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1 INTRODUÇÃO
A Lei 13.467, também conhecida como “reforma trabalhista” entrou em vigor em 11 de
novembro de 2017 e promoveu diversas alterações na CLT – Consolidação das Leis do
Trabalho (Lei 5452/43). As mudanças ocorreram tanto em matérias de direito material
quanto em direito processual. Dentre estas alterações, foi adicionada a redação do art.
223 – A a 223 – G, que passou a tutelar de forma específica o dano extrapatrimonial nas
relações de trabalho.
Acerca do tema, Yussef Said Cahali[5] (#_ftn5) ensina que Dano Moral é “tudo aquilo
que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os
valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela
sociedade em que está integrado”.
Em complemento, Ingo Wolfgang Sarlet explica a extrapatrimonialidade decorre da
subjetividade do titular de direitos, pois afeta direitos de personalidade como a honra ou
imagem da pessoa. Nas palavras do autor:
Deste modo, tem-se que o dano moral ou dano extrapatrimonial não é, e nem poderia,
ser caracterizado de forma absoluta, objetiva e fria, pois carece de análise específica e em
relação ao valor indenizatório, pois relaciona-se, à extensão, profundidade e gravidade
do dano sofrido pela vítima.
Nesta ordem de ideias, não resta dúvidas acerca das variadas possibilidades de aplicação
da justiça para a reparação de danos de esfera não patrimonial e que, essencialmente,
afetam a personalidade e os bens inerentes à pessoa humana.
O autor Mauricio Godinho Delgado afirma que o art. 223-B da CLT carece de
interpretação extensiva, pois não se pode limitar que sucessores possam promover ação
judicial pleiteando indenização pela perde de seu familiar por acidente de trabalho. Tal
limitação, para o autor, acarretaria em clara afronta ao direito constitucional (art. 5º, V e
X) à reparação por danos sofridos. (DELGADO, 2019. P.788)
Ademais, ainda acerca do art. 223-B, cumpre trazer à baila a explicação de Vólia Cassar e
Leonardo Borges de que a mudança legislativa não altera o direito ao dano
extrapatrimonial por ricochete ou reflexo, pois permite até mesmo a responsabilização
fracionada do dano aos autores. Destarte, os autores entendem ainda que o art. 223-B
excluiu a possibilidade de reparação por danos à coletividade, pois afirmou
expressamente que a titularidade do direito à reparação é exclusiva da pessoa física ou
jurídica vitimada, ficando, assim, prejudicado eventual direito à indenização por danos
contra a coletividade. (CASSAR; BORGES, 2018. p.204)
O artigo 223-E[13] (#_ftn13) informa quem são os responsáveis pela eventual reparação
do dano, definindo ainda a possibilidade de responsabilização subsidiária e solidária,
preconizando razoabilidade e proporcionalidade entre a conduta do ofensor e o dano
suportado pelo ofendido.
Acerca dos artigos 223-E e 223-F, Carlos Henrique Bezerra Leite afirma que:
Os novos arts. 223-E e 223-F devem ser interpretados à luz dos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, de modo a se fixar valores indenizatórios
conforme o grau de participação de cada ofensor no ato lesivo aos direitos da
personalidade das vítimas, sendo permitida – como já vem decidindo os
tribunais – a cumulação dos danos morais e materiais oriundos do mesmo ato
– omissivo ou comissivo – lesivo. (LEITE, 2018, p63)
Por fim, o art. 223-G[15] (#_ftn15) informa quais os critérios deverão ser utilizados pelo
órgão julgador para a mensuração da extensão do dano, informando ainda que, caso
procedente o pedido, o juiz deverá adotar as regras do §1º do aludido artigo como
parâmetro indenizatório, fixando graus de natureza de ofensa, entre leve e gravíssima,
correlacionando-o com o recebimento de números de salário, ceifando, assim, a
discricionariedade do poder judiciário na estipulação do quantum indenizatório devido à
vítima.
O tarifamento está explicitado no art. 223-G, § 1º, incisos I, II, III e IV, a par
dos §§ 2º e 3º do mesmo art. 223-G. Se não bastasse a incompatibilidade desse
critério de fixação da indenização com a Constituição de 1988 — conforme
exaustivamente explicado -, o diploma legal agregou fator adicional de
incompatibilidade, ou seja, o parâmetro do salário contratual do ofendido como
regra geral para cômputo da indenização. Tal parâmetro propicia injusta
diferenciação entre o patrimônio moral de seres humanos com renda diversa -
circunstância que acentua o desajuste da lei nova à matriz humanista e social da
Constituição e da ordem jurídica internacional regente dos Direitos Humanos
no País. (GODINHO, 2019. p.789)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após todo debruçamento e estudo acerca do tema, o que se pode afirmar é, de fato, pelo
teor inconstitucional apresentado pelo artigo 223 da CLT. Em seus incisos e parágrafos o
dispositivo determina o tabelamento do dano extrapatrimonial decorrente das relações
de trabalho.
REFERÊNCIAS
CASSAR, Vólia Bomfim. Resumo de direito do trabalho. 6. ed., rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2ª ed., Revista dos Tribunais, 1998.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral, volume 1. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. 287p.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 9. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018. 842 p.
[4] (#_ftnref4) CF/88. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
[5] (#_ftnref5) CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2ª ed., Revista dos Tribunais,
1998, p. 20)
[6] (#_ftnref6) CF/88. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) VI
as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de
trabalho;
[7] (#_ftnref7) CLT. Art. 223-G. § 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a
indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros,
vedada a acumulação: I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário
contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário
contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário
contratual do ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último
salário contratual do ofendido.
[9] (#_ftnref9) Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão
que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as
titulares exclusivas do direito à reparação.
[10] (#_ftnref10) PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso
de direito processual do trabalho. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.1008
p.
[12] (#_ftnref12) Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo
da correspondência são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.
[13] (#_ftnref13) Art. 223-E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos os que
tenham colaborado para a ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da
omissão.
[14] (#_ftnref14) Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida
cumulativamente com a indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato
lesivo.
[15] (#_ftnref15) Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: I - a natureza do
bem jurídico tutelado; II - a intensidade do sofrimento ou da humilhação; III - a
possibilidade de superação física ou psicológica; IV - os reflexos pessoais e sociais da
ação ou da omissão; V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa; VI - as condições
em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; VII - o grau de dolo ou culpa; VIII - a
ocorrência de retratação espontânea; IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa; X -
o perdão, tácito ou expresso; XI - a situação social e econômica das partes envolvidas;
XII - o grau de publicidade da ofensa.
§ 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um
dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido; II -
ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido; III -
ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV -
ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do
ofendido.
§ 2o Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos
mesmos parâmetros estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário
contratual do ofensor.
§ 3o Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da
indenização.
Autores
Fernanda Prata Moreira Ribeiro
Advogada e Consultora Jurídica em Direito Público, com ênfase em
Direito Tributário. Especialista e Mestra em Direito Público.
Professora de Direito Tributário e de Direito Processual Tributário
em cursos de Pós-Graduação e preparatórios para carreiras
jurídicas. Professora de Direito Tributário, Direito Constitucional e Direito
Administrativo do Curso de Graduação em Direito do Centro Universitário Newton
Paiva e do Centro Universitário UNA – Belo Horizonte/Contagem, em Minas
Gerais.
Amanda Ramos