato que possa trazer responsabilidade do incapaz pelos prejuízos que
causar, nos termos do artigo 928 do Código Civil.
Portanto, conforme o citado acima, é possível a diferenciação da responsabilidade civil
contratual e responsabilidade civil extracontratual, observando todos os fatos da conduta.

1.3.3 Extrapatrimonial

No que tange a responsabilidade civil extrapatrimonial, esta também deve ser eivada
de nexo de causalidade e dano. Porém, pode-se dizer que a responsabilidade extrapatrimonial
não atinge diretamente relação contratual, ou patrimônio do ofendido, mas sim, diretamente aos
institutos humanos e da pessoa.
Ainda é assunto de discussões, quanto ao nome do instituto, sendo que muitos autores
destacam como sendo dano moral. Contudo, outros autores entendem que o dano moral é ligado
como espécie de dano extrapatrimonial.
Visto isso, tamanha a preocupação do legislador com o instituto elencado, este é
encontrado com previsão direta na Constituição Federal, principalmente no artigo 5º, incisos V
e X.
Inobstante, o rol previsto nas terminologias legais, é apenas exemplificativo, sendo
necessária a verificação do fato em si, para a condenação do agente ao dano.

9 LÔBO, 2018, p. 22
13

Humberto Theodoro Júnior afirma que “é ato ilícito, por conseguinte, todo ato
praticado por terceiro que venha refletir, danosamente, sobre o patrimônio da vítima ou sobre
o aspecto peculiar do homem como ser moral.”10
O pressuposto existente acerca da denominação, como também de suas características,
pode ser extraído em diferentes sentidos. Nos termos conseguintes, Cavalieri Filho11, em sua
teoria específica que o dano moral se divide tanto no sentido estrito quanto no sentido amplo,
sendo sua caracterização de forma constitucional e de conceituação atual. Portanto, o dano
moral em sentido estrito, somente teria sua aplicabilidade com a violação do artigo 5º, incisos
V e X, da Constituição Federal. Ademais, o sentido amplo, tem sua definição em mais alguns
aspectos ligados a pessoa humana, mesmo que não haja dano a dignidade humana.
Segundo Fernanda Pereira Barbosa12, há grande diversificação na conceituação de
dano moral, sendo que existe uma linha seguida por autores, que entendem o dano como uma
espécie de ação que atinge diretamente o ofendido, tanto psicologicamente, quanto fisicamente,
sendo o conceito positivo. Entretanto, há outra linha que é remetida como conceito negativo,
cujo entendimento se pressupõe de todo dano que não atinge o caráter patrimonial.
Se remetendo ao dano moral, Carlos Alberto Bittar, pressupõe que

Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano


valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se,
portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade
humana (o da intimidade e da consideração pessoal, na autoestima), ou o da própria
valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração
social, na estima social).13

Prosseguindo nesta seara, podemos verificar que o dano extrapatrimonial, é o reflexo


das situações lesivas ao ofendido, sendo de forma moral, estética e existencial, advindas
diretamente das questões pertinentes da sociedade atual, com base no ordenamento jurídico
pátrio. Frisa-se ainda, que todas as classificações pertinentes podem ser estendidas e aplicadas
no Direito do Trabalho, considerando as situações nas jornadas laborais entre empregados e

10 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Dano Moral, 8ª edição, Grupo GEN, 2016, p.1.
11 FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de responsabilidade civil – 10. ed. – São Paulo: Atlas, 2012,
p.92.
12 BARBOSA, Fernanda Pereira. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia. Dano Moral Coletivo

no Direito do Trabalho. v. 39-2: 449-469,2011, p.451


13 Bittar, Carlos A. Reparação civil por danos morais, 4ª edição.. Editora Saraiva, 2014. [Minha

Biblioteca], p. 45
14

empregadores, sendo importante a análise da responsabilidade civil no âmbito da justiça do


trabalho.
15

2. RESPONSABILIDADE CIVIL NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Através da conceituação da responsabilidade civil e dos danos, principalmente com


relação ao dano extrapatrimonial, será demonstrado no presente capítulo seus efeitos na seara
da justiça do trabalho, que conforme especificado anteriormente, está sendo cada vez mais
observado pelos tribunais do trabalho, que produzem sua atuação, amparados pelos
entendimentos civilistas.
Na justiça do trabalho, a responsabilidade civil tem grande influência para fins de
trazer dignidade à relação das partes durante o labor da jornada de trabalho, garantindo tanto ao
empregado quanto ao empregador, seus direitos inerentes acerca de atributos que possam atingir
a dignidade humana.
Visto isso, se pode aludir que a responsabilidade civil, na relação trabalhista tem
grande influência, na resolução de questões pertinentes às condutas abusivas, que atingem
diretamente o ente no seu estado psicológico.
Nas palavras de Bezerra Leite, “o trabalhador é antes uma pessoa humana e, como tal,
também possui atributos essenciais decorrentes de sua dignidade.”14. Visto isso, se verifica que
assim como no direito civil, o direito do trabalho traz em suma a importância da dignidade da
pessoa humana, resguardando o trabalhador de situações que possam trazer abalo psicológico.
Importante frisar que dentre as modalidades existentes do dano extrapatrimonial, umas
das que provocam o dano, é o assédio moral, que segundo Resende:

Cuidado para não confundir assédio moral com dano moral. Assédio moral é conduta
específica, enquanto dano moral é o resultado de qualquer conduta que provoque
perda imaterial ao empregado, normalmente ligada aos direitos da personalidade.
Assédio moral é a prática de perseguição insistente (constante) a um empregado ou
um grupo deles, com vistas à humilhação, constrangimento e isolamento do grupo,
prática esta que provoca danos à saúde física e psicológica do trabalhador, ferindo sua
dignidade.15

Seguindo na linha do dano extrapatrimonial, ainda se observa a definição pelo dano


estético, quais se caracterizam por acidentes de trabalho, que muitas vezes veem a trazer
respaldos físicos ao empregado.

14 Leite, Carlos Henrique B. CURSO DE DIREITO DO TRABALHO. Editora Saraiva, 2021, p. 29


15RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. Grupo GEN, 2020, p. 383
16

Nesse sentido, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, através da decisão


proferida pela Relatora Beatriz Renck, elucida a caracterização do acidente de trabalho na
jornada laboral:

Ainda que não se ignore que, quanto ao acidente do trabalho e à doença ocupacional
a este equiparada, a jurisprudência dominante se posiciona no sentido de que a
responsabilidade civil do empregador pelos danos sofridos por seu empregado seria
subjetiva, entende-se que, comprovado o nexo causal entre o dano sofrido e o acidente
do trabalho, a culpa do empregador é presumida, em face da imposição ao trabalhador
de risco à sua integridade decorrente do trabalho prestado em favor daquele. 16

Com relação ao dano existencial, esse decorrente da violação do direito de liberdade


do indivíduo, qual tem seu direito de ir e vir, restringido pelas situações provocadas pelo
ofensor.
Contudo, o dano existencial pode ser diferenciado do moral, considerando que
entende-se que o dano moral é exteriorizado no momento do ato ilícito causador da lesão, o
dano existencial, vem acarretar seus efeitos de maneira posterior, visto que é considerado como
sequência de alterações prejudiciais no cotidiano.17
Ademais, a reforma trabalhista, que ocorreu a partir da Lei nº13.467/2017, incluiu o
artigo 223-G, qual prevê a gravidade da ofensa, competindo ao julgador considerar os reflexos
sociais e pessoais dos efeitos causados pelo ato de ação ou omissão contra o bem tutelado.
Nesse sentido, a 5ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, citou em julgado, que a
exteriorização do dano existencial pode se configurar a partir da violação aos intervalos
intrajornadas e interjornadas, que serviriam para impedir que o empregado gozasse dos devidos
descansos legais, comprometendo sua vida social, mas que depende de prova cabal para sua
configuração:

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA


DA LEI Nº 13.467/2017. JORNADA DE TRABALHO EXTENUANTE. DANOS
MORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA

16 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário nº 0021312-


32.2018.5.04.0271. Relator: RENCK, Beatriz. Data de Julgamento: 08/07/2020. Data de Publicação:
09/07/2020. Disponível em:
https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/download/acordao/pje/pNgbcScP9N4RhkF4t5yPUQ. Acesso em
08 de junho de 2021.
17 SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto Alegre: Livriaria

do Advogado Editora, 2009, p.46


17

RECONHECIDA . Agravo a que se dá provimento para examinar o recurso de revista.


Agravo provido. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. JORNADA DE TRABALHO EXTENUANTE.
DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA
POLÍTICA RECONHECIDA . Esta Corte vem se posicionando no sentido de que a
jornada de trabalho extensa, por si só, não enseja indenização por danos morais, sendo
necessário a efetiva comprovação do dano existencial, por meio de fatos e elementos
de prova que demonstrem a violação material concreta do direito do trabalhador ao
convívio social e ao descanso. O quadro fático descrito pelo Regional consigna tão
somente que a jornada variável e extensa, com violação dos intervalos intrajornada e
interjornadas, configuraria, per se , jornada extenuante, o que conduziu aquele
colegiado à conclusão de que estava correta a sentença que condenou a reclamada ao
pagamento de indenização por danos morais. Em verdade, a premissa lançada pelo
Regional, que em nada comprova, a partir de elementos concretos dos autos, que a
jornada de trabalho do empregado efetivamente comprometeu as suas relações sociais
configura mera presunção do dano existencial, o que contraria a jurisprudência
firmada no âmbito desta Corte Superior. Precedente da SDI-1 desta Corte. Recurso de
revista conhecido e provido" (Ag-ARR-12225-62.2016.5.15.0062, 5ª Turma, Relator
Ministro Breno Medeiros, DEJT 28/05/2021).18

Portanto, se verifica a partir da doutrina e dos casos práticos, que a aplicação da teoria
civilista, sendo a adequação da responsabilidade civil, nas relações de trabalho, principalmente,
na verificação da configuração dos danos extrapatrimoniais, vem sendo cada vez mais
reconhecidas.

2.1 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Conforme estabelecido pelo artigo 1º da Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-


Lei nº 5.452, de 1º de Maio de 1943, a competência da justiça do trabalho, é a apreciação dos
litígios ou relações oriundas das relações de trabalho.
A partir da Emenda Constitucional nº45/2004, que trouxe consigo a modificação do
artigo 114, da Constituição Federal, houve a ampliação da regulação das lides trabalhistas,
sendo que anteriormente, os ditames trabalhistas, possuíam cunho específico de apreciar

18BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo em Recurso de Revista nº12225-62.2016.5.15.0062.


Relator Breno Medeiros. Data de Julgamento: 26/05/2021. Data de Publicação: 28/05/2021. Disponível
em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/4c3987181903b7798c30a235e99e1cf5.
Acesso em: 11/06/2021.
18

dissídios das relações de emprego. Posteriormente, vindo a apreciar todas as ações oriundas de
relação trabalhista, inclusive, aquelas referentes à responsabilidade civil.
O dano extrapatrimonial, era verificado através do Código Civil, qual até a chegada da
Lei nº13.467/2017, não possuía previsão na legislação trabalhista em vigor. Entretanto, a
subsidiariedade dos direitos civis, bem como a publicação da Súmula Vinculante nº22, do
Supremo Tribunal Federal19, permitiram que a justiça do trabalho pudesse processar e julgar
ações trabalhistas que tinham o cunho de indenizações por danos morais e patrimoniais,
oriundos de acidentes de trabalho.
Os entendimentos advindos da evolução do âmbito trabalhista, foram cruciais para
esclarecer as ações de indenização por danos morais, inclusive com a possibilidade de
propositura a partir de dependentes e sucessores do empregado ofendido, conforme ficou
previsto na edição da Súmula nº392, do Tribunal Superior do Trabalho.20
Portanto, consabido se demonstra a pacificação da competência da justiça do trabalho,
para julgar ações com o cunho indenizatório pelos danos extrapatrimoniais decorrentes das
relações de trabalho.

2.2 DA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO DIREITO CIVIL

É consabido que antes da promulgação da Lei nº13.467/17, o dano extrapatrimonial,


era regulado pelas normas e entendimentos pertinentes ao direito civil.
As lacunas existentes no ordenamento jurídico pátrio, devem ser supridas por normas
existentes na própria regra, levando em consideração que os litígios devem ser sanados, sejam
por meio de entendimentos pacificados, doutrinários ou previsão legal.
É importante frisar, seguindo o presente tema, que o artigo 8º, da Consolidação das
Leis do Trabalho, tem importante enfoque na resolução de casos em que a lei é omissa, sendo

19 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 22: “A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente
de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam
sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004.”.
Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1259>.Acesso
em 11/06/2021.
20 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 392: “Nos termos do art. 114, inc. VI, da

Constituição da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações de


indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as oriundas de
acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou
sucessores do trabalhador falecido.”. Disponível em
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_351_400.html#SUM-
392>.Acesso em 11/06/2021
19

através de “jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de
direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o
direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público.”21
Há de se considerar ainda, que embora a promulgação da Lei nº13.437/17, trouxe
alterações importantes, modificando a redação em algumas questões, é certo que o instituto de
observância das normas subsidiárias ainda deve ser aplicado, tendo em vista que previsão do
artigo 769, da CLT.
Outrossim, a aplicação das fontes do direito comum se mostra válida em todos os
âmbitos, tendo em vista a impossibilidade de previsão do legislador acerca de todas as
possibilidades de litígios que possam vir a ser objeto da prestação jurisdicional, no que tange a
resolução de demandas, inclusive com observância à aplicação do dano extrapatrimonial.

21 Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou


contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros
princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os
usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou
particular prevaleça sobre o interesse público.
20

3 DO DANO EXTRAPATRIMONIAL

Conforme visto anteriormente, a Reforma Trabalhista adotou o termo dano


extrapatrimonial, qual designa como gênero amplo, incluindo espécies como dano moral,
existencial e estéticos, assim como outros que venham a ferir a dignidade da pessoa humana.
Com a interpretação trazida pelo legislador, o dano extrapatrimonial pode ser
considerado todo aquele que não tenha caráter patrimonial, não trazendo em si, padrões
passíveis de indenização.
Neste diapasão, se verifica que o instituto do dano tem previsão legal na Constituição
Federal, mais precisamente em seu artigo 5º, inciso V e X, que segundo Bezerra Leite22, foi
consolidada a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Se tratando de danos extrapatrimoniais, é cediço que não são mensuráveis e nem
quantificáveis, devendo para sua reparação, determinada análise do caso concreto e a dimensão
que a ofensa tomou na vida do ofendido. Entretanto, as variáveis do caso em si, devem ser
consideradas e utilizadas para o arbitramento dos valores correspondentes a reparação do dano.
Visto isso, se verifica que o dano extrapatrimonial, abrange todos os parâmetros
referentes ao dano que não tem afeição ao patrimônio em si, mas sim, com relação aos direitos
inerentes à pessoa humana.

3.1 DO DANO EXTRAPATRIMONIAL ANTERIORMENTE À REFORMA


TRABALHISTA

Com o advento da Lei nº13.467/17, denominada reforma trabalhista, a Consolidação


das Leis do Trabalho, passou a prever de forma literal as condições da aplicabilidade do dano
extrapatrimonial, bem como sua taxatividade.
Anteriormente a promulgação da lei, o dano extrapatrimonial na justiça do trabalho
tinha sua regulamentação com base no direito civil, sendo que antes da alteração, o parágrafo
único do artigo 8º, da Consolidação das Leis do Trabalho, previa a utilização do direito comum,
com aquilo que não for compatível com os direitos previstos neste:

22 LEITE, 2021, p.31.


21

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições


legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia,
por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito
do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público.
Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho,
naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.

Porém, a nova redação estabeleceu diferenças nas bases citadas diretamente com
relação ao dano.
O direito do trabalho, com relação ao dano extrapatrimonial, anteriormente à reforma
trabalhista, era diretamente sustentado pela responsabilidade civil, que nas palavras de Rodolfo
Pamplona Filho, “O tema da responsabilidade civil é de relevante interesse social, sendo terreno
fértil para grandes debates jurídicos, ante o desenvolvimento das sociedades ao longo de
décadas23”.
As lacunas existentes no ordenamento jurídico, não é incomum, tendo em vista que o
legislador não pode prever todos os acontecimentos, que podem advir de cunho social, sendo
necessário ao julgador utilizar-se de fontes existentes no direito para prestar a devida prestação
jurisdicional.
Se pode considerar, que as lacunas são deficiências existentes no direito positivo, qual
resplandece as falhas do legislador em regulamentar determinadas situações fáticas, sendo que
as falhas admitem sua remoção através de decisão judicial para integrar a norma jurídica.24

3.1.1 Da aplicação prática dos casos e ampliação dos conflitos

Antes do advento da Lei nº13.467/17, a aplicação de forma prática nos casos


decorrentes de dano extrapatrimonial, o dano recorrente no âmbito da justiça do trabalho,
passou a ser observado a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.
O legislador constituinte, optou por garantir os direitos fundamentais e sociais, aos
trabalhadores. Se pode perceber que tais garantias foram recebidas através da Declaração
Universal de Direitos Humanos, com previsão no artigo 5º e artigo 7º, da Constituição Federal.

23 LUSTOSA, Rodolfo Pamplona Filho, Cyntio Possídio e Karina Possídio. O dano extrapatrimonial
na reforma trabalhista. 2019, p. 1.
24 ENGISH, Karl. Introdução ao Pensamento Jurídico, p. 286
22

Partindo dessa premissa, foi garantido ao trabalhador a proteção contra o dano à saúde
e integridade física, respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana, em sua
personalidade e honra. Ficando o empregador responsável pelo ato, mesmo que esse seja
omissivo, com relação aos danos ocasionados ou empregado durante o contrato de trabalho.
Imperioso destacar, que não havendo dolo ou culpa do empregador, a responsabilidade
seria remetida à previdência social, considerando a responsabilidade objetiva. Todavia, se
tratando de verificação de culpa ou dolo do empregador, este deve indenizar o empregado
ofendido, sem que tenha o empregado, prejuízo na garantia acidentária, prevista no artigo 118,
da Lei nº8.213/91.
Quando decorrente a lide para a indenização por dano extrapatrimonial, assim como
nas condições necessárias previstas no processo civil, é necessária a comprovação de abalo
moral, bem como ofensa aos direitos de personalidade do ofendido, através do ato ilícito e nexo
de causalidade.
Nesse sentido, Beatriz Renck, decidiu pelo não provimento de recurso interposto pelo
reclamante, com relação ao dano moral, visto que não restou evidenciado o ato ilícito, ou ofensa
aos direitos de personalidade do trabalhador:

Ainda que se trate de ato contrário ao direito – o atraso no pagamento de salários, e,


portanto, ato ilícito, o mero descumprimento das obrigações contratuais não é
suficiente a configurar dano moral, sem que reste comprovada a ofensa aos direitos
de personalidade do trabalhador.
Na hipótese dos autos, não foi produzida prova capaz de demonstrar o sofrimento
moral alegado pela trabalhadora, sequer de qualquer prejuízo financeiro que tenha
sofrido em decorrência do atraso no pagamento dos salários.

Diante disso, ainda que não tenha restado comprovado o pagamento das rescisórias,
em não havendo prova nos autos de ter sido a autora atingida em sua dignidade, honra
e boa fama, indevida é a indenização postulada, por não configurado o alegado dano
moral.25

Portanto, o dano extrapatrimonial, anteriormente a reforma, possuía os mesmos


requisitos presentes no Código Civil, para caracterização do dano, inclusive com a
demonstração de nexo de causalidade.

25 RENCK, Beatriz. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário nº0029000-


17.2009.5.04.0641. Data do julgamento: 12/05/2010
23

3.1.2 Dos parâmetros para a fixação dos valores

Os parâmetros utilizados para a definição do quantum indenizatório, anteriormente à


previsão do artigo 223-G, oriundo da promulgação da Lei nº13.467/17, era verificado conforme
o princípio da razoabilidade, juntamente com outras decisões análogas, que tratassem do mesmo
assunto.
O julgador através do fato ocorrido, e, do abalo moral sofrido, assim como eventual
lesão sofrida, apresentava o quantum, com base nas condições do artigo 8º, parágrafo único.
Sendo subsidiariamente verificada as condições jurisprudenciais e doutrinárias para definir os
valores conforme o caso e suas peculiaridades.
Nas palavras de José Affonso Dallegrave Neto:

O dano é considerado moral quando violam os direitos de personalidade, originando,


de forma presumida, angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima,
trazendo-lhe sensações e emoções negativas. Não se pode negar que todos esses
sentimentos afloram na vítima de acidente e doenças do trabalho. A lesão à dignidade
humana e, por conseqüência, o dano moral são inevitáveis e presumidos.26

Ainda, no mesmo sentido, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, decidiu pela


condenação da empregadora ofensora, por danos morais decorrente de assédio moral:

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. ASSÉDIO MORAL. DANO


MORAL. Em que pese o assédio moral seja caracterizado como uma sucessão de atos,
ele é espécie do gênero dano moral, não impedindo que, constatada a ocorrência de
apenas uma ofensa à honra da trabalhadora, seja deferida indenização por danos
morais, sem que reste afrontados os arts. 128 e 460 do CPC. Prova testemunhal no
sentido de que a superior hierárquica causou dano moral à reclamante quando, ao
saber de seu estado gravídico, insinuou inclusive na frente de outros funcionários que
a trabalhadora havia engravidado de má-fé. Recurso provido.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. TOMADOR DE SERVIÇOS
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. CULPA IN VIGILANDO. A isenção
definida pelo artigo 71 da Lei n. 8.666/93 deve ser interpretada em consonância com
o disposto nos artigos 54 e 67 da mesma Lei. Sendo incontestável que a Administração

26NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. Editora LTr.,
2005, p. 216.
24

Pública atua orientada pelo interesse público, também é certo que ao celebrar
contratos de prestação de serviços, (TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0000298-
65.2010.5.04.0014 RO, em 15/03/2012, Desembargadora Ana Rosa Pereira Zago
Sagrilo - Relatora. Participaram do julgamento: Desembargadora Ana Rosa Pereira
Zago Sagrilo, Desembargadora Angela Rosi Almeida Chapper, Desembargador
Francisco Rossal de Araújo).27

Portanto, a fixação do quantum se dá a partir da verificação de sua amplitude e o caráter


subjetivo, verificando uma forma de compensar o ofendido e também punir o empregador
ofensor, respeitando os quesitos de parâmetros razoáveis da condenação.

3.2 DANOS EXTRAPATRIMONIAIS À PARTIR DO ADVENTO DA LEI Nº13.467/17

Da interpretação literal da lei, se extrai, que após a entrada em vigor da Lei


nº13.467/17, que foi denominada como Reforma Trabalhista, qual alterou artigos substanciais
do Decreto-Lei nº5.452/1943, além de dirimir acerca de novas disposições, principalmente
relacionada ao dano extrapatrimonial.
Com a nova disposição legislativa, e a redação dada ao artigo 223-A, que permeia a
aplicação apenas dos artigos previstos na CLT, com referência ao dano extrapatrimonial.
Todavia, a inclusão dos artigos 223-A, até o artigo 223-G, gerou diversos
questionamentos no âmbito jurídico, principalmente com relação a sua constitucionalidade, em
virtude das incongruências e controvérsias existentes, que refletem diretamente nas condições
de dano extrapatrimonial.
Nas palavras de Rodolfo Weigand Neto e Gleice Domingues da Silva:

Ocorre que essa quantificação sempre gerou grande polêmica e debates, já que decorre
de um sentimento puramente subjetivo. E, nessa linha, o que pode ser ofensivo para
alguma pessoa, pode não ser para outra. Ou ainda que seja, pode não ser tão grave
quanto o foi para a primeira.28

Portanto, se passa a análise dos artigos trazidos pela Lei nº13.467/17, com relação
dano extrapatrimonial, no tópico abaixo.

27SAGRILO, Ana Rosa Pereira Zago. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário
nº 0000298-65.2010.5.04.0014. Data de julgamento: 15/03/2012.
28 Neto, Rodolfo Weigand, e Gleice Domingues de Souza. Reforma Trabalhista: Impacto no

cotidiano das empresas, 1ª edição. Editora Trevisan, 2018, p.187.


25

3.2.1 Análise dos artigos inseridos pela reforma trabalhista

No que tange a entrada em vigor da Lei nº13.467/17, qual resultou na alteração da


Consolidação das Leis do trabalho, sendo fato de grande notoriedade no mundo jurídico e
social, qual também trouxe a inclusão de novos artigos, passando a figurar o regramento
trabalhista dentro do ponto de vista jurídico pátrio.
Se tratando do dano extrapatrimonial, as inovações trouxeram os artigos
correspondentes ao 223-A, até 223-G.
O artigo 223-A, previu que apenas as normas ali aplicadas, seriam utilizadas para a
resolução de demandas quanto ao dano extrapatrimonial.
A limitação da reparação oriunda do dano extrapatrimonial, à apenas o ofendido, se deu
com a chegada do artigo 223-B.
O instituto trouxe de forma taxativa os bens ali tutelados, se estendendo especificamente
entre pessoas físicas e pessoais jurídicas, qual cumpre ressaltar foi omisso quanto aos direitos
de personalidade, conforme se verifica no artigo 223-C e artigo 223-D.
O rol de quem são os responsáveis pela origem do dano extrapatrimonial, se deu com a
chegada do artigo 223-E. Inobstante demonstrar que a definição do presente artigo, determina
a possibilidade de subsidiariedade e solidariedade ao cumprimento da regra.
A partir da leitura do artigo 223-F, se verifica que há previsão para a cumulação de
indenizações, sejam elas nos âmbitos extrapatrimoniais e materiais, qual adveio da Súmula nº37
do Superior Tribunal de Justiça.
Se tratando da maior polemica entre os artigos citados, se encontra o artigo 223-G, que
determina os critérios quais o julgador deve considerar para o arbitramento do quantum. Sendo
taxativo em relação a sua quantificação, com base no salário recebido pelo empregado.
Portanto, se percebe que a presente alteração legislativa, mais precisamente em relação
ao dano material, trouxe inúmeras controvérsias nos artigos citados, gerando oposições a sua
utilização na prática.

3.2.1.1 Da taxatividade das alterações

Com a leitura dos artigos 223-C e 223-D, ambos advindos da Lei nº13.467/17, se
apresentam de forma a determinar os bens que podem ser juridicamente tutelados, ou seja,
26

sendo passíveis de reparação, caso a ação viole seus critérios. Sendo o artigo 223-C que tutela
os bens inerentes à pessoa física. Já o artigo 223-D, determina juridicamente os bens jurídicos
inerentes à pessoa jurídica.
Os dispositivos que se encontram no rol destacado, não necessariamente se apresentam
como taxativos.
Porém, o rol apresentado deve ser visto de maneira exemplificativa, tendo em vista que
a Constituição Federal, combate qualquer discriminação, conforme artigo 3º, inciso IV.
Inobstante destacar que o rol trazido pelas alterações, principalmente o artigo 223-C, da
Consolidação das Leis do Trabalho, não traduz os aspectos pertinentes ao artigo 3º, inciso IV,
da Constituição Federal, bem como é omissa a outros listados.29
Considerando o desarraigo do legislador em tentativa de ser taxativo quanto à inovação
legal, o julgador com a utilização dos preceitos trazidos pela Carta Magna, deve garantir os
direitos de personalidade.
Deve-se ainda salientar, que a taxação de determinados aspectos trazidos, eivam a
inconstitucionalidade, conforme o ordenamento jurídico pátrio, que preceitua os direitos
constitucionais sobre os infraconstitucionais, principalmente os que se relacionam à dignidade
da pessoa humana.

3.2.1.2 Da limitação da legitimidade do direito à reparação

As pretensões à indenização por ofensa aos bens tutelados pelo direito extrapatrimonial
no âmbito trabalhista, a partir da promulgação da Lei nº13.467/17, trouxeram consigo a relação
de legitimidade quanto à sua pretensão.
A partir do artigo 223-B, o legislador ligou a legitimidade diretamente ao ofendido, sem
que fosse possível sua titularidade à sucessão.
Nas palavras de Bezerra Leite:

Na verdade, o legislador reformista confundiu propositadamente direito da


personalidade com direito personalíssimo, a fim de reduzir a interpretação e a
aplicação das normas que dispõem sobre danos morais no âmbito da Justiça do
Trabalho, o que nos parece inconstitucional, por violar a cláusula de separação de

29DELGADO, Maurício Godinho. A reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lei


13.467/2017. – São Paulo: LTr, 2017, p.146.
27

poderes e a independência dos órgãos judiciais especializados (juízes e tribunais do


trabalho) que integram o Poder Judiciário brasileiro.30

Ainda neste diapasão, o Tribunal Superior do Trabalho, por sua vez, adota o pressuposto
da Súmula nº392, qual determina que os sucessores e dependentes do ofendido são legítimos à
reparação do dano.
Nas palavras de Delgado:

Como parâmetro geral, o preceito é, evidentemente, válido. Porém, conforme se


conhece da diversidade das situações sociojurídicas existentes no mundo do trabalho,
há pretensões que podem, sim, ser de titularidade de pessoas físicas ligadas afetiva,
econômica e/ou juridicamente à pessoa humana afrontada, tal como pode ocorrer com
a( o) esposa( o) ou a( o) companheira( o) e os filhos da vítima de danos extra
patrimoniais. Na hipótese do evento morte da vítima, tais pretensões são manifestas
e, em princípio, garantidas, abstratamente, pela ordem jurídica (embora, é claro, na
prática, fiquem na dependência da reunião efetiva dos requisitos legais para a
incidência das indenizações previstas no Direito).31

Fica evidente que a chegada dos determinados preceitos atua de forma a limitar os
direitos do ofendido e seus dependentes, afrontando de forma direta a Constituição Federal,
principalmente aos artigos 5º e 7º, bem como o princípio da dignidade de pessoa humana,
conforme artigo 1º, inciso III, da Carta Magna.

3.2.1.3 Da acumulação de indenizações

Se denota que o ato ilícito diante da sua caracterização e bem jurídico atingido, pode
ocasionar mais de um dano no âmbito extrapatrimonial. Contudo, a Lei nº13.467/17, trouxe
consigo a vedação da possibilidade da acumulação de indenizações, em seu artigo 223-G, §1º.
Observando a norma contida na Constituição Federal, principalmente em seu artigo
5º, incisos V e X, quando violado o direito de personalidade, pelas ofensas à honra, à imagem
e à integridade física, além do dano estético, pode haver configuração do dano material e moral.

30 LEITE, 2021, p. 32
31 DELGADO, 2017, p.146
28

O Superior Tribunal de Justiça, na mesma conduta, já entendeu que em apenas um fato


gerador, pode ocorrer danos de origem patrimonial, estético e moral, podendo ser cumulado,
conforme Súmula nº37 e Súmula nº387.
A não acumulação do referido dano, segundo entendimento de Cassar e Borges 32, não
seria justa, visto que não traria o conceito de reparação e seria contrária ao instituto da punição
do agente ofensor.
Visto isso, se observa que a vedação à acumulação de indenizações pelo dano
extrapatrimonial, em virtude do mesmo fato são contrários ao instituto da responsabilidade
civil, bem como às normas constitucionais e aos entendimentos jurisprudenciais e súmulas
aplicadas na espécie, sendo necessária a análise da (in) constitucionalidade das alterações
trazidas pelo texto.

32CASSAR, Vólia Bomfim.; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à reforma trabalhista. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017, p. 41.
29

4 DA ANÁLISE DA (IN) CONSTITUCIONALIDADE DAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS


PELA INSERÇÃO DO ART. 223-G, §1º DA CLT

Em alusão ao tópico anterior, se torna consabido que o disposto no artigo 223-G, §1º da
Consolidação das Leis do Trabalho, pode ser considerado ao ordenamento jurídico pátrio, assim
como ao entendimento firmado pelos tribunais e doutrinadores.
Há de se salientar, que a adesão do presente artigo, não traz somente contrariedade com
relação ao sentido de cumulação do dano, mas também parte do pressuposto de tarifação.
O §1º, do artigo 223-G, traz de forma literal a taxatividade do dano, qual, transmite a
ideia de que o legislador tentou efetuar uma visão diferenciada sobre cada ofendido de acordo
com seu salário. Sendo que além de tal alusão, também de forma taxativa, especifica o grau da
ofensa, comparada ao valor pertinente aos danos extrapatrimoniais, sendo demonstrado a
seguir.

4.1 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA TARIFAÇÃO DOS DANOS


EXTRAPATRIMONIAIS

A reparação do ofendido, segundo a responsabilidade civil, sempre visou além da


reparação do dano, a punição do ofensor, para que a conduta ilícita não venha a ser repetida.
Porém o advento da Lei nº13.467/17, em seu artigo 223-G, §1º, taxou o dano extrapatrimonial
na justiça do trabalho, o que trouxe grande insegurança jurídica.
Nesse diapasão, Henrique Correia33, segundo analogia realizada, define que a partir da
Súmula nº281 do Superior Tribunal de Justiça, não há possibilidade de tarifar o dano moral.
Entendimento que traz a partir de alusão ao exposto pelo Ministério Público do Trabalho, qual
entende que a tarifação do dano é inconstitucional, em razão da limitação trazida.

33CORREIA, Henrique. Direito do trabalho para concursos de analista do TRT, TST e MPU. 12.
Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2018, p.1.190-1.191.
30

Embora o instituto tenha grande proporção que possa aduzir sua inconstitucionalidade,
há posicionamentos que entendem a tarifação do dano, como a parametrização de seu valor,
que pode ser fonte de maior segurança jurídica. 34
Ademais, cumpre ressaltar que o instituto da tarifação do dano, no sentido de seus
multiplicadores, quais são determinados a partir do grau de ofensa verificado pelo julgador e
especificados pelo legislador, possuem correntes distintas entre os tribunais e doutrinadores.
No mesmo sentido, o desembargador Gabriel Napoleão Velloso Filho35, entende que
os limites impostos pelo advento do citado artigo, ofende diretamente o princípio da dignidade
da pessoa humana e princípios da isonomia e da reparação dos danos garantidos pela
Constituição Federal.
Ainda nesse sentido, preceitua Gustavo Cisneiros:

Com a Reforma Trabalhista, alguns parâmetros foram fixados para a indenização por
dano extrapatrimonial. Tais parâmetros são inconstitucionais, pois usam o “salário”
do empregado para a fixação do valor da indenização. Os incisos I a IV do § 1º do art.
223-G da CLT violam o caput do art. 5º da CF (princípio da isonomia) e o inciso III
do art. 1º da CF (princípio da dignidade da pessoa humana).36

Já Rodolfo Carlos Weigand Neto e Gleice Domingues de Souza37, entendem que a


reforma foi necessária para garantir o direito dos empregadores, que vinham sofrendo com
severas penalidades de cunho indenizatório, trazendo ao legislador a necessidade de
padronização para evitar quantificações excessivas.
Em consonância ao observado, cumpre ressaltar que a tarifação do dano
extrapatrimonial, conforme preceitua o artigo 223-G da Consolidação das Leis do Trabalho,
atinge diretamente o artigo 5º, inciso V e X, da Constituição Federal, qual prevê a
proporcionalidade do dano na medida de sua ofensa.
No mesmo seguimento, além da inconstitucionalidade aduzida, a presente
quantificação do dano, no que tange a natureza da ofensa, conforme prevê o artigo 223-G, §1º,

34 SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O dano extrapatrimonial na Lei n. 13.467/2007, da reforma trabalhista.
Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba/PR, v. 7, n. 62, p. 62-69,
set./out. 2017. Disponível em: http://bit.ly/2P3kRmM. Acesso em: 1 mar. 2019.
35 FILHO, Gabriel Napoleão Velloso Filho. Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. Incidente de

Arguição de Inconstitucionalidade Cível nº0000514-08.2020.5.08.0000. Data de


Julgamento:16/09/2020.
36 Cisneiros, Gustavo. Direito do Trabalho Sintetizado / Gustavo Cisneiros. – 2. ed. – Rio de Janeiro:

Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. P.147


37 NETO, 2018, p. 188.
31

vai totalmente contra ao bem tutelado especificado na responsabilidade civil, e ao princípio da


dignidade da pessoa humana.
Ademais, a afronta trazida pelo §3º, do artigo 223-G, afasta o caráter educativo do
instituto, visto que necessariamente a reincidência deve ocorrer por partes idênticas a lide.
Não obstante, a ideia do legislador vai totalmente contra o preconizado nos tribunais
pátrios, tendo em vista que através da decisão judicial, serão medidos os danos conforme o caso
em si, com função equiparar a forma pecuniária ao dano sofrido, sem que haja uma grande
discrepância entre os dois institutos.
Nas palavras de Paulo Sanseverino:

Se as objeções doutrinárias à incidência plena do princípio da reparação integral aos


danos extrapatrimoniais possuem bons argumentos, especialmente em função das
dificuldades de se mensurar economicamente a lesão a um bem jurídico sem conteúdo
patrimonial, isso não afasta completamente a importância da atuação do princípio
também nessa seara.
A indenização pecuniária, efetivamente, não terá função compensatória, como ocorre
no ressarcimento dos danos patrimoniais, mas satisfatória, em face da ausência de
conteúdo econômico dos prejuízos extrapatrimoniais, o que não impede uma
aplicação mitigada do princípio da reparação integral, considerando-se a sua tríplice
função (reparatória, indenitária e concretizadora): todo o dano; não mais que o dano;
avaliação concreta dos prejuízos.38

Ainda nessa conjuntura, o legislador buscou tarifar o dano extrapatrimonial, conforme


o salário do ofendido, o que não pode ser aceitável, tendo em vista que a tentativa se remete a
aplicar valoração à dignidade do lesado, que nas palavras de Cássio Casagrande:

Não se pode ter como válido o postulado de que a dignidade da pessoa humana decorra
de seu “pertencimento” a uma posição no mercado de trabalho (e, pior ainda, de que
a dignidade será tanto menor quanto menos ela receba). Aceitar esta ideia é o mesmo
que dizer que a dignidade depende do pertencimento a uma raça, etnia ou religião.
Isto contraria o imperativo categórico kantiano, crucial para a definição da
modernidade e dos direitos humanos, de que todos os homens são dignos de igual
consideração e respeito.39

38
SANSEVERINO, Paulo Traso. Princípio da Reparação Integral, 1ª EDIÇÃO. p, 269
39
CASAGRANDE, Cássio. A reforma trabalhista e a inconstitucionalidade da tarifação do dano
moral com base no salário do empregado. 2017, p. 68-69
32

Nesse sentido, o Tribunal Regional do Trabalho, em voto proferido pela Relatora Lais
Helena Jaeger Nicotti, em Declaração Incidental de Inconstitucionalidade, entendeu que o §1º
do artigo 223-G da Consolidação das Leis do Trabalho, afronta diretamente o direito à
igualdade, conforme colacionado voto:

DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. CRITÉRIOS


PARA A FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PARÁGRAFO
1º DO ARTIGO 223-G da CLT. É inconstitucional o parágrafo 1º do artigo 223-G
consolidado, inserido na CLT pela Lei nº 13.467/2017, já que ao preestabelecer o
valor da indenização de acordo com o patamar salarial do empregado, indicando o
salário contratual como único critério de arbitramento do valor da reparação,
caracteriza inegável discriminação e afronta o direito à igualdade ao tratar
desigualmente trabalhadores. Violação aos artigos 5º, caput, e 3º, IV, ambos da
Constituição Federal de 1988, que se tem por configurada.40

No que concerne aos princípios constitucionais, se pode verificar que o dispositivo


fere diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana especificado no artigo 1º, inciso
III, bem como o princípio da isonomia, exposto no caput, do artigo 5º, ambos da Constituição
Federal.
Nesse seguimento, a inconstitucionalidade do §1º do artigo 223-G, da Consolidação
das Leis do Trabalho, foi tema de julgamentos recorrentes no Tribunal Superior do Trabalho,
qual nas palavras de Evandro Valadão Lopes:

Assim, é evidente que o dispositivo infraconstitucional acima transcrito fere o caputdo


artigo 5º da Constituição ao graduar as ofensas resultantes do dano extrapatrimonial e
vincular sua reparação ao valor do último salário contratual do ofendido.
A ofensa constitucional fica manifesta ao se levantar a hipótese, não rara, de dois
trabalhadores, empregados de uma mesma empresa, sofram o mesmo dano
extrapatrimonial no mesmo ato ilícito.
Não há como se admitir que a honra, a imagem ou qualquer outro bem
extrapatrimonial de um ser humano tenha menor valor do que os mesmos bens de seus
semelhantes simplesmente porque ganha menor salário.
Diante de todo o exposto, declaroa inconstitucionalidade do §1º do art. 223-G da CLT
e de seus incisos.41

40 NICOTTI, Lais Helena Jaeger. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Incidente de declaração
de inconstitucionalidade nº0021089-94.2016.5.04.0030. Data de Julgamento 01/07/2020.
41 LOPES, Evandro Pereira Valadão. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso

de Revista nº963-14.2016.5.06.0015. Data do Julgamento: 27/04/2020.


33

Com relação ao princípio da dignidade da pessoa humana, Alexandre de Moraes


preceitua:

A aplicação dessas regras de interpretação deverá, em síntese, buscar a harmonia do


texto constitucional com suas finalidades precípuas, adequando-as à realidade e
pleiteando a maior aplicabilidade dos direitos, garantias e liberdades públicas.
Ressalte-se, contudo, que a supremacia absoluta das normas constitucionais e a
prevalência do princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento basilar da
República obrigam o intérprete, em especial o Poder Judiciário, no exercício de sua
função interpretativa, aplicar não só a norma mais favorável à proteção aos Direitos
Humanos, mas, também, eleger em seu processo hermenêutico, a interpretação que
lhe garanta a maior e mais ampla proteção.42

Ainda nesse sentido, com relação ao princípio da isonomia, de forma análoga o autor
entende:

O que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas. Além


disso, a visão instrumentalista do processo, preocupação dos modernos estudiosos do
direito processual, reestuda os institutos básicos do direito processual (jurisdição,
ação, defesa, a relação jurídico-processual e o procedimento), para demonstrar que a
ciência processual, em que pese sua autonomia em relação ao direito material, deve
ser encarada como um instrumento daquele mesmo direito material e, assim, o
procedimento, que integra o conceito do processo, deve atender a essa visão
teleológica.43

Ora, considerando a afronta direta aos institutos constitucionais e aos princípios da


isonomia e dignidade da pessoa humana, quais também são garantidos pela Carta Magna, é
consabido a inconstitucionalidade do artigo 223-G, §1º, devendo o julgador optar por sua
nulidade ao definir o contexto da lide, respeitando os princípios trazidos pela responsabilidade
civil, e adequando os julgados à hermenêutica jurídica.
Portanto, tendo em vista todas as afrontas existentes trazidas com a Lei nº13.467/17, a
Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho, não se manteve inerte, propondo Ação

42 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. Grupo GEN, 2020, p, 15.


43 MORAES, 2020, p. 40.
34

Direta de Inconstitucionalidade, sobre o nº6050, qual será devidamente debatido no tópico


abaixo.

4.2 DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº6050

Em razão da discordância existente com o advento do artigo 223-G, §1º, oriundos da


Lei nº13.467/17, houve a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade, com fulcro ao
artigo 7º, inciso XXVIII, da CF, distribuída sob o nº6050.
A demanda proposta pela Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho, traz a
informação de que a lei não pode impor limitação do Poder Judiciário em caso de limitação da
fixação do dano moral ocasionando em claro impedimento do exercício da jurisdição, visto que
obriga ao julgador seguir seus ditames, afastando a possibilidade de interpretação.
Destacou em seus argumentos que a discussão da matéria traz semelhança à apreciação
da inconstitucionalidade da Lei de Imprensa, qual também trazia em seu texto, fixação para
indenizações por dano moral, sendo considerada inconstitucional, pelo julgamento da ADPF
nº130.
É trazido pela Associação, que a tarifação contida, com relação a base salarial do
ofendido, fere diretamente o princípio da isonomia, qual possui previsão no artigo 7º, inciso
XXVIII, da Constituição Federal, tendo em vista que contraria o sentido da indenização na
medida ampla da ofensa ao trabalhador, afastando a incidência da MP n. 808, devido a sua
perda de vigência.
Inobstante destacar, que a ação busca a suspensão da tarifação contida nos incisos I,
II, III e IV do §1º, do artigo 223-G da CLT, com relação a afronta direta ao artigo 5º, incisos V
e X e artigo 7º, inciso XXVIII. Caso não sejam aceitos os argumentos de suspensão, pugnam
pela interpretação dos ditames de acordo com o estabelecido na Carta Magna, podendo os
julgadores adequarem o dano conforme couber, estabelecendo decisão fundamentada.
Nos argumentos trazidos, a medida cautelar se fundou justificadamente pela
inconstitucionalidade dos incisos I a IV do §1º do artigo 223-G, trazido pela Lei nº13.467/17,
tendo sua suspensão imediata, para fins de evitar uma grave insegurança jurídica, visto o
periculum in mora44, do prosseguimento dos ditames trazidos.

44O termo periculum in mora, literalmente se refere ao perigo da demora. Sendo necessário a rápida
apreciação do pedido pelo Poder Judiciário, que caso contrário, poderá trazer dano grave ou de difícil
reparação ao bem tutelado.
35

Se entende que a presente embora sendo posterior à promulgação da Constituição


Federal, não atendeu aos princípios constitucionais existentes, visto que impõe limitação ao
dano extrapatrimonial, impedindo que o Poder Judiciário fixe da forma aplicada ao caso, os
valores referentes ao dano, de acordo com o caso em si.
Em destaque, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho, deixou claro que
a lei não poderá impor qualquer limitação ao Poder Judiciário para fixar dano extrapatrimonial,
visto que é necessária a interpretação do juízo de acordo com o fato e o dano causado.
Nas palavras de Alexandre de Moraes, acerca da Ação Direta de Inconstitucionalidade,
preceitua:

A finalidade da ação direta de inconstitucionalidade é retirar do ordenamento jurídico


lei ou ato normativo incompatível com a ordem constitucional, constituindo-se, pois,
uma finalidade de legislador negativo do Supremo Tribunal Federal, nunca de
legislador positivo. Assim, não poderá a ação ultrapassar seus fins de exclusão, do
ordenamento jurídico, dos atos incompatíveis com o texto da Constituição.
A ação direta de inconstitucionalidade, em virtude de sua natureza e finalidade
especial, não é suscetível de desistência. 45

Visto isso, considerando a inconstitucionalidade da tarifação do dano extrapatrimonial,


e a contrariedade com o princípio da dignidade da pessoa humana especificado no artigo 1º,
inciso III, bem como o princípio da isonomia, exposto no caput, do artigo 5º, ambos da
Constituição Federal, conforme já visto no tópico anterior, se espera que seja declarada a
inconstitucionalidade da presente.
Ainda no que concerne aos casos na prática, se pode verificar que o acidente ocorrido
em Brumadinho/MG, teve grande demora com relação a realização dos acordos, tendo em vista
a insegurança jurídica trazida pela Lei nº13.467/17, com relação a tarifação do dano
extrapatrimonial. Porém, conforme as informações do TRT da 3ª Região, foi possível a
homologação dos acordos envolvendo as famílias, sem que houvesse observação a norma
contida no §1º, do artigo 223-G, da CLT, tendo em vista que os parentes em primeiro grau das
vítimas, receberão em média R$ 700.000,00(setecentos mil reais), considerando os valores de
dano moral e título de seguro social, enquanto que os irmãos receberão R$ 150.000,00(cento e
cinquenta mil reais), à título de dano moral.46

45MORAES, 2020, p. 806


46Tribunal Superior do Trabalho. Justiça do Trabalho homologa acordo em favor das vítimas de
Brumadinho e de seus familiares. TRT3. Data de publicação: 17/07/2019.
36

Neste diapasão, se verifica a necessidade de desfecho do tema, tendo em vista que sua
ausência de julgamento até o momento, tem trazido óbice para formalização de acordos, bem
como insegurança jurídica com relação aos julgamentos pertinentes.
Atualmente a ADI nº6050, se encontra pendente de julgamento, juntamente ao
Ministro Relator Gilmar Mendes. A perspectiva é que seja declara a inconstitucionalidade dos
incisos I a IV, do §1º, do artigo 223-G, da Consolidação das Leis do Trabalho, tendo em vista
toda a afronta constitucional suscitada, bem como ao instituto da responsabilidade civil.
37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, é possível verificar que a Consolidação das Leis do Trabalho,
teve sua iniciativa legislativa para os fins de proteger o trabalhador, parte mais vulnerável na
relação de labor, qual foi atribuída força a partir da promulgação da Constituição Federal de
1988.
Nesse sentido a chegada da Lei nº13.467/17, ao invés de garantir a evolução na ordem
de garantias constitucionais e respeitar os ditames da responsabilidade civil, trouxe consigo o
retrocesso em relação às condições sociais.
O legislador em alegação para alusão a pretendida reforma, citou como pretexto a
flexibilização das normas trabalhistas, com fins específicos de aumento de empregos dentro do
ponto de vista pátrio.
Com o advindo da redação dada ao §1º, do artigo 223-G da Consolidação das Leis do
Trabalho, se pode verificar que a tentativa do legislador na não banalização do tema, não
correspondeu às expectativas, trazendo grande insegurança jurídica, com relação a
padronização das indenizações de acordo com o salário recebido pelo ofendido.
Não obstante, se entende que o citado artigo fere diretamente o contido no caput, do
artigo 5º, da Constituição Federal, com relação as desigualdades que serão produzidas, ferindo
o princípio da isonomia.
Através dos estudos comparativos, entre as disposições anteriormente existentes na
Consolidação das Leis do Trabalho, e as novas trazidas pela Lei nº13.467/17, fica claro a
inconstitucionalidade dos dispositivos do Título II-A.
Entretanto, mesmo que seja consabido a afronta produzida, o legislador com a redação
do artigo 223-A, determinou a aplicação exclusiva dos novos dispositivos, fazendo com que o
julgador não aplicasse o instituto do dano extrapatrimonial conforme seu próprio entendimento
e características do caso em si.
Na sequência o artigo 223-B, limitou a legitimidade para pleitear o dano
extrapatrimonial, sendo somente cabível ao ofendido em si, afastando a incidência sobre seus
sucessores.
O artigo 223-C e 223-D, trouxeram a taxação dos bens juridicamente tutelados,
afastando a incidência do dano extrapatrimonial sobre os direitos inerentes a personalidade,
afrontando os princípios constitucionais.
38

E artigo 223-G, qual tem enfoque na presente pesquisa, se torna o mais contraditório
perante o ordenamento jurídico pátrio. Sua aplicação, limita todas as proteções do empregado,
cuja redação especifica a impossibilidade de acumulação de indenizações, além do fato de que
seu §1º, traz consigo a tarifação do dano, de acordo com o salário do ofendido.
Seu advento fere diretamente o contido no artigo 5º, inciso V e X, bem como artigo 7º,
inciso XXVIII, ambos previstos na Constituição Federal, que determinam que o dano causado
deve ser reparado na mesma proporcionalidade de seu fato gerador.
No mesmo seguimento, cumpre salientar que a tarifação do dano extrapatrimonial,
atinge os princípios da dignidade da pessoa humana e o princípio da isonomia, que em razão da
diferença salarial, o empregado ofendido que possuí salário maior, terá indenização em maior
valor do que o empregado ofendido de salário menor, mesmo que o dano causado tenha as
mesmas proporções.
Por sua vez, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho não se manteve inerte
perante tal absurdo, sustentando através da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6050, com
base no mesmo modelo de tarifação observado por analogia qual existia na Lei de Imprensa,
votada pelo ADPF nº130/2009, qual não foi recebida pela Constituição Federal.
Portanto, é esperado que a ADI n. 6050, tenha resultado positivo, declarando a
inconstitucionalidade dos artigos relacionados ao dano extrapatrimonial, sendo a manutenção
do sistema interpretativo do julgador, adequando os parâmetros ao caso em espécie, refletindo
diretamente no valor do dano.
Todavia, é cediço que enquanto não houver julgamento da inconstitucionalidade dos
artigos citados, os julgadores dos órgãos da justiça do trabalho, devem aplicar o sistema
interpretativos nas lides em si, considerando os aspectos de hermenêutica, classificação e
potencialidade do dano, definindo seu arbitramento com base no direito positivo, sempre
respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos inerentes ao trabalhador
previstos no artigo 7º da Constituição Federal.
39

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