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GUAÍBA, RS
2022
1Bacharel em Direito pela Universidade Luterana do Brasil – Guaíba/RS, advogado inscrito na OAB/RS
125.731, pós-graduando em Direito do Trabalho e Previdenciário e pós-graduando em Direito
Administrativo e Gestão Pública
RESUMO
The legislator, with the objective of promoting legal security, enabling the creation of new jobs
and strengthening existing rights, approved Law nº 13.467 / 17, known as the Labor Reform.
However, the content of the above legislation did not reach the proposed objective, bringing
legal uncertainty in its provisions. Not that it refers to a survey of off-balance sheet damage in
the scope of labor law, being the interest of the majority of the Brazilian population, it serves
as a parameter to justify the present study. Therefore, the present study from its practical
application with bibliographical reviews, doctrines and jurisprudence, separation beyond the
theoretical discussion, its social complementarity and repercussion of the application in the
species. From the study produced, there was an analysis of the unconstitutionality of §1 of
article 223-G of the CLT, following the dictates of the Federal Constitution, civil liability and
positive law.
Keywords: Civil Liability; Off-balance sheet damage; Labor Reform; and Unconstitutionality.
4
INTRODUÇÃO
Embora a Consolidação das Leis do Trabalho, conhecida como voltada aos direitos do
empregado, com o advento da Lei nº13.467/17, qual foi denominada reforma trabalhista, o
legislador produziu entendimento focado na flexibilidade comum da norma, principalmente
objetivando os direitos inerentes ao empregador.
As alterações trazidas pela norma, especificamente quanto ao dano extrapatrimonial,
couberam produção dos novos artigos 223-A a 223-G, que trouxeram novas determinações
acerca da configuração do dano.
Dentre os artigos trazidos à nova legislação, a tarifação do quantum do dano
extrapatrimonial, talvez o mais discutido, se deu presente a partir do §1º, do artigo 223-G.
Partindo dessa premissa, considerando o ordenamento jurídico pátrio, bem como os
preceitos constitucionais, o presente estudo pretende expor o dano extrapatrimonial, bem como
analisar sua constitucionalidade e trazer o entendimento doutrinário e jurisprudencial.
O estudo de caso objeto desta pesquisa, se deu basicamente através da promulgação da
Lei nº13.467/17, especificamente com relação ao §1º do artigo 223-G, qual determinou o valor
do dano extrapatrimonial a ser aplicado em demandas trabalhistas, utilizando como base o
salário do empregado.
Diante da presente discussão acerca da constitucionalidade do referido artigo, a busca
dos entendimentos se deu a partir de revisões bibliográficas cumulado de doutrinas,
jurisprudência e artigos científicos. Partindo das decisões judiciais, é trazido ainda a sua
aplicação direta no processo de trabalho, com decisões judiciais terminativas que trouxeram
relevância a ordem social.
Ademais, o estudo em doutrinas especifica o assunto como um todo, trazendo enorme
conhecimento e saber da área, através dos exemplos práticos e entendimento doutrinário, para
verificar os autores que defendem a constitucionalidade da norma, bem como aqueles que
alegam sua inconstitucionalidade.
A evolução traz consigo a mudança, o que ocasiona no desenvolvimento e na mudança
de cenários que envolvam diretrizes sociais. Por consequência, o legislador no intuito de
promover a referida evolução, entendeu através da Lei nº13.467/17, que seria necessário a
padronização do dano extrapatrimonial de acordo com o salário percebido pelo empregado.
Para fins de trazer ao leitor, esclarecimentos acerca do tema tratado, esta obra se dividiu
em quatro partes, sendo: Responsabilidade Civil; Responsabilidade Civil na Justiça do
5
1 RESPONSABILIDADE CIVIL
Como se sabe, o direito positivo traz consigo as regras necessárias para que a
convivência social seja possível, através da conduta humana. Para que haja o mínimo de
respaldo com relação a essas regras, todos aqueles que desrespeitam ou acabam por infringir,
são punidos, desde que causem danos aos direitos sociais tutelados.
Podemos definir que no direito, a responsabilidade é um dever jurídico sucessivo às
consequências jurídicas de um certo fato, podendo estas variarem.
A seguir será abordado o conceito do presente instituto, bem como os elementos
caracterizadores da responsabilidade civil e o dever de reparação.
pertencente a outrem, traz o dever de uma forma de reparação, sendo no panorama material ou
moral.
Segundo Gonçalves:
Quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de que resulte dano, deve suportar as
consequências do seu procedimento. Trata‐se de uma regra elementar de equilíbrio
social, na qual se resume, em verdade, o problema da responsabilidade. Vê‐se,
portanto, que a responsabilidade é um fenômeno social (LYRA, 199, p.30). O dano,
ou prejuízo, que acarreta a responsabilidade, não é apenas o material. O direito não
deve deixar sem proteção as vítimas de ofensas morais3
É cediço que o Estado como ente garantidor dos direitos tutelados pertencentes a
sociedade como um todo, deve trazer proteção aos indivíduos que sejam lesados por atos ilícitos
praticados por outrem.
Portanto, o instituto da responsabilidade civil é indispensável para que seja possível
conviver em sociedade, com o intuito não apenas de reparar o dano ao lesado, mas também
observando o caráter punitivo, trazendo ao autor da lesão, punição sobre o cometimento do ato
ilícito. Nos próximos capítulos, será possível observar a responsabilidade civil no âmbito
trabalhista.
Para que seja figurada a responsabilidade civil, é necessário que seja observado
elementos caracterizadores. É importante frisar que é necessário um fato que gere dano, quando
este dano for gerado, é necessário haver a designação da responsabilidade a partir do fato
gerador, a quem tenha cometido, sendo permeado ao sujeito que cometeu o dano.
Entretanto, a responsabilidade civil necessariamente vincula outros requisitos para a
adequação de sua configuração, bem como identificador do sujeito causador do dano.
Portanto, a ação é o fato gerador da responsabilidade civil, desde que seja causado por
alguém e traga prejuízo a outrem, de forma patrimonial ou extrapatrimonial, material ou moral.
Os elementos caraterizadores podem ainda serem encontrados no artigo 186 do Código
Civil, sendo a conduta humana de forma positiva ou negativa; o dano ou prejuízo; e o nexo de
causalidade.
1.2.2 Dano
2016, p.1
9
1.2.3 Conduta
7DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 26. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 56.
10
Tanto a responsabilidade civil objetiva quanto subjetiva, possuem papel quanto aos
deveres de indenização e reparação do dano causado, sendo distintas no que tange a existência
de culpa do ofensor.
Nesse contexto, se pode configurar a responsabilidade subjetiva como aquela qual o
dano foi causado unicamente por culpa do ofensor, ou seja, com sua ação direta no ato ilícito
praticado.
O Código Civil, no caput do art. 927, abrange que na ocorrência do ato ilícito, o
ofensor está obrigado a repará-lo, com base nos artigos 186 e 187 do mesmo diploma legal.
Partindo do seguimento acima, se pode caracterizar a intenção do legislador em dar base a
responsabilidade civil subjetiva.
Já a responsabilidade civil objetiva, é o dano gerado pelo risco da atividade ilícita,
qual, embora juridicamente legal, acarreta perigo a outrem.
Nas palavras de Gonçalves:
8LÔBO, Paulo. Direito civil: volume 3: contratos. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p.
21(Livro digital).
12
1.3.3 Extrapatrimonial
No que tange a responsabilidade civil extrapatrimonial, esta também deve ser eivada
de nexo de causalidade e dano. Porém, pode-se dizer que a responsabilidade extrapatrimonial
não atinge diretamente relação contratual, ou patrimônio do ofendido, mas sim, diretamente aos
institutos humanos e da pessoa.
Ainda é assunto de discussões, quanto ao nome do instituto, sendo que muitos autores
destacam como sendo dano moral. Contudo, outros autores entendem que o dano moral é ligado
como espécie de dano extrapatrimonial.
Visto isso, tamanha a preocupação do legislador com o instituto elencado, este é
encontrado com previsão direta na Constituição Federal, principalmente no artigo 5º, incisos V
e X.
Inobstante, o rol previsto nas terminologias legais, é apenas exemplificativo, sendo
necessária a verificação do fato em si, para a condenação do agente ao dano.
9 LÔBO, 2018, p. 22
13
Humberto Theodoro Júnior afirma que “é ato ilícito, por conseguinte, todo ato
praticado por terceiro que venha refletir, danosamente, sobre o patrimônio da vítima ou sobre
o aspecto peculiar do homem como ser moral.”10
O pressuposto existente acerca da denominação, como também de suas características,
pode ser extraído em diferentes sentidos. Nos termos conseguintes, Cavalieri Filho11, em sua
teoria específica que o dano moral se divide tanto no sentido estrito quanto no sentido amplo,
sendo sua caracterização de forma constitucional e de conceituação atual. Portanto, o dano
moral em sentido estrito, somente teria sua aplicabilidade com a violação do artigo 5º, incisos
V e X, da Constituição Federal. Ademais, o sentido amplo, tem sua definição em mais alguns
aspectos ligados a pessoa humana, mesmo que não haja dano a dignidade humana.
Segundo Fernanda Pereira Barbosa12, há grande diversificação na conceituação de
dano moral, sendo que existe uma linha seguida por autores, que entendem o dano como uma
espécie de ação que atinge diretamente o ofendido, tanto psicologicamente, quanto fisicamente,
sendo o conceito positivo. Entretanto, há outra linha que é remetida como conceito negativo,
cujo entendimento se pressupõe de todo dano que não atinge o caráter patrimonial.
Se remetendo ao dano moral, Carlos Alberto Bittar, pressupõe que
10 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Dano Moral, 8ª edição, Grupo GEN, 2016, p.1.
11 FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de responsabilidade civil – 10. ed. – São Paulo: Atlas, 2012,
p.92.
12 BARBOSA, Fernanda Pereira. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia. Dano Moral Coletivo
Biblioteca], p. 45
14
Cuidado para não confundir assédio moral com dano moral. Assédio moral é conduta
específica, enquanto dano moral é o resultado de qualquer conduta que provoque
perda imaterial ao empregado, normalmente ligada aos direitos da personalidade.
Assédio moral é a prática de perseguição insistente (constante) a um empregado ou
um grupo deles, com vistas à humilhação, constrangimento e isolamento do grupo,
prática esta que provoca danos à saúde física e psicológica do trabalhador, ferindo sua
dignidade.15
Ainda que não se ignore que, quanto ao acidente do trabalho e à doença ocupacional
a este equiparada, a jurisprudência dominante se posiciona no sentido de que a
responsabilidade civil do empregador pelos danos sofridos por seu empregado seria
subjetiva, entende-se que, comprovado o nexo causal entre o dano sofrido e o acidente
do trabalho, a culpa do empregador é presumida, em face da imposição ao trabalhador
de risco à sua integridade decorrente do trabalho prestado em favor daquele. 16
Portanto, se verifica a partir da doutrina e dos casos práticos, que a aplicação da teoria
civilista, sendo a adequação da responsabilidade civil, nas relações de trabalho, principalmente,
na verificação da configuração dos danos extrapatrimoniais, vem sendo cada vez mais
reconhecidas.
dissídios das relações de emprego. Posteriormente, vindo a apreciar todas as ações oriundas de
relação trabalhista, inclusive, aquelas referentes à responsabilidade civil.
O dano extrapatrimonial, era verificado através do Código Civil, qual até a chegada da
Lei nº13.467/2017, não possuía previsão na legislação trabalhista em vigor. Entretanto, a
subsidiariedade dos direitos civis, bem como a publicação da Súmula Vinculante nº22, do
Supremo Tribunal Federal19, permitiram que a justiça do trabalho pudesse processar e julgar
ações trabalhistas que tinham o cunho de indenizações por danos morais e patrimoniais,
oriundos de acidentes de trabalho.
Os entendimentos advindos da evolução do âmbito trabalhista, foram cruciais para
esclarecer as ações de indenização por danos morais, inclusive com a possibilidade de
propositura a partir de dependentes e sucessores do empregado ofendido, conforme ficou
previsto na edição da Súmula nº392, do Tribunal Superior do Trabalho.20
Portanto, consabido se demonstra a pacificação da competência da justiça do trabalho,
para julgar ações com o cunho indenizatório pelos danos extrapatrimoniais decorrentes das
relações de trabalho.
19 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 22: “A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente
de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam
sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004.”.
Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1259>.Acesso
em 11/06/2021.
20 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 392: “Nos termos do art. 114, inc. VI, da
através de “jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de
direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o
direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público.”21
Há de se considerar ainda, que embora a promulgação da Lei nº13.437/17, trouxe
alterações importantes, modificando a redação em algumas questões, é certo que o instituto de
observância das normas subsidiárias ainda deve ser aplicado, tendo em vista que previsão do
artigo 769, da CLT.
Outrossim, a aplicação das fontes do direito comum se mostra válida em todos os
âmbitos, tendo em vista a impossibilidade de previsão do legislador acerca de todas as
possibilidades de litígios que possam vir a ser objeto da prestação jurisdicional, no que tange a
resolução de demandas, inclusive com observância à aplicação do dano extrapatrimonial.
3 DO DANO EXTRAPATRIMONIAL
Porém, a nova redação estabeleceu diferenças nas bases citadas diretamente com
relação ao dano.
O direito do trabalho, com relação ao dano extrapatrimonial, anteriormente à reforma
trabalhista, era diretamente sustentado pela responsabilidade civil, que nas palavras de Rodolfo
Pamplona Filho, “O tema da responsabilidade civil é de relevante interesse social, sendo terreno
fértil para grandes debates jurídicos, ante o desenvolvimento das sociedades ao longo de
décadas23”.
As lacunas existentes no ordenamento jurídico, não é incomum, tendo em vista que o
legislador não pode prever todos os acontecimentos, que podem advir de cunho social, sendo
necessário ao julgador utilizar-se de fontes existentes no direito para prestar a devida prestação
jurisdicional.
Se pode considerar, que as lacunas são deficiências existentes no direito positivo, qual
resplandece as falhas do legislador em regulamentar determinadas situações fáticas, sendo que
as falhas admitem sua remoção através de decisão judicial para integrar a norma jurídica.24
23 LUSTOSA, Rodolfo Pamplona Filho, Cyntio Possídio e Karina Possídio. O dano extrapatrimonial
na reforma trabalhista. 2019, p. 1.
24 ENGISH, Karl. Introdução ao Pensamento Jurídico, p. 286
22
Partindo dessa premissa, foi garantido ao trabalhador a proteção contra o dano à saúde
e integridade física, respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana, em sua
personalidade e honra. Ficando o empregador responsável pelo ato, mesmo que esse seja
omissivo, com relação aos danos ocasionados ou empregado durante o contrato de trabalho.
Imperioso destacar, que não havendo dolo ou culpa do empregador, a responsabilidade
seria remetida à previdência social, considerando a responsabilidade objetiva. Todavia, se
tratando de verificação de culpa ou dolo do empregador, este deve indenizar o empregado
ofendido, sem que tenha o empregado, prejuízo na garantia acidentária, prevista no artigo 118,
da Lei nº8.213/91.
Quando decorrente a lide para a indenização por dano extrapatrimonial, assim como
nas condições necessárias previstas no processo civil, é necessária a comprovação de abalo
moral, bem como ofensa aos direitos de personalidade do ofendido, através do ato ilícito e nexo
de causalidade.
Nesse sentido, Beatriz Renck, decidiu pelo não provimento de recurso interposto pelo
reclamante, com relação ao dano moral, visto que não restou evidenciado o ato ilícito, ou ofensa
aos direitos de personalidade do trabalhador:
Diante disso, ainda que não tenha restado comprovado o pagamento das rescisórias,
em não havendo prova nos autos de ter sido a autora atingida em sua dignidade, honra
e boa fama, indevida é a indenização postulada, por não configurado o alegado dano
moral.25
26NETO, José Affonso Dallegrave. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. Editora LTr.,
2005, p. 216.
24
Pública atua orientada pelo interesse público, também é certo que ao celebrar
contratos de prestação de serviços, (TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0000298-
65.2010.5.04.0014 RO, em 15/03/2012, Desembargadora Ana Rosa Pereira Zago
Sagrilo - Relatora. Participaram do julgamento: Desembargadora Ana Rosa Pereira
Zago Sagrilo, Desembargadora Angela Rosi Almeida Chapper, Desembargador
Francisco Rossal de Araújo).27
Ocorre que essa quantificação sempre gerou grande polêmica e debates, já que decorre
de um sentimento puramente subjetivo. E, nessa linha, o que pode ser ofensivo para
alguma pessoa, pode não ser para outra. Ou ainda que seja, pode não ser tão grave
quanto o foi para a primeira.28
Portanto, se passa a análise dos artigos trazidos pela Lei nº13.467/17, com relação
dano extrapatrimonial, no tópico abaixo.
27SAGRILO, Ana Rosa Pereira Zago. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário
nº 0000298-65.2010.5.04.0014. Data de julgamento: 15/03/2012.
28 Neto, Rodolfo Weigand, e Gleice Domingues de Souza. Reforma Trabalhista: Impacto no
Com a leitura dos artigos 223-C e 223-D, ambos advindos da Lei nº13.467/17, se
apresentam de forma a determinar os bens que podem ser juridicamente tutelados, ou seja,
26
sendo passíveis de reparação, caso a ação viole seus critérios. Sendo o artigo 223-C que tutela
os bens inerentes à pessoa física. Já o artigo 223-D, determina juridicamente os bens jurídicos
inerentes à pessoa jurídica.
Os dispositivos que se encontram no rol destacado, não necessariamente se apresentam
como taxativos.
Porém, o rol apresentado deve ser visto de maneira exemplificativa, tendo em vista que
a Constituição Federal, combate qualquer discriminação, conforme artigo 3º, inciso IV.
Inobstante destacar que o rol trazido pelas alterações, principalmente o artigo 223-C, da
Consolidação das Leis do Trabalho, não traduz os aspectos pertinentes ao artigo 3º, inciso IV,
da Constituição Federal, bem como é omissa a outros listados.29
Considerando o desarraigo do legislador em tentativa de ser taxativo quanto à inovação
legal, o julgador com a utilização dos preceitos trazidos pela Carta Magna, deve garantir os
direitos de personalidade.
Deve-se ainda salientar, que a taxação de determinados aspectos trazidos, eivam a
inconstitucionalidade, conforme o ordenamento jurídico pátrio, que preceitua os direitos
constitucionais sobre os infraconstitucionais, principalmente os que se relacionam à dignidade
da pessoa humana.
As pretensões à indenização por ofensa aos bens tutelados pelo direito extrapatrimonial
no âmbito trabalhista, a partir da promulgação da Lei nº13.467/17, trouxeram consigo a relação
de legitimidade quanto à sua pretensão.
A partir do artigo 223-B, o legislador ligou a legitimidade diretamente ao ofendido, sem
que fosse possível sua titularidade à sucessão.
Nas palavras de Bezerra Leite:
Ainda neste diapasão, o Tribunal Superior do Trabalho, por sua vez, adota o pressuposto
da Súmula nº392, qual determina que os sucessores e dependentes do ofendido são legítimos à
reparação do dano.
Nas palavras de Delgado:
Fica evidente que a chegada dos determinados preceitos atua de forma a limitar os
direitos do ofendido e seus dependentes, afrontando de forma direta a Constituição Federal,
principalmente aos artigos 5º e 7º, bem como o princípio da dignidade de pessoa humana,
conforme artigo 1º, inciso III, da Carta Magna.
Se denota que o ato ilícito diante da sua caracterização e bem jurídico atingido, pode
ocasionar mais de um dano no âmbito extrapatrimonial. Contudo, a Lei nº13.467/17, trouxe
consigo a vedação da possibilidade da acumulação de indenizações, em seu artigo 223-G, §1º.
Observando a norma contida na Constituição Federal, principalmente em seu artigo
5º, incisos V e X, quando violado o direito de personalidade, pelas ofensas à honra, à imagem
e à integridade física, além do dano estético, pode haver configuração do dano material e moral.
30 LEITE, 2021, p. 32
31 DELGADO, 2017, p.146
28
32CASSAR, Vólia Bomfim.; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à reforma trabalhista. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017, p. 41.
29
Em alusão ao tópico anterior, se torna consabido que o disposto no artigo 223-G, §1º da
Consolidação das Leis do Trabalho, pode ser considerado ao ordenamento jurídico pátrio, assim
como ao entendimento firmado pelos tribunais e doutrinadores.
Há de se salientar, que a adesão do presente artigo, não traz somente contrariedade com
relação ao sentido de cumulação do dano, mas também parte do pressuposto de tarifação.
O §1º, do artigo 223-G, traz de forma literal a taxatividade do dano, qual, transmite a
ideia de que o legislador tentou efetuar uma visão diferenciada sobre cada ofendido de acordo
com seu salário. Sendo que além de tal alusão, também de forma taxativa, especifica o grau da
ofensa, comparada ao valor pertinente aos danos extrapatrimoniais, sendo demonstrado a
seguir.
33CORREIA, Henrique. Direito do trabalho para concursos de analista do TRT, TST e MPU. 12.
Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2018, p.1.190-1.191.
30
Embora o instituto tenha grande proporção que possa aduzir sua inconstitucionalidade,
há posicionamentos que entendem a tarifação do dano, como a parametrização de seu valor,
que pode ser fonte de maior segurança jurídica. 34
Ademais, cumpre ressaltar que o instituto da tarifação do dano, no sentido de seus
multiplicadores, quais são determinados a partir do grau de ofensa verificado pelo julgador e
especificados pelo legislador, possuem correntes distintas entre os tribunais e doutrinadores.
No mesmo sentido, o desembargador Gabriel Napoleão Velloso Filho35, entende que
os limites impostos pelo advento do citado artigo, ofende diretamente o princípio da dignidade
da pessoa humana e princípios da isonomia e da reparação dos danos garantidos pela
Constituição Federal.
Ainda nesse sentido, preceitua Gustavo Cisneiros:
Com a Reforma Trabalhista, alguns parâmetros foram fixados para a indenização por
dano extrapatrimonial. Tais parâmetros são inconstitucionais, pois usam o “salário”
do empregado para a fixação do valor da indenização. Os incisos I a IV do § 1º do art.
223-G da CLT violam o caput do art. 5º da CF (princípio da isonomia) e o inciso III
do art. 1º da CF (princípio da dignidade da pessoa humana).36
34 SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O dano extrapatrimonial na Lei n. 13.467/2007, da reforma trabalhista.
Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba/PR, v. 7, n. 62, p. 62-69,
set./out. 2017. Disponível em: http://bit.ly/2P3kRmM. Acesso em: 1 mar. 2019.
35 FILHO, Gabriel Napoleão Velloso Filho. Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. Incidente de
Não se pode ter como válido o postulado de que a dignidade da pessoa humana decorra
de seu “pertencimento” a uma posição no mercado de trabalho (e, pior ainda, de que
a dignidade será tanto menor quanto menos ela receba). Aceitar esta ideia é o mesmo
que dizer que a dignidade depende do pertencimento a uma raça, etnia ou religião.
Isto contraria o imperativo categórico kantiano, crucial para a definição da
modernidade e dos direitos humanos, de que todos os homens são dignos de igual
consideração e respeito.39
38
SANSEVERINO, Paulo Traso. Princípio da Reparação Integral, 1ª EDIÇÃO. p, 269
39
CASAGRANDE, Cássio. A reforma trabalhista e a inconstitucionalidade da tarifação do dano
moral com base no salário do empregado. 2017, p. 68-69
32
Nesse sentido, o Tribunal Regional do Trabalho, em voto proferido pela Relatora Lais
Helena Jaeger Nicotti, em Declaração Incidental de Inconstitucionalidade, entendeu que o §1º
do artigo 223-G da Consolidação das Leis do Trabalho, afronta diretamente o direito à
igualdade, conforme colacionado voto:
40 NICOTTI, Lais Helena Jaeger. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Incidente de declaração
de inconstitucionalidade nº0021089-94.2016.5.04.0030. Data de Julgamento 01/07/2020.
41 LOPES, Evandro Pereira Valadão. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso
Ainda nesse sentido, com relação ao princípio da isonomia, de forma análoga o autor
entende:
44O termo periculum in mora, literalmente se refere ao perigo da demora. Sendo necessário a rápida
apreciação do pedido pelo Poder Judiciário, que caso contrário, poderá trazer dano grave ou de difícil
reparação ao bem tutelado.
35
Neste diapasão, se verifica a necessidade de desfecho do tema, tendo em vista que sua
ausência de julgamento até o momento, tem trazido óbice para formalização de acordos, bem
como insegurança jurídica com relação aos julgamentos pertinentes.
Atualmente a ADI nº6050, se encontra pendente de julgamento, juntamente ao
Ministro Relator Gilmar Mendes. A perspectiva é que seja declara a inconstitucionalidade dos
incisos I a IV, do §1º, do artigo 223-G, da Consolidação das Leis do Trabalho, tendo em vista
toda a afronta constitucional suscitada, bem como ao instituto da responsabilidade civil.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, é possível verificar que a Consolidação das Leis do Trabalho,
teve sua iniciativa legislativa para os fins de proteger o trabalhador, parte mais vulnerável na
relação de labor, qual foi atribuída força a partir da promulgação da Constituição Federal de
1988.
Nesse sentido a chegada da Lei nº13.467/17, ao invés de garantir a evolução na ordem
de garantias constitucionais e respeitar os ditames da responsabilidade civil, trouxe consigo o
retrocesso em relação às condições sociais.
O legislador em alegação para alusão a pretendida reforma, citou como pretexto a
flexibilização das normas trabalhistas, com fins específicos de aumento de empregos dentro do
ponto de vista pátrio.
Com o advindo da redação dada ao §1º, do artigo 223-G da Consolidação das Leis do
Trabalho, se pode verificar que a tentativa do legislador na não banalização do tema, não
correspondeu às expectativas, trazendo grande insegurança jurídica, com relação a
padronização das indenizações de acordo com o salário recebido pelo ofendido.
Não obstante, se entende que o citado artigo fere diretamente o contido no caput, do
artigo 5º, da Constituição Federal, com relação as desigualdades que serão produzidas, ferindo
o princípio da isonomia.
Através dos estudos comparativos, entre as disposições anteriormente existentes na
Consolidação das Leis do Trabalho, e as novas trazidas pela Lei nº13.467/17, fica claro a
inconstitucionalidade dos dispositivos do Título II-A.
Entretanto, mesmo que seja consabido a afronta produzida, o legislador com a redação
do artigo 223-A, determinou a aplicação exclusiva dos novos dispositivos, fazendo com que o
julgador não aplicasse o instituto do dano extrapatrimonial conforme seu próprio entendimento
e características do caso em si.
Na sequência o artigo 223-B, limitou a legitimidade para pleitear o dano
extrapatrimonial, sendo somente cabível ao ofendido em si, afastando a incidência sobre seus
sucessores.
O artigo 223-C e 223-D, trouxeram a taxação dos bens juridicamente tutelados,
afastando a incidência do dano extrapatrimonial sobre os direitos inerentes a personalidade,
afrontando os princípios constitucionais.
38
E artigo 223-G, qual tem enfoque na presente pesquisa, se torna o mais contraditório
perante o ordenamento jurídico pátrio. Sua aplicação, limita todas as proteções do empregado,
cuja redação especifica a impossibilidade de acumulação de indenizações, além do fato de que
seu §1º, traz consigo a tarifação do dano, de acordo com o salário do ofendido.
Seu advento fere diretamente o contido no artigo 5º, inciso V e X, bem como artigo 7º,
inciso XXVIII, ambos previstos na Constituição Federal, que determinam que o dano causado
deve ser reparado na mesma proporcionalidade de seu fato gerador.
No mesmo seguimento, cumpre salientar que a tarifação do dano extrapatrimonial,
atinge os princípios da dignidade da pessoa humana e o princípio da isonomia, que em razão da
diferença salarial, o empregado ofendido que possuí salário maior, terá indenização em maior
valor do que o empregado ofendido de salário menor, mesmo que o dano causado tenha as
mesmas proporções.
Por sua vez, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho não se manteve inerte
perante tal absurdo, sustentando através da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6050, com
base no mesmo modelo de tarifação observado por analogia qual existia na Lei de Imprensa,
votada pelo ADPF nº130/2009, qual não foi recebida pela Constituição Federal.
Portanto, é esperado que a ADI n. 6050, tenha resultado positivo, declarando a
inconstitucionalidade dos artigos relacionados ao dano extrapatrimonial, sendo a manutenção
do sistema interpretativo do julgador, adequando os parâmetros ao caso em espécie, refletindo
diretamente no valor do dano.
Todavia, é cediço que enquanto não houver julgamento da inconstitucionalidade dos
artigos citados, os julgadores dos órgãos da justiça do trabalho, devem aplicar o sistema
interpretativos nas lides em si, considerando os aspectos de hermenêutica, classificação e
potencialidade do dano, definindo seu arbitramento com base no direito positivo, sempre
respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos inerentes ao trabalhador
previstos no artigo 7º da Constituição Federal.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 22: “A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de
acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda
não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004.”. Disponível em
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1259>.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 392: “Nos termos do art. 114, inc. VI, da
Constituição da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações
de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as
oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda que propostas pelos
dependentes ou sucessores do trabalhador falecido.”. Disponível em
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