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Adjudicação e Arrematação

Conference Paper · November 2014


DOI: 10.13140/2.1.3062.1762

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Prof. Dr. Marcelo Negri Soares


São Paulo
2014

Adjudicação e Arrematação

Autores: Caroline Navarro da Silva;


Miriã Alves de Souza Brandão;
Sebastião Alaide Lopes.

Resumo: O presente artigo tem o objetivo de verificar o tema adjudicação


e arrematação no processo de execução regulado pelo Código de Processo
Civil vigente (1973). Trata-se de instrumentos coercitivos do Processo de
execução que possui a finalidade a satisfação da dívida inadimplida do
executado em favor do exequente. Não temos aqui a pretensão de esgotar
o tema mais de expor os aspectos mais relevantes da adjudicação e
arrematação.

Palavras chaves: Arrematação – adjudicação – processo de execução –


Poder Judiciário.

Sumário: Introdução – 1. Adjudicação e arrematação – 1.2 Conceito –2.


Finalidade – 3. Natureza Jurídica – 4. Procedimento – 4.1 Diferenças entre
leilão e praça – 5. Auto de arrematação – 6. Desfazimento da arrematação
– 7. Carta de arrematação – 8. Efeitos da arrematação – 9.Evicção da coisa
arrematada – 10. Alterações no novo CPC – 10.1 Eliminação da praça como
meio expropriatório – 10.2 Objetivação do “preço vil” na arrematação –
10.3 Eliminação dos embargos à arrematação – 11. Considerações finais–
12. Referências bibliográficas.

p. 1
INTRODUÇÃO

O tema mostra-se relevante para ora proposto, saber se, quanto à origem,
a propriedade do bem imóvel que tem por título aquisitivo a carta de adjudicação
ou de arrematação, classifica-se como derivada ou originária, em muito facilitará
a vida do credor, ou do arrematante, tendo-se em vista os efeitos, mormente
pecuniários, duma e doutra forma aquisitiva.

Para a adjudicação, é suficiente a assinatura do adjudicante no auto


respectivo, não se impondo o elenco previsto no art. 694 do Código de Processo
Civil, se presentes os demais requisitos dos artigos 703 e 715 do mesmo Código.
Observadas estas formalidades, basta o registro do auto de arrematação ou de
adjudicação no cartório imobiliário respectivo, para que seja transferida a
propriedade.

O presente artigo abordará o que é a adjudicação e arrematação e suas


necessidades.

1. ADJUDICAÇÃO E ARREMATAÇÃO

1.2 CONCEITO

O Código de Processo Civil Brasileiro não conceitua a Arrematação,


ficando a cargo da doutrina a conceituação do instituto.

Arrematação, segundo o ilustre mestre Moacyr Amaral Santos é "o ato de


transferência coacta dos bens penhorados, mediante o recebimento do
respectivo preço em dinheiro, para satisfação do direito do credor". (1)

O notável Pontes de Miranda, ao conceituar o instituto, fazia uma


distinção entre dois sentidos que arrematação poderia ter. Assim, dizia o
professor, "em sentido de movimento processual, é a submissão do bem
penhorado ao procedimento da alienação ao público e em sentido de estática

p. 2
processual é assinação do bem, que foi posto em hasta pública, ao lançador que
ofereceu maior lanço". (2)

Todavia, impende que se diga que há uma sensível diferença entre a


arrematação, que se verifica quando a transferência faz-se a favor de terceiro,
mas se é o próprio credor quem adquire a coisa, em pagamento do seu crédito,
tal ato receberá o nome de adjudicação.

Então, ressaltada a diferença básica entre a arrematação e a adjudicação,


em que o elemento diferenciador é o sujeito que adquire a coisa, no primeiro
caso terceiro e no segundo o credor, poderemos passar adiante, fazendo uma
incursão no tema em questão.

2. FINALIDADE

A finalidade da arrematação é a realização da execução. É a conversão


em dinheiro para a satisfação do credito do exequente.

Visto que o vocábulo arrematar, segundo Pontes de Miranda (3), provém


de a, re, mactare, que tanto significava matar, imolar como prover, lançar.

Apesar de não se tratar de um pagamento forçado, podemos dizer que o


que ocorre, neste caso, é uma transferência forçada do bem penhorado, pois
este não se encontrará mais em poder do devedor. Acontece, aqui, um processo
de conversão em dinheiro, como quer Pontes de Miranda. (4)

Arrematar é pôr o termo, o ponto final. Embora o ato processual da


arrematar não seja instantâneo, é a partir dela que se extrai o auto de
arrematação e a carta de arrematação.

Dessa forma, a arrematação é um ato complexo, desdobrando-se em


várias etapas constituindo, menos um ato propriamente do que um verdadeiro
procedimento. É o momento mais importante do processo de execução, pois
transforma e converte bens em dinheiro.

p. 3
3. NATUREZA JURÍDICA

Lavra funda e antiga controvérsia doutrinaria acerca da natureza


jurídica da arrematação. Neste momento, passaremos a analisá-las de per si.

a) Contrato de direito privado. É a mais antiga das teorias. Os


interesses do credor-contraente e do devedor-contraente eram examinados
pelo juiz a cada momento e este aprovava ou não as arrematações. Então
tentaram caracterizar essa categoria jurídica como sui generis além de
privatística entre executante, ou o executado e o juiz.

b) Compra e venda judicial. Defendida pelos


praxistas portugueses e, no Brasil, por Pereira e Souza, Joaquim Inácio
de Ramalho, Teixeira de Freitas, João Monteiro, entre outros. De acordo com
esses juristas, a arrematação seria uma compra e venda feita pelo juiz, agindo
este em nome do executado, suprindo a vontade do mesmo. Nessa ordem de
ideias podemos dizer que seria um contrato de compra e venda onde o
executado estaria sendo representado pelo juiz.

Então, o juiz atuaria como um gestor de negócios do devedor.

A semelhança de nomes entre penhor e penhora fez Alfredo Rocco


(5) incorrer em erro ao falar que o juiz concorreria, como órgão do Estado, para a
realização do direito à venda, que teria o credor, por seu direito de penhor. Ocorre
que a penhora não é feita pelo credor exequente, além de não conferir ao credor
o direito real de penhor sobre a coisa.

Quem primeiro se insurgiu contra essa teoria na doutrina foi Paula


Batista que asseverava que haveria, aqui, duas ficções. A primeira seria em
atribuir ao juiz o poder de suprir o consentimento do devedor, do executado e a
segunda no fato de ver no juiz um representante do executado. Dessa forma
seriam duas ficções porque nem o executado quer vender e nem tampouco quer
dar ao juiz o poder de representá-lo na venda.

p. 4
Francesco Carnelutti, com uma teoria que não se afastava muito
da que considerava compra e venda. O jurista italiano partindo do fato da
ocorrência de casos em que a lei admite que um direito seja exercido pela
vontade de outrem, por conta do respectivo titular, como se verifica no caso dos
representantes legais de menores e incapazes, que exercem o direito destes,
onde a vontade manifestada pelos representantes, possui efeitos em relação aos
representados, assevera que na arrematação ocorre fenômeno análogo.

Neste caso, o Estado age como se representante legal do


executado fosse. Assim, para ele, é o Estado que vende pelo executado; é a
vontade do Estado que se imprime à venda judicial, mas os efeitos se produzem
como se fosse o executado que estivesse efetuando a venda.

O jurista que se opõe a esta teoria é Enrico Tulio Liebman que


fundamenta sua crítica no fato de que inexiste qualquer analogia entre o ato do
representante legal, que vende em favor do representado e o ato do Estado que,
via de regra, age contra o interesse do executado, porque age para satisfazer o
interesse público no exercício da função jurisdicional. E finaliza sua crítica
dizendo que a representação legal vem em socorro de quem não pode querer
por si próprio, quando o executado conserva sua plena capacidade.

c) Sub-rogação. De acordo com os defensores desta teoria, o juiz


procede ad instar debitoris, ou seja, sub-rogando, na venda, a vontade do
devedor, não o representando.

Todavia, da mesma forma em que o juiz não pode representar o


devedor, nem ser o seu gestor de negócios, também não poderá sub-rogar-se
nos direitos do executado pelos mesmos motivos expostos acima. Dito de outra
maneira, o juiz não poderá atuar em defesa do executado.

Quanto a esse aspecto, cabe ressaltar que o fato de o processo


de execução ter como princípio a realização com o menor sacrifício para o
devedor, isto não significa que o juiz atuará ao lado do executado no processo,
seja como gestor de negócios, representante ou sub-rogatário.

Além disso, merece destaque a constatação de que o executado

p. 5
não perde o direito de alienar a coisa, que apenas se torna ineficaz em relação
ao processo em que se fez a penhora.

d) Arrematação fundada no poder estatal. Esta teoria tem como


principal defensor Giuseppe Chiovenda. O brilhante doutrinador assevera que
na arrematação há a venda dos bens do executado pelo Estado, que,
previamente, expropria do executado a sua faculdade de dispor. Com isso, esta
teoria elimina a idéia de representação do devedor, pois o que o Estado fará,
será executar a sua faculdade de venda.

Nessa ordem de idéias, podemos concluir que o Estado, utilizando-


se do seu poder soberano, desapropria do Estado a sua faculdade de dispor dos
direitos quanto aos bens que sejam objeto da execução e, então, vende os bens
ao arrematante. Desta forma, teríamos uma venda judicial com características
de um contrato feito pelo Estado.

Mas devemos entender que o ato da penhora não confere ao


Estado o poder de dispor, ao contrário, apenas tira o poder de dispor eficazmente
contra o exeqüente. Tanto é assim, que até que seja publicada a sentença de
arrematação, o devedor tem o direito de remição dos bens penhorados.

e) Ato de expropriação. Para a melhor doutrina, tendo como


defensores, Pugliatti, Goldschumidt, Liebman, Paula Batista, Alfredo Buzaid,
Frederico Marques, Humberto Theodoro Jr., José Carlos Barbosa Moreira, entre
outros, o órgão jurisdicional transfere diretamente ao arrematante os bens do
executado para, dessa maneira conseguir satisfazer o direito do exequente.

Assim, de acordo com os defensores dessa teoria, a arrematação


caracterizar-se-ia como um ato de expropriação, vez que o Estado, por meio do
seu órgão jurisdicional, expropria os bens do executado, transferindo a terceiro.
Então, essa seria a maneira pela qual se conseguiria o dinheiro para satisfazer o
direito do exequente.

Neste sentido Liebman ensina que a arrematação é um ato


expropriatório, em que o órgão judicial "no exercício de sua função, transfere a
título oneroso o direito do executado para outrem". (6)

p. 6
A conversão do bem em dinheiro que é feita pelo Estado não pode
ser confundida com a figura da compra e venda, ou da desapropriação. Aqui, a
desapropriação do bem não é o fim do ato mas, pelo contrário, é meio para que
se possa chegar à arrematação e a consequente conversão em dinheiro que,
esta sim, é a finalidade do ato expropriatório.

O que se pretende é que a dívida seja solvida e que o credor seja


satisfeito no seu crédito. Dessa forma, o Estado chama para si o direito de
executar forçadamente e, tendo esse monopólio o credor não poderá, por sua
própria conta, retirar das mãos do devedor o bem para saldar a dívida. Por isso
não podemos entender que pudesse se tratar de um ato de venda e compra
porque se trata de um ato de direito público e que segundo Paula Batista "o
Estado está no uso de suas forças, para reduzir o condenado à obediência do
julgado". (7)

Há ainda que se verificar a diferença entre hasta pública e contrato


de compra e venda, de direito público ou de direito privado. Na hasta pública há
a invitatio ad offerendum, para que haja a oferta de aquisição e, então, o negócio
jurídico se torne bilateral, que se dá no ato de aceitação do lance.

4. PROCEDIMENTO

Na fase inicial do procedimento de arrematação, encontramos os


atos que visam dar publicidade à alienação forçada. Essa publicidade pode dar-
se em relação ao público em geral e, especificamente, para o devedor, que
também deverá ser informado, e de forma especial, acerca da alienação do bem.

A publicidade que se dá na direção do público em geral, que


podemos chamar de genérica, deve ser feita através de editais e é a lei que
estabelece os elementos que este edital deve conter, os quais analisaremos a
seguir.

Mas o devedor tem o direito de ser informado, e de uma forma


específica, acerca do ato pelo qual perderá o seu bem. Então, a lei define, no

p. 7
artigo 687, § 5º do CPC, que o devedor deverá ser informado pessoalmente do
dia, hora e local da alienação judicial.

De acordo com a súmula 121 do E. STJ, também "na execução


fiscal o devedor deverá ser intimado, pessoalmente, do dia e hora da realização
do leilão".

Neste momento é importante ressaltar que nos casos de bem


aforado ou gravado por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto, o credor
pignoratício, hipotecário, anticrético ou usufrutuário, além do senhorio direto
deverão ser informados, sob pena de ineficácia do ato em relação a estes,
conforme reza o art. 619 do CPC.

A razão de ser dessa norma é que essas pessoas têm interesse


especial em relação ao bem, vez que a lei civil estabelece preferência a estes na
aquisição do bem. Então, é indispensável que estas pessoas saibam que o bem
será alienado e, querendo, compareçam para exercer a preferência.

E o artigo 698 da Lei Adjetiva diz que não poderá ser realizada
praça de imóvel hipotecado, sem que o credor hipotecário seja intimado com,
pelo menos, 10 (dez) dias de antecedência.

Apesar dessa regra referir-se expressamente ao imóvel aforado


ou hipotecado, devemos conjugá-la com o artigo 619, supracitado e aplicá-la aos
casos de credor pignoratício, anticrético e usufrutuário.

Ainda impende asseverar que, ex vi, do artigo 27 do Decreto-lei


25, de 30 de novembro de 1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico
e artístico nacional, sempre que os agentes de leilões tiverem de vender bens
tombados, deverá ser intimada a pessoa jurídica de direito público que tem o
direito de preferência sobre o bem.

A sanção, para a inobservância é a ineficácia da alienação em


relação a essas pessoas, que poderão, sempre, mediante depósito da
importância devida, exercer a sua preferência, se não tiver sido intimadas,
mesmo depois de consumada a arrematação.

p. 8
No caso de execução de hipoteca de vias férreas (art. 699, do
CPC), as pessoas jurídicas não serão intimidas previamente, ao contrário, serão
intimadas somente após a arrematação.

Após a publicidade, vem a fase da licitação pública. Por este


motivo é que existem os editais, para que apareçam o maior número de
interessados para oferecerem os lanços.

Conforme preceitua o parágrafo único, do artigo 692 do CPC, a


arrematação será suspensa logo que o produto da alienação dos bens bastar
para o pagamento do credor.

Isto significa que, no momento em que se alcance dinheiro


suficiente para se solver a execução, pelo pagamento da dívida (principal e juros)
e das custas, interrompe-se a arrematação.

Na verdade, o que ocorre não é uma suspensão da arrematação,


mas sim a sua interrupção.

A consequência da interrupção é que não haverá mais a


continuação da arrematação com a alienação dos bens seguintes.

Esta licitação denomina-se hasta pública. E esta licitação pode se


dar de dois modos, quais sejam, praça e leilão.

4.1 DIFERENÇAS ENTRE LEILÃO E PRAÇA

O atual Código de Processo Civil prevê que, no caso de bens


imóveis, será realizada a praça (art.697 do CPC), e, sendo outra a natureza dos
bens penhorados, o leilão (art.704 do CPC), com as ressalvas do art.700 do
Código de Processo Civil.

Segundo José Carlos Barbosa Moreira (8), diferem a praça e o leilão


em que:

p. 9
1.aquela se realizará no átrio do edifício do fórum; este, onde
estiverem os bens, no lugar designado pelo juiz (art.686, § 2º);

2.ao contrário do que sucede na primeira, são obrigatoriamente


apregoados os bens, no segundo, por leiloeiro público, da escolha do credor
(art.706), correndo-lhe certas obrigações e responsabilidade peculiares, como a
de receber e depositar, dentro em 24 horas, à ordem do juízo, o produto da
alienação, e a de prestar contas, ao órgão judicial, nas 48 horas subsequentes
ao depósito (art.705, nº V e VI);

3.as despesas com a praça são todas carregadas ao devedor, ao


passo que, no leilão, é ao arrematante que incumbe pagar a comissão
estabelecida em lei ou arbitrada pelo juiz para o leiloeiro (art.705, nº IV).

É admitido lançar todo aquele que estiver na livre administração


de seus bens (parágrafo 1º, do art.690, do CPC), inclusive o credor (parágrafo 2º
do mesmo dispositivo legal).

Na primeira praça ou leilão poderá ocorrer a arrematação dos bens


penhorados somente se oferecidos lanços superiores ao valor da avaliação (686,
VI, do CPC). Já na segunda praça ou leilão poderão ser oferecidos lanços
inferiores ao valor da avaliação. Entretanto, não será aceito lanço que ofereça
preço vil. Na prática, preço vil é aquele de valor inferior a cinqüenta por cento do
valor da avaliação.

5. AUTO DE ARREMATAÇÃO

Decorridas 24 horas da realização da hasta pública, será lavrado


o auto de arrematação (art.693 do CPC), que deverá ser assinado pelo juiz,
escrivão, arrematante e pelo porteiro ou leiloeiro (art.694 do CPC). O prazo de
24 horas é concedido para o exercício do direito de remição (art.788 do CPC).

O auto de arrematação tem duplo valor: de forma e de ultimação


do negócio jurídico da arrematação.

p. 10
A lei não diz que a falta do auto de arrematação é causa de
nulidade da arrematação, vez que a arrematação sem auto, é arrematação que
não se perfez, não se acabou. Como o auto é condição pro substância da
arrematação, não se pode falar em nulidade desta, uma vez que ainda não foi
consumada.

Outra questão importante é a da nulidade do auto. Neste caso,


houve um auto, mas por lhe faltar algo, este se torna nulo e, decretada a nulidade
do auto, cai a própria arrematação, ainda que em si não tenha sido nula.

Assinado o auto a arrematação considera-se perfeita, acabada e


irretratável. A anulação do auto de arrematação dentro da própria execução
afronta o art.5º, XXXVI, da Constituição Federal. Todavia, pode a arrematação
ser embargada pelo executado no prazo de 10 dias (art.746 do CPC) ou, no
prazo de 5 dias, pelo terceiro em defesa de direito que eventualmente lhe couber
sobre a coisa (art.1046 do CPC).

Após a assinatura do auto de arrematação parece encerrada a


alienação judicial. Contudo, "a transferência de domínio, em nosso sistema
jurídico opera pela tradição, além do auto é necessária a entrega das coisas
móveis, quando a arrematação versar sobre tais bens, ou a transcrição no
Registro Imobiliário quando se tratar de bens móveis. (9)"

6. DESFAZIMENTO DA ARREMATAÇÃO

Todavia a arrematação poderá desfazer-se. O fato de ser


irretratável não significa que não poderá desfazer-se. Irretratável significa que o
comprador não poderá mais retratar-se, voltar atrás, mas há hipóteses em que,
a despeito de já assinada, a arrematação se desfaz.

Os casos de desfazimento da arrematação estão dispostos no


parágrafo único, do artigo 694, do CPC.

O primeiro caso de desfazimento expresso no artigo 694 ocorre


quando há vício de nulidade na arrematação em si mesma, por exemplo se o

p. 11
juiz é incompetente em relação à matéria ou, ainda, se o bem arrematado era
impenhorável.

Quando se tratar de vício por nulidade, o desfazimento poderá ser


declarado ex officio ou a requerimento da parte interessada, quando o processo
de execução ainda esteja em curso.

A arrematação também poderá ser desfeita se não for pago o

preço ou prestada caução. O preço da arrematação deve ser pago à vista


ou até o momento em que se assina o auto, podendo ser estabelecido um prazo
de três dias para pagamento desde que seja mediante caução.

Há um caso em que, a despeito de ter sido assinado o auto, poderá


ser desfeita a arrematação. É o que ocorre quando o arrematante provar, nos
três dias seguintes, a existência de ônus real não mencionada no edital (art. 694,
parágrafo único, III, do CPC).

A arrematação ainda pode ser desfeita através de acolhimento de


embargos do devedor.

Com efeito, o artigo 746 do CPC dispõe que é licito ao devedor


oferecer embargos à arrematação fundados em nulidade da execução,
pagamento, novação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à
penhora.

Assim, se forem acolhidos os embargos, a arrematação se desfaz.

Além da possibilidade de desfazimento da arrematação via


embargos do devedor, podemos citar ainda a possibilidade através de embargos
de terceiro.

O artigo 1.046 da Lei Adjetiva prescreve que quem, não sendo


parte do processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de
apreensão judicial, em casos como o de penhora, alienação judicial, entre outros,
poderá requerer lhe sejam mantidos ou restituídos por meio de embargos.

p. 12
Nessa ordem de ideias, supondo que, por equivoco, tenha sido
apreendido e lavado a licitação pública bem que não pertencia ao devedor, o
proprietário do bem (terceiro no processo) poderá utilizar-se do remédio jurídico
dos embargos de terceiro para defender seu bem que foi penhorado e
arrematado indevidamente.

As decisões do juiz dentro do processo de arrematação terão


natureza de decisão interlocutória sendo, portanto, passíveis de agravo. Todavia,
quando se tratar de decisões concernentes aos embargos, sejam eles do
devedor ou de terceiro, o recurso cabível será a apelação.

7. CARTA DE ARREMATAÇÃO

Como dissemos anteriormente, assinado o auto, a arrematação já


pode ser considerada perfeita e acabada. Mas, para que o título do domínio se
transfira, é preciso que haja a tradição da coisa, ou a transcrição no registro de
imóveis, dependendo se se trata de bem móvel ou imóvel.

Então, para ensejar o registro da transferência do imóvel (artigos


530, I e 532, III, do Código Civil), será necessária a lavratura de carta de
arrematação, que deverá obedecer ao disposto no art.703 do Código de
Processo Civil.

Esta carta de arrematação é um titulo de aquisição do


arrematante, tirado dos autos. Com efeito, a carta de arrematação é o documento
judicial hábil para a transcrição no registro de imóveis ou em outros registros.

Há os que advogam a tese de que a natureza do auto de


arrematação é de sentença, por todos Silvestre Gomes de Morais. (10) Por outro
lado, há quem defenda que não trata-se de sentença pois que, contra ele, não
caberá, por exemplo, ação rescisória, conforme decidiu a 2ª Câmara Cível do
Tribunal de Apelação do Rio Grande do Sul, em 14 de janeiro de 1942, R.
F., 91,190). (11)

p. 13
Quando se tratar de bem móvel, a tradição far-se-á mediante
expedição de mandado ao depositário para que seja entregue ao arrematante,
independente da carta de arrematação.

A carta deverá ser expedida pelo escrivão e assinada pelo juiz, no


caso de execução de hipoteca de linhas férreas, proceder-se-á a intimação do
representante da Fazenda Nacional ou do Estado, para utilizar ou não, o seu
direito de preferência, tendo para isso, o prazo legal de 30 (trinta) dias.

8. EFEITOS DA ARREMATAÇÃO

Segundo Liebman (12), a arrematação perfeita e acabada produz os


seguintes efeitos:

1. Transfere o domínio do bem ao arrematante;

2. Transfere para o preço depositado pelo arrematante o vínculo da


penhora;

3. Torna o arrematante e seu fiador devedores do preço, nos casos


em que a arrematação é feita a prazo;

4. Obriga o depositário judicial ou particular, ou eventualmente o


devedor a transferir ao arrematante a posse dos bens arrematados;

5. Extingue as hipotecas sobre o imóvel arrematado.

Acrescenta-se aos efeitos da arrematação mencionados por


Liebman a transferência ao arrematante do direito aos frutos pendentes, com a
obrigação de indenizar as despesas havidas com os mesmos, e ainda,
subrogam-se no preço os impostos sobre o imóvel arrematado, vencidos
anteriormente à arrematação (art. 130, parágrafo único, do CTN), de acordo com
os ensinamentos do mestre Moacyr Amaral Santos.

Ressalta-se que, conforme previsto no parágrafo 2º do artigo 690


do Código de Processo Civil, se o arrematante for o credor, não será necessário
o depósito do valor da arrematação.

p. 14
Porquanto, se no caso da arrematação pelo credor não há depósito
do valor da arrematação, pode-se concluir que não há o efeito da transferência
do preço depositado pelo arrematante para o vínculo da penhora, via de
consequência não haverá entrega de dinheiro, como pagamento ao credor.

9. EVICÇÃO DA COISA ARREMATADA

Questão que deve ser enfrentada neste momento é aquela que se


refere a quem deverá responder pela evicção no caso da coisa arrematada.

Para os que consideram a arrematação um ato de natureza de


compra e venda, no qual o devedor é o vendedor, este responderá pela coisa
arrematada. Esta solução era dada pelos praxistas, que consideravam ainda,
que o exequente deveria responder subsidiariamente, pois era ele quem
embolsava o dinheiro, preço da arrematação no caso de devedor insolvente.

Há os que não viam na figura do executado um devedor e, em


razão disso, advogavam a tese de que ele, o executado, não tem
responsabilidade. Terá o evicto o direito de reclamar do exequente a repetição do
que foi indevidamente pago.

Outros, ainda, como Liebman, que não consideravam a


arrematação uma compra e venda e nem aceitavam que se poderia falar em
evicção, pois este instituto seria inerente aos contratos e, não tendo a
arrematação natureza de contrato, não se poderia cogitar em evicção no caso.
Todavia, considerando que é inegável o direito daquele que pagou sem causa,
reaver o preço, quem se enriqueceu indevidamente deveria ser obrigado a
ressarcir. Nessa linha de raciocínio, caberia ao executado a restituição, pois ele
que se beneficiou, pois livrou-se das dividas à custa de bens alheios. Contudo,
via de regra, o executado é insolvente, devendo, então, o arrematante, repetir
dos credores o que receberam, pois, embora tivessem direito ao pagamento, não
poderiam se beneficiar com a alienação de bens de terceiros.

p. 15
Para solucionar toda essa divergência doutrinária, o Código Civil
de 2002 estabelece, no artigo 447, que o devedor responde perante o comprador
pela evicção da coisa objeto da compra. E que, mesmo em se tratando de objeto
adquirido em hasta pública, ainda assim subsistirá esta garantia, devendo o
vendedor responder pela evicção do bem, perante o comprador.

10. ALTERAÇÕES DO NOVO CPC

10.1 ELIMINAÇÃO DA PRAÇA COMO MEIO EXPROPRIATÓRIO

O Código em vigor, segundo longa tradição do direito processual


brasileiro, prevê duas modalidades de hasta pública para praticar a
expropriação executiva:

a praça, para os bens imóveis, e o leilão, para os móveis (CPC, art. 686,
IV). O Projeto elimina essa dicotomia, para adotar apenas o leilão, que 21 se
pretende seja praticado de forma eletrônica ou presencial (art. 802, II). Aponta,
outrossim, para o caráter preferencial do meio eletrônico (art. 804, § 1º).

Aos Tribunais é atribuído o detalhamento do procedimento da alienação


com o concurso de meios eletrônicos (art. 803. § 3º), de modo que apenas
quando as condições da sede do juízo não permitirem o uso de tal técnica, é que
o leilão será presencial (art. 804, § 1º).

10. 2 OBJETIVAÇÃO DO “PREÇO VIL” NA ARREMATAÇÃO

Tal como já prevê o Código em vigor (art. 692), o Projeto não permite que
na hasta pública o bem penhorado seja arrematado por “preço vil” (art. 809,
caput). Entretanto, sempre foi um problema de difícil definição jurisprudencial o

p. 16
de conceituar e estimar, in concreto, quando o lance formulado no leilão deva ser
qualificado como representativo de preço vil.

Optando por uma solução pragmática, o Projeto qualifica como vil “o preço
inferior a cinquenta por cento do valor de avaliação” (art. 809, parágrafo único).
Reconhecendo, contudo, que circunstâncias particulares do caso concreto
podem aconselhar a adoção de outro parâmetro, o dispositivo aludido ressalva a
hipótese de o juiz fixar outro limite de preço mínimo a ser observado na alienação
judicial. É claro, portanto, que o padrão de cinquenta por cento funcionará apenas
como regra geral, que, por isso mesmo, poderá ser alterado para mais ou para
menos por decisão judicial. A deliberação, porém, haverá de ser tomada antes
do leiloamento e figurará no respectivo edital, para que não haja surpresa para
os interessados.

10.3 ELIMINAÇÃO DOS EMBARGOS À ARREMATAÇÃO

As nulidades ou vícios da execução que possam comprometer a eficácia


da arrematação serão arguidas e solucionadas como incidente processual dentro
do próprio procedimento executivo, sem necessidade de instauração de uma
ação própria, como são os atuais embargos à arrematação.

Mas, segundo o Projeto, esta forma sumária do incidente somente


prevalecerá “enquanto não for expedida a carta de arrematação ou a ordem de
entrega” (art. 826, § 2º). Lembre-se que a carta de arrematação é necessária
quando o bem licitado é imóvel para servir de título a ser transcrito no Registro
Imobiliário.

Para as coisas móveis, há apenas uma ordem judicial, endereçada ao


depositário, para que entregue ao interessado o bem arrematado (Projeto, art.
803, § 2º). Igual regime se observa também em relação à adjudicação (Projeto,
art. 800, § 1º). Quando a carta de arrematação ou a ordem de entrega já

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houverem sido expedidas, não será mais admitida sua invalidação dentro do
processo executivo. O vício invalidante terá de ser argüido em ação autônoma,
“na qual o arrematante figurará como litisconsorte necessário” (Projeto, art.
826, § 3º).

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vislumbra-se, ao final, que o objetivo maior do legislador com a reforma


trazida pela Lei nº 11.382/2006 foi, precipuamente, tornar a adjudicação e
arrematação como medidas expropriatórias a fim de satisfação do credor.

Para a adjudicação, é suficiente a assinatura do adjudicante no auto


respectivo, não se impondo o elenco previsto no art. 694 do Código de Processo
Civil, se presentes os demais requisitos dos artigos 703 e 715 do mesmo Código.
Observadas estas formalidades, basta o registro do auto de arrematação ou de
adjudicação no cartório imobiliário respectivo, para que seja transferida a
propriedade.

Foi de extrema importância o objeto deste trabalho pois, pudemos ter uma
visão melhor de tais institutos , tão importantes para o processo de execução.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRUDA ALVIM, José Manoel; ASSIS, Araken de; ALVIM, Eduardo Arruda.
Comentários ao Código de Processo Civil. 1ªed. Rio de Janeiro: GZ, 2012, pág.
1126.

ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 11. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007,pág. 765.

p. 18
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O Novo Processo Civil Brasileiro. 19ª edição.
Rio de Janeiro: Forense, 1997.

BUENO, Cassio Scaprinella. Curso sistematizado de direito processual civil. 6ª


ed. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 3, p. 343⁄344.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. II. 3ª edição.
Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2000.

LIEBMAN. Enrico Tulio. Processo de Execução, 4ª edição. São Paulo: Editora


Saraiva, 1980.

MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo X.


(Arts. 612 a 735). Rio de Janeiro: Forense, 1976.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. Volume


3. 4ª edição. São Paulo: Saraiva, 1980-1981.

SHIMURA, Sérgio Seiji. Título Executivo. 2ª ed., São Paulo: Método, 2005.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 16ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

NOTAS

1 Santos, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil.


Volume 3. 4ª edição. São Paulo: Saraiva 1980-1981.
2 Miranda, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo X.
(Arts. 612 a 735). Rio de Janeiro: Forense, 1976.
3 Miranda. Pontes de. op.cit.

4 Miranda. Pontes de. op. cit.

5 Rocco. Alfredo. Apud, Miranda. Pontes de. op. cit.

6 Liebman, Enrico Túlio. Apud, Miranda, Santos, Moacyr Amaral. op. cit.
7 Paula Batista. Apud, Miranda, Pontes de. op.cit.

p. 19
8 Barbosa Moreira, José Carlos. O Novo Processo Civil Brasileiro. 19ª
edição.
Rio de Janeiro: Forense, 1997.
9 Theodoro Junior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 16ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 1996.
10 Pontes de Miranda. op. cit.

11 Pontes de Miranda. op. cit.


12 Liebman. Enrico Túlio. Processo de Execução, 4ª edição. São Paulo:
Editora Saraiva, 1980

Acesso em: 11 de outubro de 2014

Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5895

p. 20

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