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Sumário

1. Generalidades ..................................................................................................................................................... 3
1.1. Institutos fundamentais de direito processual civil ................................................................................... 3
2. Ação .................................................................................................................................................................... 3
2.2. Ação de direito material (autotutela) x Ação de direito processual ......................................................... 5
2.3. Atipicidade das ações .................................................................................................................................. 6
2.4. Teorias sobre o direito de ação .................................................................................................................. 6
a) Teoria Sincretista/Imanentista ou privatista (até o ano de 1.868) .......................................................... 6
b) Teoria Autonomista (fase científica ou conceitual) (Windsheid e Muther) (Bulow - 1868).................... 6
c) Teoria Autonomista e Concreta (Adolf Wach - 1888) ............................................................................... 7
d) Teoria Autonomista da Ação como Direito Potestativo (Chiovenda) ...................................................... 7
e) Teoria Autonomista/Abstrata pura (século XX - Ovídio) .......................................................................... 8
f) Teoria Autonomista/Abstrata e Eclética (1930 - Liebman) ....................................................................... 8
g) Teoria (autonomista e abstrata) da Asserção (teoria della prospetazione)........................................... 10
2.5. Direito processual de ação ........................................................................................................................ 13
2.5.1. Fundamento ....................................................................................................................................... 13
2.5.2. Espécies (arts. 17 e 485, VI, CPC) ....................................................................................................... 13
2.5.3. Interesse processual ........................................................................................................................... 14
2.5.4. Legitimidade ad causam (art. 18 CPC) ............................................................................................... 17
2.5.5. Crítica à teoria das condições da ação:.............................................................................................. 20
2.5.6. Falsas carências (coisa julgada material)........................................................................................... 21
2.5.7. Regime jurídico das condições da ação ............................................................................................. 22
2.6. Elementos (identificadores) da ação ........................................................................................................ 22
2.6.1. Finalidade ........................................................................................................................................... 22
2.6.2. Aplicação prática (competência) e (identidade total e parcial das demandas – arts. 55 a 58, e 337,
§§ 1º a 4º, CPC) ............................................................................................................................................. 23
2.6.3. Teorias ................................................................................................................................................ 25
2.6.4. Tríplice identidade (tríplice adem) (art. 337, § 2º, CPC) ................................................................... 25
2.7 Classificação das ações no processo civil:.................................................................................................. 30
ENUNCIADOS NCPC: ............................................................................................................................................. 40
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO ...................................................................................................... 41
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA..................................................................................................................................... 41

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ATUALIZADO EM 12/05/20221

TEORIA DA AÇÃO2

1. Generalidades

1.1. Institutos fundamentais de direito processual civil

O Professor Cândido Dinamarco elenca quatro institutos fundamentais de Direito Processual Civil, quais
sejam: jurisdição, ação, processo e defesa.
Em relação ao procedimento, para alguns autores deve ser estudado em separado, sendo considerado o
quinto instituto fundamental de Direito Processual Civil. Todavia, a grande maioria dos doutrinadores entende
que o procedimento deve ser analisado quando do estudo do processo.

2. Ação

2.1. Matriz constitucional do direito de ação (art. 5º, XXXV, CF)

O direito de ação é constitucionalizado (princípio do acesso à justiça), tratando-se de uma garantia


constitucional (art. 5º, XXXV, CF), nos seguintes termos: Art. 5º.XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Essa disposição é repetida no art. 3º do NCPC: Art. 3º. Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça
ou lesão a direito.
Nos Estados modernos, depois do período absolutista, passa a ser limitado pelas próprias leis, em que os
jurisdicionados renunciam ao exercício da própria força, de se “autotutelarem”, exatamente para que um órgão
do Estado incumbido de distribuir a justiça, solucione os conflitos.
Quando pensamos em direito de ação, ainda num contexto constitucional e genérico (já que o seu
conceito varia de acordo com a teoria a ser adotada), deve-se refletir: “estou negando o direito teu,
jurisdicionado, de resolver os conflitos com base na autotutela, porque quem irá resolver os conflitos com base
na minha tutela, sou eu, o Estado”.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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FUC reformulada em 12/05/2022.

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Nesse contexto, a ação só pode ser compreendida como o direito subjetivo público ou, mais que isso, o
direito fundamental de pedir tutela jurisdicional ao Estado-juiz, rompendo a inércia do Poder Judiciário, e de
atuar, ao longo do processo, para a obtenção daquele fim.
A ação é, assim, um direito exercitável contra o Estado, uma verdadeira contrapartida da vedação de se
fazer “justiça pelas próprias mãos”. É o Estado que, historicamente, chama, para si, o dever (e a correlata
responsabilidade) de distribuir justiça, criando os mecanismos e as técnicas que garantam seu atingimento.

Como se sabe, o art. 5º, XXXIV, “a”, da CF assegura que a todos são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder. Assim sendo, o direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se
como importante prerrogativa de caráter democrático, consistente na possibilidade de qualquer cidadão de
apresentar queixas ou reclamações ao Estado, bem como de receber a devida resposta. Segundo Artur Cortez
Bonifácio, o direito de petição é “o direito-garantia subjetivo público que as pessoas individuais ou coletivas têm
de interpor aos poderes públicos pedidos, reclamações, representações, sugestões, reivindicações, em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, em favor de interesses particulares ou do interesse público”.
Trata-se assim de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado – mesmo
daqueles destituídos de personalidade jurídica –, com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as
instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significação
coletiva.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Alguns observações sobre o direito de petição podem ser extraídas da


jurisprudência do STF, quais sejam: a) a existência do direito de petição não exige a necessidade de esgotamento
da via administrativa para se poder levar questões ao Judiciário; b) O direito de petição não pode ser invocado
genericamente para exonerar qualquer dos sujeitos processuais do dever de observar as exigências que
condicionam o exercício do direito de ação em juízo; c) inconsistente a postulação que, apoiada no direito de
petição, formula pedido que constitui, na realidade, verdadeiro sucedâneo, legalmente não autorizado, da ação
rescisória, eis que já transitada em julgado a decisão impugnada; d) o direito de petição não assegura, por si só,
a possibilidade de o interessado – que não dispõe de capacidade postulatória – ingressar em juízo, para,
independentemente de advogado, litigar em nome próprio ou como representante de terceiros. Vale afirmar
que correlato ao tema foi editada pelo STF a Súmula Vinculante 21: “É inconstitucional a exigência de depósito
ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”. Os recursos
administrativos são desdobramentos do direito de petição, por isso, é incompatível a exigência de depósito
prévio como condição de admissibilidade de recursos administrativos.

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#ATENÇÃO: Há diferença entre direito de petição e o direito de ação? O direito de petição não se confunde
com a prática de peticionar na Justiça. O direito de petição está historicamente ligado ao peticionamento à
Administração Pública. Classicamente, difere-se o direito de petição por serem pedidos ou queixas dirigidos à
Administração Pública e o direito de ação ser destinado ao Judiciário. Couture, todavia, chega a afirmar que o
direito de ação é uma espécie qualificada de direito de petição. Assim, a diferença é que o direito de ação é
específico dos pedidos ao Judiciário e o direito de petição é genérico. Destinado à Administração Pública em
geral.

2.2. Ação de direito material (autotutela) x Ação de direito processual

Com efeito, há que se fazer uma distinção fundamental entre a ação de direito material e a ação de direito
processual.
Em algumas hipóteses bastante excepcionais, o nosso sistema permite aquilo que é denominada ação de
direito material, também conhecida como autotutela. Isso porque, a parte soluciona o conflito sem que haja
intervenção estatal.
Trata-se de exceção à regra e depende de expressa previsão legal.
Ademais, a atribuição ao Estado de, em caráter exclusivo, promover a solução dos conflitos de
interesses, pela aplicação da lei ao caso concreto, tornou ilícita, salvo exceções previstas em lei, a autotutela. E,
para que tal vedação se tornasse efetiva, a lei penal tipificou a conduta, qualificando-a de “exercício arbitrário
das próprias razões”; assim, a restauração de um direito violado terá de ser feita pela jurisdição civil, sob pena
de constituir crime de exercício arbitrário, salvo nos raros casos em que se autoriza a autotutela.
São exemplos de autotutela:

Art. 1.210, §1º do Código Civil: A figura do desforço possessório imediato.


Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que
o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição
da posse.
Art. 251, § único e art. 249, § único do Código Civil:
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça,
sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de
autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.

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Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor,
havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou
mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

2.3. Atipicidade das ações

Ação é um direito que não admite variação de espécies. Ação é um único direito, o direito público de
pedir para o Estado proteção jurisdicional.
Na prática forense, existe o costume de dar nome para as ações (ação de cobrança, de divórcio,
declaratória de constitucionalidade, reintegração de posse, indenizatórias etc.). Isso é um vício do romanismo
(legis actiones), mas a ação não tem nome. Elas são atípicas. Por isso, trabalha-se, no plano teórico, com a
atipicidade das ações.
Logo, colocar nome da ação na inicial (ex: ação de indenização) é praxe forense.
O que identifica a ação são os seus respectivos elementos, quais sejam: partes, causa de pedir e pedido.

2.4. Teorias sobre o direito de ação

a) Teoria Sincretista/Imanentista ou privatista (até o ano de 1.868)

#COLANARETINA #LINKMENTAL: Exercitada contra o adversário.

Essa teoria possui apenas interesse histórico, visto que a ideia de ser o direito de ação e o direito
processual um mesmo direito, foi abandonada há tempos, principalmente após os estudos de Oscar von Bülow
sobre os pressupostos processuais.
Sustenta, em síntese, que não existe autonomia do direito de ação, pois o direito de ação é seria um
apêndice do direito material.
Trata o direito de ação como o direito material em movimento, reagindo a uma agressão ou a uma
ameaça de agressão (aspecto dinâmico). Assim, entende-se que o direito de ação possui uma feição estática,
entrando em movimento apenas na ocorrência de agressão ou ameaça.
Para seus defensores, o direito de ação é dirigido contra o adversário e não contra o Estado, sendo o
processo um mero procedimento, um conjunto de atos coordenados visando à obtenção de um objetivo final.

b) Teoria Autonomista (fase científica ou conceitual) (Windsheid e Muther) (Bulow - 1868)

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#COLANARETINA #LINKMENTAL: Natureza pública e autônoma da relação jurídica processual.

#DICA: Todas as demais teoria derivam dela.

Em 1868, surge a teoria autonomista do direito de ação. Esta teoria pregava que a ação tem autonomia
em relação ao direito material, dando o nome de relação jurídica processual. Há duas relações jurídicas: uma
de direito material e uma de direito processual, que não é igual a primeira. Por isso, eles dizem que as duas
relações são autônomas entre si.
Com efeito, a relação jurídica processual é de natureza pública, porque não é exercida contra o adversário
(como se pensava na fase sincretista), mas, sim, em face do Estado.
A partir da admissão da autonomia da relação jurídica processual no que concerne a relação jurídica
material, inaugura-se o estudo do processo civil, isto é, a fase científica ou conceitual. As próximas teorias, todas
elas, sem exceção, partem da premissa de autonomia entre o direito material e o direito processual.

c) Teoria Autonomista e Concreta (Adolf Wach - 1888)

#COLANARETINA #LINKMENTAL: Direito de ação como direito ao provimento jurisdicional de mérito


favorável. Contra Estado e adversário.

Por essa teoria, o direito de ação é compreendido como direito ao provimento jurisdicional de mérito
favorável. Isto é, só existe o direito de ação quando houver o acolhimento do pleito, tendo em vista que somente
assim a pessoa têm o direito material satisfeito.
Reconhece a autonomia do direito de ação, mas não sua independência.
Para os concretistas, quando se fala em ação procedente significa dizer que o pedido é procedente. Ao
contrário, dizer que a ação é improcedente significa mencionar que a pessoa não tinha ação e que o direito
material era improcedente.
Não obstante, a referida ideia está completamente superada, uma vez que se se a parte ajuíza uma ação,
o direito de ação já foi exercido; a procedência ou a improcedência dos pedidos é irrelevante.

d) Teoria Autonomista da Ação como Direito Potestativo (Chiovenda)

#COLANARETINA #LINKMENTAL: Direito de ação como direito ao provimento jurisdicional de mérito


favorável. Contra o adversário (ideia privatista).

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Posteriormente, Chiovenda formula a teoria da ação como direito potestativo, que surge como mais uma
ramificação da teoria concreta. Para ele a ação configura um direito autônomo, diverso do direito material que
se pretende valer em juízo; mas o direito de ação não é um direito subjetivo – porque não lhe corresponde a
obrigação do Estado – e muito menos de natureza pública. Dirige-se contra o adversário, correspondendo-lhe a
sujeição. Mais precisamente, a ação configura o poder jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade
da lei. Exaure-se com o seu exercício, tendente à produção de um efeito jurídico em favor de um sujeito e com
ônus para o outro, o qual nada deve fazer, mas também nada pode fazer a fim de evitar tal efeito (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 2010, p. 273).
Consoante Chiovenda, o direito de ação consiste no direito ao provimento jurisdicional de mérito
favorável.
A diferença entre a teoria anterior e esta é seguinte: Wach entendia que a ação era exercida contra o
Estado e o adversário. De seu turno, Chiovenda defendia que a ação não era exercida contra o Estado, sendo a
ação um direito potestativo, prescindindo da concordância do adversário para ser contra ele exercido.

e) Teoria Autonomista/Abstrata pura (século XX - Ovídio)

#COLANARETINA #LINKMENTAL: A existência do direito de ação independe da existência do direito material.


Direito a pronunciamento estatal de qualquer teor. Incondicionada – inexistem as condições de ação.

Por outro lado, firmada a autonomia do direito de agir em relação ao direito material, alguns juristas
passaram a pensar sobre a situação do autor que, movimentando o juízo, chega a uma sentença que nega a
existência do direito material. Assim, Plósz e Degenkolb entenderam que o direito de agir não exclui a
possibilidade de uma sentença desfavorável, que então restou qualificado por Plósz como “direito abstrato”.
Para esses juristas, o direito de agir é, além de autônomo, independente do reconhecimento do direito material
(MARINONI, 2008, p. 164-5). Adotada no Brasil por Ovídio Baptista da Silva.
É considerada “pura” porque o direito ao pronunciamento estatal é de qualquer teor, isto é, não interessa
qual o tipo de pronunciamento que o Estado proferiu para quem tenha exercido o direito de ação. O Direito de
ação é incondicionado, ou seja, inexistem condições da ação. Assim, é exercido o direito de ação com qualquer
pronunciamento estatal, inclusive, sem a análise do mérito (mesmo que seja indeferida a inicial, por exemplo).
A teoria em apreço possui uma falha e uma crítica marcante, pois ela é considerada antieconômica. Isso
porque as condições da ação têm um papel muito importante na economia processual.

f) Teoria Autonomista/Abstrata e Eclética (1930 - Liebman)

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#COLANARETINA #LINKMENTAL: Direito constitucional de ação ou de petição ou de acesso X direito de
processual de ação. Direito a pronunciamento de mérito. Condicionada – com as condições da ação. Em
resumo, “o direito de ação surge como direito a uma resposta de mérito”.

A teoria eclética do direito de ação tem como seu maior expoente Liebman. Esse autor definiu ação como
direito subjetivo instrumental e, mais do que um direito, um poder ao qual não corresponde a obrigação do
Estado, igualmente interessado na distribuição da justiça; poder esse correlato com a sujeição e
instrumentalmente conexo com uma pretensão material (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2010, p. 275).
É entendida como uma teoria abstrata, mas com certos temperamentos. Mantém o entendimento de que
o direito material não se confunde com o direito de ação. Diferencia-se, no entanto, quanto ao fato de
preconizar que o direito de ação não é um direito incondicional e genérico. O julgamento do mérito só ocorre
quando no caso concreto quando alguns requisitos são preenchidos, de forma a possibilitar ao juiz a análise da
pretensão do autor. Esses requisitos são chamados de “Condições da Ação”.
A Teoria Eclética diferencia direito constitucional de ação e direito processual de ação, isto é, diz Liebman
que os abstrativistas puros da teoria anterior estão certos, quando dizem que o direito de ação é incondicionado,
porque é possível pedir para o Estado, independente do conteúdo, que ele deverá dar uma resposta, nem que
seja “indefiro a inicial”. O direito constitucional de ação ou de petição ou de acesso é um direito incondicionado
(igual aos abstrativistas puros).
Todavia, o direito processual de ação é direito condicionado, porque para o bom exercício do direito de
ação é necessário que haja algumas regras ligadas à economia processual que permitam ao juiz só levar adiante
processos que tenham alguma viabilidade de resultado. Se de plano já se perceber que o processo não
viabilidade de ter sucesso, o Juiz não precisaria tocá-lo adiante, isto é, extinguindo-o sem analisar o mérito.
Para essa teoria, só haveria direito de ação, se houvesse um pronunciamento pelo mérito (favorável ou
desfavorável), diferente da teoria acima estudada.

#ATENÇÃO: Não confundir mérito com resposta de mérito3


TIPO DE PROCESSO PRETENSÃO (MÉRITO) RESPOSTA DE MÉRITO
CONHECIMENTO Que o Juiz diga quem tem razão, O Juiz, preenchidas as condições,
declarando qual o direito aplicável dirá quem tem razão ao proferir
à espécie. uma sentença de procedência ou
improcedência
EXECUÇÃO Que o Juiz satisfaça o direito do O Juiz, preenchidas as condições,
credor. determina as providências

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Tabela retirada do Livro Direito Processual Civil Esquematizado - Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2017).

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concretas e materiais de satisfação
do crédito, como penhora,
avaliações e alienações.

g) Teoria (autonomista e abstrata) da Asserção (teoria della prospetazione)

#COLANARETINA #LINKMENTAL: Essa teoria é um mix entre as teorias (autonomista pura e eclética).

Trata-se de teoria mais recente, sendo considerada intermediária entre a teoria abstrata pura e a teoria
eclética. É um mix entre as teorias (autonomista pura e eclética), pois defende a existência das condições da
ação (mas, não essas condições da mesma forma que a teoria eclética), porque, nesta teoria, a falta das
condições da ação leva a extinção sem mérito em qualquer momento processual.
Assim, o interesse de agir e a legitimidade devem ser aferidos pelo juiz apenas a partir do que foi alegado
pelas partes. O magistrado irá aferir se há legitimidade e interesse apenas a partir do que foi afirmado. Isso
significa que não serão objeto de prova! Devem ser examinados apenas pelo o que foi afirmado. Se houver
necessidade de provas entre eles, a questão será de mérito. A ilegitimidade é analisada da simples narrativa e
tão somente dela.
Sendo possível para o juiz, mediante cognição sumária, perceber a ausência de uma ou mais condições
da ação, o Magistrado deve aplicar o art. 485, VI do NCPC para evitar o desenvolvimento de uma atividade inútil.
Dessa forma, por economia processual, cabe ao juiz a prematura extinção do processo por carência de ação,
nesse ponto, não diferindo da teoria eclética.
Havendo necessidade de uma cognição mais aprofundada do caso para constatar se estão ou não
presentes as condições da ação, estar-se-á diante de uma análise de mérito. Desse modo, uma profunda
cognição do caso, passa a ser matéria de mérito, gerando uma sentença de rejeição do pedido do autor, com
base no art. 487, inciso I, do NCPC, fazendo coisa julgada material. Nesses termos, a teoria da asserção não
difere da teoria abstrata pura.
Em resumo, a teoria tem o objetivo de diminuir o impacto danoso que essa concepção causa. A análise
das condições da ação deve ser feita apenas de acordo com o que foi afirmado pela parte. Toma-se as afirmações
da parte como verdadeiras. Obs.: pode ser aplicada até mesmo após a contestação. Na hipótese de o réu alegar
a carência da ação, caso o magistrado a julgue unicamente com base no que foi dito pelo autor na inicial.
O que a define, portanto, não é o momento de avaliação das condições da ação e sim a produção ou não
de prova. Se positivo o juízo de admissibilidade, tudo o mais seria decisão de mérito. Se tudo o que estiver sendo
dito for verdade, estão presentes as condições da ação? Se houver necessidade de produzir provas para a análise
das condições da ação, o problema já é de mérito.

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#SELIGANATABELA:
Análise ANTES da produção de prova Análise DEPOIS da produção de prova
NÃO É MÉRITO: ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS É MÉRITO
PROCESSUAIS

#NÃOESQUEÇA: ALEGAÇÃO DA PARTE (ANÁLISE DE PRELIMINAR) → PRODUÇÃO DE PROVA → ALEGAÇÃO DA


PARTE (ANÁLISE DE MÉRITO)

Principal crítica à teoria da asserção: A impossibilidade de se mudar a natureza de um instituto jurídico,


tomando-se como base o momento em que um pronunciamento é feito. Uma condição da ação sempre será
uma condição da ação seja no limiar do processo seja após o exaurimento da fase de sua cognição.

#ATENÇÃO: No Brasil, a doutrina majoritária adota a teoria autonomista/abstrativista e eclética das condições
da ação (6ª teoria estudada). Mas, no âmbito do STJ, mais recentemente, tem prevalecido à teoria da asserção
(Tema 939 – Repetitivo) (Resp 818.603-RS, Terceira Turma, Dje 3/9/2008; e Resp 1.395.875-PE, Segunda Turma,
Dje 7/3/2014).

Essa teoria tem ampla aceitação no STJ, não só em matérias cíveis, como também nos processos penais.

Sistematizando a TEORIA DA ASSERÇÃO, adotada pelo STJ:


A) Sendo possível o juiz mediante uma cognição sumária perceber a ausência de uma ou mais condições da
ação: extinção do processo SEM resolução do mérito, por carência de ação (art. 485, VI, Novo CPC).
B) Caso o juiz precise, no caso concreto, de uma cognição mais aprofundada para então decidir sobre a presença
ou não das condições da ação, não mais haverá tais condições da ação (que perdem essa natureza a partir do
momento em que o réu é citado), passando a ser entendidas como matéria de mérito: extinção do
processo COM resolução do mérito - gera uma sentença de rejeição do pedido do autor (art. 487, I, do NCPC).4

Vamos revisar todas as teorias novamente? A tabela a seguir é para você #COLARNARETINA e sempre ler
antes da prova (#RECORDARÉVIVER).

- O direito de ação é um apêndice do direito material (não existe


TEORIA SINCRETISTA, IMANENTISTA OU
autonomia do direito de ação).
PRIVATISTA

4(Técnico do MPRJ-2016-FGV): No que se refere à aferição da presença, ou não, das condições para o regular exercício da ação, a teoria
aplicável é a asserção.

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- O direito de ação é dirigido contra o adversário.
- A ação tem AUTONOMIA em relação ao direito material.

TEORIA AUTONOMISTA - O direito de ação (relação de direito processual) é exercido contra


o Estado (natureza pública).
- Reconhece a autonomia do direito de ação.
- O direito de ação é o direito ao provimento jurisdicional de
TEORIA AUTONOMISTA E CONCRETA
MÉRITO FAVORÁVEL (autônomo, mas dependente).
- Exercitado contra o Estado e o adversário.
- Reconhece a autonomia do direito de ação.
- O direito de ação é direito ao provimento jurisdicional de MÉRITO
TEORIA AUTONOMISTA DA AÇÃO COMO FAVORÁVEL (autônomo, mas dependente).
DIREITO POTESTATIVO
- A ação é o exercício de direito potestativo (não depende da
concordância do adversário).
- Reconhece a autonomia do direito de ação.
- A existência do direito de ação independe da existência do direito
material – independe do tipo de RESPOSTA dada pelo Judiciário
TEORIA AUTONOMISTA ABSTRATA PURA
FAVORÁVEL (procedência) OU DESFAVORÁVEL (improcedência ou
extinção sem julgamento do mérito) (autônoma e independente).
- Direito de ação é incondicionado - inexistem condições da ação.
- Intermediária entre a concreta e a abstrata pura.
- Reconhece a autonomia do direito de ação.
- O direito de ação é o direito a obter uma RESPOSTA de MÉRITO,
isto é, uma decisão, positiva (procedência) OU negativa
TEORIA AUTONOMISTA ABSTRATA E
(improcedência).
ECLÉTICA
- O direito constitucional de ação (ou de petição ou de acesso) é
incondicionado. Mas o direito processual de ação é um direito
condicionado (CONDIÇÕES DA AÇÃO).
- Reconhece a autonomia do direito de ação.
- Apesar de existentes as condições da ação, essas condições apenas
TEORIA DA ASSERÇÃO (DELLA poderão ser analisadas conforme alegação do autor na petição
PROSPETAZIONE)
inaugural (in statu assertionis).
Precisando o juiz de uma cognição mais aprofundada (exauriente)
do caso para saber se estão ou não presentes as condições da ação,
estar-se-á diante de uma análise de mérito, não seria mais caso de

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extinção da ação sem julgamento do mérito, mas de improcedência
do pedido, pois a análise das condições da ação é feita somente na
análise da inicial.

2.5. Direito processual de ação

#01MINUTODEPAUSA
Para o CPC/73, eram condições da ação a POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO, o INTERESSE DE AGIR e a
LEGITIMIDADE AD CAUSAM. Assim, o processo era extinto sem resolução de mérito quando ausente alguma
condição da ação (art. 267, VI).
Crítica da doutrina: a questão é de mérito ou é de admissibilidade. O NCPC NÃO MENCIONA MAIS A CATEGORIA
‘CONDIÇÃO DA AÇÃO’. Isso não quer dizer que não haja nenhuma análise sobre o que correspondia à
possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade ad causam. Essas questões são analisadas,
mas não mais dentro do assunto ‘condições da ação’, agora inexistente.
O NPCP NÃO MENCIONA MAIS A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. A questão passa a ser examinada como
hipótese de IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO.
Nota-se, então, que as antigas condições da ação ‘interesse de agir’ e ‘legitimidade ad causam’ agora
permitem decisão de inadmissibilidade. Mas, não são mais chamadas de ‘condições da ação’. Também não se
fala mais em ‘carência de ação’. Na verdade, a legitimidade e o interesse passarão a constar da exposição
sistemática dos pressupostos de validade: O INTERESSE, COMO PRESSUPOSTO DE VALIDADE OBJETIVO
EXTRÍNSECO; A LEGITIMIDADE, COMO PRESSUPOSTO DE VALIDADE SUBJETIVO RELATIVO ÀS PARTES.

2.5.1. Fundamento

Liebman sustentava a vantagem das “condições da ação” pela a economia processual. Quando se ajuíza
com uma ação, o Juiz diante da visualização de que há impropriedade do meio ou da ilegitimidade da parte,
deve ser permitido ao Estado-juiz obstar de pronto o direito de ação por questão de economia processual.

2.5.2. Espécies (arts. 17 e 485, VI, CPC)

(i) Interesse de agir (ou interesse processual)

(ii) Legitimidade ad causam

Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

13
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse
processual;

2.5.3. Interesse processual

Esse interesse consiste, em verdade, na observação de três requisitos/elementos:

(i) Necessidade/utilidade (imposição legal ou resistência) (requerimento administrativo):


Está diretamente associada à prestação jurisdicional que se pretende obter. Cabe ao autor demonstrar
que o provimento jurisdicional pretendido será capaz de lhe proporcionar o bem jurídico pleiteado, isto é, uma
melhora em sua situação fática.
O provimento deve ser necessário e útil. Essa necessidade pode se dar tanto por resistência do adversário
(regra geral), mas a necessidade também pode se dar porque a lei impõe.
Exemplo de resistência do adversário: ação de cobrança.
Exemplo de imposição legal: ações necessárias, aqueles em que só é possível exercitar perante o judiciário, tal
como ocorre nos casos de adoção.
Durante muito tempo, no Brasil, prevaleceu o entendimento de que o prévio requerimento administrativo
não era requisito para afirmar o interesse processual. Esse entendimento está “em superação” em matéria
previdenciária, DPVAT, exibição de documento bancário. Nesses exemplos, tem prevalecido o entendimento
que é necessário o requerimento administrativo. Só teremos necessidade do pronunciamento do judiciário, isto
é, ter interesse processual, na situação em que houver a negativa do INSS, do DPVAT, do banco em fornecer o
documento.
#OLHAOGANCHO #CONCURSOSFEDERAIS: EM REGRA, é indispensável o prévio requerimento administrativo
do benefício no INSS (não é necessário o esgotamento da via administrativa). Caso contrário, não há, em regra,
interesse de agir, já que havia a possibilidade de seu pedido ter sido atendido pelo INSS na via administrativa.
#APROFUNDAMENTO: Finalmente a questão foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal no dia 27 de abril de
2014, quando o Plenário julgou o Recurso Extraordinário 631.240. Adotou-se, em regra, a exigência do prévio
requerimento administrativo como condição de procedibilidade da ação judicial, sob pena de carência de
interesse de agir e extinção do processo sem o julgamento do mérito. De efeito, excluiu-se da exigência do
prévio requerimento administrativo pedidos em que seja notório o indeferimento pelo INSS (tese jurídica), pois
nestes casos é certo que a autarquia previdenciária vai indeferir o pedido.
Outrossim, as ações de revisão de benefício previdenciário também dispensam o prévio requerimento, pois cabe
ao INSS promover a revisão de ofício no exercício do dever-poder de autotutela, salvo quando haja a necessidade
de alguma apreciação fática que seja ônus do segurado ou do seu dependente, a exemplo de revisão com base
em decisão da Justiça do Trabalho. Por sua vez, na sessão do dia 03 de setembro de 2014, definiu-se uma regra

14
de transição para as ações judiciais já ajuizadas sem o prévio requerimento administrativo até o dia deste
julgamento, fruto de acordo entre a Defensoria Pública da União e a Procuradoria Geral Federal.
Deveras, dispensou-se o prévio requerimento nas ações intentadas em Juizados Itinerantes, justamente porque
buscam segurados e dependentes em localidades mais distantes e que não possuem agência do INSS. Ademais,
nas hipóteses em que o INSS apresentou contestação resistindo à pretensão posta em juízo, negando o direito
do autor, dispensou-se o prévio requerimento administrativo, devendo as ações judiciais tramitar normalmente.
Nos demais casos, à exceção de teses notoriamente negadas pelo INSS e ações revisionais, o processo judicial
será suspenso, sendo intimado o segurado (ou dependente) para requerer na via administrativa no prazo de 30
dias, sob pena de extinção do processo judicial sem julgamento do mérito. Uma vez formulado o pedido
administrativo em 30 dias, o INSS terá 90 dias para julgá-lo, devendo este prazo ser suspenso se o segurado for
notificado para juntar documentação (carta de exigências). Se negado o pleito pela autarquia previdenciária, a
ação judicial voltará a correr. Caso concedido o benefício, a ação judicial será extinta sem a análise do mérito.
Na hipótese de o INSS, administrativamente, conceder parcialmente a prestação previdenciária, a ação judicial
voltará a correr apenas no que concerne ao pedido controverso, devendo ser extinta sem o julgamento do
mérito da parte incontroversa. Vale frisar que será considerada como data de início do benefício à data do
processo judicial, existindo controvérsia não apreciada pelo STF se será a data do ajuizamento da ação ou a data
da citação.
Assim, dispensou-se o prévio requerimento administrativo nas seguintes hipóteses:
a) Tese jurídica notoriamente rejeitada pelo INSS;
b) Negativa comprovada de protocolo do pedido administrativo;
c) Nas ações de revisão de benefício previdenciário, salvo se depender de dilação probatória a cargo do
segurado ou de seu dependente;
d) Apresentação de contestação de mérito pelo INSS resistindo à pretensão deduzida em Juízo;
e) Extrapolação do prazo para tomada da decisão administrativa na Agência do INSS (45 dias);
f) Ações judiciais propostas nos Juizados Itinerantes.
#CASCADEBANANA #NÃOCONFUNDIR: No julgado acima mencionado, a 1a Turma do STJ aderiu ao
posicionamento firmado pelo STF no RE 631.240-MG, no qual o Supremo, sob o regime de repercussão geral,
decidiu que a concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se
caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido o
prazo legal para sua análise. Para o STF, a exigência de prévio requerimento não se confunde com o
exaurimento das vias administrativas, contudo, não deve prevalecer quando o entendimento da Administração
for notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado. Assim, o STJ sedimentou a tese: "A concessão
de benefícios previdenciários depende, via de regra, de prévio requerimento administrativo do interessado
perante o INSS".

15
(ii) Adequação:
Para que seja recebida a tutela jurisdicional, terá que se valer da via adequada eleita pelo sistema. Ex.: O
mandado de segurança sem prova pré-constituída também é exemplo de via inadequada. Como consequência,
julga-se o processo extinto sem resolução do mérito for falta de condição da ação (interesse processual na faceta
adequação).

#CUIDADO #EXCEÇÃO #CASCADEBANANA: O art. 785 do CPC aduz que “A existência de título executivo
extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo
judicial”. Esse dispositivo ratifica o entendimento do STJ.

DEOLHONAJURIS: Na vigência do CPC/2015, remanesce o interesse de agir do inventariante na ação de


prestação de contas, mantido o caráter dúplice da demanda. O inventariante não pode encerrar seu mister sem
que antes apresente as contas de sua gestão. Essa prestação de contas é, portanto, uma atribuição imposta pela
lei ao inventariante, razão pela qual possui interesse de agir para ajuizar a presente ação autônoma de prestação
de contas. Vale ressaltar, inclusive, que esse interesse de agir é presumido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1707014/MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

(iii) Possibilidade jurídica do pedido (dos elementos da ação) (Liebman)

Essa possibilidade jurídica dos elementos da ação não é autônoma, pois integra uma faceta do interesse
processual. Em outras palavras, o interesse processual abrange a possibilidade jurídica do pedido, segundo
Liebman, após a reformulação de sua teoria.
Na verdade, não é possibilidade jurídica do pedido, mas sim a possibilidade jurídica dos elementos da
ação. Não pode existir vedação no sistema para o elemento da ação. Se a lei vedar o elemento da ação, o juiz
tem que extinguir sem mérito por falta de interesse processual.
Toda vez que alguém ajuíza com uma ação que a parte é proibida, que o pedido é proibido ou que a causa
de pedir é proibida estaremos diante de uma situação de falta de interesse processual.
Vejamos os exemplos:
→ Exemplo 1: Impossibilidade de cobrança de dívida de jogo: A impossibilidade aqui é da causa de pedir. A
impossibilidade jurídica está dentro da falta de interesse de agir. A possibilidade jurídica do pedido é a
inexistência de vedação legal a parte, ao pedido ou a causa de pedir. Art. 814 do CC: As dívidas de jogo ou de
aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se
foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.

16
→ Exemplo 2: Na Lei da Ação Civil Pública, há proibição para discutir pretensões que envolvam tributos,
contribuições previdenciárias, FGTS ou outros fundos de natureza institucional em que seja possível
determinar individualmente seus beneficiários: Se o MP entrar com uma ACP para discutir tributo, o juiz dirá
que aqui há uma vedação legal a ACP nesse caso, destacando numa hipótese de impossibilidade jurídica do
pedido (há uma lei limitando) e a via eleita se torna inadequada. Há falta de interesse processual, portanto.
Lei da Ação Civil Pública: Art. 1º (...), parágrafo único: “Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados”.

#OLHAOGANCHONAJURIS
O Ministério Público não possui legitimidade ativa ad causam para, em ação civil pública, deduzir pretensão
relativa à matéria tributária.
STF. Plenário. ARE 694294. Rel. Min. Luiz Fux, j. 26/04/2013 (Repercussão Geral - Tema 645).

Na espécie, o acórdão proferido por este Sodalício está em consonância com a jurisprudência firmada pelo
Pretório Excelso, não havendo que se falar na legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública
com a finalidade de discutir hipótese de dedução da base de cálculo do imposto de renda.
STJ. Corte Especial. AgInt no RE no AgInt no REsp 1465282/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 08/02/2022.

#ATENÇÃO: O NPCP NÃO MENCIONA MAIS A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. A questão passa a ser
examinada como mérito, devendo do Juiz proferir sentença de ‘IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO’.

2.5.4. Legitimidade ad causam (art. 18 CPC)

Consiste na relação que deve existir entre as partes e o direito material em debate. Com isso, teremos a
legitimidade para a causa, ou seja, legitimidade ad causam.
É relação entre quem pede, o que se pede e contra quem se pede. Esta relação trata-se do vínculo entre
as partes com o direito material.
A legitimidade ad causam pode ser dividida em duas:

(i) Ordinária (regra geral do sistema): Ela apenas pode defender direito próprio em nome próprio. “Cada um
cuida do que é seu”.

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico.

17
(ii) Extraordinária (substituição processual): É aquela em que o indivíduo defende direito alheio em nome
próprio.

A legitimação extraordinária é excepcional, isto é, necessita de autorização legal. É o que consta no art.
18, parágrafo único do NCPC:

Art. 18 (...) Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente
litisconsorcial. 5

Exemplos:
Art. 1.314 do CC: Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os
direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte
ideal, ou gravá-la.
Art. 109, § 2º do CPC: O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial
do alienante ou cedente.

#OBS. Para a maioria da doutrina, a legitimação extraordinária é sinônimo de substituição processual. Mas
para alguns autores só há substituição processual quando quem não está no processo não puder defender o seu
interesse ou não for co-parte.

#ATENÇÃO:
a) Legitimidade extraordinária é diferente de representação:

Representação é a hipótese de que alguém age em nome alheio na defesa de direito alheio (ex: o pai
representando o incapaz).
Legitimidade extraordinária é a hipótese de que alguém age em nome próprio na defesa de direito alheio.

5
(DPES-2016-FCC): De acordo com a atual sistemática processual civil, no caso de substituição processual, o substituído
poderá intervir como assistente litisconsorcial e, neste caso, sua atuação não se subordina à atividade do substituto. BL:
Art. 18, NCPC.

OBS: "Significa dizer que o art. 122 do NCPC, que determina natureza acessória da assistência, não será aplicado na
hipótese da assistência litisconsorcial, considerada autônoma em relação à ação principal." (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Volume Único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016. p. 283).

18
b) Substituição processual é diferente de sucessão processual: A substituição processual ocorre quando
alguém “fica” no processo para defender direito alheio. É a hipótese do art. 109, §§ 1º e 2º do NCPC.

Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a
legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o
consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou
cedente.

Já a sucessão ocorre quando um “sai” e o outro “entra” no processo. É a hipótese do art. 109, caput, §1º
e art. 110, ambos do CPC.

Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a
legitimidade das partes.
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus
sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1o e 2o.

c) Legitimidade extraordinária por convenção processual (art. 190 do CPC/2015)

Para alguns autores é possível que a legitimidade extraordinária por convenção processual. Isso porque,
em virtude da previsão do negócio processual do art. 190 do CPC, as partes poderiam pactuar que “alguém”
haja em nome próprio na defesa de direito alheio por contrato e não com base em lei. Quem sustenta isso é
Fredie Didier e Eduardo Talamini. Não obstante, tal entendimento é extremamente controvertido.

O art. 18 do CPC diz expressamente: “Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico”.

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre
os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em
que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

19
Outras classificações da Legitimação:
Legitimação Autônoma: É da parte.
Legitimação Subordinada: É do assistente.
Legitimação Exclusiva: Quando somente um sujeito é considerado legitimado para compor um dos polos do
processo.
Legitimação Concorrente (Colegitimação): Existe mais de um sujeito legitimado a compor um dos polos do
processo.
Legitimação Isolada ou Disjuntiva (Simples): Permite que o legitimado esteja sozinho no processo.
Legitimação Conjunta (Complexa): Exige a formação de litisconsórcio entre todos ou alguns legitimados
(litisconsórcio necessário).
Legitimação Total: Quando se refere a todo o processo.
Legitimação Parcial: Quando referente somente a determinados atos, como ocorre nos incidentes
processuais.

#OLHAOGANCHO: foi publicada a lei nº 13.806/2019 - que altera a Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971,
que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, para
atribuir às cooperativas a possibilidade de agirem como substitutas processuais de seus associados.
Art. 88-A. A cooperativa poderá ser dotada de legitimidade extraordinária autônoma concorrente para agir
como substituta processual em defesa dos direitos coletivos de seus associados quando a causa de pedir versar
sobre atos de interesse direto dos associados que tenham relação com as operações de mercado da cooperativa,
desde que isso seja previsto em seu estatuto e haja, de forma expressa, autorização manifestada individualmente
pelo associado ou por meio de assembleia geral que delibere sobre a propositura da medida judicial.

2.5.5. Crítica à teoria das condições da ação:

As condições da ação existem no Código de Processo Civil de 2015?

No CPC de 1973, todos apontavam a existência dessas condições da ação, uma vez que o art. 267, inciso
VI, falava expressamente em “carência da ação”. Isto é, quando a parte não exerce o direito de ação, gerando
uma decisão sem a análise do mérito.
Com a leitura do art. 485, VI, do NCPC, que corresponde ao art. 267, VI do CPC de 1973, não se utiliza mais
a expressão “carência da ação”. O novo dispositivo processual preconiza que o juiz vai extinguir o processo sem
o julgamento do mérito quando faltar interesse processual ou ausência de legitimidade.

20
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse
processual;

A partir desse dispositivo, a doutrina passou a debater se o CPC/2015 acabou com as condições da ação,
com base na teoria do professor Ovídio Baptista, que negava as condições da ação.

Há duas posições:

a) Posição minoritária (Fredie Didier): não existem mais as condições da ação. Era também a posição
defendida por Ovídio Baptista. No novo CPC elas são pressupostos processuais de validade. Em suma, para
Didier existe o binômio da ação: os pressupostos processuais e o mérito.
b) Posição adotada pela maioria (Alexandre Câmara, Talimini, Theodoro Jr, entre outros): continuam
existindo as condições da ação, a única diferença é que a possibilidade jurídica do pedido está expressamente
inserida dentro do interesse processual. Se olharmos o art. 17 do CPC/2015, para postular em juízo deve existir
interesse processual e legitimidade. A fim de afirmar a existência dessas condições, há também o art. 485, inciso
VI do NCPC. Desse modo, para a maioria, se fala em trinômio da ação: pressupostos processuais, condições da
ação e mérito.

2.5.6. Falsas carências (coisa julgada material)

A doutrina aponta situações de falsas carências. Seriam as situações em que o Juiz extinguiu o processo
sem julgamento do mérito, mas que, na verdade, houve apreciação do mérito. Nessas hipóteses de falsas
carências, apesar de a extinção ser sem mérito, formalmente, o caso seria de coisa julgada material, inclusive,
sendo cabível rescisória dessa decisão de falsa carência.
Exemplo: Em uma ação de paternidade, o Juiz depois da realização do exame de DNA, descobriu que uma
das partes não é o pai. Desse modo, o magistrado deveria julgar improcedente a ação, porém, julga extinto o
processo sem análise do mérito. Isso é um exemplo de falsa carência. Saber se o homem é ou não pai da criança
consiste em análise de mérito.
O CPC/2015 reconhece a existência de falsas carências. Basta verificar o art. 966, §2º NCPC:

Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
§ 2o Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora
não seja de mérito, impeça:
I - nova propositura da demanda; ou
II - admissibilidade do recurso correspondente.

21
Nesse caso, caberá ação rescisória contra decisão sem mérito em situações de falsa carência.

2.5.7. Regime jurídico das condições da ação

a) A ausência acarreta a extinção do processo sem análise mérito (art. 485, VI, CPC)

Salvo nas hipóteses de falsa carência, não fará coisa julgada material.
Não houve o exercício do direito de ação, porque este é pelo julgamento do mérito. Isso serve tanto para
teoria eclética como também para a teoria assercionista.

b) Questão de ordem pública (arts. 337, §5º, e art. 485, § 3º, CPC): de ofício e sem preclusão

As condições da ação são questões de ordem pública, isto é, significa que o juiz pode pronunciar de ofício,
observado o art. 10 do CPC.
E, além disso, não há preclusão, porque é uma questão de ordem pública.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias
enumeradas neste artigo.

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


§ 3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.

Depois de toda esta análise sobre o tema, podemos, finalmente, enunciar o conceito de ação:
A ação é o direito público subjetivo de reclamar do Estado tutela jurisdicional (sinônimo: resposta/proteção) de
mérito.

2.6. Elementos (identificadores) da ação

2.6.1. Finalidade

22
Nas palavras do professor Marcus Vinícius6, “os elementos servem para identificar a ação, funcionam
como uma espécie de carteira de identidade. É por meio deles que, comparando duas ações, será possível
verificar se são idênticas, caso em que haverá litispendência ou coisa julgada; se são semelhantes, caso em
que poderá haver conexão ou continência; ou se são completamente diferentes. Os elementos da ação são
três: as partes, o pedido e a causa de pedir. Se modificarmos qualquer um deles, alteraremos a ação, o que é
de grande relevância porque o juiz, ao prolatar a sua sentença, fica adstrito ao que foi postulado na petição
inicial, não podendo julgar nem diferente do que foi pedido, nem a mais. Se o fizer, sua sentença será extra
petita ou ultra petita e inválida.” (Grifo nosso).

2.6.2. Aplicação prática (competência) e (identidade total e parcial das demandas – arts. 55 a 58, e 337, §§ 1º
a 4º, CPC)

Os elementos da ação têm aplicação prática no estudo da competência, e também na identidade total
ou parcial das demandas.
Quando se tem a identidade total das demandas irá ocorrer o fenômeno da coisa julgada e da
litispendência, que acarretam a extinção do processo sem extinção do mérito (art. 485, V, NCPC).
Quando se tem a identidade parcial das demandas irá ocorrer o fenômeno da conexão ou da continência,
que estão previstos nos art. 55 a 58 do CPC. Esses fenômenos irão levar a reunião dos processos para
julgamento conjunto ou suspensão de um deles até julgamento do outro.

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido
sentenciado.
§ 2o Aplica-se o disposto no caput:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
§ 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões
conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. (obs.: teoria
materialista da conexão).

#OLHAOGANCHO
O que consiste a teoria materialista da conexão?

6
Direito Processual Civil Esquematizado, 2017.

23
A moderna teoria materialista da conexão ultrapassa os limites estreitos da teoria tradicional e procura
caracterizar o fenômeno pela identificação de fatos comuns, causais ou finalísticos entre diferentes ações,
superando a simples identidade parcial dos elementos constitutivos das ações.

Assim, é possível a conexão entre um processo de conhecimento e um de execução, quando se observar entre
eles uma mesma origem, ou seja, que as causas se fundamentam em fatos comuns ou nas mesmas relações
jurídicas, sujeitando-as a uma análise conjunta.
Nesse sentido entendeu o STJ: REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
24/2/2015, DJe 14/04/2015.

Portanto nota-se que, com O CPC/2015, não é necessário que haja conexão para que haja a reunião de processos
para julgamento. Isso porque, conforme art. 55, § 3º do NCPC: "Serão reunidos para julgamento conjunto os
processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles".
Bibliografia: Fredie Diddier.

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa
de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo
relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão
necessariamente reunidas.

Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas
simultaneamente.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


(...)
§1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias
enumeradas neste artigo.

24
§ 6o A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica
aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

2.6.3. Teorias

a) Tríplice identidade (tríplice adem)

Essa é a teoria adotada pelo CPC. Isso porque o art. 337, §§1º a 4º do NCPC preconiza que a coisa julgada
e a litispendência são aferidas a partir dos três elementos da ação.

b) Relação jurídica material (Ex.: Acidentária X Previdenciária, art. 1.314 do CC, etc.)

Não tem previsão legal, mas serve para corrigir as falhas da teoria da tríplice identidade (teoria aplicada
em caráter subsidiário).

O que define a identidade da ação é o direito substancial em debate e não os elementos da ação.

Assim, se falhar a teoria da tríplice identidade, pode ser aplicada da teoria da relação jurídica material,
podendo a ação proposta sofrer os efeitos da coisa julgada, caso a identidade da ação seja em virtude do direito
substancial em debate. A doutrina brasileira tem admitido essa teoria.

Exemplo1: Acidentária x Previdenciária.


Exemplo2: Art. 1.314, NCPC. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer
todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a
respectiva parte ideal, ou gravá-la. Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa
comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.

2.6.4. Tríplice identidade (tríplice adem) (art. 337, § 2º, CPC)

(i) Partes (ativa e passiva):

Em geral, são partes principais o autor e o réu. Parte auxiliar é aquela que, apesar de parcial, não formulou
o pedido ou não teve o pedido contra si formulado (caso do assistente). Há também a parte em um incidente
do processo (ex.: o juiz é parte de um incidente de suspeição).

25
Carnelutti falava da parte complexa: incapaz ou pessoa jurídica + representante.

#NÃOCONFUNDIR:

PARTE PROCESSUAL PARTE MATERIAL PARTE LEGÍTIMA

É aquela que está em uma relação Sujeito da situação jurídica Tem autorização para estar em
jurídica processual, faz parte do discutida em juízo. Pode ou não juízo discutindo determinada
contraditório, atuando com ser a parte processual. situação jurídica.
parcialidade e podendo sofrer Casos de legitimação Atenção: parte ilegítima também
alguma consequência com a decisão. extraordinária (atua em nome é parte porque pode alegar, ao
próprio e defende o direito menos, sua própria ilegitimidade.
alheio).

Existe processo sem uma das partes?


É muito raro, mas existe. Como exemplos, temos as ações de controle de constitucionalidade e também
algumas ações de jurisdição voluntária entre as quais se destacam os alvarás (art. 725 e seguintes do NCPC).

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


(...)
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
Art. 725. Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de:
VII - expedição de alvará judicial;

(ii) Pedido

a) Imediato (pretensão processual - provimento jurídico desejado)

É a pretensão processual, é o provimento jurídico desejado. Na verdade, é o tipo de providência que se


requer do judiciário.

Exemplo1: ação de cobrança – pedido imediato: sentença condenatória.


Exemplo2: ação de divórcio – pedido imediato: sentença desconstitutiva (extinção da relação jurídica).
Exemplo3: Entrada de pedido de execução – pedido imediato: penhora de bens.

b) Mediato (pretensão material – bem da vida)

26
É o exercício da pretensão material.
O que nos mundos dos fatos, no mundo da vida, é o que você quer: quero R$ 500,00; quero carro; quero
a casa; quero divisão do patrimônio; quero pensão, etc. Em última análise, trata-se do bem da vida.

#RELEMBRANDO
Cumulação própria (“SS”): regida pela partícula "E".
Própria simples: Quero B e A.
Própria sucessiva: Quero B (alimentos), se conseguir A (paternidade). Resulta em um litisconsórcio sucessivo.

Cumulação imprópria: regida pela partícula "OU".


Imprópria alternativa (“tanto faz”): Quero A ou B. Resulta em um litisconsórcio alternativo.
Imprópria eventual/subsidiária: Quero B só se não conseguir A (há uma ordem de preferência). Resulta em um
litisconsórcio eventual.
Assim, na cumulação imprópria, por lógica, se o autor consegue um dos pedidos, o outro não será deferido.

(iii) Causa de pedir (teoria da substanciação)

A causa de pedir é o porquê do processo, isto é, a causa de pedir é um elemento determinante das razões
de fato e de direito pelo qual se pede.

OBS.: o Brasil adotou a teoria da substanciação. De acordo com essa teoria, não basta apenas expor os
fundamentos jurídicos, é necessário que se haja a exposição dos fundamentos de fato do pedido para saber o
alcance da fundamentação jurídica.

A doutrina amplamente majoritária afirma que o direito brasileiro adotou a teoria da substanciação,
sustentando que a exigência da narrativa dos fatos na petição inicial derivada do art. 319, III do NCPC. No
entanto, a doutrina aponta que a causa de pedir não é composta apenas dos fatos, sendo composta também
pela fundamentação jurídica.
A causa de pedir no Brasil se divide em duas:

27
a) Fundamentos jurídicos (próxima)
Causa de pedir próxima.

Exemplo1: ação de cobrança:


✓ Pedido imediato: sentença condenatória.
✓ Pedido mediato: R$ 500,00 (bem da vida)
✓ Causa de pedir próxima: inadimplemento (fundamento jurídico)
✓ Causa de pedir remota: é a história do fato, isto é, a relação fática (fundamentos de fato)

Exemplo2: Mandado de Segurança: Pedro (autor) e Detran (réu) - partes


✓ Pedido imediato: sentença mandamental (ordem).
✓ Pedido mediato: Desbloqueio da CNH (bem da vida)
✓ Causa de pedir próxima: Ilegalidade ou não cumprimento do Código de Trânsito Nacional (fundamento
jurídico)
✓ Causa de pedir remota: as razões fato, isto é, a relação fática, afirmando que tomou uma multa porque
não foi licenciado o veículo está com a CNH provisória, que é a licença provisória para dirigir e o Detran bloqueou
a CNH, não deixando tirar a definitiva porque o autor tomou essa multa não ter licenciado o veículo. O
licenciamento do veículo não é propriamente uma infração de trânsito, ela é uma infração administrativa. O
autor não descumpriu as regras de circulação, razão pela qual o autor entende ser ilegal o bloqueio da CNH
porque não pagou o licenciamento (fundamentos de fato).

b) Fundamentos de fato (remota): Causa de pedir remota. São os fatos do processo.

28
Observações finais sobre a causa de pedir:

➔ Atenção para as classificações doutrinárias:

#CASCADEBANANA:
Causa de pedir próxima Causa de pedir remota
É a lesão ou ameaça a direito que foi conferido ao É o fato constitutivo do direito do autor, é aquilo que
autor. confere ao autor um direito.
Ex.: na ação de cobrança de dívida a causa de pedir
remota é o empréstimo (ato constitutivo do seu
crédito) e a causa de pedir próxima é lesão ao seu
crédito.

#CASCADEBANANA: A causa de pedir remota se subdivide


Causa de pedir remota ativa Causa de pedir remota passiva
É o fato título, ou seja, o fato gerador do direito. Ex: É o fato que impulsiona o interesse de agir e que
contrato. contraria o direito. Em suma, é o que leva o sujeito ao
Poder Judiciário. Ex: inadimplemento.

➔ O contrário da teoria da substanciação é a teoria da individuação: Para a teoria da individuação, a causa de


pedir só precisa ter os fundamentos jurídicos (causa de pedir próxima). O Brasil não adota essa teoria.
➔ Alguns autores, como Nelson Nery Junior e Araken de Assis, invertem essa ordem: Para esses autores, a
“causa de pedir próxima” é o fundamento de fato e a “causa de pedir remota” é os fundamentos jurídicos.

➔ Fundamento jurídico é diferente de fundamento legal: Na ação o agente está obrigado a dizer o porquê do
processo, isto é, o fundamento jurídico (ex: inadimplemento).

ATENÇÃO: O fundamento legal nada mais é do que o artigo de lei. O fundamento legal não é elemento da causa
de pedir.
#NÃOCONFUNDIR: Não se pode confundir fundamento jurídico, que compõe a causa de pedir, com
fundamento legal, que não compõe a causa de pedir e decididamente não vincula o juiz em sua decisão, que
poderá decidir com base em outro fundamento legal, com respeito ao contraditório.

29
Fundamento legal Fundamento jurídico
É a indicação do artigo de lei no qual se fundamenta É o liame jurídico entre os fatos e o pedido, ou seja, é
a decisão; esse fundamento legal é dispensável e não a explicação à luz do ordenamento jurídico do porquê
vincula o autor ou o juiz, não fazendo parte da causa o autor merecer o que está pedindo diante dos fatos
de pedir. que narrou.

#ATENÇÃO: O objeto do processo é o pedido qualificado pela causa de pedir.

2.7 Classificação das ações no processo civil7:

a) Classificações das ações:


1) Ações reais e pessoais: a ação é real quando a relação jurídica (causa de pedir próxima) for um direito
real. Quando for um direito pessoal, a ação será pessoal. Essa classificação leva em conta o direito afirmado.
DEPENDE DO DIREITO (real ou pessoal).

2) Ações mobiliárias ou imobiliárias: a ação será mobiliária quando tiver como objeto de pedido um móvel,
e imobiliária quando tiver como objeto um imóvel. DEPENDE DO OBJETO (móvel ou imóvel).

Uma ação mobiliária ou imobiliária pode ter como causa de pedir tanto um direito real como um direito
pessoal. Existem direitos reais sobre móveis e direito reais sobre imóveis, e direitos pessoais sobre móveis e
direitos pessoais sobre imóveis. Temos a tendência de pensar que os direitos reais são sempre para bens
imóveis. O despejo, por exemplo, é fundado num direito pessoal, mas o objeto é um imóvel.
#OBS: Tal classificação reflete na competência (domicílio do réu – ações mobiliárias - ou situação do imóvel –
ações imobiliárias).

3) Ação de conhecimento, ação cautelar e ação de execução: depende do tipo de tutela jurisdicional
pretendido: certificação de direito (conhecimento), efetivação de direito (execução) ou proteger a efetivação
de um direito (cautelar). A classificação perdeu importância porque as demandas têm assumido natureza
sincrética (fases processuais) e servindo a vários tipos de tutela e propósitos.

4) Ações dúplices: no sentido processual, ação dúplice é sinônimo de pedido contraposto. Nos Juizados
Especiais, o réu pode formular um pedido contra o autor no bojo da contestação.

7
* Tal tópico é fruto da fusão de anotações de aula e do material desenvolvido por Martina Correia no site “Foca no
Resumo”, que pode ser localizado no seguinte endereço eletrônico:
https://focanoresumo.files.wordpress.com/2016/04/foca-no-resumo-teoria-da-acao-ncpc3.pdf.

30
- O que mais importa, contudo, é o sentido material: QUANDO UMA AÇÃO É, A DEFESA DO RÉU É O EXERCÍCIO
DE UM DIREITO SEU, OU SEJA, AO SE DEFENDER, JÁ ESTÁ AFIRMANDO UM DIREITO PRÓPRIO. No sentido
processual, o réu se defende e formula um pedido contraposto ao autor (são coisas diferentes). Na ação
materialmente dúplice, o fato de o réu se defender já é a afirmação de um direito.
Pense no cabo de guerra: as equipes se defendem e atacam ao mesmo tempo. A defesa do réu não vai ser só
defesa, mas também puxar a corda pra o lado dele. O réu que se defende numa ação que não é dúplice só quer
não perder; numa ação materialmente dúplice, o réu sai com algo que ele não tinha (ele não apenas “não
perde”). Ex.: um pai vai a juízo oferecendo alimentos a seu filho (R$ 1000). O filho se defende e diz que mil reais
não é um valor suficiente, que é necessário o valor de R$ 1500. Essa defesa, por si só, já é uma afirmação de um
direito. Se o juiz disser que, de fato, devem ser pagos apenas os mil reais, o pai ganhou, mas quem executa a
sentença é o réu. A definição do valor dos alimentos é um problema que qualquer um dos dois poderia ter levado
ao Judiciário.

#OLHAOGANCHO: TODA AÇÃO MERAMENTE DECLARATÓRIA É MATERIALMENTE DÚPLICE. O autor pede que o
juiz declare a existência de uma relação jurídica. A defesa do réu será dizer que ela não existe (uma ação
declaratória contrária). Uma ação é materialmente dúplice a depender do direito que o autor afirme ter. O que
torna a ação materialmente dúplice não é o procedimento, mas o tipo de direito. Ex: ação de reconhecimento
de união estável.

#OLHAOGANCHO: São materialmente dúplices: ação de usucapião, ADI e ADC, ação de consignação em
pagamento, ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de união estável.

#OLHAOGANCHO: A ação possessória é uma ação duplamente dúplice (em ambos os sentidos): o réu, além de
se defender do pleito possessório (no qual já afirmará sua posse, ou seja, o seu próprio direito – materialmente
dúplice), poderá formular um pedido de indenização contra o autor, no bojo da contestação (pedido contraposto
– processualmente dúplice).

b) Classificações das ações de conhecimento: DIREITO A UMA PRESTAÇÃO é o poder jurídico de exigir de outrem
o cumprimento de uma prestação (uma CONDUTA), que pode ser um FAZER, NÃO FAZER, DAR DINHEIRO OU
DAR COISA. O direito a uma prestação precisa ser concretizado no mundo físico. É um direito que só se executa
com a realização da conduta devida, com ATOS MATERIAIS.
Quando o sujeito passivo não cumpre a prestação, fala-se em inadimplemento (os direitos a uma
prestação são os únicos que podem ser inadimplidos). A tutela executiva pressupõe inadimplemento.

31
Somente o direito a uma prestação se submete à prescrição. A possibilidade de exigir de outrem uma
prestação chama-se pretensão.
Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser voluntária ou forçada. Ela pode
realizar-se com o devedor simplesmente adimplindo, voluntariamente; ou pode ser forçada através do
Judiciário.
Diferentemente do direito a uma prestação, o DIREITO POTESTATIVO É O DIREITO QUE ALGUÉM TEM DE
SUBMETER OUTREM À ALTERAÇÃO, CRIAÇÃO OU EXTINÇÃO DE SITUAÇÕES JURÍDICAS (“ESTADO DE
SUJEIÇÃO”).
O direito potestativo efetiva-se NORMATIVAMENTE: basta a decisão judicial para que ele se realize, sem
qualquer ato material. Exatamente por operarem no mundo jurídico, não precisam de execução, pois não há
prestação devida. Não há ato material a ser praticado, não há prestação (conduta) do sujeito passivo. Por isso,
são direitos que não podem ser violados e inadimplidos. Ex.: direito à invalidação do ato jurídico, direito ao
divórcio, à resolução do negócio, direito de decidir uma sentença, direito de casar-se.

CONCLUSÃO: Por isso que se diz que “sentença constitutiva, que diz respeito a um direito potestativo, não é
título executivo”.

Consoante Chiovenda, o direito potestativo é um direito-meio: é um meio de remover um direito


existente (extintivo) ou é um instrumento (“tentáculo”) de um direito-possível que aspira surgir. O direito
potestativo esgota-se com o seu exercício.
Os direitos potestativos submetem-se, se houver previsão legal, a prazos decadenciais.

AÇÃO CONSTITUTIVA é a demanda que tem o objetivo de obter a certificação e efetivação de um direito
potestativo.
As ações constitutivas costumam ser ações que produzem efeitos apenas para frente, eficácia ex nunc.
Nada impede, porém, que o direito atribua à ação constitutiva uma eficácia retroativa, é excepcional, mas pode
ocorrer.

ATENÇÃO: A efetivação de um direito potestativo pode gerar um direito a uma prestação. Isso porque a
situação jurídica criada após a efetivação de um direito potestativo pode ser exatamente um direito a uma
prestação. Ex.: a decisão que rescinde uma sentença que já fora executada gera, por efeito anexo, o direito do
executado à indenização pelo exequente dos prejuízos que lhe foram causados em razão da execução malsinada.
Essa decisão tem aptidão para transformar-se em título executivo, pois torna certa a obrigação de indenizar, que
ainda é ilíquida, impondo-se a liquidação.

32
#ESQUEMATIZANDO:
Direitos a uma prestação Direitos potestativos

Poder de exigir de outrem uma prestação: prestação É o direito que alguém tem de interferir na esfera
sempre é uma conduta de fazer, de não fazer ou de dar jurídica de outra pessoa, significando: criar, alterar ou
dinheiro ou de dar uma coisa que não é dinheiro. extinguir situações jurídicas (competência, direitos e
obrigações). É o direito de mudar o mundo jurídico
(das ideias e não mundo físico), não tendo relação
com deveres respectivos.

Relacionam-se com a figura da prescrição: perda do Relacionam-se com a figura da decadência: perda do
poder de exigir a prestação de outrem; próprio direito.

É possível haver direito potestativo sem prazo


decadencial? SIM! Ao contrário das pretensões
condenatórias, que, em regra, estão submetidas a
prazos prescricionais, o direito potestativo pode não
estar submetido a qualquer prazo decadencial,
sendo, assim, exercido a qualquer tempo. É o caso,
por exemplo, do divórcio: trata-se de direito
potestativo que qualquer dos cônjuges pode exercer
quando bem pretender.

São os únicos direitos que podem ser adimplidos. Logo, Considerando que não há relação com o dever, não
o inadimplemento, a lesão e a violação só podem ocorrer se pode falar em adimplemento.
nos denominados direitos a uma prestação.

O prazo de prescrição começa a correr, logo após, o


inadimplemento.

São direitos que precisam de uma efetivação material. Se Exemplos clássicos: direito a rescisão de uma
a conduta humana não for realizada, o direito a uma sentença; direito ao divórcio; direito de anular um
prestação não se efetiva.

33
O nome técnico dessa efetivação é “execução”: realizar a contrato; direito de dividir um condomínio; direito de
prestação devida. revogar um mandato.

Logo, a execução é um fenômeno exclusivo dos direitos Por um ato, há mudança apenas no mundo jurídico e
a uma prestação. Por isso, existe execução de fazer, não no mundo dos fatos.
execução de não fazer, execução de dar dinheiro, As transformações jurídicas se dão por palavras, não
execução de dar coisa diversa. necessitando de efetivação material, como nos
direitos a uma prestação.
A execução pressupõe o inadimplemento. Portanto, não geram execução!

a) A execução pode ser: voluntária ou forçada. A primeira


é quando o próprio devedor cumpre a prestação. A
segunda ocorre perante o Poder Judiciário, cumprindo-
se a obrigação mesmo sem a vontade do devedor.
b) A execução pode ser: fundada em título judicial ou
extrajudicial.
c) A execução pode ser: execução em processo
autônomo e execução em processo sincrético (cognição
+ execução. Serve para executar, mas não
exclusivamente).
d) A execução pode ser: direta e indireta.
A direta se realiza sem a participação do executado (o
Estado-Juiz se sub-roga na posição do devedor e faz o
que ele deveria ter feito. Logo, a execução feita
diretamente pelo Estado). Ela é considerada uma
execução ‘visualmente’ mais violenta. Ex: realização de
penhora.

#CUIDADO: Não se pode confundir isso com a


arbitrariedade. Apesar de ser aparentemente mais
violenta, existe a observância dos princípios
constitucionais.

34
Já a indireta, o Estado força, psicologicamente, o devedor
a cumprir a obrigação. O Estado tenta convencer o
devedor a fazer isso. Em regra, é uma execução
‘invisível’, pois a pressão se dá na mente. É considerada
uma execução mais econômica para o Estado. Pode-se
pressionar pelo medo ou pelo estímulo. Neste último
caso, surge a figura da “sanção premial”.
Exemplos clássicos: cumprir decisão, sob pena de multa
(astreintes), prisão civil de alimentos, cumprir obrigação
de não fazer.

#CUIDADO: Não há hierarquia entre elas. Uma não


pressupõe a outra.

#ESQUEMATIZANDO:
EXECUÇÃO DIRETA EXECUÇÃO INDIRETA

A decisão executiva impõe uma prestação ao réu e A decisão mandamental impõe uma prestação ao réu
prevê uma medida coercitiva direta. Não precisa de e prevê uma medida coercitiva indireta. A execução
colaboração do executado: o Estado-juiz se substitui indireta atua na vontade do executado para que ele
ao devedor e realiza prestação por ele. É chamada de mesmo cumpra a prestação. Para isso, o Estado se
execução por sub-rogação. vale de coações psicológicas: medo (prisão civil e
multa coercitiva) ou incentivo (sanções premiais,
Medidas sub-rogatórias: desapossamento, como a isenção de custas e honorários para que o réu
transformação, expropriação, etc. cumpra o mandado monitório).

O resultado buscado é o mesmo: tutela jurisdicional executiva.


As formas como se buscam essa tutela é que se distinguem.
A tendência atual é a de prestigiar os meios executivos indiretos (menos onerosos).

Vamos estudar agora a evolução das ações de prestação.

1973: As ações de prestação eram ações de pura declaração, ou seja, buscava-se o Judiciário para
obtenção de uma decisão que reconhecesse o direito a uma prestação. Essa decisão possibilitava a instauração

35
de um novo processo apenas para executá-la. Em regra, as ações de prestação à época eram NÃO SINCRÉTICAS,
eram AÇÕES CONDENATÓRIAS, que tinham o propósito de gerar um título para ser executado depois.

Ação condenatória é aquela em que se afirma a titularidade de um direito a uma prestação e pela qual se
busca a certificação e a efetivação desse mesmo direito, com a condenação do réu ao cumprimento da
prestação devida.

Sucede que alguns procedimentos especiais inseriam atos executivos no próprio processo de
conhecimento. Ex.: mandado de segurança, ações possessórias, ação de nunciação de obra nova.
Essas ações sincréticas eram divididas em duas espécies: AÇÕES MANDAMENTAIS (se efetivavam por
execução indireta) e AÇÕES EXECUTIVAS EM SENTIDO AMPLO (se efetivavam por execução direta). Ambas
são espécies da ação condenatória.
Ambas visam à efetivação de uma prestação devida e se distinguem pela técnica executiva utilizada
(direta ou indireta). Com a generalização da tutela antecipada, o legislador passou a prever a prática de atos
executivos no procedimento padrão.

CONCLUSÕES:
Ação condenatória é regra geral e não sincrética.
Ação mandamental e Ação executiva lato sensu: são consideradas exceções, sendo ações sincréticas.
➔ Então, o que distinguia as condenatórias das mandamentais/executivas em sentido amplo era que a
primeira categoria não era sincrética e a segunda era.

CRÍTICA: Havia quem dissesse que essa tripartição das ações de prestação era indevida e que todas as
ações de prestação deveriam chamar-se de ações condenatórias, tendo em vista que todas eram
substancialmente idênticas, já que serviam igualmente à prestação de um direito. Desse modo, as variações
técnicas não justificariam essa divisão.

1994 (primeira grande reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações de PRESTAÇÃO
DE FAZER E NÃO FAZER (passaram a ter “força executiva própria”).
Nesse sentido, alguns diziam que como todas as ações de prestação de fazer e de não fazer eram
sincréticas, não havia mais ação condenatória de fazer e de não fazer, porque ou eram mandamentais ou
executivas em sentido amplo. Por outro lado, outros continuavam a afirmar que não há por que fazer essa
distinção já que todas são condenatórias, o legislador muda a técnica, mas não muda a substância.

36
CONCLUSÃO: Fortaleceram-se as noções de sentença mandamental e sentença executiva como sendo
modelos de decisões sincréticas.

2002 (segunda etapa da reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações para ENTREGA
DE COISA (art. 461-A).
De um lado, havia aqueles que diziam que não existe mais ação condenatória para entrega de coisa, já
que agora seriam todas sincréticas. Para essa parte da doutrina, apenas restavam as ações condenatórias de
prestação de dar dinheiro. Outra parte continuava afirmando que todas as ações eram condenatórias, não
havendo motivo para a tripartição. Art. 287 do CPC (redação antiga): foi retirado o verbo “condenar”8.

2005: tornaram-se sincréticas as AÇÕES DE DAR DINHEIRO, ou seja, agora TUDO VIROU SINCRÉTICO:
a Lei 11.232/05 criou a fase de cumprimento da sentença.
As regras da execução de título extrajudicial aplicam-se subsidiariamente, no que couber, ao
cumprimento ou execução da sentença.

Em resumo:

Diante dessa situação, surgiram as seguintes correntes doutrinárias:

DOUTRINA MAJORITÁRIA (3) ADA PELLEGRINI (4) CARLOS ALBERTO ALVARO (5)
Constitutiva Constitutiva Constitutiva
Declaratória Declaratória Declaratória
Condenatória (mandamentais e Mandamental Condenatória
AESA são espécies) AESA Mandamental
AESA

8
Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu (antigamente, falava-se em “pedir a condenação”) a abstenção da
prática de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer cominação de pena
pecuniária para o caso de descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4 o, e 461-A).
(Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002) #OBS: Este artigo não está no novo CPC.

37
IMPORTANTE: condenatórias, executivas lato sensu e mandamentais. Em todas elas há a imputação de
cumprimento de uma prestação ao réu, havendo diferença somente na forma de satisfação dessa prestação.

Nota-se que para Ada Pellegrini, não existe mais a ação condenatória.
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira entende necessária a tripartição das ações de prestação, mesmo que
todas sejam sincréticas, fazendo-se uma tripartição de acordo com o tipo de prestação. Para essa corrente, ação
condenatória é ação de prestação pecuniária; a ação mandamental é ação para fazer e não fazer; e ação
executiva em sentido amplo são as ações para entrega de coisa.

Já analisamos a ação condenatória nos direitos a uma prestação e a ação constitutiva (positiva ou
negativa) nos direitos potestativos. Agora vamos analisar a terceira ação de conhecimento: ação declaratória.
Na AÇÃO DECLARATÓRIA pede-se o reconhecimento da existência, da inexistência de uma relação
jurídica ou o modo de ser dessa relação ou a declaração de autenticidade ou da falsidade de documento. Não
se busca a efetivação de direito algum, nem direito à prestação, nem direito potestativo.

AÇÃO DECLARATÓRIA: Pretende-se a mera declaração de certeza jurídica.

Vejamos o que o CPC/2015 diz sobre a ação declaratória:

Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:


I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica;
II - da autenticidade ou da falsidade de documento.

#SELIGANASÚMULA: Súmula 181 do STJ: É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata
interpretação de cláusula contratual.

Também é admitida a ação declaratória para interpretar decisão judicial.


Fora o caso da declaração de autenticidade ou falsidade de documento (art. 19, II), não se admite ação
meramente declaratória de fato.
Exemplos de ações declaratórias: ADC (ação declaratória de constitucionalidade), ação de usucapião, ação
declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de inexistência de união estável,
consignação em pagamento etc.
Exatamente porque se busca a mera certeza de uma relação, e não a prestação de um direito (prescrição)
ou a afirmação de um direito potestativo (decadência), não se submetem a prazos.

38
O art. 20 do CPC/2015 repete o art. 4º do CPC antigo de 1973, vejamos:

Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

O exemplo clássico da doutrina: caso Wladimir Herzog (jornalista judeu que apareceu morto numa cela
em SP com uma corda no pescoço), em que Clarice Herzog, viúva, pediu ao Judiciário apenas o reconhecimento
do direito à indenização, sem, porém, pedir a condenação da União ao pagamento. A União alegou falta de
interesse e o Tribunal (TFR) entendeu que ela possuía o direito. Depois, Clarice resolveu pedir indenização com
base na sentença.
Quando uma ação declaratória é ajuizada e a sentença declara a existência de direito a prestação exigível,
ela terá força executiva. Não é necessário ajuizar outra ação condenatória.

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste
Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de
fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

ATENÇÃO: O direito à declaração não prescreve, mas o direito à prestação corresponde sim. Ação
meramente declaratória ajuizada quando já poderia ter sido ajuizada uma ação condenatória não interrompe
a prescrição. Isso porque não houve comportamento do credor que revelasse a sua vontade de buscar a
efetivação da prestação. E todos os fatos interruptivos da prescrição se justificam em um comportamento do
credor direcionado ao cumprimento da prestação pelo sujeito passivo. Na ação declaratória, o demandante
não anuncia o desejo de efetivar o seu direito após a certificação judicial. É diferente do que ocorre na ação
condenatória, em que o comportamento do credor se direciona ao cumprimento da prestação pelo sujeito
passivo. Distinguir 3 situações:

AÇÃO DECLARATÓRIA SEM QUE AÇÃO DECLARATÓRIA QUANDO HOUVE AÇÃO CONDENATÓRIA
TENHA HAVIDO LESÃO LESÃO (ART. 20)

Não há prescrição, pois não Há prescrição, pois a violação do direito já Há prescrição, que é
houve violação do direito. ocorreu. interrompida pelo
O despacho que ordena a citação não despacho que ordena a
interrompe a prescrição, pois não há citação.
pretensão à efetivação.

39
Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc (só declara o que já existe). Exceção: art. 27 da Lei
9.868/99, que permite a modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.

#APROFUNDAMENTO: A sentença declaratória pode ter eficácia executiva?

Apesar de aparentemente tratar-se de uma contradição, os tribunais e a doutrina vêm admitindo a


executoriedade das sentenças meramente declaratórias, desde que preenchidos determinados requisitos.

O posicionamento acima não é pacífico. Neste sentido, vejamos a lição de Nelson Nery Jr. (Código de Processo
Civil Comentado, 2016, p. 1368): “Como na ação meramente declaratória (CPC 19) não há imposição de
obrigação nem de sanção, traço caracterizador da eficácia executiva da sentença, não contém ela aptidão para
impor a pratica de atos de execução, não contém força executiva”.

Por outro lado, formou-se entendimento majoritário de que “as sentenças declaratórias (inclusive as de
improcedência) são executáveis quando explicitarem todos os elementos de uma prestação exigível. A nosso
ver, não faz sentido impor nova fase de cognição para explicitar um comando condenatório a uma sentença
que já contém todos os elementos identificadores da obrigação”(Wambier, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros
comentários ao novo código de processo civil. 2016. P.933/934).

Segundo essa corrente, a nova definição a título executivo judicial conferida pelo art. 515, I do NCPC apenas
corrobora esse entendimento. O STJ, por sua vez, já tem reiteradas decisões neste sentido.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. SENTENÇA


DECLARATÓRIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça é pacífica no sentido de que a sentença declaratória pode ter força executiva, caso presentes os
elementos necessários à execução, como exigibilidade, liquidez e certeza da obrigação. 2. Não há como
analisar a questão referente à ocorrência de coisa julgada, tendo em vista a ausência de prequestionamento.
3. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 604.194/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe 28/03/2016).

Desta forma, é possível a execução de sentença declaratória, caso presentes os elementos necessários à
execução, como exigibilidade, liquidez e certeza da obrigação.

ENUNCIADOS NCPC:

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ENUNCIADO 35 – Considerando os princípios do acesso à justiça e da segurança jurídica, persiste o interesse
de agir na propositura de ação declaratória a respeito da questão prejudicial incidental, a ser distribuída
por dependência da ação preexistente, inexistindo litispendência entre ambas as demandas (arts. 329 e
503, § 1º, do CPC).

DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Código de Processo Civil Art. 16 a 20

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Anotações de aula,

Direito Processual Civil Esquematizado - Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2017),

Cavalcante, Márcio André Lopes, Informativos esquematizados do Dizer o Direito.

“Foca no Resumo” (Martina Correia).

41

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