Você está na página 1de 4

Prof. Vladimir – Aula de 19/03/2020 – DIREITO CIVIL IV – 4º.

DA CESSÃO DE CRÉDITO

CONCEITO: “É a transferência que o credor faz a outrem de seus direitos”.


(Clóvis Bevilacqua)

O Direito Romano não admitia a cessão de crédito e, por isso, era efetuada
através de meios indiretos, como a novação ou pela constituição de um
procurador.

SUJEITOS: A cessão de crédito envolve as pessoas do cedente (aquele que


transfere seus direitos), do cessionário (aquele que adquire os direitos) e do
cedido (o devedor, que não intervém no ato, mas que precisa ser cientificado
da transferência para saber a quem deve fazer o pagamento).

ESPÉCIES: Pode ser legal, quando decorrente de lei (casos de sub-rogação


legal – art. 349; e a cessão dos acessórios como consequência da cessão do
principal – art.287): judicial, quando o juiz supre a declaração de cessão por
quem tenha a obrigação de fazê-lo; e convencional, quando decorrente da
vontade dos interessados, podendo ser a título oneroso ou a título gratuito.

O assunto é tratado a partir do art. 286 CC, que permite a cessão se não a
impedir a natureza da obrigação (alimentos, p.ex. - art. 1707), a lei (crédito
penhorado, p.ex. – art.298) ou a convenção com o devedor (as partes podem
estabelecer que o crédito não será cedido).

A cessão de um crédito, salvo disposição em contrário, envolve os acessórios


(art. 287), como, p.ex., os juros, e para valer contra terceiros deve ser feita
por escrito (art. 288) e por instrumento público, quando o crédito é
constituído por essa forma, como no caso do crédito hipotecário, podendo o
cessionário fazer averbação no Registro de Imóveis (art. 289).

Há créditos, porém, que são transmitidos por simples endosso, como no caso
das cambiais, regidas por lei própria.

O art. 290 exige a notificação da cessão ao devedor, que pode ser feita por
qualquer forma, bastando que se possa provar que o mesmo dela teve ciência.
A ausência de notificação libera o devedor que pagar ao credor primitivo
(art, 292, primeira parte). Por outro lado, mesmo antes da notificação pode o
cessionário exercer atos conservatórios de seu direito (art. 293).
No caso de várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar
com o título do crédito cedido (art. 291), e se o devedor for notificado de
mais de uma cessão, deve pagar ao cessionário que se apresentar, juntamente
com o instrumento da cessão, também com o da obrigação cedida, salvo se
o crédito foi constituído por instrumento público, caso em que deve pagar
àquele de quem por primeiro recebeu a notificação (art. 292, segunda parte).

O devedor pode apresentar contra o cessionário as defesas que lhe


competirem, como, p.ex., prescrição ocorrida após a cessão, e também as
que, no momento em que ficou ciente da cessão, tinha contra o cedente, v.g.,
nulidade do título (art. 294).

O cedente, na cessão onerosa e também na gratuita quando agiu de má fé,


responde pela realidade do crédito, ou seja, se o crédito inexistir (título nulo
ou já quitado, p.ex.), responderá perante o cessionário (art. 295).

Por outro lado, pela solvência do devedor o cedente só responde se houver


expressamente se responsabilizado (art. 296) e, neste caso, responderá
apenas pelo valor recebido do cessionário, ou seja, se o crédito era de R$
1.000,00 mas foi cedido por R$ 700,00, este será o valor a ser assumido pelo
cedente, além dos juros, despesas da cessão e despesas da cobrança (art.
297).

Quando o cedente não assume a responsabilidade pela solvência do devedor


(art. 296) trata-se de cessão “pro soluto”; quando a assume (art. 297), a
cessão é “pro solvendo”.

Por fim, nos termos do art. 298, o crédito, depois de penhorado, não pode
mais ser cedido pelo credor que tiver conhecimento da penhora, pois o
devedor deverá depositar o valor à disposição do juízo em que foi feita a
penhora. Mas se o devedor não tinha conhecimento da penhora e pagar ao
credor, ficará exonerado, e os direitos do terceiro que penhorou o crédito
deverão ser exercidos contra o credor que o recebeu.

DA ASSUNÇAO DA DÍVIDA
CONCEITO: Também chamada de cessão de débito, consiste na substituição
do devedor na mesma relação obrigacional.

Como se vê, neste caso a transferência a outra pessoa se dá no polo passivo


da obrigação e a pessoa que assume a dívida denomina-se assuntor.

Diferentemente da cessão de crédito, em que o devedor não precisa


concordar com a transferência, na assunção da dívida o credor precisa
aquiescer expressamente (art. 299), pois tem todo o interesse em saber quem
é o novo devedor, se é idôneo, se tem patrimônio para responder pela dívida,
etc., pois o devedor primitivo, com a transferência, fica exonerado, salvo se
o credor ignorava a insolvência do novo devedor à época da assunção (art.
299 “in fine”). Por isso mesmo, se o credor, notificado, silenciar, presume-
se que recusou a assunção pretendida (parágrafo único), salvo no caso de
assunção de dívida por adquirente de imóvel hipotecado, caso em que o
silêncio do credor equivale a concordância (art. 303), pois neste caso o
imóvel adquirido permanece garantindo o pagamento da dívida e, assim, o
credor não fica prejudicado.

Com a transferência da dívida, consideram-se extintas as garantias especiais


oferecidas pelo devedor primitivo, como, p.ex., hipoteca oferecida por
terceiro, salvo assentimento deste em continuar respondendo também pela
dívida (art.300).

Se a substituição vier a ser anulada, restaura-se a dívida com suas garantias;


mas as garantias dadas por terceiro só se restauram se este conhecia o vício
que impedia a cessão (art. 301).

Como dispõe o art. 302, o assuntor só pode opor ao credor as defesas pessoais
dele e, por óbvio, as comuns a ele e ao devedor primitivo, como prescrição,
p.ex., mas não pode opor defesas pessoais do devedor primitivo, como, p.ex.,
compensação de crédito que este tinha com o credor.

OBRAS SUGERIDAS PARA CONSULTA

- Silvio de Salvo Venosa


- Carlos Roberto Gonçalves
- Pablo Stolze Gagliano e Rodolpho Pamplona Filho

Você também pode gostar