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Direito Civil

OBRIGAÇÕES
PROFª. JULIANA LUIZ PREZOTTO
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
oCessão de crédito
oCessão de débito
oAssunção de dívida
oCessão de contrato

Embora a obrigação seja um vínculo pessoal, não é imóvel, nem imutável.


(Credor e devedor como personagens, cujos atores são passíveis de
substituição).
Cessão de Crédito
Art. 286 a 298 do CC
oÉ o negócio jurídico por meio do qual o credor transmite o crédito
a um terceiro, mantendo-se a relação que havia com o devedor.
◦ Credor – cedente
◦ Terceiro – cessionário
◦ Devedor – cedido
oCostuma ser pactuado com propósito lucrativo, o que não
impede, contudo, que seja pactuado de forma gratuita.
oVia de regra, o crédito pode ser cedido, assim como
pode ser cedido qualquer outro bem material.
oO crédito não pode ser cedido, entretanto, se a isso se
opuser:
oA natureza da obrigação;
oA Lei;
oA vontade das partes - credor e devedor podem estipular
cláusula impeditiva de cessão a terceiros.
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se
opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o
devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser
oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do
instrumento da obrigação.
oEm relação à cláusula que impede a cessão, é
necessário que esteja expressa no contrato, sob
pena de não poder ser oposta em face do
terceiro/cessionário de boa-fé.
Importante: no processo de execução, o cessionário é
trazido como parte legítima para promover a execução
forçada em sucessão ao exequente originário (Art. 778, I
do CPC)
◦ Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título
executivo.
◦ § 1º Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao
exequente originário:
◦ [...] III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for
transferido por ato entre vivos;
oA cessão do crédito abrange todos os
acessórios (Art. 287).
A cessão pode existir e ser válida quando apenas constituída
por instrumento privado. Entretanto, para que tenha eficácia
em relação a terceiro (art. 288):
◦ Ou se celebra por meio de instrumento público;
◦ Ou precisa ser revestida dos requisitos do art. 654, §1º do CC
◦ Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante
instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.
◦ § 1  O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado,
 

a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga


com a designação e a extensão dos poderes conferidos.
Cessão de crédito hipotecário
oArt. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a
cessão no registro do imóvel.
oCessão de crédito hipotecário (Art. 289 do CC)
◦ Hipoteca é direito real de garantia, que é estudado no âmbito do direito das
coisas. A hipoteca é registrada na matrícula do imóvel, de forma que todos os
que tiverem acesso à matrícula saibam que ela existe.
◦ Lembra-se que o que é cedido É O CRÉDITO, não a hipoteca em si; a hipoteca
vem junto porque é garantia.
◦ O crédito com garantia de hipoteca pode ser cedido, sendo que o cessionário
tem o direito de averbar a cessão no registro do imóvel, para garantir seus
direitos e a publicidade da cessão.
Notificação do devedor
oÉ necessária a notificação do devedor para que a cessão tenha
eficácia; e se dá por notificado o devedor que em escrito público
ou particular se declara ciente da cessão feita (Art. 290).
oNão é necessário notificar o devedor de que houve a cessão para
que ela seja válida. O que ocorre é que o devedor precisa ser
notificado para que seja eficaz em relação a ele.
oOBS: isso não significa que a cessão fica sem efeitos, “letra
morta” enquanto o devedor não for notificado. Muito pelo
contrário.
Hipótese de mais de uma cessão de crédito
Há a possibilidade de o credor ceder o mesmo título mais de
uma vez. Nesses casos, prevalece a cessão na qual se transferiu
também o título (o documento) que representa a obrigação.
É o caso por exemplo de um entrave entre uma cessão verbal e
uma em que há transferência do título.

◦ Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se


completar com a tradição do título do crédito cedido.
Pagamento
Caso o devedor pague ao cedente (credor ‘anterior’) sem
saber da cessão, o pagamento é válido. A mesma regra cabe
para o caso de mais de uma cessão, ocasião em que será
válido o pagamento feito àquele que apresenta o título de
obrigação além do documento de cessão, dentre todas as
outras que foram notificadas (art. 292 do CC).
◦ No caso do pagamento ao cedente, cabe àquele que recebeu
restituir tais valores ao cessionário. A boa-fé do devedor
permanece sendo parâmetro para quitação.
Quanto ao pagamento, o critério de prioridade de
notificação (quem notifica primeiro) prevalece se o crédito
originário constar de escritura pública (Art. 292).
◦ Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da
cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão
notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o
da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública,
prevalecerá a prioridade da notificação.
CRÉDITO DE R$ 3.000,00

Claudia Josefo
Atos conservatórios do direito cedido
O cessionário, enquanto “novo credor”, pode promover todos atos
de conservação e proteção do débito cedido.
◦ Importante – o novo credor pode, inclusive, inscrever o nome do
devedor em cadastros de proteção ao crédito, promover o
protesto do título e dar prosseguimento aos atos de execução no
processo executivo, dentre outros – independentemente da
notificação do devedor.
◦ Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor,
pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido.
Oposição de exceções
oEmbora a posição do devedor permaneça a mesma, não se
pode agravá-la tão somente em razão da cessão.
oA partir do momento em que ele é notificado, poderá opor exceções
tanto em relação ao cedente quanto ao cessionário (incapacidade,
defeitos do negócio jurídico, dentre outras exceções).
o Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem,
bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha
contra o cedente.
Responsabilidade pelo crédito
Em suma, o cedente é responsável por garantir a existência,
veracidade e autenticidade do crédito que cede. Isso significa que se
responsabiliza caso tenha cedido um crédito que já havia sido pago
em uma obrigação já resolvida.
Entretanto, nesses casos, a responsabilidade do cedente assume
feições diferentes a depender se a cessão foi promovida de forma
gratuita ou onerosa.
oNas cessões de crédito onerosas, o cedente responde pelo valor do
crédito cedido, considerando a data em que foi cedido;
oNas cessões de crédito gratuitas, o cedente responde apenas se
comprovada a má-fé – conhecimento do cedente da inexistência do
débito.
o Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize,
fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe
cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver
procedido de má-fé.
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não
responde pela solvência do devedor.
oCessão pro soluto – é aquela em que o cedente não responde
pela solvência do devedor
oCessão pro solvendo – é aquela em que o cedente responde
pela solvência do devedor, por estipulação das partes.
oA regra é que o cedente não responda pela solvência do
devedor, salvo estipulação em contrário.
Via de regra, o cedente não se responsabiliza pela solvência do
devedor; mas se por acaso se responsabilizar, isso se dá apenas
no limite daquilo que recebeu de pagamento do cedente.
Nesse caso, se o devedor for insolvente, o cedente precisa
ressarcir as despesas da cessão e as despesas com cobrança.
oArt. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do
devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-­lhe as despesas da cessão e
as que o cessionário houver feito com a cobrança.
Cessão em caso de penhora
oOcorre, geralmente, no contexto da execução.
oA partir do momento em que ocorre a penhora, a transferência do crédito
penhorado por parte do cedente pode levar ao reconhecimento de fraude à
execução.
oSe o devedor pagar o débito, entretanto, sem saber da penhora, fica exonerado
do pagamento; cabe ao exequente, nesse caso, buscar os direitos em face do
cessionário.

o Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que
tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela,
fica exonera­do, subsistindo somente contra o credor os di­reitos de terceiro.
Cessão de débito/assunção de dívida
oÉ livre ao devedor transmitir o débito a terceiro, desde que com a ciência do
credor.
oNesse caso, o devedor primitivo fica exonerado da dívida, a não ser que
aquele que assumiu a dívida (assuntor) já fosse insolvente (isso porque seria
uma maneira de utilizar a situação como manobra), sem o conhecimento do
credor. Nesse caso, o devedor primitivo segue no polo passivo como devedor
subsidiário.
oSe o credor, de má-fé, sabia da insolvência do assuntor, exonera o devedor
primitivo da dívida.
o Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando
exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
- O credor pode se recusar e as partes podem dar a
ele prazo para anuência; mas seu silêncio é
considerado recusa, não anuência.
Garantias
oAs garantias que tenham sido prestadas por terceiros se
extinguem com a cessão do débito, a não ser que haja
expressa concordância deles pela manutenção.
oAs garantias prestadas pelo devedor primitivo também se
extinguem se ele não concordar com a assunção das
garantias.
Art. 300 do CC -Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor
primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as
garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.
oInterpretação do artigo dada pelo enunciado nº 352 da IV Jornada
de Direito Civil:“Salvo expressa concordância dos terceiros, as
garantias por eles prestadas se extinguem com a assunção da dívida;
já as garantias prestadas pelo devedor primitivo somente serão
mantidas se este concordar com a assunção.”
oAs garantias prestadas por terceiros não se restauram se a
substituição do devedor for anulada e se o débito for
restaurado, a não ser que tais terceiros soubessem do vício
que maculava a assunção.
oEntretanto, as garantias prestadas pelo devedor se restauram.
o Art. 301 do CC.  Se a substituição do devedor vier a ser anulada,
restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava
a obrigação.
oExceções pessoais só se opõem à pessoa que as
porta, o que significa que o novo devedor não
pode opor ao credor as exceções pessoais que
competiam ao credor primitivo.
oArt. 302 do CC -  novo devedor não pode opor ao credor as
exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.
Art. 303 do CC – alteração da regra do consentimento do
credor
◦ No caso de adquirente de imóvel hipotecário, o credor é
notificado a impugnar a transferência do débito em 30 (trinta) dias,
sob pena de se presumir sua anuência.
◦ Se nos outros casos é preciso manifestação no sentido do aceite da
assunção, nesse é necessário tão somente que o credor não se
oponha.
Cessão de contrato/de posição contratual
É aquela por meio da qual se opera a transferência da posição
contratual como um todo, sem que se possa identificar a
fragmentação dos elementos jurídicos que compõem a posição
contratual.
Seria a forma mais completa de transmissão de obrigações.
◦ Exemplo: contrato de mandato – transfere-se a terceiro por meio de
substabelecimento sem reserva de poderes.
◦ Modificação de titularidade da empresa – o adquirente assume o posto do
antigo titular em todos os direitos e obrigações que decorrem dos vínculos
empregatícios mantidos.
Requisitos: a) negócio jurídico entre cedente e cessionário;
b) integralidade da cessão (cessão global); c) a anuência
expressa da outra parte (cedido)  nem sempre.
Parte da doutrina entende que não existe cessão de
contrato e sim cessão de débito cumulada com cessão de
crédito.
01
Ano: 2022 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-RJ Prova: CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ -
Delegado de Polícia
Acerca da transmissão das obrigações, prevista no Código Civil Brasileiro, assinale a opção correta. 
A. A cessão de contrato, também chamada cessão de posição contratual, é vedada no direito
brasileiro, mesmo se ambos os contratantes estiverem de acordo com a cessão.  
B. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. 
C. Na cessão de crédito, salvo estipulação em contrário, o cedente responde pela solvência do
devedor. 
D. Na cessão de crédito pro solvendo, o cedente responde apenas pela existência e validade do
crédito cedido.
E. Na assunção de dívida, o novo devedor pode opor ao credor todas as exceções pessoais que
competiam ao devedor primitivo.
02
Ano: 2021 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de Guarujá – SP Prova: VUNESP - 2021 - Prefeitura de Guarujá - SP
- Procurador Jurídico
Sobre a cessão de crédito, assinale a alternativa correta. 
A. Na cessão por título oneroso, o cedente, desde que expressamente previsto no negócio jurídico, fica
responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu.
B. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele
recebeu, com os respectivos juros e não tem o dever de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o
cessionário houver feito com a cobrança.
C. O cedente responde pela solvência do devedor, salvo se ignorava o estado de insolvência deste no momento
da cessão.
D. Na cessão a título gratuito, o cedente somente é responsável pela existência do crédito ao tempo da cessão
se tiver procedido de má-fé. 
E. O crédito, uma vez penhorado, poderá ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o
devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os
direitos de terceiro.
03
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Por conta de mútuo oneroso, João devia a Teresa a importância de cem mil reais. No intuito de
ajudar o amigo em dificuldade, Leopoldo assumiu para si a obrigação de João, para o que houve
expressa anuência de Teresa. Nesse caso,
A. João ficará exonerado da dívida, salvo se Leopoldo, ao tempo da assunção, fosse insolvente e
Teresa ignorasse essa sua condição.
B. Leopoldo poderá opor a Teresa as exceções pessoais que competiam a João.
C. se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito de João, sem nenhuma
garantia, independentemente de quem a tenha prestado.
D. preservam-se as garantias especiais originariamente dadas a Teresa por João,
independentemente do assentimento dele.
E. João responderá apenas pela metade da dívida, ainda que Leopoldo não cumpra a obrigação
assumida perante Teresa.
TJPR
RECURSO INOMINADO. DIREITO BANCÁRIO. INSCRIÇÃO EM ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. CESSÃO DE CRÉDITO. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA
NOTIFICAÇÃO DO CESSIONÁRIO. CONTRATO APRESENTADO. AUSÊNCIA DE
PROVA DO PAGAMENTO DA DÍVIDA. INSCRIÇÃO DEVIDA. COBRANÇA VEXATÓRIA
NÃO COMPROVADA. SENTENÇA REFORMADA. Recurso conhecido e provido.
(TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0018269-73.2021.8.16.0182 -
Curitiba - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS
ESPECIAIS FERNANDA DE QUADROS JORGENSEN GERONASSO - J. 03.10.2022)

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