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e do ministério público
produzido por: Carlos Roberto de c. Jatahy e Anabelle Macedo Silva
5ª edição
ROTEIRO De CURSO
2008.2
Sumário
Organização da Justiça e do Ministério Público
– Poder Judiciário;
– Ministério Público; e
– as demais Instituições constitucionalmente incumbidas das funções essenciais à Jus-
tiça, que são: Advocacia Pública, Advocacia e a Defensoria Pública.
atendidas as demais qualificações exigidas em lei, que a desempenha com múnus público
em atendimento a ministério conferido pela Constituição Federal1.
Por fim, a Defensoria Pública, prevista na Constituição Federal como instituição
essencial à função jurisdicional do Estado, está incumbida da orientação jurídica e a defesa
em todos os graus, gratuitamente, dos necessitados.
Este é o panorama a ser vislumbrado.
O curso foi montado com base na constatação de que um bom profissional do direito
necessariamente precisa conhecer as instituições estatais que integram o sistema de Justiça,
a forma como operam, que funções institucionais desempenham e que competências lhes
foram atribuídas pelo constituinte e pelo legislador.
Só assim, tendo o domínio desses conceitos técnicos, o futuro profissional poderá ma-
ximizar a utilização do sistema em todas as suas instâncias, formando opinião e pensamento
crítico para o aprimoramento e transformação das estruturas examinadas.
Procura-se, por meio da utilização de diferentes metodologias, uma abordagem analí-
tica e uma visão crítica como elementos permeadores de todo o curso. O objetivo é a intera-
tividade dos alunos com o conteúdo apresentado e o caráter cooperativo que deve propiciar
uma aproximação maior entre alunos e professor.
Como o programa incorpora conteúdos dos mais variados, como ciência política, di-
reito constitucional, direito administrativo, teoria geral do processo e organização judiciá-
ria, algumas aulas serão mais expositivas enquanto outras serão mais abertas a discussões.
Em todos os momentos, porém, iremos adotar uma postura de incentivo ao aluno no esta-
belecimento de links com assuntos correlatos.
Durante todo o curso, casos práticos serão apresentados aos alunos, como forma de
aproximar a teoria estudada com a realidade social em que vivemos, mediante debates,
construções ideológicas e solução dos mesmos.
A Ciência do Direito, apesar de estudada de forma estratificada, requer uma visão
global para ser potencialmente compreendida. O que se idealiza é uma interdisciplinaridade
entre todos os ramos do Direito.
Durante o semestre, os alunos serão avaliados de acordo com os seguintes critérios:
Historicamente, o Poder Judiciário, apesar de estar no mesmo plano dos demais po-
deres, sempre teve uma menor participação nas decisões do Estado, em comparação com o
Executivo e o Legislativo. Isto porque, em muitos Estados da velha Europa, os juízes eram
meros servos da nobreza, atuando como longa manus do soberano. Subordinado, não podia
se desenvolver a contento.
A instauração do Estado de Direito (Estado Liberal, Constitucional) fez surgir a pri-
meira geração de direitos (direitos de liberdade, direitos civis e políticos), fazendo nascer
também a linguagem jurídica. Esta, por conter termos rebuscados e imprecisos (como, por
exemplo, “boa fé” e “mulher honesta”), provocou um distanciamento entre o Judiciário e o
povo, intermediado pelos advogados, que falavam a linguagem acessível aos magistrados.
Acrescente-se ainda que no Estado liberal e absenteísta, as questões eram relativas
às demandas individuais, em que somente se discutiam interesses particulares. Não havia
repercussão social nas decisões do Judiciário, mas já havia uma maior participação do Judi-
ciário nas questões diuturnas.
Com a instituição do Estado Social, em que o Estado passou a ser prestador de obriga-
ções (direitos sociais), criando direitos que deveriam ser providos, a inércia do Estado obri-
gava o indivíduo a buscar a solução de seus conflitos no Judiciário. Decorre daí o aumento
da demanda judicial e um conflito entre os poderes.
De fato, vamos assistir a conflitos entre o Executivo e o Judiciário na grande depressão
americana (quando a Suprema Corte quis interferir nas ações do presidente Roosevelt) e na
criação da Justiça Constitucional, quando o Judiciário interfere na decisão do Parlamento,
considerando uma lei inconstitucional.
A par disto, vamos ver a sociedade industrial criar um novo tipo de conflito. O conflito
meta-individual ou transindividual, com um número muito grande de interessados na sua
solução: as denominadas “class actions”. O Judiciário sai de uma posição secundária e subal-
terna para uma situação de protagonista, sendo capaz de produzir conseqüências profundas
nas relações sociais, políticas e do cotidiano. O juiz, antes inerte, passa a adotar uma postura
mais ativa, podendo, por exemplo, paralisar a construção de uma estrada que está afetando
o equilíbrio ecológico em uma determinada região; obrigando o Estado ao fornecimento de
medicamentos básicos aos hiposuficientes; determinando a Administração Pública a contra-
tar médicos e professores, visando a plena implementação de políticas sociais.
No Estado Democrático de direito hoje existente, em que o Estado, o direito e a
sociedade assumem um compromisso com a Constituição, o Judiciário passa a ter uma
importância maior, diante de seu maior ativismo judicial.
Conseqüentemente, surge a necessidade de um maior controle sobre o “Gigante ador-
mecido”. Afinal, controle faz parte da teoria dos “checks and balances”.
A Constituição Brasileira de 1988, seguindo esta tendência mundial dos países demo-
cráticos, conferiu ao Poder Judiciário lugar de destaque, confiando-lhe a tutela de direitos
subjetivos até mesmo contra o Poder Público e a função de efetivar os direitos e garantias
individuais, abstratamente inscritos em seu texto.
2. A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
Com efeito, a Organização Judiciária tem como objetivo estabelecer normas sobre a
constituição dos órgãos encarregados do exercício da jurisdição. Para análise da matéria,
deve-se partir de três premissas básicas:
De fato, a primeira premissa denota que para se conhecer a estrutura do Poder Judi-
ciário brasileiro deve-se conhecer a Constituição Federal. Esta constatação é conseqüência
da garantia do Juiz Natural, também conhecida como “Princípio da naturalidade do Juízo”
(HC 73.801-MG, Celso Mello, DJU 27.06.1997), positivada no texto constitucional no
Artigo 5º, LIII (“Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competen-
te”.). Esta expressão significa que o juiz natural ou a autoridade competente, no Brasil, é o
órgão jurisdicional cujo poder derive de fontes constitucionais, de competência devidamen-
te indicada pela Constituição Federal.
Assim, só é legítimo o juízo previsto pela Constituição e reconhecido por ela como
natural, invalidando-se, em razão deste princípio, qualquer órgão jurisdicional criado à
margem da Carta Magna, também chamado de juízo de exceção (Art. 5º, XXXVII, da CF:
“Não haverá Juízo ou Tribunal de exceção”). Nesta dimensão, o Artigo 92 da Constituição
estabelece a estrutura do Poder Judiciário brasileiro, integrado por diversos órgãos, repu-
diando todos aqueles que ali não se encontrem como integrantes do Poder Judiciário, ainda
que recebam a denominação de juiz ou tribunal. Logo, não integram esta estrutura – e, por-
tanto, não são órgãos do Poder Judiciário – o Tribunal Marítimo, os Tribunais de Contas,
da União e dos Estados e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
A segunda premissa decorre do princípio do dualismo judiciário, por meio do qual
convivem, no mesmo sistema, um Poder Judiciário organizado pela União e o Poder Judi-
ciário organizado por cada Estado-membro da Federação. Há, portanto, em decorrência
de tal premissa, o Poder Judiciário da União (também chamado por muitos de Federal) e
diversos Poderes Judiciários Estaduais, formando o Poder Judiciário Nacional.
A União organiza e mantém as Justiças Especializadas (ou, Especiais) do Trabalho,
Eleitoral e Militar da União; e a Justiça Comum Federal e Comum do Distrito Federal e
Territórios. É de sua responsabilidade, também, o Supremo Tribunal Federal e o Superior
Tribunal de Justiça. Por sua vez, cada Estado-membro organiza, de acordo com sua Cons-
tituição, o respectivo Poder Judiciário local (Art. 125 da Constituição Federal), composto
da Justiça Comum Estadual e da Justiça Militar Estadual. Cabe ressaltar que as Justiças
administradas pela União possuem sua estrutura definida na Constituição Federal, sendo
sua organização judiciária definida em legislação federal. Já as Justiças Estaduais têm sua
estrutura definida nas Constituições Estaduais, respeitadas as diretrizes fixadas na Consti-
tuição Federal (Art. 125, caput). Sua organização judiciária é fixada por meio de legislação
estadual, em regra denominada Código de Organização Judiciária.
Finalmente, a terceira premissa, denominada princípio do duplo grau de jurisdição.
Por tal princípio, toda causa que ingressa no Sistema Judiciário está sujeita a um duplo
exame: o exame inicial, que é o julgamento originário da causa, e um exame posterior, que
possui caráter revisional do primeiro julgamento. Por este princípio, haverá a possibilidade
de duas decisões válidas e completas num mesmo processo, emanadas por juízes diferentes,
prevalecendo sempre a segunda sobre a primeira. Consoante decisão do STF, a formulação
do duplo grau de jurisdição exige que o exame inicial e o exame posterior, também cha-
mado de reexame, sejam promovidos por órgãos jurisdicionais diversos. Neste teor: “Para
corresponder à eficácia instrumental que lhe costuma ser atribuída, o duplo grau de jurisdição
há de ser concebido, à moda clássica, com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um
reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado a órgão diverso do
que a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária.”(ROHC nº 79.785-7/RJ. Min.:
Sepúlveda Pertence. DJU 22/11/2002).
Esta terceira premissa, denominada duplo grau de jurisdição, possui os seguintes
fundamentos:
(b) Coibir o arbítrio do juiz. O juiz que sabe que sua decisão pode ser reformada
pelo tribunal superior, sente-se vigiado, controlado e cede com menos freqüência à
tentação do arbítrio. Já o juiz que sabe que sua decisão é irrecorrível, possui maior
tendência ao arbítrio, até mesmo em busca de uma justiça melhor que a justiça da
lei. Ele acaba vendo na irrecorribilidade, se não tiver um espírito crítico muito agu-
çado, um poder absoluto, fazendo a melhor justiça da sua consciência, que não é
necessariamente a justiça da lei.
(c) Melhorar a qualidade das decisões. O juiz pode ter examinado mal a prova, ou
a matéria ser muito complexa, ou ainda pode ter uma opinião jurídica que não é a
melhor, não é aceita pelos tribunais superiores. Uma segunda oportunidade de julga-
mento dá ao tribunal de superior instância a oportunidade de examinar a causa com
base na motivação do juiz de primeiro grau e outros fundamentos, além daqueles
expostos pelo juiz na sua decisão. Dois julgamentos aumentam a probabilidade de
acerto da decisão. Neste contexto, percebe-se que temos, portanto, na terminologia
brasileira, juízos, que são órgãos de primeiro grau, em regra monocráticos, ou seja,
o julgamento é realizado por um único juiz, e temos também os tribunais, órgãos
de segundo grau, cujo julgamento, em regra, se dá de forma colegiada. São órgãos
inferiores e superiores.
3. A MAGISTRATURA NACIONAL
1. Nacionalidade brasileira – aqui não existe distinção entre brasileiros natos ou na-
turalizados, sendo vedado somente o acesso aos estrangeiros.
2. Diploma de bacharel em Direito – curso de Direito em faculdade oficial ou reco-
nhecida pelo Ministério da Educação.
3. Três anos de atividade jurídica – inovação trazida pela Emenda Constitucional nº
45. Como a expressão “atividade jurídica” não é muito precisa, logo após a publica-
ção da Emenda, iniciou-se uma discussão a respeito de sua definição. A matéria hoje
se encontra regulamentadas pela Resolução nº 11 do Conselho Nacional de Justiça,
na forma que se coloca abaixo.
“Art. 1° Para os efeitos do artigo 93, I, da Constituição Federal, somente será compu-
tada a atividade jurídica posterior à obtenção do grau de bacharel em Direito.
Art. 2° Considera-se atividade jurídica aquela exercida com exclusividade por ba-
charel em Direito, bem como o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive
de magistério superior, que exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico,
vedada a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior à colação
de grau.
Art. 3° Serão admitidos no cômputo do período de atividade jurídica os cursos de
pós-graduação na área jurídica reconhecidos pelas Escolas Nacionais de Formação e Aperfei-
çoamento de Magistrados de que tratam o artigo 105, parágrafo único, I, e o artigo 111-A,
parágrafo 2º, I, da Constituição Federal, ou pelo Ministério da Educação, desde que integral-
mente concluídos com aprovação.
Art. 4° A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a cargos, em-
pregos ou funções não privativos do bacharel em Direito será realizada mediante certidão
circunstanciada, expedida pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições
exercidas e a prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante de conheci-
mento jurídico.
Art. 5° A comprovação do período de três anos de atividade jurídica de que trata o
artigo 93, I, da Constituição Federal, deverá ser realizada por ocasião da inscrição definitiva
no concurso.
estaduais (Art 94 da CF) e federais (art. 107,I; 111-A,I; 115,I; 123, Parágrafo único, I e II
da CF). A partir de uma de uma lista tríplice encaminhada pelo próprio Tribunal, o gover-
nador do estado escolherá um de seus integrantes para nomeação, matéria que estudaremos
mais profundamente no decorrer do curso.
Durante este período de prova, o magistrado deverá prestar conta de sua atuação por
meio de relatórios periódicos, além das correições a que será submetido.
A Emenda Constitucional nº45 acrescentou mais um requisito. Trata-se da necessária
participação do magistrado em cursos oficial ou reconhecido por escola nacional de forma-
ção e aperfeiçoamento de magistrados3.
A inamovibilidade, por sua vez, consiste na impossibilidade de se remover membro
da instituição do órgão onde esteja lotado, sem a sua manifestação voluntária.
A inamovibilidade não sofre exceção sequer em caso de promoção, que não pode ocorrer
sem a aquiescência do magistrado. Em caso de interesse público, porém, reconhecido pelo voto da
maioria absoluta do Tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, dispensa-se essa anuência.
Por fim, a irredutibilidade de subsídios emerge da necessidade de se garantir ao juiz,
para o bom desempenho de suas relevantes funções institucionais, imunidade a eventuais
retaliações dos governantes no que concerne à diminuição de sua remuneração.
Ressalte-se, porém, que tal garantia não é impeditiva da incidência de quaisquer tribu-
tos sobre os vencimentos dos juízes.
As garantias de imparcialidade são impedimentos constitucionais dos juízes que
consistem em vedações que visam a dar-lhes melhores condições de imparcialidade, repre-
sentando, assim, uma garantia para os litigantes.
O juiz é impedido, consoante o Artigo 95, parágrafo único da CF, de:
Este inciso V é mais uma inovação trazida pela Reforma do Judiciário – EC nº 45.
Trata-se da quarentena, imposta aos juízes e membros do Ministério Público6.
A finalidade da norma é preservar a imparcialidade-neutralidade dos juízes e tribunais
nos quais o ex-juix ou ex-promotor tenha atuado. O trabalho, como é sabido, cria laços de
amizade e companheirismo entre colegas da profissão. Surge daí a necessidade de se evitar o
tráfico de influência que poderia ocorrer nestes casos.
Parte dos estudiosos festeja a inovação, sendo um dos reclamos atendidos pelo constituin-
te derivado, como garantia de uma maior imparcialidade nas decisões do Poder Judiciário. 3
Artigo 93, II, c da Constituição
Outros, porém, criticam a forma como isto restou estipulado: Federal.
4
O CNJ aprovou a Resolução
34, de abril de 2007, que
“A norma não se apresenta apta a inibir o exercício da advocacia nos termos estipulados, regulamenta a atividade de
magistério pelo Magistrado.
vez que juízes e promotores poderão utilizar-se de outras pessoas para atuarem em seu nome. Basicamente, veda ao magis-
Ademais, não será pelo mero decurso do período de três anos (prazo temporal desacompa- trado o exercício de atividade
de magistério ligada à gestão.
nhado de qualquer outra exigência mais firme) que os possíveis laços de amizade e influência
5
Artigo 95, parágrafo único da
de um magistrado desaparecerão. Pelo contrário, o comum é que a mera passagem do tempo Constituição Federal.
os fortaleça, se já existiam realmente. Se não existiam, o problema não se põe e a restrição é 6
Artigo 128, §6º da Constitui-
inadmissível. Assim, a medida não se mostra eficaz na prática. ção Federal.
Há um pressuposto sinistro, além disso, de que juízes e promotores, que até então eram
responsáveis pela prestação da Justiça, no dia seguinte passariam a adotar atitudes imorais e
desonestas, para atender a interesses pessoais escusos.
Por fim, impedir pura e simplesmente, o exercício da advocacia, por juízes ou promo-
tores que se aposentaram ou foram exonerados, significa restringir direitos individuais, o que
só tem sentido se for para salvaguardar o interesse público, o que não parece ser facilmente
demonstrável no caso em tela.7”
- Autonomia funcional
Da instituição Autogoverno - Autonomia administrativa
- Autonomia financeira
- Vitaliciedade
Garantias de
- Inamovibilidade
independência
- Irredutibilidade de subsídios
- exercício de outro cargo ou função, salvo uma de
magistério;
- recebimento de custas e participações em
processos;
- dedicar-se à atividade político-partidária;
Garantias - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios
ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
Dos membros previstas em lei;
Garantias de - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do
imparcialidade qual se afastou, antes de decorridos três anos
(vedações) do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração;
- manifestar-se, por qualquer meio de
comunicação, opinião sobre processo pendente
de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo
depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças,
de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e
em obras técnicas ou no exercício do magistério;
- exercer funções nos Tribunais de Justiça
Desportiva e em Comissões Disciplinares.
7
TAVARES, André Ramos. Re-
forma do Judiciário no Brasil
Finalmente, cabe ressalvar que os magistrados, face ao regime jurídico especial que Pós-88. Saraiva, 2005, p.86.
possuem, têm ainda prerrogativas e deveres previstos na LOMAN, onde se destacam: 8
Artigo 36, III da Lei Comple-
mentar 35/79.
Prerrogativas do Magistrado
“Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:
I - ser ouvido como testemunha em dia, hora e local previamente ajustados com a au-
toridade ou Juiz de instância igual ou inferior;
II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial competente
para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará
imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja
vinculado (vetado);
III - ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado-Maior, por ordem e à
disposição do Tribunal ou do órgão especial competente, quando sujeito à prisão antes do
julgamento final;
IV - não estar sujeito à notificação ou à intimação para comparecimento, salvo se expe-
dida por autoridade judicial;
V - portar arma de defesa pessoal.
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por
parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribu-
nal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
Deveres do Magistrado
“Art. 35 - São deveres do magistrado:
I - Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições
legais e os atos de ofício;
II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar;
III - determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos
prazos legais;
IV - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados,
as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qual-
quer momento, quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência.
V - residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar a que estiver
subordinado;
VI - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se
ausentar injustificadamente antes de seu término;
VIl - exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no que se refere
à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das partes;
VIII - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.”
Todas estas garantias e deveres, que constituem uma “blindagem” para o exercício
pleno das atividades da magistratura, são imprescindíveis à democracia, à perpetuidade da
separação dos poderes e ao respeito aos direitos fundamentais, configurando suas ausências,
supressões ou mesmo reduções, obstáculos inconstitucionais ao Poder Judiciário, no exercí-
cio do seu mister constitucional.
Recentemente, em outubro de 2007, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal
decidiu afetar ao Plenário o julgamento do recurso extraordinário em que se discute se o
foro especial por prerrogativa de função estende-se ou não àqueles que se aposentam em
cargos cujos ocupantes ostentam tal prerrogativa. A matéria, ainda está para ser julgada,
agora pelo Plenário do STF e devemos estar atento a esta decisão que poderá inovar o en-
tendimento da questão junto ao Pretório Excelso.
FGV DIREITO RIO 16
organização da justiça e do ministério público
Quanto aos Juízes de primeiro grau que são convocados pelos Tribunais de Justiça
para exercer a função de desembargador, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que eles
não possuem a prerrogativa de foro prevista no artigo 105 da Constituição Federal. A prer-
rogativa é vinculada ao cargo e não ao eventual exercício da função em substituição:
Caso de sedimentação 1:
Leitura obrigatória
HC 86581/DF. Rel. Min. Ellen Gracie, 23/2/2006, disponível no sítio eletrônico do Su-
premo Tribunal Federal
Caso de sedimentação 2:
Uma das soluções encontradas para se acabar com a crise no Judiciário foi a sua Re-
forma, ocorrida em 2004, com a EC nº 45, que criou o então órgão de controle externo,
denominado Conselho Nacional de Justiça.
Tal criação já foi objeto de Ação de Declaração de Inconstitucionalidade, ADIN nº
3367, julgada em abril de 2005, tendo como relator o ministro Cezar Peluso, tendo sido
reconhecida a constitucionalidade do Conselho Nacional de Justiça.
Abaixo, a decisão da Suprema Corte:
Desta forma, três são os pontos caracterizadores do CNJ que afastam a possibilidade de
declaração de sua inconstitucionalidade sob alegação de interferência na separação de Poderes:
Resta, portanto, agora, saber quais são as tão discutidas atribuições do CNJ.
A Constituição Federal trouxe, em seu Artigo 103 –B, § 4º, um rol exemplificativo das
mais importantes atribuições do CNJ. Passam elas pelo controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Vejamos:
“§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras
atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magis-
tratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário,
podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências neces-
sárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas
da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,
inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais
e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da
competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares
em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou
proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, asse-
gurada ampla defesa;
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública
ou de abuso de autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e mem-
bros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas,
por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a
situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensa-
gem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por
ocasião da abertura da sessão legislativa.”
Para uma maior aproximação do Conselho Nacional de Justiça com a sociedade, ga-
rantindo maior efetividade na sua atuação, a EC nº 45/2004 previu ainda no Art. 103-B,
§7º, a criação de Ouvidorias de Justiças, com competência para receber reclamações e de-
núncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra
seus serviços auxiliares, representando diretamente ao CNJ.
Questão que tem encontrado grande divergência jurisprudencial e doutrinária diz
respeito aos limites do poder normativo do CNJ. A Reforma do Judiciário lhe conferiu a
importante atribuição de zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do
Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua com-
petência, ou recomendar providências.
Porém, quais os limites destes atos regulamentares? Seriam eles regulamentos au-
tônomos? Teriam eles força de lei?
próprio Poder Judiciário, por meio de concessão de medidas liminares, por exemplo, de caráter
jurisdicional. Não pode o CNJ romper com os princípios da reserva da lei e da reserva de juris-
dição. O poder de expedir atos regulamentares tem um objetivo específico, qual seja, o controle
administrativo. Aliás, essa é a ratio essendi da criação do CNJ. Tratando-se de atos de fiscalização
administrativa, apenas podem dizer respeito à situações concretas. Essa é a distinção. A matéria
reservada à lei, geral e abstrata, diz respeito a previsão de comportamentos futuros. Já a matéria
reservada aos atos regulamentares do CNJ diz respeito as diversas situações que surjam da ativi-
dade concreta dos juízes, exercendo o CNJ um controle destas. São dois os limites, portanto:
• não pode expedir atos regulamentares com caráter geral de abstrato, em face da re-
serva de lei; e
• não pode se ingerir nos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, face a cláu-
sula de proibição de restrição a direitos e garantias fundamentais, que se sustenta na
reserva de lei.
Ainda sobre o tema concurso público, assim decidiu o CNJ a respeito de limitação de
idade mínima para participar de concurso para ingresso na magistratura (www.cnj.gov.br):
O Conselho Nacional de Justiça decidiu afastar dispositivo que limita a idade mínima
para participação no concurso de número 179, de provas e títulos, para ingresso na magistratura
no Estado de São Paulo. A decisão foi tomada no dia 14 de março de 2007 em resposta ao pro-
cedimento de controle administrativo número 347, relatora a Conselheira Ruth Carvalho.
O requerente pedia a suspensão do dispositivo que limitava a participação no certame
somente daqueles que já haviam completado quarenta e cinco anos no último dia da inscrição.
A conselheira Ruth Carvalho já havia deferido liminar favorável ao requerimento e na sessão do
dia 14 confirmou sua decisão no mérito, sendo acompanhada em unanimidade pelo Plenário.
“A limitação de idade, em 45 anos, não coaduna com a interpretação sistêmica do orde-
namento jurídico pátrio e as disposições constitucionais, mais especificamente as do inciso I
do Artigo 37 e inciso XXX do Artigo 7º da Constituição Federal, além de representar afronta
aos princípios da isonomia, da razoabilidade e da legalidade, como se verá.
(...)
Certo é que a Constituição proíbe qualquer discriminação em razão da idade, notada-
mente no que se refere à inserção dos indivíduos no mercado de trabalho.
(...)
Assim, nota-se que, a legislação ordinária ou os editais de concursos públicos só pode-
rão fixar limites etários para ingresso no serviço público quando a natureza do cargo o exigir,
conforme o artigo 39, §3º. Ora, vê-se que o constituinte estipulou de forma clara e inconteste
que tais discriminações estão condicionadas à observância do princípio da razoabilidade.”
(...)
Corroborando o exposto, o egrégio Supremo Tribunal Federal, após reiterado exame da
matéria, editou a Súmula nº 683, in verbis:
“O limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º,
XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a
ser preenchido.”
(...)
Ao final, importa acrescer que, ainda que possível em determinados casos estipulação
de idade mínima ou máxima para ingresso em cargo público, tal exigência dependerá de
expressa previsão legal, em razão do princípio da legalidade, consagrado no Artigo 37, caput
da Constituição da República.
Por todo o exposto, julgo procedente o pedido para afastar, em definitivo, o disposto na
letra “b”do Edital de abertura do 179º Concurso de Ingresso na Magistratura do Estado de
São Paulo, preservando-se o mais, até o final do concurso.”
O Ministro ressaltou que o artigo 98 do RICNJ, que determina que seja ouvida a
autoridade que praticou o ato impugnado e, por edital, a oitiva dos eventuais beneficiários
de seus efeitos, no prazo de quinze dias. “A jurisprudência do Supremo não tem hesitado
em reconhecer que as garantias do due process of law (devido processo legal) também são
aplicáveis aos processos administrativos”, salientou também o ministro.
Por fim, Ricardo Lewandowski lembrou que se o ato impugnado em mandado de
segurança decorre de fatos apurados em processo administrativo, a competência do poder
Judiciário se limita ao exame da legalidade do ato, de possíveis vícios formais ou dos que
atentem contra os postulados constitucionais da ampla defesa e do devido processo legal.
Dessa forma, o ministro deferiu o pedido em parte, apenas para garantir aos magistrados
representados pela Amam o direito de manifestarem-se no prazo e nos termos do artigo 98
do RICNJ, antes que seja levado a julgamento o mérito do PCA 440.
Com a decisão, o Ministro determina que seja garantido aos magistrados o direito de
apresentar defesa escrita, antes que seja levado a julgamento pelo Conselho Nacional de
Justiça o PCA 440.
Tendo em vista o material exposto a respeito do tema “Conselho Nacional de Justiça”,
examine o caso a seguir:
Caso de sedimentação:
Art. 4° O nomeado ou designado, antes da posse, declarará por escrito não ter relação
familiar ou de parentesco que importe prática vedada na forma do artigo 2°
Art. 5° Os Presidentes dos Tribunais, dentro do prazo de noventa dias, contado da pu-
blicação deste ato, promoverão a exoneração dos atuais ocupantes de cargos de provimento
em comissão e de funções gratificadas, nas situações previstas no art. 2°, comunicando a
este Conselho.
Parágrafo único Os atos de exoneração produzirão efeitos a contar de suas respectivas
publicações.
Art. 6° O Conselho Nacional de Justiça, em cento e oitenta dias, com base nas infor-
mações colhidas pela Comissão de Estatística, analisará a relação entre cargos de provimento
efetivo e cargos de provimento em comissão, em todos os Tribunais, visando à elaboração
de políticas que privilegiem mecanismos de acesso ao serviço público baseados em processos
objetivos de aferição de mérito.
Finalmente, é importante um olhar crítico aos limites dos poderes do CNJ e de seu
congênere, o CNMP.
11
In www.leniostreck.com.br,
acesso em 20/06/06.
Para tanto, torna-se indispensável a leitura do texto abaixo, dos professores Ingo Sarlet, 12
Procurador de Justiça-RS;
Lenio Luiz Streck e Clémerson Cléve, acerca do assunto. Professor Titular da UNISINOS-
RS; Doutor em Direito (UFSC);
Pós-Doutor em Direito (Univer-
Os limites constitucionais das resoluções do Conselho Nacional de Jus- sidade de Lisboa).
pressuposto fático que acabaria por lhe conferir uma dimensão individual, porventura § 2º Compete ao Conselho
inconstitucional17. Nacional do Ministério Público
o controle da atuação adminis-
O fato de a EC 45 estabelecer que os Conselhos podem editar atos regulamentares trativa e financeira do Ministé-
não pode significar que estes tenham carta branca para tais regulamentações. Os Conselhos rio Público e do cumprimento
dos deveres funcionais de seus
enfrentam, pois, duas limitações: uma, stricto sensu, pela qual não podem expedir regula- membros, cabendo-lhe:
I - zelar pela autonomia fun-
mentos com caráter geral e abstrato, em face da reserva de lei; outra, lato sensu, que diz cional e administrativa do
respeito a impossibilidade de ingerência nos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Ministério Público, podendo
expedir atos regulamentares,
Presente, aqui, a cláusula de proibição de restrição a direitos e garantias fundamentais, que no âmbito de sua competência,
se sustenta na reserva de lei, também garantia constitucional. Em outras palavras, não se ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do
concebe - e é nesse sentido a lição do direito alemão – regulamentos de substituição de leis art. 37 e apreciar, de ofício ou
mediante provocação, a legali-
(gesetzvertretende Rechtsverordnungen) e nem regulamentos de alteração das leis (gesetzän- dade dos atos administrativos
dernde Rechtsverordnungen). É neste sentido que se fala, com razão, de uma evolução do praticados por membros ou
órgãos do Ministério Público
princípio da reserva legal para o de reserva parlamentar18. da União e dos Estados, poden-
Tratando-se, desse modo, de atos de fiscalização administrativa, estes apenas podem do desconstituí-los, revê-los ou
fixar prazo para que se adotem
dizer respeito à situações concretas. Neste caso, deverão observar, em cada caso, o respeito as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, sem
aos princípios constitucionais, em especial, o da proporcionalidade, garantia fundamental prejuízo da competência dos
do cidadão enquanto asseguradora do uso de meios adequados pelo poder público para a Tribunais de Contas;
III - receber e conhecer das re-
consecução das finalidades (previstas, como matriz máxima, na Constituição). Há, assim, clamações contra membros ou
uma nítida distinção entre a matéria reservada à lei (geral e abstrata) e aos atos regulamenta- órgãos do Ministério Público da
União ou dos Estados, inclusive
res. A primeira diz respeito a previsão de comportamentos futuros; no segundo caso, dizem contra seus serviços auxiliares,
sem prejuízo da competência
respeito as diversas situações que surjam da atividade concreta dos juízes e membros do disciplinar e correicional da
Ministério Público, que é, aliás, o que se denomina – e essa é a especificidade dos Conselhos instituição, podendo avocar
processos disciplinares em
– de “controle externo”. curso, determinar a remoção, a
Não se pode olvidar outro ponto de fundamental importância. A Constituição do disponibilidade ou a aposenta-
doria com subsídios ou proven-
Brasil estabelece no artigo 84, IV, in fine, o poder regulamentar do Chefe do Poder Execu- tos proporcionais ao tempo de
serviço e aplicar outras sanções
tivo, podendo expedir decretos e regulamentos para o fiel cumprimento das leis, tudo sob administrativas, assegurada
o controle e a vigilância do Poder Legislativo em caso de excesso (art. 49,V) e da jurisdição ampla defesa;
IV - rever, de ofício ou median-
constitucional nas demais hipóteses. Nesse sentido, fica claro que as exceções para a edição de te provocação, os processos
atos normativos com força de lei (art. 62) e da possibilidade de delegação legislativa (art. 68) disciplinares de membros do
Ministério Público da União ou
tão-somente confirmam a regra de que a criação de direitos e obrigações exige lei ou ato com força dos Estados julgados há menos
de um ano;
de lei, conforme se pode verificar na própria jurisprudência do STF (AgRg n. 1470-7)19. V - elaborar relatório anual, pro-
E mesmo a lei (stricto sensu) possui limites. É o que se chama de “limites dos limites” pondo as providências que jul-
gar necessárias sobre a situação
(Schranken-Schranken), como bem lembra Gilmar Ferreira Mendes, ao assinalar que da do Ministério Público no País
análise dos direitos fundamentais é possível extrair a conclusão errônea de que direitos, e as atividades do Conselho, o
qual deve integrar a mensagem
liberdades, poderes, garantias são passíveis de ilimitada limitação ou restrição. É preciso não prevista no art. 84, XI.
§ 3º O Conselho escolherá,
perder de vista, porém, que tais restrições são limitadas. Cogita-se aqui dos chamados limites em votação secreta, um Cor-
imanentes, que balizam a ação do legislador quando restringe direitos fundamentais. Esses regedor nacional, dentre os
membros do Ministério Públi-
limites, que decorrem da própria Constituição, referem-se tanto à necessidade de proteção co que o integram, vedada a
de um núcleo essencial (Wesengehalt) do direito fundamental, quanto à clareza, determina- recondução, competindo-lhe,
além das atribuições que lhe
ção, generalidade e proporcionalidade das restrições impostas20. forem conferidas pela lei, as
seguintes:
De frisar, por outro lado, que esse poder regulamentar conferido ao Poder Executivo I - receber reclamações e de-
(e não, por exemplo, ao Poder Judiciário ou ao Ministério Público) advém da relevante cir- núncias, de qualquer interes-
sado, relativas aos membros do
cunstância representada pela legitimidade do Presidente da República, eleito diretamente em um Ministério Público e dos seus
regime presidencialista (em países sob regime parlamentarista, essa legitimidade é do Gover- serviços auxiliares;
II - exercer funções executivas
no, confundindo-se o poder executivo com o legislativo). Mas, mesmo assim, esse poder re- do Conselho, de inspeção e
correição geral;
gulamentar – tanto no presidencialismo como no parlamentarismo – não pode criar direitos
e obrigações21. Não é demais lembrar, neste ponto, o âmbito próprio do respeito aos direitos
fundamentais, característica básica do paradigma do Estado Democrático de Direito.
Portanto, as resoluções que podem ser expedidas pelos aludidos Conselhos não podem
criar direitos e obrigações e tampouco imiscuir-se (especialmente no que tange à restrições)
na esfera dos direitos e garantias individuais ou coletivas. O poder “regulamentador” dos
Conselhos esbarra, assim, na impossibilidade de inovar. As garantias, os deveres e as vedações
dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público estão devidamente explicitados
III - requisitar e designar mem-
no texto constitucional e nas respectivas leis orgânicas. Qualquer resolução que signifique bros do Ministério Público,
inovação será, pois, inconstitucional. E não se diga que o poder regulamentar (transforma- delegando-lhes atribuições, e
requisitar servidores de órgãos
do em “poder de legislar”) advém da própria EC 45. Fosse correto este argumento, bastaria do Ministério Público.
§ 4º O Presidente do Conselho
elaborar uma emenda constitucional para “delegar” a qualquer órgão (e não somente ao Federal da Ordem dos Advoga-
CNJ e CNMP) o poder de “legislar” por regulamentos. E com isto restariam fragilizados dos do Brasil oficiará junto ao
Conselho. (...)
inúmeros princípios que conformam o Estado Democrático de Direito. 17
Cfe. CANOTILHO, J.J. Gomes.
Por derradeiro: regulamentar é diferente de restringir. De outra parte, assim como já se Direito Constitucional e Teoria
tem a sindicabilidade até mesmo em controle abstrato de atos normativos de outros poderes da Constituição. 7ª ed. Coim-
bra, Almedina, 2004, pp. 730
(leis em sentido material)22, como os regimentos internos dos tribunais, provimentos de e segs.
Corregedorias, etc, muito mais será caso de controle de constitucionalidade a hipótese de os 18
Conforme a lição do clássico
PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Ber-
Conselhos virem a expedir resoluções restringindo direitos e garantias pessoais, funcionais e nhard. Grundrechte – Staats-
institucionais23. Muito mais do que uma mera e egoística disputa por prerrogativas – como recht II, 20 ed., Heildelberg:
C.F. Müller, 2004, p. 62 e segs,
habitualmente acabam sendo qualificadas, em terrae brasilis, tentativas legítimas e democrá- assim como, dentre outros
ticas de impugnação de uma série de medidas e reformas – está em causa, aqui, a defesa enfá- tantos, SACHS, Michael, Ver-
fassungsrecht II. Grundrechte,
tica e necessária dos elementos essenciais do nosso Estado Democrático de Direito, que, por Berlin-Heildelberg-New York,
Springer Verlag, p. 118 e segs.
certo, não há de ser um Estado governado por atos regulamentares, decretos e resoluções.
19
Ver, para tanto, LEITE SAM-
PAIO, José Adercio. A Constitui-
ção Reinventada. Belo Horizon-
te, 2002, pp. 461 e segs.
QUESTÕES ACERCA DA MATÉRIA:
20
Cfe. MENDES, Gilmar Ferreira.
Direitos Fundamentais e Contro-
1) Assinale a alternativa INCORRETA: le de Constitucionalidade. Brasí-
lia, IBDC, 1998, pp. 33 e segs.
(a) A Constituição Federal assegura ao Poder Judiciário autonomia administrativa e 21
Veja-se, nesse sentido,
financeira julgados do STF apontando
para claros limites no poder
(b) Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do res-
regulamentar: ADIn MC 1247;
pectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ADInMC 1945; ADInMC 1644;
ADIn 1469.
ato normativo do Poder Público
22
Nesse sentido, ver STRECK,
(c) Os juízes não podem dedicar-se à atividade político-partidária Lenio Luiz. Jurisdição Constitu-
(d) O Supremo Tribunal Federal é competente para alterar o número de membros dos cional e Hermenêutica – Uma
Nova Crítica do Direito. 2ª. ed.
tribunais inferiores, criar e extinguir cargos e fixar vencimentos de seus membros, dos Rio de Janeiro, Forense, 2004,
juízes e, onde houver, dos serviços auxiliares e os juízos que lhe forem vinculados. em especial capítulos 10 e
segs; tb. CLÈVE, Clèmerson
(e) Os juízes não podem receber custas ou participação em processo. Merlin. Fiscalização Abstrata de
Constitucionalidade no Direito
Brasileiro. 2 ed. São Paulo, Re-
2 )Analise as afirmações abaixo: (Magistratura – TJ/SP). vista dos Tribunais, 1999.
1. Introdução
O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) são Tribu-
nais da União que possuem a especificidade de não pertencerem a qualquer das Justiças.
São, na verdade, órgãos cuja competência originária vem determinada de forma ex-
pressa na Constituição, além da competência para julgar recursos interpostos em causas que
já tenham exaurido todos os graus das Justiças comuns e especiais. São, neste último caso,
órgãos de superposição.
A principal distinção entre estes dois tribunais reside no fato do STF julgar questões exclu-
sivamente constitucionais, enquanto ao STJ compete as questões federais infraconstitucionais.
Quanto ao exercício desta competência de superposição, esses dois tribunais julgam os
recursos especial (STJ) e extraordinário (STF). São recursos de extrema excepcionalidade,
onde apenas questões de direito são apreciadas e não questões de fato.
E mais: somente exame do direito nacional (aplicação em todo o território brasileiro)
e não do direito local (estadual e municipal).
Há que se ressaltar, porém, que o sistema brasileiro não consagra a existência de uma
corte constitucional encarregada somente de resolver as questões constitucionais do proces-
so sem decidir a causa.
Esse é o modelo de Justiça constitucional europeu, que se fundamenta essencialmente
e, em regra, na noção de um Tribunal Constitucional com competência específica para co-
nhecer os litígios constitucionais.
O Supremo Tribunal Federal constitui-se, no sistema brasileiro, na corte constitucio-
nal por excelência, sem deixar de ser autêntico órgão judiciário.
O Supremo Tribunal Federal representa o ápice da estrutura judiciária nacional e arti-
cula-se quer com a Justiça comum, quer com as Justiças especiais.
Não chefia administrativamente os demais órgãos da jurisdição, face a independência
jurídica dos magistrados, mas sem dúvida os encabeça funcionalmente: o STF é a máxima
instância de superposição, em relação a todos os órgãos da jurisdição.
2. Organização
O Supremo Tribunal Federal, ao qual iremos nos ater agora de forma mais detalhada,
tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional.
Sua composição vem discriminada na Constituição Federal, Art. 101, num total de
11 membros.
Os ministros devem estar no gozo dos direitos políticos, ter mais de 35 anos e menos
de 65 de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.
Outro requisito para nomeação, encontra-se inscrito no art. 12, §3º, IV da Constitui-
ção, ao exigir sejam eles brasileiros natos.
O STF, assim como os outros tribunais, tem a prerrogativa de organizar sua atuação
interna mediante a elaboração do próprio regimento interno. O STF o fez fixando o seu
funcionamento no plenário ou em turmas. A distribuição dos 11 ministros se dá em duas
turmas, estando cinco ministros em cada uma delas, sendo certo que o presidente apenas
participa das sessões plenárias (RISTF, Art. 2º ao 4º)
O ingresso ao Supremo Tribunal Federal não se faz por carreira, mas por nomeação do
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal.
O Presidente da República, presentes os requisitos constitucionais para investidura, esco-
lhe livremente o candidato, que será sabatinado pelo Senado Federal, devendo ser aprovado pela
maioria absoluta de seus membros, para poder ser nomeado pelo chefe do Poder Executivo.
Vê-se, portanto, que o STF não exige a obrigatoriedade do bacharelado em ciências
jurídicas e, tão pouco, que seus membros sejam provenientes da magistratura. O critério
de escolha é eminentemente político, com a participação do chefe do Poder Executivo e do
Legislativo, por meio do Senado Federal.
Este critério vem gerando grandes discussões não só no meio jurídico mas também
no meio político e social, crise agravada pelo recente julgamento do chamado “Caso Men-
salão”, esquema montado para distribuir recursos para partidos aliados ao governo, provo-
cando a maior crise política no governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva. Naquele
momento, 7 (sete) dos 11 (onze) ministros que compõem o STF haviam sido indicados
pelo Presidente. Desta forma, pergunta-se:
Os critérios para a investidura do ministro do STF são justos? Leia o texto abaixo,
extraído da revista eletrônica Consultor Jurídico, de autoria de membro da magistratura.
Indicação ao Supremo
Ao invés de mudar, é melhor fazer o sistema funcionar
por Flávio Portinho Sirangelo
Está em curso o debate sobre o modo de provimento dos cargos de ministro do Supre-
mo Tribunal Federal. Já existe inclusive um projeto de emenda constitucional que tende a
restringir a ampla liberdade dada ao presidente da República para fazer a indicação. A Cons-
tituição prevê que os ministros do STF sejam nomeados pelo presidente da República, depois
de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Tudo decorre, na verdade, de um fato recente: o anúncio da iminente saída, por razões di-
versas, de alguns dos atuais ministros, o que daria ao presidente Lula, consideradas as nomeações já
feitas por ele até agora, o privilégio incomum de compor, na prática, a maioria da Suprema Corte.
A pergunta que tem sido feita é a seguinte: haverá risco de abalo à independência da
Corte Suprema e do próprio Judiciário se restar concentrado nas mãos de um único presiden-
te o poder de indicação da maioria dos juízes?
A resposta a esta indagação não é singela. Se é válida a premissa de que há um risco
para o equilíbrio dos poderes, diante da coincidência de várias sucessões de cadeiras no STF
durante um mesmo mandato presidencial, por que a atual Constituição — e bem assim as
constituições anteriores — já não teriam estabelecido um sistema diferente e mais controla-
do? A premissa, como se vê, não é necessariamente correta.
Na minha opinião, ao invés de mudar o que já existe — e correr o risco provável de
mudar para pior —, é mais razoável esperar que os ritos políticos de indicação, aprovação e
nomeação se cumpram efetivamente e se completem.
O processo de nomeação é um processo de natureza política, já que os juízes do STF
não integram qualquer tipo de carreira no serviço público, como ocorre, a contrário senso,
com os juízes das instâncias ordinárias. Por esta razão, é indispensável que o Senado faça uma
avaliação profunda e efetiva da indicação. Nesta atuação, o Senado é governo e exerce funções
executivas de governo, compartilhando-as com o presidente. É legítimo esperar, inclusive,
que o Senado exerça a tarefa de recusar a indicação se ela se mostrar equivocada do ponto
de vista do interesse republicano e institucional, mesmo que se trate de alguém possuidor de
notável saber jurídico e reputação ilibada.
Nos Estados Unidos, não é incomum a recusa pelo Legislativo de indicações judiciais
feitas pelo chefe do Executivo. George Washington, o líder da independência e primeiro pre-
sidente dos EUA, teve, ele próprio, recusada pelo Senado americano uma indicação que fez
para a Suprema Corte. O candidato John Rutlege, segundo conta a história, era qualificado,
já exercia funções judiciais e havia sido inclusive um dos convencionais que escreveram a
Constituição, mas foi mesmo assim rejeitado pela maioria dos senadores porque se opusera
ao tratado de paz com o Reino Unido.
Durante os dois séculos seguintes, muitas indicações presidenciais para a Suprema
Corte dos Estados Unidos foram recusadas no Senado por inúmeras e variadas motivações.
Entidades e organizações reconhecidas como representativas da sociedade civil participam
ativamente e influenciam as decisões do presidente e dos senadores. Dentre as motivações de
recusa, sobressaem o comprometimento excessivamente ideológico ou partidário do candida-
to, que atingiram indiscriminadamente democratas e republicanos, liberais e conservadores.
George W. Bush, o todo-poderoso presidente atual, detendo a maioria republicana nas duas
casas do Congresso em boa parte do primeiro mandato e durante todo o mandato em curso, nem
assim vem conseguindo emplacar a totalidade das suas indicações para vagas de tribunais federais.
Mais do que isso: teve de amargar a retirada de uma indicação que fez para a Suprema Corte, no
final do ano passado, em face da resistência de entidades da sociedade civil e, principalmente,
porque o Senado sinalizou a virtual recusa daquela que havia sido nomeada pelo presidente.
No momento em que escrevo, o juiz federal Samuel Alito, que foi indicado em substi-
tuição àquela frustrada nomeação, vem sendo duramente combatido pelos principais líderes
democratas no Senado americano por meio de uma rigorosa sabatina. O interrogatório dos
senadores já ocupou uma boa parte deste mês de janeiro e o indicado ainda não conseguiu,
apesar de suas inegáveis qualidades pessoais como jurista, receber o sinal verde para assumir a
cadeira que lhe foi acenada pelo presidente.
Se é possível resumir o modo de atuação do Senado dos Estados Unidos em face de
indicações do presidente para a Suprema Corte, pode-se afirmar que ele tende, independente
de quem detenha a maioria ocasional, a rejeitar os chamados “ideológicos” e a buscar alguém
que mostre capacidade para comprometer-se com os valores fundamentais do país na tarefa
de interpretar e aplicar o direito.
Como adotamos aqui o mesmo modelo e a mesma sistemática para prover os cargos de
ministro do nosso Supremo Tribunal Federal, não faríamos mal se adotássemos práticas polí-
ticas semelhantes na análise do acerto ou do desacerto da indicação feita pelo presidente.
Revista Consultor Jurídico, 25 de janeiro de 2006
O que será então este notável saber jurídico? Vocês concordam com isso?
Apesar de ser uma tradição constitucional brasileira, este requisito sempre foi ques-
tionado e criticado na doutrina. Alguns defendem um mínimo de cinco juízes de carreira
na composição do STF. Outros entendem que esta expressão deveria ser substituída por
requisitos subjetivos, como, por exemplo, 10 anos de atividade profissional como advoga-
do, membro do Ministério Público, magistrado ou comprovação da qualificação de jurista,
através do título de doutor em Direito etc.
GALERIA
Nomeados, os ministros passam DA COMPOSIÇÃO
a gozar de todas as garantiasATUAL
e impedimentos dirigi-
dos aos juízes togados, dispostos no Artigo 95 e parágrafo da Constituição.
Adquirem ainda uma prerrogativa especial, qual seja: nos crimes de responsabilidade,
são processados e julgados pelo Senado Federal (Art. 52, II, CR) e nos crimes comuns, pelo
próprio Supremo (Art. 102, I, b, CR).
Esta a atual composição do STF, consoante o sítio eletrônico da Corte (www.stf.gov.br):
Ministra Ellen Gracie
GALERIA DA COMPOSIÇÃO ATUAL
Presidente
1
organização da justiça e do ministério público
Por fim, ainda dentro da competência originária, cabe ao STF processar e julgar, ori-
ginariamente:
“Na formula “crimes comuns” compreendem-se todos os delitos, que não se capitulem
entre os denominados “crimes de responsabilidade”.
(HC 69344 / RJ - RIO DE JANEIRO - Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA - Jul-
gamento: 22/09/1992)
Como se vê, a competência do STF abrange infrações penais comuns cometidas por
pessoas que possuem foro por prerrogativa de função, enquanto durarem seus mandatos ou
cargos, esteja ou não a infração relacionada com o exercício das funções.
Conseqüentemente, cessado o exercício deste mandato ou cargo, encerra-se também o
foro por prerrogativa de função, não subsistindo mais a competência do STF.
Cabe fazer aqui um breve histórico. Até pouco tempo atrás não era este o entendimento
dominante em nossa jurisprudência. O STF havia inclusive sumulado seu entendimento a
respeito:
Essa era a regra da contemporaneidade da infração penal comum com o exercício do man-
dato. Perpetuava-se a competência do STF para o processo e julgamento dos crimes comuns
praticados, ainda quando cessados seus mandatos. Em 1999, entretanto, o plenário da Corte,
reformulando seu entendimento, cancelou a referida súmula, entendendo que a razão da Cons-
tituição de 1988, com a redação do Artigo 102, I, b, era proteger as pessoas no exercício do
mandato ou cargo. Era a dignidade da função que esteja sob proteção e não a pessoa em si.
“ Mas também não se pode, por outro lado, deixar de admitir que a prerrogativa de foro
visa a garantir o exercício do cargo ou do mandato, e não a proteger quem o exerce. Menos
ainda quem deixa de exercê-lo. (...)”
(Inquérito 687/SP – Informativo 159 do STF)
Além disso, o ministro Sydney Sanches trouxe ainda outros importantes argumentos,
mais de ordem prática, para explicar tal mudança de entendimento.
“(...) não se pode negar, por outro lado, que são eles trabalhosíssimos, exigindo dos Re-
latores que atuem como verdadeiros Juízes de 1º grau, à busca de uma instrução que propicie
as garantias que justificaram a Súmula 394.
30. Penso que, a esta altura, se deva chegar a uma solução oposta a ela, ao menos como
um primeiro passo da Corte para se aliviar das competências não expressas na Constituição,
mas que ela própria se atribuiu, ao interpretá-la ampliativamente e, às vezes, até, generosa-
mente, sem paralelo expressivo no Direito Comparado.
31. Se não se chegar a esse entendimento, dia virá em que o Tribunal não terá condições
de cuidar das competências explícitas, com o mínimo de eficiência, de eficácia e de celeri-
dade, que se deve exigir das decisões de uma Suprema Corte. Os riscos, para a Nação, disso
decorrentes, não podem ser subestimados e, a meu ver, hão de ser levados em grande conta,
no presente julgamento.”
(Inquérito 687/SP – Informativo 159 do STF)
Estamos diante de uma forte mudança estrutural no que diz respeito à competência
das Cortes revisoras devido ao incontroverso acúmulo de processos em todos os níveis do
Poder Judiciário.
São cerca de quarenta e três milhões de processos que esperam para ser julgados pela
justiça brasileira14.
A situação do Supremo Tribunal Federal se agravou após a Constituição de 1988,
conforme demonstra a doutrina15:
“Mas foi a Constituição de 1988 que alterou sobremaneira a situaçãom dando nova di-
mensão ao Poder Judiciário que, além de ter se tornado bem maior (p. ex., com a criação do Su-
perior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais), assumiu uma competência mais
ampla, incluisive com intervenção nas políticas públicas do Poder Executivo. Tudo isto, aliado à
facilidade de levar os recursos atá às instâncias superiores, inclusive o Supremo Tribunal Federal,
fez com que a Justiça se tornasse, pouco a pouco, abarrotada de processos e exposta a críticas.
A partir dos anos noventa, várias tentativas de controlar a explosão de processos e a
conseqüente morosidade foram feitas. Entre outras, a criação de varas, aumento de tribunais,
fusão de tribunais de Justiça e Alçada, criação de Juizados Especiais, inclusive Federais, convo-
cações de juízes para atuar em segunda instância, mutirões, reformas do Código de Processo
Civil, reforma do Poder Judiciário pela Emenda Constitucional 45/2004. Sem sucesso. A
morosidade continua.”
De fato, o Supremo tem buscado das mais variadas formas reduzir o número de pro-
cessos que lhes chegam todos os anos. E são muitos, considerando o número ínfimo de
11 ministros. Observe na tabela abaixo, demonstrativo de movimentação de processos no
Supremo nos anos de 2000 a 2006.
Movimentação STF 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007* TOTAL
Processos recebidos 105.307 110.771 160.453 87.186 83.667 95.212 127.535 119.324 889.455
Processos distribuídos 90.839 89.574 87.313 109.965 69.171 79.577 116.216 112.938 755.593
Julgamentos 86.138 109.692 83.097 107.867 101.690 103.700 110.284 159.522 861.990
Acórdãos publicados 10.770 11.407 11.685 10.840 10.674 14.173 11.421 22.257 103.227
Obs: Julgamentos – engloba decisões monocráticas e decisões colegiadas.
Fonte: Relatórios Anuais e Sistema Informatizado do STF
Cumpre ressaltar que, apesar da omissão legal, tem competência ainda para resolver o
conflito entre Tribunais Superiores e um juiz pertencente a outro Tribunal.
Ex: Juiz Federal X TST. Como o STJ não é tribunal hierarquicamente superior ao
TST, cumpre ao STF dirimir tal conflito.
Disso conclui-se que o STF não tem competência para dirimir dúvidas de competên-
cia entre o STJ e o Tribunal Regional Federal ou o Tribunal de Justiça Estadual, visto ser
órgão hierarquicamente superior a estes. Onde há hierarquia jurisdicional não há conflito
de competência. A decisão do STJ vincula o TRF e os TJ Estaduais.
Ao STF foi atribuída ainda pela Constituição Federal a competência recursal para julgar:
“Art. 102
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal”.
Tendo em vista que a Lei 11.418/06 produziu alterações somente no Código de Processo
Civil, surgiu na doutrina a tese que o requisito da repercussão geral somente poderia ser exigido
nos processos cíveis, os únicos até então regulamentados por lei como exige a Constituição.
O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de analisar referida argumentação,
assim decidindo em favor da exigência do requisito aos recursos extraordinários em geral,
inclusive às causas criminais:
(CF, art. 102, § 3º, red. EC 45/2004), com a regulamentação da L. 11.418/06 e as normas
regimentais necessárias à sua execução, aplica-se aos recursos extraordinários em geral, e, em
conseqüência, às causas criminais. 2. Os recursos ordinários criminais de um modo geral, e,
em particular o recurso extraordinário criminal e o agravo de instrumento da decisão que
obsta o seu processamento, possuem um regime jurídico dotado de certas peculiaridades
- referentes a requisitos formais ligados a prazos, formas de intimação e outros - que, no en-
tanto, não afetam substancialmente a disciplina constitucional reservada a todos os recursos
extraordinários (CF, art. 102, III). 3. A partir da EC 45, de 30 de dezembro de 2004 - que
incluiu o § 3º no art. 102 da Constituição -, passou a integrar o núcleo comum da disciplina
constitucional do recurso extraordinário a exigência da repercussão geral da questão consti-
tucional. 4. Não tem maior relevo a circunstância de a L. 11.418/06, que regulamentou esse
dispositivo, ter alterado apenas texto do Código de Processo Civil, tendo em vista o caráter
geral das normas nele inseridas. 5. Cuida-se de situação substancialmente diversa entre a L.
11.418/06 e a L. 8.950/94 que, quando editada, estava em vigor norma anterior que cuidava
dos recursos extraordinários em geral, qual seja a L. 8.038/90, donde não haver óbice, na
espécie, à aplicação subsidiária ou por analogia do Código de Processo Civil. 6. Nem há falar
em uma imanente repercussão geral de todo recurso extraordinário em matéria criminal, por-
que em jogo, de regra, a liberdade de locomoção: o RE busca preservar a autoridade e a uni-
formidade da inteligência da Constituição, o que se reforça com a necessidade de repercussão
geral das questões constitucionais nele versadas, assim entendidas aquelas que “ultrapassem os
interesses subjetivos da causa” (C.Pr.Civil, art. 543-A, § 1º, incluído pela L. 11.418/06). 7.
Para obviar a ameaça ou lesão à liberdade de locomoção - por remotas que sejam -, há sempre
a garantia constitucional do habeas corpus (CF, art. 5º, LXVIII). II. Recurso extraordinário:
repercussão geral: juízo de admissibilidade: competência. 1 . Inclui-se no âmbito do juízo
de admissibilidade - seja na origem, seja no Supremo Tribunal - verificar se o recorrente, em
preliminar do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação especificamente voltada
para a demonstração, no caso concreto, da existência de repercussão geral (C.Pr.Civil, art.
543-A, § 2º; RISTF, art. 327). 2. Cuida-se de requisito formal, ônus do recorrente, que, se
dele não se desincumbir, impede a análise da efetiva existência da repercussão geral, esta sim
sujeita “à apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal” (Art. 543-A, § 2º). III. Recurso
extraordinário: exigência de demonstração, na petição do RE, da repercussão geral da questão
constitucional: termo inicial. 1. A determinação expressa de aplicação da L. 11.418/06 (art.
4º) aos recursos interpostos a partir do primeiro dia de sua vigência não significa a sua plena
eficácia. Tanto que ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal a tarefa de estabelecer, em seu
Regimento Interno, as normas necessárias à execução da mesma lei (art. 3º). 2. As alterações
regimentais, imprescindíveis à execução da L. 11.418/06, somente entraram em vigor no dia
03.05.07 - data da publicação da Emenda Regimental nº 21, de 30.04.2007. 3. No artigo 327
do RISTF foi inserida norma específica tratando da necessidade da preliminar sobre a reper-
cussão geral, ficando estabelecida a possibilidade de, no Supremo Tribunal, a Presidência ou
o Relator sorteado negarem seguimento aos recursos que não apresentem aquela preliminar,
que deve ser “formal e fundamentada”. 4. Assim sendo, a exigência da demonstração formal
e fundamentada, no recurso extraordinário, da repercussão geral das questões constitucionais
discutidas só incide quando a intimação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03
de maio de 2007, data da publicação da Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007.
(AI-QO 664567 / RS - RIO GRANDE DO SUL - QUESTÃO DE ORDEM NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Essa foi a solução encontrada pelo constituinte derivado para evitar que controvérsias
concretas insignificantes, de absoluta irrelevância jurídica, sejam submetidas à apreciação
do Supremo. É uma espécie de filtragem das matérias a serem definidas pelo STF via recur-
sal. Tal requisito serve para reduzir a distribuição de recursos extraordinários ao Supremo
Tribunal Federal e racionalizar o seu processamento em todo o Poder Judiciário. Ele per-
mite que uma única decisão em cada questão constitucional. Assim, a Corte não precisa se
pronunciar em outros processos com idêntica matéria. Ao mesmo tempo, convertidos em
última instância para as ações que envolvem questões de interesse exclusivo das partes, o
Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho e os Tribunais de Justiça saem
fortalecidos.
É mais um mecanismo, como já estudado, na tentativa de reduzir o número de pro-
cessos que chegam ao STF todos os anos.
A análise dessa nova questão inaugura um sistema próximo do sistema americano, em
que os Ministros exercem um sistema de discricionariedade ao escolherem os processos que
vão julgar, e ao recusarem outros, in limine, que são classificados como questões menores.
O jurista André Ramos Tavares faz uma breve pesquisa de semelhante requisito no
direito comparado e sintetiza as hipóteses que possivelmente serão consideradas como de
repercussão geral em nosso ordenamento:
– dano moral para torcedor que se sentiu prejudicado com o rebaixamento de seu time
(RE 565.138);
– se o Estado tem que indenizar por emitir CPF em duplicidade (RE 570.846);
– possibilidade de redução de multa quando a sentença já transitou em julgado (RE
556.385);
– obrigatoriedade da colocação de semáforos em faixas de pedestres (RE 565.506). 24
TAVARES, André Ramos. Re-
forma do Judiciário no Brasil
Pós-88. Saraiva. 2005, p.101.
Outra importante inovação trazida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, em re- 25
COSTA, Priscyla. Relevância
lação ao cabimento do recurso extraordinário perante o STF, foi a ampliação das hipóteses Suprema. Disponível no sítio
www.conjur.estadao.com.
de cabimento, passando a dispor que o recurso será cabível, também, quando a decisão br. Acesso em o6 de junho de
2008.
recorrida tiver julgado válida lei local contestada em face de lei federal (alínea d). Essa
competência, antes da alteração era do STJ, que conhecia a questão através do recurso
especial. Com isso, houve o reconhecimento de que conflito entre lei local e lei federal
implica controvérsia constitucional, não meramente legal, como se entendia. Andou bem
o constituinte derivado, pois a questão envolve a partilha e exercício de competências entre
os entes federativos.
Caso de sedimentação:
Anencefalia
PIEDADE, 27 anos, auxiliar de serviços gerais de empresa privada, mãe de Lucas, 3
anos, e Felizardo, 9 anos, grávida de cinco meses, descobre em exame de ultrassonografia re-
alizado no Hospital Municipal Fernandes Figueira ser anencefálico o feto que está gestando.
Realizados exames adicionais de confirmação, foram todos unânimes no diagnóstico. PIE-
DADE, desde a descoberta, encontra-se em quadro clínico de depressão severa, não tendo
condições para o trabalho. Restam ainda quatro meses de gestação até o parto, quando o feto
não terá qualquer condição de sobrevivência. Diante deste quadro, PIEDADE manifesta
expressamente desejo de não prosseguir com a gravidez, tendo implorado ao médico obstetra
que lhe atende no hospital municipal, que interrompa a gestação e seu sofrimento. O médico
informa à paciente sua impossibilidade de interromper a gestação, mas indignado com sua
impotência frente ao sofrimento da paciente (não por falta de recursos da medicina, mas pela
interpretação de normas penais) leva a questão para discussão da Presidência da Confedera-
ção Nacional dos Trabalhadores na Saúde - CNTS. A CNTS decide propor ação judicial para
levar ao Judiciário o conflito. Como poderia ser judicializado o caso pela Confederação?
4.Súmula Vinculante
Uma grande inovação da Emenda Constitucional nº 45, com certeza a maior delas, foi
a súmula vinculante, recentemente regulamentada pela Lei nº 11.417, de 19 de dezembro
de 2006. Objeto de acirradas discussões doutrinárias já há muitos anos, veio a ser instituída
finalmente em nosso ordenamento jurídico em 2004.
“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, me-
diante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria cons-
titucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou can-
celamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas de-
terminadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e
a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou can-
celamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determi-
nará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.”
E as súmulas editadas pelo Supremo antes da EC nº 45? Será que elas ganharam
efeito vinculante automaticamente?
A Emenda 45 tratou do tema em seu artigo 8º, determinando que as súmulas anterior-
mente editadas pelo STF “somente produzirão efeito vinculante após sua confirmação por dois
terços dos seus integrantes e publicação na imprensa oficial”.
(art. 8º da EC 45/04). 3. Súmulas 634 e 635 do STF. Natureza simplesmente processual, não
constitucional. Ausência de vinculação ou subordinação por parte do Superior Tribunal de
Justiça. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.25”
E quais serão os requisitos exigidos para que estas súmulas anteriores ganhem
efeito vinculante? Será que basta o preenchimento dos dois terços dos integrantes do
STF? Ou será necessário observar todos os requisitos do Artigo 103-A?
Para Fernando Capez27 “todos os requisitos da EC nº 45/2004 deverão estar preenchidos,
pois não se podem criar duas categorias de súmula vinculante, uma com e outra sem conteúdo
constitucional.”
É o que parece que será realmente exigido tendo em vista jurisprudência encontrada
no acervo do Supremo Tribunal Federal acerca do tema:
“A súmula vinculante, além de outras sérias implicações que não comportam aborda-
gem nas linhas deste trabalho, mitigou de forma significativa os limites da coisa julgada e
impôs ao órgão jurisdicional de Superior Instância a tarefa de “dizer o direito em tese”, em
caráter genérico e universal, atribuição para a qual nunca esteve autorizado politicamente,
carecendo de legitimação democrática, a configurar, ainda, perigoso desvio de sua missão
de dizer o direito casos a caso, compondo os conflitos de interesse na exata medida de suas
realidades.”
“Não concordamos com esse posicionamento, nem tampouco nos parece que a edição
de súmulas vinculantes poderá acarretar o engessamento e conseqüente paralisia na evolução
e interpretação do Direito.
(...)
A EC nº 45/04 possibilitou ao supremo Tribunal Federal, assim como à Corte Suprema
Americana e à Câmara dos Lordes inglesa, a não vinculação ad eternum a seus próprios pre-
cedentes, podendo, a partir de novas provocações, reflexões e diversas decisões futuras, alterar
a interpretação dada em matéria constitucional e, consequentemente, proceder a revisão ou
cancelamento da súmula, o que impedirá qualquer forma de engessamento e paralisia na evo-
lução do Direito, sem, contudo, desrespeitar os princípios da igualdade, segurança jurídica e
celeridade processual.29”
Alexandre de Moraes e Fernando Capez concordam que como forma de não engessar a
atividade do julgador, este poderá, ao constatar que não há plena similitude entre a súmula
vinculante e a matéria no caso concreto que está sendo apreciada, concluir pela presença de
um elemento diferenciador e não aplicar a súmula, desde que o faça fundamentadamente.
É o que ocorre de maneira semelhante no direito norte-americano por meio de um
mecanismo processual chamado distinguishing, ou seja, é a distinção entre o caso concreto e
o precedente judicial, quando não será obrigatório o uso deste último.
Este é o cenário com o qual nos deparamos atualmente, sendo necessário aguardar que
o tempo transcorra para sabermos como irá se posicionar o Supremo, os juízes e a doutrina.
Eis as súmulas vinculantes já aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal:
Súmula Vinculante nº 4
Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser
substituído por decisão judicial.
Súmula Vinculante nº 5
A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição.
Súmula Vinculante nº 6
Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário míni-
mo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.
Súmula Vinculante nº 7
A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitu-
cional nº 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação
condicionada à edição de lei complementar.
Súmula Vinculante nº 8
São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e
os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito
tributário.
Súmula Vinculante nº 9
O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (lei de execução penal) foi recebido
pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput
do artigo 58.
Súmula Vinculante nº 10
Viola a cláusula de reserva de plenário (cf. artigo 97) a decisão de órgão fracionário
de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.
A reforma processual instituída por diversas leis promulgadas nos últimos anos, restou
por determinar a inadmissibilidade de apelações deduzidas contra sentenças apoiadas em
súmulas do STJ e do STF.
Trata-se da chamada súmula impeditiva de recurso, trazida ao ordenamento pela Lei
11276/2006, mais um instrumento processual criado para diminuir e dificultar o acesso aos
tribunais superiores.
Assim, a nova redação do Artigo 518, §1º do Código de Processo Civil:
Vamos supor que uma apelação seja recebida, chegando ao segundo grau. Ocorre
que o caso se enquadra perfeitamente ao Artigo 518, §1º do CPC, ou seja, seria caso
de aplicação da súmula impeditiva de recurso ainda em sede de juízo de primeiro grau.
deve o Ministério Público alertar sobre o fato em seu parecer?
Caso de sedimentação
letivo por entidade de classe em favor dos associados, independe da autorização destes), pedindo
a cassação da mesma e que outra seja proferida em respeito à súmula.
Pergunta-se: Procede a reclamação?
QUESTÕES DE CONCURSOS:
2) COMPOSIÇÃO
Composto por no mínimo 33 ministros, que serão nomeados pelo presidente da Re-
pública dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, notável saber
jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal. São os mesmos requisitos e condições especiais impostas para o cargo de Ministro
do Supremo Tribunal Federal, exceto o de tratar-se de brasileiro nato (Art. 12, § 2º e §3º,
IV). Estão excluídos da possibilidade de nomeação, portanto, somente os estrangeiros. A
composição atual do STJ conta hoje com o ministro Felix Fischer, que é natural de Ham-
burgo, Alemanha. O eminente ministro é, portanto, brasileiro naturalizado. 30
WAGNER Junior, Luiz Gui-
Existem regras pré-determinadas para a escolha de seus ministros, aplicando-se a regra lherme da Costa [et al]. “ Poder
Judiciário e Carreiras Jurídicas”,
do que poderíamos chamar de terço constitucional. Editora Del Rey, 2006, pág. 76
– 1/3 de juízes do Tribunal Regional Federal; e seguintes.
paridade entre as duas classes”, conforme disposto pelo min. Carlos Velloso32 no julgamento
de um mandado de segurança sobre semelhante questão.
E como deve ser resolvida a questão para o caso do Tribunal contar com um número
ímpar de vagas para o terço constitucional? Não teríamos como atingir a paridade plena
entre as classes. Como se resolver tal questão?
O Supremo, no mesmo julgamento supramencionado, determinando que quando for
ímpar o número de vagas destinadas ao terço constitucional, uma delas será, alternada e su-
cessivamente, preenchida por advogado e por membro do Ministério Público, de tal forma
que, também sucessiva e alternadamente, os representantes de uma dessas classes superem
os da outra em uma unidade.
Isso foi o que o então ministro do Supremo Tribunal Federal, min. Octavio Galotti,
chamou de “critério subsidiário de alternância.33”
“De toda essa evolução legislativa, pode deduzir-se que a instituição do quinto constitu-
cional restringiu-se, de início, à regra da cooptação, para os Tribunais, de representantes dos
dois ramos básicos da atividade forense, alheios aos quadros da magistratura.
Passou-se, em seguida, a garantir também o equilíbrio de oportunidade entre os concor-
rentes oriundos da advocacia e do Ministério Público, equilíbrio hoje traduzido no princípio
de igualdade do número de representantes de ambas as classes, só se apelando para o critério
subsidiário de alternância, na hipótese especial prevista no art. 100, §2º, da Lei Orgânica.
Digo que a paridade é o princípio geral e a alternância uma regra subsidiária, porque o
primeiro emana da Constituição e a segunda á explicitada em norma infra-constitucional; e
ainda porque a alternância é dirigida apenas àquela “hipótese excepcional”, assim qualificada
no parecer do Ministro Xavier de Albuquerque, e destinada ao preenchimento de vaga exce-
dente do número par imediatamente inferior.”
É o próprio Superior Tribunal de Justiça quem formula a lista tríplice para preenchi-
mento das vagas na corte destinadas a juízes de Tribunal Regional Federal e Tribunais de Jus-
tiça Estaduais e envia para o presidente da República realizar a escolha (Art. 26 do RISTJ).
Dentro deste contexto, um juiz de Tribunal Regional Federal foi escolhido pelo pre-
sidente da República, dentre os integrantes da lista tríplice, para ser ministro do Superior
Tribunal Justiça. Ao enviar sua mensagem de escolha para a devida sabatina no Senado Fe-
deral, o presidente da República foi surpreendido por um mandado de segurança impetrado
pela Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE. O argumento utilizado foi que este
magistrado passara a integrar os quadros do TRF pela regra do quinto constitucional, sen-
do originariamente pertencente aos quadros da advocacia. Isso gerou muita controvérsia e
indignação dentre os juízes federais, por entenderem que tal escolha teria ferido o princípio
instituído pelo Art. 93, III da Constituição.
terço oriundo do MP e da OAB, serão preparadas listas sêxtuplas por cada instituição, que 33
Mandado de Segurança n.
20597-1-DF, Pleno, rel. Min.
as encaminhará ao Superior Tribunal de Justiça, na forma do Art. 26, 1º do RISTJ, abaixo Octávio Galotti, j. 22.10.1986,
transcrito: DJ 05.12.1986.
CAPÍTULO VII
SEÇÃO I
Art. 26. A indicação, pelo Superior Tribunal de Justiça, de Juízes, Desembargadores,
Advogados e membros do Ministério Público, a serem nomeados pelo Presidente da Repúbli-
ca, para comporem o Tribunal, far-se-á em lista tríplice.
§ 1º. Ocorrendo vaga destinada a Advogado ou a membro do Ministério Público, o
Presidente do Tribunal, nos cinco dias seguintes, solicitará ao órgão de representação da clas-
se que providencie a lista sêxtupla dos candidatos, observados os requisitos constitucionais
(Constituição, art. 104, parágrafo único).
§ 2º. Tratando-se de vaga a ser preenchida por Juiz ou Desembargador, o Presidente soli-
citará aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça que enviem, no prazo de dez
dias, relação dos magistrados que contem mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos
de idade, com indicação das datas de nascimento (Constituição, art. 104, parágrafo único).
§ 3º. Recebida a lista sêxtupla, ou esgotado o prazo indicado no parágrafo anterior,
convocará o Presidente, de imediato, sessão do Tribunal para elaboração da lista tríplice.
§ 4º. Para a composição da lista tríplice, o Tribunal reunir-se-á, em sessão pública, com
o quorum de dois terços de seus membros, além do Presidente.
§ 5º. Somente constará de lista tríplice o candidato que obtiver, em primeiro ou sub-
seqüente escrutínio, a maioria absoluta dos votos dos membros do Tribunal, observado o
disposto no artigo 27, § 3º.
§ 6º. Os candidatos figurarão na lista de acordo com a ordem decrescente dos sufrágios
que obtiverem, respeitado, também, o número de ordem do escrutínio. Em caso de empate,
terá preferência o mais idoso.
§ 7º. A escolha dos nomes que comporão lista tríplice far-se-á em votação secreta, rea-
lizando-se tantos escrutínios quantos forem necessários.
§ 8º. Para colocação dos nomes na lista, em caso de empate far-se-á o desempate em
favor do candidato mais idoso; se ainda persistir o empate, adotar-se-á o critério do tempo de
serviço público no cargo, para os magistrados e membros do Ministério Público, ou tempo
de inscrição na Ordem como advogado, para os advogados.”
O STJ, por sua vez, elaborará lista tríplice a ser encaminhada ao presidente da Repú-
blica para escolha e posterior sabatina pelo Senado Federal.
3) ORGANIZAÇÃO
Corte Especial
21 Ministros
Obs.: A competência da Corte Especial, das seções e das Turmas, ratione matariae, é
definida no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. O Tribunal Pleno só exerce
funções administrativas. O Conselho da Justiça Federal exerce a supervisão administrativa e
orçamentária da Justiça Federal de 1º e 2º graus.
Para que possa cumprir melhor sua missão institucional, o Superior Tribunal de Justi-
ça (STJ) foi organizado pelo critério da especialização. Três seções de julgamento, cada uma
delas composta por duas turmas, analisa e julga matérias de acordo com a natureza da causa
submetida à apreciação. Acima delas está a Corte Especial, órgão máximo do Tribunal. As
funções administrativas do STJ são exercidas pelo plenário, integrado pela totalidade dos
ministros da Casa.
3.2) Plenário:
O Conselho da Justiça Federal (CJF), com sede em Brasília-DF, tem como missão pro-
mover e assegurar a integração e o aprimoramento humano e material das instituições que
compõem a Justiça Federal, sem prejuízo da autonomia necessária ao bom desempenho dessas
unidades. O Colegiado do CJF é formado por cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) e pelos presidentes dos cinco Tribunais Regionais Federais do país, sendo presidido pelo
presidente e vice-presidente do STJ. A competência do CJF está prevista no parágrafo único
do art. 105 da Constituição Federal – exercer a supervisão administrativa e orçamentária da
Justiça Federal de primeiro e segundo graus – e na Lei n. 8.472/1992. As propostas orçamen-
tárias aprovadas pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs), propostas de criação ou extinção
de TRFs, de criação de novos cargos de juiz federal ou de varas federais são examinadas pelo
Colegiado do CJF e encaminhadas à apreciação do Superior Tribunal de Justiça. Passam pela
aprovação exclusiva do Colegiado do CJF as propostas de normatização de procedimentos
administrativos para a Justiça Federal, ou de fixação das políticas e diretrizes de atuação das
Secretarias do CJF. As decisões do Colegiado do CJF que fixam normas são objeto de Resolu-
ções, atos normativos cujo cumprimento é obrigatório em toda a Justiça Federal.
Por meio de seus atos administrativos, o CJF tem regulamentado uma série de ativida-
des essenciais à celeridade na prestação jurisdicional da Justiça Federal. Em decorrência da
criação dos Juizados Especiais Federais, pela Lei 10.259/2001, o Conselho dotou-se, ainda,
de função jurisdicional.
Em setembro de 2002 começou a funcionar junto ao CJF a Turma Nacional de Uni-
formização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, órgão julgador colegiado que
aprecia, em grau de recurso, processos oriundos dos Juizados. A uniformização da Jurispru-
dência dos Juizados, promovida pela Turma Nacional, é de fundamental importância para
a garantia da celeridade e da segurança jurídica desses juízos.
A partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional nº45, o CJF passou a ter
também poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante.
4) COMPETÊNCIA
Competência originária
Competência Recursal
Recurso Especial
É uma modalidade de recurso cuja finalidade precípua é a defesa do direito federal e
a unificação da jurisprudência, preservação da unidade e da autoridade do direito federal.
Não abrange, porém, o exame da matéria de fato. Deve se restringir à análise jurídico-cons-
titucional do recurso. Compete ao STJ julgar, mediante recurso especial, as causas decididas
em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
Isso é o mesmo que tê-la por inexistente, negar-lhe vigência, deixar de aplicá-la ou
violá-la. É obrigatória aqui a indicação do dispositivo legal violado. 34
O STF manteve a compe-
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; tência para processar e julgar,
originariamente, o litígio entre
c) dar a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Estado estrangeiro ou organis-
A Súmula 13 do STJ ressalta que a divergência deve se dar entre tribunais diferentes. mo internacional e a União, o
Estado, o Distrito Federal ou o
Divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial. Tal divergência, Território e a extradição soli-
citada por Estado estrangeiro
ainda, deve ser atual. Se o entendimento trazido à colação como paradigma já se encontra (Artigo 102, I, alíneas e e g da
superado no tribunal que o proferiu, o recurso não será admitido. Ressalte-se também aqui Constituição Federal).
Regionais Federais então criados. O objetivo foi a regionalização dos serviços jurisdicionais
do segundo grau da Justiça Federal.
d) O TRF da quarta região, com sede em Porto Alegre e jurisdição sobre os Estados do
Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina; e
e) O TRF da quinta região, com sede em Recife e jurisdição sobre os Estados de Per-
nambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Cada região é integrada por diversas seções judiciárias, tendo em vista que abrange vários
Estados. Cada seção judiciária é composta por varas federais, cujo número é variável, criadas
por lei e localizadas onde ela dispuser. Não ficam necessariamente sediadas apenas nas capitais
dos Estados. A tendência atual é a interiorização da justiça federal de primeira instância. As va-
ras federais são titularizadas por juízes federais de carreira. A Justiça Federal de primeiro grau,
portanto, é representada pelos juízes federais, presentes em todos os Estados e no Distrito
Federal. São juízes monocráticos ao lado dos quais funciona também o Tribunal do Júri.
O ingresso na magistratura federal se dá mediante concurso público de provas e títulos
para os cargos de juiz substituto, conforme exigência do já estudado Artigo 93, I da CF.
A Lei Orgânica da Magistratura Nacional exige do candidato à judicatura federal a idade
mínima de 25 anos. Por meio de promoção, por antiguidade ou merecimento, o juiz federal
substituto chega a juiz federal. Os juízes federais de carreira são responsáveis pelo julgamen-
to das causas federais arroladas no Artigo 109 da Constituição.
O Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de se manifestar acerca do rol de
competências e decidiu que “a competência da justiça federal está limitada mediante enumera-
ção exaustiva, pelo Artigo 109 da Constituição.41”
E o que deve fazer, por exemplo, um aposentado que deseje ingressar em juízo
com uma ação previdenciária, se a cidade onde ele vive com sua família não possui vara
federal? Terá ele que se locomover até a Capital do seu Estado?
É disso que trata o Art. 109, § 3º da CF:
São causas federais que podem ser julgadas em condições especiais, por juízes estaduais
de primeira instância. É o que a ministra Eliana Calmon convencionou chamar de “compe-
tência delegada da justiça estadual.”42 41
Conflito de Competência
14051/SP, Min. Humberto Go-
A condição constitucional para que a delegação se dê é que não haja vara federal ins- mes de Barros.
talada na Comarca em que o segurado/beneficiário é domiciliado. Veja que tal previsão é 42
STJ – Recurso Especial
um favor constitucional. Trata-se de uma faculdade, uma opção colocada à disposição do 517.719-RS, rel. Min Eliana
Calmon, j. 26.04.2005, DJ
segurado e não uma imposição. Assim, pode o beneficiário entender melhor ingressar no 13.06.2005.
juízo federal da capital do Estado, tendo que até lá se locomover, do que ingressar no juízo 43
STF – Recurso Extraordinário
estadual de sua cidade. Esta é sua opção e deve ser respeitada43. 239594-2-RS – rel. Min. Sepúl-
veda Pertence, j. 17.11.1998,
O Artigo 109, §3º autoriza ainda que a lei preveja a delegação de competência para outras DJ 12.02.1999.
causas. Foi o que fez a Lei nº 5010/1966, que ainda hoje organiza a Justiça Federal em primeiro 44
Conflito de competência n.
grau e já declarada recepcionada pela Constituição de 198844, ao dispor em seu artigo 15: 45199, rel. Min Castro Meira.
“Art. 15. Nas Comarcas do interior onde não funcionar Vara da Justiça Federal (artigo
12), os Juízes Estaduais são competentes para processar e julgar:
I - os executivos fiscais da União e de suas autarquias, ajuizados contra devedores domi-
ciliados nas respectivas Comarcas;
II - as vistorias e justificações destinadas a fazer prova perante a administração federal,
centralizada ou autárquica, quando o requerente fôr domiciliado na Comarca;
III - os feitos ajuizados contra instituições previdenciárias por segurados ou beneficiá-
rios residentes na Comarca, que se referirem a benefícios de natureza pecuniária.”
Os recursos interpostos contra atos dos juízes federais de primeiro grau, bem como dos
juízes estaduais que se pronunciem no exercício da competência delegada, são processados
e julgados pelos Tribunais Regionais Federais da região na qual estejam os julgadores de
primeiro grau.
Essa é a competência recursal dos Tribunais Regionais Federais, porém, duas exceções
devem ser mencionadas. Quando os juízes federais julgam em primeiro grau os crimes
políticos, cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar o recurso ordinário contra tal decisão,
funcionando, neste caso, como órgão de segundo grau.
De forma similar, quando os juízes federais julgam em primeiro grau as causas funda-
das em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional,
o recurso cabível também é o ordinário e compete ao Superior Tribunal de Justiça julga-lo,
na função de órgão de segundo grau de jurisdição.
“Art. 93 (...)
XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser consti-
tuído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o
exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribu-
nal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo
tribunal pleno;”
cados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes45. A indicação,
desta forma, inicia-se na intimidade dos órgãos de representação de classe.
No caso dos advogados, a representação é feita pela Ordem dos Advogados do Brasil:
“Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de perso-
nalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:
II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos
advogados em toda a República Federativa do Brasil.
Encaminhadas as listas sêxtuplas, cabe ao Tribunal Regional Federal formar lista trípli-
ce, enviando ao presidente da República que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de
seus integrantes para nomeação48.
Já a classe da magistratura de carreira é integrada por juízes federais que chegam ao tri-
bunal por meio de promoção, por antiguidade ou merecimento, devendo para tanto contar
com mais de cinco anos de exercício. É uma exigência constitucional (Art. 107, II da CF).
O Supremo Tribunal Federal já se pronunciou sobre o tema e decidiu que nestes cinco 45
Artigo 107, I c/c Artigo 94,
ambos da Constituição.
anos também se computa o tempo de exercício no cargo de juiz substituto49. 46
Lei 8906/94 – dispõe sobre
o Estatuto da Advocacia e a Or-
dem dos Advogados do Brasil.
Aos Juizados Especiais Federais Cíveis compete processar e julgar causas de compe-
tência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as
suas sentenças, ressalvadas as matérias excluídas pelo parágrafo 1º do Artigo 3º da Lei nº
10259/2001. Dentro da estrutura dos Juizados existem ainda as Turmas Recursais, compe-
tentes para rever as decisões dos Juizados. Trata-se de órgão colegiado, composto por três
juízes, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
Existem também as Turmas de Uniformização, competentes para julgar pedido de
uniformização baseado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da
decisão proferida em contrariedade à súmula ou jurisprudência dominante do STJ.
O acesso aos juizados federais cíveis é optativo nos Municípios onde não houver a Vara
do Juizado Especial Federal Cível, permitindo-se ao cidadão a livre escolha entre o procedi-
mento adotado pela Justiça comum ou aquele previsto para os juizados especiais. Já nos Mu-
nicípios que possuem vara do Juizado Especial Federal Cível, ele é obrigatório, conforme
art. 3°, § 3° da Lei 10.259/0150, excetuada as causas do §1° do mesmo artigo51. O processo
nesses juízos valoriza os critérios da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da econo-
mia processual e da celeridade, buscando sempre que possível a conciliação das partes. Nos
juizados especiais valoriza-se a prática de atos processuais da maneira mais simples possível,
possibilitando, assim, a sua realização em horário noturno, conforme dispuserem as normas
locais de organização judiciária.
Exemplos da celeridade e economia processual existente nos Juizados Especiais Cíveis
podem ser divididos em duas classes: uma destinada a qualquer parte do processo, e outra à
União, autarquias, fundações e empresas públicas federais. Em relação às partes processuais,
no Juizado Especial Federal não se admite recurso que não seja da sentença e da concessão
ou denegação das medidas cautelares (art. 5°). Quanto à União, autarquias, fundações e
empresas públicas federais, elas são tratadas de maneira idêntica ao particular, não possuin-
do esses entes prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual ou recursal (art.
9°), possibilidade de essas pessoas conciliarem, transigirem ou desistirem (art. 10, Parágrafo 50
§ 3º No foro onde estiver
único e art. 11, Parágrafo único), a não obrigatoriedade do reexame necessário (art. 13) e o instalada Vara do Juizado
Especial, a sua competência é
pagamento de valor até 60 salários mínimos ser feito de forma integral e independentemen- absoluta.
te de precatório (art. 17, §§ 1° e 3°). Caso o valor ultrapasse os 60 salários mínimos, o paga- 51
§ 1º Não se incluem na com-
mento deverá ser realizado integralmente por precatório judicial, facultado ao exeqüente a petência do Juizado Especial
Cível as causas:
renúncia ao crédito excedente para receber integralmente e sem precatórios (art. 17, § 4°). I - referidas no art. 109, incisos
A regulamentação dos juizados pugna pela conciliação prévia das partes, desejando-se, II, III e XI, da Constituição Fede-
ral, as ações de mandado de
assim, que a demanda não prossiga em seus trâmites regulares, mas que antes seja solucionada segurança, de desapropriação,
de divisão e demarcação, po-
na audiência de conciliação. Para tanto, valoriza a presença dos conciliadores e dos árbitros, que pulares, execuções fiscais e por
são os primeiros juízes da causa: examinam previamente o pedido, reúnem-se com as partes e, improbidade administrativa e
as demandas sobre direitos ou
se possível, conseguem a conciliação, que será posteriormente submetida ao juiz togado. interesses difusos, coletivos ou
No caso dos Juizados Especiais Criminais, verificada a ocorrência de infração penal individuais homogêneos;
II - sobre bens imóveis da
de menor potencial ofensivo pela autoridade policial, um simples termo circunstanciado União, autarquias e fundações
públicas federais;
substitui o inquérito policial, garantindo-se, assim, o exercício do princípio da oralidade. III - para a anulação ou cance-
Juntamente com a autuação sumária, deve a autoridade policial encaminhar o autor do lamento de ato administrativo
federal, salvo o de natureza
fato e o ofendido ao juizado, cumprindo-lhe, ainda, diligenciar no sentido da realização previdenciária e o de lança-
dos exames periciais necessários. Caso não seja possível a realização imediata da audiência mento fiscal;
IV - que tenham como objeto a
preliminar, o juiz designa outra data, saindo as partes intimadas. A composição nos Juizados impugnação da pena de demis-
são imposta a servidores públi-
Criminais pode operar-se por meio da composição dos danos, em que o autor da infração cos civis ou de sanções discipli-
supre o prejuízo patrimonial por ele causado à vítima, e da transação, proposta do Ministé- nares aplicadas a militares.
rio Público de aceitação pelo autuado de pena não privativa de liberdade. É possível ainda
que no momento do oferecimento da denúncia oral pelo Ministério Público seja feita a
proposta de suspensão condicional do processo, pelo qual o acusado ficará submetido a um
período de prova por dois a quatro anos.
Pelo exposto, induvidosamente, são duas as funções principais desempenhadas pelos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A primeira é relativa ao acesso ao Poder Judiciário;
a segunda é, conseqüentemente, a de reverter o descrédito na Justiça ocasionado pela reco-
nhecida morosidade no andamento dos processos.
Com esta inovação, o Superior Tribunal de Justiça foi “alçado à condição de tribunal da
federação, responsável pela relevante tarefa de equacionar as dificuldades relacionadas ao cum-
primento judicial de obrigações relacionada aos direitos humanos, inclusive aquelas decorrentes
de tratados internacionais versando essa temática.52”
Como já mencionado, há grande discussão doutrinária acerca do novo instituto. Parte
da doutrina vê com bons olhos a alteração feita pela EC nº 45. Isto porque a União é a
responsável, internacionalmente, pelo cumprimento dos tratados internacionais em que o
Brasil seja parte. Ocorre que, antes da EC nº 45 não havia um mecanismo de controle da
União sobre a aplicação do tratado quando a Justiça Estadual era, no caso, a responsável
pela sua aplicação. Era um contra-senso. Outros, porém, vem taxando de inconstitucional
o instituto por violação ao princípio do juiz natural, pelo qual não só o juízo ou o tribunal
para a causa devem ser previamente identificados, como também regras prévias e objetivas
para a determinação da competência dos órgãos julgadores.
Tendo em vista a excessiva abertura da expressão “grave violação dos direitos humanos”
pode ocorrer de um processo judicial já instaurado vir a ser deslocado para a Justiça Federal
com base em critérios vagos e imprecisos, ferindo desta forma a garantia que seria conferida
pelo princípio do juiz natural. São quatro as condições fixadas pela Constituição, de forma
cumulativa:
2 – haver grave violação dos direitos humanos. Muito se critica a indefinição desta ex-
pressão por ser alta a discricionariedade conferida ao Superior Tribunal de Justiça.
Critérios objetivos deveriam ter sido definidos de forma a limitar essa prerrogativa
do Tribunal Superior.
3 – obter o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais dos
quais o Brasil seja parte. Basta que o Brasil seja signatário do tratado. A norma não
exige, portanto, que aquele processo específico de recepção do tratado ao ordena-
mento jurídico pátrio, previsto no Artigo 5º, §3º da CF, seja deflagrado.
4 – ser suscitado pelo procurador-geral da República. Essa legitimidade exclusiva também
tem sido criticada. Teria havido um retrocesso, contrariando a moderna orientação
da Constituição quanto à abertura para acionar o controle de constitucionalidade.
Caso de sedimentação:
No dia 05 de janeiro de 2008, uma cidade foi cenário de um terrível crime. Pessoas
estavam sendo escravizadas numa fazenda no interior do Estado, duas delas vindo a falecer
naquele mesmo dia. O acontecimento virou notícia nos jornais do Brasil e do mundo, de-
vido à crueldade a que eram submetidas essas pessoas.
Os autores foram presos em flagrante e o promotor de Justiça da comarca denunciou
os mesmos pelo crime imediatamente. O juiz competente recebeu a denúncia, dando pros-
seguimento à ação penal, já estando o júri marcado para outubro de 2008.
Em maio de 2008, porém, o procurador-geral da República suscitou perante o Supe-
rior Tribunal de Justiça um incidente de deslocamento de competência para a Justiça Fede-
ral, alegando se tratar o caso em questão de grave violação aos direitos humanos.
Pergunta-se: Deve o Superior Tribunal de Justiça deferir o deslocamento?
Caso de sedimentação 2:
matéria criminal como, por exemplo, o julgamento de prefeitos por crimes comuns (Artigo
29, X da Constituição Federal). A reunião de todos os desembargadores forma o Tribunal
Pleno.
O quadro abaixo demonstra a organização do Tribunal de Justiça:
Tribunal
de Justiça
Órgão
Especial
Seção
Criminal
Câmaras Câmaras
Cíveis Criminais
OBS:
1. As atribuições dos órgãos de Justiça Estadual estão previstas nos Códigos de Orga-
nização Judiciária ( 1º e 2º instâncias ) e nos Regimentos internos dos Tribunais.
2. Tribunal de Justiça Militar Estadual ( art. 125 § 3°, CRFB ) só existe em alguns
Estados, onde foram implantados ( São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul ).
Cabe aqui uma explicação sobre a chamada Reserva de Plenário (Artigo 97 da Cons-
tituição Federal). Quando um juiz de direito no exercício da jurisdição de primeiro grau
se deparar com uma questão que exige, para o seu julgamento, um exame sobre a consti-
tucionalidade da lei, cabe a ele suspender o processo e remeter a questão constitucional ao
plenário. Só o Pleno é competente para verificar a (in)constitucionalidade de uma lei. Esse
exame vinculará o juiz da causa que julgará a questão tendo como premissa o que ficou
decidido pelo Pleno.
Há uma previsão na Constituição Federal (Art. 93, XI), específica para Tribunais de
Justiça que possuam mais de vinte e cinco desembargadores, permitindo a constituição de
um novo órgão, denominado Órgão Especial, para o exercício das atribuições administra-
tivas e jurisdicionais delegadas da competência do Tribunal Pleno. Metade das vagas do
Órgão Especial será provida por antiguidade. A outra metade por eleição pelo Tribunal
Pleno.
As matérias reservadas à competência do Órgão Especial serão numeradas no regimen-
to interno do respectivo Tribunal de Justiça. Aliás, o Supremo Tribunal Federal já decidiu
que é do próprio Regimento Interno do Tribunal de Justiça a competência para a criação do
órgão especial, sendo desnecessário lei formal nesse sentido.
São exemplos de matérias acometidas ao Órgão Especial os crimes cometidos por juí-
zes e membros do Ministério Público, dentre outras.
Caso de sedimentação
Carlos impetra uma ação ordinária em primeiro grau, pedindo a repetição de indébito
de imposto que indevidamente lhe foi cobrado, tendo como causa de pedir a inconstitu-
cionalidade da lei instituidora do referido imposto. O juiz competente para a causa, julga
improcedente o pedido de Carlos. Interposta a Apelação, o desembargador competente,
analisando o caso, julga procedente o pedido de Carlos, entendendo que a lei de fato é in-
constitucional por se tratar de imposto caracterizado como confiscatório.
Pergunta-se: É correta a decisão do desembargador?
Existem ainda outros órgãos na estrutura do Tribunal de Justiça.
A Presidência
À Presidência compete um extenso rol atividades administrativas (Artigo 30 do COD-
JERJ) e atividades jurisdicionais, quando de julgamento no Órgão Especial, no Tribunal
Pleno e no Conselho de Magistratura. Recebe o auxílio, em suas atividades, por três vice-
presidentes. Ao 1º vice-presidente compete a substituição do presidente quando se fizer
necessário e a distribuição cível, além de outras funções (Artigo 31 do CODJERJ). Ao
2º vice-presidente compete a substituição do 1º vice-presidente, a Presidência da Seção
Criminal e a distribuição criminal, dentre outras funções (Art.32 do CODJERJ). Ao 3º
vice-presidente compete a substituição do corregedor-geral de Justiça e o deferimento ou
A Corregedoria-Geral de Justiça
É um órgão correicional. A correição consiste na inspeção dos serviços judiciários,
para que sejam executados com regularidade, e no conhecimento de denúncias ou pedidos
de providências. Compete à Corregedoria as funções administrativas de disciplina e fisca-
lização de toda atividade administrativa da primeira instância do Tribunal de Justiça, bem
como sobre todas as serventias extrajudiciais.
E o que são serventias extrajudiciais?
São os Cartórios de Notas, os Tabelionatos, os Cartórios de Registro de Imóveis, Re-
gistros de Títulos de Documentos e Registro Civil das Pessoas Naturais.
O Conselho de Magistratura
O Conselho da Magistratura é integrado pelo presidente, vice-presidentes, correge-
dor-geral e cinco desembargadores que não façam parte do Órgão Especial, eleitos por este,
em sessão pública e escrutínio secreto, para um mandato de dois anos. É o órgão censório
do Tribunal de Justiça. Compete a ela conhecer as representações em face de magistrados.
Os órgãos de segunda instância comunicarão ao Conselho da Magistratura os erros e irre-
gularidades passíveis de sanções disciplinares, praticados por magistrados. Qualquer pessoa
poderá representar, por petição, ao Conselho da Magistratura, por abusos, erros ou omis-
sões de magistrados, ou quaisquer auxiliares da Justiça.
QUINTO CONSTITUCIONAL
Logo abaixo dos Tribunais de Justiça estão os juízes de Direito e o Tribunal do Júri,
primeiro grau de jurisdição da Justiça Estadual.
O Tribunal do Júri
Os Juízos de Direito
Os juízos de direito são órgãos monocráticos, compostos por um único juiz. Sua com-
petência é determinada pelo código de organização Judiciária. Os juízos são distribuídos
pelo território estadual, localizando-se em comarcas, que são as unidades em que se divide
o território do Estado para efeito de administração da Justiça Estadual. A comarca não se
confunde com município. Enquanto o município é uma unidade político-administrativa, a
comarca é uma unidade judiciária, embora muitas vezes sejam equivalentes. Para a criação
e a classificação das comarcas, serão considerados os números de habitantes e de eleitores;
a receita tributária; o movimento forense e a extensão territorial dos municípios do Estado.
No Estado do Rio de Janeiro, as comarcas são classificadas em três entrâncias: especial,
segunda e primeira entrâncias. A entrância é um grau de classificação administrativa das
comarcas. Não há entre elas qualquer espécie de hierarquia. São comarcas de entrância es-
pecial: Capital, Campos de Goytacazes, Duque de Caxias, Niterói, Nova Iguaçu, Petrópolis,
São João de Meriti, São Gonçalo e Volta Redonda. As comarcas de primeira entrância são:
Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Bom Jardim, Cambuci, Cantagalo, Carapebus/Quis-
samã; Carmo, Casimiro de Abreu , Conceição de Macabu, Cordeiro, Duas Barras, Enge-
nheiro Paulo de Frontin, Guapimirim, Iguaba Grande, Italva(Cardoso Moreira), Itaocara,
Itatiaia; Japeri, Laje de Muriaé, Mangaratiba, Mendes, Miguel Pereira, Natividade, Para-
cambi, Parati, Paty do Alferes, Pinheiral, Piraí, Porciúncula, Porto Real-Quatis, Rio Claro,
Rio das Flores, Santa Maria Madalena, São Francisco do Itabapoana, São José do Vale do
Rio Preto, São Sebastião do Alto, Sapucaia, Seropédica, Silva Jardim, Sumidouro, Tanguá
e Trajano de Moraes.
São comarcas de segunda entrância: Angra dos Reis, Araruama, Barra Mansa, Bar-
ra do Piraí, Belford Roxo, Bom Jesus do Itabapoana Cabo Frio, Cahoeiras de Macacu,
Itaboraí, Itaguaí, Itaperuna, Macaé, Magé, Maricá, Mesquita, Miracema, Nilópolis, Nova
Friburgo, Paraíba do Sul, Queimados, Resende, Rio Bonito, Rio das Ostras, Santo Antônio
de Pádua, São Fidélis, São João da Barra, São Pedro da Aldeia, Saquarema, Teresópolis, Três
Rios, Valença e Vassouras.
A promoção dos juízes se dá de entrância em entrância até que, por antiguidade ou mere-
cimento, alternadamente, alcancem uma vaga no Tribunal de Justiça como desembargadores.
A comarca é o foro em que tem competência o juiz de primeiro grau. Em cada comar-
ca poderá haver um ou mais juízos, ou seja, uma ou mais varas. Pode ocorrer de uma comar-
ca possuir apenas uma vara. Na vara única todas as causas são decididas pelo mesmo juiz,
independentemente da matéria. Quando uma comarca possui mais de uma vara, teremos
varas especializadas em determinadas matérias conforme dispuser o Código de Organização
Judiciária. Pode haver assim Vara Cível, Fazendária, Empresarial, Criminal, dentre outras.
A comarca da Capital poderá ainda ser dividida em foro central e foros regionais.
Ex: Foro Regional da Ilha do Governador, da Pavuna, de Bangu, da Barra da Tijuca,
de Jacarepaguá, dentre outros.
Os juízes se dividem conforme a matéria. Os juízes de direito do cível têm sua com-
petência estabelecida no artigo 84 e seguintes do CODJERJ. A competência vem discri-
minada conforme a matéria para as quais sejam competentes, como por exemplo, Família,
Fazenda Pública, Órfãos e sucessões, Infância, Juventude e Idosos, dentre outros. Já os juízes
de direito em matéria criminal têm sua competência fixada no artigo 93 do CODJERJ.
Caso de sedimentação:
Não é nenhuma novidade para vocês a questão agrária, eis que muitos conflitos decor-
rentes da posse e propriedade da terra ocorreram em nosso país, por ser o Brasil uma nação
em desenvolvimento com caráter latifundiário. Quantas não foram as matérias jornalísticas
dando notícia de conflitos por causa da terra. Movimentos foram criados, como o MST
(Movimento dos Sem-Terra) e tristes episódios foram assistidos, como em Eldorado dos
Carajás (PA) e no Pontal do Paranapanema (SP), dentre tantos outros. Daí a grande impor-
tância da inovação trazida pela Emenda Constitucional 45, de 2004, ao prever, no Artigo
126 da Constituição, a criação de varas especializadas para conflitos fundiários. A especia-
lização jurisdicional permite um conhecimento mais profundo sobre a área de atuação do
juiz; decisões mais adequadas e tecnicamente mais precisas, oferecendo uma maior garantia
de acerto; desenvolvimento e uso de uma metodologia própria; maior e melhor aproveita-
mento de magistrados com talento restrito à respectiva área, respeitando as aptidões naturais
do indivíduo. Essas são as vantagens trazidas com a referida inovação.
E o que vem a ser “questão agrária”?
Essa expressão vaga e ampla não restou conceituada pala Constituição Federal. Nesse
sentido, são importantes as conclusões trazidas por André Ramos Tavares53:
Espera-se com essas varas especializadas um maior engajamento da Justiça, que ela se
torne mais justa e eficaz neste tema tão importante para toda a sociedade.
Juízes de Paz
Apesar da Constituição Federal estabelecer eleição para o cargo, no Rio de Janeiro são
nomeados pelo governador do Estado, mediante escolha em lista elaborada pelo presidente 53
TAVARES, André Ramos.
Reforma do Judiciário no Pós-
do Tribunal de Justiça, conforme dispõe o Artigo 158 do CODJERJ: 88. Saraiva, São Paulo, 2005,
p. 151.
“Art. 159 - O Juiz de Paz será nomeado pelo Governador do Estado, para servir pelo
prazo de quatro anos mediante escolha em lista tríplice organizada pelo presidente do Tribu-
nal de Justiça.”
Juizados Especiais
A Constituição Federal, em seu artigo 98, previu a criação dos Juizados Especiais Es-
taduais, tendo a Lei nº 9.099/1995 regulamentado a matéria.
A estrutura da Lei que regula os Juizados Especiais se assenta em alguns pilares fun-
damentais:
Acessibilidade – descentralização da Justiça: expediente noturno; dispensa de assistên-
cia advocatícia nos juizados cíveis; dispensa em primeiro grau do pagamento de custas, taxas
e despesas; obrigatoriedade de implantação de serviços de assistência judiciária.
Operosidade – equivalentes jurisdicionais como a conciliação e a arbitragem; juízes
leigos; concentração e informalidade do procedimento; preocupação com os costumes e
regras da vida da comunidade; afastamento da exigência de certeza, priorizando as possibi-
lidades e probabilidades.
Utilidade – prioridade para a celeridade como forma de atingir a efetividade do pro-
cesso; oralidade, simplicidade, informalidade e economia processual; execução no próprio
Juizado; cominação de multa diária para garantir a utilidade da sentença (astreinte).
Proporcionalidade – possibilidade de citação de pessoa jurídica mediante a entrega de cor-
respondência em mãos de recepcionista (mas a revelia só se produzirá se o contrário não resultar
da convicção do juiz); sacrifício do direito de defesa com minimização de suas conseqüência.
Os Juizados Especiais são compostos por juízes de direito - chamados de juízes togados
-, conciliadores, juízes leigos e Turmas Recursais. O juiz dirigirá o processo com liberdade para
determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras
de experiência comum ou técnica. Os conciliadores e juízes leigos são auxiliares da Justiça,
recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em direito, e os segundos, entre
advogados com mais de cinco anos de experiência. Os Juizados Especiais Cíveis são responsá-
veis pela conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim
consideradas as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; as enumeradas
no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; a ação de despejo para uso próprio e as
ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a quarenta salários mínimos.
No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro foram criadas as funções
de juiz leigo e conciliador através da alteração legal da Lei 2.556/96. A atividade veio regu-
lamentada na Lei 4.578 de 2005. A primeira seleção dos candidatos ao preenchimento das
vagas, inicialmente um total de 50, já foi realizada, sendo permitida somente a inscrição dos
alunos da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (EMERJ). Puderam concorrer a uma vaga
alunos da EMERJ que estivessem cursando a partir do quarto período ou aqueles egressos da
escola formados no máximo há um ano. Os novos juízes atuarão nos Juizados Especiais Cí-
veis. Eles irão realizar audiências, conciliações, proferir sentenças, mas todos os seus atos serão
submetidos ao juiz togado.
A Ordem dos Advogados do Brasil constestou a constitucionalidade da Lei 4.578 através
de uma Representação de Inconstitucionalidade. O Órgão Especial do TJ, no entanto, julgou,
por maioria, improcedente tal ação por entender que a atividade de juiz leigo não se caracteri-
za como cargo público e, portanto, não depende de concurso para ser exercida.
Os Juizados Especiais Criminais são competentes para a conciliação, processo e julga-
mento das infrações penais de menor potencial ofensivo, assim consideradas as contravenções
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não
com multa, respeitadas as regras de conexão e continência.
O processo perante o juizado especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, infor-
malidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação
dos danos sofridos pela vítima, a aplicação de pena não privativa de liberdade e a concilia-
ção entre as partes. Da sentença proferida pelo juiz no âmbito do juizado especial, caberá
recurso para o próprio juizado a ser dirimido pelas chamadas Turmas Recursais. Prevista no
Artigo 41 e 82 da Lei 9.0099/95, a Turma Recursal é formada por três juízes no exercício
do primeiro grau de jurisdição. Não se trata, portanto, de um tribunal.
Da mesma forma que nos Juizados Especiais Federais já estudados, a regulamentação
dos juizados pugna pela conciliação prévia das partes, desejando-se, assim, que a demanda não
prossiga em seus trâmites regulares, antes seja solucionada na audiência de conciliação. Para
tanto, valoriza a presença dos conciliadores e dos árbitros, que são os primeiros juízes da causa:
examinam previamente o pedido, reúnem-se com as partes e, se possível, conseguem a conci-
liação, que será posteriormente submetida ao juiz togado. No caso dos Juizados Especiais Cri-
minais, verificada a ocorrência de infração penal de menor potencial ofensivo pela autoridade
policial, um simples termo circunstanciado substitui o inquérito policial, garantindo-se, assim,
o exercício do princípio da oralidade. Juntamente com a autuação sumária, deve a autoridade
policial encaminhar o autor do fato e o ofendido ao juizado, cumprindo-lhe, ainda, diligenciar
no sentido da realização dos exames periciais necessários. Caso não seja possível a realização
imediata da audiência preliminar, o juiz designa outra data, saindo as partes intimadas.
A composição nos Juizados Criminais pode operar-se por meio da composição dos
danos, em que o autor da infração supre o prejuízo patrimonial por ele causado à vítima, e
da transação, proposta do Ministério Público de aceitação pelo autuado de pena não priva-
tiva de liberdade. É possível ainda que no momento do oferecimento da denúncia oral pelo
Ministério Público seja feita a proposta de suspensão condicional do processo, pelo qual o
acusado ficará submetido a um período de prova por dois a quatro anos.
Pelo exposto, induvidosamente, são duas as funções principais desempenhadas pelos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A primeira é relativa ao acesso ao Poder Judiciário;
a segunda é, conseqüentemente, a de reverter o descrédito na Justiça ocasionado pela reco-
nhecida morosidade no andamento dos processos.
Recentemente foi sancionada pelo Presidente da República a Lei denominada de “Ma-
ria da Penha”, elaborada tendo como principal objetivo evitar a banalização da violência
cometida contra as mulheres, o que sem sombra de dúvidas é bastante salutar.
A Lei 11.340, de agosto de 2006 cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Con-
venção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.
De acordo com o artigo 14, deve haver a criação de Juízos especializados, denomina-
dos de “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher”. Os Juizados, órgãos
da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execu-
ção das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e
julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.
No Estado do Rio de Janeiro, foram criadas pelo Tribunal de Justiça Estadual em
junho de 2007 dois Juizados especializados em violência doméstica e familiar contra a amu-
lher, em atendimento ao disposto na Lei 11.340/2006.
Caso de sedimentação
QUESTÕES DE CONCURSO
1) JUSTIÇA MILITAR
Apesar do vasto rol de competências, não são responsáveis pelo julgamento dos crimes
militares isoladamente. O primeiro grau de jurisdição da Justiça Militar, fugindo à tradição
do Poder Judiciário, é um órgão colegiado. Trata-se do Conselho de Justiça, composto pelo
Conselho Especial de Justiça e pelo Conselho Permanente de Justiça. São eles responsáveis
pelo processo e julgamento dos casos de competência da Justiça Militar da União, os crimes
militares definidos em lei.
Em recente julgado, assim decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
Em outro processo, tendo como acusado e vítima agentes militares, assim decidiu o
STJ o conflito de competência entre a Justiça Comum e a Militar:
Com os crescentes índices de criminalidade, o perfil dos crimes julgados pela Justiça
Militar da União foi ampliado. Antes, os casos de deserção, por exemplo, eram os mais
comuns.
Atualmente, é freqüente a tramitação, nas instâncias da Justiça Militar da União, de
crimes como tráfico e uso de drogas, roubo de armas e estelionato, dentre outros.
O Conselho Especial de Justiça é competente para o julgamento dos oficiais54, sendo com-
posto por um juiz-auditor, quatro juízes militares (leigos), sob a presidência de um oficial-general
ou oficial-superior. Os juízes militares são escolhidos por sorteio dentre militares de posto superior
ao do acusado, por respeito a hierarquia militar, prevista no Artigo 14 da Lei nº 6880/1980.
“Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A
autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico.
§ 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da
estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um
mesmo posto ou graduação se faz pela antigüidade no posto ou na graduação. O respeito à
hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à seqüência de autoridade.”
Órgão de segundo grau de jurisdição, o Superior Tribunal de Justiça tem sede na Ca-
pital Federal e jurisdição em todo o território nacional.
É composto por 15 (quinze) ministros:
II - julgar:
a) os embargos apostos às suas decisões;
b) os pedidos de correição parcial;
c) as apelações e os recursos de decisões dos juízes de primeiro grau;
d) os incidentes processuais previstos em lei;
e) os agravos regimentais e recursos contra despacho de relator, previstos em lei proces-
sual militar ou no regimento interno;
f ) os feitos originários dos Conselhos de Justificação;
Eventualmente, será competente ainda a Justiça Militar da União para julgar civis. Isso
ocorrerá nos casos de cometimento de crimes contra o patrimônio e contra a administração
militar e crimes contra militares no exercício de funções militares.
“Há expressa reserva constitucional federal em favor da lei ordinária estadual, de inicia-
tiva exclusiva do Tribunal de Justiça, para a criação da Justiça Militar Estadual e, sendo certo
que, competindo a essa lei ordinária a criação dessa justiça, a ela também compete a sua orga-
nização (esta, com observância dos princípios estabelecidos na Constituição Federal) e a sua
extinção, não pode a Carta Magna Estadual criar, ou manter a criação já existente, organizar
ou extinguir a Justiça Militar Estadual.55”
Assim, não é competente a Justiça Militar Estadual para julgar crimes comuns, ainda
que praticado por militar estadual. Cabe ressaltar que não é só porque um militar praticou
um crime comum que este vai se transformar automaticamente em crime militar.
Crimes militares são somente aqueles definidos no Código Penal Militar. Exemplo
disso é o crime de abuso de autoridade que, por não estar previsto no Código Penal Militar,
ainda quando praticado por militar, será julgado na Justiça comum. É o que dispõe a Sú-
mula 192 do STJ “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.”
Também não é competente a Justiça Militar Estadual para julgar crimes praticados por
civil. A Justiça Militar Estadual só julga policial militar e bombeiro militar. Para finalizar o
estudo sobre a Justiça Militar, devemos nos ater a uma última questão.
Por que órgão judicial serão julgados os crimes dolosos contra a vida previstos no
Código Penal Militar (homicídio, instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio e ge-
nocídio)?
Muita dúvida já surgiu em torno do tema. Compete ao Júri ou à Justiça Castrense? A
56
Hábeas Corpus n. 70604-
SP, rel. Min. Celso de Mello, j.
Emenda Constitucional 45 de 2004 constitucionalizou a questão. 10.05.1994, DJ 01.07.1994.
Caso de sedimentação:
No dia 05 de abril de 2006, José, que voltava para casa após um dia de trabalho, foi
abordado por um desconhecido na estação de trem, que lhe ofereceu fios e cabos elétricos a
um preço bem convidativo, cerca de R$ 20,00. José, sabendo do alto valor que aquele ob-
jeto possui no mercado, sem qualquer questionamento sobre a procedência da res, aceitou a
oferta e então comprou os cabos acondicionados numa sacola plástica.
Momentos depois, quando já chegava em casa, policiais militares, sob fundada suspei-
ta, revistaram José e lograram êxito na apreensão da res e na prisão em flagrante de José.
No caso, os fios e cabos elétricos pertenciam a estabelecimento militar da União, con-
figurando-se o crime de receptação culposa: art. 255 do Código Penal Militar. José agiu cul-
posamente, ao desrespeitar o dever objetivo de cuidado, coincidentemente com a presente
suspeita de que a coisa não podia ter origem lícita.
Pergunta-se: A quem compete, portanto, o julgamento de José?
57
Recurso Extraordinário n.
260.404-MG, rel. Min. Moreira
Alves, j. 22.03.2001.
2) JUSTIÇA DO TRABALHO
Prevista nos artigos 111 a 117 da Constituição Federal, com certeza este foi o ramo
do Judiciário que mais profundamente sofreu alterações com a Emenda Constitucional 45
– Reforma do Judiciário – não só no que tange à sua composição mas também à sua com-
petência. São órgãos da Justiça Trabalhista: o Tribunal Superior do Trabalho; os Tribunais
Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho.
É uma das Justiças especializadas, ao lado da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, sen-
do sua competência expressamente prevista na Constituição Federal. Antes de iniciarmos o
estudo de cada órgão em separado, é importante ressaltar que a Emenda Constitucional nº
24, de 9 de dezembro de 1999, extinguiu a participação de juízes classistas na Justiça Traba-
lhista em todas as instâncias. Não há mais juízes classistas no Tribunal Superior do Trabalho
ou no Tribunal Regional do Trabalho. No primeiro grau de jurisdição, o órgão colegiado
denominado Junta de Conciliação e Julgamento, transformou-se em Vara do Trabalho, cuja
jurisdição é exercida por um só juiz singular.
“Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes,
recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República
dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional
e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,
observado o disposto no art. 94;
II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e merecimen-
to, alternadamente.”
Aplica-se aos Tribunais Regionais do Trabalho, como visto, a regra do quinto cons-
titucional, em respeito ao mandamento do Artigo 94 da Constituição. Duas importantes
inovações prometem conferir à Justiça do Trabalho a celeridade e eficiência tão almejadas:
a Justiça Itinerante (Art. 115, §1º) e a possibilidade de funcionar descentralizadamente por
meio de Câmaras Regionais (Art 115, §2º), ambas já estudadas na primeira aula de nosso
curso. Os Tribunais Regionais do Trabalho funcionam em Plenário ou divididos em Turmas
e Grupos de Turmas, dependendo exclusivamente do seu tamanho e das disposições do seu
Regimento Interno.
O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, por exemplo, está dividido em:
Plenário (todos os desembargadores); Órgão Especial (13 desembargadores); Seções – são
duas: uma seção especializada pelos dissídios coletivos e a outra seção especializada pelos
dissídios individuais; e nove Turmas.
Funciona junto ao Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, ainda, a Escola
de Magistratura da Justiça do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro – EMATRA-RJ - com
as finalidades de preparação, formação, aperfeiçoamento e especialização dos magistrados
do trabalho.
Hoje, no Brasil, existem 24 Tribunais Regionais do Trabalho, sendo o maior, em nú-
mero de juízes, o de São Paulo, com 64 magistrados. Só Amapá, Roraima, Acre e Tocantins
não possuem ainda Tribunal Regional em sua área territorial, pertencendo a tribunais situ-
ados em outros Estados.
Juízes do Trabalho
No que se refere ao inciso I do Artigo 114 supra descrito, cabe mencionar que o Supre-
mo Tribunal Federal, conforme noticiado no Informativo 422, conferiu interpretação con-
forme à Constituição para suspender da competência da Justiça do Trabalho a apreciação de
causas instauradas entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação
de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo.
Já no que se refere ao inciso VI do mesmo Artigo, cabe ressaltar que a partir da Emen-
da Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, as ações de indenização, inclusi-
ve por dano moral, com base em acidente de trabalho, proposta por empregado contra
(ex)empregador, são da competência da Justiça do Trabalho.
Assim entendeu o Supremo Tribunal Federal:
a norma de competência relativa às ações propostas por empregado contra empregador em que
se pretenda o ressarcimento por danos decorrentes de acidente de trabalho. Esclareceu-se que,
nos termos da segunda parte do inciso I do art. 109 da CF, excluem-se, da regra geral contida na
primeira parte — que define a competência dos juízes federais em razão da pessoa que integra a
lide — as causas de acidente do trabalho em que a União, entidade autárquica ou empresa públi-
ca federal forem interessadas, na condição de autora, ré, assistente ou oponente (CF: “Art. 109.
Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica
ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opo-
nentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça
do Trabalho;”). Afirmou-se que referidas causas consistem nas ações acidentárias propostas pelo
segurado contra o INSS, nas quais se discute controvérsia acerca de benefício previdenciário, e
que passaram a ser da competência da justiça comum pelo critério residual de distribuição de
competência (Enunciado da Súmula 501 do STF). Não se encaixariam, portanto, em nenhuma
das partes do mencionado dispositivo as ações reparadoras de danos oriundos de acidente do
trabalho, quando ajuizadas pelo empregado contra o seu empregador, e não contra o INSS, em
razão de não existir, nesse caso, interesse da União, de entidade autárquica ou de empresa pública
federal, exceto na hipótese de uma delas ser empregadora. Concluiu-se, destarte, ressaltando ser
o acidente de trabalho fato inerente à relação empregatícia, que a competência para julgamento
dessas ações há de ser da justiça do trabalho, a qual cabe conciliar e julgar os dissídios individuais
e coletivos entre trabalhadores e empregadores, e outras controvérsias decorrentes daquela rela-
ção. Asseverou-se que tal entendimento veio a ser aclarado com a nova redação dada ao art. 114
da CF, pela EC 45/2004, especialmente com a inclusão do inciso VI (“Art. 114. Compete à Jus-
tiça do Trabalho processar e julgar:... VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,
decorrentes da relação de trabalho;”). Acrescentou-se, ainda, que o direito à indenização em caso
de acidente de trabalho, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa, está enumerado no
art. 7º da CF como autêntico direito trabalhista, cuja tutela, deve ser, por isso, da justiça especial.
Fixou-se, como marco temporal da competência da justiça laboral, a edição da EC 45/2004, por
razões de política judiciária. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que estabelecia o termo
inicial dessa competência a partir da redação original do art. 114 da CF.60
Em seu voto, o ministro Ari Pargendler ressaltou que somente o Tribunal de Justiça
estadual poderá rever a decisão judicial que livrou a empresa Aéreo Transportes Aéreos S/A
– subsidiária da Varig Log e arrematante da Unidade Produtiva da Varig – de arcar com as
despesas trabalhistas. O juiz da 8ª Vara Empresarial se recusou a cumprir a decisão do juiz
da 33ª Vara do Trabalho, que havia determinado o bloqueio do dinheiro. O ministro Ari
Pargendler ressaltou que tal exigência não constava no edital do leilão.
Caso seja mantida a decisão de primeiro grau, a empresa Aéreo Transportes Aéreos S/A
poderá continuar a dispor do capital destinado ao plano de recuperação da empresa.”
Por fim, recentemente, o STJ decidiu que esta justiça especializada também é com-
petente para julgar ações relativas à representação sindical após a EC nº 45. O Ministro
Humberto Martins destacou que, “após o advento da EC nº 45/2004, passou a justiça
especializada a ser competente para julgar e processar os feitos que envolvam a cobrança de
contribuição sindical prevista no artigo 578 da Constituição das Leis Trabalhistas (CLT),
em ações propostas por sindicatos, federações ou confederações. O relator ressaltou que a
única exceção é referente aos casos em que existiam sentenças proferidas anteriormente ao
advento da EC nº 45/2004.”
Caso de sedimentação
3) JUSTIÇA ELEITORAL
As decisões proferidas pelo Tribunal Superior Eleitoral são irrecorríveis, salvo as que
declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de
“habeas corpus” ou mandado de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supre-
mo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias64.
Competência
Os Tribunais Regionais Eleitorais também possuem competência originária e recursal
previstas no Código Eleitoral:
As decisões do Tribunal Regional Eleitoral são irrecorríveis, salvo quando forem pro-
feridas contra disposição expressa da Constituição ou de lei; ocorrer divergência na inter-
pretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; versarem sobre inelegibilidade ou
expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; anularem diplomas ou decretarem
a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; denegarem “habeas-corpus”, mandado
de segurança, “habeas-data” ou mandado de injunção, quando então será cabível recurso
ao Tribunal Superior Eleitoral66. Ressalve-se, por oportuno, que não cabe recurso direto do
Tribunal Regional Eleitoral ao Supremo Tribunal Federal, conforme já decidido pelo STF:
Juntas Eleitorais
As Juntas Eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral competentes para apurar as eleições;
resolver impugnações e incidentes durante a apuração dos votos, expedir boletins de urnas;
e diploma de candidatos eleitos (no caso de eleições municipais).69 São compostas por um
juiz de direito e de dois a quatro membros escolhidos pelo Tribunal Regional Eleitoral den-
tre cidadãos de notória idoneidade, que exercem funções de juízes de fato. O voto de cada
um dos componentes da turma tem o mesmo valor.
Caso de sedimentação
68
Artigo 32, parágrafo único do
Código Eleitoral.
69
Artigos 40 e 41 do Código
Eleitoral.
1) INTRODUÇÃO
qualquer ato que destoar deles será inválido, eivado de inconstitucionalidade. 72 Informado por MELLO JÚ-
NIOR, João Câncio de. A função
São três os princípios institucionais enumerados no texto da Carta Magna: a unidade; de controle dos atos da Admi-
nistração Pública pelo Minis-
a indivisibilidade; e a independência funcional. tério Público. Belo Horizonte:
Líder, 2001, p. 49.
A Unidade Institucional
Indivisibilidade
Independência Funcional
da instituição, a figura do “acusador de exceção”. Consagra uma garantia da ordem jurídica 76 STJ - 6ªTurma- Resp.
92.666RJ – Rel.Min.Vicente
destinada tanto a proteger o membro do Parquet, na medida em que lhe assegura a inamovi- Leal, 20.05.97: “Processo Pe-
bilidade, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem reconhece o direito de ver atuando nal. MP. Princípio da Unidade
e da Indivisibilidade. Alcance.
em quaisquer causas apenas o promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios Vinculação de pronunciamento
de seus agentes. Inexistência.”
abstratos e predeterminados estabelecidos em lei. Antes de ser uma prerrogativa institucional,
77 Vide STF - HC 67759/RJ, Rel.
tal princípio é direito inalienável do cidadão de se ver processado por membro do Ministério Min.Celso de Mello.
Público isento e imparcial, que proverá a Justiça sem odiosas discriminações77. Tal princípio é 78 “O Promotor ou procurador
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, bem como pelo Superior Tribunal de Justiça.78 não pode ser designado sem
obediência ao critério legal a
fim de garantir o julgamento
Garantias Institucionais imparcial e isento. O réu tem
direito público subjetivo de
conhecer o órgão do Ministé-
rio Público que vai lhe acusar,
Especificamente, em relação ao Ministério Público, a Constituição Federal assegurou, como ocorre com o juiz natu-
de forma expressa, a autonomia funcional e administrativa e, implicitamente, lhe garantiu ral.” (RSTJ 39/461)
Sem sombra de dúvida, a persecução penal é uma das mais importantes atribuições
79 Artigo 128, §3º, §4º e §5º, I,
ministeriais, confundindo-se com a própria essência do Ministério Público. A Carta Mag- a, respectivamente, da Consti-
tuição Federal.
na, ao deferir privativamente ao Parquet o monopólio da persecução penal, baniu de nosso
80 MORAES, Alexandre de.
ordenamento os procedimentos penais ex officio, revogando o artigo 26 do CPP e todas as Constituição do Brasil Interpre-
leis especiais que permitiam a instauração da ação penal pública, sem denúncia do Parquet tada, p. 1523.
ou queixa, nas hipóteses legais. A ação penal, em regra, é de iniciativa pública incondicio- 81 Art. 24 do CPP.
nada, cabendo ao Ministério Público promovê-la, independentemente da manifestação da 82 “A ação penal que depende
de representação, reclama ma-
vontade de qualquer um que seja. Há casos, expressamente previstos em lei81, em que a nifestação de vontade do ofen-
iniciativa do Ministério Público dependerá da representação do ofendido82 ou da requisição dido para atuação do Ministé-
rio Público. Sem essa iniciativa,
do Ministro da Justiça. Há, ainda, a hipótese da ação penal ser promovida pelo próprio a ação penal nasce com vício
insanável.” (RSTJ 106/436)
ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo. É a ação penal de iniciativa
privada, “onde ocorre uma espécie de substituição processual, em que se defende interesse alheio 83 MIRABETE, Júlio Fabbrini.
Código Penal Interpretado. São
em nome próprio”.83 Paulo: Atlas, 1999. p. 525
A atuação ministerial no âmbito cível não pode ser estudada dissociada dos artigos 81
e 82 do Código de Processo Civil:
“Art. 81. O Ministério Público exercerá o direito de ação nos casos previstos em lei,
cabendo-lhe, no processo, os mesmos poderes e ônus que às partes.
Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:
I - nas causas em que há interesses de incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdi-
ção, casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais
causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.”
Público pode ter opinião livre não podendo, entretanto, tomar qualquer medida judicial em 85 Tornagui, Hélio. Comentários
ao Código de Processo Civil. São
desfavor do incapaz, como argüição de prescrição, por exemplo. No que concerne ao inciso Paulo: Revista dos Tribunais, v.
1, p. 281 e Alcides Mendonça
II do art.82, há consenso na doutrina de que a intervenção possui natureza fiscalizatória, em Lima. Atividade do Ministério
todas as causas e hipóteses ali descritas. Público no Processo Civil, Re-
vista do Processo, 10/72. v.1.
Por derradeiro, em relação ao inciso III, note-se que a primeira parte do dispositivo
86 Hugo Nigro Mazzilli. Regime
faz alusão a litígios coletivos pela posse de terra rural, enumerando, portanto, hipótese que Jurídico do Ministério Público,
torna obrigatória a intervenção do Ministério Público. Já na segunda parte, o dispositivo é p. 735.
mais abrangente, vez que não enumera as hipóteses de intervenção, tão somente determi-
nando a atuação ministerial em caso de evidência de interesse público, seja pela natureza da
lide ou pela qualidade da parte. O dispositivo assume vital importância, eis que os artigos
84 e 246 do CPC preconizam a nulidade de qualquer feito, face a não intervenção do Mi-
nistério Público. Como não há norma disciplinando tais hipóteses, diversamente dos incisos
I e II, caberá ao Ministério Público, discricionariamente87, decidir se deverá ou não intervir,
submetendo sua decisão ao crivo do Judiciário,88 a quem competirá tão somente aferir a
legalidade, ou seja, o exercício regular deste poder discricionário.
Estas são as formas de intervenção do Ministério Público na área cível, sendo bastante
variada as áreas onde atua, como, por exemplo, no sistema de provedoria de fundações, na
Promotoria da Infância, Juventude e Idosos, nas Promotorias de Família, nas Promotorias
das massas falidas e liquidações extrajudiciais, na Promotoria de Fazenda Pública, dentre
outros.
ou instituição, civil ou militar, à qual seja atribuída parcela de poder de polícia, relacionada
com a segurança pública e persecução criminal.
Duas são as formas de se exercer o controle em estudo: através do controle difuso (por
todos os membros do Ministério Público com atribuição criminal, quando do exame dos
procedimentos que lhes forem atribuídos) ou através do controle concentrado (membros
com atribuições específicas para o controle externo da atividade policial, conforme discipli-
nado no âmbito de cada instituição).
Os órgãos do Ministério Público, no exercício das funções de controle externo da ati-
vidade policial têm livre acesso aos estabelecimentos prisionais, aos documentos relativos à
atividade-fim policial, bem como aos presos a qualquer momento90.
No exercício de suas atribuições rotineiras na fiscalização da atividade policial, incum-
be ao membro do Ministério Público; a) havendo fundada necessidade e conveniência, ins-
taurar procedimento investigatório referente a ilícito penal que tenha ocorrido no exercício
da atividade policial; b) instaurar procedimento administrativo visando sanar as deficiên-
cias ou irregularidades detectadas no exercício do controle externo da atividade policial; c)
apurar as responsabilidades decorrentes do descumprimento injustificado das requisições
que tenha feito; d) encaminhar cópias dos documentos ou peças de que dispõe ao órgão da
instituição com atribuição para a instauração de inquérito civil público ou ajuizamento de
ação civil por improbidade administrativa.91
Em suma, o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como
objetivo a constatação da regularidade e adequação de procedimentos empregados na reali-
zação da atividade de polícia judiciária, bem como a integração das funções do Ministério
Público e da Polícia judiciária voltada para a persecução penal e o interesse público, de-
vendo o Parquet atentar, nesta atividade, para a prevenção da criminalidade; a finalidade,
a celeridade, o aperfeiçoamento e a indisponibilidade da persecução penal; a prevenção ou
a correção de irregularidades, ilegalidades ou abuso de poder relacionados com a atividade
de investigação criminal; e buscar superar as falhas na produção da prova, inclusive técnica,
para fins de investigação criminal.
Composição do CNMP
Atribuições do CONAMP
“Art. 130-A
(...)
§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação ad-
ministrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de
seus membros, cabendo-lhe:
I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalida-
de dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e
dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público
da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência
disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, deter-
minar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcio-
nais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do
Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a
situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a
mensagem prevista no art. 84, XI.”
Um dos integrantes do conselho será escolhido para atuar como Corregedor Nacional
do Ministério Público. A escolha será feita por votação secreta, da qual participarão todos os
integrantes do Conselho Nacional. As atribuições do corregedor estão voltadas às atividades
de cunho disciplinar e correicional, cabendo-lhe o recebimento e a colheita de informações
para fins de submissão ao conselho, órgão com atribuição para valorá-las e decidir. Sua ati-
vidade é instrumental e não finalística. Poderá ainda, no exercício de suas funções, realizar
inspeções em qualquer dependência do Ministério Público da União ou dos Estados, bem
como requisitar e designar membros do Ministério Público ou servidores, delegando-lhes
atribuições para a apuração das reclamações e denúncias.
Caso de sedimentação
A Vitaliciedade
É a impossibilidade de perda do cargo após dois anos de efetivo exercício, senão por
sentença transitada em julgado, dentro de determinadas hipóteses previstas em lei.
A vitaliciedade dos membros do Parquet, preconizada no Artigo 128, § 5º, I “a” da CF
difere da estabilidade garantida aos servidores públicos, após três anos de efetivo exercício,
prevista no Artigo 41 da Carta Magna, porque somente poderá ser quebrada mediante
processo judicial, com decisão trânsito em julgado. Deve-se ressalvar que, para alcançar a vi-
taliciedade, o membro da instituição deverá contar com dois anos de exercício efetivo, isto,
é, não computados quaisquer períodos de férias, licenças ou afastamentos, consoante co-
mando insculpido no Artigo 53, caput, da LONMP. Enquanto não vitaliciado, o promotor
de Justiça pode perder o cargo mediante manifestação voluntária (pedido de exoneração) ou
ser demitido em processo administrativo disciplinar. Isto não ocorre após o vitaliciamento
quando, então, perderá o cargo somente por decisão judicial transitada em julgado.
Após ser vitaliciado, o promotor de Justiça somente poderá perder o cargo, consoante
determinado pela LONMP em seu Artigo 38 § 1º, por sentença judicial proferida em ação
civil própria e transitada em julgado, se ocorrerem quaisquer das seguintes hipóteses: aban-
dono do cargo por mais de trinta dias corridos; exercício da advocacia e prática de crime
incompatível com a função. A LC Estadual nº 106/2003 acresceu mais uma hipótese a este
rol: a prática de improbidade administrativa, em decorrência da Lei Federal n° 8.429/1992,
que não havia sido prevista na LONMP. Inovou também a legislação estadual ao estipular,
nos § 3º e 4° do aludido Art. 134, os crimes considerados incompatíveis com o exercício
funcional, a ensejar a perda do cargo do promotor vitaliciado. Assim, são considerados
incompatíveis com o exercício do cargo os crimes dolosos contra o patrimônio, contra a
administração e fé pública, os que importem lesão aos cofres públicos e aqueles previstos no
Artigo 5º, XLIII da Carta Magna.
A inamovibilidade
A inamovibilidade, preconizada no Artigo 128 § 5, I, “b” da Carta Magna e discipli-
nada nos Artigos 38, II da LONMP c/c 79, II da LC nº 106/2003, é a impossibilidade de
se remover um membro da Instituição do órgão onde esteja lotado, sem sua manifestação
voluntária, impedindo até a própria promoção sem a prévia aquiescência, salvo motivo de
interesse público, após manifestação do órgão colegiado competente.
Por não ser uma garantia de caráter absoluto, a inamovibilidade pode ser afastada por
decisão da maioria absoluta dos membros do Conselho Superior do Ministério Público,
em caso de interesse público (remoção compulsória), assegurada ao membro do Parquet a
ampla defesa e o devido processo legal (Arts 15, VIII da LONMP c/c 22 V da LC 106/03),
cabendo recurso de tal decisão ao Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça
(Art. 12, VIII “d” da LONMP c/c 74 § único da LC 106/03).
A irredutibilidade de subsídios
A irredutibilidade de subsídios foi outorgada aos membros do Ministério Público pela
Carta de 1988.
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória. Para tanto, há que
se obedecer, em qualquer caso, os Artigos 37, X e XI.
A razão da irredutibilidade de vencimentos ou subsídios emerge da necessidade de se garantir
ao membro do Parquet, para o bom desempenho de suas relevantes funções institucionais, imuni-
dade às eventuais retaliações dos governantes no que concerne à diminuição de sua remuneração.
Foro Especial
Outro predicado constitucional dos membros do Parquet é o do foro especial por
prerrogativa de função. A CF, em seu artigo 96, III, outorga aos membros do MP Estadual
o foro por prerrogativa no TJ do Estado onde estiver vinculado. Trata-se de exceção do
princípio do “locus delicti comissi”, local do cometimento do crime, regra geral do Direito
processual, outorgada também pelos artigos 40, IV da LONMP c/c 81, V da LC 106/03.
Ressalte-se que os membros do Ministério Público da União possuem foro especial no STJ
(artigo 105, I, “a” da CRFB) ou nos TRFs (artigo 108, I, “a” da CRFB) de sua região. O
procurador-geral da República, por sua vez, é processado e julgado originariamente, nas
infrações penais comuns, perante o STF (Art. 102, I “b” da CF). Vale ressalvar que tal
garantia é de ordem absoluta, só havendo exceção na hipótese de crime eleitoral, quando
o promotor será julgado no TRE onde estiver vinculado. Assim, mesmo que cometa crime
de competência da Justiça Federal92, Militar ou ainda crime doloso contra a vida93, o juiz
natural do membro do Ministério Público Estadual (promotor ou procurador de Justiça)
será o Tribunal de Justiça do Estado onde estiver vinculado, pelo órgão definido para tanto
pelo regimento interno da Corte. No Rio de Janeiro, a competência é do Órgão Especial.
Há ainda duas questões interessantes sobre a matéria: o crime de responsabilidade prati-
cado pelo procurador-geral de Justiça, que tem por juiz natural, consoante o artigo 99, XIV da
Constituição Estadual, a Assembléia Legislativa do Estado, que será presidida, excepcionalmen-
te, pelo presidente do TJ e o julgamento do procurador geral da República, na mesma hipótese,
que será feito no Senado Federal e presidido pelo presidente do STF (art. 52, II da CRFB).
Ressalte-se, por oportuno, que o foro especial cessa quando o membro do Ministério
Público se aposenta, já que a garantia é destinada ao cargo e não ao seu ocupante.
Caso de sedimentação
Exercício da Advocacia
O exercício da advocacia é vedado aos membros do Ministério Público, consoante os
Artigos 128 § 5º, II, “b” da CF. A prática da advocacia, para o membro vitalício do Parquet
enseja a perda do cargo, consoante previsto no Artigo 38 § 1º, II da LONMP c/c 134 I,
“b” da LC 106/03, gerando a demissão, mediante processo administrativo, daquele não vi-
talício. Ressalve-se que o Artigo 29 § 3º do ADCT resguardou aos membros do Ministério
Público Estadual o direito à advocacia, se ingressos na Instituição antes do advento da LC
40/8195. Isto porque a primeira lei orgânica do Ministério Público Estadual já vedava esta
atividade, sendo seguida, neste mister, pela LC 28/82, antiga Lei orgânica do Ministério
Público Fluminense (Art. 159, VIII) que apenas ressalvava o direito aos já inscritos em 15
de Dezembro de 1981. Note-se que os membros do Ministério Público da União, que não
possuíam qualquer vedação em seus respectivos estatutos, somente passaram a ter a restrição
com o advento da Carta Magna.
uma série de requisitos e prazos deveriam ser obedecidos. A Emenda 45 inovou totalmente 95 Confira-se o Artigo 165 da
LC 106/03, que reitera a norma
o tema. Não há mais a ressalva constitucional. O constituinte vedou de forma absoluta a transitória do Artigo 29 § 3º
atividade político-partidária por membro do Ministério Público. do ADCT.
As prerrogativas
autos com vista continua em vigor. O que o STF mudou foi o cômputo do prazo processual.
A intimação continua se realizando por meio da entrega dos autos com vista ao promotor.
Ocorre que, considera-se como iniciado o cômputo do prazo processual no momento em que
os autos ingressam na secretaria da Promotoria de Justiça. Não está se exigindo mais, para o
início do prazo, o ciente do promotor de Justiça, como se dava anteriormente.
Porte de Arma
Dispõe o artigo 42 da LONMP sobre a licença legal para porte de arma que gozam os
membros do Ministério Público, prerrogativa esta que independe de qualquer ato formal
de licença ou autorização.
Caso de sedimentação
• Uma assídua leitora do jornal, a velhinha de Taubaté, sentiu-se muito orgulhosa pela
atuação do MP contra a corrupção. Reacendeu-se nela, e em todos seus vizinhos,
após conhecer o trabalho que o MP vinha desenvolvendo, a esperança de que a im-
punidade e a corrupção no Brasil estão sendo combatidas com vigor.
• Os políticos envolvidos no escândalo de corrupção propuseram ação de responsa-
bilidade civil contra os dois procuradores da República (pessoalmente) buscando
elevados valores de indenização pelos danos morais decorrentes da publicação das
informações.
Como já visto, a Instituição é dividida, pelo Artigo 128 da Carta Maior, em duas
grandes vertentes: O Ministério Público da União, que se encontra disciplinado na LC
75/93 e que abrange o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o
Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; e os
Ministérios Públicos dos Estados, regidos por uma Lei Orgânica de cunho nacional (Lei
nº 8625/1993 – LONMP), que estabelece parâmetros, balizas e preceitos que devem ser
obrigatoriamente obedecidos pelos diversos Ministérios Públicos locais, respeitado é claro,
a autonomia decorrente do pacto federativo. Cada Ministério Público Estadual possui ainda
uma Lei Orgânica própria, consubstanciada formalmente em Lei Complementar Estadual,
cuja iniciativa é facultada aos respectivos procuradores-gerais de Justiça (art.128, par. 5º da
CF). A Lei Orgânica especificamente do Estado do Rio de Janeiro é a LC nº 106/2003.
substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo vice-procurador-geral da Justiça Militar 103 Art. 120 e 121 da LC 75/93.
Trabalho, por ele designado dentre os subprocuradores-gerais da Justiça Militar.104 A car- 104 Art. 122 da LC 75/93.
Como já asseverado neste trabalho, uma das grandes vertentes do Ministério Público
Brasileiro é o Ministério Público dos Estados, regidos, cada qual, por duas ordens jurídicas:
A primeira, correspondente a Lei Orgânica Nacional (Lei nº 8625/1993 – LONMP), que
estabelece parâmetros, balizas e preceitos que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelos
diversos Ministérios Públicos locais, respeitado é claro, a autonomia estadual em decor-
105 Arts. 144 e 146 da LC 75/93.
rência do pacto federativo. A segunda, específica para cada Ministério Público Estadual,
106 Art. 140 da LC 75/93.
consubstanciada em Lei Complementar Estadual, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
107 Art. 156 da LC 75/93.
procuradores-gerais de Justiça (art.128, par. 5º da CF).
108 Art. 26, IV da LC 75/93.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público tem por objetivo estabelecer normas
gerais e princípios que devem ser seguidos por todos os Ministérios Públicos Estaduais, sen- 109 Art. 156 § 2º da LC 75/93.
do vedado a qualquer Ministério Público Estadual dispor, em sua Lei Orgânica, de modo 110 Art. 158 da LC 75/93.
diferente. Determina, ainda, a estrutura dos órgãos da administração superior do Ministério 111 Art. 157 da LC 75/93.
Público, fixando-lhes a competência e os mecanismos de controle interno da instituição, 112 Arts. 178 e 179 da LC 75/93.
além das atribuições dos seus membros e dispositivos acerca da autonomia do Parquet. 113 Arts. 167 e 175 da LC 75/93.
Ressalte-se, por oportuno, que o Artigo 80 da LONMP autoriza a aplicação subsidiária, aos
Ministérios Públicos Estaduais, das normas previstas na Lei Orgânica do Ministério Público
da União (LC nº 75/1993).
O Ministério Público tem por chefe o Procurador-Geral de Justiça, nomeado
pelo governador do Estado, dentre integrantes da carreira, com mais de dois anos
de atividade, indicados em lista tríplice, para mandato de dois anos, permitida uma
recondução sendo observado o mesmo procedimento. O ingresso na carreira se dá
mediante concurso público de provas e títulos, em obediência ao disposto no Artigo
37 da Constituição Federal, no cargo de Promotor de Justiça Substituto, atuando pe-
rante o primeiro grau de jurisdição. Após dois anos de estágio probatório o promotor
de Justiça é vitaliciado e no decorrer da carreira, por merecimento ou antiguidade,
alternadamente, será promovido a procurador de Justiça, passando a atuar junto ao
segundo grau de jurisdição.
vestida – até mesmo em função do poder de auto-governo que lhe confere a Carta Política (Art. 116 Art. 76 da LC 75/93.
73, caput, in fine) – da prerrogativa de fazer instaurar o processo legislativo concernente à sua 117 Art. 78 da LC 75/93.
organização, à sua estruturação interna, à definição de seu quadro de pessoal e à criação dos
cargos respectivos.”
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS
O inquérito civil
a) ajuizamento da Ação Civil Pública no foro competente, que deverá ser acompanha-
da pelo próprio Promotor de Tutela Coletiva;
b) Celebração de Termo ou Compromisso de Ajustamento de Conduta, estipulando
cláusula penal em caso de descumprimento de suas obrigações;
c) Promoção de arquivamento do inquérito civil, fundamentadamente, submetendo
no prazo de três dias (artigo 9º, §1º da Lei nº 7347/1985), sob pena de falta grave,
sua decisão ao reexame necessário do Conselho Superior do Ministério Público.
Ressalve-se que eventuais vícios do inquérito civil não maculam a Ação Civil Pública
posteriormente ajuizada, sendo certo ainda que mesmo neste caso, eventualmente, o inqué-
rito civil pode servir de lastro, ou seja, suporte probatório mínimo para a ação penal.
Após arquivado o inquérito civil, este poderá ser desarquivado por provocação do pro-
motor de Justiça com atribuição, ao Conselho Superior do Ministério Público.
Caso de sedimentação
Caio e sua esposa Maria firmaram contrato de financiamento habitacional com a Caixa
Econômica Federal, com duração de 120 meses. Ocorre que, quando estava para efetuar o pa-
gamento da 15ª parcela, Caio foi informado por um amigo contador que os juros previstos no
contrato firmado eram abusivos pois, apesar de baseados em uma Lei sobre financiamentos, a
mesma era inconstitucional. Indignado, Caio procura o Ministério Público, que, analisando os
documentos apresentados, propõe uma ação civil pública contra a Caixa Econômica Federal, pos-
tulando a repetição de indébito dos valores pagos a maior por todos os contratados e à obrigação
de não mais inserir nos contratos futuros a referida cláusula, tudo isso tendo como causa de pedir
o reconhecimento da inconstitucionalidade da lei, para que o decisum surta efeitos erga omnes.
119 CARNEIRO, Paulo Cezar Pi-
Pergunta-se: é possível o pedido feito pelo Ministério Público mediante Ação Ci- nheiro. Acesso à Justiça: Juiza-
dos Especiais Cíveis e Ação Civil
vil Pública? Pública. 1ªed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999, p. 119.
Inicialmente, o STF empreendeu análise histórica, concluindo que desde 1936 até os
dias de hoje, apesar das tentativas de modificação do modelo de investigação policial, nunca
foi concedido ao Ministério Público o poder de realizar diligências investigatórias. É inope-
rante o método histórico utilizado. A nova hermenêutica preconiza que nenhum método
de interpretação é capaz de, isoladamente, resolver em definitivo uma questão de tamanha
complexidade. Com a Constituição de 1988, o Ministério Público teve seu papel amplamente
aumentado, passando de Instituição vinculada e subordinada ao Poder Executivo, para um
perfil independente, recebendo o papel maior de guarda do Estado Democrático de Direito,
da defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Desta forma, há
um novo fundamento de validade a embasar a atuação da Instituição, não podendo, portanto,
o intérprete se utilizar de posicionamentos doutrinários, leis e julgados anteriores à Constitui-
ção de 1988 para concluir que o Ministério Público não possui poderes investigatórios.
Outro importante argumento utilizado foi o de ser competência exclusiva da Polícia
Judiciária a atividade investigatória, não tendo o Parquet essa função institucional. Ora, pela
simples leitura do artigo 144, §1º da Carta da República pode-se observar que a verdadeira
vontade do constituinte não foi de conferir exclusividade à Polícia no que tange à investi-
gação, mas sim delimitar o âmbito de atuação de cada uma das Polícias ali mencionadas,
reservando, em especial, para a Polícia Federal a apuração das infrações penais, a prevenção
e repressão ao tráfico de drogas e o exercício, com exclusividade, das funções de polícia
judiciária da União. Não deixou também o constituinte de ressalvar para a Polícia Civil as
funções de polícia judiciária e apuração de infrações penais, quando não colidentes com a
competência da União. Quis o legislador, portanto, apenas delimitar a atribuição de cada
uma delas, tanto é assim, que em seguida elencou as funções da Polícia Militar, Polícia Fer-
roviária e Rodoviária Federal. Na verdade, o poder de investigação não é exclusividade da
polícia, nem o seria desta e do Ministério Público. Existem outros órgãos do Estado para os
quais a lei prevê a possibilidade de realização de diligências investigatórias. 120 Hábeas Corpus 81326.
Exemplos:
LC 64/90
“Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Elei-
toral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional,
relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação
judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de au-
toridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de
candidato ou de partido político(...)”
Vale lembrar, também, não ser o inquérito policial indispensável ao lastro da peça
acusatória. O Artigo 12 do CPP é claro ao deixar patente a prescindibilidade do inquérito,
sendo certo que o Superior Tribunal de Justiça, apreciando a questão, inclusive assim já
decidiu.121 Para reforçar esta idéia de prescindibilidade do inquérito policial, lembre-se do
artigo 27 do CPP que permite que qualquer do povo provoque a iniciativa do Ministério
Público, fornecendo-lhe informações necessárias sobre o crime de seu conhecimento, ad-
mitido-se no ordenamento processual, portanto, inclusive, a investigação particular. O ar-
tigo 39, § 5º do CPP também não pode ser esquecido, visto que ele admite expressamente
que o Ministério Público dispense o inquérito se a representação recebida vier acompanha-
da de dados suficientes para que desde já, seja deflagrada a ação penal. Vale ressalvar, que
o artigo 28 e o artigo 67, I, ambos do CPP falam em “peças de informação”, corroborando
assim com a existência de investigação criminal fora da sede de inquérito policial.
Por tudo o que foi exposto, portanto, nos dias atuais, com a nova ordem constitucio-
121 RHC 9340 / SP, Relator Min.
nal vigente, não há que se falar em monopólio da Polícia no que tange ao poder de inves- José Arnaldo da Fonseca, j.
tigação criminal. 16/12/1999, quinta turma.
LC 75/93
“Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos
procedimentos de sua competência:
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência in-
justificada;
V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
VII - expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que
instaurar;”
A Resolução nº 13 do CNMP
as peças para o Juizado Especial Criminal, caso a infração seja de menor potencial ofensivo,
promover fundamentadamente o respectivo arquivamento, ou requisitar a instauração de
inquérito policial.
O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado de ofício, por membro
do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento de
infração penal, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação.
Dispondo desta forma, resta clara a intenção do Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico em regulamentar o poder investigatório do Ministério Público, restando normatizado o
que na prática já vinha ocorrendo mas sem um procedimento previamente determinado.
Em 10 de outubro de 2006, a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil ajuizou
no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 3806 - sob o
fundamento de que a Resolução, além de violar a exclusividade da condução das investiga-
ções criminais pela polícia judiciária, ao legislar sobre matéria processual penal, confronta
a Constituição Federal em seu artigo 22, inciso I, por tratar-se de matéria de competência
privativa da União.
Em 21 de dezembro de 2006, a Ordem dos Advogados do Brasil ajuizou outra Ação Dire-
ta de Inconstitucionalidade – ADI 3836 – com os mesmos fundamentos acima explicitados.
Em pesquisa realizada em junho de 2008 contatou-se que ambas as ações ainda se
encontram em tramitação. Na ADI 3806, foi deferido o pedido da ADEPOL, funcionando
a associação como amicus curiae.
Caso de sedimentação
QUESTÕES DE CONCURSOS
2) Em caso de extinção de vara judicial junto à qual atua órgão de execução, o Promotor de
Justiça que dele era titular se submete a qual situação funcional? Explique as possibilidades
decorrentes dessa situação, com base nas garantias constitucionais e na disciplina normativa
institucional.
O acréscimo ou supressão da competência do juízo alteram imediatamente a atribuição do
órgão de execução?
RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA.
(XXX Concurso para Ingresso Ministério Público/RJ – 2008 – Princípios Institucio-
nais do Ministério Público - Prova específica)
4) Determinado agente público é notificado pelo órgão com atribuição do Ministério Pú-
blico do Estado do Rio de Janeiro para prestar esclarecimentos em inquérito civil que apura
o seu possível envolvimento na prática de atos de improbidade administrativa.
Irresignado com a situação, referido agente busca amparo no Conselho Nacional do Minis-
tério Público, argumentando que: (a) o juízo valorativo do membro do Ministério Público
em relação aos fatos é equivocado, já que todos os atos, no seu entender, foram praticados
para a salvaguarda do interesse público; (b) a investigação gera uma ruptura do sistema
constitucional de divisão dos poderes, pois afronta a total liberdade política do Administra-
dor, sendo manifestamente ilícita.
Após a regular tramitação do processo administrativo, o Conselho Nacional do Ministério
Público acolhe os argumentos apresentados para trancar o inquérito civil e, face à gravidade
do fato, aplicar ao Promotor de Justiça a sanção de aposentadoria compulsória com proven-
tos proporcionais ao tempo de serviço.
À luz desses fatos, questiona-se: é juridicamente correta a decisão do Conselho?
RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA.
(XXIX Concurso para ingresso no MP/RJ – 2007 – Direito Constitucional – Prova
preliminar)
A POLÍCIA FEDERAL
No âmbito estadual, portanto, nós temos a presença das polícias civis e militares. Às
polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Já as polícias
civis são dirigidas por delegados de polícia de carreira (ingressos por meio de concurso
público de provas ou de provas e títulos), incumbindo-lhes, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
Em âmbito federal, consoante expressa previsão constitucional, é atribuição da Polícia
Federal exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. É no estudo
da polícia federal que iremos nos ater um pouco mais nesta aula.
A POLÍCIA FEDERAL
Origem
Atribuição constitucional
manutenção da ordem pública pelas Polícias Militares dos Estados. Instaura ainda inqué-
ritos relacionados aos conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quando se
tratar de crime de competência federal, bem como previne e reprime esses crimes.
Cumpre destacar a relevância social e a importância jurídica dos trabalhos desenvolvi-
dos pelo DPF no exercício de suas atribuições.
A liberdade de iniciativa, inerente ao poder de investigar, traz conseqüências e reflexos
imediatos para a sociedade. Mais do que apurar fatos pretéritos, o exercício da polícia judi-
ciária da União permite o desenvolvimento de uma atividade bastante dinâmica. Quando
fundadas em atividades de inteligência, as investigações podem identificar e interromper
a atuação de organizações criminosas que causam, de maneira continuada, prejuízo direto
aos cofres públicos com reflexo danoso para toda a sociedade. A simples desarticulação de
tais organizações (portanto, antes mesmo de haver processo penal ou formação de culpa)
traz o efeito imediato de estancar as ações criminosas que atingem a Administração Pública
e a impedem de promover a sua função social. Por conseqüência, valores antes desviados
para enriquecer as contas da corrupção poderão finalmente chegar ao seu destino original,
beneficiando a população com a melhoria dos serviços públicos prestados, como a educação
e saúde.
Além de repercutir diretamente em favor da sociedade, a atividade da polícia judiciária
da União traz importantes conseqüências na esfera jurídica. As ações policiais provocam
constantes posicionamentos do Ministério Público e do Poder Judiciário, na medida em
que os inquéritos são concluídos e relatados. É nesse instante que as diversas teses jurídicas
sustentadas durante a fase de investigação, tanto no âmbito do direito formal quanto subs-
tancial (como, por exemplo, em matéria de produção de prova, adequação da tipificação
penal, etc.) serão apreciadas e decididas. Em outras palavras, o primeiro juízo em matéria
penal e processual penal (v. g. o exercício da subsunção e verificação da legalidade dos
procedimentos de investigação) é feito na esfera policial, ainda que condicionados a uma
apreciação posterior pelo Ministério Público e pelo Judiciário, o que evidencia o caráter de
carreira jurídica do cargo de delegado de polícia federal.
Estrutura organizacional
I - UNIDADES CENTRAIS
1. CONSELHO SUPERIOR DE POLÍCIA - CSP
2. GABINETE - GAB
2.1. Setor de Acompanhamento de Processos - SEAPRO
2.2. Divisão de Comunicação Social - DCS
3. DIRETORIA-EXECUTIVA - DIREX
3.1. Coordenação de Operações Especiais de Fronteira - COESF
3.1.1. Divisão de Controle Operacional de Fiscalização - DICOF
3.1.2. Divisão de Estudos, Legislação e Pareceres - DELP
3.1.3. Divisão de Análise de Processos e Expedição de Documentos - DAPEX
3.2. Coordenação do Comando de Operações Táticas - COT
3.2.1. Serviço de Estratégias Táticas - SET
3.2.2. Serviço de Operações Táticas - SOT
3.3. Coordenação de Aviação Operacional - CAOP
3.3.1. Serviço de Manutenção - SMAN
3.3.2. Serviço de Operações Aéreas - SOAR
3.4. Coordenação-Geral de Defesa Institucional - CGDI
3.4.1. Divisão de Direitos Humanos - DDH
3.4.1.1. Serviço de Proteção aos Direitos Humanos e ao Depoente Especial - SPHE
3.4.2. Divisão de Assuntos Sociais e Políticos - DASP
3.4.2.1. Serviço de Repressão ao Trabalho Forçado - SETRAF
3.4.2.2. Serviço de Repressão a Crimes Contra Comunidades Indígenas - SEINC
3.4.3. Divisão de Segurança de Dignitários - DSD
3.4.3.1. Serviço Regional Sul - SERSUL
3.5. Coordenação-Geral de Polícia Fazendária - CGPFAZ
3.5.1. Serviço de Análise de Dados de Inteligência Policial - SADIP
3.5.2. Divisão de Repressão a Crimes Fazendários - DFAZ
3.5.3.. Divisão de Repressão a Crimes Previdenciários - DPREV
3.5.4. Divisão de Repressão a Crimes Contra o Meio-Ambiente e Patrimônio Histó-
rico - DMAPH
3.5.5. Serviço de Apoio Administrativo - SAD
3.5.6. Serviço de Estudos, Legislação e Pareceres - SELP
3.6. Coordenação-Geral de Polícia Criminal Internacional - INTERPOL
3.6.1. Setor de Logística - SELOG
3.6.2. Divisão de Cooperação e Operações Policiais Internacionais - DPI
3.6.2.1. Setor de Gerenciamento Operacional - SEGOP
3.6.2.2. Serviço de Difusões e de Procurados Internacionais - SDPI
3.7. Coordenação-Geral de Polícia de Imigração - CGPI
3.7.1. Setor de Análise de Dados de Inteligência Policiais - SADIP
3.7.2. Divisão de Controle de Imigração – DCIM
3.7.3. Divisão de Cadastro e Registro de Estrangeiros - DICRE
3.7.4. Divisão Policial de Retiradas Compulsória -DPREC
3.7.5. Divisão de Passaportes - DPAS
3.8. Coordenação-Geral de Controle de Segurança Privada - CGCSP
3.8.1. Setor de Apoio Administrativo - SAD
3.8.2. Serviço Regional da Amazônia - SERAM
3.8.3. Serviço Regional Oeste - SEROESTE
II - UNIDADES DESCENTRALIZADAS
1. SUPERINTENDÊNCIAS REGIONAIS - SR
2. CONSELHOS REGIONAIS DE POLÍCIA - CRP
3. DELEGACIAS DE POLÍCIA FEDERAL - DPF
ORGANOGRAMA
Forças tarefas
FORÇAS TAREFAS
FLUXOGRAMA
Os trabalhos desenvolvidos pelas forças-tarefas, nas diversas FGV DIREITO RIO 138
áreas, como por exemplo, fazendária e previdenciária, têm, de modo
Os trabalhos desenvolvidos pelas forças-tarefas, nas diversas áreas, como por exem-
plo, fazendária e previdenciária, têm, de modo coordenado, operando em conjunto e com
tarefas específicas, atingido o objetivo de otimizar tempo, trabalho e recursos na busca da
responsabilização de integrantes de organizações criminosas que, muitas vezes, a partir de
desvio de verba pública, praticam diversos delitos, culminando com a lavagem de capitais.
Importante destacar, neste tema, que as instituições que compõe a força tarefa têm
atribuições distintas, todas elas de suma importância. No dia a dia de trabalho é necessário
o respeito à atuação de cada uma das instituições para que o trabalho seja bem desenvolvido
e o resultado alcançado seja satisfatório.
Por fim, destaque-se que o trabalho da força tarefa ou qualquer procedimento policial
não terá atingido seu objetivo material se as atuações do Ministério Público e da Justiça
Federal também não estiverem alinhadas. Isso significa que as diversas instituições, com-
pondo ou não a força tarefa, até pela natureza de suas atuações, devem buscar a realização
da Justiça, com a responsabilização dos autores de crime.
CONCLUSÃO
Caso de sedimentação 1
No dia 17 de maio de 2007, João, estudante de Direito que se preparava para ir à aula
enquanto assistia os primeiros jornais da manhã pela televisão se deparou com a seguinte
notícia:
Interessado, João acessou a internet e leu ainda outras notícias acerca da operação:
Caso de sedimentação 2
“O criminoso conhecido como Zé, preso por tráfico internacional de drogas, interpôs
Hábeas Corpus junto ao Tribunal de Justiça contra denúncia oferecida por Promotor de
Justiça. Segundo o acusado, o membro do Parquet estaria impedido de funcionar na fase pro-
cessual tendo em vista que ele mesmo, pessoalmente, colheu as declarações das testemunhas
de acusação em seu gabinete, oferecendo posteriormente a exordial acusatória. Além disso,
a defesa de Zé alega ser da polícia federal a exclusividade das atividades de polícia judiciária
da União.”
ADVOCACIA
Para inscrição em seu quadro é preciso ser bacharel em Direito, com diploma ou cer-
tidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e cre-
denciada e aprovação em Exame de Ordem. Para o regular exercício da profissão de advogado,
o interessado não poderá ainda ter qualquer impedimento ou incompatibilidade. O Estatuto
da OAB, Lei nº 8.906/1994, em seu artigo 27 distingue a incompatibilidade, que seria uma
proibição total, do impedimento, que é a proibição parcial para o exercício da advocacia.
“Art. 2º
§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao
seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público”
Desta forma, haverá excesso impunível se a ofensa irrogada for vinculada à atividade
funcional e pertinente à pretensão que esteja o advogado defendendo em juízo. A imuni-
dade inexistirá quando a ofensa for gratuita, desvinculada do exercício profissional e não
guardar pertinência com a discussão da causa. Por exemplo, o Código Penal, em seu artigo
142, I, prevê que “não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em
juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador”.
São causas de exclusão do crime apenas com relação aos delitos que menciona - injúria
e difamação -, mas não quanto à calúnia, que omitira. Assim, a imunidade do advogado não
foi estendida à calúnia nem com a superveniência da Lei nº 8.906/1994, - o Estatuto da
Advocacia e da OAB -, cujo art. 7º, § 2º, só lhe estendeu o âmbito material - além da injúria
e da difamação, nele já compreendidos conforme o código, ao desacato.
Quanto ao desacato inclusive, o Supremo Tribunal Federal, na Adin nº 1127-8, rel.
Min Paulo Brossard, suspendeu liminarmente a eficácia da expressão “ou desacato” contida
no Artigo 7º, §2º do Estatuto da OAB, que alargava a abrangência da imunidade material
dos advogados. Da mesma forma, limita-se a imunidade do advogado quando a ofensa se
dirige contra magistrado:
Por fim, cabe lembrar que a profissão de advogado tem assegurada, por lei, alguns di-
reitos que se constituem, na verdade, prerrogativas para o fiel e correto desempenho da fun-
ção. São exemplos destes direitos o Artigo 6º e 7º do Estatuto da OAB, Artigos 20 e 40 do
Código de Processo Civil. Por outro lado, também restaram previstos na legislação diversos
deveres e conseqüentes infrações a que se submetem os advogados. Eis alguns deles: Artigo
2º, 8º a 19, 44 a 46 do Código de Ética e Disciplina; Artigo 34 do Estatuto da Advocacia e
Artigo 14 e 39 do Código de Processo Civil.
ADVOCACIA PÚBLICA
Caso de sedimentação:
como também pela garantia da legalidade nas relações do Município para com o seu quadro
de pessoal estatutário (servidores públicos). A PGM faz também a cobrança dos tributos
municipais inscritos em dívida ativa, isto é, os impostos e taxas não pagos, que precisam ser
cobrados de forma amigável ou através de execução judicial.
A direção da instituição compete ao Procurador Geral, com as prerrogativas de Secre-
tário Municipal, nomeado em comissão dentre bacharéis em Direito maiores de 35 anos. A
PGM, diretamente subordinada ao prefeito, será composta de procuradores e de órgãos que
integram a sua estrutura orgânica. O quadro de Procuradores do Município é constituído
de 75 (setenta e cinco) cargos distribuídos em categorias (1ª, 2ª e 3ª categorias). O ingresso
na carreira de Procurador do Município far-se-á na 3ª categoria, mediante concurso público
de provas e títulos, com a participação de representante da Ordem dos Advogados do Brasil,
podendo a ele concorrer bacharéis em Direito.
A PGE possui autonomia administrativa e financeira e disporá de dotação orçamen-
tária própria.
DEFENSORIA PÚBLICA
Por fim, cumpre-nos falar um pouco sobre o grande salto que a Defensoria Pública
deu no cenário jurídico após a Emenda Constitucional nº 45/2004, com o acréscimo do
§2º do Art. 134:
existia. Hoje, atendendo os reclamos da doutrina, existe a iniciativa para a proposta orça-
mentária, o que deverá tornar este órgão mais fortalecido. Deve-se lembrar que, muitas
vezes, a Defensoria Pública em suas atividades se voltava contra o próprio Poder Executivo
ou fisco. Eram ações propostas em nome do assistido contra o Estado. Ocorre que este
mesmo Estado era o patrocinador da entidade. Era o Poder Executivo o responsável pelo re-
passe orçamentário à Defensoria Pública, o que tornava a situação, ao menos desconfortável
naquelas demandas em que o próprio patrocinador da entidade era por esta caracterizado
como réu.
Essa inovação, portanto, certamente permitirá um substancial aumento orçamentário
e conseqüentemente uma desejável efetiva e imparcial atuação. Desta forma, mostra-se de
imensurável importância a atuação da Defensoria Pública, intuindo-se sua imprescindibili-
dade para realização do Estado Democrático de Direito.
Entendemos que muito ainda há que se discutir acerca do tema. Uma norma regu-
lamentadora há de ser prontamente elaborada a fim de evitar que celeumas doutrinárias e
disputas políticas acabem por prejudicar a coletividade. Até que este norma seja editada,
entendemos que a previsão genérica é que deva prevalecer.
Caso se conclua que a Defensoria Pública só poderá atuar na seara coletiva em prol dos
necessitados, cabe lembrar que o Ministério Público atua como custos legis nas ações civis
públicas propostas por outros legitimados e continuará o fazendo em sede de ação proposta
pela Defensoria Pública. Desta forma, atuando a Defensoria em matéria que não seja refe-
rente a hipossuficientes, caberá ao Parquet, como custos legis, alertar para esta preliminar de
ilegitimidade ativa e, com isso, assumir o pólo ativo da demanda quando for necessário.
No dia 16 de agosto de 2007, a Associação Nacional dos Membros do Ministério
Público – CONAMP - ajuizou no Supremo Tribunal Federal uma ação direta de inconstitu-
cionalidade contestando a Lei 11.448/2007. A ADIn tem como relatora a Ministra Carmen
Lúcia e até junho de 2008 ainda não havia sido julgada.
Caso de sedimentação:
No dia 30 de outubro de 2005, Tício, que conduzia seu veículo distraidamente, subiu
na calçada e atropelou Mévio, morador de rua, lesionando-o em suas pernas gravemente.
Tício foi processado pelo crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo
automotor (Artigo 303 da Lei nº 9503/1997), vindo a ser condenado em março de 2006.
Sabendo-se que a sentença penal condenatória transitada em julgado torna certa a obrigação
de indenizar o dano, sendo, portanto, título executivo judicial, o Ministério Público ajuíza
a ação de execução no juízo cível.
Diante da redação do Artigo 68 do Código de Processo Penal e do que acabamos
de estudar, pergunta-se: agiu corretamente o membro do Ministério Público ao impe-
trar a ação civil ex delito?
Carlos Roberto Jatahy é Mestre pela UNESA. Autor das obras Curso de
Princípios Institucionais do MP, 2ª edição 2005, e Ministério Público- Legislação
Institucional, 2ª edição 2006, Rio de Janeiro: Ed. Roma Victor, 200X. É também
Bacharel em Direito pela UERJ. Leciona no Magistério Jurídico desde 1988.
É Procurador de Justiça no Estado do Rio de Janeiro desde 2002, sendo membro
do MPERJ desde 1988. Foi Subprocurador-Geral de Justiça 2003-2005.
É membro do Conselho Superior do MPERJ.
FICHA TÉCNICA
Joaquim Falcão
DIRETOR
Fernando Penteado
VICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO
Sérgio Guerra
VICE-DIRETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Ronaldo Lemos
Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade
Rogério Barcelos
COORDENADOR DE ENSINO DA GRADUAÇÃO
Tânia Rangel
COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO
Wania Torres
COORDENADORA DE SECRETARIA DE GRADUAÇÃO
Diogo Pinheiro
COORDENADOR DE FINANÇAS
Milena Brant
COORDENADORA DE MARKETING ESTRATÉGICO E PLANEJAMENTO