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Direito Processual Civil I

Regente José Luís Ramos

Raquel Castro Guerreiro &


Mariana Valério Sobreiro

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 1


Índice
A instrumentalidade do Direito Processual Civil ........................................................ 4
Relação entre o Direito Civil e o Direito Processual Civil............................................. 5
O processo como sequência de atos .......................................................................... 6
A invalidade do ato da sequência .....................................................................................8
Espécies de ações ..................................................................................................... 9
Objeto .................................................................................................................... 12
Sujeitos .................................................................................................................. 14
Alçada do Tribunal- art. 44º LOSJ ............................................................................ 20
Valor da causa........................................................................................................ 20
Quanto à forma: processo comum e processo especial- art. 546º CPC ...................... 21
Os Princípios Gerais ................................................................................................ 22
1) Princípio do acesso ao Direito .......................................................................... 22
2) Princípio da Equidade ...................................................................................... 25
Princípio do contraditório .............................................................................................. 25
Princípio da igualdade de armas ..................................................................................... 27
3) Direito a uma decisão em prazo razoável ......................................................... 28
4) Princípio da legalidade da decisão ................................................................... 29
5) Princípio do inquisitório ................................................................................... 29
6) Princípio do dispositivo .................................................................................... 31
7) Princípio da boa fé processual .......................................................................... 34
8) Princípio da economia processual .................................................................... 34
Transações ............................................................................................................. 34
Nulidades processuais ............................................................................................ 35
Organização Judiciária ........................................................................................... 36
Pressupostos processuais ........................................................................................ 38
Pressupostos Processuais relativos ao Tribunal ............................................................... 39
Competência Internacional e Competência Interna ......................................................... 41
Regras sobre competência internacional ........................................................................ 42
Regras vigentes em Portugal .......................................................................................... 42
Regulamento (UE) nº 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de
Dezembro de 2012 ......................................................................................................... 43

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Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de Novembro de 2003 (Regulamento
Bruxelas II – a) ............................................................................................................... 47
Regulamento (CE) nº4/2009 do Conselho, de 18 de Dezembro de 2008 ........................... 48
Regulamento (UE) nº 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de Julho de
2012 .............................................................................................................................. 48
Regras de competência internacional do Direito Interno ................................................. 49
Competência interna...................................................................................................... 51
Violação das regras de competência: incompetência absoluta e incompetência
relativa .................................................................................................................. 59
Pressupostos relativos às partes ............................................................................. 64
Personalidade judiciária ................................................................................................. 64
Capacidade judiciária ..................................................................................................... 65
A legitimidade ............................................................................................................... 67
Patrocínio Judiciário quando obrigatório ........................................................................ 82
O interesse em agir ........................................................................................................ 83

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A instrumentalidade do Direito Processual Civil

O direito é um sistema de normas de conduta. Quando se faz esta afirmação,


pensa-se no conjunto das normas primárias do direito material (ou substantivo), que têm
por função pautar a atuação dos sujeitos jurídicos de acordo com valores sociais próprios.

Para que se revistam de juridicidade, essas normas primárias (imperativas,


proibitivas ou permissivas) carecem da possibilidade de coativamente serem feitas
respeitar. Toda a norma primária de conduta é garantida por uma norma secundária
sancionatória, que se impõe no caso de violação da primeira.

A violação da norma de conduta surge quando outrem atua, afetando a


integridade duma situação jurídica tutelada pelo direito. Sem prejuízo dos casos em que
lhe é permitida a ação direta, o titular da situação jurídica tutelada pode então recorrer
aos tribunais, com o que procura assegurar a satisfação do seu interesse, desencadeia o
mecanismo de garantia da norma de conduta violada.

Porém, nem só a violação consumada leva os sujeitos de direito privado a recorrer


aos tribunais. Também a prevenção da violação, quando alguém ameaça realizá-la ou
falsamente aparenta ser titular dum interesse tutelado, e o exercício de direitos
potestativos podem justificar o recurso a juízo. Podem, designadamente, divergir entre
si as posições intelectuais dos titulares de interesses em conflito sobre a existência ou o
conteúdo de determinada situação jurídica, gerando-se assim situações de dúvida ou
incerteza subjetiva carecidas de definição. Em causa estão então apenas a identificação,
a interpretação e a incidência concreta das normas de conduta aplicáveis.

Ou seja, a necessidade de recorrer ao processo civil (que assegura a tutela de direitos civis
e comerciais) justifica-se em que termos?

→ Em caso de violação de um direito ou prevenção de violação do mesmo;


→ Em caso de dúvida: P.e. temos um terreno em Portugal e o que A e B querem
saber é se são proprietários deste terreno. Aqui não há um conflito. A pode
perguntar ao tribunal se é proprietário do terreno. Temos uma situação subjetiva
- titularidade ou propriedade - e pergunta-se se essa situação subjetiva se verifica.

Art. 1º CPC - proibição da autotutela - a ninguém é lícito o recurso à força. Os direitos


têm de ser cumpridos através do tribunal. Há casos muito limitados de uso legítimo da
força - ação direta, legítima defesa, estado de necessidade - mas, fora destes, não há uso
da força legitimamente falando.

A tutela dos direitos é exercida pelos tribunais. Temos um sistema jurídico que tutela
esses direitos através da ação dos tribunais, do exercício jurisdicional do direito. É
exatamente aqui no que diz o art. 1º CPC que nos situamos. Não é permitido autodefesa.

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O nosso sistema jurídico é um sistema que assenta no chamado monopólio estadual da
função jurisdicional. Art. 202º CRP - os tribunais são públicos, organismos do Estado.

P.e. Se há um litígio entre A e B, em que A empresta a B 1000 euros (contrato de mútuo)


e B não paga passado o prazo, A tem a solução de por uma ação em tribunal no sentido
de condenar o B a pagar o dinheiro. Em quaisquer litígios, temos necessidade de recurso
à tutela jurisdicional e que decorre do art. 1º CPC.

Em todos os casos, o recurso aos tribunais para tutela de situações jurídicas e


concomitante garantia de normas de conduta de direito privado postula a aplicação de
normas instrumentais (ditas adjetivas) que regulem as atuações dos sujeitos de direito
privado e dos tribunais tendentes à concretização jurisdicional do direito substantivo. O
conjunto dessas normas, recortado no âmbito do direito público, constitui o direito
processual civil.

OBS: existe a ideia errada de que processo civil é um ramo de direito privado, mas é um
ramo de direito público. Trata da tutela de situações subjetivas, mas ao ter o monopólio
dos tribunais, tem uma tutela de ius imperii; deriva da aplicação de normas civis pelos
tribunais.

Relação entre o Direito Civil e o Direito Processual Civil

Uma das questões que a doutrina tem colocado:

Os direitos subjetivos vão ser tutelados agora pelo Direito Processual Civil. Mas temos
de pensar nas relações entre Direito Civil e Direito Processual Civil:

− O Direito Processual Civil em relação ao direito civil é adjetivo

Isto porque no direito civil estaria o direito substantivo e no direito processual civil o
direito adjetivo. Direito processual civil - o direito acessório em relação ao direito civil.
Será verdade? Muitos autores disseram isso.

REGENTE: o direito processual civil não é adjetivo em relação ao direito civil, ou pelo
menos não é apenas adjetivo, acessório, ou complementar, porque no processo civil
vamos encontrar diversas situações de índole subjetiva que emergem do próprio
processo civil e não estão incorporadas no direito civil. Encontramos situações
importantes no próprio direito processual civil.

P.e., A devia a B 100 mil euros e não pagou. A ação foi proposta e começámos com a
petição inicial etc. houve aqui um ponto em que o juiz chamou as partes e perguntou se
as partes tinham possibilidade de chegar acordo e as partes chegam a acordo - B pagava
a A 80 mil euros. Esta hipótese emerge dentro do processo civil. No direito civil temos
apenas uma dívida em que B é devedor de A. Acaba por existir um acordo e esta transação
emerge do processo civil. Uma verdade situação jurídica emerge e consolida-se no

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âmbito de um determinado processo civil. Isto demonstra que o direito processual civil é
mais do que o direito adjetivo em relação ao direito civil.

− Será que o direito processual civil é instrumental relativamente ao direito civil?

Se entendermos que o direito civil não é propriamente substantivo, poderemos dizer


que o direito processual seria um sistema de normas de conduta que versam sobre
situações jurídicas derivadas - o conjunto dessas situações jurídicas vão resolver no
sentido de tutelar através do nosso processo com uma conclusão e essa há de ser uma
conclusão com determinada sentença, essas normas poderemos dizer que são
instrumentais em relação ao direito civil. Aceitamos que se o devedor não cumprir uma
pretensão, o credor usa da faculdade de através dos meios processuais obter o
pagamento devido.

Função instrumental - cumprir a tutela que de alguma maneira é configurada no direito


civil.

O direito processual civil é mais do que essa função auxiliar, mas tem uma função
instrumental do direito.

Cândido Dinamarco:

- Instrumentalidade com conteúdo negativo, impede que o processo seja um obstáculo


à função de justiça;

- Instrumentalidade com conteúdo positivo, impõe que o processo redunde na justiça,


seja uma cadeia instrumental e direcionada a um determinado fim e esse fim deve ser o
da aplicação da justiça e o da resolução daquele litígio.

Direito Processual Civil - Conjunto das normas reguladoras do processo civil. A


análise do conceito de processo civil pode, no entender de CASTRO MENDES, ser feita
mediante o exame sucessivo dos seus elementos fundamentais:

I. A estrutura;
II. A função;
III. O objeto;
IV. Os sujeitos do processo civil.

Estrutura

O processo como sequência de atos

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O termo processo designa, no seu sentido vulgar, uma sequência de fenómenos (atos
humanos ou factos naturais) dirigida a um resultado. No campo do direito, o mesmo
sentido mantém-se, mas os fenómenos da sequência são factos jurídicos, máxime atos
jurídicos.

O processo civil é uma sequência de atos que se obrigam a um resultado - à sentença.


O processo é uma sequência de atos destinados a apreciar uma pretensão (um pedido),
formulada por uma parte contra a outra parte, mediante intervenção de um tribunal.

Assim, o processo jurisdicional é sempre uma sequência de atos jurídicos (das partes, do
tribunal, de terceiros intervenientes) ordenados para um fim.

Estes atos ordenam-se, por sua vez, em fases sucessivas. Assim, o processo comum,
que constitui o ponto de referência subsidiário das restantes formas do processo civil
(arts. 546º e 549º/1 CPC), tem, na ação declarativa em 1º instância, as seguintes fases:

→ Fase dos articulados, ao longo da qual as partes alegam a matéria de facto e de


direito relevante para a decisão final:
o Petição inicial – art 552º e ss. CPC;
o Citação do réu – art 563º CPC;
o Contestação – art 569º e ss. CPC;
o Notificação da contestação ao autor- art 575º CPC;
o Réplica (eventualmente) – art 584º e seguintes CPC

→ Fase da condensação, visando verificar e garantir a regularidade do processo,


identificar o objeto do litígio, decidir o que possa já ser decidido e enumerar os
temas da subsequente prova para julgamento (despacho pré-saneador- art. 590º,
marcação da data da audiência prévia, convocação das partes para esta audiência,
audiência prévia (art. 591º e ss.); não havendo lugar à audiência, despacho
saneador (art. 595º), despacho de adequação formal, simplificação ou agilização
processual, despacho de identificação do objeto do litígio e enunciação dos temas
da prova e despacho de programação da audiência final, proferidos
autonomamente, e notificação destes despachos às partes; eventualmente, a
seguir, requerimento de audiência prévia para apresentação de reclamações
desses despachos, marcação da data desta audiência, notificação às partes e
apresentação e decisão das reclamações em audiência);
→ Fase da instrução: repartida em diligências concludentes à prova dos factos
alegados pelas partes, tendencialmente concentradas na audiência final, mas
podendo, por sua natureza, ter lugar antes dela (implicando requerimentos das
partes, despachos e notificações);
- Desdobra-se em diversos procedimentos probatórios

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→ Fase da discussão: as partes exprimem os seus pontos de vista sobre a decisão a
proferir mediante alegações sucessivas, de facto e de direito, dos mandatários
judiciais do autor e do réu;
→ Fase do julgamento: mediante prolação da sentença, sua notificação às partes,
eventuais reclamações quando não seja admissível recurso, notificação das
contrapartes para lhes responder e decisão delas.

Constituindo o processo jurisdicional uma sequência de atos jurídicos, dele não fazem
parte factos jurídicos stricto sensu. Tal não significa que os meros factos jurídicos não
possam produzir efeitos no processo, mas sim que, quando tal acontece, estes efeitos
são mediatizados através da prática de atos jurídicos (processuais) que aí os fazem valer.
Assim, por exemplo, a morte de uma das partes suspende a instância (art. 269º/1/a), mas
só depois de alegada (e provada - art. 270º/1), salvo o fenómeno da retroatividade: o
facto da morte ocorre fora da sequência processual e, extinguindo a personalidade
jurídica da parte (art. 11º), faz cessar um pressuposto processual; a alegação da parte
(art. 270º/2), ou a certificação do falecimento pelo funcionário incumbido da citação (art.
351º/2), são atos integrados na sequencia processual, que condicionam a verificação
judicial do facto, subsequente à respetiva prova (art. 270º/1).

A invalidade do ato da sequência

Voltando aos atos da sequência processual, a circunstância de nela se integrarem


gera um especial regime de invalidade, diverso do de direito civil.

Em direito civil, as causas de nulidade ou anulabilidade dos negócios jurídicos e, por


extensão, do ato jurídico stricto sensu (art. 295º CC) são eficazes no âmbito do ato em
causa, sem que, por si, projetem a sua eficácia no regime de outros atos jurídicos. Por
outro lado, pode a celebração de um negócio constituir convalidação (ex. art. 895º CC)
ou confirmação (art. 288º CC) de um negócio anterior; mas nunca a eficácia do vício
verificado num negócio, seja ele gerador de nulidade ou anulabilidade, se pode dizer
necessariamente dependente da realização da função de outros negócios posteriores.

Em processo civil, pelo contrário, a nulidade (ou anulação) de um ato da sequência


repercute, em regra, a sua eficácia nos atos subsequentes que, entretanto, hajam sido
praticados; e, num movimento de sentido inverso, o efeito da nulidade (ou anulação) do
ato só se verifica quando o vício é suscetível de afetar a realização da finalidade do
processo (como sequência).

De acordo com a regra geral do art. 195º/1 CPC, constituem irregularidades


suscetíveis de integrar invalidade processual a prática de um ato que a lei não admita e a
omissão de um ato ou de uma formalidade que a lei prescreva. Não se trata de vícios que
respeitem ao conteúdo do ato, mas tão só de vícios atinentes à sua existência ou
formalidades.

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Para determinar a sua ocorrência, há que verificar se a forma do processo (arts. 546º e
547º) em que o ato foi praticado ou omitido o consentia (no primeiro caso) ou exigia (no
segundo), no momento sequencial da prática ou da omissão; se não o permitia e ele foi
praticado, se o exigia e ele não foi praticado, se, em prejuízo das faculdades processuais
das partes, foi praticado fora do momento processual adequado ou se, na sua prática,
não foram observadas as formalidades que a lei prescreve, o vício verifica-se.

Verificado o vício, se a lei não prescrever expressamente que ele tem como
consequência a invalidade do ato, segue-se verificar a influência que a prática ou omissão
concreta pode ter no exame ou na decisão da causa (art. 195º/1), isto é, na sua instrução,
discussão e julgamento ou, no processo executivo, na realização das providências
executivas (penhora, venda, pagamento).

Constatada essa influência, os efeitos da invalidade do ato repercutem-se nos


atos subsequentes da sequência processual que dele forem absolutamente dependentes
(art. 195º/2). Sempre, por isso, que um ato da sequência pressuponha a prática de um
ato anterior, a invalidade deste tem como efeito, indireto mas necessário, a invalidade
do ato subsequente que porventura entretanto tenha sido praticado (e, por sua vez, dos
que, segundo a mesma linha lógica, se lhe sigam). EX. A invalidade da contestação
acarretará, além do mais, a da réplica que se lhe siga, bem como a do despacho saneador
que o juiz profira e da marcação do dia para a audiência final.

É assim, em grande parte, verdadeira a asserção de que a invalidade do ato


processual é mais uma invalidade do ato enquanto elemento da sequência do que do ato
em si mesmo considerado.

O regime-regra da invalidade do ato processual, sendo mais próximo do regime da


anulabilidade de direito substantivo, não deixa de revestir aspetos do regime da nulidade,
pelo que constitui um misto de ambas as figuras.

Função

Espécies de ações

A sequência processual dirige-se a finalidades diversificadas, consoante o tipo de


pedido que o autor formula ao tribunal ao instaurar o processo.

Sob a epígrafe «espécies de ações, consoante o seu fim», o art. 10º CPC distingue as ações
declarativas das ações executivas e, dentro das primeiras, as ações de simples apreciação,
de condenação e constitutivas.

− Ações de simples apreciação - art. 10º/3 CPC - o autor pede ao tribunal que
declare a existência ou inexistência de um direito ou de um facto jurídico. É uma

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ação de utilização rara, cuja admissibilidade geral foi durante muito tempo
discutida. P.e., se o autor pedir a falsidade de um documento. Se o A se dirigir ao
tribunal e disser “eu quero saber se o tribunal com os documentos que eu tenho
declara que eu sou proprietário do terreno” - ação de simples apreciação. Pede-
se ao tribunal que aprecie simplesmente a existência ou inexistência daquele
direito. Não quer dizer que seja uma apreciação positiva, pode ser negativa. P.e.,
alguém que pede a nulidade de um contrato. Estamos perante uma incerteza
objetiva e que se pede a declaração do tribunal, no sentido da existência ou
inexistência de um direito.

− Ações condenatórias: vai-se mais longe, sem prejuízo de o tribunal dever ainda
emitir aquele juízo declarativo, dele se pretende também (e fundamentalmente)
que, em sua consequência, condene o réu na prestação de uma coisa ou de um
facto. O pedido de declaração prévia do direito ou do facto jurídico pode ser
expresso, caso em que se verifica uma cumulação de pedidos (art. 555º CPC); mas
pode o autor limitar-se a pedir a condenação do réu e então o juízo prévio de
apreciação mais não é do que pressuposto lógico do juízo condenatório
pretendido. Pressuposto lógico da condenação é também a violação de um
direito; mas não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso
a juízo ou mesmo à data da sentença. A ação de condenação pode, com efeito,
ter lugar na previsão da violação do direito, dando então lugar a uma intimação
ao réu para que se abstenha de o violar (art. 1276º CPC: ação possessória de
prevenção) ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do
vencimento (art. 557º e 610º).

− Ações constitutivas (alínea c) - autoriza-se uma mudança na ordem jurídica


existente. Exerce-se um direito potestativo. O juízo do tribunal já não se apresenta
limitado, como nas duas subespécies anteriores, pela situação de direito ou de
facto pré-existente: perante o pedido de alteração das situações jurídicas das
partes, o juiz, pela sentença, cria novas situações jurídicas entre elas,
constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres que,
embora fundados em situações jurídicas anteriores, só nascem com a própria
sentença. O aspeto declarativo desta, indo além do juízo prévio sobre a existência
do direito potestativo, reside fundamentalmente na definição, só para o futuro
ou retroativamente, da situação jurídica constituída. P.e., Pedido de construção
de uma servidão de passagem - quem pede a servidão está a solicitar ao tribunal
uma ação constitutiva porque está a alterar a ordem jurídica; resolução do
contrato de arrendamento; divórcio; art. 1550ºCC.

No fundo, o que se tem de pensar para traçar esta distinção é: o que se pede ao
tribunal?

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− Pergunta ao tribunal: ação de simples apreciação;
− Condenação do réu: ação condenatória;
− Mudança na ordem jurídica: ação constitutiva.

Estes são os três tipos de ações declarativas em processo comum.

Diferentemente da ação declarativa, a ação executiva tem por finalidade a


realização coativa de uma prestação devida. Não se trata já de declarar direitos,
preexistentes ou a constituir. Com ela passa-se da formulação concreta da norma jurídica
para a atuação prática, mediante o desencadear do mecanismo da garantia. Pode ter
como finalidade a reintegração de um direito real, mediante a entrega da coisa sobre que
incide ao respetivo titular, ou a realização específica de uma prestação obrigacional não
pecuniária; mas visa, mais frequentemente, a realização coativa de uma obrigação
pecuniária, primária ou de indemnização, tenha-se esta última constituído como
sucedâneo de uma relação primária de obrigação incumprida ou na sequência da violação
de um dever genérico de conduta.

Este quadro de finalidades do processo civil vem confirmar a sua


instrumentalidade relativamente ao direito substantivo: o direito de ação, como vertente
fundamental do direito à jurisdição, é o direito de recorrer aos tribunais pedindo a tutela
de um interesse protegido pelo direito material; o tipo de pedido formulado pelo autor,
condicionando a espécie de providência que o tribunal deverá emitir, constitui a escolha
da forma de tutela judiciária pretendida para a realização do interesse que se afirma
juridicamente protegido pelas normas de direito material.

Na letra do art. 2º/2 do CPC:

− Prevenir ou reparar- processo declarativo.


− A realizá-lo coercivamente- processo executivo
− Procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da ação- procedimentos
cautelares.

Art. 202º CRP- meios alternativos da resolução de litígios, como o art. 202º/4 CRP.

A tutela do Direito Material

Para a doutrina clássica, a função do processo civil consiste na tutela do direito


material, entendido este quer no sentido (objetivo) de normas de conduta, ao tribunal
cabendo impor a sua observância e reprimir a sua violação, quer no sentido (subjetivo)
de direito radicado num sujeito jurídico carecido da ajuda dos tribunais para o exercer,
quer no duplo sentido de direito objetivo e de direito subjetivo, tidos como os dois lados
da mesma medalha.

É hoje dado cientificamente adquiro que nem todas as situações jurídicas subjetivas se
reconduzem à figura do direito subjetivo.

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A ideia de que o processo civil tem por função a tutela de direitos subjetivos, ou
de interesses juridicamente protegidos, mas não organizados em direito subjetivo, é
adequada a traduzir as finalidades objetivamente visadas pelo autor ao propor a ação.

Art. 202º/2 CRP consagra esta ideia, quando diz que aos tribunais incumbe «assegurar a
defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos».

A instrumentalidade do processo civil é um elemento fundamental na interpretação das


normas processuais.

Objeto
A pretensão

O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial, na qual o autor solicita ao


tribunal uma providência de tutela do seu direito ou interesse legalmente protegido,
dirigida contra o réu, titular de um interesse em conflito com o seu (art. 552º/1- para a
ação declarativa; art. 724º/1- para a ação executiva). A esta solicitação deve o tribunal
dar resposta, concedendo ou negando a tutela pretendida pelo autor, a menos que se
deva abster de se pronunciar sobre o mérito da causa e absolver o réu da instância.

A resposta do tribunal é, na ação declarativa, precedida de discussão entre as partes,


as quais têm a faculdade de se pronunciar sobre todas as questões, de mérito ou
processuais, com relevo para a decisão a proferir. Destas questões, algumas são
meramente instrumentais relativamente à decisão do litígio: são-no sempre as de ordem
processual, que visam a verificação da regularidade da constituição e do
desenvolvimento do processo; são-no também as questões de natureza substantiva (de
facto ou de direito) que se situem aquém do thema decidendum, desempenhando a
função de fundamentos do pedido, de exceções perentórias e de fundamentos da
decisão de mérito.

Resta o pedido em si, que determina o conteúdo da decisão. Ele é o objeto do processo.

Nem todos, porém, assim entendem e a identificação do objeto do processo com a


pretensão (ou pedido), sendo uma constante na doutrina alemã, nem sempre encontrou
a mesma recetividade fora do espaço germânico.

A relação jurídica material

Estando em causa no processo civil a aplicação de normas de direito civil e


constituindo a técnica da relação jurídica o instrumento de abordagem tradicional dos
institutos do direito civil, surgiu muito naturalmente a ideia de que o processo tem como
objeto a relação jurídica material controvertida.

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Esta posição é alvo de críticas: a figura da relação jurídica não se adequa aos casos de
direito absoluto (de personalidade, real ou outro); há situações jurídicas absolutas que
diferem do direito subjetivo e que tão pouco se integram em relações jurídicas.

Estas contestações levariam a identificar como objeto do processo, já não uma


relação jurídica, mas a situação jurídica (absoluta ou relativa) que se quer fazer valer em
juízo, se não fosse a constatação ulterior de que o reconhecimento judicial de uma
situação jurídica absoluta circunscreve os seus efeitos, nos termos gerais da eficácia do
caso julgado, às partes processuais (arts. 581º, nº1 e 2 e 619º/1).

Outra dificuldade insuperável da identificação do objeto do processo com a relação (ou


situação) jurídica substantiva constitui a ação de simples apreciação, na sua modalidade
de apreciação da existência ou inexistência de um facto. Uma ação em que se faça a
declaração da validade ou da nulidade de um contrato, ou o reconhecimento da
genuinidade ou da falsidade de um documento, n ao tem por objeto nem uma relação
jurídica nem uma situação jurídica absoluta.

O litígio

A doutrina italiana intentou ultrapassar estas dificuldades mediante o recurso à


ideia de que o objeto do processo é o litígio. CASTRO MENDES critica isto.

Análise da pretensão. A causa de pedir

A pretensão (ou pedido, como a nossa lei a usa chamar) apresenta-se duplamente
determinada: no seu conteúdo, referido ao direito material, consiste na afirmação de
uma situação jurídica subjetiva atual ou, na ação constitutiva, da vontade de um efeito
jurídico (situação jurídica a constituir) baseado numa situação subjetiva atual, ou ainda
na afirmação da existência ou inexistência de um facto jurídico; na sua função, consiste
na solicitação de uma providência processual para tutela do interesse do autor. Pode
assim falar-se de uma determinação material e de uma determinação processual da
pretensão.

Mas ao autor não basta formular o pedido. Ele tem também de indicar a causa de pedir,
isto é, de alegar os factos constitutivos da situação jurídica que quer fazer valer ou negar
(ou integrantes do facto cuja existência ou inexistência afirma).

Discutiu-se durante algum tempo na doutrina se esta indicação da causa de pedir era
necessária:

− Teoria da individualização, basta ao autor indicar o pedido, com o que todas as


possíveis causas de pedir podiam ser consideradas no processo, de tal modo que,
ao responder, afirmativa ou negativamente, à pretensão, a sentença decidia em

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absoluto sobre a existência ou inexistência da situação jurídica afirmada pelo
autor;
− Teoria da substanciação, a afirmação da situação jurídica tem de ser fundada em
factos que, ao mesmo tempo que integram, tal como os outros factos alegados
pelas partes, a matéria fáctica em causa, exercem a função de individualizar a
pretensão para o efeito da conformação do objeto do processo.

Esta teoria está inequivocamente consagrada no nosso sistema processual: o autor


deve, na petição inicial, expor os factos que servem de fundamento ao pedido (art.
552º/1/d); esses factos constituem a causa de pedir e esta delimita o pedido para o efeito
de, juntamente com ele e com as partes, identificar a causa (art. 581º/4); esta é
insuscetível de ser repetida sem ofensa de caso julgado (art. 580º/1 e 581º/1), como
lógica consequência da coincidência do objeto da decisão com o objeto do pedido.

A nossa lei define a causa de pedido como facto jurídico constitutivo do efeito pretendido
pelo autor (art. 581º/4), como tal contraposto aos factos impeditivos, modificativos e
extintivos desse mesmo efeito.

Através da alegação desse facto constitutivo, a causa de pedir exerce a sua função
delimitadora do pedido ou pretensão, individualizando-o, e, por outro lado, ainda não
quando simultaneamente, exerce essa sua outra função, que o fundamenta.

REGENTE - o objeto do processo é a pretensão e esta distingue-se entre pedido (100


euros) e causa do pedido (mútuo- porque celebraram contrato de mútuo).

Temos os 100 mil euros e há dinheiro emprestado (mútuo subjacente aos 100 mil euros).
Neste objeto, poderemos ter, na verdade, 2 elementos:

− Pedido, quando A recorre ao tribunal para que B lhe pague 100 mil euros- este
pedido de tutela jurisdicional requerida acaba com um pedido- os 100 mil euros.
Mas o objeto do processo não é apenas o pedido.
− Causa do pedido, conjunto de factos necessários para fundamentar o direito. Para
além do pedido, temos de saber as razões, os fundamentos. Logo, a parte (A), o
autor, para além de ter de indicar quem é o réu, vem propor uma ação contra B,
e com um determinado pedido, mas também com o detalhe da causa de pedido-
facto necessário à fundamentação da ação, que neste caso é o contrato de mútuo.

Sujeitos

Os sujeitos processuais

Os atos do processo são praticados pelas partes e pelo tribunal, através do respetivo
titular (o juiz- ou os juízes, quando o tribunal é coletivo, como acontece nas instâncias de

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recurso) e dos serviços auxiliares (secretaria). São eles os sujeitos da relação jurídica
processual, dita triangular, mas em que o juiz aparece colocado super partes e com
poderes de autoridade.

Há, além disso, no processo, intervenientes acidentais, como as testemunhas e os peritos


(art. 251º/1), que, sendo terceiros em face dos interesses em jogo, têm o dever de
cooperar para a descoberta da verdade (art. 417º/1).

Isto para mostrar que a relação jurídica não é uma relação jurídica dual- quando
o processo entra em marcha, vamos ter uma multiplicidade de relações jurídicas entre o
autor e o tribunal, entre o autor e o réu etc. Ou seja, os sujeitos não se reconduzem às
partes. O Tribunal, no ramo do processo civil, é sujeito processual.

As partes

São partes o autor e o réu.

− Parte ativa - autor (pode ser uma parte plural; podem ser A, B e C- vários autores);
− Parte passiva - Réu.

Numa primeira perspetiva, é autor o titular de um dos interesses em conflito que


solicita a tutela judiciária, exercendo contra o titular do interesse a ele oposto (o réu) o
seu direito de ação, mediante a dedução de um pedido. Pode, porém, também o réu
deduzir pedidos contra o autor, em reconvenção, que mais não é do que uma contra-
ação, em que o réu assume a posição de autor (reconvinte) e o primeiro autor a de réu
(reconvindo). E pode também um terceiro relativamente à relação jurídica processual
inicial deduzir, em determinadas condições, pedidos em processo pendente em que
intervém, ou associar-se ao autor no pedido por este deduzido, constituindo-se parte
ativa, bem como pode contra um terceiro, em determinadas condições, ser deduzido um
pedido ou estendido o pedido já deduzido no processo, ficando ele constituído como
parte passiva. Estas constatações levam a uma conceção ampla do conceito de autor, que
abrange todo aquele que, independentemente de ter sido ele a instaurar o processo, nele
deduz a sua pretensão, seja originária seja subsequentemente, ou adere à pretensão já
deduzida, sendo o réu no mesmo sentido amplo todo aquele contra quem uma pretensão
é deduzida ou que subsequentemente assume posição de contrariedade a uma
pretensão já deduzida.

A lei processual usa normalmente os termos autor e réu no seu sentido restrito, isto
é, na perspetiva da relação jurídica processual tal como resulta da petição inicial (ex. art.
266º, 552º, 560º, 563º, 569º, 595º/5). Mas, no caso de intervenção de terceiros a título
principal (por intervenção principal ou oposição: arts. 311º a 320º e 333º a 341º), bem
como no de habilitação do sucessor, mortis causa ou inter vivos, na situação jurídica
litigiosa (arts. 351º a 357º), as modificações subjetivas produzidas (art. 262º) levam a
considerar autor ou réu o interveniente, fora o caso em que, na oposição, ele se constitui
como terceira parte (art. 337º/2), ou o habilitado: o interveniente principal associa-se ao

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autor ou réu primitivo (art. 312º), passando a ter todos os direitos da parte principal (art.
313º/3); o oponente, quando alguma das partes primitivas reconhece o seu direito, toma
a posição autónoma de autor ou de réu (art. 337º/1); o habilitado substitui o
transmitente, como autor ou como réu (art. 262º/a).

Além das partes principais, pode haver partes acessórias. Trata-se normalmente de
pessoas que têm um interesse dependente do de uma das partes principais e que por
isso intervêm na causa para auxiliar essa parte (art. 231º/1 e 326º/1), mediante o
exercício de atividade própria que obrigatoriamente se subordina à da parte que
coadjuvam (art. 328º/2).

Em todos os casos, o conceito de parte recorta-se formalmente: é parte quem propõe


a ação, aquele contra quem ela é proposta, o sucessor da parte primitiva e quem
subsequentemente intervenha no processo, independentemente de o ser para o direito
material. A determinação dos sujeitos da relação material controvertida, isto é, dos
titulares das situações jurídicas de direito substantivo que estão em causa no processo,
não interessa à configuração das partes processuais, mas apenas, ainda que filtrada pela
versão dos factos apresentada pelo autor, à determinação da sua legitimidade (art. 30º/3,
32º/1 e 33º/1).

Para a identificação da parte processual releva, no entanto, a qualidade jurídica em que


o sujeito atua (art. 581º/2): em caso de representação, a atuação do representante em
nome do representado leva, semelhantemente ao que acontece no direito civil, a que
seja esta a parte processual; diversamente, nos casos de substituição processual é parte
o substituto, que litiga em nome próprio, embora esteja prima facie em causa o interesse
do substituído.

Determinado quem é parte, diz-se terceiro todo aquele que não o é, ainda que
seja titular de um interesse que justificaria a sua intervenção na causa, ou que o legitime
a atuações processuais autónomas, como os embargos de terceiro (art. 342º/1) e o
recurso extraordinário de revisão (art. 631º/3), destinadas a infirmar a eficácia de
providências tomadas.

REGENTE: Podemos ter partes singulares e plurais de um lado e de outro.


Qualidade de parte - deve de ser algo que deve ser restringido e que se distingue de
sujeitos processuais. A qualidade de parte não pode ser alargada a todas as pessoas que
aparecem no tribunal no contexto de determinada ação. Parte- aquele que é
representado/ é representante. Implicações de se ser parte num determinado processo:

- As partes num determinado processo não podem propor 2 ações diversamente- a ação
ainda pendente noutro tribunal por exemplo- antes há uma litispendência. So há isto se
as partes forem as mesmas, tem de ser o mesmo litígio;

- Caso ainda pior- se for proposta uma ação e a ação não der por isso a parte propõe nova
ação- caso julgado.

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Estamos, assim, a falar da posição de parte no sentido de partes principais.

Quando aquele que aparece no processo aparece para ajudar o réu ou o autor-
assistente- não é uma parte principal, mas secundária. Trata-se de uma parte auxiliar.
Temos de compreender quem é parte principal e parte secundária, ou quem são as
testemunhas e os peritos.

Tutela judiciária e autotutela

O processo realiza-se no tribunal. Ao exercer o direito de ação, o autor solicita a


intervenção de um órgão com poderes de heterotutela.

Só excecionalmente é consentida ao titular o direito a autotutela:

a) Quando, sendo-lhe impossível o recurso em tempo útil aos tribunais, o recurso à


força privada aparece como o meio adequado a realizar ou a assegurar o direito,
de outro modo ameaçado de inutilização prática (art. 336º CC, perante o qual são
especiais os preceitos dos arts. 337º CC, 339º CC, 1277º CC, 1314º CC, 1315º CC
e 397º/2 CC);
b) Nos outros casos em que, fora desse condicionalismo, a lei admite uma atividade
privada dirigida à realização extraprocessual da composição do litígio. EX. venda
de bens alheios para satisfação de créditos próprios (arts. 674º CC, 675º CC e 831º
CC).

Mais discutivelmente, constituem, segundo alguns autores, meios d autotutela os que se


traduzem no exercício extrajudicial de um direito potestativo ou de uma exceção, visto
que pelo primeiro se produz um efeito desfavorável na esfera jurídica de terceiro, sem
qualquer atuação deste, e pela segunda se impede, também unilateralmente, o exercício
de um direito de terceiro.

A regra da proibição dos catos comissórios, mediante os quais o credor poderia fazer sua
a coisa onerada no caso de o devedor não cumprir (ex. art. 694º CC para a hipoteca),
deriva da proibição geral da autotutela.

Os tribunais judiciais

Os tribunais a que o autor recorre são normalmente os tribunais do Estado,


órgãos de soberania especificamente investidos na função jurisdicional, isto é, na função
de composição dos litígios mediante a tutela dos direitos e interesses legalmente
protegidos, para tanto exercendo o poder jurisdicional (art. 110º e 202º CRP).

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É requisito essencial do exercício da função jurisdicional a imparcialidade dos titulares do
órgão jurisdicional (os juízes), colocados super partes em posição de independência
perante os restantes órgãos do Estado e perante os interesses em conflito.

Consagrada em geral no art. 203º CRP, a independência dos tribunais judiciais é


garantida pela existência de um órgão privativo de gestão e disciplina da magistratura
judicial (o Conselho Superior da Magistratura), pela inamovibilidade dos respetivos juízes
e pela sua não sujeição a quaisquer ordens ou instruções relativas à atividade
jurisdicional, salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em via de recurso
pelos tribunais superiores.

Quanto à imparcialidade dos juízes, é garantida positivamente pelas regras de


determinação do juiz natural e negativamente pela enunciação dos casos em que o juiz
que normalmente seria concretamente investido na função jurisdicional fica impedido de
a exercer (arts. 115º e 117º CPC) ou pode ser afastado por suspeição (art. 120º CPC). No
domínio da aplicação da CEDH, tem sido entendido que também a parcialidade subjetiva,
expressa em atos anteriores à decisão, é inadmissível.

A aleatoriedade na determinação do juiz em causa é conseguida, não só pela


aplicação das normas de competência dos tribunais, mas também através da distribuição
dos processos, a qual, ao mesmo tempo que iguala o nº de processos que corre em cada
secção do tribunal e, consequentemente, a repartição do serviço entre juízes e
funcionários (art. 203º), evita a intervenção da vontade na determinação do juiz: a
distribuição é automática e faz-se por meios eletrónicos, contribuindo para que o juiz da
causa seja o juiz natural.

A natureza e os requisitos específicos dos tribunais do Estado levam a que, por


um lado, lhes sejam atribuídas, acessoriamente, outras funções para além da função
jurisdicional e, por outro, lhes seja reservada a função jurisdicional. Esta reserva está
consagrada no art. 111º CRP e dela resulta que não podem ser concedidos poderes
jurisdicionais a outras entidades, designadamente às autoridades administrativas.

Art. 205º CRP- traz algo fundamental para compreender como os tribunais são sujeitos
de processos. Este artigo quer dizer, segundo o regente, que o tribunal é o órgão
decisório do processo. Tribunal é interventor, decisório, um verdadeiro sujeito processual
e essa qualidade distinta em relação ao passado decorre desde logo da consagração de
normas absolutamente decisivas na CRP e desde logo o art. 202º e art. 205º/1.

Os tribunais arbitrais

Dentro do campo do direito disponível, é admissível que as partes acordem, para


dirimir os conflitos entre elas, no recurso aos tribunais arbitrais. Estes são constituídos
por particulares e como tal não têm jus imperii. O seu poder de decisão deriva da vontade

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das partes, tendo fundamento semelhante ao do negócio jurídico. As partes podem,
assim, encarregar terceiros de dirimir os litígios que entre si surjam ou venham a surgir
(art. 1º, nºs 1 a 3, da Lei da Arbitragem Voluntária). A fonte de legitimação do poder
jurisdicional dos tribunais arbitrais (art. 209º/2 CRP) é, pois, distinta da fonte de
legitimação do poder jurisdicional dos tribunais do Estado.

A convenção de arbitragem, que deve ser sempre reduzida a escrito, pode ter por objeto
um determinado litígio atual, mesmo que já na pendência de um processo em tribunal
judicial, ou litígios eventuais emergentes de determinada relação jurídica contratual ou
extracontratual; no primeiro caso, estamos perante o compromisso arbitral; no segundo,
que é o mais frequente, perante a cláusula compromissória, normalmente inserta numa
estipulação contratual, principalmente no campo do direito comercial (arts. 1º/2 e 2º
LAV).

Os árbitros são designados pelas partes ou escolhidos pelo modo que elas tiverem
determinado, devendo ser em nº ímpar; na falta de tal estipulação e se as partes nada
acordarem, cada uma indicará um árbitro e os dois assim designados escolherão um
terceiro, cabendo ao presidente do tribunal estadual competente fazer a nomeação do
árbitro ou árbitros que não forem designados, no prazo de 30 dias, de acordo com essas
regras (arts. 8º e 10º LAV). Os árbitros têm o dever de revelar todas as circunstâncias que
possam suscitar dúvidas sobre a sua imparcialidade ou a sua independência (art. 13º/1
LAV); só podem ser recusados se ocorrerem circunstâncias desse tipo (art. 13º/3 LAV). A
imparcialidade dos árbitros, tal como a sua independência relativamente às partes, ainda
que não relativamente aos órgãos do Estado, só em consequência do modo da sua
escolha se pode dizer não ser exigida com o mesmo rigor que para os juízes.

Art. 43º LAV- prazos

Os árbitros julgam segundo o direito constituído, salvo se as partes estipularem o


julgamento segundo a equidade (art. 39º/1 LAV). Se julgarem segundo o direito
constituído, as partes podem estipular, na convenção de arbitragem, a possibilidade de
recurso para o tribunal estadual competente; mas, se as partes não a estipularem, a
sentença arbitral não é suscetível de recurso para o tribunal estadual (art. 39º/4 LAV).

Tal não implica, porém, a supressão total da possibilidade de controlo judicial. Em casos
considerados especialmente graves, que o art. 46º/3 LAV taxativamente enuncia, a
sentença arbitral é anulável.

Havendo recurso, a anulabilidade é nele arguida; quando não haja recurso, seja
por as partes não terem estipulado a sua admissibilidade, seja por ele, embora admissível
segundo a convenção de arbitragem, não ter sido interposto pela parte vencida, a
anulabilidade constitui objeto de uma ação de anulação a propor ao tribunal estadual
competente (art. 46º/2 LAV), no prazo de 60 dias a contar da notificação da sentença

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arbitral final, ou do esclarecimento de alguma sua obscuridade ou ambiguidasde que as
partes tenham pedido (art. 46º/6 LAV).

Este direito à anulação da decisão dos árbitros é irrenunciável (art. 46º/5 LAV); é
irrenunciável o direito de oposição à execução da sentença arbitral (art. 48º LAV).

Alçada do Tribunal- art. 44º LOSJ

Saber se se pode recorrer de uma decisão depende então da alçada, que é o valor
até ao qual a causa não admite recurso. É o valor fixado pela lei de orgânica judiciária, até
ao qual um tribunal de instância julga definitivamente as causas da sua competência.

Esse valor é de 5.000€ para a primeira instância e de 30.000€ para a segunda


instância.

Se a causa for de valor superior a essa alçada, é suscetível de recurso ordinário,


desde que seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade da mesma
alçada (art. 629º/1).

A alçada tem ainda outras funções, como as de distribuir a competência do


tribunal de comarca entre as secções cíveis da sua instância central e as secções de
competência genérica cível das suas instâncias locais, bem como a de determinar a
aplicação do disposto no art. 597º.

Valor da causa

O valor da causa, monetariamente expresso, representa a utilidade económica do


pedido (art. 296º/1). Quando o pedido tem por objeto uma quantia pecuniária líquida
(“quantia certa em dinheiro”), a determinação está in re ipsa, constituindo essa quantia
a utilidade tida em vista por quem o deduz, independentemente de ser pedida a
condenação no seu pagamento, a simples apreciação da existência do direito a essa
quantia ou a sua realização em ação executiva. Nos outros casos, há que encontrar o
equivalente pecuniário correspondente à utilidade visada (“benefício”) – art. 297º/1.

Este critério geral é concretizado e adaptado nos arts. 298º e 300º a 302º, que
consagram critérios especiais, determinados pelo tipo de pedido formulado,
respetivamente para a ação de despejo, a ação referente a contrato de locação
financeira, a ação de alimentos definitivos e de contribuição para despesas domésticas,
etc.

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Para a fixação do valor, atende-se ao momento em que o pedido é deduzido (art.
299º/1 e 2), sem prejuízo de o valor inicial vir a ser corrigido nos processos em que a
utilidade económica do pedido só se define na sequência da ação, como é o caso dos de
liquidação de patrimónios (art. 299º/4).

Sujeitas a uma norma específica estão as ações cujo objeto não versa sobre
valores patrimoniais, isto é, as ações de estado e as relativas a interesses imateriais.
Nestes casos, o valor é atribuído de modo que seja sempre garantido o direito ao recurso:
o valor é o equivalente à alçada da Relação mais um cêntimo (art. 303º/1).

Quanto à forma: processo comum e processo especial- art. 546º CPC

1- Processo comum – seguem uma tramitação igual a todos os outros processos. O


art. 548º determina que o processo comum segue uma forma única.
2- Processo especial (arts. 878º e ss) – aplica-se aos casos expressamente
designados na lei. São regulados pelas disposições que lhes são próprias. Na falta
de disciplina específica de um processo especial, aplicam-se as normas
estabelecidas para o processo comum (art. 549º/1), ressalvado o estabelecido no
nº2 quanto à venda de bens. São exemplos de processos especiais:
i. Processo de prestação de caução – tem lugar quando aquele que a ela tem
direito pretende que seja prestada caução para garantia de uma obrigação
(art. 906º) ou quando aquele que a ela está obrigado, ou que tem a
faculdade de a prestar, toma a iniciativa de o fazer (art. 913º);
ii. Processo de prestação de contas – tem lugar quando quem tem o direito
de exigir contas exige que elas sejam prestadas ou quando quem tem o
dever de as prestar toma a iniciativa de o fazer (art. 941º);
iii. Processo de consignação em depósito - tem lugar quando o devedor (art.
841º CC) ou terceiro (art. 842º CC) pretende depositar a coisa ou quantia
devida (art. 916º).

Além destes processos especiais constantes do CPC, existem outros cuja


tramitação consta de leis avulsas, incluindo leis de conteúdo híbrido, isto é, leis que
estabelecem regimes substantivos e, simultaneamente, regimes processuais que os
adjetivam.

A este propósito há que abordar o procedimento especial que consta do DL nº


269/98. Este aplica-se quando se reúnam os seguintes requisitos cumulativamente:

o Estar em causa o cumprimento de uma obrigação pecuniária;


o Emergentes de contratos;

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o Valor não superior a 15.000 euros.

Os Princípios Gerais

A importância dos princípios gerais

Os princípios gerais do direito civil, na sua generalidade há muito assimilados


pelos sistemas de direito positivo, constituem hoje evidências em torno das quais os
institutos jurídicos se encontram naturalmente estruturados, sem que seja sentida a
necessidade de os reafirmar. Assim é que ninguém questiona o princípio do pacta sunt
servanda ou o princípio da boa-fé.

Diversamente acontece no direito processual civil. Tratando-se de um ramo do


direito relativamente recente, estreitamente relacionado com a organização do Estado e
os direitos fundamentais e em que, por isso, o momento histórico e as particularidades
nacionais se fazem muito sentir, os seus princípios enformadores continuam a ser objeto
de discussão e aperfeiçoamento.

Hierarquia

− Valor;
− Princípio;
− Regra.

1) Princípio do acesso ao Direito

O Art. 20º da CRP

De acordo com o art. 20º/1 CRP «a todos é assegurado o acesso ao direito e aos
tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo
a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos».

Acentuando embora a imposição de superar as dificuldades que as partes possam


encontrar no acesso aos tribunais, tal como ao direito, por via de insuficiências
económicas (de novo o fazendo o nº2 do artigo, ao concretizar o direito ao apoio
judiciário), o alcance do preceito é muito mais vasto, não podendo ser desligado, a não
ser para fins de análise, da imposição de um processo equitativo, célere e direcionado
para uma tutela efetiva.

Direito de ação

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Consagrado no art. 20º CRP. Sendo a todos garantido o acesso aos tribunais,
qualquer cidadão pode utilizar o meio que, no campo do processo civil, para tanto é
disponibilizado: o de, em tribunal, propor ações para fazer valer os seus direitos, ou os
seus interesses que, embora não organizados em direito subjetivo, sejam tutelados pelo
direito material.

Direito de defesa

Suas derivações

O direito de acesso aos tribunais não radica apenas no autor, mas também no réu.
Este pode deduzir pedidos contra o autor (art. 266º CPC), se o fizer, tem lugar a figura da
reconvenção, perante a qual, em inversão de posições processuais, o réu (reconvinte) é
autor e o autor do pedido primitivo (reconvindo) é réu. Mas, no âmbito da defesa (por
impugnação e por exceção) em face do direito de ação contra ele exercido, o réu aparece,
no outro polo da relação jurídica processual, como titular do direito de defesa,
igualmente integrador do direito à jurisdição.

Implicando o chamamento do réu a juízo (art. 3º/1), o direito de defesa postula o


conhecimento efetivo do processo instaurado, a concessão de um prazo suficientemente
amplo para a oposição e o tempero da rigidez das preclusões e cominações decorrentes
da falta de contestação.

O conhecimento do processo

O conhecimento efetivo do processo exige que no ato de citação, pelo qual o réu
é chamado para se defender (art. 219º/1), lhe sejam transmitidos os elementos
essenciais para que a defesa possa ter lugar: a remessa ou entrega do duplicado da
petição inicial e da cópia dos documentos que a tiverem acompanhado; a identificação
do tribunal e da secção onde corre o processo, se já tiver havido distribuição; a expressa
indicação de que fica citado para a ação; o prazo dentro do qual poderá apresentar a
defesa e as cominações em que ocorre se não a apresentar; a obrigatoriedade do
patrocínio judiciário, se ocorrer (art. 227º). A falta de qualquer destes elementos acarreta
a nulidade do ato, arguível, em regra, no prazo que tiver sido indicado para a contestação
(art. 191º); mas, se o réu não intervir no processo e contra ele for proferida sentença,
poderá ainda arguir a nulidade em recurso de revisão (art. 696º/e) ou em oposição à
execução que venha a ser instaurada (art. 729º/d).

Dispensa de audiência prévia

Excecionalmente, é permitido tomar providências contra uma pessoa sem que ela
seja previamente ouvida (art. 3º/2).

Tal acontece, designadamente, no domínio dos procedimentos cautelares, quando a


realização do direito possa perigar se a pessoa contra quem é realizado tiver
conhecimento do requerimento da providência antes de esta ser executada.

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Ex. procedimentos de restituição provisória da posse (art. 378º).

Quando não é ouvido antes de ordenada a providência, o requerido pode opor-se-lhe


após a sua execução, por via de recurso ou de oposição, assim se assegurando, a
posteriori, o direito de defesa (art. 372º).

A cominação da revelia

Revelia do réu: falta de contestação, em prazo contado da citação.

Consequência: terem-se como provados os factos alegados na petição inicial


(efeito cominatório semipleno) no processo ordinário e, até à revisão do CPC de 1961,
com a de o réu ser condenado no pedido (efeito cominatório pleno) nos processos
sumário e sumaríssimo. O efeito cominatório pleno foi suprimido entre 1995-1996 nas
formas de processo comum sumário e sumaríssimo, que passaram a estar sujeitas ao
regime condenatório semipleno. Este continua, no CPC de 2013, a vigorar na forma de
processo comum, agora unificada.

Do efeito cominatório pleno restam poucos vestígios. Alguns são justificados:


assim, por exemplo, na liquidação em processo executivo (art. 716º/4)

O efeito cominatório pleno, dando lugar à condenação do réu nos casos de


inconcludência da petição inicial, briga com o direito de defesa e, como tal, só
excecionalmente pode ser consagrado.

O efeito cominatório semipleno só pode ser entre nós atenuado pela invocação
de justo impedimento.

Entraves económicos

Quer para o autor, quer para o réu, o direito de acesso aos tribunais engloba a
inexistência de entraves económicos ao seu exercício, como expressamente refere o art.
20º CRP. Tal implica, designadamente, a concessão de apoio judiciário1, a quem dele
careça e a proibição de disposições da lei ordinária que limitem o direito à jurisdição por
não satisfação de obrigações alheias ao objeto do processo.

Independência e imparcialidade do tribunal

O direito de acesso aos tribunais implica nestes a existência de certas


características fundamentais:

1
Solicitação de apoio judiciário consiste na dispensa, total ou parcial, da taxa de justiça e do pagamento
de outros encargos, ou no seu diferimento.

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Pelo art. 203º CRP, é exigida a sua independência. Quer a DUDH, quer a CEDH
explicitam a necessidade de que sejam independentes e imparciais.

2) Princípio da Equidade

Suas vertentes

Tem de existir o direito efetivo a uma jurisdição que a todos seja acessível em
termos equitativos e conduza a resultados individual e socialmente justos. Esta aceção
ampla do direito à jurisdição levou à consagração expressa, no art. 20º/4 CRP, do direito
a um processo equitativo («todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja
objeto de decisão (…) mediante processo equitativo»).

No âmbito da jurisprudência formulada na aplicação da CEDH, tem sido entendido


que o princípio da equidade, consagrado no seu art. 6º, postula, por um lado, a igualdade
das partes (princípio do contraditório e princípio da igualdade de armas) e, por outro, os
direitos à comparência pessoal das partes em certos casos ou circunstâncias, à licitude
da prova e à fundamentação da decisão. Também o princípio da publicidade, como
garantia da transparência do exercício da função jurisdicional, parece ao Prof. Lebre de
Freitas constituir emanação do princípio da equidade.

Princípio do contraditório

Hoje o princípio do contraditório é entendido através de uma noção mais lata de


contraditoriedade, entendida como garantia de participação efetiva das partes no
desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade,
influírem em todos os elementos (factos, provas, questões de direito) que se encontrem
em ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como
potencialmente relevantes para a decisão. O escopo principal do princípio do
contraditório deixou de ser a defesa, no sentido negativo de oposição ou resistência à
atuação alheia, para passar a ser a influência, no sentido positivo do direito de incidir
ativamente no desenvolvimento e no êxito do processo.

No plano da alegação

No plano da introdução dos factos principais da causa, que constitui, com o


princípio do dispositivo, um quase-monopólio das partes, o princípio do contraditório
exige que os factos alegados por uma delas possam pela outra ser contraditados (por

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impugnação ou por exceção), sendo assim concedida, a ambas, em igualdade, a
faculdade de sobre todos eles se pronunciarem.

Também na medida em que, excecionalmente, o juiz pode introduzir factos


principais no processo, o princípio do contraditório exige que ambas as partes se possam
pronunciar sobre o exercício desse poder funcional, isto é, sobre a ocorrência dos
respetivos pressupostos e sobre a existência do facto em causa. Nos termos do art. 3º/4,
às partes deve ser sempre facultada, antes da decisão, uma tomada de posição sobre o
facto que o juiz oficiosamente se propõe introduzir. Ponto é que se trate de um facto
fundamental, pois outro é o regime dos factos instrumentais.

No plano da prova

No plano da prova, o princípio do contraditório exige:

a) Que às partes seja, em igualdade, facultada a proposição de todos os meios


probatórios potencialmente relevantes para o apuramento da realidade dos
factos (principais ou instrumentais) da causa- compadece com a limitação
razoável do nº de testemunhas a ouvir por cada parte;
b) Que lhes seja consentido fazê-lo até ao momento em que melhor possam decidir
da sua conveniência, tidas em conta, porém, as necessidades de andamento do
processo;
c) Que a produção ou admissão da prova tenha lugar com audiência contraditória
de ambas as partes;
d) Que estas possam pronunciar-se sobre a apreciação das provas produzidas por si,
pelo adversário ou pelo tribunal.

No plano do direito

No plano das questões de direito, o princípio do contraditório exige que, antes da


sentença, às partes seja facultada a discussão efetiva de todos os fundamentos de direito
em que a decisão se baseie- proibição de decisões-surpresa. Só se dispensa em casos de
manifesta desnecessidade (art. 3º/3).

Não basta, pois, para que esta vertente do princípio do contraditório seja
assegurada, que às partes, em igualdade, seja dada a possibilidade de, antes da decisão,
alegarem de direito. É preciso que, mesmo depois dessa alegação, possam fazê-lo ainda
quanto a questões de direito novas, isto é, ainda não discutidas no processo.

Mas, ao verificar se uma questão de direito é nova, o tribunal deve atender ao


facto de as partes terem dado ou não cumprimento nos atuais arts. 552º/1/d) e 572º/b).
Estes preceitos passaram a ser interpretados como impondo, respetivamente ao autor e

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ao réu, um ónus. Se este não for observado no articulado respetivo, poderá o juiz
convidar a parte a suprir a falta, no momento do despacho pré-saneador (art. 90º/2). A
inobservância desse ónus pode ter como consequência a inaplicabilidade da vertente do
princípio do contraditório ora considerada.

Princípio da igualdade de armas

Este princípio é uma manifestação do princípio da igualdade das partes (paridade


simétrica) perante o tribunal (art. 4º CPC). Ao longo de todo o processo deve haver um
equilíbrio quanto aos meios processuais de que cada parte dispõe para apresentar e fazer
vingar os seus pontos de vista. Note-se, contudo, que não se trata de uma mera
identidade formal quanto a faculdades, meios de defesa, ónus ou cominações. Do que se
trata é de assegurar uma igualdade substancial entre as partes. No atual CPC ainda
sobrevive uma desigualdade das partes, quando uma delas é o Ministério Público (art.
632º/4).

REGENTE: Art. 13.º CRP - deve-se extrair que há uma igualdade perante a lei,
perante os tribunais, perante o direito processual civil

- proibição das discriminações no processo é uma consequência deste


princípio
- as partes estão em paridade – há uma igualdade formal

Princípio da licitude da prova

Este princípio implica que são inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos,
designadamente através da violação de direitos fundamentais. Por exemplo, serão provas
em si mesmo ilícitas as que sejam obtidas através da violação do direito à imagem ou do
direito à reserva sobre a intimidade da vida privada (art. 417º/3 do CPC). Serão
igualmente ilícitas as que forem obtidas por via de processos ilícitos (por exemplo, o
depoimento sob coação).

Direito de comparência pessoal

Em certos casos, a comparência pessoal será mesmo uma indispensabilidade (por


exemplo, nos processos de adoção) ou, inclusivamente, um dever (por exemplo, nos
processos de regulação das responsabilidades parentais). De uma forma geral, a
comparência da parte não é obrigatória, não deixando, porém, de ser um direito que lhe
deve ser reconhecido. Nos casos de depoimento de parte (452º CPC e 352º CPC) e de
declaração de parte (466º CPC) a parte tem, naturalmente, que estra presente. Já no caso

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de, situando-se a causa no âmbito dos poderes de disposição das partes, ser designada,
por iniciativa do juiz ou o pedido daquelas, uma tentativa de conciliação, o dever de
comparência das partes poderá ser assegurado através da presença do respetivo
mandatário, munido de poderes especiais (594º/2 CPC).

Princípio da fundamentação da decisão

O dever de fundamentação das decisões decorre para o tribunal do art. 205º CRP.
Este dever assegura aos destinatários o conhecimento das razões de facto e de direito
que levaram o juiz a proferi-las. O dever de fundamentação não se manifesta apenas no
momento da emissão da sentença, mas ao longo de todo o processo, nomeadamente na
prolação de despachos interlocutórios que não revistam a natureza de despacho de mero
expediente. Em regra, a fundamentação não pode consistir na simples adesão aos
fundamentos alegados por cada uma das partes (art. 154º/2 CPC).

O dever de fundamentação da sentença abrange assim o dever de o juiz


discriminar os factos que considera provados, após ter procedido à análise crítica das
provas, devendo especificar os fundamentos que foram decisivos para formar a sua
convicção, tendo em consideração todos os factos e o respetivo valor probatório, e
devendo compatibilizar toda a matéria de facto (arts. 607º nºs 3 1º parte e 4 CPC). O juiz
deve ainda indicar e interpretar as normas e princípios jurídicos que a decisão realiza no
caso concreto (607º/3 CPC). A violação deste dever de fundamentação poderá ser causa
geradora de nulidade da sentença (615º/1/b) e determinar a baixa do processo à 1º
instância para efeito de obter tal fundamentação (662º/2/d).

Princípio da publicidade

Este princípio assegura a transparência da função jurisdicional, que constitui a


regra ao nível do processo civil. Assim, as audiências dos tribunais são públicas (art. 206º
CRP, 606º/1 CPC). No entanto, em certos casos, o tribunal poderá afastar a publicidade
da audiência, desde que fundamente tal decisão na salvaguarda da dignidade das pessoas
e da moral pública ou na garantia do seu normal funcionamento (606º/1/2º parte CPC).
O princípio da publicidade manifesta-se, ainda, no direito de acesso ao processo, isto é,
no direito de exame e consulta do processo no direito de obtenção de cópias ou de
certidões (163º CPC, igualmente limitado pelo 164º CPC).

3) Direito a uma decisão em prazo razoável

Uma decisão tardia pode equivaler a uma denegação de justiça e daí que o texto
constitucional contemple este princípio, também expressamente acolhido no art. 2º/1
CPC. O prazo razoável conta-se desde a data da propositura da ação até ao termo do

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processo. Contudo, a duração de um processo varia em função das circunstâncias do
caso, da sua complexidade, dos interesses em jogo e da conduta das próprias partes,
razão pela qual a lei não estabelece um prazo certo para o termo da decisão. Trata-se
assim de um conceito indeterminado a concretizar em cada caso. A violação deste
princípio tem valido a Portugal algumas condenações no TEDH.

O reconhecimento da imprescindibilidade de a decisão ser proferida em prazo


razoável levou o legislador a explicitá-la na própria função do processo, que passou a ser
apresentada como a justa composição do litígio em prazo razoável (art. 6º/2, in fine CPC),
pelo que a celeridade processual é um objetivo a realizar ao longo de toda a tramitação
processual. Concretamente, no exercício do poder-dever de gestão processual, na
dimensão da adequação formal, incumbe ao juiz adotar mecanismos de agilização e
simplificação processual (arts. 6º/1 e 547º CPC).

4) Princípio da legalidade da decisão

Princípio que decorre do art. 203º CRP e determina a subordinação do poder


judicial ao direito. No CPC o legislador impõe ao juiz o dever de indicar e interpretar as
normas jurídicas que realiza na decisão (607º/3 CPC). No entanto, a obrigação de respeito
pela solução decorrente da estrita aplicação da lei tem como exceção o julgamento de
equidade, nos casos especialmente previstos na lei (987º CPC).

5) Princípio do inquisitório

Em sentido amplo
O princípio do inquisitório (em sentido amplo) encontra na atual lei processual um
amplo acolhimento, quer no âmbito do poder-dever da gestão processual, quer no
campo da instrução (processo do inquisitório em sentido restrito).

Poder-dever da gestão processual


O nº1 do art. 6º CPC atribui ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso
especialmente imposto pela lei às partes, o poder-dever de “dirigir ativamente o
processo, de providenciar pelo seu andamento célere, promovendo oficiosamente as
diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação, recusando o que for
impertinente ou meramente dilatório e adotando, depois de ouvir as partes, mecanismos
de simplificação e de agilização processual que garantam a justa composição do litígio em
prazo razoável”. Deve ser garantida a celeridade, eficiência, simplificação e agilização do
processo.

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No exercício deste poder-dever de gestão processual deve o juiz orientar-se
sempre pelo fim que o legislador pretendeu obter com a sua consagração: a realização
do processo, isto é, a prolação de uma decisão de mérito, justa, obtida de modo eficiente
e rápido.
O poder-dever de gestão processual desdobra-se em:
a) Poder-dever de direção do processo: no art. 6º atribui-se ao juiz o poder-dever
de direção do processo, nos seus aspetos técnicos e de restrutura interna que
inclui:
1- O poder-dever de assegurar a regularidade da instância e o seu normal
andamento;
2- O poder-dever de providenciar oficiosamente pela sanação da falta de
pressupostos processuais ou, no caso de esta depender de ato das partes, de
convidar estas ao seu suprimento, evitando deste modo as situações em que, nos
termos do art. 590º/1 CPC, seria admissível o indeferimento liminar da petição
inicial.

b) Poder-dever de adequação formal: o poder-dever de o juiz adotar mecanismos e


simplificação e agilização processual, reconhecido no art. 6º/1 do CPC, é
reforçado no art. 547º CPC. Ao juiz é conferido o poder-dever de adaptar a
tramitação processual às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma
dos atos processuais, assegurando, dessa forma, um processo equitativo. Esta
adequação formal visa a simplificação ou a agilização processual, pelo que está
estritamente relacionada com o direito a uma decisão em prazo razoável, razão
pela qual a lei processual procura adequar o prazo para a prática dos atos
processuais à maior ou menos complexidade do processo. A simplicidade dos atos
está expressamente consignada no nº1 do art. 131º do CPC, de acordo com o qual
os atos processuais terão a forma mais simples e adequada ao fim que visam. Por
simplificação entende-se uma tramitação mais leve do que a prevista na lei; a
agilização envolve “uma forma mais fácil de atingir a justa composição do litígio:
nuns casos, a agilização pode traduzir-se numa simplificação da tramitação, mas
noutros, pode envolver a prática de atos não previstos na lei. Tem sido discutida
a questão de saber se no exercício deste poder-dever o juiz poderá dispensar a
realização da audiência prévia para além das situações tipificadas no art. 593º do
CPC. Em face do modelo consagrado no CPC de 2013, a regra deverá ser a de
realização da audiência prévia, que só poderá ser dispensada nas situações
expressamente previstas na lei. O assunto é controvertido no contexto dos
próprios tribunais, havendo mesmo quem considera que a dispensa de audiência
prévia, fora das situações previstas no art. 593º CPC, constitui uma nulidade
processual. Outros inclinam-se para considerar que o juiz poderá, no uso de
poderes-deveres de simplificação e agilização processual e de adequação formal,
não realizar a audiência prévia, desde que a decisão de não a realizar seja
fundamentada e precedida do convite prévio às partes para se pronunciarem

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sobre a possibilidade de o fazer e, querendo, alegarem por escrito o que iriam
sustentar oralmente na audiência prévia se esta tivesse lugar.

Em sentido restrito
Este princípio está consagrado no art. 411º CPC e aponta para uma conceção do
processo em que a investigação da verdade material é também da responsabilidade do
juiz, constituindo, dessa forma, uma compressão ao princípio do dispositivo. Assim, a lei
processual atribui ao juiz poderes em matéria de iniciativa da prova quanto aos factos
que lhe é lícito conhecer. Daí que o juiz possa oficiosamente ordenar a realização de
provas (ex. os arts. 452º/1, 467º/1, 490º/1, 526º/1 e 607º/1, 2º parte do CPC)., apesar
de impender sobre as partes um ónus de iniciativa da prova. Sublinhe-se, no entanto, que
os poderes de iniciativa do juiz restringem-se “aos factos que lhe é lícito conhecer” (art.
411º CPC) e que, nos termos do art. 5º, delimitam o âmbito dos poderes de cognição do
tribunal.

Enquanto relativo à prova, o princípio inquisitório, em sentido estrito, significa


que o tribunal não está limitado aos elementos probatórios apresentados pelas partes,
tendo o poder-dever de procura da verdade material, dentro do âmbito limitado pelo
objeto do processo. É ainda necessário relembrar que a verdade não pode ser procurada
nem obtida por quaisquer meios, apenas pelos meios processuais admissíveis, isto é, as
provas lícitas.

6) Princípio do dispositivo

Pode ser entendido num sentido mais lato que se traduz na liberdade de decisão
sobre a instauração do processo e sobre a conformação do seu objeto, bem como,
embora com limitações, sobre o termo e suspensão do mesmo. Num sentido mais
restrito, designa-se por princípio da controvérsia, que manifesta a responsabilidade das
partes pelo material fáctico da causa, abrangendo a liberdade de as partes acordarem
sobre a existência de certos factos ou de os darem por assentes e a iniciativa das partes
quanto à prova dos factos que forem controvertidos.

O princípio do dispositivo reflete no Direito Processual Civil o princípio da


autonomia priva que domina o Direito Privado.

O princípio do dispositivo está consagrado no plano:

a) Da iniciativa inicial: segundo o art. 3º/1 CPC, é ao autor que cabe dar o impulso
processual inicial;
b) Da conformação da instância: nos termos do art. 259º/1 CPC, a instância constitui-
se com a propositura da ação, mas é com a citação do réu que a instância se torna

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estável (art. 260º CPC) quanto às partes, pedido e causa de pedir. É ao autor que
cumpre formular o pedido contra o réu e indicar a causa de pedir. O objeto da
causa é, assim, em regra, o que resulta da causa de pedir configurada pelo autor
na petição inicial. Contudo, esta pode ser ampliada pelo réu através da
reconvenção (art. 266º CPC), alterada ou ampliada em consequência de confissão
feita pelo réu e aceite pelo autor (art. 265º/1 CPC) e alterada ou ampliada, por
acordo das partes, em qualquer momento do processo, em 1º ou 2º instância (art.
264º CPC). No que diz respeito ao pedido, este pode ser reduzido por qualquer
das partes em qualquer altura (desistência parcial: art. 283º/1 CPC) ou ampliado
até ao encerramento da discussão da matéria de facto em 1º instância, quando a
ampliação for desenvolvimento ou consequência do pedido primitivo (art. 265º/2
CPC). Na sentença, o juiz tem que ter em consideração o objeto do processo assim
definido pelas partes, não podendo condenar em quantidade superior ou em
objeto diverso do que se pediu (art. 609º/1 CPC), sob pena de nulidade da mesma
(art. 665º/1/e) do CPC)). Quanto às partes, na pendência da ação, a sucessão
mortis causa (arts. 351º e ss. do CPC) ou a transmissão inter vivos do direito
litigioso (arts. 263º e 356º CPC) podem determinar modificações subjetivas da
instância. Em caso algum o juiz tem o poder de chamar o terceiro a intervir. O juiz
pode apenas convidar a parte a praticar os atos necessários à modificação
subjetiva da instância quando estes sejam necessários à regularização da mesma
(arts. 6º/2 e 261º/1 CPC).
c) Da disponibilidade da instância: a partir da propositura da ação, caberá ao juiz
providenciar pelo andamento do processo, sem prejuízo do cumprimento dos
ónus que impendem sobre as partes (art. 6º/1 do CPC) e de que dependa o
prosseguimento do processo (por exemplo, o registo da ação, a publicação de
anúncios no caso da citação edital). Contudo, na pendência da ação, as partes
podem acordar na suspensão da instância (art. 272º/4, que, no entanto, impõe
limites a esta faculdade na medida em que a suspensão, na sua totalidade, não
pode exceder o período de 3 meses, nem pode ser acordada quando dela resulte
o adiamento da audiência final) ou mesmo na sua extinção (art. 277º/c) do CPC)).
No entanto, e como refere LEBRE DE FREITAS, estes negócios de autocomposição
do litígio não constituem verdadeiras manifestações da liberdade de disposição
do processo, mas são verdadeiros negócios processuais através dos quais as
partes mantêm, alteram ou criam as situações jurídicas objeto do processo. Tais
negócios de autocomposição só são admissíveis na medida em que o direito
substantivo os permita (art. 289º CPC);
d) Da responsabilidade pela formação da matéria de facto: de acordo com a teoria
da substanciação, consagrada pela nossa lei processual, incumbe às partes alegar
os factos essenciais da causa (art. 5º/1 CPC), alegação esta que é feita nos
articulados. Daqui decorre a dependência do juiz em relação aos factos alegados
pelas partes consignada no art. 5º/1 CPC. No entanto, este princípio está hoje

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fortemente mitigado pelo poder que o juiz tem de convidar as partes a suprir
insuficiências ou imprecisões na exposição dos factos (590º/4 CPC) e, também,
pelo poder de considerar factos que complementem ou concretizam os alegados
nos articulados e resultem da instrução da causa (5º/2 CPC), reforçando o objetivo
de realização da função do processo de justa composição do litígio de acordo com
a verdade material e em tempo útil (mesmo nestes casos, porém, os factos estão
sujeitos ao princípio do contraditório). Há assim um ónus de alegação que
impende sobre cada uma das partes. O autor tem o ónus de alegar os factos
constitutivos do direito que se arroga. A omissão no cumprimento deste ónus
poderá conduzir à falta da causa de pedir, que determinará a absolvição da
instância, ou à deficiência da causa de pedir, que determinará a absolvição do
pedido por inconcludência. O réu tem o ónus de alegar os factos constitutivos das
exceções, sob pena de procedência do pedido. Excecionais são as situações em
que o tribunal pode ter em consideração factos notórios e factos de
conhecimento do tribunal por virtude do exercício das suas funções (412º CPC),
bem como os casos de simulação e fraude processual (612º CPC), em que o juiz
não está limitado pelo princípio do dispositivo. Factos notórios são factos que são
de tal modo do conhecimento geral que não há razão para duvidar da sua
ocorrência e, como tal, não carecem de alegação, nem de prova; os factos do
conhecimento do tribunal por virtude do exercício das suas funções não carecem
de alegação, mas o juiz tem de juntar ao processo documento que com que
comprove o facto funcionalmente conhecido. É de salientar que estas regras não
se aplicam aos factos instrumentais que, por natureza, não carecem de alegação
e, por isso, são considerados na decisão de facto (art. 5º/2/a) CPC)). Essencial é
que o conhecimento de tais factos instrumentais resulte da instrução em causa.
De acordo com o art. 552º/1/d) do CPC, “na petição, com que propõe a ação, deve
o autor (…) expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir”. Todos
estes servem uma função fundamentadora do pedido e a falta de alegação de
qualquer deles dará lugar à absolvição do pedido da parte contrária, por
insuficiência de fundamentação de facto do pedido, isto é, por insuficiência duma
causa de pedir que se deixou incompleta.
e) Do acordo sobre os factos: a possibilidade de as partes acordarem sobre os factos
é limitada, já que a sua admissibilidade sem restrições equivaleria a admitir o
direito à mentira no processo. Todavia, tendo em conta a consequência prevista
no nº2 do art. 574º CPC, para a não impugnação por parte do réu de um facto
alegado pelo autor, poderá dizer-se que a não impugnação equivale à afirmação
de que o facto é verdadeiro. Ao princípio do dispositivo é inerente a
autorresponsabilidade das partes e da preclusão: o autor e o réu são responsáveis
pelo processo e pela orientação que lhe imprimem em execução de estratégia
que delinearam, designadamente decidindo o nº de testemunhas e quais as
testemunhas que pretendem apresentar, se requerem ou não a produção de

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outros meios de prova, se se sujeitam ou não aos ónus impostos pelo princípio da
cooperação.

7) Princípio da boa fé processual

Nos termos do art. 8º CPC impende sobre as partes um dever geral de boa fé, cuja
violação poderá consubstanciar litigância de má fé (art. 542º CPC).

8) Princípio da economia processual

Este princípio consiste em procurar obter o máximo resultado da atividade


processual desenvolvida, por outras palavras, procura-se que, com o menos esforço
processual possível, se alcance o máximo de litígios.

Para alcançar um determinado resultado processual devem utilizar-se os meios


necessários e não mais do que esses.

Deste modo, pretende-se reduzir o número de processos e evitar os atos e


formalidades desnecessários.

O art. 130 proíbe a realização de atos inúteis. Por sua vez, o art. 131 determina
que os atos processuais têm a forma que, nos termos mais simples, melhor corresponda
ao fim que visam atingir.

Transações

→ Quantitativa – modificação no quantum (quantidade fixada no pedido). Ex. A


credor de determinada quantia e propõe uma ação contra B e este vem na
contestação dizer que não deve 500 000 mas só 300 00. Há um momento-
despacho saneador- tentativa de conciliação. Vamos supor que o pedido era
500.000 euros e nesse acordo foi transacionado entre as partes que B pagaria a A
300 000- transação que leva B a pagar já não 500 000 mas 300 000- transação
quantitativa.
→ Novatória – as concessões mútuas podem ser diferentes : por exemplo, A
revindica uma determinada propriedade, alegando ser proprietário do terreno
agricultado por B; A pede ao tribunal que declare que B não tem nenhum direito
sobre a propriedade, que lhe deve ser entregue livre e desonerada (ação de
reivindicação de A em relação a B); B contesta, dizendo que o terreno lhe foi
herdado pelo titular; o processo segue ate que há o momento do acordo; no

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acordo (transação) fixa-se que A é proprietário e B é usufrutuário; A reconhece o
direito de usufruto de B e B reconhece o direito de proprietário de A;
Aqui, não estamos perante uma transação quantitativa, mas antes novatória, em que
há reconhecimentos recíprocos de direitos entre as partes;

Nulidades processuais

Em 1939, quando o CPC nasce e estipula a expressão nulidade processual, refere-


se a nulidades processuais do código civil de 1867 (código de Seabra);
O CPC de 1939, não distingue, assim, nulidade de anulabilidade;
O legislador, quando em 1966 aprova o atual CC, não atualiza a matéria das
nulidades e anulabilidade;
Assim, a nulidade processual do CPC (artigo 195º) não se reporta á nulidade
processual do CC (artigo 294º);
Neste sentido, os problemas interpretativos são muitos; o interprete deve
entender que nulidade processual não equivale a nulidade civil; as nulidades processuais
aproximam-se mais da anulabilidade civil do que da nulidade civil; acontece que não
existe anulabilidade processual;
A nulidade processual encontra entraves, como seja, a impossibilidade de ser
arguida por qualquer pessoa a todo o tempo – parecença com o regime da anulabilidade
civil;
Efeitos da nulidade do artigo 195º CPC - anulado um ato, anulam-se também os
termos subsequentes; a nulidade de parte de um ato não prejudica a validade das outras
partes, desde que independentes;
Nulidades do processo civil: duas categorias – nominadas e inominadas; as
primeiras, estão tipificadas no CPC (por exemplo, artigos 186º, 188º, 191º, 193º CPC); as
segundas, não estão especificamente tipificadas, aplicando-se a regra geral - artigo 195º
CPC;

Podemos entender que para além das nulidades processuais haverá inexistência jurídica
no processo civil

→ O legislador não se pronuncia sobre a inexistência;


→ Professores Bonifácio Ramos e Castro Mendes – defende que há inexistência jurídica,
em situações com especial gravidade. EX. juiz raptado e num determinado dia alguém
colocado no lugar do juiz produziu uma sentença- inexistência jurídica. O regente
concorda.

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Organização Judiciária

Estrutura dos tribunais

JUÍZES– os juízes dos tribunais judiciais consitituem um corpo único e regem-se por um
único estatuto.

Garantias próprias dos juízes:


→ Independência (art. 203 CRP) – o juiz pratica a sua atividade de forma
independente, estando apenas vinculado à lei. De acordo com a lei, o juiz tem
um dever de imparcialidade, sendo que a lei fala, neste âmbito, de
impedimentos e de suspeições (arts. 115 e ss.). Caso o juiz se encontre
impedido por alguma causa, tem o dever de se declarar impedido e não julgar
aquela causa (art. 116). As suspeições (art. 119) são uma situação em que,
ainda que não haja um impedimento, ainda assim, se pode duvidar da
imparcialidade do tribunal, sendo que o próprio juiz pode declarar-se
suspeito, recusando-se a julgar a causa.
→ Irresponsabilidade (art. 216/1 CRP) – o juiz não pode ser responsável pelas
suas decisões. Ou seja, as decisões do juiz incorrem sempre em prejuízo para
uma das partes, mas isso não significa que deva ser responsabilidade por esse
prejuízo, salvo nas situações de responsabilidade criminal, disciplinar ou civil
(Lei 67/2017).

Quanto à responsabilidade civil do juiz, há que ter em conta que quando uma decisão
que é proferida por um juiz e essa decisão é suscetível de causar danos a uma parte
(nomeadamente, por erros), a solução que decorre da Lei 67/2007 é a de que quem é
demandado é o Estado e não o juiz, sendo que o Estado pode, em determinadas
circunstâncias, exercer posteriormente um direito de regresso sobre o juiz.

→ Inamovibilidade (art. 216o CRP) – os juizes não podem ser transferidos,


aposentados ou despedidos, fora dos casos previstos na lei.

SECRETARIA E FUNCIONÁRIOS JUDICIAIS

REPRESENTANTE DO MP – o MP goza de autonomia (art. 219/2 CRP), mas há uma


grande diferença em relação à magistratura judicial: enquanto nesta não há uma
hierarquia (não há juízes de hierarquia superior ou inferior), o ministério público é um
órgão hierarquizado, isto é, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode, por exemplo,
dar ordens a agentes subordinados do MP. Fora este aspeto, existe um paralelismo entre
a magistratura judicial e a magistratura do MP.

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Existem ainda ÓRGÃOS DE GESTÃO– nomeadamente, as comarcas têm órgãos de
gestão próprios.

Existem também AUXILIARES DE JUSTIÇA – podem ser peritos, consultores, etc., mas
há um particularmente importante: agente de execução, que tem hoje um papel
fundamental na ação executiva.

Em Portugal existem 23 comarcas, 5 relações e 1 STJ.

Atualmente existem duas ordens de tribunais: (a) ordem dos tribunais judiciais, cujo
supremo tribunal é o STJ e (b) ordem dos tribunais administrativos e fiscais, cujo supremo
tribunal é o STA. Há uma grande diferença entre aquilo que cabe à ordem dos tribunais
judiciais e que cabe à ordem dos tribunais administrativos e fiscais: o art. 211o/1 CRP
dispõe que os tribunais judiciais são os tribunais comuns em matéria civil e criminal e
exercem jurisdição nas áreas que não são atribuídas a outra ordem; aos tribunais
administrativos e fiscais cabe apenas aquilo que a lei expressamente disser que é da
competência desses tribunais.
Se uma matéria não for nem civil nem criminal (ex: laboral), mas se não couber na
competência dos tribunais administrativos e fiscais, essa matéria caberá aos tribunais
judiciais.
O art. 211/2 CRP permite que, em 1a instância, haja tribunais de competência
especializada e tribunais de competência específica, em função da matéria.

Na nossa OJ não existem apenas tribunais estaduais, também existem tribunais


arbitrais, que são constituídos por árbitros, isto é, juízes que não pertencem à
magistratura.
Existem dois tribunais arbitrais: os tribunais arbitrais voluntários (são os mais
importantes, e que resultam de uma opção das partes de resolverem o litígio num
tribunal arbitral) e os tribunais arbitrais necessários (que a lei impõe que o litígio seja
resolvido nesse tribunal arbitral).

Os tribunais arbitrais trazem vantagens para os particulares, nomeadamente os


custos mais baixos e a possibilidade de escolherem os árbitros, assim como o facto de a
arbitragem ser mais flexível e de gozar de alguma confidencialidade.

Existem ainda, para além dos tribunais judiciais e dos tribunais administrativos e
fiscais, os Julgados de Paz (art. 209/2 CRP). Estes julgados de paz são uma forma
alternativa de resolução de litígios, e caracterizam-se por ter uma competência
alternativa à dos restantes tribunais, isto é, nunca é obrigatório propôr ação nos Julgados
de Paz, mas se for essa a vontade do autor, pode fazê-lo.

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Têm a sua competência delimitada em função da matéria – só têm competência
declarativa, não tendo competência para executar nenhuma decisão (art. 6o Lei dos
Julgados de Paz).

O valor máximo que pode ser objeto de uma ação nos Julgados de Paz é de 15.000€.

Os julgados de paz têm ainda assim, genericamente, uma competência ampla.

Fora ordem dos tribunais judiciais e dos administrativos e fiscais existe ainda o
Tribunal dos Conflitos, que visa resolver conflitos entre os tribunais. Para sabermos em
concreto que conflitos são resolvidos por este tribunal, importa ter presente as definições
de “conflitos de competência” e de “conflitos de jurisdição” presentes no art. 109 CPC:
→ Conflitos de competência – art. 109/2: quando dois ou mais tribunais da
mesma ordem jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes
para conhecer da mesma matéria. Art. 110/2: são solucionados pelo
presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre as
autoridades em conflito.
→ Conflitos de jurisdição – art. 109/1: o conflito é entre tribunais de diferentes
ordens jurisdicionais. É aqui que entra o Tribunal dos Conflitos, que irá
resolver estes conflitos.

Este não é um tribunal permanente e é de composição mista (juízes do STJ e do STA).

Pressupostos processuais

Noção introdutória:

Palma Carlos- pressuposto processual será uma condição de admissibilidade

Prof. Varela- condições mínimas de admissibilidade, condições mínimas indispensáveis à


apreciação de uma determinada ação.

Ex. A propõe ação contra B

- Onde propor a ação?

- Capacidade judiciária;

- Interesse em agir;

- Patrocínio judiciário.

Por mais adequada que seja a pretensão do autor, a ação não pode ser aceite se
não preencher os pressupostos processuais.

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Metodologia classificatória:

o Pressupostos processuais positivos – aqueles cuja verificação é essencial para que


o juiz conheça do mérito da causa. Personalidade judiciária, capacidade,
legitimidade, interesse processual, competência do tribunal e patrocínio
judiciário;
o Pressupostos processuais negativos: aqueles cuja verificação obsta a que o juiz
aprecie o mérito da ação. Litispendência (o mesmo A tinha proposto já uma ação
contra o mesmo B- sobre o segundo há uma litispendência), caso julgado (se já
tiver sido tomada uma decisão sobre o assunto), existência de compromisso
arbitral.

Outra classificação:

o Pressupostos relativos ao tribunal: como as questões relativas à competência dos


tribunais;
o Pressupostos relativos às partes: legitimidade, patrocínio judiciário,
personalidade judiciária e capacidade judiciária.

Há que ter em atenção as consequências da violação dos pressupostos processuais-


art. 576º e 577º CPC.

Art. 576º- Exceções dilatórias e exceções perentórias

Exceções dilatórias- obstam (impedem) que o tribunal conheça do mérito da coisa. Logo,
havendo uma violação sobre pressupostos processuais há exceção dilatória- 576º/2 e
577º- listagem não taxativa.

Exceção dilatória- todas as ofensas aos pressupostos quer positivos quer negativos.
Consequência- 576º e 577º- que o tribunal não conheça do mérito da causa.

No elenco das exceções dilatórias enunciadas pelo art. 577º, falta um pressuposto
processual importante- interesse em agir- é pressuposto processual e não está no elenco.

Pressupostos Processuais relativos ao Tribunal

A função jurisdicional está reservada pela CRP aos tribunais (art. 202º/1 CRP).
Fala-se em jurisdição para referir o poder de julgar que na organização do Estado é
atribuído aos tribunais. O termo jurisdição é também usado para referir o poder
genericamente atribuído a cada categoria de tribunais (ou ordem jurisdicional) em face
das demais categorias.

A expressão competência, por seu turno, designa a fração de poder jurisdicional


que é atribuída pela lei a cada tribunal. No nosso sistema, o poder jurisdicional está
repartido pelos vários tribunais (tribunais judiciais ou tribunais integrados noutras ordens

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judiciárias): cada tribunal tem o poder de julgar apenas determinada espécie ou
determinado conjunto de litígios, e não todos os que lhe sejam submetidos pelas partes.
A cada tribunal é atribuída apenas uma parcela ou fração do poder jurisdicional: é a
competência abstrata desse tribunal. A competência concreta diz respeito ao poder
reconhecido a um determinado tribunal para julgar certo litígio.

Para delimitar a fração do poder jurisdicional atribuída a cada tribunal existem


regras de competência: são as normas que definem os critérios de repartição do poder
jurisdicional e permitem determinar, relativamente a cada litígio, qual o tribunal a quem
foi atribuído o poder de o apreciar. A repartição de competências pode tomar como
referentes critérios como a matéria, a hierarquia, o território, o valor da ação, etc.

P.e., por aplicação das regras de competência em razão da matéria, apura-se que
uma ação de indemnização por danos causados ou sofridos por navios deve ser intentada
no tribunal marítimo; por aplicação de regras de competência em razão do território,
verifica-se que uma ação de condenação no pagamento de obrigação emergente de
contrato deve ser intentada no tribunal do domicílio do devedor.

A distribuição de competências ou do poder jurisdicional por diversas entidades


pode fazer surgir situações de conflito. Tal conflito pode ser:

· Positivo, quando duas ou mais autoridades pertencentes a diversas atividades do


Estado, ou dois ou mais tribunais, se arrogam o poder se conhecer a mesma
questão;
· Negativo, quando duas ou mais entidades públicas, ou dois ou mais tribunais,
declinam o poder de conhecer uma determinada questão.

Os conflitos, positivos ou negativos, podem ser de jurisdição, quando se


estabelecem entre autoridades pertencentes a diversas atividades do Estado ou quando
ocorrem entre tribunais pertencentes a diferentes ordens jurisdicionais. P.e., uma
entidade administrativa e um tribunal consideram-se simultaneamente competentes
para conhecer de uma mesma questão litigiosa.

Os conflitos podem ainda ser de competência, quando dois ou mais tribunais da


mesma ordem jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes para
conhecer da mesma questão. P.e., quer o Juízo Central Cível do Tribunal Judicial da
Comarca de Lisboa quer o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão declaram-
se incompetentes para conhecer de uma ação relativa a uma determinada questão sobre
matéria concorrencial.

As regras para resolver os conflitos de jurisdição e os conflitos de competência


constam dos arts. 110º a 114º do CPC. Os conflitos de jurisdição são resolvidos, conforme
os casos, pelo Supremo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal dos Conflitos, e os conflitos

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de competência são solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que
exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito. O processo seguido no Tribunal dos
Conflitos é o estabelecido na respetiva legislação, ao passo que a resolução dos conflitos
nos tribunais comuns é feita segundo as regras processuais definidas nos arts. 111º a
113º, que preveem que a resolução do conflito se faça a pedido de alguma das partes ou
do Ministério Público ou na sequência de iniciativa oficiosa do tribunal; que haja
pronúncia contraditória das partes ou da parte contrária à que suscite a resolução do
conflito; que o processo vá com vista ao Ministério Público; que a decisão seja, depois de
proferida pelo presidente do tribunal competente para zdecidir, comunicada aos
tribunais em conflito e ao Ministério Público e notificada às partes.

Competência Internacional e Competência Interna

Quando se estuda a competência dos tribunais, deve ter-se presente a distinção


entre, por um lado, o plano da competência internacional dos tribunais portugueses e,
por outro lado, o plano da competência interna.

Sempre que o litígio que é submetido a juízo apresenta elementos de


estraneidade relativamente à ordem jurídica portuguesa, põe-se, antes de mais, uma
questão de competência internacional dos tribunais portugueses. A questão da
competência internacional só surge quando a causa revele alguma conexão com outra
ordem jurídica estrangeira, ou seja, quando estamos perante um conflito plurilocalizado.
Se qualquer dos seus elementos, como sejam, as partes, o pedido ou a causa de pedir
tiverem somente conexão com a ordem jurídica portuguesa o problema não surgirá.

A competência internacional dos tribunais portugueses é aquela fração de poder


jurisdicional que é atribuída aos nossos tribunais, em face dos tribunais estrangeiros, para
julgar questões que estão conexionadas com ordens jurídicas estrangeiras.

Só depois de confirmada a competência internacional dos tribunais portugueses


é que se poderá resolver o problema da competência interna, que resulta da repartição
do poder de julgar entre os vários tribunais que integram a organização judiciária
portuguesa.

OBS: A questão da competência coloca-se ao autor no momento em que pensa


instaurar a ação. O autor terá de saber então onde deve propor essa ação, ou seja,
determinar o tribunal competente para proferir a respetiva decisão. Para isso, terá de
proceder a uma análise dos critérios que presidem à divisão do poder jurisdicional.

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Regras sobre competência internacional

A existência de litígios conexionados com várias ordens jurídicas nacionais obriga


a que cada ordenamento jurídico disponha de regras destinadas a definir os critérios
segundo os quais os seus tribunais são competentes para resolver esses litígios: são as
normas sobre a competência internacional. Com esta matéria está também relacionado
o problema do reconhecimento das decisões proferidas por tribunais estrangeiros.

As regras sobre a competência internacional permitem apenas determinar se os


tribunais portugueses são, no seu conjunto, competentes para decidir o litígio; mas já
não definem qual o tribunal concretamente competente, no interior da jurisdição
nacional, para apreciar a questão. Essa é a função das regras da competência interna.

De acordo com alguma doutrina, porém, as regras de competência interna (ou


algumas delas) têm uma “dupla funcionalidade”, pelo que bastarão, em princípio, para
se reconhecer a competência internacional a uma determinada jurisdição nacional; as
regras específicas sobre a competência internacional só encontrarão justificação para,
perante situações jurídicas plurilocalizadas, alargarem aquela competência a casos não
abrangidos pelas regras de competência interna ou excluírem essa competência em
relação a situações que à partida estariam abrangidas por estas regras.

Uma vez que cada Estado define unilateralmente os critérios de distribuição do


poder jurisdicional, é inevitável que as diferentes ordens jurídicas possam considerar os
seus tribunais simultaneamente competentes para o conhecimento de um mesmo litígio.
Nessa hipótese, o autor poderá escolher o tribunal (a jurisdição) no qual irá propor a ação,
de acordo com os seus interesses, designadamente em função dos custos inerentes, do
conteúdo do Direito material aplicável ou da maior ou menor facilidade de
reconhecimento da decisão (forum shopping). Esta possibilidade de escolha do foro em
função dos interesses do autor é praticamente ineliminável, embora possa ser combatida
através da harmonização ou mesmo uniformização das regras sobre a competência
internacional (por via convencional ou, na União Europeia, por via do Direito da União
Europeia).

Regras vigentes em Portugal

Os arts. 59º, 62º e 63º do CPC contêm regras sobre a competência internacional
dos tribunais portugueses. A primeira destas normas logo adverte, porém, que o regime
ali estabelecido não prejudica o que se ache estabelecido em regulamentos europeus e
em outros instrumentos internacionais, o que significa que as regras de competência
internacional de direito interno só se aplicam quando não devam prevalecer as
mencionadas regras de direito europeu ou de direito internacional.

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Daqui resulta que, quando algum destes instrumentos seja aplicável, é pelas
regras nele estabelecidas que deve aferir-se a competência dos tribunais portugueses,
até porque as convenções são da UE e existe um primado do direito da UE (art. 8º CRP).
E resulta também que, se for aplicável algum desses instrumentos e dele não resultar a
competência dos tribunais portugueses, também não poderá tal competência resultar da
aplicação das regras internas.

O estudo da competência internacional dos tribunais supõe, portanto, que se


tenham presentes também os principais instrumentos internacionais que lhe dizem
respeito, em particular, no que se refere a Portugal, alguns regulamentos europeus com
grande relevância nesta matéria, os quais, no seu domínio de aplicação, prevalecem
sobre o regime estabelecido no CPC:

− Regulamento (UE) nº 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de


Dezembro de 2012;
− Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de novembro de 2003
(Regulamento Bruxelas II-bis);
− Regulamento (CE) nº 4/2009 do Conselho, de 18 de Dezembro de 2008;
− Regulamento (UE) nº 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de
Julho de 2012 (Bruxelas IV).

Regulamento (UE) nº 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de


Dezembro de 2012

O Regulamento (UE) nº 1215/2012 versa a competência judiciária, o


reconhecimento e a execução de decisões em matéria cível e comercial.

Para se aplicar este regulamento, têm de estar preenchidos 3 requisitos


cumulativos:

a) Âmbito material: art. 1º- o Regulamento aplica-se em matéria civil e comercial,


com exceção das matérias previstas no final do nº1 e no nº2 do mesmo preceito
Quanto à competência relativa a matéria matrimonial e à responsabilidade
parental relativamente a filhos comuns do casal, rege hoje no espaço da União
Europeia o Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de novembro de
2003 (habitualmente designado por Regulamento Bruxelas II – a).
b) Âmbito temporal: art. 66º/1, 76º, 81º- ações intentadas (entrar na secretaria)
depois do dia 10 de janeiro de 2015. Não interessa quando ocorreram os factos,
interessa sim quando a ação é intentada, quando entra
c) Âmbito espacial/ subjetivo: art. 6º/1- aplica-se sempre que o demandado (réu)
tenha domicílio num dos Estados-membros (arts. 4º e 6º/1). Existem, porém,
regras de competência exclusiva que são aplicáveis qualquer que seja o domicílio

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do réu (art. 24º), bem como outras disposições que, para proteção de
consumidores e trabalhadores, levam a que a ação possa ser proposta no tribunal
de um Estado-membro independentemente do domicílio do demandado (arts.
18º/1 e 21º/2), prevendo-se ainda que as partes possam atribuir competência a
tribunais de um Estado-membro independentemente do seu domicílio (art.
25º/1).

Já sabemos os requisitos que têm de estar preenchidos para que o regulamento


possa ser aplicado. Preenchidos os requisitos num caso concreto, cabe gora perceber
como vemos qual o tribunal competente?

- A regra geral fixada no Regulamento para determinação da competência


internacional dos tribunais de um Estado-membro consta do art. 4º. De acordo com tal
regra, se o réu tiver domicílio num Estado-membro, deve ser demandado nos tribunais
desse Estado. Isto é: se o réu estiver domiciliado num Estado-membro, os tribunais desse
Estado são, em princípio, competentes para a ação, não relevando a sua nacionalidade
nem outras conexões da situação sub judice.

- O Regulamento admite, no entanto, em determinadas situações, que o

réu domiciliado num Estado-membro seja demandado noutro Estado-membro. Para o


efeito, será necessário que aos tribunais deste segundo Estado seja reconhecida
competência por força dos critérios especiais enunciados nas Secções 2 a 7 do capítulo II
do Regulamento (art. 5º/1).

Deve distinguir-se, porém, entre os critérios especiais estabelecidos na Secção 2


e os das Secções 3 a 7.

Na Secção 2 estão previstas regras especiais que atribuem competência a


tribunais de Estados diversos do Estado de residência do réu, mas que não excluem a
normal competência dos tribunais deste último. Ou seja, nas hipóteses ali contempladas,
o autor pode optar entre o tribunal do Estado do domicílio e o daquele Estado para que
aponta o critério especial.

Entre as competências especiais que o demandante pode utilizar em alternativa


à competência do tribunal do Estado de domicílio do demandado salientam-se:

· Em matéria contratual, a competência do tribunal do lugar onde a obrigação que


serve de fundamento ao pedido foi ou deveria ter sido cumprida, art. 7º/1;
· Em matéria extracontratual, a competência do tribunal do lugar do facto danoso,
art. 7º/2.

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P.e., A sociedade X, com sede e estabelecimento em Portugal, pretende
demandar a sociedade Y, com sede na Alemanha, para exigir o cumprimento de
obrigações emergentes de um contrato de compra e venda de um equipamento
industrial que deveria ter sido entregue nas instalações da primeira, em Portugal. A
competência internacional dos tribunais portugueses para esta ação deverá ser apreciada
à luz das regras estabelecidas no Regulamento (UE) nº 1215/2012, das quais resulta que
os tribunais portugueses são competentes, apesar de o réu não ter domicílio em Portugal,
porque a obrigação invocada pelo autor deveria ter sido cumprida em território
português.

Nas situações previstas nas Secções 3 a 7, diversamente, a competência


internacional é determinada unicamente pelas regras especiais aí estabelecidas. Porém,
nas hipóteses contempladas nas Secções 3 a 5 (competência em matéria de seguros, de
contratos de consumo e de contratos individuais de trabalho), o Regulamento continua
a privilegiar o critério do domicílio do réu, seja elegendo o tribunal respetivo como
exclusivamente competente (quando a ação é intentada contra o tomador do seguro, o
segurado ou o beneficiário, o consumidor ou o trabalhador) seja deferindo competência
ao tribunal do domicílio do demandado em alternativa a outros (assim acontece quando
a ação é intentada contra o segurador, a contraparte do consumidor ou a entidade
patronal). As disposições especiais contidas nestas três Secções (arts. 10º a 16º, 17º a 19º
e 20º a 23º, respetivamente) visam a proteção da parte considerada mais fraca (ou seja,
o tomador do seguro, segurado ou beneficiário, o consumidor e o trabalhador),
estabelecendo regras de competência mais favoráveis aos seus interesses do que a regra
geral.

Na Secção 6 preveem-se um conjunto de regras de fixação da competência


internacional em matéria de direitos reais sobre imóveis ou arrendamento de imóveis
(art. 24º/1) e nas outras matérias elencadas nos números 2 a 5 do art. 24º. Estas regras
determinam competências exclusivas, que valem qualquer que seja o domicílio do réu
(ou seja, mesmo que o réu não esteja domiciliado num Estado-membro).

Sendo proferida decisão em desrespeito pelas competências exclusivas definidas


nesse preceito (ou ainda pelas regras especiais sobre competência em matéria de
seguros, de contratos de consumo e de contratos individuais de trabalho), não deverá ser
reconhecida essa decisão (art. 45º/1, e)).

Na Secção 7 regulam-se os pactos atributivos de jurisdição (art. 25º),


reconhecendo-se às partes, independentemente do seu domicílio e com grande
amplitude, a possibilidade de livremente atribuírem aos tribunais de um Estado a
competência para dirimirem os litígios que tenham surgido ou possam resultar de uma
determinada relação jurídica (art. 25º/1). Tais pactos atributivos de jurisdição deverão
ser escritos, estar em conformidade com os usos que as partes tenham estabelecido
entre si ou que vigorem no comércio internacional e nele sejam amplamente

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 45


reconhecidos e regularmente observados pelas partes e, quando versem matérias de
seguros, de contratos de consumo ou de contratos individuais de trabalho, não deverão
ser contrários ao disposto nos arts. 15º, 19º e 23º, respetivamente (art. 25º/1 e 5). A
competência assim estabelecida é exclusiva a menos que as partes hajam convencionado
em contrário, tendo o tribunal designado no pacto prioridade na apreciação da validade
desse acordo.

Requisitos para aplicação do art. 25º:

o Escolher tribunal de um EM;


o Identificar a relação jurídica. Não podemos fazer uma cena do género: tudo o que
acontecer na vida entre nós, vai para os tribunais ingleses. O que pode ser: todos
os litígios emergentes do presente contrato. Às vezes o pacto de jurisdição é
celebrado depois de o litígio ter começado;
o Não pode ser substantivamente nulo (ex. vícios da vontade) nos termos da lei
desse EM (do acordado) - podemos presumir este requisito;
o Requisitos de forma alternativos: alínea a) ou b) OU c)- nos testes diz qual a forma
e podemos presumir que está preenchida;

Não pode afastar certas regras

A competência presume-se exclusiva se nada for dito em contrário. Ou seja, o


legislador concede a possibilidade de as partes não estarem a dar só competência a esse
tribunal, mas acrescentar o tribunal à lista.

O art. 25º/5 do Regulamento consagra o princípio da autonomia do pacto de


jurisdição- 25º/4 CPC.

Ex. mesmo se contrato for todo nulo por falta de forma, o pacto de jurisdição
sobrevive.

Também na Secção 7, agora no art. 26º, reconhece-se competência ao tribunal


do Estado-membro no qual o réu haja sido demandado quando este compareça perante
esse tribunal, a menos que tal comparência tenha como único objetivo arguir a
incompetência ou que esteja em causa a violação das regras de competência exclusiva
do art. 24º.

Se o réu não for domiciliado em Estado-membro, a competência é regulada pela


lei do Estado do foro, ressalvando-se a competência exclusiva definida no art. 24º e os
pactos de jurisdição, art. 25º. Aquela competência exclusiva é independente do domicílio
do demandado e, por isso, existe mesmo que este não seja domiciliado num Estado-
membro: é o que resulta do art. 6º/1.

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No que respeita a medidas provisórias ou cautelares previstas na lei de um
Estado-membro, estas podem ser requeridas às autoridades judiciais desse Estado
mesmo que, por força do Regulamento, um tribunal de um outro Estado-membro seja
competente para conhecer a questão de fundo, art. 35º.

Assinale-se ainda que o Regulamento também tem regras sobre a litispendência


internacional, determinando que “sem prejuízo do disposto no art. 31º/2, quando ações
com a mesma causa de pedir e entre as mesmas partes forem submetidas à apreciação
de tribunais de diferentes Estados-membros, qualquer tribunal que não seja o tribunal
demandado em primeiro lugar deve suspender oficiosamente a instância até que seja
estabelecida a competência do tribunal demandado em primeiro lugar”; se tal
competência ficar estabelecida, o segundo tribunal deverá declarar-se incompetente a
favor do primeiro, art. 29º/1 e 3.

Ordem preferente de aplicação dos artigos na opinião da prof- 1º ver se é um caso


do 24º, do Art. 25º, do 10º a 23º- não- não é consumo, não é trabalho. Vamos parar ao
art. 4º- são competentes os tribunais de domicílio do réu- Portugal. Depois do 4º ir ver
sempre o art. 7º, a não ser que a pergunta seja: são os tribunais portugueses
competentes? O art que diz que se cumula é o art. 5º- o autor pode propor a ação num
lado ou no outro.

Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de Novembro de 2003


(Regulamento Bruxelas II – a)

O Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de Novembro de 2003, que


é relativo à competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria
matrimonial e de responsabilidades parentais.

O âmbito material de aplicação é definido no art. 1º: divórcio, separação e


anulação do casamento, atribuição, exercício, delegação, limitação ou cessação das
responsabilidades parentais, incluindo as matérias referidas no nº2. Do nº3 deste art. 1º
constam exclusões de aplicação do diploma.

Este Regulamento não se aplica à Dinamarca.

A competência internacional dos tribunais dos Estados-membros é definida nos


arts. 3º e seguintes. Esquematicamente, as principais soluções ali estabelecidas são as
seguintes:

· Em matéria de divórcio, separação e anulação do casamento, a competência geral


é definida no art. 3º, que privilegia o critério da residência habitual dos cônjuges,
ou de um deles. Assinale-se que as regras de competência referidas nos arts. 3º,
4º e 5º têm caráter exclusivo quando um dos cônjuges tenha a sua residência
habitual ou seja nacional de um Estado-membro (art. 6º).

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· Em matéria de responsabilidade parental, a competência geral é fixada no art. 8º,
que aponta para o tribunal do Estado de residência habitual da criança.

Regulamento (CE) nº4/2009 do Conselho, de 18 de Dezembro de 2008

O Regulamento (CE) nº 4/2009 do Conselho, de 18 de Dezembro de 2008,

refere-se à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e


à cooperação em matéria de obrigações alimentares.

Este Regulamento substituiu as disposições do Regulamento Bruxelas I aplicáveis


às obrigações alimentares (art. 68º/1). Não obstante o Reino Unido e a Dinamarca não
estarem, em princípio, vinculados pelas disposições deste Regulamento, ele aplica-se
também relativamente a estes países (ainda que com algumas especificidades
relativamente à Dinamarca) conforme notificações efetuadas à Comissão por carta de 15
de Janeiro de 2009 (em que o Reino Unido comunicou a intenção de aceitar o
Regulamento) e por carta de 14 de Janeiro de 2009 (em que a Dinamarca comunicou a
decisão de aplicar o conteúdo do Regulamento na parte em que altera o Regulamento
Bruxelas I).

Nos termos do art. 1º/1, este Regulamento é aplicável às obrigações alimentares


decorrentes das relações de família, de parentesco, de casamento ou de afinidade.

As regras para determinação da competência internacional em matéria de


obrigações alimentares nos Estados-membros constam, fundamentalmente, dos arts. 3º
a 7º e 14º do Regulamento.

Regulamento (UE) nº 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de


Julho de 2012

O Regulamento (UE) nº 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de


Julho de 2012 (Bruxelas IV), dispõe sobre a competência, lei aplicável, reconhecimento e
execução das decisões, e aceitação e execução dos atos autênticos em matéria de
sucessões e sobre a criação de um Certificado Sucessório Europeu.

O Regulamento aplica-se à generalidade das questões cíveis relacionadas com a


sucessão por morte e, como critério geral, atribui competência para decidir do conjunto
da sucessão aos órgãos jurisdicionais do Estado-membro em que o falecido tinha a sua
residência habitual no momento do óbito (art. 4º).

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Este regulamento não é aplicável ao Reino Unido, à Irlanda e à Dinamarca.

Regras de competência internacional do Direito Interno

Perante um conflito plurilocalizado, primeiro vamos ver se se aplicam as normas


constantes dos regulamentos, nomeadamente do Regulamento 1215/2012, e só se não
se aplicarem (nomeadamente por o Réu não ter domicílio em nenhum EM ou por não ser
um caso de nenhum dos arts. a que o art. 6º/1 deste diploma faz referência), é que vamos
às regras internas. Deste modo cumpre-se o primado do Direito da UE face ao direito
interno- art. 8º CRP.

Os critérios de atribuição de competência internacional aos tribunais portugueses


estabelecidos na lei interna constam dos arts. 62º, 63º e 94º do CPC.

→ Critério da Coincidência, art. 62º/ a), para que os tribunais portugueses


disponham de competência para a ação, bastará que, de acordo com as regras de
competência territorial estabelecidas na lei interna, a ação possa ser proposta
num tribunal português, art. 62º/ a). As regras da lei portuguesa que fixam a
competência em razão do território permitem, assim, também atribuir
competência internacional aos tribunais nacionais.
→ Critério da Causalidade, art. 62º/ b), a ação poderá ser intentada em Portugal se
tiver sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir à
ação, ou algum dos factos que a integram.
→ Critério da Necessidade, art. 62º/ c)- imaginemos que as partes se encontram
numa zona de guerra em que instaurar a ação é impossível naquele país. Quando
o direito invocado não possa tornar-se efetivo, senão por meio de ação interposta
em Portugal, sendo as razões justificadas pelas partes, os tribunais competentes
aceitam desde que o direito seja tutelável na ordem jurídica portuguesa.
→ Critério da Exclusividade, no art. 63º enumera-se um conjunto de matérias
relativamente às quais os tribunais portugueses são exclusivamente
competentes, em termos tais que não são, sequer, reconhecidos em Portugal
decisões que sobre essas matérias sejam proferidas por tribunais estrangeiros,
art. 980º, al. c). Aqui se incluem as ações em matéria de direitos reais sobre
imóveis e de arrendamento de imóveis situados em território português (alínea
a)), em matéria de validade da constituição ou de dissolução de sociedades ou de
outras pessoas coletivas que tenham a sua sede em Portugal, bem como em
matéria de validade das decisões dos seus órgãos (alínea b)), em matéria de
validade de inscrição em registos públicos conservados em Portugal (alínea c)),
em matérias de execuções sobre imóveis situados em território português (alínea
d)) e em matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em
Portugal ou de pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em

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território português (alínea e)). Note-se que o art. 63º tem de ser lido em
conjugação com o art. 24º do Regulamento (UE) nº 1215/2012. Assim, as regras
do art. 63º que determinam a competência exclusiva dos tribunais portugueses
só terão aplicação nos casos que não forem subsumíveis à norma do art. 24º do
referido Regulamento. NOTA: não irá ter aplicação na frequência

A atribuição de competência aos tribunais portugueses basta-se com a verificação


dos pressupostos de algum destes critérios.

Art. 94º- critério da vontade das partes- Competência internacional convencional:


pactos atributivos e pactos privativos de jurisdição:

Tal como acontece no Regulamento (UE) nº 1215/2012, também o CPC permite,


em determinados termos, que as partes acordem sobre a matéria da competência
internacional dos tribunais portugueses, seja atribuindo-lhes competência, seja
afastando a competência que lhes está reconhecida. Trata desta matéria o art. 94º CPC.

Chamam-se pactos atributivos de jurisdição aqueles acordos pelos quais as partes


conferem competência aos tribunais portugueses; quando, ao invés, as partes retiram
aos tribunais portugueses aa competência que lhes é, em geral, reconhecida pela lei,
atribuindo-a em exclusivo a tribunais estrangeiros, fala-se em pactos privativos de
jurisdição. A lei contempla igualmente a hipótese de a convenção de escolha de um foro
estrangeiro não excluir a competência dos tribunais portugueses (competência
convencional alternativa), mas estabelece a presunção de que, em caso de dúvida, a
atribuição de competência aos tribunais aos tribunais estrangeiros se deve entender
como exclusiva (arts. 94º/2 CPC, que está em linha com o estabelecido no art. 25º/1 do
Regulamento (UE) nº 1215/2012.

Os requisitos de validade da convenção sobre a escolha da jurisdição competente


são bastante exigentes e estão estabelecidos no art. 94º/3 CPC:

a) Dizer respeito a um litígio sobre direitos disponíveis;


b) Ser aceite pela lei do tribunal designado (este requisito pode presumir-se);
c) Ser justificada por um interesse sério de ambas as partes ou de uma delas, desde
que não envolva inconveniente grave para a outra;
d) Não recair sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais portugueses;
e) Resultar de acordo escrito ou confirmado por escrito, devendo nele fazer-se
menção expressa da jurisdição competente.

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Competência interna

Sequência

As regras sobre a competência dos tribunais judiciais constam fundamentalmente


do CPC e de leis próprias destinadas a regular a organização judiciária.

Na ordem jurídica interna, a jurisdição reparte-se pelos vários tribunais por apelo
à conjugação de certos critérios, entre os quais o da matéria que a ação versa, o do valor
da causa, o da hierarquia judiciária, o do território e o da forma do processo. O CPC, no
art. 60º/2, considera relevantes os 4 primeiros critérios referidos.

Iremos seguidamente analisar as regras de repartição e atribuição de


competência à luz dos vários critérios enunciados. Para o efeito, tomaremos em
consideração as regras que constam do CPC e dos diplomas que contêm o regime da
organização judiciária, que são a Lei de Organização do Sistema Judiciário (Lei nº
62/2013- LOSJ), com as alterações introduzidas pela Lei nº 40-A/2016, de 22 de
dezembro, o Regime de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, aprovado
pelo DL nº 49/2014, de 27 de março (ROFTJ).

Competência em razão da matéria

A estrutura e organização dos tribunais judiciais é especialmente regulada no


Título V da LOSJ, nos seus arts. 31º e ss.

A competência dos tribunais judiciais em razão da matéria é residual, ou seja, têm


competência para todas as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional
(tribunais administrativos e fiscais, Tribunal de contas etc, conforme previsto no art.
209º/1 CRP) (art. 40º/1 da LOSJ). No mesmo sentido, afirma o art. 80º/1, que compete
aos tribunais de comarca preparar e julgar os processos relativos a causas não abrangidas
pela competência de outros tribunais.

No quadro dos tribunais judiciais, os tribunais superiores (Relações e STJ) são


tribunais de competência genérica (ou seja, com competência para julgar quaisquer
causas que sejam da esfera de competência dos tribunais judiciais, sem especialização
em razão da matéria), sem prejuízo de a sua organização interna prever a existência de
secções especializadas (arts. 32º/3, 47º/1 e 67º/3 da LOSJ). No entanto, o STJ conhece,
em princípio, apenas de matéria de direito (art. 46º LOSJ).

No que se refere aos tribunais de 1º instâncias, apesar de a lei afirmar que estes
são, em regra, os tribunais de comarca (arts. 29º/3 e 79º), a verdade é que se prevê a
existência, a par destes, de tribunais de competência territorial alargada com
competência especializada em razão da matéria (art. 33º/1). Temos, assim, em 1º
instância:

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a) Tribunais de comarca

Os tribunais de comarca são tribunais de competência genérica (abrangendo


quaisquer causas não atribuídas por lei a outro tribunal, nos termos do art. 80º/1 da
LOSJ); desdobram-se em juízos que podem ser de competência genérica, de competência
especializada e de proximidade e que se designam pela competência e pelo nome do
município em que estão instalados (art. 81º, nºs 1 e 2 LOSJ).

No que se refere aos juízos de competência genérica, as suas competências estão


previstas no art. 130º da LOSJ. Trata-se de juízos de competência residual, sendo
competentes para preparar e julgar os processos não atribuídos a outros juízos ou a
tribunal de competência territorial alargada e são ainda competentes para os processos
referidos no nº2 do art. 130º da LOSJ.

Quanto aos juízos de competência especializada, a lei prevê que possam ser
criados os seguintes (art. 81º/3 LOSJ):

i. Central cível;
ii. Local Cível;
iii. Central criminal;
iv. Local criminal;
v. Local de pequena criminalidade;
vi. Instrução criminal;
vii. Família e menores;
viii. Trabalho;
ix. Comércio;
x. Execução.

Prevê-se ainda que, sempre que o volume processual o justifique, possam ser
criados juízos de competência especializada mista, e que se proceda à agregação de
juízos (art. 81º, nºs 4 e 6 da LOSJ).

A competência dos vários juízos de competência especializada em que se pode


desdobrar o tribunal de comarca está especificada nos arts. 117º e ss. da LOSJ e é
determinada em função da matéria, devendo assinalar-se que, não obstante a lei
qualificar o juízo local cível como juízo de competência especializada, a repartição de
competências entre este e o juízo central cível é feita não só em função do objeto da ação
(ou seja, da matéria que esta versa), mas também em função do respetivo valor.

Na verdade, os juízos centrais cíveis são competentes para preparar e julgar as


ações declarativas cíveis de processo comum com valor superior a 50 000 euros, para
exercer, no âmbito das ações executivas de valor superior a 50 000 euros, as
competências previstas no CPC, em circunscrições não abrangidas pela competência de

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juízo ou tribunal, e para preparar e julgar os procedimentos cautelares a que
correspondam ações da sua competência, sendo ainda competentes, nas comarcas onde
não haja juízos de comércio, para as ações que correspondam aos requisitos acabados
de referir e que caibam a esses juízos (art. 117º, nºs 1 e 2 da LOSJ).

Os juízos locais cíveis, cujas competências estão definidas no art. 130º da LOSJ,
são competentes para preparar e julgar os processos não atribuídos a outros juízos ou a
tribunal de competência territorial alargada (têm, por isso, uma competência residual em
matéria cível): são ainda competentes para, em matéria cível:

- exercer, no âmbito do processo de execução, as competências previstas no CPC,


onde não houver juízo de execução ou outro juízo ou tribunal de competência
especializada competente (art. 130º/2/c) da LOSJ);

- Cumprir os mandatos, cartas, ofícios e comunicações que lhes sejam dirigidos


pelos tribunais ou autoridades competentes (art. 130º/2/e) da LOSJ);

- Exercer as demais competências conferidas por lei (art. 130º/2/f) da LOSJ).

Quanto aos demais juízos de competência especializada em matéria cível, a


competência dos juízos de família e menores está definida nos arts. 122º a 124º, a dos
juízos do trabalho no art. 126º, a dos juízos de comércio no art. 128º e a dos juízos de
execução no art. 129º, todos da LOSJ.

Prevê-se também, como se referiu, a existência de juízos de proximidade, aos


quais incumbe, em matéria cível, nomeadamente, assegurar a realização de audiências
de julgamento ou outras diligências processuais cuja realização seja aí determinada pelo
juiz competente (o quadro completo das competências destes juízos está previsto nos
nºs 5 e 6 do art. 130º LOSJ). Estes juízos de proximidade têm competências muito
limitadas e não se confundem nem com os juízos de competência especializada, sendo
meros desdobramentos funcionais destes.

b) Tribunais de competência territorial alargada

Os tribunais de competência territorial alargada são tribunais de competência


especializada, pelo que conhecem de matérias determinadas, independentemente da
forma de processo aplicável, e têm competência para mais do que uma comarca ou sobre
áreas geográficas especialmente referidas na lei (art. 65º CPC e art. 83º da LOSJ). São
tribunais de competência territorial alargada, nomeadamente, os seguintes, cujas
competências próprias estão especificadas nos arts. 111º e ss. da LOSJ:

a. Tribunal da propriedade industrial;


b. Tribunal da concorrência, regulação e supervisão;
c. Tribunal marítimo; Tribunal de execução de penas;

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d. Tribunal central de instrução criminal.

Assinale-se que a concreta configuração da rede dos tribunais de 1º instância


instalados no território nacional não tem nada de natural ou necessário, mas antes
depende de concretas opções políticas em matéria de organização judiciária,
eventualmente tomadas em função da maior ou menos movimento processual ao longo
do território nacional, que estão atualmente espelhadas na ROFTJ e no DL nº 86/2016.

Quanto aos tribunais de competência territorial alargada, o nº5 do art. 83º da


LOSJ ressalva que as necessidades de especialização, volume, complexidade processual e
natureza o serviço poderão justificar a criação de outros tribunais para além dos referidos
no nº3 desse mesmo artigo.

EX. A pretende propor contra B uma ação destinada ao exercício de direitos de


autor: em razão da matéria, a ação será da competência do Tribunal da Propriedade
Intelectual.

C pretende propor contra a sociedade comercial D uma ação de anulação da


deliberação de aprovação das contas anuais da referida sociedade, tomada em
assembleia geral: em razão da matéria, a ação será da competência do juízo de comércio
do tribunal de comarca, se nele existir tal juízo.

Competência em razão do valor

No que respeita à distribuição da competência em razão do valor da ação, a


distinção que importa estabelecer é, em 1º instância, entre as competências próprias do
juízo central cível e do juízo local cível do tribunal de comarca, a qual se encontra
estabelecida na LOSJ, como esta prevê no seu art. 41º. A este respeito, assinale-se que o
art. 66º CPC, ao distinguir entre as causas que, pelo seu valor, se inserem na competência
da instância central e da instância local, faz apelo a uma terminologia que estava de
acordo com a organização judiciária emergente da versão original da LOSJ, devendo hoje
essa distinção ler-se como referida aos juízos central e local.

A competência do juízo local cível (e. do juízo de competência genérica), como


vimos, é residual, abrangendo a preparação e julgamento de todos os processos relativos
a causas não atribuídas a algum dos demais juízos ou a tribunal de competência territorial
alargada (art. 130º/1 LOSJ).

A competência do juízo central cível é que é delimitada em razão do valor da


causa, uma vez que, como se referiu já, apenas lhe cabe a preparação e julgamento das
ações declarativas cíveis de processo comum de valor superior a 50000 euros (bem como

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exercer, no âmbito das ações executivas de valor superior a 50000 euros, as
competências previstas no CPC, em circunstâncias não abrangidas pela competência de
outra secção ou tribunal, e preparar e julgar os procedimentos cautelares a que
correspondam ações da sua competência), conforme resulta do art. 117º/1 da LOSJ.

EX. uma ação declarativa de resolução de um contrato, de processo comum, com


o valor de 100.000 euros, é da competência do juízo central cível; já se o seu valor for de
20.000 euros, a ação será antes da competência do juízo local cível. Em rigor, e apesar de
a lei não o referir no art. 60º/2 CPC, o critério da competência em razão da forma do
processo continua a relevar, uma vez que a competência do juízo central cível é também
recortada em função de tal critério- recorde-se que o juízo central cível é somente
competente para as causas de valor superior a 50.000 euros que sigam o processo
comum, ao passo que, para as ações de processo especial, é competente o juízo local
cível, independentemente desse valor.

Competência em razão da hierarquia judiciária

Do ponto de vista da hierarquia judiciária, a competência encontra-se distribuída


entre os tribunais de 1º instância, os tribunais da Relação e o STJ, segundo os critérios
definidos nos arts. 67º a 69º do CPC e no art. 42º da LOSJ. A regra geral, em matéria cível,
é a que de que os tribunais superiores apenas conhecem dos recursos, e os tribunais de
1º instância são competentes para conhecer de todas as ações, independentemente do
respetivo valor, objeto ou forma de processo.

Prevê também a lei, com caráter excecional, que determinadas ações sejam
diretamente propostas nos tribunais superiores (os arts. 68º/1 e 69º/1 CPC).
Presentemente, essas ações são apenas as que forem propostas contra juízes de direito
e juízes militares de 1º instância, procuradores da República e procuradores-adjuntos,
por causa das suas funções, que são da competência dos tribunais da Relação (art. 73º/b)
da LOSJ)) e as que forem propostas contra juízes do STJ e dos Tribunais da Relação e
magistrados do Ministério Público que exerçam funções junto desses tribunais, ou
equiparados, por causa das suas funções (art. 55º/c) da LOSJ)), que são da competência
do STJ; finalmente, merecem menção as ações especiais de revisão de sentenças
estrangeiras, previstas nos arts. 978º e ss. do CPC, que são da competência dos tribunais
da Relação.

Ou seja, há uma fixação no sentido de não permitir que todos os processos


caminhem até ao STJ. Haverá processos que devido ao valor da causa podem caminhar
para o STJ, mas a regra geral não é essa: é que todos os processos entram na 1º instância,
mas só alguns são passíveis de recurso, pelo valor das alçadas. Se temos um processo,
valor da causa de 6000 euros, pode subir da 1º instância para o tribunal da relação, mas

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já não pode subir do tribunal da relação para o STJ. E outros com valor da causa inferior
a 5000 euros nem sequer podem subir para o tribunal da relação.

Valor das alçadas dos tribunais judiciais: art. 44º LOSJ.

Competência em razão do território

Em função do território, a competência de cada tribunal resulta da conjugação de


duas referências: a circunscrição territorial correspondente ao tribunal e o fator de
conexão considerado decisivo atenta a natureza da ação.

No que respeita aos fatores que determinam, em cada caso, qual é o tribunal
territorialmente competente, é no CPC que os encontramos. É este que exerce, para cada
ação, a conexão relevante para efeitos de localização do litígio na esfera de competência
de determinado tribunal. Assim, por exemplo, o critério decisivo para a determinação da
competência territorial do tribunal para uma ação de indemnização fundada em
responsabilidade civil será distinto do que relevará numa ação destinada à declaração de
nulidade de um contrato.

Os referidos critérios de atribuição da competência em razão do território


constam dos arts. 70º e ss. do CPC. Vejamos alguns desses critérios/ elementos de
conexão:

a) Foro do réu: a regra “geral” (prof. diz que é melhor chamar subsidiária) indica que
o tribunal do domicílio do réu (art. 80º/1). Sempre que não haja disposição
especial, o tribunal competente será aquele em cuja circunscrição o réu tenha o
seu domicílio à data da propositura da ação (sendo irrelevante que o réu venha a
alterar o seu domicílio posteriormente). A regra do art. 80º vale para o réu que
seja uma pessoa singular. Na determinação do domicílio (residência habitual, ou
domicílio voluntário geral, domicílio profissional, eletivo ou legal), bem como na
solução de conflitos que a esse respeito possam respeitar, valem as regras dos
arts. 82º e ss. do CC. Nos nºs 2 e 3 do art. 80º estabelecem-se soluções especiais
para os réus domiciliados ou habitualmente residentes no estrangeiro e para réus
sem residência habitual, incertos ou ausentes. Quando o réu for uma pessoa
coletiva, será demandando no tribunal da desse da administração principal ou na
sede da sucursal, agência, filial, delegação ou representação, conforme a ação
seja dirigida contra aquela ou contra estas (art. 81º/2). Estas regras “gerais” são
aplicáveis, designadamente, para a determinação da competência no contexto de
ações em que se pretenda a anulação ou a declaração de nulidade dos contratos,
a restituição do que foi prestado por contrato nulo ou anulado, em ações de
prestação de contas, a reivindicação de móveis, em ações de investigação de
paternidade etc. Atente-se que, quando o réu for o Estado, se não existir uma
disposição especial, a ação deve ser proposta no tribunal do domicílio do autor

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(art. 81º/1 CPC). Sublinhe-se, porém, que as regras destes arts. 80º e 81º são de
aplicação meramente supletiva, ou seja, apenas se aplicam nos casos em que não
se encontrem especificamente contemplados pelas regras dos arts. 70º a 79º.
b) Foro real ou da situação dos bens (art. 70º): as ações relativas a direitos reais ou
pessoais de gozo sobre imóveis (entre as quais as ações de reivindicação de
imóveis do art. 1311º CC), as ações de divisão da coisa comum, de despejo, de
preferência e de execução específica sobre imóveis, e ainda as de reforço,
substituição. Redução ou expurgação de hipotecas (com a ressalva estabelecida
no nº2 do mesmo preceito) devem ser propostas no tribunal onde estejam
situados os bens que são delas objeto.
c) Foro obrigacional (art. 71º/1): a ação destinada a exigir o cumprimento de
obrigações ou a indemnização pelo não cumprimento ou cumprimento
defeituoso e a resolução do contrato por falta de cumprimento deve ser proposta
no tribunal do domicílio do réu quando este seja pessoa singular, a menos que o
réu e o autor estejam ambos domiciliados na mesma área metropolitana (de
Lisboa ou do Porto), caso em que o autor poderá escolher entre o tribunal do
domicílio do réu ou o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida (por
efeito de escolha das partes ou do funcionamento das regras legais); quando o
réu seja uma pessoa coletiva, o autor poderá sempre optar entre o tribunal do
domicílio do réu e o do lugar do cumprimento; havendo pluralidade de réus e
sendo um deles pessoa singular, parece que deverá a ação ser proposta no
tribunal do domicílio deste último, em homenagem à regra da primeira parte do
preceito e à ratio de proteção que lhe subjaz;
d) Foro do lugar em que o facto ilícito ocorreu (art. 71º/2): nas ações destinadas a
pedir a condenação do réu em indemnização com fundamento em
responsabilidade civil extracontratual (por facto ilícito ou pelo risco), é
competente o tribunal onde o facto ocorreu;
e) Foro do autor (art. 72º): as ações de divórcio e de separação de pessoas e bens
devem ser intentadas no tribunal do domicílio ou da residência do autor;
f) Foro competente para a ação principal (art. 78º/1/c): em matéria de
procedimentos cautelares, quando estes sejam requeridos antes de intentada a
ação principal, a regra geral é a da competência do tribunal onde deva ser
proposta a ação respetiva; existem, porém, regras especiais para o arresto, o
arrolamento e o embargo de obra nova (nº1, a) e b)). Quando é proposta a ação
principal, o processo cautelar é apensado a esta, o que pode implicar a remessa
para outro tribunal (nº2);
g) Em matéria de ação executiva, vejam-se as soluções especiais constantes dos arts.
85º a 90º CPC.

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No âmbito da competência territorial, devem ainda ter-se em conta as regras dos
nºs 1 a 3 do art. 82º do CPC, destinadas a solucionar problemas decorrentes da
pluralidade de réus, quando o critério aplicável for o do domicílio do réu (devem ser todos
demandados no tribunal do domicílio do maior número; se for igual o nº nos diferentes
domicílios, pode o autor escolher o de qualquer deles), e da cumulação de pedidos para
que sejam competentes tribunais diferentes (o autor poderá, salvas as hipóteses
especialmente previstas na lei, escolher qualquer deles para a propositura da ação).

EX. A sociedade comercial A, com sede e estabelecimento comercial em Lisboa,


pretende propor contra B, residente no Porto, uma ação destinada a obter a condenação
deste no cumprimento de obrigações emergentes de um contrato: a ação deve ser
proposta no tribunal da comarca do Porto (tribunal do domícilio do réu)- art. 71º/1 CPC.

C, residente em Matosinhos, vítima de um acidente de viação que considera ter


sido causado por D, domiciliado em Santarém, acidente esse ocorrido em Coimbra,
pretende propor contra E, seguradora de F, com sede em Lisboa, uma ação de
indemnização: a ação deve ser intentada no tribunal da comarca de Santarém (tribunal
do lugar onde o acidente ocorreu) - art. 71º/2 CPC.

O Prof. regente fala-nos, a propósito dos elementos de conexão, de:

→ Critérios de justiça e de razoabilidade- critério que pode ser identificado


designadamente na leitura do art. 72º e talvez (discutível) o 80º;
→ Critérios de comodidade: art. 70º

Extensão da competência

Por força do disposto nos artigos 91.º e 93.º do CPC, o tribunal competente para
a ação tem também competência para conhecer dos incidentes que nela se levantem e
das questões (nomeadamente de caráter excecional) que o réu suscite como meio de
defesa, bem como das questões deduzidas por via de reconvenção.

Esta competência tem, porém, limites que importa conhecer:

→ Quanto às questões incidentais e às questões suscitadas pelo réu na sua defesa,


a decisão que sobre elas venha a ser proferida não faz caso julgado material, a
menos que alguma das partes requeira o julgamento com essa amplitude e o
tribunal seja competente do ponto de vista internacional e em razão da matéria
e da hierarquia (91.º/2);
→ Quanto às questões deduzidas a título de reconvenção, a competência do tribunal
para delas conhecer supõe que o tribunal seja competente do ponto de vista
internacional, em razão da matéria, da hierarquia e do valor (93.º/1/2).

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Competência convencional

Tal como vimos relativamente à competência internacional (art. 94º), também no


que respeita à competência interna a lei permite que as partes convencionem sobre o
tribunal competente para a ação, embora em termos muito limitados. O art. 95º do CPC
autoriza apenas que as partes, por acordo, afastem as regras de competência em razão
do território (mas já não as da competência em razão da matéria, da hierarquia e do valor
do processo), e mesmo aí com exceção dos numerosos casos a que se refere o art. 104º.
No importante domínio das ações destinadas a exigir o cumprimento de obrigações ou a
indemnização pelo não cumprimento ou cumprimento defeituoso e a resolução do
contrato por falta de cumprimento, a conjugação das normas dos arts. 95º e 104º/1/a)
(na qual se autoriza o conhecimento oficioso da incompetência territorial em relação às
causas da primeira parte do nº1 do art. 71º) conduz a que a escolha pelas partes do
tribunal territorialmente competente deva ser respeitada quando o réu seja pessoa
coletiva ou quando, situando-se o domicílio do credor na área metropolitana do Porto ou
de Lisboa, o réu tenha domicílio na mesma área metropolitana.

Para ser válida a convenção sobre a competência do tribunal deve satisfazer os


requisitos de forma do contrato que é fonte da obrigação, contando que seja reduzida a
escrito, e deve designar as questões a que se refere (ainda que por mera especificação
do facto suscetível de as originar) bem como o critério de determinação do tribunal que
fica sendo competente (art. 95º, nºs 2 e 4).

Ex. As sociedades comerciais A e B, a primeira com sede em Barcelos, celebraram


um contrato no qual estipularam que para conhecer de quaisquer litígios relativos à
interpretação e execução desse mesmo contrato seria competente o Tribunal da comarca
do Porto; pretendendo B propor uma ação contra A, com base no alegado incumprimento
de obrigações emergentes daquele contrato, que deveriam ter sido cumpridas em
Barcelos, a ação deve ser proposta no Tribunal da comarca do Porto.

Violação das regras de competência: incompetência absoluta e incompetência relativa

Modalidades de incompetência

Quando a ação é proposta num tribunal que não é competente, seja do ponto de
vista internacional dos tribunais portugueses seja do ponto de vista da competência
interna, ocorre um vício de incompetência, que constitui uma exceção dilatória (art.
577º/a) do CPC).

A nossa lei distingue 2 modalidades de incompetência.

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→ Incompetência absoluta: associada a consequências mais drásticas, que decorre
da violação das regras de competência internacional e das regras de competência
em razão da matéria e da hierarquia e ainda da preterição de tribunal arbitral;
→ Incompetência relativa: associada a consequências menos gravosas, que decorre
da infração de regras da competência em razão do valor da causa e do território
ou da violação do estipulado em acordos sobre a competência interna (arts. 96º
e 102º CPC).

Regime da incompetência absoluta

a) Quem pode suscitá-la: pode ser arguida por qualquer das partes (até mesmo pelo
autor, que a ela deu causa ao propor a ação no tribunal, exceto se decorrer da
violação do pacto privativo de jurisdição ou de preterição de tribunal arbitral
voluntário (art. 97º/1);
b) Até quando pode ser arguida ou oficiosamente conhecida: em qualquer estado
do processo, enquanto não houver sentença transitada em julgado proferida
sobre o fundo da causa; porém, a incompetência só pode ser conhecida
oficiosamente ou ser arguida até ao despacho saneador ou, não havendo lugar a
ele, até ao início da audiência final (art. 97º, nºs 1 e 2), se se tratar apenas da
violação de regras de competência em razão da matéria que somente respeitem
aos tribunais judiciais (ex. é proposta num tribunal de comarca uma ação que é
da competência do tribunal da propriedade intelectual). Se o vício for arguido
antes de proferido o despacho saneador, deve conhecer-se imediatamente da
incompetência ou reservar-se a apreciação para esse despacho; se só depois for
invocado, deve ser logo apreciada e decidida a questão (art. 98º);
c) Consequências da incompetência absoluta: atenta a gravidade do vício, a lei
associa-lhe o efeito de absolvição do réu da instância ou o indeferimento limiar,
quando haja lugar a despacho desta natureza (art. 99º/1). Se assim for, não se
aproveitam, em regra, os atos já praticados na ação. Porém, se a incompetência
só for decretada depois de findos os articulados, poderão tais atos ser
aproveitados se o autor requerer a remessa do processo ao tribunal em que a
ação deveria ter sido proposta e o réu não oferecer oposição justificada (art.
99º/2); esta exceção não se aplica nos casos de violação do pacto privativo de
jurisdição ou de preterição do tribunal arbitral voluntário (art. 99/3), em que não
faria sentido esta remessa do processo para outra jurisdição nacional ou para a
jurisdição arbitral;
d) Valor da decisão sobre incompetência absoluta: a decisão de absolvição do réu
da instância por o tribunal ser absolutamente incompetente, uma vez transitada
em julgado, tem apenas valor de caso julgado formal, com eficácia restringida ao
processo em que foi proferida (art. 100º). Pode acontecer assim que, sendo
proposta nova ação no tribunal considerado competente nos termos daquela

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decisão, este último venha também a julgar-se incompetente, provocando então
um conflito negativo de competência.

Regime da incompetência relativa

a) Quem pode suscitá-la: pode ser arguida apenas pelo réu, mas já não pelo autor
(art. 103º/1); o tribunal pode conhecer oficiosamente da incompetência relativa
nas hipóteses previstas no art. 104º (são sempre de conhecimento oficioso as
situações de incompetência em razão do valor da causa, e são também de
conhecimento oficioso numerosas hipóteses de incompetência por violação das
regras de competência territorial);
b) Até quando pode ser arguida ou oficiosamente conhecida: pode ser arguida pelo
réu no prazo da contestação (art. 103º/1); quando a incompetência for de
conhecimento oficioso, a questão deve ser suscitada e decidida até ao despacho
saneador ou, se a este não houver lugar, até à prolação do primeiro despacho
subsequente ao termo dos articulados.
c) Consequências da incompetência relativa: um sinal claro da menor gravidade que
a lei associa às situações de incompetência relativa está no facto de a procedência
desta exceção dilatória implicar apenas a remessa do processo para o tribunal
competente, com integral aproveitamento dos atos já praticados (art. 15º/3);
d) Valor da decisão sobre incompetência relativa: a decisão sobre a incompetência,
uma vez transitada em julgado, resolve definitivamente a questão (art. 105º/2),
pelo que, se a exceção for julgada procedente e o processo remetido para outro
tribunal, este fica vinculado por aquela decisão e não pode recusar a competência
que lhe foi reconhecida pelo primeiro tribunal (o que bem se compreende, atento
o facto de o processo se manter o mesmo).

Preterição do tribunal arbitral necessário

Embora a lei não a enquadre expressamente nas situações de incompetência


absoluta ou relativa, deve também entender-se ser geradora de incompetência do
tribunal a preterição do tribunal arbitral necessário (arts. 1082º e ss. do CPC). Isso mesmo
resulta, nomeadamente, do disposto no art. 5º/1 da LAV, para a qual remete o art. 1085º
CPC.

Aula prática- incompetência (a nível internacional). EX. O que acontece quando a


ação foi proposta em Portugal, mas o tribunal português não é competente?

Vamos supor que o regulamento 1215/2012 se aplica.

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Regulamento aplica-se- art. 24º ou 25º, trabalho consumo ou seguros- arts. 10 a
23º, ou regra geral do art. 4º ou regras especiais do art. 7º- concluímos que não eram
competentes tribunais portugueses

Ação vem parar a Portugal, autor finge que não sabe e propõe mal a ação

Quando descobrimos que a ação foi proposta em Portugal quando não podia ter
sido

3 perguntas a responder:

➔ Identificar o tipo de competência- incompetência em razão da nacionalidade;


➔ Saber se ela é ou não de conhecimento oficioso. É se a lei permitir que o juiz se
se aperceber que é incompetente possa declarar-se incompetente ainda que
nenhuma das partes tenha suscitado isso no processo; não oficioso- juiz deve
ignorar. Este 2º ponto é muito importante nos casos- se prof. perguntar- imagine
que a ação foi proposta em Portugal, o que acha que o juiz deve fazer? A resposta
varia consoante seja ou não de conhecimento oficioso; e se o réu alegou ou não
a incompetência. Se for de conhecimento oficioso, é indiferente se o réu
contestou e indicou a incompetência; se não for de conhecimento oficioso temos
de ir ver o que o réu contestou.
➔ Se se verificar uma incompetência de que o juiz pode conhecer- ou oficiosamente
ou se for alegada pelo réu- se isso acontecer, o que o juiz a seguir deve fazer?
• ou absolvição do réu da instância: porque falta um pressuposto processual
que impede que o juiz conheça do mérito da causa;
• Remeter o processo para o tribunal competente. Se virmos uma
incompetência no geral, juiz agarra no processo e envia para outro
tribunal a dizer eu não sou competente, mas tu é que és e esse tribunal
conhece do mérito da causa

Focando-nos no 2º momento: Saber se a incompetência é ou não de


conhecimento oficioso

- Art. 26º, 27º e 28º do Reg. 1215/2012

Art. 27º- se concluirmos que é um caso do art. 24º, e que a ação foi proposta num
tribunal diferente do art. 24º, isso é grave logo conhecimento oficioso. Isto ainda que o
réu não tenha dito nada (o réu não responde ao processo- revelia- não apresenta
contestação; ou o réu dizer muita coisa, mas nenhuma delas é sobre a incompetência).

Art. 28º

Requisitos de aplicação:

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➔ Tribunal onde o autor propõe ação ser incompetente por violação de outra regra,
mas não pelo 24º (se não estaríamos no âmbito do art. 27º);
➔ Que o réu não compareça em juízo. Isto significa o quê? Depende do país
o Em Portugal, não comparecer significa não apresentar contestação, ficar
em revelia.

Se o autor propuser ação num tribunal incompetente que não pelo 24º e o réu
não apresentar contestação, o juiz português considera-se incompetente.

O regulamento faz depender ser de conhecimento oficioso ou não, do


comportamento do réu.

Nesse caso, juiz intervém e diz que é incompetente e ele declara-se oficiosamente
incompetente.

Resta-nos 2 situações para as quais não temos ainda solução:

o Situação em que o réu contesta e diz que o tribunal é incompetente- se o


próprio réu diz que o tribunal é incompetente, o juiz deve conhecer da
incompetência- mas não é de conhecimento oficioso pois foi o próprio réu
que alegou- não vem prevista no regulamento porque é evidente. Sempre
que o réu alega, tem de se conhecer da incompetência;
o O que acontece quando o tribunal é incompetente sem ser pelo 24º, réu
contesta, mas na contestação não diz que o tribunal é incompetente?

solução no art. 26º

Requisitos de aplicação do art. 26º:

➔ Tribunal incompetente sem ser pelo 24º se não temos de ir para o 27º;
➔ Tribunal contestou, mas não alegou a incompetência

Solução: Art. 26º diz-nos que o tribunal fica competente

É competente ou não ser de conhecimento oficioso é a mesma coisa

Torna-se competente porque vai conhecer do mérito da causa pois tem de ignorar
a incompetência por não ser de conhecimento oficioso. A inércia do réu em alegar a
incompetência, vai tornar o Tribunal competente, porque não pode conhecer
oficiosamente.

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Este artigo consagra o chamado pacto tácito de jurisdição- porque o tribunal
torna-se competente assim:

O autor inteligente vai ao regulamento, vê a regra e diz deve propor essa ação nos
tribunais espanhóis, mas ele prefere portugueses e propõe nos tribunais portugueses
quando as normas do art. 4º a 25º não indicavam isso. Depois o réu recebe em casa a
carta a citá-lo e pensa- tenho interesse em participar na ação e contesta. Na contestação
não diz estar contra que sejam os tribunais competentes portugueses a julgar a ação.
Assim temos tacitamente autor e réu a concordarem.

Em que momento demonstram a sua concordância?

o Autor- no momento de propor a ação;


o Réu- no momento em que contesta e não diz que tribunais portugueses não são
competentes

Legislador do regulamento diz que só consegue retirar concordância tácita com o


julgamento da ação em Portugal se o réu lá aparecer. Se o réu contesta e não alega-
alguém se dirige a tribunal incompetente e não diz nada é porque concorda.

--

Art. 26º- não tem exigência de forma

Art. 25º mais exigente pois em momento distante do início do litígio; art. 26º- no
momento do litígio.

3º pergunta- se o juiz tiver de se declarar incompetente, qual a consequência?


absolver o réu da instância- CPC art. 99º/1. Neste cas temos de ir ao CPC pois o legislador
comunitário só diz declarar incompetente, mas não diz o que fazer.

Pressupostos relativos às partes

Personalidade judiciária

O art. 11º CPC define a personalidade judiciária como a suscetibilidade de ser


parte, acrescentando que essa característica é reconhecida a todos aqueles que tenham
personalidade jurídica. Assim, por este critério de equiparação entre a personalidade
jurídica e a personalidade judiciária, terão personalidade judiciária as pessoas singulares
(art. 66º/1 CC), as pessoas coletivas de Direito Privado (as referidas no art. 158º CC, as
sociedades comerciais e civis sob a forma comercial após o seu registo definitivo, nos
termos do art. 5º do CSC) ou de Direito Público.

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A lei processual civil estende o conceito de personalidade judiciária a certas
entidades desprovidas de personalidade jurídica, de acordo com um critério de
separação patrimonial. Assim, o art. 12º reconhece personalidade judiciária à herança
jacente e aos patrimónios autónomos semelhantes cujo titular não esteja determinado,
às associações sem personalidade jurídica e comissões especiais, às sociedades civis, às
sociedades irregulares cujo contrato ainda não esteja definitivamente registado, ao
condomínio (quanto às ações contidas no âmbito dos poderes do administrador) e aos
próprios navios, sob certas condições. Essa extensão é feita também relativamente a
sucursais, agências, filiais, delegações ou representações de pessoas jurídicas, atendendo
a um critério de imputação do facto: quando a ação proceda de facto praticado por
aquelas (art. 13º/1); ou quando, tendo o facto sido praticado pela pessoa jurídica
estrangeira, estiver em causa uma obrigação contraída com um português ou com
estrangeiro domiciliado em Portugal (art. 13º/2).

Como sublinha LEBRE DE FREITAS, a personalidade judiciária “não constitui


apenas um pressuposto processual geral, a verificar, quanto ao autor, à data da
propositura da ação e, quanto ao réu, à data da citação (…). É também pressuposto de
cada ato processual que deva ser praticado pela parte ou perante ela”. Por esse motivo,
quando a personalidade judiciária se extingue no decurso da lide (ex. por falecimento de
uma das partes), a instância deve suspender-se (art. 269º/1/a) CPC)), ficando
automaticamente feridos de nulidade todos os atos praticados entre a data da extinção
e a da suspensão (art. 270º/3).

Facilmente se compreende que a falta deste pressuposto processual é, em


princípio, insanável. Com exceção dos casos previstos nos arts. 12º a 14º CPC, a
inexistência de personalidade jurídica de qualquer entidade impede a sua constituição
como parte. Tratar-se-á de uma exceção dilatória, de conhecimento oficioso, que gera a
absolvição do réu da instância, impedindo que o tribunal conheça do mérito da causa
(arts. 278º/1/c), 577º/c) e 578º CPC)).

Capacidade judiciária

A capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de estar, por si, em juízo (art.


15º/1 CPC). A capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício
de direitos no âmbito do direito civil (art. 15º/2 CPC). Tal significa que carecem de
capacidade judiciária as pessoas que não têm capacidade de exercício; e que têm a sua
capacidade judiciária limitada as pessoas cuja capacidade de exercício se encontre
limitada e na medida dessa limitação. Os incapazes só poderão estar em juízo por
intermédio dos seus representantes legais ou autorizados pelo curador, conforme for o
caso (art. 16º CPC).

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Face ao exposto, não têm capacidade judiciária: os menores (arts. 123º e 124º
CC), fora dos casos previstos no art. 127º do CC, que são representados por quem exerce
as responsabilidades parentais, em princípio, pelos seus pais (arts. 16º, nºs 2 e 3 e 18º do
CPC); e os maiores acompanhados (art. 138º CC), que são representados pelo tutor (arts.
16º, nºs 2 e 3 e 18º CPC). Estes têm uma capacidade jurídica limitada, correspondente à
sua capacidade de exercício: podem estar por si mesmos em juízo na medida da sua
capacidade de exercício e, fora desse âmbito, necessitam da intervenção do
acompanhante, cuja orientação prevalece em caso de divergência (art. 19º/2 CPC).

A lei prevê ainda a designação de representantes especiais para as pessoas que-


apesar de não estarem sujeitas ao regime do acompanhamento- se encontrem de facto
incapacitadas de receber a citação, por exemplo, por demência ou incapacidade
temporária, cabendo ao tribunal nomear-lhes um “curador ad litem” (arts. 20º e 234º
CPC).

A Lei nº 49/2018 cria o regime jurídico do maior acompanhado, eliminando os


institutos da interdição e da inabilitação, e alterou os arts. 16º, 19º, 20º, 27º do CPC.

Nos termos da nova redação do art. 19º (capacidade judiciária dos maiores
acompanhados), os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação
podem intervir em todas as ações em que sejam partes e devem ser citadas quando
tiverem a posição de réus, sob penas de se verificar a nulidade correspondente à falta de
citação, ainda que tenha sido citado o acompanhante (nº1). A intervenção do maior
acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização fica subordinada à orientação do
acompanhante, que prevalece em caso de divergência (nº2).

A falta deste pressuposto processual é sanável nos termos do art. 27º a 29º CPC.
Logo que o juiz se aperceba da incapacidade judiciária tem o poder-dever de,
oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pelo seu suprimento (arts. 6º e 28º CPC-
relaciona-se com o princípio da gestão processual). A incapacidade judiciária é suprível
através da representação (responsabilidades parentais ou tutela) ou da autorização
(curatela) (art. 16º CPC). Assim, se a incapacidade judiciária respeitar ao autor, o juiz
ordenará a notificação do seu representante legal (ou do seu curador), que pode ratificar
o processado ou renová-lo (regularizando a instância); se este nada fizer, o juiz absolverá
o réu da instância; se a incapacidade respeitar ao réu, o juiz ordenará a citação do
representante legal (ou do seu curador), que pode ratificar o processado ou renová-lo
(regularizando a instância); se este nada dizer, a ação prosseguirá, cabendo ao Ministério
Público a defesa do incapaz, conforme determina o art. 21º/1 CPC)..

A lei processual prevê ainda a representação judiciária pelo Ministério Público de


pessoas juridicamente capazes: do ausente (arts. 21º a 23º); de incertos (art. 22º); do
Estado (art. 24º).

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As pessoas coletivas e as sociedades são representadas em juízo por quem a lei,
os estatutos ou o contrato social designarem (art. 25º CPC), e as entidades com mera
personalidade judiciária pelos administradores, ou pelas pessoas que ajam como
diretores, gerentes ou administradores (art. 26º CPC). A irregularidade da representação
é suprível mediante a intervenção do representante legítimo. Logo que o juiz se aperceba
de tal irregularidade tem o poder-dever de, oficiosamente e a todo o tempo, providenciar
pelo seu cumprimento (art. 6º e 28º CPC).

A legitimidade

Primeiramente, e de forma a melhor enquadrar o prolema aqui em causa,


vejamos o problema pela negativa:
O que torna uma parte ilegítima?
Há 2 maneiras de distinguirmos ilegitimidades/ 2 formas de concluirmos que uma
parte (autor ou réu) é ilegítima:

➔ Quando uma parte não tem legitimidade singular: olhamos para o art. 30º CPC,
que tem os requisitos da legitimidade singular- uma parte é legítima se tiver
interesse. Art. 30º/3- tem interesse quem é sujeito da relação controvertida. Se
percebermos que uma parte não é sujeito da relação material controvertida não
tem legitimidade. Se o problema entre as partes foi um contrato que não foi
cumprido, se a relação de fundo é um contrato, os sujeitos da relação
controvertida são as partes no contrato. Se houver uma situação de
responsabilidade civil extracontratual em que há 2 agressores e 1 agredido- os
sujeitos da relação controvertida são os 2 lesantes e o lesado. Quando estamos
perante uma situação obrigacional, é fácil localizar o sujeito da relação material
controvertida, pois serão sempre os credores e devedores- contrato, resp, civil,
gestão de negócios, ESC. São os únicos que têm interesse na ação nos termos do
art. 30º/3. Uma pessoa que não tem nada que ver com a ação. Nos direitos reais
já é mais difícil pois há o titular e o resto do mundo- oponível erga omnes. Se
estamos a falar de uma situação controvertida, já há alguém que se está a
comportar de maneira que desrespeita o direito real- o titular do direito real e
aqueles que desafiam.
A lei exige que quem propõe a ação seja sujeito da relação controvertidas, os
terceiros não podem. Como não tem interesse na ação, não tem legitimidade.
NOTAS:
- a falta de legitimidade singular é insanável pois não consigo fazer com que a
pessoa fora da ação ou fora da relação que já existe, passe a fazer desta. É a
realidade dos factos. Exceção dilatória, conduz sempre à absolvição do réu da
instância;

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➔ Quando há uma situação de preterição litisconsórcio necessário: (este problema
só se coloca quando há pluralidade de partes- legitimidade plural)
- preterir: não cumprir/ desconsiderar/ não ter em conta.
O autor quando propõe a ação não respeita o litisconsórcio necessário
- Litisconsórcio- vários autores ou vários réus. Litisconsórcios ativo- mais do que
um autor; litisconsórcio passivo- mais do que um réu;
- litisconcórcio necessário: quando se impõe ao autor que proponha a ação
acompanhado de mais autores ou contra vários réus. Se tu propões a ação
sozinho em vez de propores com o zé, parte ilegítima. Se propões contra o Zé, e
não contra Zé e António- vai ser parte ilegítima. Se me é imposto que proponha a
ação em conjunto com alguém e proponho sozinha- eu sou parte ilegítima porque
n estou acompanhada. Os que estão na ação é que estão mal.
Imposição do autor de propositura da ação com mais autores ou contra mais de
um réu, sob pena de ilegitimidade
Litisconsórcio necessário não são regra.
Se a relação material controvertida tem mais do que uma pessoa, têm de estar
todas- MENTIRA
A regra do processo civil é o princípio do dispositivo- as partes fazem o que
querem- o autor propõe a ação com quem quer e contra quem quer. O autor
escolhe quem é parte no processo. Em regra, os litisconsórcios são voluntários,
depende da sua vontade, se não o fizer não há nenhuma ilegitimidade.
Só podemos dizer que o autor tem mesmo de propor a ação com mais alguém ou
contra mais de uma pessoa quando há imposição de litisconsórcio necessário-
quando vem da lei. Nesse caso, dizemos que estamos perante um litisconsórcio
necessário legal. Também pode acontecer que as partes celebrem um contrato e
no próprio contrato haja uma cláusula sobre isso- pode decorrer do próprio
contrato entre as partes- Litisconsórcio necessário convencional. Também há
litisconsórcio necessário natural. Ao contrário do que sucede com a ilegitimidade
singular, que é insanável, artº278, nº1 d), a ilegitimidade plural é sanável através
do incidente da intervenção principal, espontânea ou provocada, nos termos dos
art 311 e 316, nº1. Uma vez requerida essa intervenção, se o chamado intervir,
depois de citado, fica sanada a ilegitimidade, artº320 CPC. Contudo, se essa
intervenção não for requerida, o réu será absolvido da instância.

Critérios legais de determinação da legitimidade


O pressuposto da legitimidade diz respeito à relação das partes com a concreta
pretensão deduzida.

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Ser parte legitima é ter uma relação direta com o objeto do litígio. De acordo com
o nº1 do artº30 do CPC, o autor é parte legítima quando tem interesse direto em
demandar, e o réu é parte legítima quando tem interesse direto em contradizer. Tal
interesse, deve ser direto, e não meramente reflexo ou derivado, e exprime-se pela
utilidade ou pelo prejuízo que advenha da procedência da ação, artº 30, nº2 do CPC. Para
que o juiz se possa prenunciar sobre o mérito da causa, é necessário saber quais devem
ser as partes: é preciso saber se a parte identificada como autor é aquela que pode fazer
valer juridicamente a pretensão; e se a parte identificada como réu é aquele contra quem
tal pretensão pode deduzir-se. Faltando esse interesse direito, haverá uma ilegitimidade
que, se não for sanada, conduzirá à absolvição da instância, artº278, nº1 d) do CPC. O nº3
do artigo consagra um critério supletivo acerca da determinação dos titulares do
interesse relevante para efeitos de apuramento da legitimidade.

Analise do artº30, nº3:” Na falta de indicação legal em contrário, são considerados


titulares do interesse relevante para o feito da legitimidade os sujeitos da relação
controvertida tal como é configurada pelo autor”: defesa da teoria subjetivista que
considera que se deveria atender, unicamente, à forma como o autor havia configurado
a lide, independentemente da realidade objetiva. A parte final da norma do nº3 do artº30
corresponde a um critério supletivo correspondente à conceção subjetivista.

Por outras palavras a relação material que interessa para aferição da legitimidade
é aquela que o autor descreveu na petição inicial e não a que venha a apurar-se na própria
causa. Estamos assim perante um conceito “virtual” da legitimidade: o que interessa é
que na história que o autor narra na petição inicial, as partes desempenham o” papel” de
titulares da relação material controvertida, ainda que porventura no decorrer do
processo se venha apurar que o não são.

Para apuramento da legitimidade, o juiz ficciona que a relação controvertida


existe e que existe tal como foi narrada pelo autor na petição inicial. Por isso, mesmo que
não se venha a demonstrar a existência da relação material controvertida e a sua
titularidade pelas partes identificadas, tal não implicará a absolvição da instância com
fundamento em ilegitimidade processual, mas sim o correspondente julgamento de
mérito de acordo com a relação material que for efetivamente comprovada- Nestes casos
fala-se de ilegitimidade substantiva ou material, que não obsta ao desenvolvimento da
lide, devendo antes conduzir à improcedência do pedido (absolvição do réu do pedido,
já não da instância)

Ex. Imagine-se, por exemplo, que o cliente de uma sociedade comercial vem a
juízo demandar um outro cliente desta, reclamando o pagamento do preço de uma
mercadoria fornecida pela sociedade e que este último lhe ficou a dever. Neste caso,
haverá ilegitimidade processual do autor. Embora a pessoa que figura na ação como
autor não é titular da relação contratual em que se funda a pretensão: a relação
contratual consistiu-se entre a sociedade comercial (credora do preço) e o seu cliente

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(devedor do preço); ainda que, porventura, a falta de pagamento dessa divida possa
afetar a solvabilidade da sociedade e, reflexamente, reduzir as hipóteses de o credor ver
satisfeito o seu crédito. Hipótese diferente será aquela em que, sendo o cliente credor
da sociedade, a sua pretensão, no exemplo referido, tenha como fundamento os
pressupostos em que a lei admite a ação sub-rogatória: a lei permite que o credor exerça
os direitos de conteúdo patrimonial que competem ao devedor, porque tal exercício é
essencial à satisfação do seu crédito. Nesta hipótese, estará em causa uma situação de
substituição processual.

O pressuposto processual da legitimidade deve, portanto, ser aferido em


concreto. Isto significa que o réu (ou o autor) pode ser parte ilegítima na ação concreta
que foi proposta, apesar de ter personalidade e capacidade judiciária para quaisquer
ações. Neste entendimento, José Alberto dos Reis, referia que a legitimidade não é uma
qualidade pessoal “sendo essencialmente uma questão de posição das partes em relação
á lide”.

Assim, verifica-se a legitimidade singular com base no art. 30º e nos critérios aí
mencionados.

Substituição Processual = Legitimidade Indireta

Situações em que alguém que não é sujeito da relação controvertida passa a ter
legitimidade mas porque está no processo em lugar do sujeito ideal, em substituição
deste - tem sempre de ser por lei - a lei tem de o permitir Ex: Insolvência - deixa de poder
administrar - passa a ser feito pelo administrador da insolvência - administrador de
insolvência passa a ser parte legítima - a lei diz que tem de estar no processo em
substituição do réu original - os efeitos da decisão vão-se repercutir na esfera do autor e
não do administrador da insolvência; ação sub-rogatória.

Há substituições processuais voluntárias: apenas quando a lei deixa- a lei ou


impõe ou deixa que a parte escolha - mas mesmo a substituição voluntária tem de ser
determinada pela lei

EX. art. 34º/1 CPC- “ou por um, com consentimento do outro”- substituição
processual voluntária.

Não há substituição processual sem previsão legal

Art 30º/2 Divergência Doutrinária:

MTS- Tem em relação a este artigo uma posição diferente da do resto da doutrina,
como o Professor Lebre de Freitas

Defende que este art. não tem nada que ver com legitimidade - encontra-se
deslocado Deveria ser um artigo autónomo, está mal enquadrado. Na verdade, este

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artigo diz respeito ao interesse processual - que é outro pressuposto processual Não está
em mais nenhum artigo na lei Assim, quando falamos de legitimidade devemos só referir
o nº 1 e 3 do artigo 30º.

Pluralidade de partes

A pluralidade poder ser ativa ou passiva, consoante se verifica do lado dos autores
ou existe da banda dos réus. E pode também ser mista quando a ação é instaurada por
vários autores contra vários réus.

A pluralidade das partes pode ser inicial, quando acontece no momento em que
é proposta a ação, ou pode formar-se em momento posterior, como sucederá no caso
de intervenção de terceiros, espontânea (art. 311 e ss) ou provocada (art. 316 e ss).

Quanto à sua natureza, a pluralidade de partes pode dar origem ao litisconsórcio


ou à coligação. No litisconsórcio há uma pluralidade de partes, mas unicidade quanto à
relação material controvertida. Na coligação existe não só pluralidade de partes, mas
também diversidade de relações materiais controvertidas.

Litisconsórcio

Caso em que nos questionemos se há alguém que deveria estar presente na ação,
mas não está:

➔ Se for necessário tem de ser acompanhado pela outra parte;


➔ Se for voluntário pode ser intentada a ação só por um.

Como é que sabemos se é voluntário ou necessário?

Só sabemos que é voluntário porque não é necessário

Ou há um artigo na lei que diga diretamente que é voluntário, ou, caso contrário,
temos de ir por exclusão de partes

Se não for:

➔ Necessário legal;
➔ Necessário Convencional;
➔ Necessário Natural

Então é Voluntário

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Litisconsórcio necessário

Sempre que exista uma situação em que é obrigatório haver 2 autores ou 2 réus
- pluralidade de partes - litisconsórcio necessário

Se faltar alguém os que estão na ação são parte ilegítima

Sempre que esse litisconsórcio necessário é preterido, a parte que está na ação e
que devia estar acompanhada, mas não o está naquele caso - é parte ilegítima

Para haver legitimidade eles têm de lá estar os dois - caso contrário há


ilegitimidade

Fácil de sanar - chama-se a outra pessoa - é uma ilegitimidade sempre sanável


através do fenómeno: intervenção de terceiros

Exemplos de litisconsórcio necessário:

➔ 419º/1- Pluralidade de titulares num pacto de preferência - exercício do direito


de preferência + ação de preferência tem de ser proposta pelo preferente contra
o alienante e o adquirente;
➔ 535º - Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores;
➔ 2091º - Direitos relativos à herança;
➔ Adjetivação do regime substantivo das relações patrimoniais dos cônjuges;
➔ 608º - Substituição processual imprópria - lei exige que também esteja no
processo o substituído
➔ 1822º/2 - Ação de investigação de maternidade
➔ 1846º/1 - Ação de investigação de paternidade

O Litisconsórcio Necessário é sanável:

1. Através da intervenção espontânea de terceiro (311º);


2. Através da intervenção de terceiro provocada (316º/1 e 318º/1/a)

Litisconsórcio necessário legal

Normalmente não aparecem na lei processual. Normalmente decorrem da lei


material, a lei que dá os direitos e deveres. EX. CC, código do trabalho, código comercial.
Isto porque está aqui em causa o princípio essencial do processo civil que é o princípio
da instrumentalidade- o processo civil sozinho não ajuda ninguém, dá-nos tramitações e
regras de procedimento. Só serve para dar efetividade a outras normas, substantivas
materiais. Eu da lei material retiro que tenho direito e depois uso o direito processual civil
para o efetivar.

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Daqui decorre que: não posso conseguir através do processo produzir um efeito
que nunca conseguiria produzir fora do processo. O processo não cria novas
possibilidades, apenas dá exequibilidade ao direito material.

EX. comproprietário - exercem em conjunto todos os direitos - litisconsórcio


necessário legal - se têm de ser exercidos assim fora do processo também têm de o ser
feito assim dentro do processo

Ver exemplos dados no CC anotado do prof Lebre de Freitas - art 33º - temos de
conhecer os exemplos clássicos

ANÁLISE DO CASO PARTICULAR DO ART. 34º CPC- Ações que têm de ser propostas
por ambos ou contra ambos os cônjuges- Litisconsórcio necessário legal conjugal

Este é um litisconsórcio especial pelo facto de a lei exigir, em certas circunstâncias,


a presença do cônjuge que não faz parte da relação jurídica controvertida, apenas se
questiona se ele tem ou não de estar na ação pelo facto de ser casado com um dos
sujeitos da relação jurídica.

Neste sentido, caso o cônjuge não necessite de estar na ação não existe
litisconsórcio necessário, mas também não há litisconsórcio voluntário (porque o cônjuge
não é sujeito da relação jurídica controvertida). Vejamos os casos em que existe
litisconsórcio legal conjugal.

Art.34º/1- aplica-se ao lado ativo (quando um dos autores é casado). Existem três
motivos para termos um litisconsórcio necessário:

• Ações que implicam a perda de um bem que só por um pode ser alienado. Têm
de estar preenchidos dois requisitos:
o Ação implicar perda do bem- aplica-se a todos os direitos de propriedade
em que, caso proponha a ação, posso vir a perder o bem. Exemplo: peço
o reconhecimento do direito de propriedade, existe o risco de perder a
propriedade que pensava que tinha, logo o requisito está cumprido.
o Bem só poder ser alienado por ambos- ver as regras aplicáveis no CC,
art.1682º e 1683º.
• Ações que implicam a perda de um direito. Tem também dois requisitos:
o Ação implicar a perda de um direito- a mesma lógica que o anterior, mas
aplicada a todos os direitos que não a propriedade.
o Direitos que têm de ser exercidos por ambos- não existem muitas situações
em que os direitos têm de ser exercidos por ambos.
• Ações em que está em casa a morada de família- direta e indiretamente, se os
cônjuges vivem lá têm de estar os dois na ação.

Art.34º/3- aplica-se ao lado passivo (quando o réu é casado). Existem cinco situações em
que tem de existir litisconsórcio necessário:

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• As três situações enumeradas no art.34º/1.
• Ações emergentes de facto praticado por ambos os cônjuges- quando ambos os
cônjuges (marido e mulher) são sujeitos da relação controvertida, o que quer que
fizeram, fizeram juntos, logo têm de estar os dois na ação.
• Ações emergentes de facto praticado por um deles, mas em que pretenda obter-
se decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro- temos dois
requisitos que têm de ser cumpridos:
o Facto ser praticado apenas por um cônjuge- mas a dívida é da
responsabilidade de ambos os cônjuges por força do art.1691º
o Quando da sentença pode resultar a execução dos bens próprios do outro-
podem ser executados os bens comuns e os bens próprios de cada
cônjuge, art.1695º (quando estão casados em comunhão de bens
adquiridos). Caso estejam casados em separação de bens, apenas
respondem os bens próprios do devedor (e já não do outro cônjuge),
art.1696º, logo já não se aplica este artigo ***

*** Discussão doutrinária sobre o art.34º/3, 2º parte:

• MTS- temos uma dívida, a lei diz quais os bens que respondem, sendo alguns bens
próprios do outro cônjuge que não está na relação controvertida, preenche-se o
art.34º/3 2º parte, logo existe um litisconsórcio necessário legal conjugal passivo.
• LF- o artigo na 2º parte utiliza a expressão pretende, parece deixar a vontade nas
mãos do autor, este pode escolher entre propor a ação contra ambos os cônjuges,
ou apenas contra o cônjuge devedor. Assim estaríamos perante um litisconsórcio
voluntário. Contudo, caso o credor prepusesse a ação apenas pode executar os
bens próprios do conjugue que demandou, apenas se puser a ação contra ambos
é que poderá executar os bens próprios e comuns de ambos os cônjuges.
• Resposta MTS- art.1695º/1 CC é uma norma imperativa, diz que bens respondem
pela dívida, não que bens o credor pode executar. Temos aqui uma lógica de
proteção do conjugue que contraiu a dívida, porque primeiro respondem os bens
comuns (protege os bens próprios do devedor). O art.1695º/1 CC não é uma
norma para proteger os credores, mas o cônjuge que assumir a responsabilidade
de responder por uma dívida que contribui para o bem comum da família (não
faria sentido, perante esta, executar primeiro os bens próprios do devedor e só
depois os bens comuns).
• Resposta Lebre Freitas- discorda, diz que 1695º/1 CC é uma norma disponível e
que o credor pode decidir que bens quer executar. Como reage à lógica de
proteção de devedor? Diz que este está sempre protegido, porque se quiser que
respondem primeiro os bens comuns e depois os próprios, o devedor pode
chamar à ação o outro cônjuge, para ver concretizado o direito dos bens comuns
serem executados primeiro, art.316º.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 74


Litisconsórcio necessário convencional

Essas cláusulas normalmente não existem

Aparecem nos contratos como cláusulas que dizem como é que os direitos devem
ser exercidos - se o exercício fora do processo tem de ser contra todos em conjunto
dentro do processo há um litisconsórcio necessário convencional

MTS - Se as partes só dizem como é que os direitos devem ser exercidos em


processo convencionalmente significa que estão a dar ao exercício processual um regime
diferente do regime extra processual - violação do princípio da instrumentalidade

A regra tem de dizer respeito a como os direitos são exercidos dentro e fora do
processo

São nulas por contrariedade à lei e violação do princípio da instrumentalidade


Ainda que tenham sido as partes a decidir assim, por convenção entre elas - se não for
verificado o paralelo entre a a convenção processual e extra-processual - existe
ilegitimidade.

Litisconsórcio necessário natural

Previsto nos arts. 33º, nº 2 e 3 CPC- será necessário natural sempre que a
presença de todos os interessados na ação seja necessário para a sentença produzir o
seu efeito útil normal.

Quando precisa de se saber se existe?

➔ Se formos autores- no momento de propositura da ação. O autor pode não querer


propor a ação contra todos, ou por relações comerciais, ou de amizade. Há
situações em que decidimos não exercer os nossos direitos, mas assegurar certas
situações. Posso escolher, se possível, deixar alguém de fora. Será que posso
deixar este de fora?
➔ OU quando o réu está a ler a petição inicial e vai ter de se defender se possível
invocando uma exceção dilatória.

Isto pode colocar-se mesmo antes de ser proposta uma ação.

Como sabemos se estamos perante um litisconsórcio necessário natural?

Só se descobre fazendo a pergunta: o que é que acontece se algum destes sujeitos


não estiver na ação? Se concluirmos que o que acontece é inadmissível então têm de
estar todos- LNN.

Como é que se faz este juízo?

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 75


Tenho de imaginar que apenas estão na ação alguns deles e que o juiz decide essa
ação.

No futuro, aquele que esteve de fora da ação é parte numa nova ação em que o
pedido é o mesmo.

Aquilo que temos de ver é se esta circunstância causa algum problema em termos
de coexistência na ordem jurídica de 2 decisões incompatíveis.

Se descobrirmos isso, então, podemos concluir que a primeira decisão é inútil


porque apareceu uma a seguir que a contradiz ou potencialmente a contradiz. Há um
litisconsórcio necessário natural sempre que uma ação não possa produzir o seu efeito
útil normal - tornar-se definitiva.

A ação de divisão de coisa comum é o melhor exemplo para perceber esta


questão:

Filipa, Mafalda e João têm um terreno

F farta-se e quer a divisão de coisa comum e propõe a ação só contra a Mafalda e


diz que o terreno é dos 3, quer que o tribunal o divida pelos 3 mas a única pessoa que
demanda é a Mafalda

Se concluirmos que esta decisão tem alguma utilidade não há LNN se não há LNN

O Juiz divide em 3 o terreno

Só a F e a M é que estiverem na ação

O João, mais tarde, decide que não quer mais ter a coisa em propriedade comum

Propõe a ação - mesmo pedido

Mas a sentença na altura não era oponível ao João - ele não está abrangido pelo
caso julgado uma vez que não foi parte no processo

F e M não podem chegar ao João e dizer-lhe que a parte dele é X

Se o J propuser a ação contra elas nenhuma vai poder dizer nada contra isso O
juiz vai voltar a dividir o terreno

A primeira ação não teve qualquer efeito útil

Era um litisconsórcio necessário natural

O critério não é a decisão tomada pelo juiz ser a mesma ou ser contraditória. Em
termos de compatibilidade, as decisões não podem é chocar. Não estamos obcecados
com a coerência do sistema, o que releva é o resultado final.

Outro exemplo típico são: as ações que têm em vista a nulidade do contrato
quando o motivo da nulidade afeta o contrato inteiro e todas as partes Ex: falta de forma

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 76


PASSOS DO RACÍCINIO:

➔ 1º: imaginar que a ação é proposta sem todos os interessados estarem na ação.
Deixar sujeitos da relação controvertida de fora- 1 fica de fora, de entre 3 sujeitos
da relação controvertida;
➔ 2º (hipotético): pensar que realmente a ação avança como se não houvesse
nenhum problema de legitimidade e que o juiz profere sentença- o que
acontecerá?

NOTA: Se eu deixei uma ação terminar com um interessado de fora, a partir deste
momento estou sempre perante o risco de poder aparecer uma segunda ação- porque o
resultado da 1º não é oponível ao que ficou de fora). Se aparecer uma segunda ação com
o que ficou de fora, não podemos dizer que esse tema já foi decidido antes pois ele não
teve a oportunidade de se defender. A outra ação não lhe era oponível. Risco- a partir do
momento em que aceitamos que uma ação possa correr sem estarem todos os
interessados, risco de haver outra ação, em que é o próprio que ficou de fora a propô-la.

➔ 3º: IMAGINAR que se inicia uma 2º ação onde está o que ficou de fora, e imaginar
que esta ação chega ao final e também é decidida.
➔ 4º: para tudo correr mesmo mal, o juiz vai decidir no sentido contrário da 1º ação.

Vamos ter 2 sentenças contraditórias

- Não nos importamos se as sentenças forem apenas contraditórias na teoria mas for
possível executá-las a ambas na prática. So nos preocupamos se n der para as execitar
em simultâneo

Ação de divisão de coisa comum- 1º ação juiz divide terreno em 3; 2º ação- juiz divide
terreno em 3 de forma diferente. Isto é contraditório- tem de haver divisão única. É
possível em termos práticos ter 2 divisões possíveis do mesmo tereno? NÃO. A única
solução é impor logo no início que ação seja proposta contra todos.

Litisconsórcio voluntário

Art. 32º CPC.

Ou encontramos um artigo na lei que diga que possa ser exercido por uma ou
contra uma das partes, ou temos de chegar lá por exclusão de partes

Se a lei ou o negócio for omisso, a ação pode também ser proposta por um só ou
contra apenas um dos interessados - devendo o tribunal, neste caso, conhecer apenas da
respetiva quota parte do interesse ou da responsabilidade, ainda que o pedido abranja a
totalidade.

Diferença entre o litisconsórcio voluntário e o necessário convencional:

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 77


- Voluntário - situação em que um autor pode escolher propor a ação
acompanhado ou sozinho, contra dois réus ou apenas contra 1. Vários interessados, mas
não há nenhuma imposição que obrigue o autor a nada - pode fazê-lo ou não. O
convencional obriga-o - porque a convenção das partes obriga a ser exercido em conjunto
Nunca existe ilegitimidade no caso do litisconsórcio Voluntário.

Distinção dentro do litisconsórcio voluntário, no entender do Prof. MTS (nenhum


deles conduz à ilegitimidade):

 Comum: ex. se eu tenho 2 devedores e propuser a ação apenas contra 1


- título executivo só tem credor e um dos devedores, não tem o outro, e isso é
possível
- princípio do contraditório: podia chegar a uma sentença do processo em que
uma parte não se pode defender e depois vem exigir?
Vantagem de quantas mais pessoas tenho na ação, mais pessoas abrangidas pelos
efeitos da sentença, e menos coisas para chegar ao mesmo efeito.
O autor pode escolher ter todos os interessados ou não, mas se tiver todos os
interessados na ação, a situação fica resolvida de uma só vez- pode executar os
bens de todos, pedir o cumprimento a todos.
- ter mais pessoas na ação torna aquela decisão mais abrangente
 Conveniente: Temos de conseguir encontrar outra vantagem. Vamos encontrar
outra vantagem pratica. Ex. dívidas solidárias e dívidas conjunta. Divida conjunta-
proponho ação contra 1- consigo metade; se propuser contra 2- totalidade. Se
propuser contra as 2, o próprio valor que posso obter é superior. Proponho ação
contra os 2 não apenas por os efeitos da sentença serem mais abrangentes, mas
também para obter uma quantia superior. Isto na responsabilidade parciária ou
conjunta. Na responsabilidade solidária posso pedir logo tudo logo não tem tantas
vantagens- porque posso demandar apenas 1.

- Se não propuser contra os 2 não vou obter tudo, mas não há ilegitimidade
porque não é litisconsórcio necessário- é voluntário, vai é obter menos. Conveniente-
vantagem extra para além da abrangência da sentença

Se a dívida for solidária- não há litisconsórcio voluntário conveniente, apenas


comum; se a responsabilidade for parciária, há litisconsórcio voluntário conveniente.

Coligação

Diferentemente do litisconsórcio, em que existe uma pluralidade de partes e


unidade de pedidos, na coligação há uma pluralidade de partes e pluralidade de pedidos.

Na coligação verifica-se uma diversidade de partes e também de relações jurídicas


materiais em litígio. A cumulação justifica-se pela unicidade da fonte de onde promanam.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 78


Assenta numa pluralidade de partes e numa pluralidade de pedidos formulados por
vários autores ou contra vários réus. Por isso, se trata de uma faculdade e não de uma
imposição.

É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um


autor demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes quando a causa de
pedir seja a mesma e única ou quando os peidos entejam entre si numa relação de
prejudicialidade ou de dependência – art. 36/1.

Vários autores podem coligar-se contra um ou vários réus e o autor pode


demandar vários réus por pedidos diferentes nos seguintes casos:

→ Quando a causa de pedir que está na base dos diferentes pedidos formulados
seja a mesma e única.
→ Quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de
dependência.

A causa de pedir é o ato ou facto jurídico de onde emerge a pretensão deduzida


pelo autor – art. 581/4. A causa de pedir tem de ser a mesma e ser única.

É igualmente lícita a coligação quando, sendo embora diferente a causa de pedir,


a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos
mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de
clausulas de contratos perfeitamente análogas – art. 36/2.

Assim admite-se a coligação quando a procedência dos pedidos principais


dependa essencialmente:

→ Da apreciação dos mesmos factos;


→ Ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito;
→ Ou da interpretação e aplicação de clausulas de contratos perfeitamente
análogos.

Por último, é admitida a coligação quando os pedidos deduzidos contra os vários


réus se baseiam na invocação da obrigação cartular, quanto a uns, e da respetiva relação
subjacente, quanto a outros – art. 36/3.

Para que seja admitida a coligação torna-se necessário que não se verifique
nenhum dos obstáculos previstos no art, 37.

Modo de sanar a ilegitimidade

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 79


Só poderá falar-se de ilegitimidade nos casos, certamente muito raros, em que se
verificar divergência entre as pessoas identificadas pelo autor e as que realmente foram
chamadas a juízo, ou seja, quando estas pessoas não são os sujeitos da relação
controvertida delineada pelo autor.

A ilegitimidade constitui uma exceção dilatória, conforme resulta do disposto nos


arts. 576 e 577 al. e). Em consequência, por força do que dispõe do art. 278/1 al. d), o
juiz deve abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da instância.

A ilegitimidade plural verifica-se, como dissemos, no caso de litisconsórcio


necessário. Significa isto que a ilegitimidade é sanável mediante a intervenção,
espontânea ou provocada, da parte cuja falta gera esse vício – art. 261.

A intervenção é espontânea se o terceiro resolve intervir por sua iniciativa na


causa pendente, nos termos do art. 311 e ss.

Trata-se de intervenção provocada quando a intervenção de terceiro é requerida


por qualquer das partes da ação – art. 316 e ss.

A intervenção é admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho


que, conhecendo da ilegitimidade, pôs termo ao processo. Admitindo o chamamento da
pessoa em falta, a instância extinta considera-se renovada -art. 261/2.

A intervenção da parte cuja falta ocasiona a ilegitimidade pode ser requerida


antes ou depois do transito em julgado do despacho que pôs termo ao processo. Se for
requerida antes e a intervenção for admitida, a instância não chega a extinguir-se,
podendo dizer-se que reanima. Se a intervenção for requerida depois – nos 30 dias
posteriores ao transito em julgado do despacho que pôs termos ao processo – renova-se
a instância que tinha sido julgada extinta.

Pode sanar a falta deste pressuposto não só o autor como também o réu
reconvinte.

No litisconsórcio necessário entre os cônjuges, a ilegitimidade ativa é sanável pela


obtenção do consentimento do outro cônjuge. A falta de consentimento pode ser suprida
judicialmente, como já se disse, por meio de processo próprio regulado no art. 1000 –
art. 34/2.

A ilegitimidade passiva é sanável mediante a intervenção principal do outro


cônjuge, provocada pelo autor, dentro dos 30 dias posteriores ao trânsito em julgado do
despacho que determinou a absolvição da instância – art. 261/1 e 2 – ou a intervenção
provocada pelo cônjuge réu – art. 316/1.

Na pluralidade subsidiária passiva, o autor demanda determinando réu a título


principal e, invocando dúvida, devidamente fundamentada, sobre quem é o titular
passivo da relação material controvertida, deduz pedido subsidiário contra outro réu.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 80


Legitimidade para a tutela de interesses difusos

A CRP confere a todos os cidadãos, pessoalmente ou através de associações de


defesa dos interesses em causa, o direito de ação popular nos casos e termos previstos
na lei... nomeadamente o direito de promover a prevenção, a cessação ou a perseguição
judicial das infrações contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade
de vida e a preservação do ambiente e do património cultural, assim como assegurar a
defesa de bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais – art. 52/3 da
CRP.

O art. 31 atribui ao Ministério Público, às associações e fundações e até ao próprio


cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos legitimidade para propor e intervir nas
ações e procedimentos cautelares destinados à defesa dos vários interesses aí
mencionados.

Neste caso, a legitimidade assenta não em um interesse direto e pessoal em


demandar, mas no exercício do direito de ação popular consagrado na CRP e regulado na
lei nº 83/95, de 31 de agosto.

Estes interesses, cuja titularidade pertence a todos e a cada um dos membros de


uma comunidade ou de um grupo, mas que não são suscetíveis de apropriação por
qualquer desses membros, são designados por interesses difusos.

Os interesses difusos dizem respeito a pessoas não individualmente determinadas e, por


isso, por elas não apropriados ou subjetivados.

Conforme refere o art. ½ da lei 83/95, trata-se de interesses que dizem respeito,
nomeadamente, à saúde pública, ao ambiente, à qualidade de vida, à proteção do
consumo de bens e serviços, ao património cultural e ao domínio público.

A sua índole dificultaria a identificação de quem os poderia invocar em, portanto,


a legitimidade processual. Trata-se, por outro lado, de interesses derivados de múltiplos
danos de reduzindo valor pessoal, o que desmotivaria a propositura de uma ação por
parte de qualquer dos lesados, individualmente.

O art. 31 procura dar resposta a todas estas dificuldades.

Objetivamente, os interesses difusos, relativos a grupos de extensão


indeterminada, estruturam-se como um interesse supra individual pertencente a todos,
mas onde também há o interesse que cada individuo possui pelo facto de pertencer à
pluralidade de sujeitos a que se refere a norma que tutela esse interesse.

Qualquer daqueles indivíduos tem legitimidade para sustentar, em juízo, esse


interesse, se violado lhe advierem prejuízos.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 81


Também neste caso, a legitimidade resulta da utilidade que para a parte pode
advir da procedência ou improcedência da ação.

A ação popular civil pode revestir qualquer das formas previstas no CPC.

O art. 303/3 estabeleceu como valor para estas ações o correspondente ao do


dano invocado, mas como limite máximo do dobro da alçada do tribunal da relação.

Patrocínio Judiciário quando obrigatório

O patrocínio judiciário consiste na representação e assistência técnica proporcionadas às


partes por advogados, a fim de conduzirem o processo, de acordo comas regras legais

A exigência do patrocínio judiciário explica-se por diversas razões:

-Razões psicológicas ligadas à conveniência de manter algum distanciamento e


objetividade relativamente à matéria em discussão

-Razões de natureza técnica, como a necessidade do conhecimento do Direito


aplicável e das regras processuais, bem como da experiência profissional

No fundo, a exigência do patrocínio judiciário prende-se com direito à jurisdição


(acesso ao Direito e à Administração da Justiça.

O patrocínio judiciário só constitui exceção dilatória quando é imposto ao autor,


art.º 577, h), e só o é nos casos previstos no artº40, nº1:

a) Nas causas em que seja admissível recurso ordinário


b) Nas causas que admitem sempre recurso, art.º 629, nº2 e 3
c) Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores, artº 979

Nas causas em que o patrocínio judiciário não é obrigatório, as partes podem pleitear por
si ou serem representados por advogados- estagiários ou por solicitadores, artº42. Além
disso, os requerimentos em que não se levantem questões de Direito (ainda que
apresentados em causas sujeitas à obrigatoriedade de patrocínio judiciário) não tem de
ser subscritos por advogados, artº40, nº2.

O patrocínio deve ser exercido com isenção e independência técnica, estando sujeito à
tutela disciplinar exclusiva da Ordem dos Advogados, sem prejuízo da responsabilidade
profissional, nos termos gerais.

O mandato judicial pode constituir-se por qualquer das formas referidas no


artº43, podendo mesmo, em caso de urgência, ser exercido a título de gestão de
negócios, artº49. Pelo contrato de mandato, a parte pode atribuir ao mandatário apenas
poderes forenses gerais, artº44, nº1 e 2 e 45, nº1. Os poderes para transigir, confessar o
pedido ou desistir do pedido são poderes especiais que têm de ser expressamente
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 82
atribuídos, artº45, nº2. A nomeação de advogados poderá ser feita oficiosamente pela
Ordem dos Advogados, artº51, ou em caso de urgência pelo juiz, nos termos do disposto
para as nomeações urgentes em processo penal, artº51, nº3.

A falta de insuficiência ou irregularidade do patrocínio podem ser suscitadas pela


parte ou pelo tribunal a todo o tempo e são sanáveis, artº 48, nº1 e 2 e 41º. Porém, não
sendo sanada essa falta, haverá lugar à absolvição do réu da instância, quando a falta
respeite ao autor; se a falta respeitar ao réu, ou ao seu mandatário, ficara sem feito a
defesa, artº41. Nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, a renuncia
ao mandato por parte do mandatário do autor implica a suspensão da instância se este
não constituir um novo mandatário no prazo de 20 dias; já se a falta for do réu, o processo
segue os seus termos, aproveitando-se os atos anteriormente praticados; se a falta for
do requerente, oponente ou embargante em procedimento ou incidente inserido na
tramitação de qualquer ação, extingue-se o procedimento ou o incidente, artº47, nº3.

O interesse em agir

Noção
Embora a lei não lhe faça referência direta, o interesse processual constitui
também um dos pressupostos processuais relativamente às partes. A doutrina e a
jurisprudência maioritária exigem-no, para evitar a proposição de ações inúteis porque
referentes a pretensões que manifestamente não carecem de tutela judiciaria

Existe interesse processual quando se puder dizer que o autor tem necessidade
de instaurar e fazer seguir uma ação para a tutela do seu direito.

Para que se justifique a intervenção do tribunal, não basta que o autor alegue e
prove a titularidade do direito. Deve ainda convencer de que, na situação concreta, o seu
direito necessita da tutela judicial que solicita.

Pelo modo como temos vindo a referir-nos a este pressuposto processual, poderá
parecer que o interesse processual só diz respeito à parte que toma iniciativa de instaurar
a ação – o autor ou demandante. Porém, depois de proposta pode também o réu ou
demandado, ter interesse em que a ação prossiga. Por isso, a lei tutela os seus interesses,
fazendo depender a desistência da instância da aceitação do réu, se requerida depois de
ter sido oferecida contestação – art. 286/1.

A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresentar a


contestação. A partir daí, depende da aceitação do réu. Na verdade, o réu pode ter
interesse em que seja proferida decisão do mérito para ver resolvida, de uma vez por
todas, a questão que no processo é discutida.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 83


Por outro lado, a desistência do pedido é livre, como se compreende é vantajosa
para o réu. E, continuando a tomar em conta o interesse do réu, a lei determina que a
desistência do pedido não prejudica a reconvenção – art. 286/2.

A existência do pressuposto processual que ora nos ocupa não é encarada com
igual acuidade nas diversas espécies de ações.

Nas ações de condenação e nas ações executivas, a violação do direito do autor,


que está na sua origem, evidencia claramente a necessidade de pedir ao tribunal a
reintegração do direito violado. Quer dizer, o autor tem interesse em propor a ação.

Excecionalmente, a lei determina que, apesar de não ser exigível a obrigação no


momento em que a ação é proposta, o réu seja condenado a satisfazer a prestação no
momento próprio, nos termos do art. 610/1. Neste caso, teve-se e, vista o princípio da
economia processual, por forma a aproveitar a atividade processual desenvolvida até ao
momento de proferir a sentença. No entanto, atendendo à ausência de interesse
processual do autor, este será condenado nas custas e a satisfazer os honorários do
advogado do réu – art. 610/3.

Do mesmo lado, quando o réu tenha dado causa à ação e a não conteste, são as
custas pagas pelo autor, conforme dispõe o art. 535/1.

Nas ações constitutivas existe interesse processual quando o direito potestativo


correspondente não é daqueles que possa ser exercido por simples declaração de
vontade do respeito titular.

A questão da presença processual surge sobretudo no domínio da ação


declarativa de simples apreciação, para a qual os defensores do pressuposto exigem que
se verifique uma situação de incerteza ou de dúvida acerca da existência ou inexistência
de um direito ou de um facto.

Qual o grau de incerteza ou de dúvida que se deve exigir para que se possa dizer que o
autor tem interesse processual?

→ a dúvida tem de ser objetiva e não subjetiva. Tem de ser fundamentada em factos
concretos, não sendo suficiente que exista apenas na mente do autor. Por outro lado,
não basta que a ação tenha por objeto a discussão de uma questão de cariz meramente
académico.

Ex: faltará interesse processual ao autor que pretende propor uma ação com o fim de
negar a paternidade que lhe foi atribuída por uma pessoa, em tom jocoso. Esta atribuição,
por não ser séria, não tem qualquer gravidade.

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 84


A gravidade da dúvida depende do prejuízo (material ou moral) que a situação de
incerteza pode gerar.

Consequências da falta de interesse processual

A falta de qualquer pressuposto processual constitui exceção dilatória. Nos casos


em que a citação depende do prévio despacho judicial – art. 226/4 – se, da petição inicial,
resultar manifesta falta de interesse processual, o juiz deve indeferi-la liminarmente, em
vez de ordenar a citação.

Se a falta de pressuposto for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz


abster-se de conhecer do mérito da causa, absolvendo o réu da instância – art. 278 al. e).
A falta deste pressuposto é insanável.

Porém, como já se disse, quando no momento de proferir a sentença se verificar


que a obrigação ainda não é exigível, isso não obstará a que o juiz condene o devedor a
satisfazer a prestação no momento em que a obrigação se vença – art. 610. Nesse caso,
a única sanção pela falta de interesse processual traduzir-se-á na condenação do
vencedor no pagamento das custas e no dos honorários do advogado do réu, por se
entender que o réu não deu causa à ação – art. 610/3 conjugado com o art. 535.

Se a inutilidade da lide surgir, em momento posterior à propositura da ação, como


acontece, por ex, no caso de desaparecimento da coisa reivindicada, deve a instância ser
declarada extinta, nos termos do disposto no art. 277 al. e).

RITA LOBO XAVIER:

A falta de interesse processual constitui uma exceção dilatória (inominada) de


conhecimento oficioso, aliás em correspondência com as razões que subjazem à
imposição de um interesse sério para o recurso a juízo (art. 578 do CPC). A falta deste
pressuposto é insanável, devendo o juiz abster-se de conhecer do mérito da causa e
absolver o réu da instância (art. 278/1 al. e)).

Contudo, o réu nunca deve ser absolvido da instância por falta deste pressuposto
sem que o tribunal averigue se nesse momento lhe é possível concluir pela
improcedência da ação (art. 278/2 in fine).

Pode acontecer que, no decurso do processo, o interesse processual deixe de


estar presente, caso que determinará o não prosseguimento da lide pela sua inutilidade
superveniente. Esta inutilidade constitui uma das causas de extinção da instância (art.
277 al. e)).

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 85


Finalmente, caberá ainda salientar que, nas ações de condenação e no caso de o
juiz apenas se aperceber ou apurar a falta deste pressuposto no momento de proferir a
sentença, em obediência a um princípio de economia processual e de aproveitamento do
processo, de acordo com o art. 610.

Exemplo de falta de interesse processual:

→ A, credor de 10 prestações, que têm vindo a ser pagas pontualmente sem que o
devedor B ponha em causa a existência da divida, vem demandar este último,
pedindo a sua condenação no pagamento das restantes;
→ C vem pedir a declaração judicial da dissolução da união de facto com D,
desacompanhada de qualquer pretensão atinente a direitos cujo exercício a lei
faz depender de tal declaração, podendo a dissolução ocorrer por simples
vontade de um dos seus membros.

Em suma, o nosso ordenamento reconhece o direito de ação como concretização


do direito à jurisdição, pelo que a verificação deste pressuposto se faz em especial sentir
do lado do autor, e do réu reconvinte. Apesar de o direito de ação se bastar com a
afirmação, por parte do autor, da existência de uma situação jurídica, a exigência de
verificação deste pressuposto implica o reconhecimento também de que o conteúdo do
direito de ação não compreende o direito de obter uma tutela judicial quando esta não
é necessária ou útil. Assim, o interesse em agir constitui um limite imanente do direito à
jurisdição e do direito de ação, no sentido de que o direito a obter do tribunal o
reconhecimento de um direito depende se de mostrar necessária a proteção judicial.
Deste modo, a confirmação da desnecessidade de tutela judicial irá determinar a
verificação de uma exceção dilatória que conduzirá à absolvição da instância. Trata-se,
por isso, de um elemento a ter em consideração na interpretação e aplicação da norma
do artº2, nº2 do CPC. Se o conflito que o autor apresenta ao tribunal não envolver a
necessidade ou a utilidade da tutela judicial, o tribunal deverá obstar ao prosseguimento
da ação, absolvendo o reu da instância.

No entanto, o interesse processual tem igualmente relevância no que toca ao réu,


ou ao demandado. Dir-se-á que, quanto a este, o interesse em agir decorrerá do simples
facto de ter de se defender, uma vez que o autor exerceu o respetivo direito de ação
(ainda que este eventualmente não tenha necessidade de tutela judicial), e só desse
modo o reu/demandado poderá evitar as consequências (processuais e/ ou substantivas)
que para si advenham daquele exercício.

O apuramento da existência de interesse processual dependerá da espécie de


ação em causa, devendo ser aferido e, face do objeto definido pelo autor.

Nas ações declarativas de condenação e nas ações executivas, o interesse


processual resultará da afirmação de que um direito de que o autor é titular foi violado;

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nas ações declarativas constitutivas, o interesse processual decorrerá de se afirmar a
existência de um direito potestativo que deva ser exercido através de uma ação judicial.

Nas ações de simples apreciação é onde o interesse em agir do autor reveste


maior dificuldade. Estando nestas ações apenas em causa obter uma simples declaração
de existência ou inexistência de um direito ou de um facto, naturalmente que não é
qualquer estado de incerteza acerca dessa existência ou inexistência que reivindica a
necessidade de tutela ou proteção judicial. Daí que, como referem os diversos autores, o
interesse processual exija uma situação de incerteza objetivamente grave que justifique
a intervenção judicial. Finalmente, o interesse em agir nos procedimentos cautelares é
mais do que um mero pressuposto, constituindo uma condição de cuja verificação
depende o provimento da providencia requerida. Na verdade, nestes casos a providencia
só poderá ser decretada se for necessário acautelar o direito ou prevenir a sua lesão, seja,
se houver um fundado receio de lesão do direito face. Sem esta necessidade, a tutela
provisoria não pode ser deferida, dando lugar à improcedência do pedido.

O interesse processual não se confunde com a legitimidade processual: o autor


pode ser o titular da relação material controvertida, tendo, por isso, um interesse
potencial em demandar ou contradizer, e não ter, face às circunstâncias concretas da sua
situação, necessidade efetiva de recorrer à tutela jurisdicional.

-A pluralidade de partes

Por simplificação, temos vindo a supor a dualidade de partes na relação


processual, que se estabelece entre cada uma delas e o tribunal. No entanto, pode existir
uma pluralidade de partes, de autores ou/e de réus, desde o início ou no
desenvolvimento da ação. A pluralidade de partes pode revestir modalidades diferentes.
A lei processual distingue o litisconsórcio da coligação.

No litisconsórcio, o mesmo pedido é formulado por várias partes e/ ou contra várias


partes. A pluralidade de partes corresponde à pluralidade na continuidade na mesma
relação material controvertida. Na coligação, artº 26CPC, pedidos diferentes são
formulados por vários partes e/ou contra verias partes.

O litisconsórcio será ativo, passivo ou misto, consoante a pluralidade ocorra do


lado dos autores, do lado dos réus ou de ambos.

Em certas situações, essa pluralidade é imposta por lei ou pela natureza da causa:
noutras, a pluralidade é meramente facultativa, ficando dependente da conveniência das
partes. Temos assim de distinguir entre necessário e voluntario:

Como é que sabemos se é voluntario ou necessário?

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Ou existe um artigo expresso na lei que diga diretamente que é voluntario ou teremos de
ir por exclusão de partes, e: se não for necessário legal, necessário convencional ou
necessário natural então é voluntario.

-Litisconsórcio necessário (legal, negocial ou natural), artº33 do CPCP: quando são vários
os titulares da relação material controvertida e é obrigatória a intervenção de todos eles,
por exigência da lei ou do negócio, ou para a decisão produzir o seu efeito útil normal.

Litisconsórcio necessário:

-artº419- pluralidade de titulares num pacto de preferência

-artº535 Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores

-artº2091 Direitos relativos à herança

-artº608 Substituição processual imprópria

-artº1822/2 ação de investigação da maternidade

-artº1846/1 Ação de investigação da paternidade

-O litisconsórcio necessário é sanável:

1. Através da intervenção espontânea por terceiro, artº311- pode revestir a modalidade


de intervenção devida- 313/1 ou autónoma 314

2. Através da intervenção de terceiro provocada, artº316/1 e 318/1/a

Litisconsórcio Necessário Legal: Existe o princípio da instrumentalidade, ou seja,


não posso conseguir através do processo civil efeitos que me estão vedados fora do
processo

Exemplos de litisconsórcio necessário legal encontram-se no :

-artº34 do CPC: ações que devem ser propostas por ambos os conjugues ou contra ambos
os cônjuges

Nº1/3: A e B casados com uma casa de morada de família que está só em nome
de A e este quer vendê-la, mas B não quer- logo sem o consentimento de B não A não
pode alienar a casa, pois fora do processo está vedada a possibilidade de ficar sem a casa
a não ser que B de o seu consentimento. A faz um esquema com C, em que esta vai pedir
uma ação a declarar que a casa não é de A, A mal se defende e C fica com a casa-→ logica
de paralelismo, o PC serve para nos dar direitos que já existem.

- No artº419 do CC, ação para exercício de direito de preferência pertencentes


simultaneamente a vários titulares

- No artº1410, proposição da ação contra o devedor da preferência a terceiro adquirente.

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Nestas situações, a falta em juízo de algum dos titulares da relação material
controvertida gera ilegitimidade plural, sanável mediante intervenção principal do
terceiro, a qual poderá ocorrer mesmo depois de declarada a absolvição da instância,
artº261.

Litisconsórcio Necessário Convencional

Estas clausulas normalmente não existem, sendo que aparecem nos contratos como
clausulas que dizem como é que os direitos devem ser exigidos

MTS- Se as partes só dizem como é que os direitos devem ser exercidos em processo
convencionalmente significa que estão a dar ao exercício processual um regime diferente
extra processual-violação do princípio da instrumentalidade.

A regra tem de dizer como são exercidos os direitos dentro e fora dos processos: tem de
existir um paralelo entre a convenção processual e extra-processual, pelo contrário
ocorre ilegitimidade

Litisconsórcio Necessário Natural

Litisconsórcio voluntario: artº32: quando são vários os titulares da relação


material controvertida, mas a lei não exige a intervenção de todos. Por isso, a constituição
deste litisconsórcio é facultativa, dependendo apenas da vontade das partes. O artº29
explicita a distinção entre o litisconsórcio necessário e o voluntario: no primeiro há uma
única ação com pluralidade de sujeitos; no segundo há uma simples acumulação de
ações, conservando cada litigante uma posição de independência em relação aos seus
compartes

Um exemplo de litisconsórcio voluntario resulta do disposto no artº 1405, nº2 do cc, que
admite que qualquer dos comproprietários proponha uma ação para reivindicar de
terceiros a coisa comum (pelo que estaremos perante um litisconsórcio voluntario se
estiverem em juízo dois ou mais comproprietários). Isto não significa, porem, que seja
indiferente a presença de todos os interessados ou de so alguns deles, pois no caso de
ações que não tenham por objeto a reivindicação da coisa comum, o tribunal só
conhecerá da quota-parte do interesse ou da responsabilidade daqueles que intervieram
na lide.

A figura do litisconsórcio, voluntario, abrange também os casos de pluralidade subjetiva


subsidiaria previstos no artº 39 do CPC, quando há dúvidas fundamentada sobre o sujeito
da relação material controvertida, admite-se a formulação de um pedido, a título

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principal, contra um rei e, a título subsidiário, contra outro, essa pluralidade também é
admissível ao lado do autor.

No que diz respeito à coligação, é permitido vários autores deduzirem pedidos


diferentes (coligação ativa) contra um ou vários réus (coligação passiva), desde que haja
identidade da causa de pedir, ou prejudicialidade ou dependência de pedidos, artº36,
nº1; também é permitida a coligação, mesmo que seja diferente a causa de pedir, se a
procedência dos pedidos depender da apreciação dos mesmos factos, ou da
interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de clausulas de contratos
perfeitamente análogas, artº36, nº2.

Exemplos deste tipo poderão encontrar-se, entre muitos outros, em ações que
visem a anulação de cláusulas semelhantes inseridas em diferentes contratos de adesão;
ou que visem a anulação de uma venda e a anulação de uma venda e anulação da venda
subsequente; ou nas ações propostas contra uma empresa farmacêutica pelas vítimas de
um medicamente defeituoso.

A admissibilidade da coligação depende ainda de não se verificar algum dos


obstáculos previstos no nº1 do artº37; os pedidos não podem corresponder formas de
processo diferente (a não ser que a diversidade derive unicamente do valor, ou que o juiz
autorize a cumulação nos termos do nº2); a cumulação de pedidos não pode ofender
regras de competência internacional ou em razão da matéria ou da hierarquia.

Intervenção de terceiros

A pluralidade de partes pode surgir no início do processo ou no seu decurso através do


incidente da intervenção de terceiros é a legitimidade processual: importa sempre
apreciar o interesse do terceiro em intervir em causa pendente. Assim, a distinção entre
os tipos fundamentais de intervenção de terceiro decorre da diferente conexão com o
objeto do processo (intervenção principal) subordina-se à atividade da parte que vai
auxiliar.

Na oposição, o interveniente tem interesse em opor-se à apreciação favorável da causa


a uma das partes.

Essas intervenções podem ser espontâneas, quando ocorrem por iniciativa do


interveniente, ou provocadas, quando resultam de requerimento de uma das partes
principais, caso em que se fala em “chamamento”.

Intervenção Principal

Este incidente tem por finalidade levar um terceiro a fazer valer um interesse igual ao do
autor ou do réu nos termos dos artº32, 33 e 34 do CPC. Ou seja, podem intervir a título
principal todos aqueles que apesar de não estarem desde o início no processo, são
também titulares da relação controvertida, pelo que podem litisconsorciar-se com o
autor ou com o reu.

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O interveniente principal, como a designação indica, assume a posição de parte
principal, como coautor ou corréu (ex. litisconsorciado com o autor ou com o réu, artº312
e 317 do CPC).

A intervenção principal tem relevância nas seguintes hipóteses:

a) Preterição do litisconsórcio necessário, artº33 e 311: neste caso o incidente vem


possibilitar a sanação da ilegitimidade plural decorre da falta de uma parte em juízo, a
intervenção do terceiro que devia ter sido demandado com o reu ou ter demandado com
o autor. Esta intervenção é permitida mesmo depois de uma decisão de absolvição da
instância, artº261.

Ex. Se o comproprietário de um terreno propõe uma ação de divisão de coisa


comum apenas contra dois dos cinco comproprietários, torna-se imprescindível a
intervenção principal dos restantes para assegurar a legitimidade.

c) Constituição de litisconsórcio voluntario, artº32 e 311 do CPC: neste caso, o


incidente vem possibilitar a constituição como parte de um terceiro que podia ter
sido demandado com o réu, mas cuja participação na lide não é imprescindível.
Ex. numa ação em que o morador numa fração autónoma de um prédio
demandou o dono de um bar instalado na cave do mesmo prédio, visando impedi-
lo de ter música ambiente a partir das 22horas, um outro vizinho pretende intervir
com a mesma pretensão.

d) Pluralidade subjetiva subsidiária, artº39 e 316, nº2 do CPC: neste caso o autor
chama a intervir como reu o terceiro contra quem pretenda deduzir o pedido
subsidiário (intervenção provocada)
Ex. O autor tem dúvida sobre qual dos dois empreiteiros, A ou B, que
realizam obras junto à sua casa foi o causador dos danos que esta sofreu,
chamando a juízo B, depois de ter demandado inicialmente apenas A.

Intervenção principal espontânea e provocada

A intervenção principal espontânea pode ter por fim a constituição do


litisconsórcio (voluntario ou necessário, como se referiu) seja do lado do autor seja do
lado do réu. Para o efeito, o interveniente poderá apresentar articulado próprio (petição
ou contestação, consoante a intervenção seja ativa ou passiva), se o fizer até ao termo
da fase dos articulados, artº314 do CPC, ou poderá aderir, por simples requerimento, aos
articulados da parte com quem se associa, caso em que a sua intervenção pode ter lugar
a todo o tempo, enquanto não estiver definitivamente julgada a causa, que o
interveniente aceita no estado em que estiver, artº313 do CPC.

Requerida a intervenção pelo terceiro, em qualquer das modalidades referidas, o


juiz, se não houver razão para a indeferir liminarmente, decide da admissibilidade do
incidente após audição das partes primitivas, artº 315, nº1 do CPC.

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O âmbito da intervenção principal provocada é distinto consoante se trate de um
chamamento para intervir no processo numa situação de litisconsórcio necessário e seja
requerida pelo autor ou pelo reu.

A intervenção principal provocada pode ter por objeto a sanação da ilegitimidade plural
decorrente da preterição do litisconsórcio necessário, do lado ativo ou do aldo passivo,
caso em que pode ser requerida por qualquer das partes, até ao termo da fase dos
articulados, artº316, nº1 e 318, nº1 a) do CPC; pode ainda ser requerida pelo autor ou
reconvinte nos 30 dias subsequentes ao transito em julgado de decisão que julgue
ilegítima uma das partes com fundamento em preterição do litisconsórcio necessário,
artº318, nº1 a) e 261 do CPC.

Do artigo 316 resulta um regime diferente para a hipótese de a intervenção


principal provocada visar a intervenção de um terceiro em situação de litisconsórcio
voluntario superveniente. Neste caso, deixa de ser possível a constituição de um
litisconsórcio voluntario ativo superveniente, só podendo ser requerida:

a) Pelo autor com vista a provocar a intervenção de um litisconsorte do reu ou


de terceiro contra quem pretenda dirigir o pedido nos termos do artº39,
podendo o pedido ser feito até ao termo da fase dos articulados, artº316, nº2
e 318, nº1 b) do CPC
b) Pelo reu quando mostre interesse atendível em chamar a intervir como réus
outros litisconsortes voluntários, sujeitos passivos da relação material
controvertida, ou pretenda provocar a intervenção de possíveis contitulares
do direito invocado pelo autor, podendo o pedido ser feito na contestação ou
no respetivo prazo, se o reu não quiser conteste, artº316, nº3 e 318, nº1c) do
CPC.

Assinale-se ainda o caso especial de intervenção de um litisconsorte voluntario


requerida pelo reu, em situação de solidariedade passiva, tendo por fim o
reconhecimento e a condenação na satisfação do direito de regresse que lhe
possa vir a assistir, se tiver de realizar a totalidade da prestação, caso em que, se
apenas for impugnada a solidariedade da divida e a pretensão do autor puder de
imediato ser julgado procedente, será o primitivo réu logo condenado no pedido
no despacho saneador, prosseguindo a causa entre este e o chamado, circunscrita
à questão do direito de regresso, artº317 do CPC.

Em todas as situações de intervenção provocada, se esta for admitida, o


terceiro é chamado ao processo por meio de citação e poderá nele intervir, seja
declarando que faz seus os articulados do autor ou do reu, seja apresentando
articulado próprio, mas aí terá a intervenção de ocorrer dentro de prazo igual ao
que na ação seja facultado para a contestação; se intervir passado esse prazo, terá
de aceitar os articulados da parte a que se associa e todos os atos já praticados
no processo, artº319 do CPC.

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Intervenção Acessória

Intervenção Acessória Provocada

Este incidente tem por finalidade permitir que possa intervir no processo como
auxiliar, a chamamento do reu, um terceiro, que embora careça de legitimidade
para intervir como parte principal, tenha um interesse reflexo ou indireto na
decisão da causa. O réu chamará a intervir um estranho à relação material
controvertida, com base na invocação contra ele de um possível direito de
regresso, que lhe permitira ressarcir-se do prejuízo que lhe cause a perda da
demandada, artº321 do CPC.

Ex. O dono de um automóvel com defeito nos travões demanda o fabricante do


automóvel, pedindo uma indmnização por danos sofridos num acidente e a
reparação do defeito; e o fabricante chama à ação o fornecedor dos travões,
como interveniente acessório, preparando uma futura ação de regresso. Este
chamamento visa apenas evitar que o chamado possa futuramente alegar que o
réu, titular do direito de regresso, não se defendeu convenientemente na ação
que o condenou.

Se o pedido deduzido pelo reu for deferido, este tipo de interveniente,


depois de citado, poderá apresentar contestação, passando a beneficiar do
estatuto de assistente. A sua posição será assim uma posição subordinada, não
podendo contrariar o assistido, nem praticar atos que ele tenha deixado de poder
praticar, artº323 e 328, nº2 do CPC.

O juiz, ouvida a parte contraria, apreciará a relevância do interesse que


esta na base do chamamento, deferindo-o “quando a intervenção não perturbe
indevidamente o normal andamento do processo e, face as razões invocadas, se
convença da viabilidade da ação de regresso e da sua efetiva dependência das
questões a decidir na causa principal” artº322, nº2 do CPC. Esta nora confere ao
juiz um amplo poder para rejeitar o incidente da intervenção provocada acessória,
quando entenda que o mesmo, tendo finalidades dilatórias, por não corresponder
a um interesse sério e efetivo do reu, perturba indevidamente o normal
andamento do processo. Passado 60 dias sobre a data em que foi inicialmente
deduzido o incidente sem que se mostrem realizadas todas as citações a que este
haja dado lugar, o artº 324, permite que o autor requeira o prosseguimento da
causa principal, apos o termo do prazo de que os réus já efetivamente citados
beneficiaram para contestar.

Intervenção acessória espontânea: assistência

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O artº326 do CPC admite ainda como modalidade de intervenção acessória a
assistência, sito é, a intervenção espontânea de um terceiro que tenha interesse
jurídico em que a causa seja favorável a uma das partes, com o objetivo de a
auxiliar. O terceiro terá um interesse atendível quando seja titular de uma relação
cuja consistência pratica ou económica depende da pretensão do assistido.

Ex. Um comerciante demanda um vizinho reivindicando um terreno que diz


pertencer-lhe; um credor do comerciante, interessado em reforçar a garantia do
seu crédito, intervêm como assistente do autor.

O assistente pode intervir a todo o tempo, mas tem de aceitar o processo no


estado em que o encontrar, artº327, nº1 do CPC. O assistente tem no processo a
posição de auxiliar de uma das partes principais, estando a sua atividade
subordinada à dessa parte, embora goze dos mesmos direitos e esteja sujeito aos
mesmos deveres, artº328, nº1 e 2.

Oposição

A oposição tem por finalidade trazer à lide um terceiro que vem fazer valer um
direito próprio, incompatível com a pretensão deduzida pelo autor ou pelo reu-
reconvinte. Pode ser espontânea, artº333 ou provocada pelo reu, artº338 do CPC.

A posição do oponente é de parte principal, em princípio, numa terceira


posição independente das partes inicias, se ambas impugnarem o seu direito,
caso em que haverá três partes distintas, ou substituindo a parte que reconhecer
o direito do oponente, a qual nesse caso abandona o processo, artº335 e 337 do
CPC.

Ex. o oponente diz-se proprietário do prédio que é reivindicado pelo autor contra
o reu.

Oposição mediante embargos de terceiro

Esta figura, apesar de se encontrar sistematicamente inserida na subvenção


relativa à oposição, artº342 do CPC, é completamente diferente das intervenções
que temos vindo a analisar. Na realidade, constitui uma ação declarativa
enxertada numa ação executiva, e destina-se a defender a posse ou um direito
incompatível de um terceiro, não exequente nem executado, que haja sido
ofendido pela penhora ou por outro ato de apreensão judicial, Ex. Arresto.

Efeitos da intervenção de terceiros

A oportunidade da intervenção veria consoante a modalidade considerada,


havendo que atender ao disposto nos artigos 313 do CPC (intervenção principal

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espontânea), 318(intervenção principal provocada), 322, nº1 do CPC (intervenção
acessória provocada), 327 do CPC (assistência) e 333, nº2 do CPC (oposição)

A intervenção de terceiros, nas diversas modalidades é deduzida em articulado da


causa ou em requerimento autónomo, consoante os casos e os momentos em
que ocorra, artº313, 314, 319 nº3, 323, nº1, 327, nº2, 335 e 339. E leva
obviamente à modificação subjetiva da instância (acrescentando compartes ao
autor ou ao reu). Pode também gerar-se uma modificação no objeto do processo,
nomeadamente a sua ampliação.

A produção do caso julgado ocorrerá sempre, nos casos em que o terceiro


aceite intervirá. Em contrapartida, quando a intervenção ou oposição é
provocada, mas o chamado se recusa a intervir, a decisão a proferir no processo
só constituirá caso julgado contra ele nos casos dos artº 320, 323 nº4, 332 e 34º,
nº2.

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