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Emerson Bruno O.

Freitas

Série Preparação Permanente


DIREITO
CONSTITUCIONAL
Atualizada até a EC nº 106/2020
Teoria Completa, Comentada e Esquematizada

Fascículo 10:
DO PODER LEGISLATIVO
(Arts. 44 a 58, CF88)

www.editoraatualizar.com.br
FICHA TÉCNICA

Revisão Geral
Emerson Bruno Oliveira Freitas

Revisão/Diagramação dos Esquemas


Emerson Bruno Oliveira Freitas

Atualizações
Emerson Bruno Oliveira Freitas

FREITAS, Emerson Bruno Oliveira;


Direito Constitucional / Emerson Bruno Oliveira Freitas - Série Preparação Permanente
Fascículo 10: Do Poder Legislativo (Arts. 44 a 58)
– Belo Horizonte: Editora Atualizar, 2020.

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IMPRESSO NO BRASIL - PRINTED IN BRAZIL


SUMÁRIO

10. DO PODER LEGISLATIVO (ARTS. 44 A 58 CF/88)........................................................................ 5

1 - Introdução................................................................................................................................... 5

2 - O Poder Legislativo e suas Funções.......................................................................................... 6

3 - Órgãos do Poder Legislativo no Brasil........................................................................................ 6

4 - Do Congresso Nacional.............................................................................................................. 7

5 - Atribuições do Congresso Nacional............................................................................................ 8


A) Competência Legislativa Comum do Congresso Nacional............................................................... 8
b) Competência Legislativa Exclusiva do Congresso Nacional:........................................................... 9

6 – Funcionamento do Congresso Nacional.................................................................................... 11


6.1 - Legislatura e Sessão Legislativa Ordinária................................................................................... 11
6.2 – Sessões Preparatórias................................................................................................................11
6.3 – Recesso Parlamentar..................................................................................................................12
6.5 - Sessão Legislativa Extraordinária (SLE)...................................................................................... 12
6.6 – Organização interna do Congresso Nacional.............................................................................. 13
A) Mesas:.............................................................................................................................................13
B) Comissões:......................................................................................................................................13
C) Comissões Parlamentares de Inquérito:..........................................................................................14
D) Plenário: ..........................................................................................................................................17

7 - Do Senado Federal..................................................................................................................... 17
7.1 - Características importantes do Senado abordadas em Concursos Públicos................................ 18
7.2 – Competências Privativas do Senado Federal.............................................................................. 18
a) Competência nos Crimes de Responsabilidade............................................................................... 18
B) Competência para sabatinar autoridades........................................................................................18
C) Competência para destituição do Procurador-Geral da República.................................................. 19
D) Competência sobre assuntos financeiros (limites de endividamento).............................................. 19
E) Competência Interna........................................................................................................................20
F) Competência eletiva.........................................................................................................................20
G) Competência sobre assuntos tributários..........................................................................................20
H) Competência para exercer controle repressivo de constitucionalidade........................................... 20

8 – Da Câmara dos Deputados....................................................................................................... 21


8.1 – Quantos são e de que forma é definido o número de Deputados Federais?............................... 21
8.2 – Competência Privativa da Câmara dos Deputados..................................................................... 22
9 – Estatuto dos Congressistas....................................................................................................... 22
9.1 - "Foro privilegiado" (Prerrogativa de Função)................................................................................ 22
9.2 - Imunidades...................................................................................................................................23
9.3 - Sigilo das informações obtidas em razão do cargo...................................................................... 24
9.4 - Incorporação às Forças Armadas.................................................................................................24
9.5 - As imunidades e o estado de sítio................................................................................................24
9.6 - Incompatibilidades........................................................................................................................24
9.7 - Perda do Mandato........................................................................................................................24
9.8 - Aplicação do Estatuto dos Congressistas a Deputados Estaduais e Distritais:............................ 26
9.9 - Aplicação do Estatuto dos Congressistas aos Vereadores........................................................... 26
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10. DO PODER LEGISLATIVO


(ARTS. 44 A 58 CF/88)

1 - Introdução
Na clássica teoria da separação dos poderes desenvolvida por Montesquieu, o Poder Legislativo, assim
como o Executivo e o Judiciário desempenham papel fundamental na organização do Estado. Em sua obra
“Do Espírito das Leis”, publicada em 1748, esse importante filósofo francês propôs não apenas a separação
do Poder em três funções distintas, mas, sobretudo, seu exercício por três instituições independentes de modo
a impedir que todo o poder do Estado se concentrasse nas mãos de uma única pessoa.
A teoria de Montesquieu surge em oposição à ideia do Estado Absolutista, no qual todo o Poder se con-
centrava nas mãos do rei, soberano exclusivo, a quem tudo e todos estavam submetidos. O objetivo primordial
de Montesquieu foi o enfraquecimento desse poder central. Ao propor o exercício do poder através de três
funções estatais distintas e independentes, enseja o surgimento de um Estado democrático que esteja abaixo
do interesse social e não acima dele.
Para tanto, existia a necessidade de que o interesse geral, vigente na sociedade, fosse estabelecido e
normatizado por um poder independente, composto por representantes escolhidos por aquela mesma so-
ciedade e não mais por um soberano autoritário. Surge, então, o Poder Legislativo, instituição democrática,
composta de representantes do povo e que tem como função típica a de legislar, a de elaborar o conjunto de
normas a serem observadas pelo próprio Estado e por toda a sociedade.
Entretanto, apenas o surgimento do Poder Legislativo não seria suficiente para a concepção de um ver-
dadeiro Estado Democrático, capaz de substituir um Estado autoritário e absolutista. Uma vez realizada a
função legislativa, seria preciso administrar a vida em sociedade de acordo com as normas estipuladas pelo
próprio legislador. Essa função administrativa foi conferida ao Poder Executivo que, através da instituição de
serviços de natureza pública, permitiria a administração desses mesmos serviços em prol de toda sociedade.
Contudo, a instituição de uma função legislativa e de outra administrativa mais uma vez seria insuficien-
te para a plena consolidação do Estado Democrático. A vida em sociedade não importa necessariamente
uma vida pacífica entre todos os seus membros, ou mesmo a completa correção da Administração Pública
perante os interesses coletivos. Naturalmente, tem-se a existência de conflitos de interesses que podem se
traduzir em lesão ou ameaça de lesão aos direitos abstratamente normatizados pelo legislador. Portanto, foi
fundamental a instituição de um terceiro poder, independente como os demais, cuja principal função seria a
jurisdicional, a de aplicar as normas vigentes sobre os conflitos de interesses que configurassem desrespeito
ou ameaça aos direitos assegurados a todos os cidadãos. Surge, assim, o Poder Judiciário, capaz de dizer o
Direito de forma concreta, de acordo com cada conflito levado ao seu conhecimento.
O exercício do poder, que antes era exercido por um só, passou a ser exercido de acordo com as três
funções típicas do Estado: a de legislar, a de administrar e a de julgar.
O legislador pensa, o administrador executa e o juiz resolve os conflitos que podem surgir entre o pen-
samento do legislador e a administração da vida em sociedade. Portanto, cada Poder tem uma função típica,
conforme o esquema abaixo:

PODER LEGISLATIVO FUNÇÃO LEGISLATIVA ELABORAÇÃO DAS LEIS.

PODER EXECUTIVO FUNÇÃO ADMINISTRATIVA ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS.

PODER JUDICIÁRIO FUNÇÃO JURISDICIONAL JULGAR. APLICAR A LEI AOS CONFLITOS LEVADOS
AO SEU CONHECIMENTO.

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Prof. Emerson Bruno - Fascículo 10 - Poder Legislativo (Art. 44 a 58, CF88)

A teoria de Montesquieu foi concretizada poucos anos depois nas Revoluções Americana e Francesa no
final do Séc. XVIII, que estabeleceram de forma concreta a repartição do exercício do Poder entre Legislativo,
Executivo e Judiciário. A evolução do Estado Democrático logo demonstraria que o exercício de cada função
típica por parte de cada Poder não poderia ser feita de forma absolutamente independente. Ao contrário, os
Poderes devem ser independentes e harmônicos entre si, de modo que um complemente a função do outro.
Somente assim é que temos a consecução de um Estado mais democrático e eficiente.
Com o exercício do Poder tripartido entre Legislativo, Executivo e Judiciário, cada qual exercendo suas
funções para o povo, detentor originário de todo Poder, é que se consolida a existência de um verdadeiro Es-
tado Democrático de Direito. Um Estado no qual a relação de Poder existente entre governantes e governados
se dá de forma democrática e eficiente em prol de toda a coletividade. Todos estão abaixo da legalidade e, por
isso, livres do arbítrio de qualquer tirania.

2 - O Poder Legislativo e suas Funções


Em nossa Constituição, o Poder Legislativo exerce verdadeiramente duas funções típicas: a de legislar e
a de fiscalizar. Na função legislativa, compete ao Poder Legislativo a elaboração das leis de forma genérica,
comandos abstratos a serem observados por toda a sociedade, sempre de acordo com as regras constitucio-
nais que regem o processo legislativo. Como exemplo da função fiscalizadora, temos o art. 70 de nossa Carta
Magna, segundo o qual compete ao Congresso Nacional realizar a fiscalização contábil, financeira, orçamen-
tária, operacional e patrimonial do Poder Executivo.
Ao mesmo tempo tem o Legislativo, assim como os demais Poderes, o exercício de funções atípicas. São
funções atípicas do Poder Legislativo a administrativa e a jurisdicional (julgar). De uma forma geral podemos
assim representar:

Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário

Funções Típicas • Legislar e Fiscalizar. • Administrar. • Julgar.

• Administrar; • Legislar; • Legislar;


Funções Atípicas
• Julgar. • Julgar. • Administrar.

Como exemplo de função administrativa do Poder Legislativo, temos a capacidade de o próprio Senado
Federal auto-administrar-se, como, por exemplo no provimento de cargos através de concurso público. Já
como um dos exemplos da função jurisdicional tem-se a competência do Senado Federal de julgar o Presi-
dente da República nos crimes de responsabilidade (art. 52, I, CF).

3 - Órgãos do Poder Legislativo no Brasil


Nosso país, como uma República Federativa, apresenta órgãos do Poder Legislativo para cada nível
federativo.

Nível Federativo Órgãos do Poder Legislativo

• União • Congresso Nacional = Senado Federal + Câmara dos Deputados


• Estados • Assembléias Legislativas
• Distrito Federal • Câmara Legislativa do Distrito Federal
• Municípios • Câmaras Municipais

Em cada um deles, os membros do Poder Legislativo recebem as seguintes denominações:

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Nível Federativo Órgãos do Poder Legislativo Denominações dos membros

• Senado Federal • Senadores


• União
• Câmara dos Deputados • Deputados Federais
• Estados • Assembléias Legislativas • Deputados Estaduais
• Distrito Federal • Câmara Legislativa do DF • Deputados Distritais
• Municípios • Câmaras Municipais • Vereadores

4 - Do Congresso Nacional
No âmbito da União, o exercício do Poder Legislativo compete ao Congresso Nacional, formado pela
união do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Adotamos o sistema de organização bicameral para o
legislativo da União, cujo órgão representativo é o Congresso Nacional, mas que se subdivide em duas casas
independentes: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados.
Adota-se o bicameralismo como uma decorrência da forma federativa de organização do Estado. Trata-se
do chamado bicameralismo federativo. Os Estados federados ao cederem sua soberania em prol de um ente
maior, a República Federativa do Brasil, precisam ter representantes no Legislativo, uma vez que a elaboração
das leis regulará não apenas os interesses do povo, mas também de todos os Estados-membros. Assim, em
respeito ao pacto federativo, o Legislativo da União precisa ter representantes dos Estados membros e do Dis-
trito Federal, os senadores.
Entretanto, como “todo Poder emana do povo e deve ser exercido em nome dele”, não poderia o Con-
gresso Nacional ser composto apenas por representantes dos Estados e do Distrito Federal. Fundamental é
a existência de representantes do povo, os Deputados Federais.

• SENADO FEDERAL REPRESENTANTES DOS ESTADOS E DO DISTRITO


FEDERAL = SENADORES

CONGRESSO NACIONAL

• CÂMARA DOS DEPUTADOS REPRESENTANTES DO POVO = DEPUTADOS


FEDERAIS

Apesar da existência de duas casas legislativas (bicameralismo), não existe uma hierarquia entre elas,
uma vez que ambas participam com suas respectivas competências nas atribuições do Congresso Nacional.
Isto ocorre, pois, como regra geral, as competências do Poder Legislativo são atribuídas ao Congresso Na-
cional, o que exige a participação tanto do Senado Federal como da Câmara dos Deputados, em sessões
separadas.
Importante ressaltar que em casos excepcionais poderão ocorrer sessões conjuntas. Tal fato não signifi-
ca uma sessão unicameral. Ao contrário, ocorrerá um trabalho simultâneo de ambas as casas. Tanto o Senado
Federal como a Câmara dos Deputados atuarão ao mesmo tempo, mas as tomadas de decisão (deliberações)
serão feitas em separado. Assim, apenas a sessão é conjunta, mas as deliberações serão feitas por cada casa
em separado, uma vez que é necessário respeitar o bicameralismo do Congresso Nacional.
Para ilustrar o parágrafo anterior imagine a seguinte situação. Na elaboração de determinada lei, o Presi-
dente da República veta determinado projeto de lei. O veto será apreciado em sessão conjunta do Congresso
Nacional (art. 57, IV, da CF). Nessa sessão conjunta Senadores e Deputados irão se reunir em uma mesma
sessão para decidir se derrubam ou não o veto presidencial. Segundo as regras do processo legislativo, a
rejeição ao veto requer maioria absoluta, o que corresponde à necessidade de se atingir a respectiva maioria
entre os Senadores e entre os Deputados Federais de forma separada. Portanto, se existem 513 Deputados
Federais e 81 Senadores, o que totalizam 594 congressistas, é necessário que se atinja a maioria absoluta
de 513 e também a maioria absoluta de 81 em separado e não a maioria absoluta de 594.

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Segundo o § 3º do art. 57 da Constituição Federal, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-
-se-ão em sessão conjunta:
• para a inauguração da sessão legislativa;
• para elaborar o regimento comum do Congresso Nacional e regular a criação de serviços comuns às
duas Casas;
• para receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
• para conhecer de veto e sobre ele deliberar.

Como exceções ao bicameralismo do Congresso, algumas competências são conferidas a uma casa legisla-
tiva em específico. Tais exceções estão inseridas nos arts. 51 e 52 da Constituição Federal que dispõem sobre as
competências privativas da Câmara dos Deputados (art. 51) e do Senado Federal (art. 52), nas quais as sessões
serão unicamerais feitas sempre pela respectiva casa.
Outra exceção, já exaurida por sua realização, era a de que o Congresso Nacional se reuniria em sessão
unicameral para a revisão do texto constitucional promulgado em 1988. Tal fato ocorreu em 1993, conforme a
previsão contida no art. 3º dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).

“Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Consti-
tuição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”.

• SEPARADAS Cada casa legislativa se reúne em separado, mas ao final


tem-se o exercício de uma competência do Congresso
Nacional.
SESSÕES BICAMERAIS Ex. aprovação de uma lei ordinária.

• CONJUNTAS Tanto o Senado Federal como a Câmara dos Deputados


atuarão ao mesmo tempo, mas as tomadas de decisão serão
feitas em separado. Ex. apreciação de veto do Presidente da
República.

• Competência privativa do Senado Federal (art. 52)

• Competência privativa da Câmara dos Deputados (art. 51)


SESSÕES UNICAMERAIS
• Revisão do texto constitucional de 1988 (art. 3º ADCT) – Já exaurida
em 1993.

No Brasil, o bicameralismo está presente apenas na organização do legislativo da União. Nos Estados,
no Distrito Federal e nos Municípios tem-se o unicameralismo do Poder Legislativo.

5 - Atribuições do Congresso Nacional


A Constituição Federal estabelece em seus arts. 48 e 49 as atribuições do Congresso Nacional.

A) Competência Legislativa Comum do Congresso Nacional

O art. 48 dispõe sobre a competência geral e ordinária do Congresso Nacional. Trata-se de uma enume-
ração exemplificativa, o que não exclui a existência de outras competências. Neste artigo é importante perce-
ber que a elaboração das leis depende da participação do Presidente da República, capaz de sancionar
uma lei ou vetar o projeto de lei respectivo.
Dessa forma, estamos diante de temas que serão obejto das normas produzidas pelo Processo Legis-
lativo Ordinário (regra), pelo Processo Legislativo Sumário (solicitação de urgência constitucional) ou, ainda,
pela edição de Medidas Provisórias (Processo Legislativo Especial). Assim, não se tratam de competências
traduzidas por Emendas à Constituição, Decretos-Legislativos ou Resoluções, pois em todas essas não há
sanção ou veto do Presidente da República, mas por Leis Ordinárias, Leis Complementares, Leis Delegadas
e Medidas Provisórias.

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Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta
para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, es-
pecialmente sobre:

I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;

II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pú-
blica e emissões de curso forçado;

III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;

IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;

V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União;

VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as


respectivas Assembleias Legislativas;

VII - transferência temporária da sede do Governo Federal;

VIII - concessão de anistia;

IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União


e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal; (Redação EC
nº 69/2012)

X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que


estabelece o art. 84, VI, b; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública; (Redação EC nº 32, de 2001)

XII - telecomunicações e radiodifusão;

XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações;

XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.

XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem
os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
19.12.2003)

b) Competência Legislativa Exclusiva do Congresso Nacional:


Já no art. 49 encontramos a competência exclusiva do Congresso Nacional, taxativamente descrita, na
qual não é necessária a sanção do Presidente da República para a produção das normas capazes de trans-
mitir tais competências. As competências exclusivas do Congresso Nacional são transmitidas por Decretos-
-Legislativos e Resoluções do Congresso Nacional.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encar-
gos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

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II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados
os casos previstos em lei complementar;

III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a


ausência exceder a quinze dias;

IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender


qualquer uma dessas medidas;

V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
delegação legislativa;

VI - mudar temporariamente sua sede;

VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem
os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)

VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Esta-


do, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação EC nº 19,
de 1998)

IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a
execução dos planos de governo;

X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, inclu-
ídos os da administração indireta;

XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros
Poderes;

XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;

XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;

XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;

XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;

XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa


e lavra de riquezas minerais;

XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares.

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6 – Funcionamento do Congresso Nacional


6.1 - Legislatura e Sessão Legislativa Ordinária

Conforme dispõe o art. 57, “o Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de
fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.”
O período descrito acima é denominado Sessão Legislativa Ordinária. Esta, por sua vez, é composta
por um período legislativo por semestre. Os intervalos existentes entre cada período legislativo são chamados
de recesso parlamentar.

Sessão Legislativa Ordinária (SLO)


• 2 de fevereiro a 17 de julho (1° Período Legislativo)
• 01 de agosto a 22 de dezembro (2° Período Legislativo)

Recesso Parlamentar
• 18 a 31 de julho (intervalo entre os períodos legislativos da SLO);
• 23 de dezembro a 31 de janeiro (encerramento de uma SLO e inicio de outra).

Assim, é importante não confundir os conceitos de Sessão Legislativa Ordinária e Legislatura. Esta tem
duração de quatro anos, abrangendo quatro sessões legislativas. Dessa forma:

Legislatura:
Período correspondente a 04 anos de trabalhos do Congresso Nacional. Seu início marca o começo
de um novo Congresso. Coincide com o mandato dos Deputados Federais. Já um senador exerce seu man-
dato por duas legislaturas.

Sessão Legislativa Ordinária (SLO)


Período anual e ordinário de trabalhos legislativos no Congresso Nacional. Corresponde aos períodos de
convocação ordinária do Congresso Nacional (02/02 - 18/07, e 01/08 a 22/12).
Portanto, conforme atestam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino:

“Sessão legislativa é o período anual de trabalho das Casas do Poder Legislativo. Legislatura é o período
quadrienal em que ocorre mudança da composição das Casas Legislativas, por meio de novas eleições.
Como a legislatura tem a duração de quatro anos, diz-se que ela corresponde a quatro sessões legislati-
vas ordinárias”.1

6.2 – Sessões Preparatórias


É importante destacar que no primeiro ano de cada legislatura os trabalhos do Congresso Nacional
começam um dia mais cedo (1º de fevereiro) para:

• posse de seus membros;

• eleição das Mesas.

São as chamadas sessões preparatórias. Essas também ocorrerão no dia 1º de fevereiro do terceiro
ano da legislatura para eleição das Mesas, pois o mandato dos integrantes de cada Mesa será de dois anos.

Sessões Preparatórias (SP) = sessões realizadas no dia 1º de fevereiro do primeiro ano de cada Legisla-
tura para posse dos membros e eleição das Mesas do Congresso Nacional.

1 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 414.

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• Posse de Deputados e Senadores.


• Dia 01/02 do primeiro ano
de cada Legislatura para: • Eleição das Mesas para mandato de 2 anos.
Sessões
Preparatórias

• Dia 01/02 do terceiro ano de cada Legislatura para a eleição da Mesa

6.3 – Recesso Parlamentar


O período em que o Congresso Nacional não está reunido ordinariamente é conhecido como Recesso
Parlamentar.

Estabelece a Constituição Federal em seu art. 57, § 2º que “a sessão legislativa não será interrompida
sem a aprovação do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias”. Conforme atesta Sergio Valladão Ferraz:

“Para a criação da Lei do Orçamento Anual (LOA), é indispensável a prévia feitura da LDO, que traça, como
o nome sugere, os parâmetros para a fixação do orçamento. Por isso, como a LOA deve ser feita no segundo
semestre para que possa ser aplicada no ano seguinte, a Constituição exige que a LDO seja aprovada até o dia
30 de junho (que era o último dia do primeiro período legislativo até a EC nº 50/2006. Esta promoveu a alteração
do encerramento do primeiro período legislativo para 17 de julho, mas não modificou a data para aprovação
da LDO. Consideramos que, como a única consequência da não-aprovação é a não-interrupção da sessão
legislativa, na prática a LDO deverá ser aprovada até o dia 17 de julho). Se a LDO não for aprovada até esta
data, não se interrompe a sessão legislativa ordinária, que prosseguirá pelo mês de julho, até a sua aprovação,
podendo inclusive, chegar ao mês de agosto, hipótese em que não haveria recesso no meio do ano2”.

Portanto, neste caso não é cabível falar-se em convocação extraordinária do Congresso Nacional, visto
que a Sessão Legislativa Ordinária não será interrompida sem a aprovação do projeto da LDO.

6.5 - Sessão Legislativa Extraordinária (SLE)


Conforme prevê o art. 57, § 6º, da Constituição Federal, o Congresso Nacional pode ser convocado ex-
traordinariamente. Trata-se da chamada Sessão Legislativa Extraordinária.

Sessão Legislativa Extraordinária (SLE) = período em que o Congresso Nacional se reunirá em


convocação extraordinária durante o período de recesso parlamentar.
• decretação de estado de defesa ou de intervenção federal;
Pelo Presidente do
A convocação Senado
extraordinária do Congresso
• pedido Nacional far-se-á:
de autorização para a decretação de estado de sítio;
Federal em caso de:
• para compromisso e posse do Presidente e Vice-Presidente da República.

Pelo:
- Presidente da República; Em caso de urgência ou interesse público relevante com a
- Presidente da Câmara dos Deputados;
- Presidente do Senado Federal; aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do
- Requerimento da maioria dos membros de
ambas as casas do Congresso Nacional. Congresso Nacional.

Tanto a Sessão Legislativa Ordinária quanto a Sessão Legislativa Extraordinária correspondem a perío-
dos de funcionamento do Congresso Nacional. Portanto, diferem das sessões diárias, modalidade de reunião
diária dos congressistas durante as sessões legislativas, chamadas simplesmente de “sessões”.
2 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. 1ª Ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2007, p.48.

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6.6 – Organização interna do Congresso Nacional


Para a correta ordenação de seus trabalhos, tanto o Senado Federal como a Câmara dos Deputados
possuem órgãos internos. Através deles ambas as casas irão:

• elaborar o seu regimento interno;

• dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos car-
gos, empregos e funções de seus serviços e fixação da respectiva remuneração, observados os pa-
râmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.

Trata-se de competências que objetivam consagrar a independência do Congresso Nacional e de suas casas
legislativas.

A) Mesas:

Conforme observam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino:

“A mesa é o órgão responsável pelas funções meramente administrativas, bem como pela condução
dos trabalhos legislativos que se desenvolvem em cada Casa”3

• Mesa do Congresso Nacional

Mesas • Mesa do Senado Federal

• Mesa da Câmara dos Deputados

Em cada uma delas é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou
dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa (art. 58, da CF). A Mesa do Congresso Nacio-
nal, presidida pelo Presidente do Senado Federal, será composta também por ocupantes de cargos equiva-
lentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, conforme disposição do art. 57, § 5º da CF. Dessa for-
ma, é importante notar que não existe eleição para a Mesa do Congresso Nacional, visto que seus integrantes
são oriundos da Mesa do Senado, ou da Mesa da Câmara dos Deputados.
Os membros da Mesa da Câmara dos Deputados e da Mesa do Senado serão eleitos para um mandato
de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. Entretanto,
a vedação para a reeleição ocorre apenas dentro da mesma Legislatura, o que permite que o presidente da
Mesa da Câmara ou do Senado nos dois últimos anos de uma Legislatura, possa concorrer ao mesmo cargo
na próxima Legislatura.
Por exemplo, o presidente da Câmara é o Deputado X, eleito para o biênio 2019 - 2020. Caso deseje fazer
parte da Mesa da Câmara dos Deputados no biênio 2021-2022 terá que se candidatar a outro cargo que não
seja o de Presidente, pois neste caso é vedada a reeleição para o mesmo cargo, pois estaremos dentro da
mesma Legislatura. Mas, se um Deputado Y foi eleito presidente da mesa para os dois últimos anos da Legis-
latura (2021-2022), poderá o Deputado Y concorrer ao cargo de Presidente da Câmara para o primeiro biênio
da legislatura seguinte (2023 - 2024), desde que seja reeleito Deputado Federal. Em resumo: a reeleição para a
Mesa é proíbida dentro da mesma legislatura e permitiada de uma legislatura para outra.

B) Comissões:

O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma
e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato que resultar sua criação (art. 58, CF).
3 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro. Impetus, 2007, p. 393.

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Prof. Emerson Bruno - Fascículo 10 - Poder Legislativo (Art. 44 a 58, CF88)

As comissões são órgãos internos constituídos por grupos de parlamentares de acordo com cada Regi-
mento Interno. Na composição de cada comissão será assegurada também, tanto quanto possível, a repre-
sentação proporcional dos partidos ou blocos parlamentares, conforme estipula o § 1º do art. 58. No conceito
da própria Câmara dos Deputados, as comissões podem ser:
Permanentes = São órgãos técnicos criados pelo Regimento Interno de cada Casa, com a
finalidade de discutir e votar as propostas de leis que são apresentadas. Em determinados
casos, essas Comissões se manifestam emitindo opinião técnica sobre o assunto, por meio
de pareceres, antes do assunto ser levado ao Plenário. Em outras proposições elas decidem,
aprovando-as ou rejeitando-as, sem a necessidade de passar pelo Plenário da Casa. A
composição parlamentar desses órgãos técnicos é renovada a cada ano ou sessão
legislativa. Na ação fiscalizadora, as Comissões atuam como mecanismos de controle dos
programas e projetos executados ou em execução, a cargo do Poder Executivo. Essas
Comissões perduram enquanto constarem do Regimento Interno.

Temporárias = São órgãos técnicos, criados pelo Presidente da respectiva Casa Legislativa nas
seguintes situações:
Comissões Especiais - com a finalidade de emitir pareceres sobre proposições em
situações especiais (PEC, Códigos etc.) ou oferecer estudos sobre temas específicos;

Comissões Externas - para acompanhar assunto específico em localidade situada fora


Comissões
da sede da Câmara;

Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) - destinadas a investigar fato


determinado e por prazo certo.

Comissão Mista Representativa – criada para atuar nos períodos de recesso do


Congresso Nacional.

Todas elas se extinguem ao final da legislatura em que são criadas, ou expirado o


prazo fixado quando da sua criação ou, ainda, alcançada a sua finalidade.

Mistas = São criadas no âmbito do Congresso Nacional e integradas por Deputados(as) e


Senadores(as), podendo ser Permanentes ou Temporárias. Têm regras de criação e funcionamento
definidas no Regimento Comum, à semelhança do que ocorre com as demais Comissões de cada uma
das Casas. Exemplos: a) Permanentes: Comissão Mista de Orçamento e Comissão Mista do Mercosul;
b) Temporária: CPI dos Correios, Comissão destinada à apreciação de Veto do Presidente da República
a Projeto de Lei aprovado pelo Congresso Nacional, Comissão Mista de Apreciação das Medidas
Provisórias etc.

C) Comissões Parlamentares de Inquérito:

Dentro da função típica de fiscalizar os atos relacionados ao Poder Público, o Poder Legislativo pode criar
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Estas “possuem caráter temporário, criadas a requerimento
de pelo menos um terço do total de membros da respectiva Casa, destinadas a investigar fato de relevante
interesse para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, econômica ou social do País4”. Importante
ressaltar que as CPIs não são órgãos com função jurisdicional, nas palavras de Ségio Valladão Ferraz:

“As CPIs não julgam nem processam ninguém. Aliás, elas também não acusam ninguém, ao con-
trário da crença popular. Elas se limitam a investigar. Na sua função investigadora, as CPIs fazem
inquérito, produzindo provas para que se forme a convicção a respeito da ocorrência de ilícitos. Sua
atuação é similar e paralela ao inquérito policial e à investigação feita pelo Ministério Público”.5

Vale dizer, assim, que as CPIs não condenam. Levantam as informações necessárias que, consolida-
das em um relatório final, na hipótese de comprovação de ilícitos, serão encaminhadas ao Ministério Público
para que este provoque o Poder Judiciário para a responsabilização civil e penal dos acusados. Dessa forma,
durante a CPI o investigado recebe a denominação de indiciado e não de réu ou acusado, tendo em vista o
caráter investigativo e não jurisdicional das CPIs.
4 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 398.
5 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 39.

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Trata-se de função fiscalizadora, típica do Legislativo em relação aos atos do Poder Público. Conforme
atesta Alexandre de Moraes:

“O exercício da função típica do Poder Legislativo consistente no controle parlamentar, por meio de fisca-
lização, pode ser classificado de político-administrativo e financeiro-orçamentário. Pelo primeiro controle,
o Legislativo poderá questionar atos do Poder Executivo, tendo acesso ao funcionamento de sua máquina
burocrática, a fim de analisar a gestão da coisa pública e, consequentemente, tomar as medidas que entenda
necessárias. Inclusive, a Constituição Federal autoriza a criação de comissões parlamentares de inquérito,
que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos
das respectivas Casas, e serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e
por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova
a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”.6

Contudo, cumpre ressaltar que a atuação das CPIs não está restrita a atos apenas do Poder Executivo,
mas do Poder Público como um todo. Assim, inserem-se dentro do controle político-administrativo os atos do
próprio Legislativo e do Poder Judiciário. Este será fiscalizado desde que os atos sejam de natureza adminis-
trativa, e não jurisdicional. Ou seja, não podem ser investigados os atos tipicamente jurisdicionais.
Os fatos a serem investigados por uma CPI necessitam ter relação com o Poder Público, o que impede que atos
exclusivamente privados sejam investigados. O objeto de uma CPI precisa estar relacionado dentro da competência do
Poder Legislativo que a criou. Assim, se existem irregularidades na Secretaria Municipal de Obras de Belo Horizonte, em
regra a Câmara dos Deputados não pode instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Tal prerrogativa compete
à Câmara Municipal de Belo Horizonte. O mesmo acontecerá com relação aos demais órgãos legislativos existentes no
país. Em resumo, cada um cria suas respectivas CPIs dentro das respectivas esferas de atuação. Os atos das Comis-
sões Parlamentares de Inquérito estão sujeitos ao controle judicial quando lesarem ou ameaçarem de lesão os direitos
assegurados a cada cidadão. Dessa forma, se determinada pessoa é presa de forma ilegal durante um depoimento em
uma CPI, qualquer cidadão poderá ingressar em juízo com o respectivo pedido de “habeas corpus” para obter a liberdade
daquele que teve sua liberdade de locomoção lesada.
No caso de CPIs instauradas no Congresso Nacional, o foro competente para o julgamento dos respectivos
atos praticados pelas CPIs é o Supremo Tribunal Federal, de acordo com o art. 102, I, i). Portanto, mesmo que
um cidadão comum seja preso durante uma CPI, o “habeas corpus” será ajuizado no STF, pois o cidadão que
proferiu a prisão em flagrante delito foi um Deputado Federal ou Senador, autoridades cujos atos estão sujeitos
diretamente à jurisdição do STF. O mesmo ocorrerá em se tratando de mandado de segurança contra ato de Co-
missão Parlamentar de Inquérito.

Criação das Comissões Parlamentares de Inquérito:

• Requerimento de 1/3 dos membros da Casa em que for criada. Caso seja uma
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (composta por Senadores e
Requisitos para Deputados) é necessário 1/3 dos membros de ambas as Casas.
criação de CPIs
• Existência de fato determinado a ser investigado pela CPI.

• Prazo certo, pré-determinado.

A respeito do fato determinado a ser investigado pela CPI, este não pode ser uma alegação genérica,
como, por exemplo, uma CPI para apurar a corrupção no Poder Judiciário. O fato é genérico e não determi-
nado. Ao contrário, seria possível uma CPI para investigar o desvio de verba pública na construção de um
prédio ou cujo processo de licitação esteja sendo direcionado pelo Presidente de um Tribunal para favorecer

6 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional – 17ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2007, p. 379.

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determinada construtora. Nestas hipóteses, o fato seria determinado e a requerimento de um terço dos mem-
bros da respectiva Casa Legislativa poderia ser instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito para in-
vestigação das denúncias. Afinal, mesmo sendo um ato do Poder Judiciário, não é um ato jurisdicional, mas
administrativo.

“A instauração da CPI depende da determinação de tal ou qual fato suspeito de ilicitude. É claro,
vários fatos podem ser objeto de investigação por meio de uma CPI, desde que sejam todos fatos
determinados”.7

No que se refere ao prazo certo, pré-determinado, significa dizer que uma CPI é uma comissão tempo-
rária. Assim, será possível sua prorrogação, desde que esta ocorra dentro da mesma Legislatura. Por exem-
plo: se uma CPI foi criada com o prazo de 120 dias, este prazo pode ser prorrogado, sendo necessário novo
requerimento de 1/3 dos membros da respectiva Casa Legislativa. Entretanto, se o pedido de prorrogação
se der no final de uma Legislatura, a CPI em andamento não pode adentrar na que se iniciará em breve, visto
que ao final de cada Legislatura todas as comissões temporárias são extintas. Para finalizar, enfatizamos os
ensinamentos de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino acerca dos requisitos para a instalação de uma CPI.

“Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, uma vez cumpridos esses três requisitos, a cria-
ção da comissão parlamentar de inquérito é determinada no ato mesmo da apresentação do requerimento
ao Presidente da Casa Legislativa, independentemente de deliberação plenária”.
“Significa dizer que, com a entrega do requerimento escorreito ao Presidente da Casa, tem-se por criada
a comissão parlamentar de inquérito. Não podem, nem o Presidente da Casa, nem o respectivo plená-
rio frustrar a criação da comissão parlamentar, desde que os requerentes tenham cumprido fielmente os
requisitos constitucionais para sua instalação. Não cabe ao Presidente da Casa qualquer apreciação de
mérito sobre o objeto da investigação parlamentar. Incumbe a ele, apenas, ordenar que o requerimento
seja numerado e publicado.”8

Competências da CPIs:

Como vimos anteriormente CPI não julga, CPI investiga. Estabelece o art. 58, § 3º que as CPIs “terão
poderes próprios de investigação das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das res-
pectivas Casas”. Ocorre que autoridade judicial não investiga, autoridade judicial julga. Nossa constituição, ao
fazer tal observação, não quis atribuir poderes jurisdicionais às CPIs, mas tão somente autorizá-las a realizar
atos de instrução processual característicos das autoridades judiciais, como, por exemplo, determinar a que-
bra do sigilo telefônico de um indiciado para obtenção de uma possível prova. Tal ato não tem caráter decisó-
rio, mas sim de instrução processual. Dessa forma, sempre que houver um ato que esteja dentro da chamada
reserva de jurisdição (atos que só podem ser feitos pelo juiz) a comissão não poderá praticá-lo. Dessa forma,
o disposto no texto constitucional acerca da competência das Comissões Parlamentares de Inquérito é equi-
voco e induz o estudante mais desatento ao erro.
Assim, em termos práticos é fundamental citarmos, com auxílio das lições de Sergio Valladão Ferraz, o
que pode e não pode fazer uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

As CPIs PODEM As CPIs NÃO PODEM


Quebrar o sigilo telefônico, bancário e fiscal =
  Determinar violação da comunicação telefônica
ter acesso a dados como: quais as ligações feitas, = grampo ou interceptação do conteúdo de uma
qual o tempo de duração e quando ocorreram. Enfim, conversa ou transmissão de dados.
informações que demonstram que a ligação ocorreu
e não qual foi o seu conteúdo.

7 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 42.
8 PAULO, Vicente, ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 401.

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 Determinar qualquer medida cautelar, seja penal ou


Ouvir indiciados e testemunhas, inclusive sob

civil. CPIs não podem restringir Direitos, como por
pena de condução coercitiva.
exemplo determinar prisão preventiva, sequestro ou
indisponibilidade de bens.

Determinar busca e apreensão de documentos e


  Determinar busca e apreensão domiciliar, pois
informações necessárias à prova dos fatos. será necessária ordem judicial.

Seus membros podem determinar a prisão em



flagrante delito, faculdade que qualquer cidadão
tem ao presenciar a ocorrência de um crime. Assim,  Determinar qualquer espécie de prisão.
é a pessoa, o cidadão que também é parlamentar,
que faz a prisão e não propriamente a CPI.
 Proibir ou restringir a assistência jurídica dos
investigados e da testemunha. Indiciados ou
testemunhas têm acesso a seus advogados antes,
durante e depois de seus depoimentos em uma CPI.
 Restringir o direito contra a auto-incriminação.
Ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo.
Assim, quem depõe em uma CPI tem o direito de
permanecer em silêncio se entender que a reposta
possa de alguma forma incriminá-lo. Tal direito não
pode ser restringido pela CPI em nenhuma hipótese.
 Restringir a obrigação de sigilo profissional.
Quem deve manter sigilo profissional por dever de
ofício não está obrigado a quebrar o respectivo sigilo
durante uma CPI em detrimento de seus clientes.
Ex. o advogado chamado para depor não pode ser
coagido a contar os seus segredos profissionais.

D) Plenário:
O plenário, como o próprio nome diz, reúne a totalidade dos membros de uma Casa Legislativa.
• Plenário do Senado Federal = 81 Senadores;
• Plenário da Câmara dos Dep. = 513 Deputados Federais.

A organização, o funcionamento e as competências dos plenários da Câmara ou do Senado estão dipos-


tas nos seus respectivos regimentos internos.

7 - Do Senado Federal
O Senado Federal é composto por representantes dos Estados e do Distrito Federal. Conforme visto
anteriormente, sua existência decorre da forma federativa de organização do Estado, que deu origem ao cha-
mado bicameralismo federativo.
Em regra, Senadores não representam o povo (função atribuída aos Deputados Federais), mas sim os
interesses dos Estados e do Distrito Federal no intuito de assegurar-lhes a representação devida na elabora-
ção das normas federais.
Os Estados e o Distrito Federal elegem 03 (três) Senadores, acompanhados por dois suplentes cada. O
mandato é de oito anos, o que importa em uma renovação por 1/3 e 2/3 a cada eleição. Isto significa dizer
que, se na última eleição para o Senado existia apenas uma vaga a ser disputada por cada Estado e pelo
Distrito Federal, na próxima serão duas vagas a serem preenchidas.

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Para ser eleito, o candidato a Senador precisa alcançar o maior número de votos em um único turno de
votação, excluindo-se os votos brancos e nulos. Trata-se do chamado princípio majoritário puro ou simples,
uma vez que não é necessária a realização de um segundo turno.

7.1 - Características importantes do Senado abordadas em Concursos Públicos


• Representa os Estados e o Distrito Federal caracterizando o princípio federativo.

• Cada Estado e o Distrito Federal elegem 03 Senadores com dois suplentes cada.

• O mandato de Senador é de 08 anos (duas legislaturas).

Senado Federal
• Os Senadores são eleitos pelo sistema majoritário puro ou simples.

• O Senado Federal será renovado de 4 em 4 anos, alternadamente por um e dois terços.



• A idade mínima necessária para ser eleito Senador é de 35 anos.

7.2 – Competências Privativas do Senado Federal


A competência privativa do Senado Federal, prevista no art. 52 da CF pode ser dividida de acordo com o
tipo de atividade a ser exercida.

a) Competência nos Crimes de Responsabilidade

Questão recorrente em diversos concursos públicos, a competência do Senado Federal para julgar deter-
minadas autoridades sempre é feita em comparação à competência do Supremo Tribunal Federal.

Autoridade Crime de Responsabilidade Crime Comum


Presidente da República SENADO FEDERAL STF
Vice-Presidente da República SENADO FEDERAL STF
Senador SENADO FEDERAL STF
Deputado Federal CÂMARA DOS DEPUTADOS STF
Ministros do STF SENADO FEDERAL STF
Procurador-Geral da República SENADO FEDERAL STF
Membros do Conselho Nacional de Justiça SENADO FEDERAL -
Membros do Conselho Nacional do Ministério Público SENADO FEDERAL -
Advogado-Geral da União SENADO FEDERAL STF (*)
Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do SENADO FEDERAL (**)
STF
Exército e da Aeronáutica. ou STF
(*) Jurisprudência e Doutrina. (**) Quando cometerem o crime de responsabilidade de forma conexa com o
Presidente da República ou o Vice-Presidente da República (art.52, I da CF).

B) Competência para sabatinar autoridades

Determinadas autoridades ao serem indicadas para ocuparem determinados cargos precisam ser apro-
vadas pelo Senado Federal. Trata-se da chamada sabatina do Senado Federal, cujo objetivo é verificar se o
escolhido tem qualidades técnicas e pessoais para o exercício da função. Assim, compete privativamente ao
Senado Federal aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de:

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• Ministros do STF
• Ministros do STJ
• Precisam ser aprovados por
• Magistrados, nos casos previstos na Constituição: • Ministros do TST maioria absoluta do Senado.
• Conselheiros do CNJ

• Ministros do STM • Precisam ser aprovados por


maioria simples do Senado.

• Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República.


• Governador de Território.
• Presidente e diretores do banco central.
• Procurador-Geral da República
• Titulares de outros cargos que a lei determinar
• em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente.

Atenção. É importante perceber que a EC 76/2013 não acabou com o voto secreto para as sabatinas
(arguições) do Senado Federal. No âmbito do Congresso Nacional, o fim do voto secreto ocorreu apenas nos
casos de votações para perda de mandato (Art. 55, § 2º) e derrubada do veto (Art. 66, § 4º).

C) Competência para destituição do Procurador-Geral da República


• aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da
República antes do término de seu mandato.

Atenção. Mais uma vez, é importante perceber que a EC 76/2013 não acabou com o voto secreto para a
exoneração do Procurador-Geral da República. No âmbito do Congresso Nacional, o fim do voto secreto ocor-
reu apenas nos casos de votações para perda de mandato (Art. 55, § 2º) e derrubada do veto (Art. 66, § 4º).

D) Competência sobre assuntos financeiros (limites de endividamento)

• autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios;

• fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

• dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas
pelo Poder Público federal;

• dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito ex-
terno e interno;

• estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

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E) Competência Interna
• elaborar seu regimento interno;

• dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos car-
gos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remunera-
ção, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.

F) Competência eletiva
• eleger dois cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos, como membros do Conselho
da República para um mandato de três anos, vedada a recondução (art. 89, VII).

G) Competência sobre assuntos tributários


• avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus
componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Distrito
Federal e dos Municípios.

H) Competência para exercer controle repressivo de constitucionalidade

• suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva
do Supremo Tribunal Federal;

Controlar a constitucionalidade de uma norma significa verificar sua compatibilidade com a Constituição
Federal. No Brasil esta função é exercida não apenas pelo Poder Judiciário, mas também pelo Legislativo e pelo
Executivo.

• Político Feito por órgãos que não pertencem ao Poder Judiciário


Controle de
Constitucionalidade
• Jurisdicional Feito pelo Poder Judiciário

Portanto, o controle de constitucionalidade a ser realizado pelo Senado Federal é político e poderá ocor-
rer em dois momentos distintos.

• Preventivo Evitar o surgimento de uma norma que afronte a CF.


Controle de
Constitucionalidade
• Repressivo Retirar a validade de uma norma em vigor por afrontar a
Constituição.

Como a competência referida no art. 52, X somente pode ser exercida após a atuação do Supremo Tribu-
nal Federal, o controle é repressivo, pois a norma já exite, já faz parte do ordenamento jurídico brasileiro. Além
disso, é importante entender que o STF exerce duas formas de controle de constitucionalidade: o controle
concentrado e o controle difuso.

Concentrado Feito pelo STF


Controle de
Constitucionalidade
no Poder Judiciário
Difuso Feito por todos os órgãos do Poder Judiciário, inclusive pelo STF

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O Senado vai suspender a execução da norma somente quando o Supremo Tribunal Federal declarar a
inconstitucionalidade no âmbito do contrele difuso. Neste tipo de controle, a declaração de inconstitucionali-
dade do Supremo produz apenas efeito entre as partes do conflito (inter partes). Não é uma declaração de
inconstitucionalidade contra todos (erga omnes) como acontece no controle concentrado de constitucionalida-
de. Portanto, no controle concentrado não há a necessidade de suspensão da norma pelo Senado, visto que
o STF já a excluiu do ordenamento jurídico.

Concentrado Efeito erga omnes (contra-todos)


Controle de
Constitucionalidade
no Poder Judiciário
Difuso Efeito inter-partes (apenas para as partes do processo)

Na prática, a competência do Senado é uma faculdade de estender os efeitos de uma declaração de in-
constitucionalidade feita pelo STF no de controle difuso. Ou seja, ao suspender a execução da lei o Senado
está transformando o efeito “inter-partes” da declaração do STF em "erga omnes", pois com a suspensão da
norma todos passam a ser destinatários de tal decisão.

8 – Da Câmara dos Deputados


A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada
Estado, Território e no Distrito Federal (art. 45 da CF). O número de Deputados, bem como a representação por
Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, pro-
cedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Fede-
ração tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados (art. 45, § 1º da CF). Cada território elegerá quatro
Deputados (art. 45, § 2º da CF).
Conforme dito anteriormente, a Câmara dos Deputados será composta por representantes do povo. Portan-
to, onde houver povo no território brasileiro, este deverá estar representado na Câmara dos Deputados. Por isso,
a necessidade de representar os Territórios e de se estabelecer uma representação proporcional ao número de
habitantes de cada Estado e no Distrito Federal. Entretanto, a proporcionalidade citada não representa realmente
uma proporcionalidade, tendo em vista que nenhuma unidade da Federação terá menos de oito ou mais de se-
tenta Deputados. O objetivo é controlar o poder de representação dos Estados mais populosos frente àqueles de
menor população, de modo a reduzir as desigualdades econômicas que podem ser acirradas pelo abandono da
regra contida no texto constitucional.

8.1 – Quantos são e de que forma é definido o número de Deputados Federais?

Dispõe o site da Câmara dos Deputados:

“O art. 45 da Constituição Federal determina que o número total de Deputados, bem como a repre-
sentação por Estado e pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcio-
nalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para
que nenhuma das unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. A Lei
Complementar nº 78, de 30 de dezembro de 1993, estabelece que o número de Deputados não pode
ultrapassar quinhentos e treze. A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística fornece
os dados estatísticos para a efetivação do cálculo. Feitos os cálculos, o Tribunal Superior Eleitoral en-
caminha aos Tribunais Regionais Eleitorais e aos partidos políticos o número de vagas a serem dis-
putadas. Além do número mínimo de representantes, a lei determina que cada Território Federal será
representado por quatro Deputados Federais”.

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8.2 – Competência Privativa da Câmara dos Deputados


As competências privativas da Câmara dos Deputados estão as arroladas no art. 51.

“Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:

I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente
e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao


Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;

III - elaborar seu regimento interno;

IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos
cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remu-
neração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII”.

Dentre elas cumpre ressaltar a disposta no inciso I, na qual compete à Câmara autorizar a instauração
de processo contra:
• Presidente da República;
• Vice-Presidente da República, e;
• Ministros de Estado.

Note-se que a autorização é por maioria de 2/3 de seus membros.

9 – Estatuto dos Congressistas


Na Constituição Federal os arts. 53 a 56 regulam certas prerrogativas e incompatibilidades dos Congres-
sistas. É o que a doutrina consagrou como sendo o Estatuto dos Congressistas. Limitar-nos-emos, nestes
estudo, às prerrogativas e incompatibilidades na Constituição Federal.
As respectivas prerrogativas não constituem privilégios dos parlamentares, mas garantias institucionais
para a realização das funções inerentes ao Poder Legislativo. Do mesmo modo as incompatibilidades existem
para garantir o exercício com correção da atividade dos parlamentares.

9.1 - "Foro privilegiado" (Prerrogativa de Função)


Ao cometerem crimes comuns, os membros do Congresso Nacional serão processados e julgados pelo
STF. É o que consta do art. 53, § 1º que dispõe: “Os Deputados e Senadores, desde a expedição do Diploma,
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.
Vale dizer, portanto, que possuem foro privilegiado antes mesmo da posse e que irá perdurar enquanto
durar o mandato. Aqui reside uma importante regra a ser observada nos concursos:

O foro privilegiado perdura apenas enquanto a autoridade ocupar o cargo. Inexiste prorrogação do foro pri-
vilegiado para depois do término do mandato, mesmo que a acusação seja referente a atos praticados durante o
exercício do respectivo mandato.

Cumpre observar ainda, que o foro privilegiado diz respeito apenas a ilícitos penais, o que afasta a exis-
tência de foro privilegiado na ação de improbidade administrativa, afinal, esta é de natureza cível e não penal.

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9.2 - Imunidades
“Imunidades parlamentares são garantias conferidas pela Constituição aos membros do Congresso
com a precípua finalidade de assegurar-lhes plenas condições de atuação independente. São prer-
rogativas que excepcionam o direito comum, tendo em vista o objetivo com que foram instituídas pela
Carta Política”.

As Imunidades são classificadas em:


• Imunidade Material: Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras ou votos (art. 53 da CF).
• Imunidade Formal: Desde a expedição do Diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, §
2º). Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo
Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo
voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação (art. 53, §3º ).

Percebe-se que a imunidade ou inviolabilidade material afasta a ilicitude de um determinado ato. Sig-
nifica dizer que enquanto um ato praticado por um cidadão comum pode representar uma conduta ilícita, este
mesmo ato quando realizado por um parlamentar não será considerado ilícito, desde que esteja configurado
como uma imunidade material assegurada ao parlamentar.
Ex. Determinado Senador comete a conduta típica do crime de calúnia durante pronunciamento na tribu-
na do Senado.
Tal fato não constitui um ato ilícito, tendo em vista que a imunidade material preserva civil e penalmente
quaisquer das opiniões, palavras ou votos proferidos pelo Senador. Entretanto, caso o agente da conduta ca-
luniosa fosse um cidadão comum, este poderia ser processado por crime contra a honra. Cumpre notar que,
encerrado o mandato, cessam as imunidades parlamentares.
Sob o aspecto da imunidade ou inviolabilidade formal, esta impede que o parlamentar seja preso ou pro-
cessado de forma comum em razão da ilicitude que cometeu. A imunidade formal se subdivide em:

• Imunidade Formal à Prisão;


• Imunidade Formal ao Processo;

Na imunidade formal à prisão os parlamentares não podem ser presos, exceto nas hipóteses de
flagrante delito ou sentença judicial transitada em julgado.
Quando a prisão for em flagrante, os autos devem ser remetidos dentro de vinte e quatro horas para
a respectiva Casa, para que esta resolva sobre a prisão. Configura-se, assim, que, mesmo tendo come-
tido uma conduta ilícita, a imunidade formal dos parlamentares impede o tratamento dispensado a um
cidadão comum caso fosse ele, e não o parlamentar, o agente do ato ilícito.
Já na imunidade formal ao processo, é assegurado às respectivas casas legislativas sustar (suspen-
der) o andamento de um processo contra parlamentar no Supremo Tribunal Federal, enquanto este não
profira sua decisão final no julgamento. Esta possibilidade somente ocorrerá naqueles crimes praticados
após a diplomação do candidato.
Assim, vale dizer que, se um determinado Deputado Federal já estava sendo processado antes de
ser tornar um representante do povo na Câmara dos Deputados, não deterá a garantia em comento, visto
que a imunidade formal ao processo só está disponível para os parlamentares que cometam crime após
a diplomação.
Note-se que a imunidade formal ao processo não provoca a extinção do julgamento do processo, apenas sus-
pende a sua tramitação no Supremo Tribunal Federal. A sustação do processo suspende a prescrição enquanto
durar o mandato.

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9.3 - Sigilo das informações obtidas em razão do cargo


Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em
razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações (art.
53, § 6º ).

9.4 - Incorporação às Forças Armadas


A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo
de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva (art. 53, § 7º).

9.5 - As imunidades e o estado de sítio


As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser sus-
pensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora
do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida (art. 53, § 8º).

9.6 - Incompatibilidades
No art. 54 da Constituição Federal estão arroladas as incompatibilidades impostas a Senadores e Depu-
tados. Segundo o entendimento da Doutrina, essas incompatibilidades subdividem-se em:
a) negociais;
b) funcionais;
c) profissionais e
d) políticas, podendo proibir atos anteriores e posteriores à posse do parlamentar.

DEPUTADOS E SENADORES NÃO PODEM


DESDE A DIPLOMAÇÃO DESDE A POSSE
• Incompatibilidade Negocial: firmar ou manter con- • Incompatibilidade Profissional: ser proprietários,
trato com pessoa jurídica de direito público, autar- controladores ou diretores de empresa que goze de
quia, empresa pública, sociedade de economia mista favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de
ou empresa concessionária de serviço público, salvo direito público, ou nela exercer função remunerada.
quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes. Exercer funções como servidor ou empregado de
• Incompatibilidade Funcional: aceitar ou exercer pessoa jurídica de direito público, autarquia, empre-
cargo, função ou emprego remunerado, inclusive sa pública ou sociedade de economia mista.
os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas en- • Incompatibilidade Funcional: ocupar cargo ou
tidades constantes da incompatibilidade negocial. função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas
Obs: "ad nutum" = livre exoneração. entidades referidas na incompatibilidade negocial.
• Incompatibilidade Advocatícia: patrocinar causa
em que seja interessada qualquer das entidades a
que se refere a incompatibilidade negocial.
• Incompatibilidade Política: serem titulares de
mais de um cargo ou mandato público eletivo.

9.7 - Perda do Mandato

No art. 55, a Constituição da República arrola as hipóteses de perda do mandato. Entretanto, a perda do
mandato não é automática.

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• que infringir as incompatibilidades do


art. 54 da CF.
• cujo procedimento for declarado in-
Por deliberação da maioria absoluta da
compatível com o decoro parlamentar;
respectiva Casa Legislativa.
• que sofrer condenação criminal em
sentença transitada em julgado.

Perda
do • que deixar de comparecer, em cada
Mandato sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que
pertencer, salvo licença ou missão por
Por declaração da Mesa da respectiva Casa esta autorizada;
Legislativa • que perder ou tiver suspensos os di-
reitos políticos;
• quando o decretar a Justiça Eleitoral,
nos casos previstos na Constituição.

Ressalte-se também a nova redação do art. 55 da Constituiçao da República (EC 76/2013), que acabou
com o voto secreto nas hipóteses de perda do mandato por deliberação da maioria abasoluta da res-
pectiva Casa Legislativa.

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;

II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa
a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;

VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso
das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados
ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. (Redação EC nº 76, de 2013)

§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de
ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, nos
termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

Mesmo com a emenda, persiste uma dúvida de interpretação do texto constitucional. De acordo com o §
2º, o congressista que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado (VI) somente perderá o
cargo em razão da decisão da maiora absoluta da respectiva casa legislativa.

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Assim, poderíamos ter um Deputado Federal ou Senador preso, mas que conservaria seu mandato caso
não fosse atingida a maioria prevista para a sua perda. Contudo, é importante perceber que o congressista
também perderá o mandato quando perder ou tiver suspensos seus direito políticos (IV). Segundo o art. 15
da Constituição, é vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará, dentre outras
hipóteses, nos casos de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Em resumo, um congressista pode até escapar da perda do mandato na hipótese prevista no inciso VI, mas
perderá o mandato de igual maneira por força do inciso IV. Não há escapatória.

Para completar, cumpre observar as regras dispostas no art. 56 da Constituição Federal:

Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Dis-


trito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;

II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de in-
teresse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por
sessão legislativa.

§ 1º - O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em funções previstas neste ar-
tigo ou de licença superior a cento e vinte dias.

§ 2º - Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais
de quinze meses para o término do mandato.

§ 3º - Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela remuneração do mandato.

9.8 - Aplicação do Estatuto dos Congressistas a Deputados Estaduais e Distritais:

Dispõem os arts. 27, § 1º e 32, § 3º que aos Deputados Estaduais e Distritais são aplicadas todas as
normas sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impe-
dimentos e incorporação às Forças Armadas.

9.9 - Aplicação do Estatuto dos Congressistas aos Vereadores

É assegurada aos Vereadores a inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do man-
dato e na circunscrição do Município. Suas proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, são
similares, no que couber, ao disposto na Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Consti-
tuição do respectivo Estado para os membros da Assembléia Legislativa (art 29, VIII e IX).

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