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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL - UFMS

CÂMPUS DE TRÊS LAGOAS - CPTL


CURSO DE DIREITO

Trabalho avaliativo apresentado à disciplina


de Direito Processual Civil IV, ministrada
pelo Prof. Doutorando. Aldo Aranha de
Castro.

Qaique Antônio Terou koba


Gabriela Araujo
Wellington Bezerra Peixoto RGA 2019.0781.0765

Fraudes do devedor

Três Lagoas – MS
2021
RESUMO

O presente trabalho tem como fim, fazer um recorte, buscando uma abordagem em
termos gerais, sem o objetivo de esgotar o assunto, e nem tão pouco de buscar refinar a
compreensão do conteúdo evidenciado, apenas uma análise sucinta, trazendo um
entendimento da funcionalidade dos institutos abordado nas fraudes (do devedor, contra
credores e à execução), atos atentatórios à dignidade da justiça, todos ligados ao
processo de execução, envolvendo responsabilidade patrimonial. Desenvolvido por
meio de busca bibliográfica, documentos e meios eletrônicos, via internet, por meio de
consulta de dados em plataforma de periódicos, como também o ordenamento jurídico
pátrio. O método utilizado foi o qualitativo. Quanto aos objetivos, optou-se pelo
exploratório, no tocante aos procedimentos, adotou-se o bibliográfico e documental.

Palavras- chave: Fraude de credores. À execução atos à dgnidade da justiça

Normas para elaboração.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro do terceiro adquire bem penhorado ou penhorável

Tabela 2 – Quadro do terceiro adquire coisa litigiosa, já tendo sido citado o


demandado alienante
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................XX

1.Histórico...........................................................................................XX

2. Princípio da boa—fé na execução.................................................XX

3. fraude do devedor...........................................................................xx

3.1. fraude contra credores..................................................................xx

3.2. fraude à execução..........................................................................xx

3.2.1. Elementos.....................................................................................xx

3.2.1. Fraude à execução: Alienação de bem penhorado...................xx

4.3. Averbação do registro do bemdo devedor (Art.828)...................xx

4.4. Astientis, ato atentatório a dignidade da justiçae litigança de má-


fé..............................................................................................................xx

4.4.1. Atos atentatório à dignidade da justiça....................................xx

CONCLUSÃO .....................................................................................XX

REFERÊNCIAS...................................................................................xx
FINAIS..........

1.Breve histórico do instituto


O instituto da fraude à execução está diretamente relacionado ao tema da
responsabilidade patrimonial do devedor.
No direito romano pré-clássico ou arcaico, o devedor respondia por suas dívidas
com o seu próprio corpo.
Consoante a lição do mestre e Doutor em Direito Processual, Nelson Rodrigues
Netto” Com efeito, ultrapassado o tempus iudicati, ou seja, trinta dias após o
vencimento da dívida, o credor poderia lançar mão sobre o devedor, segundo um
procedimento denominado de manus iniectio, mediante autorização do pretor romano”.
Essa visão era socialmente aceita, a ponto de admitir-se um concurso de credores
sobre o corpo do devedor, que seria dividido entre eles (Tabula III: "Tertiis nundinis
partis secanto; si plus minusve secuerunt se fraude esto") • A Tábua Terceira da Lei das
XII Tábuas, deixa clara essa macabra possibilidade de responsabilização pessoal do
devedor, em sua Lei.
Segue lição do eminente professor Nelson Rodrigues, assim, o credor apregoava
em praça a existência da dívida e do devedor, para que um terceiro, o vindex, pudesse
resgatá-lo, pagando a dívida. Após três sucessivas tentativas de quitação da dívida sem
sucesso, era permitido ao credor tomar o devedor como seu escravo, podendo vendê-lo
nesta condição, ou, até mesmo, tirar-lhe a vida.
Esta espécie de responsabilidade pessoal, no sentido de a dívida poder ser
satisfeita com o próprio corpo e vida do devedor, foi se alterando paulatinamente. A
consolidação, no processo romano, da transformação da execução pessoal em real,
ocorreu com o surgimento e a difusão do Cristianismo, e tendo como marco a criação da
Lex Poetelia, no ano 326 D.C.
Na modernidade, o processo é norteado pelo princípio da execução real, de
modo que a atividade jurisdicional executiva recaia sobre os bens do devedor e não
sobre sua pessoa. Sob esta égide, o art. 789, do CPC, prescreve que o devedor responde
pelo cumprimento de suas obrigações com seus bens presentes e futuros. Contudo, não
se deve olvidar que ainda hoje conhecemos hipóteses de execução pessoal. Realmente, o
uso de técnica de tutela mandamental, ao se utilizar de meio coercitivo restritivo de
liberdade, afasta-se dos meios sub-rogatórios da execução forçada, procurando compelir
o demandado a cumprir pessoalmente com a pretensão para manter íntegra sua liberdade
de ir e vir1.
O uso da denominada prisão civil é constitucionalmente albergada no Brasil,
consoante o art. 5º, LXVII, da C.F., nos casos de devedor voluntário e inescusável de
alimentos e de depositário infiel, além de possuir ampla utilização em nações
estrangeiras.2

2. Princípio da boa—fé na execução

1
Notas sobre a tutela mandamental e executiva ‘lato sensu’ nas Leis nº 10.358/01 e 10.444/02, p. 198, in, Revista de
Processo nº 110.
2
Ver, com proveito, Nelson Rodrigues Netto, Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva ‘lato sensu’, pp.
43/86.
O princípio da boa-fé processual é aquele que determina que todos os sujeitos do
processo devem se comportar de acordo com a boa-fé objetiva, entendida esta como
norma de conduta, um farol que ilumina as ações éticas dos sujeitos.
Para Fred Didier Júnior, o princípio da boa-fé processual é um corolário do
devido processo legal, com previsão no Art. 5º do CPC, decorrente de uma clausula
geral processual, na qual entende-se como, sendo esta, normas contendo diretrizes
indeterminadas, que não trazem diretamente uma solução jurídica ou consequência,
trata-se de norma aberta, não estabelecendo o significado, e nem tão pouco, trazendo as
consequências jurídicas.
Consoante apregoa Humberto Theodoro Júnior, A boa-fé objetiva pós-
constitucional caracteriza-se como uma nova forma de solucionar conflitos em sede de
direito processual civil, emergindo como um novo e eficaz instrumento delimitador dos
direitos e vinculador do Juiz a um pronunciamento concreto.
No entendimento de José Eli Salamacha, o princípio da boa-fé é um dos
principais do ordenamento jurídico brasileiro, tendo grande aplicabilidade no processo
civil e especialmente no processo de execução no que diz respeito às fraudes, sendo
amplamente citado em decisões judiciais dos Tribunais Superiores.
Afirma ainda que: “ (...) com a evolução sistemática das reações jurídicas, a
sociedade se deu conta de que, além dos direitos individuais, precisam ser tutelados os
direitos sociais, principalmente no que se refere às relações contratuais, nas quais o
princípio da boa-fé surge com grande forca. A complexidade dos negócios exige cada
vez mais que os pactuantes se comportem com probidade, de molde a extirpar
disparidades inaceitáveis e, consequentemente, o enriquecimento ilícito. ”

3. Fraude do devedor

Na classificação de Fred Didier Júnior, a expressão fraude do devedor refere-se a


uma categoria ampla se subdividido em outros três institutos: I- A fraude contra
credores; II- A fraude à execução; e III- Os atos de disposição de bens já conscrito, no
presente estudo será abordado os dois primeiros.

3.1. Fraude contra credores

Segundo lição de Fred Didier Júnior, este é um instituto muito caro para o direito
processual, no que diz respeito à responsabilidade patrimonial, podendo repercutir na
execução, também por tratar-se de direito material, ter acento amplo no Código Civil.

Trata-se de uma prática usual empregada por devedores, que tem na sua conduta
a ausência da boa-fé, de forma a não honrar com suas dívidas. Geralmente, apresenta
um passivo (conjunto de obrigações para com terceiros) relevante, e canaliza suas
energias em elevar esse passivo, em face do seu ativo (conjunto de bens e direitos,
compõe a riqueza, que fará face às obrigações), em resumo, a prática é a ocultação de
seus bens, para tentar não pagar aquilo que está evidenciado no seu passivo, tornando-se
insolvente (quando o conjunto de bens e direitos não consegue fazer face às suas
obrigações).

Da mesma forma é observado o devedor que já é insolvente, que tenta “ampliar”


essa situação patrimonial, em detrimento de seus credores (CPC-2015, art. 1.052, c/c
CPC-1973, art. 748), a prática tem como fim absconder aquilo que faria frente ao
conjunto de obrigações.

Vários são os meios enumerado, pela doutrina, como prática de absconder o


patrimônio e aqui, enumeraremos algumas: I-Doação a Herdeiros; II-Alienação a preço
irrisório; III-Pagamento de dívida vencíveis, antecipação de dívidas a credor
quirografário; IV- Renúncia de herança etc. Pode-se perceber nos exemplos, subdivisões
de atos fraudulento, a saber, onerosa (II); gratuita (I); Unilateral (IV); Bilateral (venda
fraudulenta).

Na lição do saudoso professo Caio Mario da Silva Pereira: ”na fraude contra
credores, não há vício de consentimento. É ato consciente, que corresponde à vontade
interior do agente. É vício social, decorrente da desconformidade entre a declaração de
vontade e a ordem jurídica, que repudia atuações fraudulentas”.

Há a necessidade do preenchimento de dois pressupostos para que se configura a


fraude contra credores, em lição de Fred Didier Júnior, um subjetivo e o outro objetivo.

Como pressuposto objetivo é necessária a demonstração que a redução


patrimonial, por meio da fraude, ensejou na insolvência do devedor. É o Dano (eventus
damni).

Como pressuposto subjetivo, a doutrina tem invocado, a ciência, o conjunto de


meios, desenvolvido pelo devedor, para se ocultar, absconder, o conjunto de bens e
direitos, ensejando no Dano o (consilium fraudis).

Em boa lição do ilustre professor Yuseffe Said Cahali, vem tratar a figura do
“eventus damni” e do “scientia fraudis”:
Por eventus damni deve-se entender, como ato prejudicial ao credor, que lhe
acarreta prejuízo e impossibilidade de receber o que é seu. No dizer de Yussef Said
Cahali: "o credor será prejudicado no seu direito pelo ato fraudulento, quando por efeito
deste, não possam aí conseguir a satisfação do seu crédito, como o teria conseguido, se
o ato fraudulento não tivesse sido praticado.
Por scientia fraudis, entende-se como conhecimento por parte do terceiro
contratante com o devedor, do estado de insolvência deste. Deve-se, em relação a ele,
fazer a distinção, se o ato jurídico foi gratuito ou oneroso. Na primeira hipótese basta a
pratica do ato pelo devedor, o seu estado de insolvência (preexistente ou concomitante)
e o dano aos credores, para que o mesmo possa ser anulado, independentemente da
posição anímica do citado terceiro. Este perderá a coisa recebida, se há ou não de má-fé,
é indiferente. Ao devedor também não se perquirirá se sabia ou não de sua atual ou
provável insolvência.

Aquém cabe provar quanto aos pressupostos objetivos? Para Fred Didier Junior,
O ônus está disposto no artigo 373, I, do CPC, que como regra geral, ao autor (credor).
De modo diferente, poderá ocorre a inversão do ônus, quando, houver a existência da
insolvência. Se houver uma presunção legal relativo a insolvência, como no Art. 1052,
do CPC, ou, sendo ela notória, Art. 373, I, do CPC, c/c com o Art. 159, CC. A
possibilidade da inversão por distribuição do juiz, que está disciplinado no § 3ª do 373,
do CPC.
No que tange aos pressupostos subjetivos, há presunção absoluta de fraude e má-
fé, disciplinado pelo Art. 158 do CC, quanto trata-se de transmissão gratuita de bens, em
face do credor. Tendo o devedor, ciência de que seu ato produzirá dano (consilium
fraudis), caberá ao credor fazer prova, quando se trata de transmissão onerosa, sabendo
o terceiro adquirente (conhecimento real ou presumido) da condição de insolvência
daquele, na forma como conduziu a alienação (scientia fraudis), conforme posto no Art.
159 do CC.

Para Marcos Bernardes de Mello, citado por Fred Didier Júnior, o autor só
reconhece como elemento essencial a ciência do terceiro (scientia fraudis) e
exclusivamente negócio oneroso, como posto no Art. 159 do CC.

Em lição de avultada expertise, Caio Mari da Silva Pereira, atribui igualdade de


paridade de armas, para negócio oneroso, entre credor e terceiro adquirente, porém com
prevalência daquele, que luta para evitar prejuízo, quando de negócio gratuito. O
devedor defende a manutenção do lucro. Portanto na transmissão graciosa, o terceiro
ágil em conluio. Na onerosa, o terceiro somente deve ceder seu direito e perder o bem,
demonstrado a cumplicidade na manobra fraudulenta do devedor, scientia fraudis, por
sua falta de diligência, não averiguando a aquisição, dentro dos padrões esperado, ou
por cumplicidade.

Cabe ao credor lesado, o uso da ação paulina como forma de defender sua
posição, na alienação do bem, em face do vício social causado pela fraude, de forma a
garantir o retorno do bem ao patrimônio do devedor, assegurando, que este responda
pela obrigação e pela eventual execução (Art.740, do CPC).

A ação paulina, usada para garantir direito protestativo, disciplinada no Art. 161,
do CC, tem como fim anular, neutralizar ato fraudulento, oneroso ou gratuito. Figura no
polo passivo, devedor (ou por sucessores) e terceiro (ou por sucessores)

3.2. Fraude à execução

3.2.1. Elementos

Este instituto, fraude à execução, não tem na legislação alienígena, um


correspondente, sendo uma particularidade do ordenamento jurídico brasileiro.
No entendimento do professor Yussef Cahali, este instituto é uma
especialização, ou espécie da fraude contra credores. Diferente mente desta, a fraude à
execução, apesar de decorre dos mesmos princípios daquela, ou seja, a limitação de
disponibilidade dos bens do devedor, rechaçando a diminuição fraudulenta. Trata-se de
um instituto autónomo com características próprias.
O legislador dispensou um pouco mais de atenção, a fraude à execução, por
demandar maior gravidade do que a fraude contra credores, ocorrendo em curso de
processo executivo ou na iminência da execução, frustrando o resultado, configura ato
atentatório a dignidade da justiça, este fator demandou uma evidenciação mais relevante
do legislador ordinário.
Em lição de Humberto Theodoro, na fraude à execução, o bem de terceiro é
penhorado sem ação prévia para declará-la (NCPC, art. 790, V). Portanto, qualquer
defesa que o adquirente pretenda exercer, haverá de ser manifestada por meio de
embargos de terceiro (art. 792, § 4º). O mesmo ocorre com a revogação falimentar
prevista no art. 129 da Lei de Falências.
A configuração da fraude, enseja alguns desdobramentos, tendo em vista que o
terceiro teve o bem subtraído, configurando prejuízo patrimonial, este poderá ingressar
conta o beneficiário, pleitear o que pagou e uma indenização de perdas e danos.
Na fraude à execução o juiz pode reconhecer de ofício, por tratar que questão de
ordem pública, tendo em vista ser fato prejudicial a própria atividade jurisdicional do
Estado, porém, não antes que terceiro apresente embargos no prazo de 15 dias (Art.792,
§4º do CPC), sob pena de nulidade ao não atender exigência prévia, ainda é possível
que terceiro se defenda nos próprios autos.
Como se pode observa, o legislador processual, procurou evidencializar maior
instrumentalidade ao processo de execução, que é, cada vez mais, especializa a entrega
da prestação jurisdicional, efetivada na recuperação do prejuízo do credor, por meio da
ampliação do rol de situações capazes de caracteriza a fraude à execução, criando
entraves, visando a ineficácia de todos os atos alienatório comprometedores da
exequibilidade das condenações e dos títulos extrajudiciais.

TABELA 01
Terceiro adquire bem penhorado ou penhorável

A execução esta A penhora ou O devedor sofre ação capaz de


averbada (Art. 791, I) à hipoteca judicial leva-lo à insolvência (Art.791,
margem do registro do esta averbada IV)
bem alienado (Art.791, III)

Ação não está averbada, mas o


Ação está averbada
adquirente não tomou as
no registro da coisa
cautelas necessária para apurar
alienada (Art.792, I)
a existência da ação contra o
vendedor (Art. 792, § 2º)

Fraude está configurada


Fraude não é reconhecida

O adquirente é chamado para opor,


se quiser, embargos de terceiro
(Art.792, § 4)

Cabe agravo (Art. 1,015, § único)

Fraude é declarada
Mandado de penhora é expedido
3.2.1.1. Os pressupostos do Art. 792 do CPC

O presente artigo, contempla a maioria dos casos de fraudes à execução,


podendo-se afirmar que se trata do núcleo centra deste instituto que se passará a tecer
breves comentários.

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:

I - Quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão
reipersecutória desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo
registro público, se houver;

Identifica-se a presunção absoluta de fraude à a execução, se realizada a alienação


ou a oneração de bem quando já houver averbação da existência de ação envolvendo
direito real ou pretensão reipersecutória (reivindicação de um bem e/ou direito que não
se encontram estabelecidos em seu próprio patrimônio) sobre esse mesmo bem, sendo,
portanto, reconhecida, inclusive antes da penhora.

Nos ensinamentos de Humberto Theodoro, com os dispositivos do novo CPC


não mais a necessidade da distinção entre terceiro de boa-fé ou má-fé. Se há a averbação
da ação, a alienação do bem litigioso será sempre fraudulenta; se não há, não cabe
cogitar-se de fraude à execução, na hipótese identificada no inciso I do art. 792. De
qualquer maneira, o dispositivo em questão trata objetivamente da fraude, sem
correlacioná-la com o elemento subjetivo qualificador da conduta do terceiro
adquirente.

II - Quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de


execução, na forma do art. 828 ;

Ajuizada a execução, autoriza o art. 828 do NCPC, ao exequente obter certidão de


que o processo foi admitido pelo juiz para averbação no registro de imóveis, de veículos
ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade. Logo constitui fraude
à execução a alienação ou oneração de bem após feita a averbação no registro adequado.

Em boa lição do Professor Humberto Theodoro, também nesse caso, não se cogita
a insolvência do executado, nem de má-fé do terceiro adquirente. A fraude é presumida
ex lege. O problema situa-se, na eventualidade, de não ter sido averbada a execução,
mas de ser comprovada a ciência, que tinha o adquirente, da existência da penhora, do
arresto ou da indisponibilidade que incidia sobre o bem negociado.

III - Quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro
ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude;
Tem-se aqui a imprescindibilidade, a relevância de que o gravame tenha sido
averbado no registro público, dispensada a comprovação de má-fé e de insolvência do
terceiro adquirente. Mais uma vez o Código vincula a fraude à averbação no registro do
bem, ampliando os ônus do credor, que é o maior interessado na preservação do
patrimônio do devedor até a satisfação de seu crédito.

IV - Quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor


ação capaz de reduzi-lo à insolvência;

Bastará o ajuizamento de ação capaz de reduzir o devedor à insolvência para a


caracterização da fraude à execução. Não precisa ser ação de execução, mas qualquer
ação (processo de conhecimento, por exemplo), sendo indispensável que essa ação
possa levar o devedor à insolvência. Assim, para o réu que tem sobre ele uma ação de
cobrança no valor de 17.000,00, e este tem um patrimônio vultuoso, não será a
alienação de um automóvel que vai caracterizar fraude à execução, a menos,
obviamente, que sobre esse bem já contenha algum gravame (art. 792, III).

V - Nos demais casos expressos em lei.

Aqui, o legislador está se referindo a instituto como a penhora sobre crédito (art.
856, § 3º) e a alienação ou oneração de bens do sujeito passivo de dívida ativa em
execução fiscal (art. 185 do CTN).

§ 1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.

A execução é ineficaz, portanto, mesmo sendo constatada a fraude, a execução, a


alienação ou oneração dos bens não será invalidada, mas apenas será considerada
ineficaz em relação ao exequente. Esse já era, inclusive, o entendimento assentado na
jurisprudência.

Não há necessidade de nenhuma ação para anular ou desconstituir o ato de


disposição fraudulenta. A lei o considera simplesmente ineficaz perante o exequente, e o
juiz reconhece de plano a inoponibilidade do negócio, nos próprios autos.

§ 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem


o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a
exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se
encontra o bem.

Neste passo, afirma Humberto Theodoro, a orientação do NCPC reduz um pouco o


alcance da Súmula 375 do STJ, visto que não mais imputa, invariavelmente, ao
exequente o ônus de provar a má-fé do terceiro adquirente. Ao contrário, é deste último
que exige prova de ter adotado as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a
exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se
encontra o bem.

§ 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução


verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
A desconsideração da personalidade jurídica é dividida em duas modalidades, a
primeira quando há um desvio de finalidade do objeto da sociedade (é a utilização da
pessoa jurídica, para acobertar negócio de interesse particular dos seus gestores), e
segundo quando há a chamada confusão patrimonial (a sociedade absorve todo o
patrimônio dos sócios, de modo que não se consegue distinguir o interesse da pessoa
jurídica e o interesse particular dos sócios).
Destaca-se, ainda, a configuração da fraude à execução nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica a partir do momento em que o alienante for
citado para o respectivo incidente. O objetivo dessa nova regra é proteger o exequente
“contramanobras do terceiro para desviar seus bens antes de ser alcançado pelo
julgamento do incidente em questão”.
Assevera Humberto Teodoro, O NCPC, seguindo a orientação que já prevalecia
na jurisprudência do STJ, segundo a qual a citação válida é pressuposto para o
reconhecimento da fraude, conforme parágrafo analisado.

§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente,


que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.

Conteúdo já exposto no item 4.1.

Terceiro adquire coisa litigiosa, já tendo sido citado o demandado alienante (Art.792)

A ação devera esta averbada Quando o bem não estiver sujeito a registro
se a coisa figura em registo público, o adquirente não tomou as precauções
público (Art.792, I) para verificar a pendência judicial (Art.792, §2º)

O adquirente é intimado, para no prazo de 15 dias, opor embargos de


terceiro, caso queira (Art.792, §4º)

O juiz decide sobre a ocorrência da fraude

Fraude não é reconhecida


Fraude é reconhecida

Terceiro pode impor embargo


de terceiro (Art. 674), mas Cabe agravo de instrumento (Art.
devera, antes, depositar a coisa 1015, § único)
(Art. 808)
4.3. Averbação da execução no registro de bens do devedor (art. 828)

A chamada “averbação premonitória” foi introduzida no ordenamento


processual pelo art. 615-A, inserido no CPC/1973 pela Lei nº 11.382/2006. O
dispositivo instituiu mais uma hipótese de averbação, junto às que já estavam previstas
no art. 167, II, da Lei de Registros Público.

Em exposição de Eupídio Donizette, em lição extraída do código comentado, de


acordo com a redação do art. 615-A do CPC/1973, “o exequente poderá, no ato da
distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com
identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis,
registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto”. Tal
averbação tem por fim estabelecer presunção absoluta de má-fé do adquirente nas
hipóteses de fraude à execução.

O novo Código de Processo Civil mantém o instituto, mas com uma importante
diferença: a obtenção dessa certidão só será possível após a execução ser admitida pelo
juiz natural (ou seja, após o juízo de admissibilidade da execução). Não basta, portanto,
o mero ajuizamento da execução, como previa o Código anterior.

Na funcionalidade do novo CPC, posterior a emissão do despacho judicial de


citação ao executado, poderá, o exequente, obter a, logo com a ordem de citação,
pressupõe-se que o juiz admitiu a execução. Assim, se o exequente propuser a demanda
executiva e o juiz determinar a emenda da petição inicial na forma do art. 801, somente
depois de nova apreciação judicial é que ele poderá pleitear a expedição da certidão.
Não há, no entanto, necessidade de mandado judicial (decisão judicial) determinando a
averbação.

A averbação pode recais sobre todas as espécies de bens sujeitos à penhora


(imóveis, móveis, ações, quotas sociais etc.). A certidão poderá se averbada em
qualquer cartório de registro público em que se observe a existência de bens em nome
do executado, dentre eles podemos elencar (Cartórios de Registro de Imóveis,
DETRAN, Comissão de Valores Mobiliários etc.).

No que se refere à comunicação da averbação, caberá ao exequente comunicar


ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de dez dias de sua concretização, conforme
o disposto no § 1º do Art. 828, do CPC. A falta da comunicação desta não causará, falta
alguma ou consequências jurídicas, como também, não atingirá a eficácia da averbação
em relação a terceiro, surtira efeito até a formalização da penhora, havendo ou não
comunicação ao juízo.
O cancelamento das averbações aos bens não penhorado é atribuição do
exequente, devendo fazê-lo em 10 dias, essa foi a dinâmica adotado pelo CPC de 2015,
evitando assim, prejuízos desnecessários ao executado. Este prazo de 1º dias não serve
para que se conclua o cancelamento, mas para que o exequente (credor) o requeira
perante a autoridade judiciária competente.

A averbação indevida, disposta no § 5º do citado artigo, promovida pelo


exequente e este não requerer o cancelamento, nos moldes do § 2º do supramencionado
artigo do NCPC, indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos
apartado, não necessitado de propor ação condenatória, salvo se, tratar-se de terceiro.
Para a indenização pleiteada, não há necessidade de demostra a culpa, somente a
comprovação do dano.

4.4. Astientis, ato atentatório a dignidade da justiça e litigança de má-fé

Criação dos pretórios franceses, as astreintes (espécies de multa de caráter


cominatório), surgiram como técnica processual tendente a compelir o devedor a
realizar a prestação pactuada sem lhe invadir direitos essenciais. Desse modo, consistem
em uma alternativa à impossibilidade de atuação direta do Estado-Juiz sobre a vontade
do indivíduo (dogma da intangibilidade da vontade humana), a partir da prática atos de
coação material.

Uma ideia da natureza jurídica do instituto pode ser tirada do próprio vocábulo
qualificador “astreintes”, o qual traz ínsita a ideia de pressão, sujeição, constrangimento.
Na legislação francesa, identificava-se como obstáculo à utilização das multas
periódicas, o disposto no art. 1.142 do Código de Napoleão, segundo o qual “toda
obrigação de fazer ou não fazer resolve-se em perdas e danos e juros, em caso de
descumprimento pelo devedor”.

Em verdade, sabe-se que por trás do sobredito dispositivo legal francês estava a
ideia de não permitir aos juízes do Ancien Regime, sobre os quais se impunha a
desconfiança dos cidadãos, ante os escândalos de corrupção e a utilização do critério de
hereditariedade na transmissão dos cargos públicos, que voltassem a fazer o que lhes era
permitido antes da Revolução de 1889, ou seja, usarem do poder de imperium, situação
que poderia ameaçar o novo poder instalado.

Quando o assunto é litigância de má-fé, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem


diversos entendimentos que delimitam as punições possíveis nos casos em que ocorre o
abuso do direito de recorrer ou quando uma das partes do processo litiga
intencionalmente com deslealdade.
O Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015), em seus artigos 79, 80 e 81,
estabelece a configuração da litigância de má-fé e as sanções que podem ser aplicadas
para quem age de maneira desleal.
“Somente em um sistema recursal como o brasileiro, em que a sucessão
indefinida de recursos e ações incidentais é a regra, é que  se  admite  esse  tipo  de
reiteração de conduta, porque, em verdade,  inexiste  qualquer  secionamento legal
efetivo para esse comportamento  processual,  salvo eventuais condenações por recurso
protelatório  ou  litigância  de  má-fé,  as  quais são, no mais das vezes,  da  mais  clara 
ineficiência  prática,  diante  de  valores irrisórios  atribuídos à causa” – afirmou o
ministro ao julgar agravo no MS 24.304.
Por outro lado, está consolidado no STJ o entendimento de que a interposição de
recursos cabíveis no processo, por si só, não implica litigância de má-fé nem ato
atentatório à dignidade da Justiça.

“A mera interposição do recurso cabível, ainda que com argumentos reiteradamente


refutados pelo tribunal de origem ou sem a alegação de qualquer fundamento novo, apto
a rebater a decisão recorrida, não traduz má-fé nem justifica a aplicação de multa”,
destacou a ministra Nancy Andrighi no julgamento do REsp 1.333.425.

A corte também entende que, para caracterizar a litigância de má-fé, capaz de ensejar a
imposição da multa prevista no artigo 81 do CPC, é necessária a intenção dolosa do
litigante.

“A simples interposição de recurso não caracteriza litigância de má-fé, salvo se ficar


comprovada a intenção da parte de obstruir o trâmite regular do processo (dolo), a
configurar uma conduta desleal por abuso de direito”, observou o ministro Marco Buzzi
no Aglnt no AREsp 1.427.716.

Indução a erro

Em caso de imprecisão das informações apresentadas, a condenação por


litigância de má-fé somente será possível se ficar demonstrado que houve alteração da
verdade com a intenção de induzir o juiz ao erro. Esse foi o entendimento aplicado pela
Terceira Turma ao afastar multa imposta pelo Tribunal de Justiça da Bahia ao Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) no REsp 1.641.154.

4.4.1. Atos atentatórios à dignidade da justiça

São condutas e os atos considerados atentatórios à dignidade da justiça, todos


aqueles que podem ser praticados pelo executado por ação (comissivo, ex.: art. 918,
parágrafo único, CPC) ou por omissão (omissivo, ex.: art. 774, V, CPC), de forma a que
dificulta ou embaraça a realização da penhora.

Todo aquele que de qualquer forma participa da execução, sobretudo o


executado, os colaboradores do processo, indicando seus bens penhoráveis, trazendo,
tempestivamente, dados e documentos que se refiram ao seu objeto e não praticando
atos que embaracem, atrasem ou dificultem o andamento da execução ou a satisfação do
crédito cobrado, é de fato um colaborador, um contribuinte a uma efetiva entrega
jurisdicional, atentar contra a dignidade da justiça é andar na via contraria.

Todo ato que tenha como objeto, obstar mediadas necessária para o
comprimento de obrigações judiciais, seja no impedimento de entrega de coisa,
ocultação de documentos, dados e informações, na tentativa de frenar o bom andamento
dos processos, estará procrastinando a ação do Estado-Juiz, e sujeita a medidas
executivas de coerção direta e indireta, tais como multa e busca e apreensão, ou outras,
mesmo atípicas, desde que por meio de decisão fundamentada.
Convém salienta que a ofensa à dignidade da justiça é presumida, não sendo
necessária a demonstração de nenhum resultado danoso. A conduta, por si só, já
constitui um atentado ao órgão jurisdicional, devendo ser punida pela sanção específica,
incorrerá em uma das condutas atentatórias, devendo ser advertido de ofício, conforme
Art. 139, III, do CPC, ou por provocação, é o que exige o Art. 772, II do CPC.

CONCLUSÕES

O presente trabalho teve como finalidade fazer um pequeno recorte, para


exposição em sala, dos temas fraudes contra credores, fraude à execução, atos
atentatórios à dignidade da justiça. O intuito aqui não foi efetuar uma discagem do tema,
nem tão pouco esgotar o assunto, mas sobre tudo, trazer uma visão rasteira, contudo de
forma a despertar interesses, para estudos mais aprofundado, no futuro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

Donizetti, Elpídio Novo Código de Processo Civil Comentado / Elpídio Donizetti – 3.


ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2018.

Didier Jr., Fredie Curso de direito processual civil: execução / Fredie Didier Jr.,
Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga, Rafael Alexandria de Oliveira - 7. ed.
rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de Direito Civil, v. 1, cit., p. 536-538;


LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, cit., p.
462 e 463.

SALAMACHA, José Eli, Fraude à execução – Direitos do credor e do adquirente de


boa-fé. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo: 2005, p. 78/153/154.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – Princípios éticos na repressão


à litigância de má-fé – papel do juiz. In Revista Jurídica. São Paulo. Junho, 2008. vol.
368.

YUSEFF SAID CAHALI, "Fraude Contra Credores", RT, 1989, pág. 641.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Jurisprudencia-do-
STJ-delimita-punicoes-por-litigancia-de-ma-fe.aspx

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm

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