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DIREITO PROCESSUAL ELEITORAL

Sumário
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................... 2

................................................................................................................... 3
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................... 3
2- FONTES DO DIREITO ELEITORAL ....................................................... 4
2.1 - Fontes diretas e indiretas .................................................................... 5
2.2 - Fontes primárias e secundárias .......................................................... 7
2.2.1. Resoluções ....................................................................................... 8
2.2.1.1. Resolução como fonte primária ...................................................... 8
2.2.1.2. Resolução como fonte secundária ................................................. 9
2.2.2- Doutrina .......................................................................................... 11
2.2.3- Jurisprudência ................................................................................ 12
2.2.4. Consultas ........................................................................................ 13
3 - DIREITO COMPARADO ...................................................................... 16
4 - GARANTIAS E PRINCÍPIOS ............................................................... 16
4.1 – Segredo de Justiça .......................................................................... 16
4.2- Regra de Pas de Nullíté Sans Grief ................................................... 18
4.2.1- Princípios da Ampla Defesa e do Devido Processo Legal ............... 18
4.3 - A Diplomação e o Mandato ............................................................... 19
5 - ANATOMIA DA AIME .......................................................................... 21
5.1 – Natureza Jurídica ............................................................................. 21
5.2 – Legitimados...................................................................................... 21
5.3 – Foro ................................................................................................. 25
5.4 – Procedimento ................................................................................... 25
5.5 - Provas .............................................................................................. 26
5.6 – Revelia e desistência ....................................................................... 27
5.7 – Sentença e Recursos ....................................................................... 27
6 - PRAZOS NA JUSTIÇA ELEITORAL .................................................... 31
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 39

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 – INTRODUÇÃO

Nos anos posteriores a cada eleição é que se toma possível verificar o quanto a vida
política é importante para a sociedade brasileira. Conforme a escolha popular, o país
obtém avanços ou colhe retrocessos e decepções, grande parte em virtude dos
escolhidos para ocupar as mais diversas posições políticas. Candidatos podem se
utilizar de meios espúrios para conseguir um cargo político, nascendo desta forma um
mandato já condenado e maculado.

Felizmente existem meios para extirpar os candidatos eleitos: legitimamente e a Ação


de Impugnação de Mandato Eletivo é um destes. Ela trata de temas relacionados ao
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude no período eleitoral, males estes que
desafortunadamente não aparecem somente no referido período, mas que por
séculos roubam a riqueza de uma nação que possui um povo que luta, que sofre, que
não desiste, apesar da lentidão das melhorias nas condições sociais.

A Constituição, com o art. 14, § 10, pretende que sejam cassados mandatos espúrios,
outorgados em decorrência de atos que alterem o resultado final do pleito, que viciem
a vontade do eleitorado, ou seja, atos capazes de influenciar ilicitamente os eleitores,
retirando-lhes a liberdade de escolha.

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Anteriormente à Constituição Federal de 1988, o instituto utilizado para atacar o
mandato irregular era o Recurso contra a Diplomação, previsto no artigo 262 e incisos
do Código Eleitoral. Acontece que este recurso teve sua utilização reduzida, pelo
surgimento da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, em virtude de esta possuir
um procedimento muito mais adequado e eficaz do que o Recurso contra Diplomação.

Observada a Constituição Federal de 1988, nota-se que os arts. 14, § 11, que trata
da tramitação em segredo de justiça da AIME, e 93, inc. IX, que trata dos julgamentos
públicos e fundamentados, devem sempre ser utilizados em conjunto, pois os
eleitores têm o direito de conhecer o resultado final dos julgamentos que envolvem
os violadores da lei.

A segurança jurídica está garantida, pois a AIME é a ação certa para os casos de
fraude, corrupção e abuso de poder. Isto também serve para resguardar os
legitimamente eleitos contra alguma arbitrariedade do Poder Judiciário.

Importante também ressaltar que, nesta questão do prazo para ajuizamento, destaca-
se o caso em que a AIME deve ser iniciada depois do resultado final da Ação de
Investigação Judicial Eleitoral, pois o candidato eleito deveria sofrer as consequências
mesmo depois de decorrido o prazo de quinze dias que a CF/ 88 estabelece, o que
acaba não acontecendo.

A escolha deste tema deu-se pela grande importância adquirida por esta ação no
controle da legitimidade do processo eleitoral, em prol do interesse público e da
liberdade do voto que asseguram a própria Democracia e porque a AIME é medida
higienizadora e repressiva contra aqueles que desnaturam a principal característica
erigida pela Democracia: a igualdade.

2- FONTES DO DIREITO ELEITORAL

Segundo o Dicionário Larousse da Língua Portuguesa, o vocábulo fonte significa


”lugar em que continuamente nasce água”; “princípio, origem, causa”. Nesse
contexto, as fontes do Direito Eleitoral são as formas pelas quais a disciplina jurídica
é levada ao conhecimento dos seus destinatários, os meios pelos quais as normas
jurídicas são criadas.

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2.1 - Fontes diretas e indiretas

As fontes diretas nada mais são do que as normas jurídicas que versam
especificamente sobre o Direito Eleitoral. O Código Penal, por exemplo, não pode ser
considerado uma fonte direta do Direito Eleitoral, pois trata de crimes em geral e não
apenas de crimes eleitorais.

Podem ser consideradas fontes diretas do Direito Eleitoral a Constituição Federal de


1988 (fonte primordial e mais importante), a Lei Complementar 64/1990 (que versa
sobre as inelegibilidades), a Lei 9.504/1997 (que versa sobre as eleições), a Lei
9.096/1995 (que dispões sobre os partidos políticos), o Código Eleitoral (Lei
4.737/1965 e suas alterações posteriores), Lei 6.091/1974 (que dispõe sobre o
fornecimento gratuito de transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas
zonas rurais), as Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, dentre outras.

De outro lado, fontes indiretas são as normas jurídicas aplicáveis ao Direito Eleitoral
apenas em caráter subsidiário ou supletivo, isto é, quando a legislação eleitoral não
é capaz de apresentar solução para o caso em concreto. Podem ser citadas como
exemplo o Código de Processo Civil, o Código de Processo Penal, o Código
Tributário, o Código Civil, entre outras. São normas que não tratam, especificamente,
de Direito Eleitoral.

Exemplo prático:

O Código de Processo Penal dispõe, em seu art. 46, que o prazo para oferecimento
da denúncia (ação penal), contra o réu que está preso, será de 5 dias, contado da
data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de
15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.

De outro lado, o art. 357 do Código Eleitoral afirma que verificada a infração penal, o
Ministério Público oferecerá a denúncia (ação penal) dentro do prazo de 10 (dez) dias
(esteja o acusado preso ou em liberdade).

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Exemplo, Se João é flagrado cometendo o crime de boca de urna (Lei 9.504/1997,
art. 39, § 5º), por exemplo, quais prazos devem ser observados pelo Ministério Público
para a propositura da ação penal? Os prazos do Código de Processo Penal ou do
Código Eleitoral?

Com certeza, o prazo de 10 (dez) dias previsto no Código Eleitoral (que é específico
para crimes eleitorais). Entretanto, em relação ao procedimento de citação/intimação
do réu, devem ser utilizadas as regras do Código de Processo Penal, pois o Código
Eleitoral simplesmente não trata do assunto (será utilizado o CPP, portanto, em
caráter subsidiário).

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2.2 - Fontes primárias e secundárias

De forma bem objetiva e direta, fontes primárias são aquelas que extraem o seu poder
normativo diretamente do texto constitucional, mais precisamente do art. 59 da
Constituição Federal:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I - emendas à Constituição;

II - leis complementares;

III - leis ordinárias;

IV - leis delegadas;

V - medidas provisórias;

VI - decretos legislativos;

VII - resoluções.

Apenas as fontes primárias podem criar deveres e obrigações para os particulares,


nos termos do art. 5º, II, da Constituição Federal de 1988 (princípio da legalidade ou
autonomia da vontade). Ademais, também é correto afirmar que as fontes primárias
têm a prerrogativa de inovar no ordenamento jurídico.
Nem todas as fontes primárias, previstas no art. 59 da CF/1988, podem ser
consideradas fontes do Direito Eleitoral, mas apenas as emendas à Constituição
Federal, Leis Complementares e Leis Ordinárias. Por sua vez, não há dúvidas de que
todas as leis eleitorais são fontes primárias do Direito Eleitoral, sendo a Constituição
Federal de 1988 a principal e mais importante.

Quando o juiz eleitoral julga uma ação de investigação judicial eleitoral, por exemplo,
primeiramente irá se valer da legislação eleitoral (mais precisamente da Lei
Complementar 64/1990, art. 22). Entretanto, se a citada lei for omissa em algum ponto
específico, o juiz eleitoral poderá recorrer a outras fontes, denominadas de
secundárias (jurisprudência, por exemplo).

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As fontes secundárias têm por finalidade interpretar e disciplinar a legislação eleitoral,
permitindo, assim, a sua eficaz aplicação ao caso em concreto. Não podem criar
deveres e obrigações para os agentes do processo eleitoral, pois essa é uma
incumbência das fontes primárias. A título de exemplo podemos citar as resoluções
do Tribunal Superior Eleitoral, a doutrina e a jurisprudência.

2.2.1. Resoluções

O Código Eleitoral, em seu art. 1º, parágrafo único, dispõe que “o Tribunal Superior
Eleitoral expedirá instruções para sua fiel execução”. Em sentido semelhante, afirma
o art. 23, IX, que compete privativamente ao Tribunal Superior Eleitoral “expedir as
instruções que julgar convenientes à execução deste Código”.

As instruções expedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral serão materializadas na


forma de resoluções, responsáveis por normatizar e sistematizar o processo eleitoral.

Em termos gerais, as resoluções são editadas para explicar e detalhar a legislação


eleitoral em vigor (nesse caso, situam-se em patamar hierárquico inferior às leis) ou
para tratar de tema que ainda não tenha sido disciplinado pela legislação eleitoral
(nesse caso, a resolução terá a mesma “força normativa de lei”).

2.2.1.1. Resolução como fonte primária


Em situações excepcionais, as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral serão
expedidas com a finalidade de tratar de tema ainda não disciplinado pela legislação
eleitoral. Desse modo, pode-se afirmar que a resolução estaria “substituindo a lei”,
possuindo, portanto, a mesma força normativa (fonte primária).

Exemplo:

Em 04 de outubro de 2007, o Supremo Tribunal Federal decidiu, ao julgar os


mandados de segurança 26.602 (impetrado pelo PPS), 26.603 (impetrado pelo
PSDB) e 26.604 (impetrado pelo DEM), que a infidelidade partidária (ser eleito por um
partido e, no decorrer do mandato, se filiar a outro) poderia ensejar a perda do
mandato eletivo.

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Entretanto, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal, não existia lei explicando
como (ou qual) seria o procedimento utilizado pelo partido político para requerer o
mandato do parlamentar infiel. Em suma, a decisão do STF era inócua, pois, diante
da infidelidade de um de seus membros, a agremiação nada poderia fazer em razão
da inexistência de lei regulamentando a situação.

Além disso, como bem sabemos, o trâmite legislativo costuma ser lento e demorado,
principalmente quando o objeto do projeto de lei afeta, diretamente, o interesse dos
parlamentares.

Diante disso, em 25 de outubro de 2007, o Tribunal Superior Eleitoral expediu a


resolução nº 22.610, com a finalidade de disciplinar o processo de perda de cargo
eletivo, bem como de justificação de desfiliação partidária.

Levando-se em consideração a relevância da matéria, não há dúvidas de que deveria


ter sido disciplinada por lei votada e aprovada no Congresso Nacional. Entretanto,
como o próprio Código Eleitoral, em seu art. 23, IX, outorga ao Tribunal Superior
Eleitoral a competência para expedir as instruções que julgar convenientes à
execução de suas normas, não foi necessário aguardar a iniciativa legislativa.

2.2.1.2. Resolução como fonte secundária


A Lei 9.504/1997, em seu art. 105, dispõe expressamente que:

Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral,
atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer
sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções
necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência
pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos.

Analisando-se o texto do dispositivo legal, percebe-se que o legislador também fez


referência a “instruções” que serão expedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Entretanto, diferentemente do que consta no art. 23, IX, do Código Eleitoral, aqui
existem “restrições” e “limites” a serem observados pela Justiça Eleitoral.

De início, observe que essas instruções - que também se materializarão por meio de
resoluções – não poderão restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das

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previstas na lei. Ademais, devem ser expedidas até o dia 05 de março do ano da
eleição, depois de ouvidos, em audiência pública, os delegados ou representantes de
partidos políticos.

Ao expedir resoluções com fundamento no art. 105 da Lei 9.504/1997, não restam
dúvidas de que o Tribunal Superior Eleitoral está exercendo o seu poder
regulamentar, porém, com força secundária.

Em nenhuma hipótese a resolução expedida com fundamento no art. 105 da Lei


9.504/1997 poderá substituir ou contrariar o texto da legislação eleitoral, servindo
apenas para explicá-la ou detalhá-la, permitindo, assim, a sua correta aplicação.

A título de exemplo, podemos citar a resolução TSE nº 23.555/2017, que apresenta o


calendário eleitoral para as eleições gerais de 2018. Analisando-se o seu texto,
percebe-se que o Tribunal Superior Eleitoral se restringiu a selecionar as principais
datas do processo eleitoral, reunindo, em um único documento, informações que
constam em leis diferentes.

A finalidade é tornar mais fácil a implementação da legislação eleitoral, além de


agilizar e favorecer o trabalho dos participantes do processo eleitoral. Nesse caso, a
resolução não substituiu qualquer lei eleitoral, apenas reproduziu (copiou) uma
informação que já existia em outro instrumento normativo.

Se a resolução não está inovando no ordenamento jurídico, restringindo-se a detalhar


e explicar o processo eleitoral - e expedida com fundamento no art. 105 da Lei
9.504/1997, então não há dúvidas de que se trata de fonte secundária do Direito
Eleitoral.

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2.2.2- Doutrina
A doutrina representa o estudo científico e sistematizado dos juristas e professores
em geral sobre a aplicabilidade e interpretação das regras e princípios do Direito
Eleitoral. Tem a função de esclarecer e explicar o correto conteúdo das leis, bem
como influenciar a criação de novas legislações através de opiniões manifestadas em
livros especializados, artigos, pareceres etc.

Trata-se de fonte secundária do Direito Eleitoral, bastante utilizada para suprir


omissões ou deficiências legislativas que, não raramente, apresentam alto grau de
complexidade, principalmente se analisadas pelo cidadão leigo.

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2.2.3- Jurisprudência

A jurisprudência pode ser definida como o conjunto reiterado de decisões dos


Tribunais, acerca de determinado assunto, no mesmo sentido. É importante
esclarecer que várias decisões monocráticas (proferidas por um único juiz eleitoral de
primeira instância, por exemplo) sobre um mesmo assunto, ainda que no mesmo
sentido, não constituem jurisprudência. Para que tenhamos a formação de
jurisprudência é necessário que as decisões (várias) tenham sido proferidas por um
Tribunal (TSE ou Tribunal Regional Eleitoral, em relação ao Direito Eleitoral).

Exemplo: o Código Civil Brasileiro, em seu art. 70, dispõe expressamente que “o
domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo”.

Se no Direito Eleitoral adotássemos o conceito de domicílio previsto no Código Civil,


o eleitor apenas poderia votar e ser votado no município onde tivesse residência e
efetivamente praticasse a sua rotina familiar e/ou profissional. Entretanto, há muito a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral vem adotando um conceito mais amplo
na seara eleitoral, permitindo que, para a comprovação do domicílio eleitoral, seja
suficiente que o eleitor demonstre algum tipo de vínculo político, econômico, familiar
ou social com o município.

Exemplo prático:

Alzira tem residência e trabalha no município de Montes Claros/MG. Entretanto, seus


pais residem no município de São Paulo/SP. Nesse caso, não há dúvidas de que
Alzira possui vínculo familiar em São Paulo/SP, portanto, poderia ter domicílio eleitoral
em qualquer uma dessas cidades. Situação semelhante aconteceria se Alzira
residisse em Montes Claros/MG e trabalhasse em São Paulo/SP, pois estaria
demonstrado o vínculo profissional na segunda cidade.

Sendo assim, não iremos utilizar o conceito de domicílio previsto no Código Civil, mas
sim o entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior Eleitoral:

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“[...] Domicílio eleitoral. Abrangência. Comprovação. Conceito elástico.
Desnecessidade de residência para se configurar o vínculo com o município.
Provimento. 1) Na linha da jurisprudência do TSE, o conceito de domicílio
eleitoral é mais elástico do que no Direito Civil e se satisfaz com a
demonstração de vínculos políticos, econômicos, sociais ou familiares [...]”
(Ac. de 18.2.2014 no REspe nº 37481, rel. Min. Marco Aurélio, red. designado
Min. Dias Toffoli.).

2.2.4. Consultas
As consultas, como a própria nomenclatura indica, são questionamentos formulados,
em tese, perante o Tribunal Superior Eleitoral ou Tribunais Regionais Eleitorais, pelas
pessoas legitimadas no Código Eleitoral.

Ao analisar a legislação eleitoral, pode acontecer de um deputado federal, por


exemplo, possuir dúvidas em relação à interpretação que deve ser dada a um artigo,
parágrafo, inciso ou alínea de dispositivo de lei eleitoral. Nesse caso, em vez de
procurar um advogado especializado para esclarecê-la, existe a possibilidade de
formular uma consulta diretamente para a Justiça Eleitoral, que a responderá
fornecendo a orientação que deve ser adotada em termos gerais.

Exemplo prático:

Em 08 de maio de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral respondeu à consulta nº 11.551,


formulada pelo Senador Paulo Renato Paim, e que tinha por finalidade o
esclarecimento de algumas dúvidas sobre a utilização do serviço de financiamento
coletivo em campanhas eleitorais.

O Senador apresentou as seguintes perguntas em sua consulta:

- Como será feita a propaganda de divulgação para arrecadação de recursos


na modalidade financiamento coletivo pelos pré-candidatos?

- A partir de que data será possível fazer a divulgação da arrecadação na


modalidade financiamento coletivo pelos pré-candidatos?

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- Será possível utilizar as redes sociais e aplicativos eletrônicos como, por
exemplo, o whatsapp para divulgar a arrecadação de financiamento coletivo
pelos pré-candidatos?

- Será possível utilizar imagens, banners, folders eletrônicos para divulgação


do financiamento coletivo pelos pré-candidatos?

Após analisar cada uma das perguntas, eis a resposta fornecida pelo Tribunal
Superior Eleitoral à consulta nº 11.551, que ficou sob a relatoria do Ministro Luís
Roberto Barroso:

Consulta. Financiamento coletivo de campanha. Arrecadação prévia. Termo


inicial e forma de divulgação. Observância das regras relacionadas à
propaganda na internet.

1. Consulta formulada por Senador da República sobre a forma de divulgação


por pré-candidatos do serviço de financiamento coletivo de campanha
eleitoral.

2. O Crowdfunding é o termo utilizado para designar o apoio de uma iniciativa


por meio da contribuição financeira de um grupo de pessoas. A Lei nº
9.504/1997, com as alterações promovidas pela Lei nº 13.488/2017, passou
a admitir essa modalidade de arrecadação para as campanhas eleitorais.

3. O art. 22-A, § 3º, da Lei nº 9.504/1997 e o art. 23, § 4º, da Resolução TSE
nº 23.553/2017 estabelecem que “desde o dia 15 de maio do ano eleitoral, é
facultada aos pré-candidatos a arrecadação prévia de recursos na
modalidade” de financiamento coletivo.

4. Por decorrência lógica, a data em que se autoriza o início de arrecadação


constitui o marco para início da divulgação do serviço de crowdfunding
eleitoral. Afinal, por sua própria natureza, trata-se de mecanismo de
arrecadação que pressupõe a prévia divulgação. A campanha de
arrecadação, no entanto, não pode envolver pedido de voto (Lei nº
9.504/1997, art. 36-A, VII).

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5. Além dessa limitação de conteúdo, nos termos do art. 23, § 4º, IV, h, da Lei
nº 9.504/1997, as estratégias e meios de divulgação devem observar as
regras da propaganda eleitoral na internet.

6. Consulta respondida nos seguintes termos: “A divulgação do serviço


de financiamento coletivo de campanha (crowdfunding eleitoral) por
pré-candidatos pode se iniciar em 15 de maio do ano eleitoral
observando-se: (i) a vedação a pedido de voto; e (ii) as regras relativas
à propaganda eleitoral na internet”.

Percebe-se que a consulta não versa sobre um caso em concreto, portanto, a


resposta (orientação) do Tribunal Superior Eleitoral aplica-se a todos os pré-
candidatos que tem interesse em utilizar esse instrumento de arrecadação de
recursos.

No julgamento do recurso em mandado de segurança nº 21.185/DF, que ocorreu em


14/12/1990, o Supremo Tribunal Federal afirmou que a consulta é um “ato normativo
em tese, sem efeitos concretos, por se tratar de orientação sem força executiva com
referência a situação jurídica de qualquer pessoa em particular”.

O Código Eleitoral, em seu art. 23, XII, dispõe expressamente que compete ao
Tribunal Superior Eleitoral “responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe
forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de
partido político”.

Por sua vez, o artigo 30, VIII, possui afirmação semelhante, estabelecendo que
compete aos Tribunais Regionais Eleitorais “responder, sobre matéria eleitoral, às
consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político”.

Segue o quadro comparativo com as pessoas legitimadas a formular consultas


perante os tribunais eleitorais:

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3 - DIREITO COMPARADO

Conforme estudo de Ana Flora França e Silva, as legislações dos países sul-
americanos, como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru,
Uruguai e Venezuela, não têm um instituto igual à AIME brasileira.

Venezuela, Colômbia, Equador e Peru possuem uma forma semelhante de perda de


mandato, a “revocatória de mandato”. Ocorre que este instituto tem o seu processo
com a participação do eleitorado, diferentemente do Brasil em que a “impugnação de
mandato” se dá dentro de processo regular que tramita perante a Justiça Eleitoral. É
realizada uma nova votação, desta vez não para eleger alguém, mas sim para revogar
o mandato e os cidadãos que concederam o mesmo àquela autoridade, decidirão
novamente sobre o que aconteceu, tendo o direito de reavê-lo.

Nos outros países sul-americanos o que se encontra são dispositivos que tratam dos
crimes de responsabilidade, em processos que acabam com a utilização do
impeachment, não tendo, portanto, nenhuma afinidade com a Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo.

4 - GARANTIAS E PRINCÍPIOS
4.1 – Segredo de Justiça

Os cidadãos desejam eleições legítimas em que sejam preservadas a igualdade da


disputa e o interesse público de lisura eleitoral. Para alcançar isto, busca-se punir os
que foram beneficiados pela fraude, corrupção ou abuso do poder econômico ou
político.

Dentro deste sistema, para a AIME, o § ll, do art. 14, da Carta Constitucional,
prescreve em todo o curso do processo, em suas diversas fases, o segredo de justiça.

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O segredo de justiça começa já com a distribuição, sendo que a AIME não pode ser,
em sua tramitação, divulgada pela imprensa.

Qual o motivo para o segredo de justiça? Geralmente são pessoas públicas


envolvidas, o que gera grande repercussão e pode causar embaraço. Em vários
casos, ao findar o trâmite da ação, o candidato é absolvido e com o segredo de justiça
fica resguardada a sua vida pública. Desta forma, Juiz e Tribunal devem observar
este ponto para que seja respeitada esta garantia constitucional.

Com relação às partes, quanto à consulta aos autos e obtenção de cópias ou


certidões, a relação jurídica fica restrita às mesmas e aos advogados.

Em 2003, o TRE/PR proferiu uma decisão diferente em relação ao sigilo processual:

REPRESENTAÇÃO - QUESTIONAMENTO DA SECRETARIA DO


TRIBUNAL QUANTO À PUBLICAÇÃO DAS PAUTAS DE JULGAMENTO E
DECISÕES PROFERIDAS NOS FEITOS RELATIVOS À AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO, FRENTE AO PREVISTO NO ART.
93, INCISO IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. À vista do princípio
estabelecido no artigo 14, parágrafo 11, da Constituição Federal, o
procedimento da ação de impugnação de mandato eletivo e todos os atos
dele decorrentes, inclusive o seu julgamento, se processam em segredo de
justiça até seu trânsito em julgado.

Contudo, como a Constituição deve ser compreendida de forma global, somente a


tramitação do processo ocorre em segredo de justiça e não o seu julgamento, o qual
deve ser público, a teor do art. 93, IX, da mesma Carta.

Essa orientação é adequada ao art. 5°, itens LX, “a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social
o exigirem” e XXXIII, “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, da CF/88. Isto consolida o
regime democrático e expõe a conduta interna dos agentes públicos, que ficam
impossibilitados de atuar obscuramente.

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4.2- Regra de Pas de Nullíté Sans Grief

Não há nulidade sem prejuízo. Princípio segundo o qual o juiz não deve pronunciar a
nulidade de um ato processual por vício de forma, desde que dela não resulte prejuízo
para a parte que a alega.

O Acórdão n° 369 - TSE atesta: “É inviável o pedido de anulação da decisão agravada,


de vez que não ocorrente no caso prejuízo algum para os agravantes, o que atrai a
norma do art. 249, § l°, do Código de Processo Civil, pela qual “o ato não se repetirá
nem lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte” (pas de nullíté sans grieƒ)”.

Também sobre o tema, o Acórdão n° 6.8l9: “l. Se a nulidade ocorrer em fase na qual
não possa ser alegada no ato, poderá ser arguida na primeira oportunidade que para
tanto se apresente. 2. Se se basear em motivo superveniente, deverá ser alegada
imediatamente, assim que se tomar conhecida, podendo as razões do recurso ser
aditadas no prazo de dois dias.”

Toda e qualquer nulidade de ato processual deve ser alegada na primeira


oportunidade em que operou a violação ao segredo de justiça, sob pena de preclusão.
Sempre deve o prejuízo ser provado, sob pena de não reconhecimento.

4.2.1- Princípios da Ampla Defesa e do Devido Processo Legal

Estes dois pilares da democracia são sempre assegurados ao impugnado. Há


presunção de inocência. O legitimado passivo tem o direito de se defender e saber
de que forma se desenvolverá o processo, conhecendo o trâmite e quem será seu
julgador.

Sobre o tema, o Acórdão n° 483 - TSE:

AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPROCEDÊNCIA DA


ALEGAÇAO DE OFENSA AOS INCISOS LIV E LV DO ROL DOS DIREITOS
E DEVERES INDIVIDUAIS, POIS TANTO TEVE O ACUSADO DEFESA,
QUANTO FORAM OBSERVADAS AS NORMAS PROCESSUAIS. ALIÁS, O
RECORRENTE NÃO MENCIONOU, E LHE CUMPRIU MENCIONAR,

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QUAIS os TEXTOS INFRACONSTITUCIONAIS ACASO VIOLADOS PELO
ACÓRDÃO REGIONAL.( Ac. n° 483-TSE, de 10/12/1996. Rel. Min. Nilson
Naves.).

Ligado ao segredo de justiça, acima tratado, O Acórdão n° 11.723-TSE: “DEVIDO


PROCESSO LEGAL E AMPLA DEFESA (CONST., ART. 5, LIV E LV). É NULO O
JULGAMENTO SEM PRÉVIA PUBLICIDADE MEDIANTE PAUTA. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.

Como afirma Bacellar,

“É inerente ao exercício da ampla defesa que O indiciado tenha


conhecimento do que está sendo acusado, ou qual infração foi por ele
cometida, além de todos os detalhes necessários para a elaboração da
defesa. (...) Em síntese, o direito à ampla defesa impõe à autoridade O dever
de observância das normas processuais e de todos os princípios incidentes
sobre o processo.”

A Justiça Eleitoral deve Sempre buscar os valores que fundamentam o Estado


Democrático de Direito, pois a eleição não deve ter mácula, para que seja legitimada
a vontade popular.

4.3 - A Diplomação e o Mandato

A diplomação é o ato pelo qual a Justiça Eleitoral atesta quem são, efetivamente, os
eleitos e os suplentes. Com a diplomação os eleitos se habilitam a exercer o mandato
que postularam, mesmo que haja recurso pendente de julgamento, pelo qual se
impugna exatamente a diplomação.

A entrega dos diplomas ocorre depois de terminado o pleito, apurados os votos e


passados os prazos de questionamento e de processamento do resultado das
eleições. No caso de eleições presidenciais, é o TSE que faz a diplomação. Para os
eleitos aos demais cargos federais, estaduais e distritais, assim como para os
suplentes, a entrega do diploma fica a cargo dos TREs. Já nas eleições municipais,
a competência é das juntas eleitorais.

19
Segundo o Código Eleitoral (art. 215, parágrafo único), no diploma devem constar o
nome do candidato, a indicação da legenda sob a qual concorreu, o cargo para o qual
foi eleito ou a sua classificação como suplente, e, facultativamente, outros dados a
critério do juiz ou do tribunal.

Não devem ser diplomados o candidato do sexo masculino que não apresentar o
documento de quitação com o serviço militar obrigatório nem o candidato eleito cujo
registro de candidatura tenha sido indeferido, mesmo que ainda esteja sub judice (sob
apreciação judicial).

Além disso, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral não decidir sobre eventual recurso
contra expedição do diploma, o diplomado poderá exercer o mandato em toda sua
plenitude. Esse recurso está previsto no art. 262 do Código Eleitoral e deve ser
interposto no prazo de três dias contados da diplomação.

Em 1996, o TSE decidiu pela possibilidade de recebimento do diploma por meio de


procurador. O Tribunal também entendeu que, excepcionalmente, o juiz pode alterar
a data da diplomação, observada a conveniência e a oportunidade.

Com relação ao mandato, assim escreve José Afonso:

(...) realiza, de um lado, o princípio da representação, e de outro, o princípio


da autoridade legítima. O primeiro significa que o poder, que reside no povo,
é exercido, em seu nome, por seus representantes (...) O segundo princípio
que decorre do primeiro, é o que o mandato consubstancia a técnica
constitucional por meio da qual o Estado, que carece de vontade real e
própria, adquire condições de manifestar-se e decidir, porque é pelo mandato
que se constituem os órgãos governamentais, dotando-os de titulares e, pois,
de vontade humana, mediante os quais (...) a vontade do Estado é formulada,
expressada e realizada, ou, em outras palavras, mediante os quais o poder
se impõe.

A diplomação é ato jurisdicional, de competência da junta eleitoral, nas eleições


municipais, ou do TRE, nas estaduais e federais, ou do TSE, na eleição presidencial
(arts. 30, VII; 40, IV e 215, CE). Deve ser, preferencialmente, ato público coletivo,

20
sendo convidados todos os envolvidos, incluindo os partidos políticos e o Ministério
Público.

5 - ANATOMIA DA AIME
5.1 – Natureza Jurídica

A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é tipicamente de Direito Eleitoral, ou seja,


sua natureza é civil, não tendo caráter penal. Desta forma, deverão ser utilizados os
princípios do Direito Público para compreender e aplicar a AIME.

Niess assim define a natureza da AIME:

De índole constitucional e caráter civil eleitoral, é ação de conhecimento que,


na classificação tripartida perfilhada pela doutrina tradicional, ganha a
categoria de ação constitutiva negativa. Há o direito de exigir a
desconstituição judicial de uma relação jurídica, o que se realiza com a
sentença de procedência - que extingue um estado jurídico indevidamente
criado - com efeitos projetados para o futuro. (Niess, P. H. T. op. cit.
p.16).

Adriano Soares expõe duas situações:

a) quando a AIME é proposta diretamente, ela tem natureza desconstitutiva


do estado de elegibilidade do candidato eleito, bem como declaração de
inelegibilidade futura, declarando existência de ato ilícito;

b) quando a AIME é proposta após a AIJE, declara inelegibilidade simples,


tendo efeito desconstitutivo ex nunc da eficácia do diploma do eleito.

Estas duas situações serão decisivas para o estudo do prazo de ajuizamento da


AIME.

5.2 – Legitimados

21
Quanto aos sujeitos legitimados, não adianta procurar na Carta Magna, pois o art. 14,
nos respectivos parágrafos, não elenca quem são estes sujeitos. Porém, surge a
questão da legitimidade ampliada: pode o eleitor ser legitimado ativo?

O eleitor goza do amplo direito de noticiar o Ministério Público, a teor do que dispõe
o Art. 5°. XXXIV, a, da Constituição Federal.

Contrário aos autores que abaixo serão citados, mas em acordo com a atual
jurisprudência, para Joel Cândido:

são legitimados ativos em AIME o Ministério Público, os partidos políticos, as


coligações e os candidatos, eleitos ou não. Eventual interesse legítimo de
terceiros estranhos a essas partes, materializado a ponto de ensejar uma
demanda, pode ser canalizado a qualquer uma delas, por simples
comunicação ou representação, acompanhada de elementos de convicção
da matéria de fato. (...) Os eleitores, as associações e os sindicatos (...) Essa
amplitude não condiz com a dinâmica célere e específica do Direito Eleitoral;
enfraquece os partidos políticos; dificulta a manutenção do segredo de justiça
do processado, exigido pela Lei Maior, e propicia o ajuizamento de ações
temerárias, políticas, e sem fundamento mais consistente, também não
tolerado.

José Cretella Júnior define a lide temerária como a ação que o autor desencadeia por
emulação ou por mero capricho, sem motivo ou prova concludente, acionando de má-
fé a Justiça Eleitoral. Contudo, complementa que o autor deveria ser responsabilizado
civil e penalmente, na forma da lei.

Para Adriano Soares, são legitimados ativos em AIME: o Ministério Público, os


partidos políticos, as coligações, os candidatos e os eleitores. É de se destacar que
este autor confere legitimidade aos eleitores. Conforme as palavras do mesmo, para
rebater Joel Cândido: “Todas as ações eleitorais têm uma motivação política em seu
nascedouro, porquanto exercitada por atores políticos, em razão de uma licitação
para cargos públicos. Não são as ações, juridicamente consideradas, que são
políticas, mas as razões internas, subjetivas, para o seu ajuizamento”

Niess diz que se não há nenhuma limitação específica de ordem constitucional ou


legal, deve prevalecer a possibilidade genérica que emerge da lei processual civil e
conclui dizendo que se não há previsão especial a respeito, dado o conteúdo

22
abrangente da questão em debate, deve a todos ser reconhecido o interesse na
legitimidade das eleições. Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei (CF, art. 5°, II).

Fichtner, concluindo o tema, fala que:

a ação de impugnação de mandato eletivo está posicionada geograficamente


no Título II da Constituição Federal, que trata dos Direitos e Garantias
Fundamentais, especificamente em seu Capítulo IV, entre os “Direitos
Políticos” arrolados na Carta Constitucional. Assim, dentro de uma
interpretação sistemática da Constituição, é impossível afastar o poder de
qualquer pessoa no exercício de seus direitos políticos, de impugnar o
mandato eletivo de candidato eleito com os vícios previstos no § 10 do art.
14 da Carta Fundamental.

A jurisprudência tem se mostrado mais conservadora do que a doutrina, como neste


exemplo:

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (CONST., ART. 14,


PARÁGRAFO 11). LEGITIMIDADE "AD CAUSAM" (LEI COMPLEMENTAR
N° 64/90, ART. 22). Não tem legitimidade "ad causam" os apenas eleitores.
Recurso conhecido e provido nesta parte. Preclusão. Inexiste preclusão, na
Ação de Impugnação de mandato eletivo, quanto aos fatos, provas, indícios
ou circunstâncias idôneos e suficientes, com que se instruirão a ação, porque
não objetos de impugnações prévias, no curso da campanha eleitoral.
Recurso, nesta parte, não conhecido.

Na questão da legitimidade passiva, serão legitimados passivos em AIME todos os


candidatos a cargo eletivo que tenham sido eleitos e diplomados. A diplomação é o
marco que põe o eleito com sujeito passivo da AIME, é o termo a quo, pois é ela que
concede o mandato ao eleito irregularmente. O partido político ou a coligação é
legitimado passivo por causa do interesse na preservação do mandato de seu filiado
e dos direitos que assistem em relação aos votos que possam ser anulados, podendo
intervir no processo, como terceiro interessado (não sendo litisconsorte necessário),
principalmente para a defesa dos votos, pois uma vez julgados procedentes os

23
pedidos da ação de impugnação, nos termos dos §§ 10 e 11 do art. 14 da CF/88,
todos os votos recebidos pelo réu são considerados nulos, modificando o quociente
partidário.

O vice da chapa do candidato que teve o mandato impugnado assume a posição de


litisconsorte, devendo ser obrigatoriamente citado, dentro do prazo constitucional, sob
pena de decadência.

Neste sentido o Acórdão n° 25.028-TRE/PR: “Nas ações de impugnação de mandato


eletivo é necessária a citação do litisconsorte (Vice-Prefeito) para integrar o polo
passivo. Não promovida a citação aludida até a data da diplomação o processo deve
ser extinto face a decadência.”

O TRE/PR faz uma abordagem diferente sobre o tema no Acórdão n° 25.542-TRE/PR:

Em investigação judicial (bem como em recurso contra a diplomação e em


ação de impugnação de mandato eletivo) não há litisconsórcio necessário
entre prefeito e vice-prefeito, mas relação de dependência deste para com
aquele relação jurídica subordinada. O diploma ou o mandato do vice-prefeito
é alcançado pela cassação do diploma ou do mandato do prefeito. A
gravidade das sanções impostas por abuso do poder econômico ou de
autoridade exige prova inequívoca dos fatos que as acarretam e de sua
potencialidade a comprometer “a normalidade e a legitimidade das eleições”
(CF, art. 14, § 9°) e o “interesse público de lisura eleitoral” (LC 64/90, art. 23).

Marinoni e Arenhart falam sobre a função da verdade no discurso jurídico:

“Se acaso os sujeitos processuais não acreditassem que a verdade tem


função no processo, não haveria motivo para a sua celebração, que se
tomaria mera sucessão de atos, sem nenhum objetivo útil. A busca da
verdade, embora seja meio retórico, preenche axiologicamente o processo,
outorgando-lhe legitimidade e fundamentação.”

Assim, sobre a condição do eleitor como legitimado, a suposição de que o aforamento


de uma ação impugnatória por simples eleitor poderia revesti-la de um caráter

24
temerário ou tomá-la instrumento de vinganças políticas, não é justificativa para
excluir este sujeito ativo, pois, como bem lembra José Cretella Júnior, existe o
princípio da lealdade processual, que preconiza que todos os sujeitos do processo
devem colaborar na atuação da vontade da lei.

5.3 – Foro
Às Ações de Impugnação de Mandato Eletivo não se aplicam as competências
fixadas na CF/ 88 por prerrogativa de função.

O juízo eleitoral que tiver competência para registrar e diplomar o candidato será
competente para conhecer e julgar a AIME.

Para o Juiz Eleitoral da respectiva Zona Eleitoral: se o sujeito passivo for Prefeito,
Vice-Prefeito, Vereador ou suplente, a ação tramitará perante a Zona Eleitoral e a seu
Juiz Eleitoral será distribuída. Se houver na Comarca mais de uma Zona Eleitoral,
será competente aquela a que tiver sido incumbida a diplomação do candidato.

Para o Tribunal Regional Eleitoral: o Governador e seu Vice, os Deputados Estaduais,


os Deputados Federais e os Senadores, com seus Suplentes, serão demandados no
Tribunal Regional Eleitoral.

No Tribunal Superior Eleitoral: o Presidente da República e seu Vice defenderão seus


mandatos perante o Tribunal Superior Eleitoral.

5.4 – Procedimento

Segundo o CPC, aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo


disposição em contrário deste Código ou de lei especial.

O professor Niess, sobre procedimento da AIME, diz:

De acordo com a tendência jurisprudencial que a respeito se estabeleceu,


omissa a legislação em vigor acerca de procedimento especial a ser
observado pela ação de impugnação de mandato, e não se acomodando ela
às hipóteses elencadas no art. 275 do CPC, que trata do procedimento
comum sumário, corresponder-lhe-á o procedimento ordinário, porque este
é o critério da lei”. Este é o pensamento do Min. Sepúlveda Pertence,

25
expresso no voto que proferiu no Recurso n° 8.798, Classe 4ª (Acórdão n°
11.951, DJU de 7.6.91) que acabou por triunfar no Tribunal Superior Eleitoral.

Por fim:

não se trata de limitar a produção de provas, mas de respeitar as regras


próprias do Direito Eleitoral e, principalmente, evitar procedimentos
procrastinatórios, que impedem a conclusão do processo, trazem descrédito
à Justiça Eleitoral e insegurança a toda a sociedade, especialmente aos
eleitos.

5.5 - Provas

Prova é o conjunto de elementos que predispõe o juízo ao conhecimento da verdade.


Para Niess:

Não se exige aí que a inicial venha acompanhada de toda a prova dos atos
condenáveis, porque o constituinte a ela não se referiu, mas à ação: declara
que a ação deverá ser instruída com tais provas. A exordial deverá fazer-se
acompanhar de um começo de prova da irregularidade que aponta, a fim de
permitir a imediata avaliação, pelo juiz, da seriedade da pretensão, o que não
afasta a produção de outras provas, oportunamente, no curso do processo.
O direito de ação compreende o direito de defesa do réu.

O TSE:

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO: NÃO SE EXIGE PROVA


PRÉCONSTITUIDA PLENA, MAS APENAS QUE, A INICIAL SEJA
INSTRUIDA COM OS DOCUMENTOS JA DISPONIVEIS (AC. N° 12.030, DE
25.06.91). NULIDADE DA SENTENÇA QUE, À FALTA DE PROVA
DOCUMENTAL PLENA DA PROCEDENCIA DO PEDIDO, DE LOGO, O
{!ULGA IMPROCEDENTE, SEM PROPICIAR A INSTRUÇAO DA CAUSA.

Acórdão n° 25.280-TRE/PR:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO QUE ADMITE PROVA PERICIAL


EM AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO IMPROCEDÊNCIA
DO RECURSO - SEGUIMENTO NEGADO. Sem prejuízo da celeridade

26
própria aos processos eleitorais, cabe ao juiz determinar as provas que
entenda necessárias à garantia constitucional da ampla defesa, cuja decisão
é irrecorrível. A improcedência do agravo, na dicção dos artigos 27, do
Regimento Interno e 557, do Código de Processo Civil, impõe negar-se-lhe
seguimento.

Por intermédio das provas, o juiz busca reconstruir os fatos a ele narrados, aplicando
sobre estes as regras jurídicas abstratas previstas pelo ordenamento positivo.

5.6 – Revelia e desistência

Devido à exigência constitucional da comprovação das lesões exigidas pelo art. 14


da CF/ 88, qual a situação legal se não houver a contestação?

Para Niess,

”Se o réu não contestar a ação, será considerado revel, não se reputando,
todavia, verdadeiros os fatos afirmados pelo autor, porque não existe
presunção de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, ou de sua
interferência na eleição, deixando claro o texto constitucional que o processo
deverá ser instruído com a prova do vício que contaminou a eleição".

A ação impugnatória se reveste de interesse público, devendo o órgão do Ministério


Público assumir a ação quando o outro co-legitimado não praticar os atos que lhe
sejam devidos no caminhar processual.

O Ministério Público pode desistir da ação de impugnação de mandato eletivo, desde


que fundamente e submeta a sua promoção ao Procurador-Geral Eleitoral e ao
Corregedor-Geral Eleitoral do Ministério Público Federal, pois estando em jogo o
interesse público, somente deve-se desistir da ação quando estiverem
manifestamente ausentes os requisitos exigidos pela Constituição Federal.

5.7 – Sentença e Recursos

27
A sentença da impugnatória tem natureza desconstitutiva negativa, tendo como efeito
a perda do mandato do réu e a declaração de nulidade dos votos atribuídos ao
mesmo.

O primeiro efeito causado pela sentença de procedência da AIME é o de impugnar o


mandato eletivo do candidato eleito. O candidato irá perder o mandato e os votos que
ele obteve na eleição serão desconsiderados, passando-se a entender que ele não
recebeu nenhum voto válido durante o pleito.

Entretanto, o diplomado pode continuar exercendo seu mandato até o trânsito em


julgado da sentença. A jurisprudência entende que o artigo 216 do Código Eleitoral é
aplicado ao caso, segundo o qual "enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso
interposto contra a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em
toda a sua plenitude".

A declaração de inelegibilidade exige decisão transitada em julgado, para fazer efeito


no âmbito jurídico-eleitoral. O trânsito em julgado pressupõe decisão proferida até
mesmo pelo Supremo Tribunal Federal, se a matéria discutida for constitucional.

A exigência do trânsito em julgado, que é salutar e está de acordo com o sistema


jurídico brasileiro, no entanto, parece colidir com a necessidade de rapidez da Justiça
Eleitoral, especialmente na parte recursal. Com efeito, diz o art. 257 do Código: "os
recursos eleitorais não terão efeito suspensivo". O seu parágrafo único determina "a
execução de qualquer acórdão será feita imediatamente...".

Outro efeito da sentença transitada em julgado de impugnação de mandato eletivo é


a inelegibilidade do réu por três anos, contados desde a eleição. Trata-se de uma
outra sanção, aplicada concomitantemente à cassação do mandato, empregada não
por dispositivo legal, haja vista não existir lei reguladora da AIME, e sim por
construção jurisprudencial.

Entende o TSE, conforme AC. n° 379: “AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO. De


sua procedência poderá resultar, além da perda do mandato, a inelegibilidade, por
três anos. O prazo dessa se contará da data das eleições em que se deram os fatos
que serviram de fundamento à ação.”

28
Esta inelegibilidade não equivale àquelas contidas no artigo 1° da Lei Complementar
64/90, pois estas são anteriores à diplomação e devem ser impugnadas através de
AIRC ou através de Recurso contra a Diplomação. A inelegibilidade na AIME é um
resultado, não podendo ser motivo da ação.

O TSE deixa isto claro, que a AIME não se confunde com Recurso contra a
Diplomação, neste AC. n° 12.595:

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (CF, ART. 14,


PARÁGRAFO 10): não substitui o recurso contra expedição de diploma (Ag.
N° 12.363, Ilmar Galvão, DJU de 7.4.95; RE n° 12.679, Diniz de Andrada,
DJU de 1°.3.96). Recurso Especial conhecido e provido (Resp. Eleitoral n°
12.595 PR, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. 7.3.96).

Outro fato importante é o caso do processo criminal para decretar a inelegibilidade,


conforme AC. n° 11.925:

2. COMPETÊNCIA DO TRE PARA JULGAR A REPRESENTAÇÃO DO ART.


22 DA LC 64/90 NAS ELEIÇÕES DE ÂMBITO ESTADUAL (RESP 8.521, DJU
20.05.92 E RESP 9.458, DJU 1ó.12.92, JARDIM; RESP 12.674, DJU
12.06.92, AMÉRICO LUZ).

3. REPRESENTAÇÃO DO ART. 22, LC 64/90: NÃO ESTÁ SUJEITA A


PRAZO DECADENCIAL OU PRESCRICIONAL DADA SUA NATUREZA
DIVERSA DA AÇÃO PENAL COMUM OU ELEITORAL. A SANÇÃO DE
INELEGIBILIDADE DECORRE DE COMPROMETIMENTO DA LISURA DO
PLEITO ELEITORAL, NÃO SE CONFUNDINDO COM A PENA POR CRIME
ELEITORAL. A PENA POR CRIME PODE SER APLICADA SEM PREJUÍZO
DA SANÇÃO DE INELEGIBILIDADE (AC. 12.526, PERTENCE, DJU
14.04.92; AC. 13.221, DJU 15.04.93 E REC. 11.766, DJU 07.10.94,
ANDRADA; REC. 11.915, SCARTEZZINI, DJU 09.12.94; PERTENCE; "IN"
AC. 12.030, DJU 16.09.91; BROSSARD "IN" AC. 11.951, DJU 07.06.91).

Sem ofensa à regra do non bis in idem, se julgada procedente a representação, ou a


AIME, nada impede que venha a ser instaurado processo penal pela prática de crime
eleitoral. Esta era a posição do Min. Torquato Jardim que acolhe a tese de que a

29
decretação da inelegibilidade, caso não tenha ocorrido a AIJE, deveria Ser obtida
como efeito de sentença condenatória, proferida no juízo criminal eleitoral, tendo
como supedâneo aqueles mesmos fatos que deram ensejo à cassação do mandato.

Já o Tribunal Superior Eleitoral acolhe a tese de que a Ação de Impugnação de


Mandato Eletivo, sendo julgada procedente, também pode acarretar a inelegibilidade
do candidato eleito.

Quanto ao recurso contra a AIME utiliza-se o Ordinário, previsto no art. 276, do Código
Eleitoral.

Segundo o TSE, no Acórdão n° 11.893:

ELEITORAL - PROCESSUAL - RECURSO ESPECIAL:


INTEMPESTIVIDADE - CODIGO DE PROCESSO CIVIL: APLICAÇÃO
SUBSIDIARIA - CODIGO ELEITORAL, ART. 258.

O FATO DA AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO SEGUIR O


PROCEDIMENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, DADO QUE ESTE
SE APLICA, SUBSIDIARIAMENTE, NO PROCESSO ELEITORAL, NÃO
QUER DIZER QUE A REGRA INSCRITA NO CODIGO ELEITORAL, ART.
258, NÃO DEVA SER OBSERVADA.

Assim, o prazo para interposição de recurso é de três dias, com efeito suspensivo,
sendo aplicáveis as regras dos arts. 258 e 216 do CE. Art. 258, in verbis: “Art. 258.
Sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso deverá ser interposto em três
dias da publicação do ato, resolução ou despacho.”

O TSE entende que o afastamento de candidato eleito antes do trânsito em julgado


da decisão causa um dano irrecuperável ao tempo de mandato não exercido.

A inelegibilidade é personalíssima, isto é, atinge apenas a própria pessoa do


candidato, não alcançando a agremiação político-partidária, que poderá substitui-lo,
até por um suplente, se for o caso.

30
Assim, salvo que haja sido impugnado também, ninguém será alcançado por efeito
reflexo do julgamento de impugnação a outrem. Em consequência, o vice ou suplente
cujo mandato não foi questionado assumirá em substituição ao titular cassado.

A interposição de qualquer recurso, mantendo a matéria ainda "sub judice", impede o


trânsito em julgado; em consequência, a decisão não poderá ser executada até que
se esgotem todas as possibilidades de recurso, o que fica a critério da parte
interessada.

Por fim, ressalta Joel Cândido que a CF/88 alargou as possibilidades de recursos
eleitorais e manteve o princípio da irrecorribilidade das decisões do TSE, conforme o
art. 121, § 3°, da Lei Maior: “São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior
Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de “habeas-
corpus” ou mandado de segurança.”

6 - PRAZOS NA JUSTIÇA ELEITORAL


No dia 18 de março, entrou em vigor o novo CPC, Lei 13.105/2015, com diversas
mudanças no sistema processual brasileiro. Dentre as alterações, uma das mais
relevantes para os advogados em especial para os que militam na Justiça Eleitoral
diz respeito à forma de contagem dos prazos processuais.

Com efeito, o anterior CPC (de 1973) previa, nos artigos 178 e 184, parágrafo 1º, que
os prazos processuais eram contínuos, não sendo interrompidos nos feriados ou
finais de semana.

Dessa forma, na legislação anterior, eventual início ou vencimento dos prazos nos
dias não úteis (sábado, domingo e feriado) eram automaticamente prorrogados para
o primeiro dia útil subsequente.

No processo eleitoral, essa regra sempre foi aplicada subsidiariamente, sem maiores
discussões, de forma que a contagem do prazo na Justiça especializada segue a
regra geral do CPC, por ausência de norma específica sobre o tema.

31
Contudo, algumas exceções são trazidas na legislação eleitoral, em especial quanto
à contagem de prazo durante o período eleitoral, desde o registro de candidatura até
o final do ano em que forem feitas as eleições.

A título de exemplo, temos o artigo 16 da LC 64/90, prevendo que os prazos para a


impugnação de registro de candidatura “são peremptórios e contínuos e correm
em secretaria ou cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para
registro de candidatos, não se suspendem aos sábados, domingos e feriados”.

Ou seja, até as eleições de 2014, a regra era que, a partir do encerramento do prazo
de registro de candidatura, os prazos no processo de impugnação seriam contínuos,
podendo inclusive se iniciar ou vencer aos sábados, domingos e feriados.

Vale frisar que nesses dias (tradicionalmente não úteis para a Justiça), os cartórios e
tribunais eleitorais funcionam normalmente durante o período eleitoral, em
consonância com o princípio da celeridade que permeia essa Justiça especializada.

Nesse sentido sempre foi a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, conforme se


verifica no AgR-REsp 68230, relator ministro Henrique Neves, ao asseverar que “na
linha da jurisprudência desta corte superior, os prazos relativos aos processos de
registro de candidatura são contínuos e peremptórios, não se suspendendo aos
sábados, domingos e feriados, conforme a disciplina do artigo 16 da Lei
Complementar 64/90”

Da mesma forma também ocorria com os prazos das representações (por direito de
resposta, propaganda eleitoral irregular, por conduta vedada etc.) e das ações de
investigação judicial eleitoral.

Assim, durante o período eleitoral, os prazos dessas ações corriam normalmente nos
finais de semana e feriados, nos termos das resoluções editadas pelo TSE para cada
eleição (por exemplo: artigo 41 da Resolução TSE 23.398/13).
Todavia, para as eleições de 2016, com a entrada em vigor do novo CPC, surge a
discussão quanto à forma de contagem dos prazos no processo eleitoral.

32
Afinal, o artigo 219 do novo CPC prevê que “na contagem de prazos em dias,
estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”.

Ou seja, com a alteração trazida no mencionado dispositivo, os prazos processuais,


de maneira geral, passam a correr somente nos dias úteis, interrompendo-se nos
sábados, domingos e feriados, e neles não podendo se iniciar ou vencer.

Assim, surge um conflito aparente de normas: como deve ser feita a contagem dos
prazos no processo eleitoral, com a novidade do artigo 219 do novo CPC? Tal norma
deve se sobrepor aos artigos 16 da LC 64/90, 58-A da Lei 9.504/97 e 5º da Resolução
TSE 23.462/15?

Para responder a essa indagação, preliminarmente há que se fazer uma diferenciação


entre os prazos eleitorais que chamaremos de “ordinários”, e que correm
normalmente, daqueles prazos chamados de “extraordinários”, verificados durante o
período eleitoral (desde o encerramento do prazo para registro de candidaturas até
dezembro do ano eleitoral).

No caso dos prazos eleitorais “ordinários”, ou seja, aqueles que ocorram fora do
período das eleições, aplica-se o artigo 219 do novo CPC, de modo que a contagem
dos prazos deverá se dar apenas em dias úteis.

Afinal, não havendo norma especial tratando da forma de contagem dos prazos no
processo eleitoral fora do período das eleições, prevalece a regra geral do artigo 219
do novo Código de Processo Civil, em sua literalidade.

Todavia, durante o período eleitoral, a questão merece um maior aprofundamento.

Para as eleições de 2016, o calendário eleitoral editado pelo Tribunal Superior


Eleitoral (Resolução TSE 23.450/15) prevê como encerramento dos registros de
candidatura o dia 15 de agosto e, como último dia para funcionamento dos cartórios
eleitorais nos sábados, domingos e feriados, o dia 16 de dezembro.

33
Como dito anteriormente, a chegada do novo CPC aparenta ter causado um conflito
entre o artigo 219 do novo CPC e as referidas normas eleitorais que tratam da
contagem do prazo no processo perante aquela Justiça especializada.

Esse conflito, todavia, é apenas aparente.

O sistema jurídico brasileiro prevê soluções para compatibilizar normas que pareçam
colidentes, as chamadas antinomias, a partir dos critérios da hierarquia, cronologia e
especialidade.

Dentre as formas de solução dos conflitos aparentes de normas, a mais básica delas
diz respeito ao critério temporal, em que a lei nova revoga a lei anterior, no que
conflitante.

Todavia, entende-se que esse critério não pode ser aplicado ao caso.

Em primeiro lugar, porque o novo CPC foi editado em 16 de março de 2015, e a


Resolução TSE 23.462 em dezembro de 2015. Dessa forma, apesar de os artigos 16
da LC 64/90 e 58-A da Lei 9.504/97 serem anteriores ao novo CPC, o artigo 5º da
referida resolução é mais recente e, em tese, deve prevalecer.

Por outro lado, e ainda mais importante, há que se ter em mente que a utilização do
critério temporal nessa hipótese acabaria por comprometer o princípio da celeridade
eleitoral, visto que a contagem do prazo somente em dias úteis acarretará uma
morosidade na solução das demandas eleitorais.

Ademais, eventual demora na solução dos processos eleitorais causa um dano


irreparável à sociedade.

Afinal, como tais casos podem envolver a regularidade do registro de um candidato


eleito, ou o próprio mandato, a demora em seu julgamento aumenta a chance de que
haja a indesejada alternância dos cargos políticos.

Assim, para preservar o princípio da celeridade eleitoral, entendemos que a melhor


compatibilização das normas de prazo no caso em estudo se dá pela utilização do

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critério da especialidade, segundo o qual a norma especial prevalece sobre a regra
geral.

Com efeito, esse critério da especialidade tem lugar apenas no que tange aos prazos
eleitorais “extraordinários”, ou seja, aqueles verificados durante o período eleitoral.

Isso porque a legislação eleitoral, especial em relação à regra geral do novo CPC
apenas cuida da contagem dos prazos eleitorais nesse interregno, não trazendo
qualquer previsão sobre a contagem de prazo fora desse período.

Em suma, fora do período eleitoral, por não haver qualquer regra especial, aplica-se,
irrestritamente, o artigo 219 do novo CPC para a contagem dos prazos processuais
da Justiça Eleitoral, uma vez que o CPC é norma subsidiariamente aplicada no
processo judicial especializado em caso de lacuna, como se tem aqui.

Por outro lado, durante o período das eleições — no caso de 2016, entre 15 de agosto
e 16 de dezembro — deve prevalecer a norma especial.

Vale frisar: somente é possível essa ressalva à contagem de prazo prevista no artigo
219 do novo CPC durante o período eleitoral porque há norma especial tratando do
tema.

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis.

Caso não haja norma especial sobre a forma de contagem dos prazos processuais,
aplicar-se-á a regra geral do novo código, exatamente como ocorre com os prazos
eleitorais “ordinários”.

Não foi por outra razão que a Turma de Uniformização de Jurisprudência dos
Juizados Especiais do DF, por exemplo, decidiu, dia 28/3, que o artigo 219 do novo
CPC também se aplica aos juizados especiais, que seguirão a nova regra, no que
tange aos prazos processuais.

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Como se vê, mesmo nos juizados especiais, onde também há o princípio da
celeridade como norte, a aplicação da nova forma de contagem de prazo é medida
que se impõe, visto que não há outra norma especial que discipline a matéria.

De fato, pretende-se aqui, tão somente, trazer à tona a reflexão sobre essa
problemática processual trazida pelo novo CPC, apontando-se, ao fim, uma possível
solução, sem qualquer pretensão de esgotar o tema ou de pacificar a questão, que
ficará a cargo da jurisprudência a ser sedimentada num ou noutro sentido.

Dessa forma, em conclusão, entendemos que a regra geral de contagem do prazo


do artigo 219 do novo CPC se aplica ao processo eleitoral de modo geral, sendo
relativizada apenas e tão somente durante o período eleitoral, ante a existência
de norma especial tratando da contagem de prazo nesse período artigos 16 da LC
64/90, 58-A da Lei 9.504/97 e 5º da Resoluções TSE 23.462/15.

Finalmente, a AIME foi criada antes da CF/88, não sendo então uma inovação desta
última, pois já estava prevista no art. 222 do CE.

A AIME é ação cível, e não criminal, classificada como constitutiva negativa e serve
para preservar a real vontade popular na outorga do mandato político aos seus
representantes, pois a legitimidade do mandato é essencial para o desempenho do
mesmo.

Na comparação com os países vizinhos, o Brasil tem este instituto, que é mais
avançado em matéria eleitoral.

Todo o Sistema Eleitoral é protegido por princípios e garantias como o segredo de


justiça, a arguição imediata das nulidades, o princípio da ampla defesa e do devido
processo legal.

Deve existir a diplomação para que possa ser ajuizada a AIME.

A corrupção eleitoral, a fraude e o abuso de poder, tanto político quanto econômico,


em suas mais diversas situações, são requisitos de existência para a AIME.

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Se o fim é preservar a real manifestação da soberania popular, exprimida por meio
do voto, deve-se reconhecer a legitimidade, para a sua propositura, não só dos
partidos políticos, dos candidatos eleitos ou não e do Ministério Público, mas também
a do cidadão eleitor.

Mesmo nos casos de segredo de justiça e nos provimentos em que, por específicos
e claros motivos de ordem pública, se restringe a publicidade, ao demandado esta
nunca pode ser tolhida, e as motivações, como próprio esteio da regularidade do
procedimento e de sua razoabilidade, são de obrigatório fornecimento.

O Tribunal Superior Eleitoral utilizava o rito processual ordinário do Código de


Processo Civil. Porém, a Resolução n° 21.634-TSE, alterou o procedimento para o
previsto na Lei Complementar n° 64/90, considerado melhor pelo TSE, para dar
celeridade, mas que pode, conforme os acontecimentos do processo, acabar tendo
um prazo maior do que o ordinário do CPC.

A competência para conhecer e julgar a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, de


acordo com o entendimento Tribunal Superior Eleitoral, é determinada seguindo o
princípio de que quem possui a competência para a diplomação, detém a
competência para apreciar a demanda.

Os efeitos da sentença exarada em Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, vão


desde a cassação do mandato conferido até a anulação dos votos recebidos pelo
candidato.

Quanto aos prazos, existem vários princípios que devem ser observados pela partes
e pelo juízo. O prazo para a AIME é de natureza decadencial.

A aplicação irregular de grandes somas de dinheiro nas campanhas eleitorais e o uso


indevido da máquina administrativa, pelos que estão no poder, bem como a
manipulação da mídia pode anular o processo eleitoral, na medida em que adulteram
o resultado nas urnas.

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O eleitor tem interesse quanto à lisura dos votos sufragados; a República Federativa
do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito, tendo como fundamentos: a
cidadania e a soberania.

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